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— Ora, adeus! disse de si para si; quem quer que seja, que se arranje, como<br />
eu me arranjei!<br />
E seguiu para a rua.<br />
O bairro estava deserto. Ambrosina não tinha dinheiro consigo e nem<br />
mesmo sabia para onde ir. A casa de sua mãe era tão longe!... ficava no Engenho<br />
Novo, e ela achava-se ali em Laranjeiras!...<br />
Além disso, sentia-se fatigadíssima; os pés ardiam-lhe, como se fossem<br />
calçados de sinapismos. E tão enxovalhada! Onde diabo iria ela abrigar-se! a quem<br />
se apresentaria naquele estado!<br />
E coxeando, gemendo, a encostar-se pelas paredes, seguia tristemente para<br />
o lado da cidade.<br />
Veremos depois o destino que teve a desgraçada.<br />
Por enquanto, voltemos ainda uma vez à sala de jantar de Gabriel, porque,<br />
com efeito, alguém lá ficou abandonado em apuros.<br />
Era o pobre do Alfredo; eram dele os gritos que pediam socorro.<br />
Na terrível ocasião em que surgira Leonardo, o magro amante de Genoveva,<br />
aproveitando a exigüidade do seu corpo, conseguiu meter-se entre o guarda-louça e<br />
a parede, no canto de que falamos, certo de que ninguém daria com ele semelhante<br />
esconderijo.<br />
Havia de ser, realmente, muito difícil em descobri-lo, aí; mas o louco, quando<br />
Ambrosina se encerrou na dispensa e Gaspar fechou de novo a porta da sala, foi<br />
surpreendido por certo ruído inominável que partia do canto do guarda-louça.<br />
Precipitou-se para lá e, aguçando os olhos, lobrigou ao fundo da toca a lívida figura<br />
de Alfredo, cujos queixos batiam como castanholas.<br />
O louco soltou um rugido dos seus, acompanhado de uma feroz gargalhada<br />
de satisfação, e desistiu do intento de perseguir à mulher, para se atirar sobre a<br />
nova presa.<br />
Alfredo não caiu por terra, fulminado de terror, só porque o guarda-louça e a<br />
parede o entalavam pelos ombros. Fechou os olhos e, cedendo a um rebate mais<br />
forte dos intestinos, resignou-se à morte, procurando conciliar uma idéia religiosa.<br />
CAPÍTULO XXIV<br />
A ALMA DO COMENDADOR<br />
Médico Misterioso, ao chegar defronte de casa, apeou-se da boléia, abriu a<br />
porta, chamou o criado e recomendou-lhe que recolhesse o carro à cocheira.<br />
Eram dez horas da noite, e o tempo, até aí de urna transparência admirável,<br />
começava a fazer-se cor de chumbo.<br />
Gabriel, atirado nas almofadas do carro, dormia profundamente. O padrasto<br />
tomou-o nos ombros, e carregou com ele para o quarto.<br />
O rapaz não dava acordo de si. Gaspar estendeu-o na cama, e ficou algum<br />
tempo a olhá-lo, com uma expressão de profunda tristeza. Depois, sacudiu a cabeça<br />
resignadamente, e deu-lhe um beijo na fronte.<br />
— Pobre criança!... dizia consigo o médico; para que haverias tu de<br />
encontrar, logo na entrada do caminho, aquela mulher perversa e egoísta?... Antes<br />
fosses pobre e desprotegido!... estarias trabalhando para ganhar a vida, e o suor<br />
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