As asas de um anjo - a casa do espiritismo
As asas de um anjo - a casa do espiritismo
As asas de um anjo - a casa do espiritismo
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Carolina – Deixamos o passa<strong>do</strong> para tratar <strong>do</strong> futuro? Pois olhe, se <strong>um</strong><br />
pertence às mulheres velhas, o outro é o consolo das pobres meninas <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>zoito anos, que vivem a sonhar.<br />
Pinheiro – Deste mo<strong>do</strong> não me <strong>de</strong>ixa dizer...<br />
Carolina – Que lhe impe<strong>de</strong>?<br />
Pinheiro – Suas palavras <strong>de</strong> sarcasmo.<br />
Carolina – Estou hoje contrariada.<br />
Pinheiro – Por que motivo?<br />
Carolina – Não sei.<br />
Pinheiro – É a minha presença?... Tem razão; estou lhe rouban<strong>do</strong> o seu<br />
tempo; outrora podia comprá-lo; hoje estou pobre; gastei toda a minha<br />
fortuna. Não me queixo, nem a acuso. Sofreria resigna<strong>do</strong> essa perda se ela<br />
fosse apenas <strong>um</strong>a perda <strong>de</strong> dinheiro, e não acarretasse a <strong>de</strong>sgraça <strong>de</strong> outra<br />
pessoa.<br />
Carolina – Que tenho eu com isto?<br />
Pinheiro – Deixe-me acabar. Vou confessar-lhe <strong>um</strong>a vergonha minha; mas é<br />
preciso: seja este o primeiro castigo. Escuso lembrar-lhe, Carolina, que ou<br />
por amor ou vaida<strong>de</strong>, procurei sempre adivinhar, para satisfazê-los, os seus<br />
menores <strong>de</strong>sejos.<br />
Carolina – Loucura! Não há nada que encha esse vácuo imenso que se<br />
chama o coração <strong>de</strong> <strong>um</strong>a mulher.<br />
Pinheiro – É exato, toda a minha fortuna se s<strong>um</strong>iu no abismo; restavam-me<br />
apenas cinco contos <strong>de</strong> réis, que não me pertenciam. Eram <strong>um</strong> lega<strong>do</strong> que<br />
meu pai <strong>de</strong>ixara como <strong>do</strong>te a <strong>um</strong>a menina órfã, sua afilhada. Esse dinheiro<br />
<strong>de</strong>via ser sagra<strong>do</strong> para mim por muitos motivos; <strong>de</strong>via respeitar nele a<br />
última vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> meu pai e a proprieda<strong>de</strong> alheia; entretanto, foi com ele<br />
que comprei aquela pulseira que lhe <strong>de</strong>i no último dia em que estive nesta<br />
<strong>casa</strong>.<br />
Carolina – Ah! Aquela pedra só custou cinco contos?<br />
Pinheiro – Custou <strong>um</strong> roubo! A órfã me pe<strong>de</strong> o seu <strong>do</strong>te para <strong>casa</strong>r-se; e eu<br />
não o tenho para restituir-lhe.<br />
Carolina – Então é impossível; não pense mais nisso.<br />
Pinheiro – Não é impossível se quiser, Carolina; faça <strong>um</strong> sacrifício,<br />
empreste-me esta jóia, e juro-lhe que com o meu trabalho lhe pagarei o<br />
valor <strong>de</strong>la.<br />
Carolina (rin<strong>do</strong>) – Ah! Ah! Ah!... É interessante!... Sr. Meneses! Helena! Sr.<br />
Araújo!... Ouçam esta! É original.<br />
CENA IV<br />
(Os mesmos, Meneses, Araújo e Helena)<br />
Helena – O que é?<br />
49