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— Perdão! interveio Gaspar. Eu agora é que só te aceito sem ela! Escolhe<br />
entre nós dois!<br />
Gabriel olhou agoniadamente para Ambrosina, depois para o padrasto, e<br />
afinal atirou-se a uma cadeira, escondendo o rosto nas mãos.<br />
retira...<br />
— Sabem o que mais?! exclamou a rapariga. Não estou para aturá-los!<br />
E dirigiu-se para alcova.<br />
Gabriel precipitou-se sobre ela.<br />
— Meu amor! Escuta!<br />
— Bem! disse Gaspar, tomando o chapéu; nesse caso, sou eu quem se<br />
— Meu amigo! exclamou Gabriel, segurando-lhe o braço.<br />
— Acabemos com isto! gritou Ambrosina. Não me dou bem com estas<br />
cenas! Solta-me!<br />
— Os próprios fatos se encarregarão de dar-me a resposta, resumiu Gaspar,<br />
conseguindo ganhar a porta da sala. Resolve só por ti o que entenderes! Adeus.<br />
E voltando para Ambrosina:<br />
— Minha senhora, quando de novo precisar de meus serviços médicos,<br />
estarei às ordens...<br />
— Obrigada, respondeu ela, com um riso de ironia. E quando Gaspar havia<br />
desaparecido, deliberou consigo: "Caro me hás de pagar!"<br />
Depois colou a boca contra a de Gabriel, e exclamou num estremeção de<br />
volúpia:<br />
Não me receberás mais este tipo!... não é verdade, meu queridinho?...<br />
CAPÍTULO XXIII<br />
A FESTA DE AMBROSINA<br />
Gaspar esperou em vão por alguma carta, algum recado, qualquer palavra<br />
que viesse da parte de Gabriel. Decididamente, Ambrosina havia triunfado; entre o<br />
padrasto e o amante, Gabriel escolhera a última.<br />
E o que havia nisso de extraordinário?... considerava o Médico Misterioso.<br />
Agora, o que convinha fazer com urgência era livrar o pobre rapaz, fosse lá como<br />
fosse, das garras de Ambrosina, porque Gaspar muito se enganava, ou ali estava<br />
uma mulher com todos os elementos para levar aquele às últimas degradações.<br />
Gabriel com efeito ia absorvendo, nos braços da amante, o vírus traiçoeiro<br />
da ociosidade. Um aborrecimento profundo começava a corromper-lhe o caráter e a<br />
dispensar-lhe a energia; às vezes se quedava ele longas horas a olhar<br />
abstratamente para o mesmo ponto, sem coragem para cousa alguma, e só um<br />
afago mais violento de Ambrosina o fazia então voltar a si.<br />
Mas estes mesmos se iam relaxando, à proporção que a convivência<br />
estabelecia entre os dois a inevitável saciedade. Gabriel, na vida que levava, só<br />
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