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A Condessa Vésper - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— Gabriel, atende ao teu único amigo! Repara que estás cercado de<br />

vergonhas! Olha que é a perdição que se respira aqui!<br />

— Se Ambrosina merecesse tal dedicação, vá! porém, ela, desgraçado,<br />

zomba de ti! engana-te com outro!<br />

— Mentes, miserável!<br />

— Não sei! deixa-me!<br />

— Nada de bulha, e ouve o que te digo... Prometes acompanhar-me, se eu<br />

te provar a infidelidade de Ambrosina?...<br />

— Prometo!<br />

— Pois vem cá. Não faças rumor com os pés... atravessemos este<br />

corredor... Bem! agora passemos por este lado do jardim... Espera; reprime um<br />

pouco a respiração e abafa os teus passos... Agora entremos nesta alameda... Aí!<br />

Olha por entre estes galhos... O que vês?<br />

A própria embriaguez e a sombra das folhas não permitiram logo a Gabriel<br />

reconhecer a amante nos braços de Melo Rosa; mas, pela voz dos dois e pelo que<br />

diziam, certificou-se num relance de que era traído e precipitou-se com fúria sobre<br />

eles, exclamando como um louco:<br />

— Infames! Infames!<br />

Gaspar, porém, senhoreou-se vigorosamente do enteado, enquanto<br />

Ambrosina e o Melo corriam pelo jardim.<br />

— Larga-me! bradava Gabriel, procurando escapar das mãos do padrasto;<br />

larga-me, ou enlouqueço!<br />

— Não! daqui sairemos juntos. Nem voltarás lá dentro; nada tens que fazer<br />

nesse covil de miseráveis! Saiamos pelo portão do jardim, amanhã mesmo<br />

partiremos para o Rio de Janeiro!<br />

— Deixa-me! deixa-me! insistia Gabriel.<br />

Melo Rosa conseguiu ganhar a rua e fugir, justamente quando o amante<br />

iludido lograva escapar dos braços do amigo.<br />

Esta cena levantou grande rumor, pondo em sobressalto os que estavam na<br />

casa. Mas na ocasião em que Gabriel se dispunha a perseguir o Melo Rosa, ouviuse<br />

um bramido terrível e em seguida um grito de Ambrosina:<br />

— O louco!<br />

Com efeito, era Leonardo que surgia. Há dois dias fugira do hospital e<br />

vagava foragido pelas ruas do arrabalde, até que o acaso lhe fizera dar com a casa<br />

da mulher.<br />

Genoveva tivera tempo de fechar a porta da sala, mas o doido, com um<br />

empurrão, metera-se dentro, produzindo formidável estrondo.<br />

O amigo do Melo, que dormia num canapé, acordou sobressaltado e corria à<br />

toa pelos quartos. Alfredo, tiritando de susto, ganhou um canto da sala de jantar e<br />

escondeu-se. A sujeita do Rego, a suster as saias, gritava que a tirassem daquele<br />

inferno, e Genoveva, tratando de fugir, puxara do seio um rosário e rezava<br />

atrapalhadamente as orações que lhe vinham à boca.<br />

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