As asas de um anjo - a casa do espiritismo
As asas de um anjo - a casa do espiritismo
As asas de um anjo - a casa do espiritismo
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Margarida – Começou a lembrar-se...<br />
Luís – Não te é possível então esquecer/<br />
Carolina – E que servia que eu esquecesse? Os outros se lembram.<br />
Luís – Como estás iludida, Carolina! O mun<strong>do</strong> é inconstante mo seu ódio,<br />
como na sua simpatia. Não tem memória e esquece <strong>de</strong>pressa aquilo que <strong>um</strong><br />
momento o impressionou.<br />
Carolina – Com os homens suce<strong>de</strong> assim! Com a mulher não: aquela que<br />
<strong>um</strong>a vez errou nunca mais se reabilita. Embora ela se arrependa; embora<br />
pague cada <strong>um</strong> <strong>do</strong>s seus momentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>svario por anos <strong>de</strong> expiação e <strong>de</strong><br />
martírio; embora, il<strong>um</strong>inada pelo sofrimento, ela compreenda toda a<br />
sublimida<strong>de</strong> da virtu<strong>de</strong>, e aceite como gozo aquilo que para tantas é apenas<br />
<strong>um</strong> <strong>de</strong>ver, <strong>um</strong> sacrifício ou <strong>um</strong> cost<strong>um</strong>e!... Nada disto lhe vale! Se ela<br />
aparecer o mun<strong>do</strong> arrancará o véu que cobre o seu passa<strong>do</strong>.<br />
Luís – Quan<strong>do</strong> o arrependimento não é sincero, porque então a socieda<strong>de</strong> é<br />
severa.<br />
Carolina – Não tem direito <strong>de</strong> ser! Deve lembrar-se que é a causa da<br />
alucinação <strong>de</strong> tantas moças pobres... Porque ao passo que atira a lama ao<br />
ente fraco que se <strong>de</strong>ixou iludir, guarda <strong>um</strong> elogio e <strong>um</strong> c<strong>um</strong>primento para o<br />
sedutor.<br />
Meneses – E assim <strong>de</strong>ve ser, Carolina.<br />
CENA III<br />
(Carolina, Luís e Meneses)<br />
Carolina – O senhor <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> esta injustiça?<br />
Meneses – Defen<strong>do</strong> a lei social, que, na minha opinião, <strong>de</strong>ve ser respeitada<br />
até mesmo nos seus prejuízos. Como filósofo, posso con<strong>de</strong>nar alg<strong>um</strong>as<br />
aberrações da socieda<strong>de</strong>; como cidadão, curvo-me a elas e não discuto.<br />
Carolina – Mas por que razão toda a falta recai unicamente sobre a parte<br />
mais fraca?<br />
Meneses – Porque a virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a senhora é <strong>um</strong> bem tão precioso, que<br />
quan<strong>do</strong> ela o dá a <strong>um</strong> homem eleva-o, rebaixan<strong>do</strong>-se.<br />
Carolina – E a socieda<strong>de</strong> aproveita-se <strong>de</strong>sse erro, aplau<strong>de</strong> o vence<strong>do</strong>r e<br />
encoraja-o para novas conquistas?<br />
Meneses – Toda a virtu<strong>de</strong> que não luta, não é virtu<strong>de</strong>; é <strong>um</strong> hábito. Se não<br />
houvesse sedutores, a honestida<strong>de</strong> seria <strong>um</strong>a coisa sem merecimento!<br />
Creia-me, Carolina, o mun<strong>do</strong> é feito assim; <strong>de</strong>ixemos falar os moralistas:<br />
eles po<strong>de</strong>m dizer muita palavra bonita, mas não mudarão nem <strong>um</strong>a pedra<br />
<strong>de</strong>sse edifício social que as maiores revoluções não têm podi<strong>do</strong> abater.<br />
Carolina– Ouve, Luís; tu<strong>do</strong> se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>, menos a falta <strong>de</strong> <strong>um</strong>a pobre mulher.<br />
Meneses – Não há dúvida! Fiz <strong>um</strong>a das minhas. Esse maldito cost<strong>um</strong>e <strong>de</strong><br />
escrever folhetins!... Mas <strong>de</strong>sculpe; não me lembrei que a afligia.<br />
69