As asas de um anjo - a casa do espiritismo
As asas de um anjo - a casa do espiritismo
As asas de um anjo - a casa do espiritismo
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
CENA VI (Luís e Carolina)<br />
Carolina – Luís!<br />
Luís – Não me recusou falar, Carolina. Eu lhe agra<strong>de</strong>ço.<br />
Carolina – Por que recusaria?<br />
Luís – Depois <strong>do</strong> que se tem passa<strong>do</strong>, não era natural que <strong>de</strong>sejasse fugir à<br />
presença <strong>de</strong> <strong>um</strong> importuno?<br />
Carolina – Qual <strong>de</strong> nós, a primeira vez que nos encontramos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />
longa ausência, repeliu o outro?<br />
Luís – A repreensão é justa, eu a mereço. Mas não creio que venho ainda<br />
lembrar-lhe <strong>um</strong> passa<strong>do</strong> que to<strong>do</strong>s <strong>de</strong>vemos esquecer, e acusá-la <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />
falta <strong>de</strong> que outros talvez sejam mais culpa<strong>do</strong>s. Venho falar-lhe como irmão;<br />
queres ouvir-me?<br />
Carolina – Fale; não tenho receio.<br />
Luís – To<strong>do</strong>s nós, Carolina, homens ou mulheres, velhos ou moços, to<strong>do</strong>s<br />
sem exceção, temos faltassem nossa vida; to<strong>do</strong>s estamos sujeitos a cometer<br />
<strong>um</strong> erro ou praticar <strong>um</strong>a ação má. Uns, porém, cegam-se ao ponto <strong>de</strong> não<br />
verem o caminho que seguem; outros se arrepen<strong>de</strong>m a tempo. Para estes o<br />
mal não é senão <strong>um</strong> exemplo e <strong>um</strong>a lição: ensina a apreciar a virtu<strong>de</strong> que se<br />
<strong>de</strong>sprezou em <strong>um</strong> momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>svario. Estes merecem, não só o perdão,<br />
porém muitas vezes a admiração que excita a sua coragem.<br />
Carolina – Não, Luís; há faltas que a socieda<strong>de</strong> não per<strong>do</strong>a, e que o mun<strong>do</strong><br />
não esquece nunca. A minha é <strong>um</strong>a <strong>de</strong>stas.<br />
Luís – Está enganada, Carolina. Se <strong>um</strong>a moça que, levada pelo seu primeiro<br />
amor, ignoran<strong>do</strong> o mal, esqueceu <strong>um</strong> instante os seus <strong>de</strong>veres, volta<br />
arrependida à <strong>casa</strong> paterna; se encontra no coração <strong>de</strong> sua mãe, na amiza<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> seu pai, na afeição <strong>do</strong>s seus, a mesma ternura; se ela continua a sua<br />
existência <strong>do</strong>ce e tranqüila no seio da família; por que a socieda<strong>de</strong> não lhe<br />
per<strong>do</strong>ará, quan<strong>do</strong> Deus lhe per<strong>do</strong>a, dan<strong>do</strong>-lhe a felicida<strong>de</strong>?<br />
Carolina – Nunca ela po<strong>de</strong>rá ser feliz! A sua vida será <strong>um</strong>a triste expiação.<br />
Luís– Ao contrário, será <strong>um</strong>a regeneração. Em vez da paixão criminosa que<br />
a rouba <strong>de</strong> seus pais, ela po<strong>de</strong> achar no seio <strong>de</strong> sua família o amor calmo<br />
que purifique o passa<strong>do</strong> e lhe faça esquecer a sua falta.<br />
Carolina – É verda<strong>de</strong>, então, Luís?... Helena não me enganou!<br />
Luís – o quê?... Não sei...<br />
Carolina – Ainda me ama!<br />
Luís – Eu?...<br />
Carolina – Não era <strong>de</strong> si que me falava?<br />
Luís – Não, Carolina; falava <strong>do</strong> Ribeiro.<br />
Carolina – Ah! Era <strong>de</strong>le!...<br />
Luís – É o único que tem direito <strong>de</strong> amá-la.<br />
Carolina – Pois eu não o amo.<br />
Luís – Não creio.<br />
39