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OLIMPISMO MODERNO Carlos Jaca - Escola Secundária de ...

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<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

O REGRESSO ÀS ORIGENS<br />

DE ATENAS A ATENAS<br />

776 A.C. - 2004<br />

<strong>OLIMPISMO</strong> CLÁSSICO – <strong>OLIMPISMO</strong> <strong>MODERNO</strong><br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

Diário do Minho 14 <strong>de</strong> Julho 2004<br />

De quatro em quatro anos adquire estatuto e ganha aspectos <strong>de</strong> ressonância, a nível<br />

mundial, o tema dos Jogos Olímpicos. Por um momento, tal como acontecia na Grécia<br />

Antiga – em que os conflitos bélicos paravam completamente quando tinham lugar as<br />

Olimpíadas -, outras notícias <strong>de</strong> maior importância, como guerras, catástrofes, gran<strong>de</strong>s<br />

fomes e confrontos diplomáticos, passam a segundo plano. Todos os jornais e, em geral, os<br />

meios <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa, fixam a sua atenção na festa <strong>de</strong>sportiva por excelência, em<br />

que nascem para a fama atletas <strong>de</strong> excepcional condição física, que confirmam o lema dos<br />

Jogos Olímpicos: Citius, Altius, Fortius, o que quer dizer: mais rápido, mais alto, mais forte,<br />

ao <strong>de</strong>rrotar estrondosamente anteriores marcas que muitos consi<strong>de</strong>ravam difíceis <strong>de</strong><br />

ultrapassar. De quatro em quatro anos, os Jogos Olímpicos consagram o <strong>de</strong>safio dos seres<br />

humanos aos seus próprios limites físicos e atléticos.<br />

OLÍMPIA. BERÇO DOS JOGOS.<br />

A origem dos Jogos Olímpicos apresenta-se-nos <strong>de</strong> tal forma incerta que, ainda hoje,<br />

é muito discutida, sendo várias as teorias ou versões propostas por diferentes historiadores.<br />

A tradição dizia-os fundados por Hércules<br />

e honrava Pélops como o primeiro herói <strong>de</strong>ssas<br />

li<strong>de</strong>s.<br />

Embora tratando-se, fundamentalmente, <strong>de</strong><br />

manifestações <strong>de</strong>sportivo-culturais não <strong>de</strong>ixavam<br />

<strong>de</strong> ter implicações sociais e políticas, se bem que a<br />

sua realização se <strong>de</strong>va, acima <strong>de</strong> tudo, a razões <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>m religiosa, já que é inegável a sua estreita<br />

1


ligação ao culto dos <strong>de</strong>uses, dos heróis e à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> celebrar os seus combates. De qualquer<br />

modo, as Olimpíadas tornaram-se progressivamente uma festa do mundo grego e um factor<br />

<strong>de</strong> união entre todas as cida<strong>de</strong>s rivais, as quais, <strong>de</strong>ste modo, tomavam consciência <strong>de</strong><br />

pertencer a uma mesma nação que falava uma só língua.<br />

Os jogos <strong>de</strong>corriam em Olímpia, banhada pelo rio Alfeu, a noroeste do Peloponeso. O<br />

Vale <strong>de</strong> Olímpia fora reconhecido um estado neutral, tendo sido consi<strong>de</strong>rado lugar sagrado,<br />

que não podia estar exposto ao risco <strong>de</strong> guerras.<br />

Realizados quadrienalmente, a partir do ano 776 a.C., os Jogos Olímpicos serviam <strong>de</strong><br />

calendário aos Gregos. Cada período <strong>de</strong> 4 anos era uma<br />

Olimpíada.<br />

Duravam uma semana. Oferecido um sacrifício ao<br />

<strong>de</strong>us e feito juramento <strong>de</strong> lealda<strong>de</strong> pelos atletas (no primeiro<br />

dia) seguiam-se as provas: no estádio, corridas a pé,<br />

pugilato, pancrácio (misto <strong>de</strong> luta e pugilato), corrida com<br />

armas (capacete e escudo); no hipódromo corridas <strong>de</strong><br />

cavalos e <strong>de</strong> carros <strong>de</strong> cavalos; <strong>de</strong> novo no estádio, o<br />

pentatlo (cinco provas): salto, lançamento do disco, lançamento <strong>de</strong> dardo, corrida e luta.<br />

Os Jogos <strong>de</strong>stinavam-se, apenas, à minoria dos que fossem gregos livres, filhos <strong>de</strong><br />

ambos os pais gregos e que não trabalhassem; isto, pelo menos, no período histórico<br />

consi<strong>de</strong>rado o <strong>de</strong> maior prestígio das competições.<br />

O apogeu da festa era naturalmente a distribuição dos prémios, não pelo seu valor<br />

intrínseco (os vencedores só recebiam uma coroa <strong>de</strong> louros), mas pela imperecível honraria a<br />

que esse facto se ligava. Recebidos triunfalmente em toda a Grécia, os vencedores eram<br />

consi<strong>de</strong>rados como gran<strong>de</strong>s heróis e cumulados <strong>de</strong> honras na sua cida<strong>de</strong>: gran<strong>de</strong>s poetas,<br />

como Simóni<strong>de</strong>s e Píndaro cantavam a sua glória.<br />

Para além <strong>de</strong> um estádio, Olímpia era também um lugar <strong>de</strong> culto: A missão do<br />

santuário <strong>de</strong> Olímpia era <strong>de</strong> representar, sacralizar e manter o espírito <strong>de</strong> competição na<br />

honra, sob todas as formas e todos os aspectos ... o espírito <strong>de</strong> competição espantava todos os<br />

estrangeiros, incluindo o Rei dos Persas, Xerxes, que afrontara Leónidas em Termópilas e<br />

que, surpreendido por ver os Jogos continuarem, apesar da invasão e da guerra, exclamou:<br />

“Que espécie <strong>de</strong> homens são estes que não combatem pelo ouro, mas apenas pela glória?”<br />

Os Jogos Olímpicos eram preparados para exercerem um papel unificador. Em<br />

Olímpia, concorrentes, espectadores e preparadores reconheciam o seu traço comum, a<br />

<strong>de</strong>speito da rivalida<strong>de</strong> e por vezes da hostilida<strong>de</strong> das suas cida<strong>de</strong>s.<br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

2


Nas competições <strong>de</strong>sportivas os antigos nunca tiveram outras ambições que as do<br />

triunfo dos seus concorrentes. A noção <strong>de</strong> recor<strong>de</strong> era-lhes totalmente estranha. A<br />

“performance”, que caracteriza o <strong>de</strong>sporto mo<strong>de</strong>rno, não existia. Apenas era necessário ser o<br />

melhor.<br />

As competições em Olímpia não eram apenas atléticas. A vonta<strong>de</strong> sempre presente,<br />

no mundo grego, <strong>de</strong> estabelecer um equilíbrio entre o corpo e o espírito, justificam a<br />

presença simultânea <strong>de</strong> concursos artísticos: concursos <strong>de</strong> canto, <strong>de</strong> música, <strong>de</strong> poesia e <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>clamação, <strong>de</strong> filosofia, <strong>de</strong> teatro. A enorme multidão atraída <strong>de</strong> todos os lados pelos Jogos,<br />

dava aos artistas, aos poetas, aos dramaturgos, uma<br />

ocasião única <strong>de</strong> os tornar conhecidos. Também aí,<br />

se impunha ser o melhor entre os bons.<br />

Ultrapassado o período clássico, a evolução<br />

dos Jogos, <strong>de</strong>clínio e <strong>de</strong>saparecimento apresenta-nos<br />

impressionantes analogias com a evolução dos<br />

tempos mo<strong>de</strong>rnos.<br />

Muito sumariamente, refira-se a utilização dos Jogos para fins políticos, o<br />

profissionalismo dos atletas, a preparação especializada, as irregularida<strong>de</strong>s e os logros nas<br />

competições, a multiplicação in<strong>de</strong>finida <strong>de</strong> géneros e tipos <strong>de</strong> prova e o gigantismo <strong>de</strong> tudo<br />

quanto respeitasse aos Jogos. Esse gigantismo afectou particularmente os Jogos Gregos a<br />

partir do período romano. Foi a consequência do domínio <strong>de</strong> uma superpotência.<br />

Após o cristianismo ter sido adoptado como religião oficial <strong>de</strong> Roma, o Imperador<br />

Teodósio I, <strong>de</strong> Milão, que combatera ar<strong>de</strong>ntemente todos os costumes pagãos, proibiu a<br />

manifestação olímpica que, aliás, ia morrendo por si mesma.<br />

Uma geração <strong>de</strong>pois, o Imperador do mesmo nome or<strong>de</strong>na a <strong>de</strong>molição dos edifícios<br />

sagrados da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Olímpia; à <strong>de</strong>struição seguiu-se um tremor <strong>de</strong> terra e <strong>de</strong>slocação <strong>de</strong><br />

terrenos. Por fim, as repetidas inundações do rio Alfeu cobriram toda a região com uma<br />

espessa camada <strong>de</strong> aluviões.<br />

Só em 1824 o arqueólogo britânico Stanhope proce<strong>de</strong>ria às primeiras escavações, que<br />

acabariam por <strong>de</strong>volver Olímpia à luz do sol e à admiração do homem mo<strong>de</strong>rno.<br />

Os últimos Jogos Olímpicos da Antiguida<strong>de</strong> tinham-se realizado em 393 d.C.. Seria<br />

preciso esperar milénio e meio para que fosse reacendida a chama <strong>de</strong> Olímpia.<br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

3


<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

JOGOS OLÍMPICOS DA ERA MODERNA – COUBERTIN<br />

O nome <strong>de</strong> Pierre <strong>de</strong> Frédy, mais tar<strong>de</strong> barão <strong>de</strong> Coubertin, que nasceu em Paris a 1<br />

<strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1863, ficará para sempre ligado ao renascimento da tradição dos Jogos<br />

Olímpicos da Era Mo<strong>de</strong>rna, aos quais votou gran<strong>de</strong> parte da sua vida e até a sua fortuna<br />

pessoal.<br />

Para compreen<strong>de</strong>rmos a criação dos Jogos Olímpicos Mo<strong>de</strong>rnos, torna-se<br />

indispensável conhecer a i<strong>de</strong>ologia do seu animador e o que ele exprime dos mitos do seu e<br />

nosso tempo.<br />

Pierre <strong>de</strong> Coubertin, aristocrata francês, fez os seus primeiros estudos no Colégio dos<br />

Jesuítas em Paris ingressando <strong>de</strong>pois, por vonta<strong>de</strong> paterna, na Aca<strong>de</strong>mia Militar <strong>de</strong> Saint-Cir.<br />

Porém, o jovem Pierre consi<strong>de</strong>rando-se já um pacifista renuncia à carreira militar a<br />

que parecia <strong>de</strong>stinado por tradição <strong>de</strong> família, acabando por vir a formar-se em Pedagogia na<br />

<strong>Escola</strong> Politécnica.<br />

Com efeito, a perspectiva coubertiana sobre o<br />

<strong>de</strong>sporto é essencialmente educativa, aspecto que<br />

<strong>de</strong>senvolve em conferências, vários livros e<br />

numerosos artigos, propondo-se <strong>de</strong>monstrar o valor<br />

do <strong>de</strong>sporto no sistema educativo francês. Apesar do<br />

seu excepcional po<strong>de</strong>r persuasivo e dos largos<br />

conhecimentos sociais que possuía encontrou uma<br />

enorme resistência às suas i<strong>de</strong>ias.<br />

Pierre <strong>de</strong> Coubertin era economicamente<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, com fortuna pessoal para viver dos<br />

rendimentos e, portanto, possuía tempo e dinheiro para entregar-se à concretização do seu<br />

gran<strong>de</strong> sonho: o restabelecimento dos Jogos Olímpicos. Só que ... o po<strong>de</strong>r e o dinheiro não<br />

eram condição suficiente para realizar uma Olimpíada, sendo indispensável actuar com<br />

perseverança, paciência e tolerância, qualida<strong>de</strong>s que sobejamente <strong>de</strong>monstrou possuir.<br />

Restaurar os Jogos Olímpicos foi para Coubertin uma verda<strong>de</strong>ira obsessão, que lhe<br />

trouxe muitos cansaços, trabalheiras e incompreensões, mas que lhe <strong>de</strong>u também um renome<br />

que, doutro modo, não alcançaria.<br />

Coubertin estava, sem dúvida, imbuído <strong>de</strong> um enorme i<strong>de</strong>alismo nele convergindo um<br />

conjunto <strong>de</strong> interesses que estiveram na origem da sua luta <strong>de</strong> muitos anos para o Movimento<br />

Olímpico Mo<strong>de</strong>rno e fazer dos Jogos Olímpicos uma das maiores manifestações culturais e<br />

4


<strong>de</strong>sportivas <strong>de</strong> todos os tempos: uma aguda ambição <strong>de</strong> glória que recusara a via militar, o<br />

seu gran<strong>de</strong> patriotismo pela França que ele consi<strong>de</strong>rava um país que carecia <strong>de</strong> renovação<br />

espiritual e física e o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> contribuir para a modificação social, vieram a cristalizar-se no<br />

conceito do Olimpismo como movimento <strong>de</strong> fraternida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> paz que Coubertin esperava<br />

que viesse a modificar a própria humanida<strong>de</strong>.<br />

Trata-se <strong>de</strong> uma perspectiva utópica e romântica, que não tomava em consi<strong>de</strong>ração a<br />

realida<strong>de</strong> das socieda<strong>de</strong>s e as características dos indivíduos, mas que se estruturava numa<br />

autêntica filosofia <strong>de</strong>sportiva que possui ainda hoje, inegáveis valores humanistas.<br />

Em 25 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1892, no festival comemorativo do 5º aniversário da União<br />

das Socieda<strong>de</strong>s Francesas <strong>de</strong> Desportos Atléticos, Pierre <strong>de</strong> Coubertin, falando num dos<br />

anfiteatros da Sorbonne, revelava ao mundo o sonho <strong>de</strong> fazer renascer os Jogos Olímpicos.<br />

Demonstrando um admirável exemplo <strong>de</strong> tenacida<strong>de</strong>, dois anos <strong>de</strong>pois, estimulado<br />

pela campanha no jornal “Les Temps” <strong>de</strong> Pascal Grousset, que propunha a realização dos<br />

Jogos Olímpicos, Coubertin percorre a Inglaterra e os Estados Unidos on<strong>de</strong> estabelece<br />

importantes contactos e realiza uma série <strong>de</strong> conferências na intenção do restabelecimento<br />

dos Jogos.<br />

Os esforços do Barão <strong>de</strong> Coubertin viriam a ser recompensados com a realização do<br />

1º Congresso Olímpico Internacional, na prestigiosa Sorbonne, entre 16 e 23 <strong>de</strong> Junho.<br />

Reunem-se 79 representantes <strong>de</strong> 14 países e <strong>de</strong> 49 socieda<strong>de</strong>s; mais 21 nações enviam<br />

mensagens <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são. No último dia foi aprovada por unanimida<strong>de</strong> a seguinte resolução:<br />

“Deverão efectuar-se competições <strong>de</strong>sportivas <strong>de</strong> quatro em quatro anos, continuando as<br />

directivas dos Jogos Olímpicos Gregos, e serão convidadas todas as nações para que<br />

participem, sem distinções <strong>de</strong> país, pessoa, cor, religião ou i<strong>de</strong>ias políticas.”<br />

Elegeu-se, nessa altura, o Comité Olímpico Internacional a quem competia assegurar<br />

a perenida<strong>de</strong> das Olimpíadas e <strong>de</strong>senvolver as manifestações <strong>de</strong>sportivas e artísticas que<br />

caracterizavam a sua celebração. O actual C.O.I. é ainda um organismo permanente,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das instâncias governamentais, responsável pela<br />

perpetuação do espírito olímpico.<br />

Ainda no mesmo ano (1894) o poeta grego Bikelas foi<br />

nomeado o primeiro presi<strong>de</strong>nte do Comité Olímpico Internacional e<br />

Pierre <strong>de</strong> Coubertin o seu primeiro secretário-geral.<br />

O Barão <strong>de</strong> Coubertin vence a sua primeira batalha ao<br />

conseguir que os Jogos Mo<strong>de</strong>rnos se realizassem pela primeira vez<br />

na pátria do Olimpismo Clássico, mas as dificulda<strong>de</strong>s pareciam<br />

omnipresentes e para pôr <strong>de</strong> pé os Jogos Olímpicos da Era Mo<strong>de</strong>rna<br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

5


foi o cabo dos trabalhos!<br />

A Grécia já então se distinguia por ser das nações mais pobres da Europa e os cofres<br />

do Estado não suportavam os gastos exigidos por tão dispendioso acontecimento. A corte<br />

grega patrocinou, <strong>de</strong> facto a i<strong>de</strong>ia... Todavia só após uma subscrição pública, que reuniu 130<br />

mil dracmas, houve a certeza <strong>de</strong> que se efectuariam em Atenas os primeiros Jogos Olímpicos<br />

da Era Mo<strong>de</strong>rna.<br />

O dia 5 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1896 marcou o reaparecimento dos Jogos Olímpicos. Depois <strong>de</strong><br />

ter cumprido 239 edições até à extinção, <strong>de</strong>cretada, no ano <strong>de</strong> 393, pelo Imperador Teodósio,<br />

o gran<strong>de</strong> evento <strong>de</strong>sportivo era recriado e recebia uma inovação importante: alargava as suas<br />

fronteiras muito para além das da Grécia Antiga.<br />

A cerimónia inaugural, a que presidiu o rei Jorge I, <strong>de</strong>correu no Estádio Olímpico <strong>de</strong><br />

Atenas – reconstruído a partir do antigo Estádio Panatenaico. Oitenta mil espectadores<br />

assistiram, em ambiente <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> festa, ao <strong>de</strong>sfile <strong>de</strong> 311 atletas, entre os quais se<br />

encontravam 230 gregos e ... nenhuma mulher e nenhum negro.<br />

O Barão <strong>de</strong> Coubertin assistiu à cerimónia <strong>de</strong> abertura. E, ao sentir que o seu sonho <strong>de</strong><br />

muitos anos estava concretizado, não conteve as lágrimas. Chorou, convulsivamente, como<br />

uma criança.<br />

Dirigindo-se à juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong> todas as nações, Coubertin formulava o voto <strong>de</strong> que o<br />

Olimpismo constituísse uma escola <strong>de</strong> nobreza e <strong>de</strong> energia física, <strong>de</strong>stinado a tornar-se uma<br />

das maiores manifestações pacíficas da Humanida<strong>de</strong>, uma instituição à escala planetária, sem<br />

fronteiras. O i<strong>de</strong>al olímpico visava a fraternida<strong>de</strong> dos povos e, <strong>de</strong> quatro em quatro anos,<br />

esquecendo mútuas acusações, os homens do mundo inteiro po<strong>de</strong>riam rivalizar lealmente e<br />

<strong>de</strong>signar os melhores.<br />

Para Coubertin, o importante nos Jogos Olímpicos não era vencer, mas participar. O<br />

importante na vida não seria conquistar mas lutar dignamente; a tónica dominante da sua<br />

mensagem residia fundamentalmente na convicção <strong>de</strong> que ao <strong>de</strong>sporto não <strong>de</strong>via<br />

exigir-se-lhe apenas benefícios <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m física, mas também intelectual, moral e social.<br />

O Barão <strong>de</strong> Coubertin no seu apelo, lançado durante a cerimónia da inauguração dos<br />

Jogos da I Olimpíada dos tempos mo<strong>de</strong>rnos, argumentava o carácter internacional dos Jogos<br />

Olímpicos da época contemporânea; o futuro emblema olímpico cujo motivo são cinco anéis<br />

entrelaçados entre si, simbolizam a união <strong>de</strong> todos os países dos cinco continentes. Da<br />

esquerda para a direita os anéis têm as seguintes cores: azul, da Europa; amarelo, da Ásia;<br />

negro, <strong>de</strong> África; ver<strong>de</strong>, da Oceânia; e o vermelho, da América. A divisa são três palavras em<br />

latim, que con<strong>de</strong>nsam os anseios e i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> todos os <strong>de</strong>sportistas que tomam parte nestas<br />

competições: Citius, Altius, Fortius (mais rápido, mais alto, mais forte).<br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

6


A Coubertin, apesar <strong>de</strong> excessos e erros que envolveram algumas das suas<br />

concepções (por exemplo era frontalmente contra a participação das mulheres nos Jogos) não<br />

po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lhe ser reconhecida a força constante e o valor genial <strong>de</strong> ter elaborado a<br />

perspectiva humanística que manteve o I<strong>de</strong>al Olímpico, pacífico, rico em valores culturais<br />

num mundo conturbado e que sofreu uma gran<strong>de</strong> transformação, enquanto os Jogos<br />

Olímpicos se foram realizando somente com algumas interrupções provocadas pelas duas<br />

Gran<strong>de</strong>s Guerras.<br />

Pierre <strong>de</strong> Coubertin veio a falecer em Genebra no ano <strong>de</strong> 1937, mas o seu corpo jaz<br />

em Lausanne, on<strong>de</strong> o Comité Olímpico Internacional tem a sua se<strong>de</strong>. Por seu expresso<br />

<strong>de</strong>sejo, o coração foi colocado numa urna <strong>de</strong> bronze e transladado para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Olímpia,<br />

que tanto significado tivera na vida do fundador dos Mo<strong>de</strong>rnos Jogos Olímpicos, on<strong>de</strong> se<br />

encontra num monumento especialmente erguido para o efeito em pleno Bosque Sagrado.<br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

JOGOS OLÍMPICOS E JOGO DE INTERESSES.<br />

Na perspectiva <strong>de</strong> Coubertin os Jogos Olímpicos Mo<strong>de</strong>rnos podiam estabelecer no<br />

mundo um clima <strong>de</strong> paz e compreensão entre os homens. E mais: fazer ressaltar as virtu<strong>de</strong>s<br />

do “fair play” promovendo o <strong>de</strong>senvolvimento integral do espírito e do corpo entre uma<br />

juventu<strong>de</strong> universalmente fraterna.<br />

À época em que os Jogos Mo<strong>de</strong>rnos foram restaurados, o <strong>de</strong>sporto olímpico era tido<br />

principalmente como um passatempo extrínseco; o <strong>de</strong>sporto era praticado, mesmo em alta<br />

competição, unicamente por amor ao <strong>de</strong>sporto.<br />

Actualmente a participação <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser um simples passatempo, passando a<br />

envolver uma proposta séria não só para os atletas mas também para os Estados, os negócios<br />

e os média.<br />

Factores vários explicam o motivo que levou uma<br />

instituição, como as Olimpíadas, a ser dirigida por outras<br />

orientações.<br />

Sem dúvida, Coubertin não ficaria nada satisfeito se<br />

pu<strong>de</strong>sse observar alguns aspectos <strong>de</strong> que se revestem hoje as<br />

Olimpíadas.<br />

Progressivamente foi-se registando um certo<br />

abrandamento na rigi<strong>de</strong>z das normas e <strong>de</strong>srespeito pelo<br />

regulamento olímpico, não sendo raros os casos em que o<br />

7


amadorismo ce<strong>de</strong>u lugar a um profissionalismo disfarçado – ou <strong>de</strong>scarado?<br />

Na verda<strong>de</strong>, toda a louvável i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> juntar os maiores atletas do Mundo numa<br />

competição à escala planetária, em que participariam pelo simples prazer <strong>de</strong> participar e em<br />

que as medalhas não seriam um fim em si mas apenas um prémio a marcar a superiorida<strong>de</strong><br />

momentânea, foi ficando pelo caminho todos os quatro anos. À vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> vencer e à entrega<br />

dos atletas foram-se juntando interesses da mais variada or<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os comerciais aos<br />

políticos.<br />

Como consequência das consequências que os Jogos po<strong>de</strong>m ter, tem a festa sido<br />

algumas vezes manchada com histórias em que gran<strong>de</strong>s figuras do Desporto, atletas e<br />

dirigentes, protagonizam episódios que são a completa negação dos i<strong>de</strong>ais com que o Barão<br />

<strong>de</strong> Coubertin repescou da Antiguida<strong>de</strong> o maior acontecimento <strong>de</strong>sportivo <strong>de</strong> sempre.<br />

A alienação do atleta que faz batota usando substâncias que falseiam a verda<strong>de</strong> das<br />

suas capacida<strong>de</strong>s naturais, ou a entrega dos dirigentes à ambição <strong>de</strong> alguns cifrões ou outras<br />

mordomias a troco <strong>de</strong> um voto ou <strong>de</strong> uma influência, não têm sido infelizmente casos-virgem<br />

no mundo olímpico.<br />

O espírito coubertiano dos Jogos, em que o mais importante não era vencer mas<br />

participar foi-se diluindo, sendo inegável que as gran<strong>de</strong>s potências, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há muito, utilizam<br />

as Olimpíadas em benefício da sua própria política. Com efeito, a regra n.º 7, <strong>de</strong>terminando<br />

que os Jogos são competições entre indivíduos e não entre nações é frequentemente<br />

infringida. Deste modo, o espírito olímpico não tem sido respeitado, porquanto já não é o<br />

atleta individual que entra realmente em competição com os outros concorrentes, mas sim a<br />

nação à qual ele pertence que se opõe aos outros países numa luta <strong>de</strong> prestígio. Os Jogos<br />

Olímpicos tornam-se o campo fechado no qual se enfrentam propagandas. Desta forma um<br />

nacionalismo exacerbado substitui o patriotismo legítimo; assim patenteiam-se pretensões ao<br />

afirmar-se, pelo palmarés dos Jogos, a superiorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> certos regimes políticos sobre outros.<br />

Quando Pierre Coubertin restabeleceu as Olimpíadas, previu os estados-nações do seu<br />

tempo em comparação com as cida<strong>de</strong>s da Grécia Antiga e, <strong>de</strong> maneira i<strong>de</strong>alística, supôs que<br />

os estados do mundo mo<strong>de</strong>rno po<strong>de</strong>riam parar com as hostilida<strong>de</strong>s para a paz olímpica, como<br />

o faziam os Estados Antigos. Embora ele fosse bem realista quando procurou a protecção dos<br />

monarcas e dos estados soberanos para o novo movimento, não foi capaz <strong>de</strong> ver o inverso, ou<br />

seja, a utilização para finalida<strong>de</strong>s nacionalistas. A sua fé no po<strong>de</strong>r do movimento olímpico e<br />

a sua confiança na benevolência dos governos para respeitar e observar os i<strong>de</strong>ais olímpicos<br />

verificaram-se serem <strong>de</strong>masiado optimistas.<br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

8


Efectivamente, a própria história do olimpismo mo<strong>de</strong>rno tem evi<strong>de</strong>nciado ser<br />

absolutamente utópico aceitar que os Jogos se po<strong>de</strong>m manter alheados do contexto político<br />

internacional.<br />

Para além do aspecto puramente <strong>de</strong>sportivo, a organização e todo o sistema olímpico,<br />

oferecem às autorida<strong>de</strong>s políticas uma oportunida<strong>de</strong> extraordinária no sentido da utilização<br />

efectiva das Olimpíadas.<br />

Contrariando os i<strong>de</strong>ais do movimento olímpico, o sistema está organizado <strong>de</strong> modo a<br />

situar-se numa posição <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da or<strong>de</strong>m política do mundo. Repare-se que os comités<br />

nacionais olímpicos e até o próprio Comité Olímpico Internacional movimentam-se num<br />

quadro <strong>de</strong> semi-autonomia, <strong>de</strong>vendo sempre tomar em conta a sua <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> forças<br />

políticas externas.<br />

Constituindo os Jogos um instrumento nas mãos daqueles que dominam o Po<strong>de</strong>r, o<br />

nacionalismo nunca po<strong>de</strong>ria ter sido uma coisa estranha nas Olimpíadas, já que os países do<br />

mundo interpretam a participação nos Jogos como uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exprimir os<br />

sentimentos nacionais e a i<strong>de</strong>ntificação nacional.<br />

Os i<strong>de</strong>ais dos Jogos não foram rejeitados, mas foram traduzidos numa língua <strong>de</strong><br />

utilização prática totalmente diferente. Os Jogos foram utilizados não tanto para o “fair play”<br />

internacional, mas mais para o interesse e o orgulho nacional.<br />

Uma vez que os êxitos olímpicos têm uma importância especial na propaganda das<br />

gran<strong>de</strong>s potências e na luta i<strong>de</strong>ológica entre elas, não será <strong>de</strong> estranhar que , não poucas<br />

vezes, o <strong>de</strong>senvolvimento e agudização <strong>de</strong> um clima racista e chauvinista tenham provocado<br />

separações <strong>de</strong> homens e nações.<br />

O internacionalismo tão do agrado <strong>de</strong> Pierre <strong>de</strong> Coubertin é posto em causa pelas<br />

exclusivida<strong>de</strong>s, as segregações e as ameaças <strong>de</strong> cisão <strong>de</strong> toda a espécie.<br />

O aproveitamento político do <strong>de</strong>sporto olímpico não foi a única realida<strong>de</strong> externa que<br />

levou o movimento a <strong>de</strong>sviar-se dos objectivos iniciais. A intromissão do comercialismo é<br />

um facto.<br />

Até aos primeiros anos da década <strong>de</strong> 50, o problema económico era acerca do<br />

amadorismo “versus” profissionalismo; a maior controvérsia respeitava à perca <strong>de</strong> lucros e<br />

do subsídio quotidiano para compensar o tempo perdido.<br />

A partir <strong>de</strong> Melburne (1956), quando a tecnologia dos “mass media” mo<strong>de</strong>rna, com a<br />

televisão entra nas Olimpíadas a situação modifica-se radicalmente; os Jogos passam a<br />

oferecer uma oportunida<strong>de</strong> fascinante para serem utilizados não só para fins governamentais,<br />

mas também para fins comerciais. E em segundo, os lucros da venda dos direitos <strong>de</strong><br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

9


televisão, aumentando vertiginosamente, <strong>de</strong>ram ao próprio movimento olímpico uma<br />

oportunida<strong>de</strong> cheia <strong>de</strong> promessas para fazer dos Jogos um acontecimento bastante lucrativo.<br />

Hoje em dia as mais importantes competições dos Jogos <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sportivas,<br />

tornaram-se financeiras, comerciais e publicitárias. Milhares <strong>de</strong> firmas <strong>de</strong> todo o género,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> empresas <strong>de</strong> betão armado, fabricantes <strong>de</strong> cronómetros, companhias <strong>de</strong> electrónica,<br />

ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> televisão, passando pelas indústrias <strong>de</strong> solas <strong>de</strong> borracha dos sapatos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sporto,<br />

estão na mira dos lucros e da publicida<strong>de</strong> que po<strong>de</strong>m fazer, graças aos Jogos que cada vez<br />

mais se confun<strong>de</strong>m com a feira comercial, <strong>de</strong> que se tornaram pretexto.<br />

Sob o ponto <strong>de</strong> vista do movimento olímpico a situação não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser<br />

problemática; todavia o envolvimento do <strong>de</strong>sporto em operações comerciais, confere-lhe<br />

vantagens que muito contribuem para ajudar a suportar o custo cada vez mais elevado do<br />

espectáculo olímpico. Por conseguinte, o movimento ter-se-á visto forçado a fechar os olhos<br />

sobre a i<strong>de</strong>ologia olímpica, nomeadamente o amadorismo.<br />

Os próprios atletas não estão isentos <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>, porquanto alguns <strong>de</strong>les, em<br />

conivência com outros intervenientes, aceitam técnicas, métodos e produtos químicos dos<br />

mais mo<strong>de</strong>rnos como anabolisantes, dopantes e hormonas utilizados para “fabricar”<br />

campeões, o que mais tar<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>rá levá-los à <strong>de</strong>struição física e mental.<br />

Concluindo este capítulo, Jogos Olímpicos e jogo <strong>de</strong> interesses, po<strong>de</strong> dizer-se que o<br />

movimento olímpico provou ser muito ineficaz quando tentava implantar uma i<strong>de</strong>ologia dum<br />

mundo mais pacífico num padrão internacional das condições humanas. Depois não só foi<br />

ineficaz mas também um tanto elástico quando compromete os seus próprios i<strong>de</strong>ais como o<br />

amadorismo, a competição entre os indivíduos, direitos <strong>de</strong> participação iguais e até o “fair<br />

play”. E ainda, além <strong>de</strong> tudo, foi forçado a satisfazer objectivos <strong>de</strong> forças externas. O papel<br />

da política internacional ao utilizar os Jogos tem sido especialmente característico do que tem<br />

acontecido e que comodamente e sem riscos – constituem um instrumento nas mãos daqueles<br />

que estão no Po<strong>de</strong>r.<br />

Obviamente, apenas po<strong>de</strong>rei referir alguns casos que me parecem mais significativos<br />

como prova da má utilização das Olimpíadas.<br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

BERLIM – 1936<br />

Os Jogos Olímpicos <strong>de</strong> 1936 não po<strong>de</strong>m ser dissociados do nazismo.<br />

Adolfo Hitler aproveitou o facto <strong>de</strong> o mundo ter os olhos colocados em Berlim para<br />

<strong>de</strong>monstrar a força da raça ariana.<br />

10


Pouco tempo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter ascendido ao po<strong>de</strong>r, o Fuhrer festejou a escolha <strong>de</strong> Berlim<br />

como cida<strong>de</strong>-se<strong>de</strong> dos Jogos <strong>de</strong> 1936. E sobraram-lhe motivos para o fazer. Entre outras<br />

razões, a gran<strong>de</strong> manifestação <strong>de</strong>sportiva mundial era a montra i<strong>de</strong>al para a Alemanha exibir<br />

ao mundo o seu po<strong>de</strong>r.<br />

O homem-forte do nazismo não poupou esforços – e muito menos dinheiro – para<br />

rentabilizar a passagem do mundo olímpico por Berlim. Hitler disponibilizou um orçamento<br />

praticamente ilimitado, não apenas para acautelar os aspectos organizativos, como, também,<br />

para fomentar a preparação dos seus atletas.<br />

Apesar das medidas discriminatórias em relação aos ju<strong>de</strong>us, o Comité Olímpico<br />

Internacional não <strong>de</strong>ixara <strong>de</strong> atribuir à Alemanha a organização dos Jogos.<br />

No Congresso do C.O.I., o prestigioso Dr. Theodor Lewald, representante da<br />

<strong>de</strong>legação alemã, e com o assentimento do Reich, <strong>de</strong>clarou que por ocasião da XI Olimpíada<br />

seriam observadas em Berlim todas as prescrições olímpicas e que, em princípio, os ju<strong>de</strong>us<br />

alemães não seriam excluídos da equipa alemã. Acontece que o primeiro a ser excluído foi o<br />

próprio Dr. Lewald (Presi<strong>de</strong>nte do Comité Olímpico Alemão), quando alguém <strong>de</strong>scobriu nele<br />

uma vaga ascendência judaica. E mais... em Setembro <strong>de</strong> 1935, Hitler proclamou as<br />

chamadas Leis <strong>de</strong> Nuremberga que retiraram aos ju<strong>de</strong>us, a título <strong>de</strong>finitivo, a cidadania<br />

alemã.<br />

Entre 1932 e 1933 abandonava a Conferência <strong>de</strong> Desarmamento, em Genebra, e a<br />

Socieda<strong>de</strong> das Nações. De facto, só um distraído ou pateta po<strong>de</strong>ria esperar dos Jogos<br />

apadrinhados por Hitler, o espaço i<strong>de</strong>al para o <strong>de</strong>senvolvimento das relações cordiais entre os<br />

homens e as nações. Demais, os alemães, cegos pela propaganda e pelo fanatismo político,<br />

esperavam que as competições olímpicas consagrassem os métodos e a doutrina nazis... o<br />

Fuhrer pretendia era instrumentalizar os Jogos ao serviço da sua i<strong>de</strong>ologia expansionista e<br />

racista.<br />

A 2 <strong>de</strong> Julho foram <strong>de</strong>clarados abertos os Jogos pelo próprio Hitler, ro<strong>de</strong>ado pela sua<br />

“entourage”, Goebbles, Goering, Hess, Blomberg, figuras sinistras do regime.<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista estritamente <strong>de</strong>sportivo a Alemanha nazi conseguiu suplantar os<br />

habituais vencedores dos Jogos: os Estados Unidos. A Itália fascista alcançou mais medalhas<br />

que a França e o Japão superou largamente a Grã-Bretanha – quer isto dizer que o “Eixo”<br />

triunfa no estádio.<br />

Apesar disso, Hitler sofreu meia-<strong>de</strong>rrota, pois a gran<strong>de</strong> figura da competição não foi<br />

um homem alto e louro. Nem sequer foi baixo e moreno. Foi um negro...<br />

Jesse Owens, <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> escravos, natural <strong>de</strong> Cleveland-Ohio, “um negro <strong>de</strong><br />

sorriso permanente”, que tentou, e conseguiu, um êxito na verda<strong>de</strong> extraordinário: o <strong>de</strong> haver<br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

11


conquistado quatro medalhas <strong>de</strong> ouro, no atletismo. Três <strong>de</strong>las individuais, nos 100 metros,<br />

nos 200 e no salto em comprimento; e uma colectiva, na estafeta dos 4 x 100 metros.<br />

O Fuhrer, não escon<strong>de</strong>ndo o seu ódio, abandona a tribuna e <strong>de</strong>lega nos membros do<br />

Comité Olímpico a entrega das medalhas, porquanto se recusaria a cumprimentar qualquer<br />

negro. E, para seu <strong>de</strong>sespero, das 12 provas <strong>de</strong> atletismo ganhas pelos americanos, 9 foram<br />

vencidas por negros.<br />

Portugal conquistou uma medalha <strong>de</strong> bronze, na prova hípica <strong>de</strong> obstáculos,<br />

<strong>de</strong>nominada Prémio das Nações.<br />

Três anos <strong>de</strong>pois, a 1 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1939, os exércitos alemães cruzavam a fronteira<br />

polonesa iniciando a 2ª Guerra Mundial.<br />

Tal como aconteceu durante a 1ª Guerra, os Jogos não se realizaram durante a<br />

Segunda, nem em 1940 nem em 1944, voltando a efectuar-se em Londres em 1948.<br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

MUNIQUE – 1972<br />

Para fazer dos 17º s Jogos Olímpicos da 20ª Olimpíada um êxito perfeito a R.F.A.<br />

<strong>de</strong>spen<strong>de</strong>u globalmente cerca <strong>de</strong> 1972 milhões <strong>de</strong> marcos.<br />

Tratava-se então, sob este aspecto <strong>de</strong> fazer esquecer a imagem dos Jogos <strong>de</strong> Berlim<br />

(1936) e dar à Alemanha mo<strong>de</strong>rna uma imagem mais favorável.<br />

Trinta e seis anos <strong>de</strong>pois, e <strong>de</strong> novo em território alemão, a lembrança <strong>de</strong>stes Jogos<br />

não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ficar tristemente assinalada.<br />

Os Jogos Olímpicos <strong>de</strong> Munique serão, <strong>de</strong> todos os do pós-guerra, aqueles que ficarão<br />

na História <strong>de</strong>vido a um acontecimento que nada teve a ver com feitos <strong>de</strong>sportivos. A política<br />

mais uma vez interveio nos Jogos pela negativa. Em causa, a situação do Médio Oriente, e<br />

mais propriamente, as terras da Palestina.<br />

Uma primeira “nódoa” registou-se quando o Comité Olímpico Internacional <strong>de</strong>cidiu<br />

proibir a participação dos 47 atletas da Rodésia (dos quais oito negros) numa altura em que já<br />

haviam assistido ao tradicional hastear da ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> todos os países concorrentes.<br />

Porém o inci<strong>de</strong>nte mais dramático <strong>de</strong> todo o historial olímpico iria ter o seu início na<br />

madrugada do dia 5 <strong>de</strong> Setembro, quando onze israelitas instalados no pavilhão 31 da al<strong>de</strong>ia<br />

olímpica foram sequestrados por um comando palestiniano pertencente à Organização<br />

<strong>de</strong>nominada <strong>de</strong> “Setembro Negro”. Tratava-se <strong>de</strong> um ramo da organização Al-Fatah, que<br />

exigia a libertação <strong>de</strong> 17 prisioneiros palestinianos encarcerados em prisões <strong>de</strong> Israel.<br />

Após diversas negociações, com a participação do próprio chanceler alemão Willy<br />

Brandt, e que ainda hoje não se encontram perfeitamente esclarecidas, simula-se a partida<br />

12


dos 19 homens (8 árabes e 11 reféns) dois <strong>de</strong>les já mortos no n.º 31 da Connolystrasse) para o<br />

Cairo. Entretanto, preparava-se a emboscada no aeroporto militar <strong>de</strong> Furstenfeldbruck a<br />

cargo <strong>de</strong> polícias e atiradores especiais alemães.<br />

Na placa do aeroporto encontrava-se, efectivamente, um “Boeing 727”, que <strong>de</strong>veria<br />

servir para a fuga. Dois dos palestinianos saíram <strong>de</strong> um dos helicópteros, para verificar o<br />

avião e, imediatamente, começou o tiroteio.<br />

Na tentativa <strong>de</strong> libertar os reféns, foram provocadas mais 15 mortes. As dos nove<br />

reféns, <strong>de</strong> 5 terroristas e um agente da polícia alemã.<br />

Suspensos por um dia, os Jogos prosseguiram, pois foi esse o <strong>de</strong>sejo manifestado pela<br />

maioria das <strong>de</strong>legações, até pela israelita, que se retirou, no entanto, da competição, por<br />

respeito à memória dos atletas assassinados. A Noruega, a Holanda e as Filipinas também<br />

abandonaram Munique.<br />

Nesta edição dos Jogos Olímpicos, a presença portuguesa foi muito discreta; <strong>Carlos</strong><br />

Lopes e Fernando Mame<strong>de</strong> também estiveram presentes, mas ambos foram eliminados nas<br />

séries <strong>de</strong> 10.000 e 800 metros, respectivamente.<br />

Nos Jogos seguintes <strong>Carlos</strong> Lopes brilharia a gran<strong>de</strong> altura.<br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

MOSCOVO – 1980<br />

Mais uma vez e não seria a última, os Jogos Olímpicos estiveram sob o signo da<br />

politização.<br />

Em Dezembro <strong>de</strong> 1979, numa altura em que Moscovo se preparava para receber a<br />

maior competição <strong>de</strong>sportiva internacional, as tropas soviéticas entraram no Afeganistão,<br />

irritando um Mundo oci<strong>de</strong>ntal que li<strong>de</strong>rado por Jimmy Carter <strong>de</strong>creta o boicote americano<br />

aos Jogos Olímpicos <strong>de</strong> Moscovo aconselhando tácita ou explicitamente, a mesma posição<br />

aos países consi<strong>de</strong>rados amigos, preten<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>sviar a atenção internacional para questões<br />

<strong>de</strong> natureza política.<br />

Apesar <strong>de</strong> terem sido boicotados por um número elevado <strong>de</strong> países, os Jogos<br />

Olímpicos <strong>de</strong> 1980, realizados em Moscovo, constituíram um êxito, tanto no aspecto<br />

organizativo como na vertente <strong>de</strong>sportiva.<br />

O Governo Português, i<strong>de</strong>ntificando-se com a posição dos Estados Unidos, <strong>de</strong>clarou<br />

que a equipa portuguesa não <strong>de</strong>veria viajar até Moscovo. Porém, julgo que hipocritamente, o<br />

nosso governo <strong>de</strong>ixaria ao Comité Olímpico a <strong>de</strong>cisão.<br />

A opção não recaiu sobre o boicote, mas o Estado não suportou os custos inerentes à<br />

presença em Moscovo e os atletas nacionais sofreram pressões... para ficarem em casa.<br />

13


A ameaça pairou no ar: quem fosse a Moscovo ficaria sem o subsídio que na altura, já<br />

era atribuído a atletas <strong>de</strong> alta competição; quem por cá permanecesse, po<strong>de</strong>ria usufruir <strong>de</strong><br />

“benesses”, como por exemplo, receber dinheiro para participar em “meetings”<br />

internacionais.<br />

Fernando Mame<strong>de</strong> e <strong>Carlos</strong> Lopes ficaram em Lisboa. O primeiro teve medo <strong>de</strong><br />

represálias, enquanto o segundo foi traído por uma lesão. Tal como as duas gran<strong>de</strong>s ve<strong>de</strong>tas<br />

do atletismo português, outros <strong>de</strong>sportistas nacionais faltaram à chamada olímpica.<br />

Assim, os Jogos <strong>de</strong> Moscovo registaram a participação <strong>de</strong> apenas 11 atletas lusitanos,<br />

que competiram em seis modalida<strong>de</strong>s diferentes e não alcançaram resultados <strong>de</strong> relevo.<br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

LOS ANGELES – 1984<br />

Como já o haviam sido em 1932, Los Angeles, na Califórnia, foram palco <strong>de</strong> mais<br />

uma edição dos Jogos Olímpicos. Jogos que não foram os da reconciliação como seria <strong>de</strong>sejo<br />

da gran<strong>de</strong> maioria dos <strong>de</strong>sportistas.<br />

Os países comunistas boicotaram a competição californiana e, assim, escreveram mais<br />

um capítulo da Guerra Fria, que, em gran<strong>de</strong> parte da segunda meta<strong>de</strong> do século, dividiu o<br />

planeta em dois.<br />

Desta vez, questões <strong>de</strong> segurança e <strong>de</strong> natureza financeira foram as razões invocadas<br />

pelos países do bloco socialista que ditaram o boicote à 23ª Olimpíada.<br />

A indisponibilida<strong>de</strong> da União Soviética para competir em Los Angeles foi,<br />

essencialmente, um acto <strong>de</strong> retaliação ao boicote <strong>de</strong>cretado pelos Estados Unidos à edição<br />

dos Jogos Olímpicos realizada, quatro anos antes, em Moscovo.<br />

Pela terceira vez consecutiva (os africanos, recor<strong>de</strong>-se, boicotaram Montreal – 76),<br />

um grupo <strong>de</strong> países utilizava os Jogos Olímpicos – e logo pelo lado negativo – para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />

interesses extra<strong>de</strong>sportivos.<br />

Releve-se a presença da República Socialista da Roménia que, embora fazendo parte<br />

dos países <strong>de</strong> Leste, membro do Pacto <strong>de</strong> Varsóvia e do Comecon, enviou a Los Angeles uma<br />

equipa <strong>de</strong> 127 atletas.<br />

A maioria dos países africanos e asiáticos, que se tinham recusado a aceitar os<br />

argumentos persuasivos, resistiram igualmente à pressão <strong>de</strong> Moscovo no sentido <strong>de</strong> a<strong>de</strong>rirem<br />

ao boicote. Foi a vez <strong>de</strong> os russos ficarem isolados.<br />

14


Além disso, os Jogos <strong>de</strong> Los Angeles constituíram uma <strong>de</strong>monstração dos resultados<br />

do sistema empresarial americano. Ao provar que os Jogos Olímpicos podiam gerar receitas<br />

importantes, Los Angeles <strong>de</strong>u muita força ao Movimento Olímpico. Os países recomeçaram<br />

a disputar o privilégio <strong>de</strong> acolher os Jogos no seu território.<br />

Porém, essa vitória, tal como a <strong>de</strong>rrota i<strong>de</strong>ológica infligida pelo Oci<strong>de</strong>nte ao<br />

comunismo, encerrava em si mesma o germe <strong>de</strong> uma nova ameaça aos Jogos: o<br />

comercialismo, a cobiça, o império do rei dólar.<br />

Denominados <strong>de</strong> Jogos da electrónica, os direitos televisivos<br />

foram concedidos por uma soma astronómica à ca<strong>de</strong>ia comercial ABC,<br />

que viria a manifestar <strong>de</strong>scarada parcialida<strong>de</strong> e “caseirismo” nas suas<br />

transmissões. Até os próprios trajectos da “Chama Olímpica” seriam<br />

comercializados, contrariando as regras do<br />

protocolo olímpico. Curiosamente, a “Chama<br />

Olímpica” entraria no Memorial Coliseum<br />

pela mão <strong>de</strong> Gina Menphil, neta do “tal”, Jesse Owens, que em<br />

Berlim na Olimpíada <strong>de</strong> 1936, ao conquistar 4 medalhas <strong>de</strong> ouro,<br />

cravara uma espinha na garganta <strong>de</strong> Adolfo Hitler.<br />

Em Los Angeles a participação portuguesa po<strong>de</strong><br />

consi<strong>de</strong>rar-se a mais notável <strong>de</strong> sempre, três atletas iriam subir ao<br />

pódio: <strong>Carlos</strong> Lopes (Medalha <strong>de</strong> Ouro, obtém a melhor marca<br />

conseguida até então 2 h , 09’ 25’’), Rosa Mota (Medalha <strong>de</strong> Bronze<br />

na Maratona feminina), Rosa <strong>de</strong>...”ouro”, quatro anos <strong>de</strong>pois nos Jogos <strong>de</strong> Seoul e António<br />

Leitão (Medalha <strong>de</strong> Bronze nos 5 000 metros).<br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

ATLANTA – 1996<br />

Doze anos <strong>de</strong>pois, os Estados Unidos voltaram a receber a família olímpica, à boa<br />

maneira americana. Com espectáculo, chauvinismo, gran<strong>de</strong>s figuras, resultados notáveis e<br />

alegria, e ainda, um novo acontecimento que marcou pela negativa os Jogos, a <strong>de</strong>flagração <strong>de</strong><br />

uma bomba no coração da cida<strong>de</strong> olímpica voltando a chamar as atenções do mundo.<br />

Realizados entre 20 <strong>de</strong> Julho (cerimónia <strong>de</strong> abertura a 19) e 4 <strong>de</strong> Agosto, os Jogos<br />

Olímpicos <strong>de</strong> Atlanta, <strong>de</strong>nominados <strong>de</strong> Jogos do Centenário, representaram em termos <strong>de</strong><br />

investimento económico um esforço financeiro <strong>de</strong> 400 milhões <strong>de</strong> dólares só para a<br />

construção da cida<strong>de</strong> olímpica.<br />

15


Participaram cerca <strong>de</strong> 10.000 atletas entre os quais 3.700 mulheres, representando à<br />

volta <strong>de</strong> 200 países, 5.000 treinadores e <strong>de</strong>legados <strong>de</strong> equipa, 2.500 membros da Família<br />

Olímpica e VIP, e ainda 15.000 representantes dos meios <strong>de</strong> comunicação acreditados.<br />

Cerca <strong>de</strong> seis meses antes realizara-se em Lisboa a cerimónia <strong>de</strong> lançamento das<br />

moedas comemorativas dos Jogos <strong>de</strong> Atlanta; presentes várias individualida<strong>de</strong>s entre as quais<br />

a embaixatriz dos Estados Unidos, Elisabeth Bagley e Rosa<br />

Mota. Foram apresentados 16 exemplares <strong>de</strong> ouro, prata e<br />

cuproníquel, constituindo esta colecção a maior série <strong>de</strong><br />

moedas alguma vez produzida nos E.U. A., prevendo-se a sua<br />

circulação em mais <strong>de</strong> 40 países distribuídos pelos cinco<br />

continentes. Estas moedas também assumiram valor <strong>de</strong><br />

particular relevância para o movimento olímpico português.<br />

Com efeito, cerca <strong>de</strong> três por cento da verba pelas vendas<br />

realizadas no nosso país, seriam transferidos para o Comité<br />

Olímpico Português, com vista a apoiar o treino dos atletas que<br />

iriam a Atlanta.<br />

Bill Payne, Presi<strong>de</strong>nte do Comité Olímpico <strong>de</strong> Atlanta,<br />

garantia não ter dúvidas <strong>de</strong> sucesso, prometendo os maiores e melhores jogos <strong>de</strong> sempre. A<br />

seis meses do seu início já não havia bilhetes à venda, ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> televisão pagaram milhões<br />

<strong>de</strong> dólares pelos direitos <strong>de</strong> transmissão e companhias multinacionais pagaram outras<br />

<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> dólares para serem patrocinadoras dos Jogos. O que chega para fazer<br />

torcer o nariz aos puristas dos Jogos Olímpicos, que não gostaram da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> ver os<br />

hamburguers Mc Donalds serem vendidos como hamburguers oficiais das Olimpíadas.<br />

Apesar dos <strong>de</strong>feitos, gigantismo e todas as controvérsias, os Jogos Olímpicos po<strong>de</strong>m<br />

consi<strong>de</strong>rar-se, indiscutivelmente, um espectáculo único no Mundo.<br />

Só que... mais uma vez a festa foi manchada.<br />

Embora fosse quase inimaginável que Atlanta se tornasse como Munique, as<br />

autorida<strong>de</strong>s pensavam ter feito tudo o que podiam para garantir que estes seriam os Jogos<br />

Olímpicos mais seguros da História. Mesmo antes da explosão do voo 800 da TWA, a Casa<br />

Branca estava bem consciente <strong>de</strong> que os Jogos constituiriam um enorme e convidativo alvo<br />

terrorista, e o vice-presi<strong>de</strong>nte Al-Gore passou pessoalmente em revista todas as medidas <strong>de</strong><br />

segurança tomadas em Atlanta.<br />

O certo é que na madrugada <strong>de</strong> Sábado, 27 <strong>de</strong> Julho, uma bomba <strong>de</strong> fabrico caseiro<br />

explodiu no Parque do Centenário Olímpico <strong>de</strong> Atlanta. Resultado: Alice Hawthorne, 44<br />

anos, resi<strong>de</strong>nte em Albany, Georgia, morreu no atentado; Melih Uzunyol, um operador <strong>de</strong><br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

16


câmara turco <strong>de</strong> 37 anos, faleceu <strong>de</strong> ataque cardíaco quando corria para o parque a fim <strong>de</strong><br />

cobrir a notícia; e 111 pessoas ficaram feridas, a maioria por estilhaços que voaram até à<br />

distância <strong>de</strong> cem metros do local da explosão.<br />

Enfim, os terroristas conseguiram o que queriam, os Jogos voltaram a ser sangrentos.<br />

Terrorismo interno ou conspiração internacional? Trata-se <strong>de</strong> uma questão que até<br />

hoje não encontrou resposta.<br />

Quanto à participação portuguesa, e numa análise feita a frio, tem <strong>de</strong> se dizer que o<br />

saldo foi positivo. Além das sempre importantes medalhas – o ouro <strong>de</strong> Fernanda Ribeiro, nos<br />

10 mil metros, do Atletismo, e o bronze, <strong>de</strong> Hugo Rocha – Nuno Barreto, na classe 470 da<br />

Vela –, há que assinalar toda uma série <strong>de</strong> resultados <strong>de</strong> plano médio, que, quando olhados<br />

com atenção, levam a concluir que Atlanta, 96 (mesmo sem igualar as três medalhas <strong>de</strong> Los<br />

Angeles, 84) proporcionou aos portugueses o melhor somatório <strong>de</strong> sempre.<br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

Sidney 2000<br />

A Austrália, potência económica do<br />

Pacífico, e Sidney, uma cida<strong>de</strong> do hemisfério<br />

sul que quer ser o símbolo <strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>m<br />

mundial mais <strong>de</strong>scentralizada e <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida urbana tinha os olhos do mundo sobre<br />

si.<br />

A gran<strong>de</strong> invasão começou duas<br />

semanas antes <strong>de</strong> a chama olímpica iluminar a<br />

noite <strong>de</strong> Homebush Bay, a zona <strong>de</strong> 760<br />

hectares nos subúrbios da cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> se<br />

localiza o coração dos Jogos. Mas só nos<br />

últimos dias se começou a perceber a<br />

dimensão <strong>de</strong> uma vaga humana que incluía<br />

mais <strong>de</strong> 30.000 pessoas acreditadas na<br />

organização. Eram 11.000 atletas, 5.000<br />

oficiais e acompanhantes, 15.000 jornalistas e<br />

técnicos ligados à informação, sem falar nos visitantes que se <strong>de</strong>slocaram a este canto do<br />

mundo para seguirem <strong>de</strong> perto as proezas <strong>de</strong>sportivas dos melhores atletas do planeta e<br />

viverem o ambiente único <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> olímpica.<br />

O Estádio Austrália, <strong>de</strong>signação oficial daquele que ficará para sempre conhecido<br />

como estádio olímpico <strong>de</strong> Sidney, é uma obra <strong>de</strong> arte <strong>de</strong> concepção arquitectónica.<br />

17


Concluído em 1996, após dois anos e cinco meses <strong>de</strong> edificação, é o maior entre<br />

todos os seus pares que acolheram Jogos Olímpicos e custou 690 milhões <strong>de</strong> dólares<br />

australianos (cerca <strong>de</strong> 89,7 milhões <strong>de</strong> contos).<br />

A cerimónia <strong>de</strong> abertura já é uma instituição olímpica. De 4 em 4 anos, os<br />

organizadores dos Jogos gastam milhões para suplantar em espectacularida<strong>de</strong> a edição<br />

anterior.<br />

A organização australiana, apesar da confi<strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong> com que blindou os<br />

preparativos da festa, tinha há muito <strong>de</strong>ixado perceber que pretendia surpreen<strong>de</strong>r tudo e todos<br />

com a abertura da sua Olimpíada.<br />

De facto um gran<strong>de</strong> espectáculo <strong>de</strong> luz e cor iria marcar a sessão <strong>de</strong> abertura dos<br />

Jogos Olímpicos – Sidney 2000.<br />

O cenário era <strong>de</strong> luxo, <strong>de</strong>slumbrante, <strong>de</strong> sonho.<br />

Milhares <strong>de</strong> pessoas assistiram e participaram vendo dançar aborígenes, números a<br />

cavalo, orquestras em actuação, fogo <strong>de</strong> artifício. Viu-se arrojo, inovação, alta tecnologia e<br />

efeitos especiais combinados em perfeita harmonia.<br />

A festa iria constituir também um momento televisivo <strong>de</strong> inigualável beleza, que<br />

po<strong>de</strong>ria ser visto em todo o mundo.<br />

A menos <strong>de</strong> um mês das Olimpíadas, já existia uma certeza: estes seriam os Jogos<br />

mais (tele) vistos da história, prevendo-se 3.700 milhões <strong>de</strong> espectadores, ou seja mais 700<br />

milhões do que em Atlanta.<br />

Diga-se, a propósito, que várias multinacionais, em particular, ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> televisão,<br />

investiram milhões <strong>de</strong> dólares para comprarem os direitos <strong>de</strong> associação comercial ao maior<br />

espectáculo <strong>de</strong>sportivo do mundo. Os números impressionam.<br />

Estes Jogos <strong>de</strong> Sidney também quiseram ficar na história como um símbolo que<br />

ultrapassou difíceis barreiras políticas e sociais, internas e externas.<br />

Pela primeira vez, a Austrália assumiu perante o mundo uma imagem <strong>de</strong><br />

reconciliação com a sua própria ancestralida<strong>de</strong>. Prova disso foi a escolha <strong>de</strong>liberada <strong>de</strong><br />

aborígenes como figuras centrais em toda a cerimónia, com <strong>de</strong>staque especial para Cathy<br />

Freeman. A recordista mundial, campeã olímpica dos 400 metros, acabou por ter mais uma<br />

tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> glória ao fazer o último percurso com o facho olímpico e acen<strong>de</strong>r a pira na apoteose<br />

final da cerimónia.<br />

Nem todos estavam <strong>de</strong> acordo, <strong>de</strong>vido à polémica em que Cathy se envolvera pouco<br />

antes com o Comité Olímpico australiano, ao proclamar que daria uma volta ao estádio com a<br />

ban<strong>de</strong>ira aborígene caso ganhasse a medalha <strong>de</strong> ouro.<br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

18


As regras do C.O.I. não permitem manifestações <strong>de</strong> índole política, mas o comité<br />

australiano mudou <strong>de</strong> opinião e <strong>de</strong>cidiu que a não sancionaria caso ela cumprisse mesmo a<br />

promessa. E cumpriu. Cathy fez mais 400 metros <strong>de</strong> consagração, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter tirado os<br />

sapatos. Ficou <strong>de</strong>scalça, e muita gente notou que isso não seria senão uma homenagem ao<br />

povo aborígene, o seu povo. Correu para a bancada e recolheu duas ban<strong>de</strong>iras, a australiana e<br />

a aborígene. Apoteótico. Cathy tornou-se símbolo da nova cultura australiana, <strong>de</strong>vido às suas<br />

raízes aborígenes e ao <strong>de</strong>sejo da Austrália <strong>de</strong> ficar <strong>de</strong> bem com a sua história. A vitória <strong>de</strong><br />

Cathy nos 400 metros, foi a vitória <strong>de</strong>sportiva mas também política e social da nova<br />

Austrália.<br />

Conquanto os Jogos <strong>de</strong> Sidney ficassem assinalados por duas semanas <strong>de</strong> uma<br />

concepção festiva do <strong>de</strong>sporto como em nenhum lado se viu, o “doping” não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser<br />

uma presença incontornável nos últimos Jogos do milénio.<br />

Nunca uns Jogos Olímpicos foram tão punitivos. Medalhas foram retiradas e atletas<br />

foram <strong>de</strong>sclassificados por acusarem substâncias proibidas.<br />

Para garantir que Sidney fosse o palco dos melhores Jogos <strong>de</strong> sempre, a organização<br />

<strong>de</strong>ixou bem clara a sua intenção <strong>de</strong> lutar contra o “doping”. Foram <strong>de</strong>senvolvidos novos<br />

processos para a <strong>de</strong>spistagem da eritropoietina (EPO); o controlo nas alfân<strong>de</strong>gas foi mais<br />

apertado que nunca e várias foram as apreensões <strong>de</strong> substâncias proibidas. Ficaram também<br />

famosos os rai<strong>de</strong>s-surpresa aos aposentos das comitivas, que também resultaram em<br />

apreensões.<br />

Durante os Jogos foram efectuados cerca <strong>de</strong> 3600 testes – mais do que em qualquer<br />

outra edição – que, <strong>de</strong> acordo com os números oficiais, tiveram menos <strong>de</strong> 0,5 por cento <strong>de</strong><br />

resultados positivos, correspon<strong>de</strong>ntes a nove atletas dopados durante as provas. E será esta<br />

uma das razões apontadas pelos responsáveis para que, por exemplo, não tenham sido<br />

estabelecidos recor<strong>de</strong>s do mundo no atletismo – algo que já não se verificava <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Londres<br />

1948.<br />

As medidas restritivas começaram logo a fazer baixas. Antes <strong>de</strong> os Jogos começarem,<br />

o Comité Olímpico Chinês expulsou 27 atletas da sua comitiva, a maioria dos quais da<br />

equipa <strong>de</strong> natação e atletismo.<br />

A ginasta romena Andrea Raducan per<strong>de</strong>u a sua medalha <strong>de</strong> ouro porque o teste<br />

efectuado após a competição acusou a presença do estimulante pseudo-efedrina, um produto<br />

incluído na composição <strong>de</strong> um medicamento que a atleta tomou para tratar uma gripe e que é<br />

proibido pelo C.O.I.. Aqui parece ter havido alguma negligência ou irresponsabilida<strong>de</strong> do<br />

médico que receitou o comprimido errado.<br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

19


De qualquer modo Andrea foi o exemplo utilizado nos Jogos <strong>de</strong> Sidney para mostrar<br />

que o juramento olímpico feito pelos atletas, on<strong>de</strong> se comprometem a não fazer batota, era<br />

mesmo para cumprir.<br />

A missão portuguesa aos Jogos <strong>de</strong> Sidney regressou com duas medalhas <strong>de</strong> bronze e<br />

outros tantos recor<strong>de</strong>s no bornal. O pecúlio é magro tendo em conta as expectativas com que<br />

partiu.<br />

Efectivamente, a verda<strong>de</strong> é que até ao início da competição foram escassas as críticas<br />

e instalou-se a convicção <strong>de</strong> que tudo tinha sido feito com tal rigor, que os resultados seriam,<br />

obrigatoriamente, melhores do que os <strong>de</strong> Atlanta. Porém, não o foram.<br />

Fernanda Ribeiro (10 mil metros) e Nuno Delgado (judo) foram os melhores,<br />

arrebatando a medalha <strong>de</strong> bronze. Só que estes casos não apagam as <strong>de</strong>silusões<br />

protagonizadas por aqueles <strong>de</strong> quem mais se esperava.<br />

De facto, a última campanha olímpica do milénio po<strong>de</strong> ter <strong>de</strong>sagradado a muitos<br />

portugueses mas, pelo menos, fez ressaltar um pormenor digno <strong>de</strong> registo: Armando Vara, o<br />

então titular da pasta do Desporto, assumiu sem tibiezas estar disposto a avançar com uma<br />

candidatura <strong>de</strong> Portugal aos Jogos <strong>de</strong> 2012.<br />

Concluindo:<br />

Po<strong>de</strong>mos afirmar que a Austrália foi a gran<strong>de</strong> vencedora dos Jogos Olímpicos do ano<br />

2000. Um povo verda<strong>de</strong>iramente extraordinário num país que ainda se sente ser futuro.<br />

Todos os recintos estiveram cheios, foram batidos todos os recor<strong>de</strong>s <strong>de</strong> venda <strong>de</strong> bilhetes<br />

(mais <strong>de</strong> 90 por cento) e tornou-se evi<strong>de</strong>nte que é difícil encontrar um povo com uma cultura<br />

<strong>de</strong>sportiva assim. Entusiasmo transbordante em relação aos seus atletas e um respeito digno e<br />

raro pelos campeões dos outros países. Simplesmente notável.<br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

Atenas – 2004<br />

“O Desporto é, aliás, a contradição da guerra, o<br />

verso <strong>de</strong>sse reverso humano que é a morte em batalha<br />

e, por isso, o Desporto assume <strong>de</strong>s<strong>de</strong> tempos<br />

imemoriais, a sua condição <strong>de</strong> inquestionável parceiro<br />

da paz”. (Vítor Serpa – “A Bola” 20/3/2003)<br />

Os Jogos Olímpicos voltam ao berço. Em termos simbólicos, significa o regresso aos<br />

fundamentos do espírito olímpico. Mas também aos fundamentos da civilização oci<strong>de</strong>ntal, o<br />

que po<strong>de</strong>rá tornar a capital grega no alvo do terrorismo fundamentalista.<br />

20


Na Grécia Antiga, como já referi, paravam as guerras para que os homens,<br />

confraternizassem nos Jogos Olímpicos, hoje, infelizmente, o Desporto não tem tal po<strong>de</strong>r e é<br />

ele que pára, para que os homens se guerreiem.<br />

Pelo menos no nosso país, talvez por via do Euro-2004, as pessoas parecem<br />

esquecidas dos Jogos Olímpicos <strong>de</strong> Atenas que, no momento em que faço a abordagem<br />

possível, estão à distância <strong>de</strong> pouco mais <strong>de</strong> sessenta dias.<br />

De 13 a 29 <strong>de</strong> Agosto a capital da Grécia recebe o maior evento <strong>de</strong>sportivo mundial –<br />

os Jogos Olímpicos representam, sem dúvida, a maior e mais variada manifestação<br />

<strong>de</strong>sportiva, é um planeta inteiro que neles está exaltado.<br />

História e tradição são os trunfos que Atenas irá jogar na tentativa <strong>de</strong> tornar<br />

memorável mais uma edição dos Jogos Olímpicos. Durante duas semanas a capital grega<br />

prepara-se para ser o centro do mundo, ela que viu nascer os Jogos – em 776 a.C. – e foi<br />

berço dos primeiros Jogos Olímpicos da Era Mo<strong>de</strong>rna em 1896. Em Setembro <strong>de</strong> 1997, a<br />

capital helénica soube que fora escolhida pelo Comité Olímpico Internacional (C.O.I.) para<br />

albergar a 28ª edição dos Jogos.<br />

Des<strong>de</strong> então, <strong>de</strong>itou mãos à obra, mas, passados quase sete anos, os problemas<br />

ten<strong>de</strong>m a não ter fim. Derrapagens orçamentais, obras<br />

que parecem intermináveis e falta <strong>de</strong> camas para albergar<br />

os visitantes levam os mais cépticos a acreditar que<br />

Atenas não estará à altura do acontecimento.<br />

Atenas tem, ainda, um longo caminho a percorrer<br />

quando faltam pouco mais <strong>de</strong> dois meses para o início<br />

dos Jogos Olímpicos. Mas, há quem acredite que esse difícil caminho conduzirá ao sucesso.<br />

Pelo menos Gianna Angelopoulos – Daskalaki, presi<strong>de</strong>nte do Comité Organizador dos Jogos,<br />

garante que os espectadores <strong>de</strong>scobrirão uma nova Grécia e os Jogos Olímpicos serão uma<br />

festa única da história antiga, da Grécia Mo<strong>de</strong>rna e do <strong>de</strong>sporto mundial. Esta i<strong>de</strong>ia é<br />

corroborada, em parte, por Jacques Rogge, presi<strong>de</strong>nte do Comité Olímpico Internacional<br />

(C.O.I.), que não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> avisar para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cumprir todos os prazos estipulados.<br />

Em Fevereiro do ano corrente, afirmava: “Atenas progrediu muito nos últimos <strong>de</strong>z meses. É<br />

realmente impressionante constatar a forma como as obras têm evoluído. Contudo, é preciso<br />

não esquecer que existem prazos para cumprir que, em alguns casos, são muito apertados<br />

mas penso que não existem motivos para alarme”.<br />

Efectivamente, para que tudo corra na perfeição, trabalha-se dia e noite a fim <strong>de</strong> que<br />

Atenas esteja à altura do enorme <strong>de</strong>safio. Porém, ainda há muito que fazer, e as dores <strong>de</strong><br />

cabeça aumentam a cada dia que passa.<br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

21


A tão pouco tempo do início dos Jogos, o que <strong>de</strong>veria ser uma longa maratona está<br />

transformada num louco “sprint” <strong>de</strong> construção civil. A preocupação da comunida<strong>de</strong><br />

olímpica está nos limites, mas os gregos continuam a sublinhar que Atenas está pronta a<br />

tempo e horas e que os Jogos não só serão uma realida<strong>de</strong>, mas também os melhores <strong>de</strong><br />

sempre.<br />

Refira-se que entre as muitas obras ainda por concluir, a que reúne maior<br />

preocupação é a instalação da cobertura <strong>de</strong> vidro e <strong>de</strong> aço do Estádio Olímpico <strong>de</strong> Atenas,<br />

curiosamente i<strong>de</strong>alizado pelo espanhol Santiago Calatrava, o mesmo que pensou a Gare do<br />

Oriente, em Lisboa.<br />

Este projecto que impressiona pela imagem, assume números que po<strong>de</strong>m até justificar<br />

a morosida<strong>de</strong> do seu processo <strong>de</strong> montagem. Os dois enormes arcos suportarão a estrutura<br />

translúcida, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> sairão os focos <strong>de</strong> 2500 projectores luminosos, com 5000 quilowatt,<br />

energia suficiente para iluminar um aeroporto ou uma pequena cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 2000 habitantes.<br />

A estrutura foi objecto <strong>de</strong> aturados estudos <strong>de</strong> engenharia e aerodinâmica, capaz <strong>de</strong><br />

suportar os efeitos <strong>de</strong> um sismo até oito pontos<br />

na escala <strong>de</strong> Richter, ou ventos até 120 Km /<br />

hora. A água, da chuva ou bombeada,<br />

propositadamente sobre a cobertura,<br />

proporcionará um efeito refrescante sobre os<br />

espectadores. Depois <strong>de</strong> recolectada, será<br />

bombeada junto às bases dos arcos (cada um com<br />

o peso <strong>de</strong> 9000 toneladas), para criar efeitos <strong>de</strong><br />

quedas <strong>de</strong> água no exterior do estádio.<br />

O problema será a colocação das gigantescas estruturas sobre as bancadas, tendo para<br />

isso que ser içadas e <strong>de</strong>slizadas cerca <strong>de</strong> 70 metros, e à velocida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> 5,70 metros por hora, antes <strong>de</strong> se ligarem no topo do estádio.<br />

Quando iniciados os trabalhos, por mais <strong>de</strong> uma vez já adiados,<br />

levarão duas semanas a completar.<br />

A par dos atrasos das obras, os factos inerentes ao 11 <strong>de</strong> Setembro só complicaram<br />

ainda o que já parecia complicado. E o 11 <strong>de</strong> Março foi a última gota. Os orçamentos<br />

estoiraram. A segurança se já era priorida<strong>de</strong>, passou a ser uma natural obsessão e … nada há<br />

<strong>de</strong> estranho nisso.<br />

De facto, a menos <strong>de</strong> três meses da inauguração dos Jogos Olímpicos <strong>de</strong> Atenas, é na<br />

Grécia que se vive a maior obsessão securitária.<br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

22


Todos os comboios com <strong>de</strong>stino a Atenas atravessam necessariamente a instável<br />

região dos Balcãs, o que faz da segurança dos carris uma priorida<strong>de</strong> absoluta. Mas o lema das<br />

autorida<strong>de</strong>s gregas parece ser “não facilitar”, por isso apostam numa segurança apertada em<br />

qualquer via <strong>de</strong> comunicação.<br />

Des<strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> Março, que esteve em curso um gran<strong>de</strong> exercício <strong>de</strong> segurança com o<br />

nome <strong>de</strong> código “Escudo <strong>de</strong> Hércules 2004”.<br />

Durante duas semanas, cerca <strong>de</strong> 400 militares<br />

norte-americanos, 1500 gregos e peritos<br />

britânicos, alemães, israelitas e canadianos<br />

estudam formas eficazes <strong>de</strong> anular qualquer tipo<br />

<strong>de</strong> ameaça, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> aviões até ataques<br />

com “bombas sujas”.<br />

Em meados <strong>de</strong> Março, um grupo<br />

auto<strong>de</strong>nominado “Luta Revolucionária”, tornava mais do que justificado o porquê <strong>de</strong> tanta<br />

preocupação, ao reivindicar uma tentativa <strong>de</strong> ataque à bomba contra uma filial do Citibank<br />

nos subúrbios <strong>de</strong> Atenas. Em comunicado divulgado, o grupo legitimava a tentativa <strong>de</strong><br />

atentado com o envolvimento da NATO na segurança das Olimpíadas.<br />

Na madrugada <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> Maio, três bombas <strong>de</strong> média potência explodiram nos<br />

arredores <strong>de</strong> Atenas, em Kallithea, acontecendo separadamente no espaço <strong>de</strong> 45 minutos,<br />

próximo dos hotéis que receberão os dirigentes olímpicos, em Agosto. Os engenhos<br />

apresentavam semelhanças com outros utilizados em Setembro passado pelo grupo terrorista<br />

grego <strong>de</strong> extrema-esquerda, o “Luta Revolucionária”, em frente <strong>de</strong> um tribunal em Atenas.<br />

A segurança durante os Jogos é um assunto que preocupa os especialistas,<br />

acreditando ser o evento um alvo preferencial <strong>de</strong> grupos terroristas. E o certo, porém, é que<br />

alguns grupos contrários aos Jogos têm manifestado a sua oposição à realização das<br />

Olimpíadas. Segundo o “site” da B.B.C., alguns grupos <strong>de</strong> esquerda são contrários aos Jogos<br />

que classificam como festa capitalista. Fora <strong>de</strong> questão parece ser a relação com o terrorismo<br />

islamista, mas po<strong>de</strong> ser sinal da existência <strong>de</strong> operacionais <strong>de</strong> organizações extremistas <strong>de</strong><br />

esquerda, colocando em causa o <strong>de</strong>smantelamento total, a 17 <strong>de</strong> Novembro, do grupo “Luta<br />

Revolucionária Popular”.<br />

Em Abril, os responsáveis do Estado-Maior das Forças Armadas gregas e a NATO<br />

estiveram reunidos para discutir os <strong>de</strong>talhes da ajuda da Aliança Atlântica à Grécia durante<br />

os Jogos Olímpicos. A reunião teve como objectivo “examinar a maneira e os <strong>de</strong>talhes da<br />

ajuda da NATO” à Grécia, para garantir a segurança durante os Jogos.<br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

23


Conforme comunicado do Estado-Maior grego, a ajuda da Aliança Atlântica vai<br />

abranger o controlo aéreo, através da utilização <strong>de</strong> aviões <strong>de</strong> reconhecimento Awacs, e a<br />

vigilância marítima, levada a cabo pela força permanente da NATO estacionada no<br />

Mediterrâneo, a “STANAFORMED”. A Aliança Atlântica vai também colocar à disposição<br />

da Grécia um batalhão multinacional para enfrentar um ataque terrorista, químico e<br />

biológico.<br />

A tentativa <strong>de</strong> fazer renascer a tradição antiga <strong>de</strong> um cessar <strong>de</strong> hostilida<strong>de</strong>s durante os<br />

16 dias dos Jogos Olímpicos é apadrinhada por Nelson Man<strong>de</strong>la, ex-presi<strong>de</strong>nte da África do<br />

Sul e Nobel da Paz. A iniciativa grega é apoiada pela Organização das Nações Unidas (ONU)<br />

e pelo Comité Olímpico Internacional (C.O.I.). O Papa João Paulo II, também ele laureado<br />

com o Prémio Nobel, juntou-se ao apelo: “Espero que num mundo problemático e incerto o<br />

<strong>de</strong>sporto possa ser uma manifestação feliz <strong>de</strong> companheirismo e fraternida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todas as<br />

comunida<strong>de</strong>s. Apelo a uma verda<strong>de</strong>ira trégua para que o espírito da paz estimule aquelas que<br />

são as bases dos Jogos Olímpicos e que este se espalhe por todas as socieda<strong>de</strong>s e<br />

continentes”.<br />

A Grécia preparou já uma campanha que vai difundir por todos os países, e nos<br />

diferentes cartazes po<strong>de</strong>rá ver-se <strong>de</strong>sportistas a saltar por cima <strong>de</strong> arame farpado, ao mesmo<br />

tempo que enviará cartas à Índia, Paquistão, Israel e Palestina pedindo que respeitem a trégua<br />

olímpica.<br />

O primeiro exemplo parece vir das Coreias, à semelhança do que aconteceu em<br />

Sidney, em que os representantes do Sul e do Norte transportaram uma ban<strong>de</strong>ira conjunta. Ri<br />

Tong Ri, responsável da Coreia do Norte nos Jogos Asiáticos <strong>de</strong> Inverno, admitiu a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a sua equipa marchar ao lado da Coreia do Sul, em Atenas, ou até mesmo<br />

competir com uma só equipa.<br />

Chama Olímpica. A cerimónia pagã do acen<strong>de</strong>r da tocha olímpica teve lugar no<br />

passado dia 21 <strong>de</strong> Março, nas ruínas da Olímpia Antiga, no templo <strong>de</strong> Hera, on<strong>de</strong> a gran<strong>de</strong><br />

sacerdotisa – interpretada pela terceira vez pela actriz grega Thalia Prokopiou – invocou<br />

Apolo para acen<strong>de</strong>r a chama, a qual foi, posteriormente, colocada num vaso <strong>de</strong> cerâmica e<br />

transportada para o estádio <strong>de</strong> Olímpia. Após a dança das vestais, realizada ao som do<br />

tambor, a tocha olímpica foi finalmente acesa pela gran<strong>de</strong> sacerdotisa e entregue ao primeiro<br />

dos onze mil estafetas que a irão transportar, o lançador <strong>de</strong> dardo grego Constantin<br />

Gatsioudis.<br />

Entre as onze mil pessoas que carregarão a chama no seu périplo global não estão só<br />

atletas. Embora seja o referido grego, Gatsioudis, a ter a honra <strong>de</strong> inaugurar a passagem do<br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

24


testemunho, o príncipe Alberto do Mónaco e a actriz Angelina Jolie também se associaram a<br />

esta estafeta universal.<br />

Na primeira fase do périplo mundial da tocha olímpica, esta viajou por toda a Grécia,<br />

tendo chegado a 31 <strong>de</strong> Março ao estádio <strong>de</strong> mármore <strong>de</strong> Atenas – berço dos Jogos da Era<br />

Mo<strong>de</strong>rna em 1896 – on<strong>de</strong> ficou <strong>de</strong>positada. Apenas a 4 <strong>de</strong> Abril partiu para a 2ª fase do<br />

percurso, que pela primeira vez atravessará mesmo os cinco continentes. Depois <strong>de</strong> 78 mil<br />

quilómetros percorridos, a tocha olímpica, que tem a forma <strong>de</strong> uma folha <strong>de</strong> oliveira, símbolo<br />

da Grécia e da paz, regressa às origens, on<strong>de</strong> a 13 <strong>de</strong> Agosto estará no Estádio Olímpico, para<br />

a cerimónia <strong>de</strong> mais uma abertura dos Jogos Olímpicos <strong>de</strong> Verão.<br />

Nenhuma cida<strong>de</strong> portuguesa faz parte do roteiro que a chama olímpica iniciou em 25<br />

<strong>de</strong> Março, na Grécia. Aliás, o mais próximo que esta imagem mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong> um ramo <strong>de</strong><br />

oliveira alumiado vai estar <strong>de</strong> Portugal, será … Barcelona, em 27 <strong>de</strong> Junho. A chama apenas<br />

vai às cida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> já <strong>de</strong>correram os Jogos Olímpicos. Só num caso, ou noutro, passará por<br />

locais que nunca realizaram olimpíadas.<br />

A este propósito, Vicente <strong>de</strong> Moura, presi<strong>de</strong>nte do Comité Olímpico <strong>de</strong> Portugal,<br />

afirmou não per<strong>de</strong>r a esperança <strong>de</strong> ver Portugal como último anfitrião da tocha: “Organizar<br />

os Jogos Olímpicos é um sonho antigo meu. Para quando uma candidatura portuguesa?<br />

Deixemos passar o Euro 2004. Depois logo se vê”. Ainda bem que não passará <strong>de</strong> um sonho.<br />

Bom, no caso <strong>de</strong> Portugal vir a organizar os Jogos Olímpicos, teria pelo menos três<br />

medalhas garantidas (ouro, prata e cobre) na modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “lançamento” <strong>de</strong>… impostos!<br />

Adiante.<br />

A união <strong>de</strong> culturas pretendida pelos gregos não é apenas geográfica. Por isso, à<br />

passagem pelo Cairo (Egipto) será um camelo a transportar a tocha, em Nova Deli (Índia) um<br />

elefante, e o périplo não acabará sem a chama viajar <strong>de</strong> avião, carro e comboio.<br />

Al<strong>de</strong>ia Olímpica. É na Al<strong>de</strong>ia Olímpica que mais <strong>de</strong> 16.000 pessoas – entre atletas,<br />

treinadores e restantes comitivas – vão ficar hospedadas durante os Jogos. Dividida em duas<br />

zonas – área <strong>de</strong> residência e área <strong>de</strong> lazer – este espaço, cuja superfície total ascen<strong>de</strong> a um<br />

milhão <strong>de</strong> metros quadrados, fica situado nas imediações <strong>de</strong> Atenas e será inaugurado a 30 <strong>de</strong><br />

Julho. O ambicioso projecto prevê que o complexo seja espectacular: piscina olímpica, pista<br />

<strong>de</strong> atletismo, quatro courts <strong>de</strong> ténis, cinema ao ar livre, vários cafés e uma… discoteca, são<br />

algumas das facilida<strong>de</strong>s que os atletas po<strong>de</strong>rão encontrar. Tudo isto na área <strong>de</strong> lazer,<br />

enquanto a resi<strong>de</strong>ncial comportará, além dos indispensáveis quartos, salas <strong>de</strong> conferência,<br />

restaurantes, uma clínica e várias igrejas.<br />

Será no meio da Al<strong>de</strong>ia Olímpica, relativamente perto da entrada, que os atletas<br />

portugueses vão ficar alojados durante os Jogos <strong>de</strong> Atenas, após a escolha do local ter sido<br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

25


feita com muita antecedência pelo Comité Olímpico <strong>de</strong> Portugal. Como vizinhos vamos ter a<br />

<strong>de</strong>legação anfitriã e a comitiva dos Estados Unidos da América, o que significará, muito<br />

provavelmente, que a segurança será redobrada. Duzentos e quarenta milhões <strong>de</strong> euros é<br />

quanto custa a Al<strong>de</strong>ia Olímpica, o mais caro projecto dos Jogos.<br />

Alguns números: 28 modalida<strong>de</strong>s em 38 competições, 10.500 atletas e 301<br />

cerimónias <strong>de</strong> medalhas; 202 comités olímpicos participantes, 21.500 jornalistas esperados<br />

em Atenas e 15.000 quartos <strong>de</strong> hotel na área da capital grega; 4 mil milhões <strong>de</strong><br />

telespectadores e 5,5 milhões <strong>de</strong> bilhetes colocados à venda, a quatro preços diferentes;<br />

40.000 elementos da força especial <strong>de</strong> segurança e 45.000 voluntários; orçamento global em<br />

euros, 4.400.000.000.<br />

Portugal, apesar <strong>de</strong> todas as carências estruturais que impe<strong>de</strong>m um <strong>de</strong>senvolvimento<br />

mais rápido do nosso <strong>de</strong>sporto, estará em Atenas com uma representação que, julgo,<br />

quantitativamente não andará muito longe daquela que esteve presente em Sidney.<br />

O nosso país tem algumas responsabilida<strong>de</strong>s nos Jogos, tem tido comportamentos<br />

brilhantes e, até, “dourados”, motivos suficientes para que as suas representações tenham<br />

sempre <strong>de</strong> ser acompanhadas <strong>de</strong> preparações condignas. Mas… os atletas inseridos na alta<br />

competição estão sem receber o respectivo subsídio <strong>de</strong> apoio <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Janeiro, situação que se<br />

mantinha, ainda, em meados <strong>de</strong> Maio. É evi<strong>de</strong>nte que o nível <strong>de</strong> vida dos portugueses, e<br />

consequentemente da maioria dos <strong>de</strong>sportistas, sofre <strong>de</strong> graves limitações.<br />

Assim, àqueles que estiverem em Atenas, e estarão por mérito próprio porque<br />

alcançaram os mínimos estabelecidos, não se po<strong>de</strong>, nem se <strong>de</strong>ve exigir vitórias nem<br />

medalhas, mas esperar que façam o melhor na altura <strong>de</strong> competir. E mais: que a sua<br />

participação seja sempre feita com dignida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro e fora dos estádios, ou dos outros<br />

recintos.<br />

A bracarense Raquel Felgueiras alcançou no passado dia 15 <strong>de</strong> Maio os mínimos para<br />

os Jogos <strong>de</strong> Atenas, ao nadar os 200 metros mariposa, num novo recor<strong>de</strong> pessoal <strong>de</strong> 2.13,08<br />

minutos, nos campeonatos da Europa <strong>de</strong> natação, que <strong>de</strong>correram em Madrid.<br />

A atleta do Clube <strong>de</strong> Natação <strong>de</strong> Vila Ver<strong>de</strong> prepara, <strong>de</strong>sse modo, a sua segunda<br />

presença nos Jogos Olímpicos (também esteve em Sidney), igualando sua antiga colega do<br />

Sporting <strong>de</strong> Braga Ana Alegria, única nadadora presente em duas Olimpíadas.<br />

O navio-escola Sagres será embaixador itinerante <strong>de</strong> Portugal nos Jogos Olímpicos <strong>de</strong><br />

Atenas, quando permanecer pela primeira vez atracado ao porto do Pireu (Atenas) <strong>de</strong> 12 a 19<br />

<strong>de</strong> Agosto.<br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

26


O navio-escola Sagres vai fazer-se ao mar em Portimão a 28 <strong>de</strong> Julho, escalando nos<br />

portos <strong>de</strong> Corfu e Pireu. Este navio da marinha portuguesa tem 67 anos e já navegou o<br />

equivalente a 21 voltas ao mundo.<br />

Bibliografia consultada<br />

Carvalho, A. Melo <strong>de</strong> e Constantino, José Manuel – “O que é o Olimpismo?” – Livros Horizonte.<br />

Comité Francês Pierre <strong>de</strong> Coubertin – “Manifesto para a salvaguarda do Olimpismo e dos Jogos Olímpicos””<br />

– Ministério da Educação e Cultura. Lisboa, 1978.<br />

Conselho da Europa – “Os Jogos Olímpicos e as suas perspectivas futuras” – Tradução <strong>de</strong> Maria Eduarda<br />

Gusmão. Ministério da Educação e Cultura. Agosto, 1986.<br />

Esteves, José – “Racismo e Desporto”. Básica Editora.<br />

Fernan<strong>de</strong>s, Rui – “Jogos Olímpicos”. Porto Editora.<br />

Marreiros, João – “Jogos Olímpicos e Olimpismo”<br />

Pereira, Maria Helena Rocha – “Héla<strong>de</strong>”, Antologia da Cultura Grega – organizada e traduzida do original.<br />

Coimbra, 1959.<br />

Peredo, Miguel Gusmán – “A História dos Desportos Olímpicos”. Círculo <strong>de</strong> Leitores. Junho, 1992.<br />

Sérgio, Manuel – “Ao Redor do Olimpismo” – “Seara Nova”, N.º 1569, Julho 1976.<br />

Sérgio, Manuel – “Heróis Olímpicos do Nosso Tempo” – Prefácio <strong>de</strong> Urbano Tavares Rodrigues.<br />

Compendium.<br />

Seppänen, Paavo – “As Olimpíadas, uma perspectiva sociológica” – Ministério da Educação e Cultura. Maio,<br />

1978.<br />

Jornais: “A Bola”, 24/1/96, 31/1/96, 20/3/2003, 13/2/2004, 23/3/2004, 12/4/2004, 6/5/2004,9/5/2004; “Diário<br />

do Minho”, 16/5/2004; “Diário <strong>de</strong> Notícias”, 1/4/2004; “Público”, 26/3/2004, 5/5/2004, 6/5/2004;<br />

Revista “Expresso”, 20/3/2004; Revista “Pública”, 28/12/2003.<br />

Obviamente com exclusão da parte referente a “Atenas-2004”, o texto apresentado foi objecto <strong>de</strong> uma<br />

conferência, “De Atenas a Sidney”, proferida no auditório da <strong>Escola</strong> <strong>Secundária</strong> <strong>de</strong> Alberto Sampaio, em 14 <strong>de</strong><br />

Novembro <strong>de</strong> 2000, e que teve a valiosa colaboração da minha querida amiga Dra. Teresa Vilaça, aliás, como<br />

tem acontecido muitas outras vezes.<br />

<strong>Carlos</strong> <strong>Jaca</strong><br />

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