As asas de um anjo - a casa do espiritismo
As asas de um anjo - a casa do espiritismo
As asas de um anjo - a casa do espiritismo
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
virtu<strong>de</strong>? É essa socieda<strong>de</strong> que se julga com direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezar aquelas que<br />
não ilu<strong>de</strong>m a ninguém, e não fingem sentimentos hipócritas?...<br />
Araújo – Têm o mérito da impudência!<br />
Carolina – Temos o mérito da franqueza. Que importa que esses senhores<br />
que passam por sisu<strong>do</strong>s e graves nos con<strong>de</strong>nem e nos chamem perdidas?...<br />
O que são eles?... Uns profanam a sua inteligência, ven<strong>de</strong>m a sua<br />
probida<strong>de</strong>, e fazem <strong>um</strong> merca<strong>do</strong> mais vil e mais infame <strong>do</strong> que o nosso,<br />
porque não tem nem o amor nem a necessida<strong>de</strong> por <strong>de</strong>sculpa; porque<br />
calculam friamente. Outros são nossos cúmplices, e vão, com os lábios ainda<br />
úmi<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s nossos beijos, manchar a fronte casta <strong>de</strong> sua filha, e as carícias<br />
<strong>de</strong> sua esposa. Oh! Não falemos em socieda<strong>de</strong>, nem em virtu<strong>de</strong>!... To<strong>do</strong>s<br />
valemos o mesmo! To<strong>do</strong>s somos feitos <strong>de</strong> lama e amassa<strong>do</strong>s com o mesmo<br />
sangue e as mesmas lágrimas!<br />
Meneses – Não te iludas, Carolina! Esse turbilhão que se agita nas gran<strong>de</strong>s<br />
cida<strong>de</strong>s; que enche o baile, o teatro, os espetáculos; que só trata <strong>do</strong> seu<br />
prazer, ou <strong>do</strong> seu interesse; não é a socieda<strong>de</strong>. É o povo, é a praça pública.<br />
A verda<strong>de</strong>ira socieda<strong>de</strong>, da qual <strong>de</strong>vemos aspirar a estima, é a união das<br />
família honestas. Aí se respeita a virtu<strong>de</strong> e não se profana o sentimento; aí<br />
não se conhecem outros títulos que não sejam a amiza<strong>de</strong> e a simpatia.<br />
Corteja-se na rua <strong>um</strong> indivíduo <strong>de</strong> honra duvi<strong>do</strong>sa; tolera-se n<strong>um</strong>a sala;<br />
mas fecha-se-lhe o interior da <strong>casa</strong>.<br />
Carolina – Quanta palavra inútil!...<br />
Meneses – Não são para ti, bem sei; mas saem-me sem querer e,<br />
felizmente, aqui está <strong>um</strong> amigo que me escuta com prazer.<br />
Araújo – Realmente precisava ouvir-te para não duvidar <strong>de</strong> mim, e <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s<br />
esses objetos que estou habitua<strong>do</strong> a respeitar.<br />
Helena – Falemos <strong>de</strong> coisas mais alegres.<br />
Meneses – Não lhe agrada a conversa neste tom? (Batem palmas.)<br />
Helena – Não enten<strong>do</strong> disso; é bom para a Carolina que vive a ler.<br />
Meneses – Ah! Lê romances naturalmente?<br />
Carolina – Que lhe importa?<br />
CENA II<br />
(os mesmos e Pinheiro)<br />
Helena (na porta) – Não lhe po<strong>de</strong> falar! Não teime!<br />
Carolina – Quem é?<br />
Helena – O Pinheiro.<br />
Carolina – Que vem ele fazer cá? Dize-lhe que não estou em <strong>casa</strong>.<br />
Araújo – Bate-lhe na cara com esta mesma porta que ele fechava outrora<br />
com sua chave <strong>de</strong> ouro.<br />
Meneses ( a Araújo ) – Não te disse que ainda tinhas que ver?<br />
47