As asas de um anjo - a casa do espiritismo
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eduzida à miséria, a mulher que o arruinou, e que lhe respon<strong>de</strong>u com <strong>um</strong>a<br />
gargalhada quan<strong>do</strong> ele pedia-lhe que o salvasse da vergonha. Esqueço tu<strong>do</strong>;<br />
e lembro-me que sou cristão. Dou a minha esmola!<br />
Carolina – Toda esmola não pedida é <strong>um</strong> insulto; e <strong>um</strong> homem nunca tem o<br />
direito <strong>de</strong> insultar <strong>um</strong>a mulher!<br />
Pinheiro – Recebeu-as quan<strong>do</strong> eram <strong>de</strong> brilhantes!...<br />
Carolina – Nunca recebi esmolas; recebia o salário da minha vergonha! Mas<br />
fique certo que não há dinheiro no mun<strong>do</strong> que a pague. To<strong>do</strong>s os senhores<br />
que esten<strong>de</strong>m a <strong>um</strong>a mulher a mão cheia <strong>de</strong> ouro; que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> matarem a<br />
alma cobrem o seu corpo <strong>de</strong> jóias e <strong>de</strong> sedas para reanimar <strong>um</strong> cadáver,<br />
julgam-se muito generosos!... Não sabem que <strong>um</strong> dia essa mulher daria a<br />
sua vida para resgatar o bem perdi<strong>do</strong>; e não o conseguiria!... Portanto não<br />
nos acusemos; o senhor per<strong>de</strong>u a sua fortuna, eu perdi a minha felicida<strong>de</strong>;<br />
estamos quites. Se, hoje, sou <strong>um</strong>a mulher infame, não é o senhor, que<br />
concorreu para essa infâmia, que foi cúmplice <strong>de</strong>la, quem me po<strong>de</strong><br />
con<strong>de</strong>nar.<br />
Meneses – Aproveite a lição, Sr. Pinheiro; e guar<strong>de</strong> a sua esmola. Quan<strong>do</strong><br />
tiver passa<strong>do</strong> este primeiro momento <strong>de</strong> irritação há <strong>de</strong> reconhecer o que já<br />
lhe disse <strong>um</strong>a vez. Há criaturas neste mun<strong>do</strong> que se tornam instr<strong>um</strong>entos da<br />
vonta<strong>de</strong> superior que governa o mun<strong>do</strong>. Não foi Carolina que o arruinou, que<br />
<strong>do</strong> moço rico fez <strong>um</strong> cocheiro <strong>de</strong> tílburi; foi, sim, a vaida<strong>de</strong>, a imprudência, e<br />
o <strong>de</strong>sregramento das paixões, sob a forma <strong>de</strong> <strong>um</strong>a moça. Incline-se pois<br />
diante da Providência ; e respeite na mulher <strong>de</strong>sgraçada a vítima <strong>do</strong> mesmo<br />
erro, e o agente <strong>de</strong> <strong>um</strong>a punição justa.<br />
Pinheiro – Sempre respeitei a <strong>de</strong>sgraça, Sr. Meneses; e ainda agora mesmo,<br />
se ela precisar <strong>de</strong> mim... Já não sou rico, mas economias <strong>de</strong> pobre ainda<br />
chegam para aliviar <strong>um</strong> sofrimento.<br />
Carolina – Aceitei quan<strong>do</strong> tinha que dar! Hoje, não vê?... Sou <strong>um</strong>a sombra!<br />
Só peço aquilo a que os mortos têm direito... Que respeitem as suas cinzas!<br />
Pinheiro – Eu me retiro, Carolina; <strong>de</strong>sculpe se a ofendi!<br />
Carolina – Não conservo o menor ressentimento contra aqueles que<br />
encontrei no meu caminho. Corríamos to<strong>do</strong>s atrás <strong>do</strong> prazer; o acaso nos<br />
reuniu; o acaso separou-nos. Hoje que somos <strong>um</strong> para os outros nas<br />
recordações vivas e bem tristes, <strong>de</strong>vemos esquecer-nos mutuamente. Entre<br />
nós a estima, a mesma pieda<strong>de</strong> seria irrisão.<br />
Pinheiro – Quer assim?... Pois seja! A<strong>de</strong>us. (Sai.)<br />
CENA IX<br />
(Carolina, Luís, Meneses, Araújo e Helena)<br />
Meneses – Eis <strong>um</strong> exemplo <strong>de</strong> coragem bem raro no Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Luís– Qual?<br />
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