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A Condessa Vésper - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— Ora, adeus! disse de si para si; quem quer que seja, que se arranje, como<br />

eu me arranjei!<br />

E seguiu para a rua.<br />

O bairro estava deserto. Ambrosina não tinha dinheiro consigo e nem<br />

mesmo sabia para onde ir. A casa de sua mãe era tão longe!... ficava no Engenho<br />

Novo, e ela achava-se ali em Laranjeiras!...<br />

Além disso, sentia-se fatigadíssima; os pés ardiam-lhe, como se fossem<br />

calçados de sinapismos. E tão enxovalhada! Onde diabo iria ela abrigar-se! a quem<br />

se apresentaria naquele estado!<br />

E coxeando, gemendo, a encostar-se pelas paredes, seguia tristemente para<br />

o lado da cidade.<br />

Veremos depois o destino que teve a desgraçada.<br />

Por enquanto, voltemos ainda uma vez à sala de jantar de Gabriel, porque,<br />

com efeito, alguém lá ficou abandonado em apuros.<br />

Era o pobre do Alfredo; eram dele os gritos que pediam socorro.<br />

Na terrível ocasião em que surgira Leonardo, o magro amante de Genoveva,<br />

aproveitando a exigüidade do seu corpo, conseguiu meter-se entre o guarda-louça e<br />

a parede, no canto de que falamos, certo de que ninguém daria com ele semelhante<br />

esconderijo.<br />

Havia de ser, realmente, muito difícil em descobri-lo, aí; mas o louco, quando<br />

Ambrosina se encerrou na dispensa e Gaspar fechou de novo a porta da sala, foi<br />

surpreendido por certo ruído inominável que partia do canto do guarda-louça.<br />

Precipitou-se para lá e, aguçando os olhos, lobrigou ao fundo da toca a lívida figura<br />

de Alfredo, cujos queixos batiam como castanholas.<br />

O louco soltou um rugido dos seus, acompanhado de uma feroz gargalhada<br />

de satisfação, e desistiu do intento de perseguir à mulher, para se atirar sobre a<br />

nova presa.<br />

Alfredo não caiu por terra, fulminado de terror, só porque o guarda-louça e a<br />

parede o entalavam pelos ombros. Fechou os olhos e, cedendo a um rebate mais<br />

forte dos intestinos, resignou-se à morte, procurando conciliar uma idéia religiosa.<br />

CAPÍTULO XXIV<br />

A ALMA DO COMENDADOR<br />

Médico Misterioso, ao chegar defronte de casa, apeou-se da boléia, abriu a<br />

porta, chamou o criado e recomendou-lhe que recolhesse o carro à cocheira.<br />

Eram dez horas da noite, e o tempo, até aí de urna transparência admirável,<br />

começava a fazer-se cor de chumbo.<br />

Gabriel, atirado nas almofadas do carro, dormia profundamente. O padrasto<br />

tomou-o nos ombros, e carregou com ele para o quarto.<br />

O rapaz não dava acordo de si. Gaspar estendeu-o na cama, e ficou algum<br />

tempo a olhá-lo, com uma expressão de profunda tristeza. Depois, sacudiu a cabeça<br />

resignadamente, e deu-lhe um beijo na fronte.<br />

— Pobre criança!... dizia consigo o médico; para que haverias tu de<br />

encontrar, logo na entrada do caminho, aquela mulher perversa e egoísta?... Antes<br />

fosses pobre e desprotegido!... estarias trabalhando para ganhar a vida, e o suor<br />

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