As asas de um anjo - a casa do espiritismo
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Luís – Não, Araújo; Carolina nem suspeita! Habituei-me por tanto tempo a<br />
reprimir os meus sentimentos, que eles me obe<strong>de</strong>cem facilmente. Não é pois<br />
o coração, é a razão que ditou a resolução que tomei.<br />
Araújo – Que resolução, Luís?<br />
Luís – Vou <strong>casa</strong>r-me com Carolina.<br />
Araújo – Como teu amigo, não consentirei que dês semelhante passo.<br />
Luís – Por quê? Dois anos <strong>de</strong> expiação e <strong>de</strong> lágrimas remiram essa alma que<br />
se extraviou. À força <strong>de</strong> coragem e <strong>de</strong> sofrimento ela conquistou a virtu<strong>de</strong><br />
em troca da inocência perdida. O mun<strong>do</strong> já não tem o direito <strong>de</strong> a repelir:<br />
mas exigente como é, quer que o nome <strong>de</strong> <strong>um</strong> homem honesto cubra o<br />
passa<strong>do</strong>.<br />
Araújo – E tu fazes o sacrifício?<br />
Luís – Sem a menor hesitação. Tenho morto o coração; to<strong>do</strong> o amor que<br />
havia em minha alma <strong>de</strong>i-o a Carolina; a fatalida<strong>de</strong> quis que ele se<br />
cons<strong>um</strong>isse em <strong>de</strong>sengano: era o meu <strong>de</strong>stino. Que posso eu fazer agora <strong>de</strong><br />
<strong>um</strong>a vida gasta e sem esperança? Não é melhor aproveitá-la para dar a<br />
felicida<strong>de</strong> a <strong>um</strong>a criatura <strong>de</strong>sgraçada, <strong>do</strong> que con<strong>de</strong>ná-la à esterilida<strong>de</strong>? Que<br />
dizes, Meneses?<br />
Meneses – Digo que terás <strong>de</strong> sustentar contra o mun<strong>do</strong> <strong>um</strong> combate em que<br />
muitas vezes sentirás a tua razão vacilar. A socieda<strong>de</strong> abrirá as portas à tua<br />
mulher: mas quan<strong>do</strong> se erguer a ponta <strong>do</strong> véu, hás <strong>de</strong> ver o sorriso <strong>de</strong><br />
escárnio e o gesto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezo, que a acompanharão sempre. Toda a<br />
virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Carolina, toda a honestida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tua vida, não farão calar a injúria<br />
e a maledicência. Tens bastante força e bastante coragem para aceitar esse<br />
duelo terrível <strong>de</strong> <strong>um</strong> homem só contra <strong>um</strong>a socieda<strong>de</strong> inteira?<br />
Luís – Tenho!<br />
Meneses – Então, faz o que te inspira o amor; é <strong>um</strong> nobre mas inútil<br />
sacrifício.<br />
Araújo – Carolina já sabe da tua resolução?<br />
Luís – Não; e só <strong>de</strong>ve saber no momento. Conheço-a e temo <strong>um</strong>a recusa!<br />
Por isso dispus tu<strong>do</strong> em segre<strong>do</strong>; ali está prepara<strong>do</strong> <strong>um</strong> altar...<br />
Araújo – Para hoje?<br />
Luís – Sim; é preciso não <strong>de</strong>ixar <strong>um</strong> instante à reflexão.<br />
Meneses – Pensas bem!<br />
Araújo – Contu<strong>do</strong> essa precipitação...<br />
Luís – A vida não é tão longa que valha a pena gastá-la em calcular o que se<br />
<strong>de</strong>ve fazer.<br />
Araújo – Na minha opinião nunca é tar<strong>de</strong> para fazer <strong>um</strong>a loucura.<br />
Meneses – Vamos conversar com Carolina. O Sr. Ribeiro e Luís naturalmente<br />
<strong>de</strong>sejam ficar sós.<br />
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