As asas de um anjo - a casa do espiritismo
As asas de um anjo - a casa do espiritismo
As asas de um anjo - a casa do espiritismo
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Meneses – Pensa bem, Sr. Viana.<br />
Luís – Para isso, porém, é preciso encontrá-la <strong>um</strong> só instante; soube que<br />
cost<strong>um</strong>a vir à <strong>casa</strong> <strong>de</strong>sta mulher que a per<strong>de</strong>u e <strong>de</strong> quem é amiga. Araújo<br />
disse-me que o senhor a conhecia; e fomos imediatamente procurá-lo. Eis o<br />
verda<strong>de</strong>iro motivo <strong>do</strong> incômo<strong>do</strong> que lhe <strong>de</strong>mos; o Sr. Meneses é homem<br />
para o compreen<strong>de</strong>r e apreciar.<br />
Meneses – Não se enganou, Sr. Viana; farei o que me for possível.<br />
Meneses – Não tem <strong>de</strong> que; é <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> to<strong>do</strong> homem honesto proteger e<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a virtu<strong>de</strong> que vacila e vai suc<strong>um</strong>bir ou mesmo ajudá-la a reabilitarse.<br />
Mas <strong>de</strong>vo correspon<strong>de</strong>r à sua fraqueza com igual franqueza. Creio que o<br />
senhor, e tu mesmo, Araújo, não conhecem bem o terreno em que pisam.<br />
Luís – Não, <strong>de</strong>certo.<br />
Araújo – Quanto a mim estou em país estrangeiro.<br />
Meneses – Pois é preciso estudar o movimento e a órbita <strong>de</strong>stes planetas<br />
errantes para acompanhá-los na sua rotação. Aqui não se conhece nem <strong>um</strong><br />
<strong>de</strong>sses objetos como a honra, o amor, a religião, que fazem tanto barulho lá<br />
fora. Neste mun<strong>do</strong> à parte, só há <strong>um</strong> po<strong>de</strong>r, <strong>um</strong>a lei, <strong>um</strong> sentimento, <strong>um</strong>a<br />
religião; é o dinheiro. Tu<strong>do</strong> se compra e tu<strong>do</strong> se ven<strong>de</strong>; tu<strong>do</strong> tem <strong>um</strong> preço.<br />
Luís – Que miséria, meu Deus!<br />
Meneses – Quem vê <strong>de</strong> longe este mun<strong>do</strong>, não compreen<strong>de</strong> o que se passa<br />
nele, e não sabe até on<strong>de</strong> chega a <strong>de</strong>generação da raça h<strong>um</strong>ana. O oriente<br />
<strong>de</strong>sses astros opacos é o luxo; o ocaso é a miséria. Começam ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a<br />
virtu<strong>de</strong>; ven<strong>de</strong>m <strong>de</strong>pois a sua beleza, a sua mocida<strong>de</strong>, a sua alma; quan<strong>do</strong> o<br />
vício lhes traz a velhice prematura, não ten<strong>do</strong> já que ven<strong>de</strong>r, ven<strong>de</strong>m o<br />
mesmo vício e fazem-se instr<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> corrupção. Quantas não acabam<br />
ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> suas filhas para se alimentarem na <strong>de</strong>sgraça!<br />
Araújo – Tu exageras!... Ninguém se avilta a esse ponto.<br />
Meneses – Não exagero. Muitas são boas e capazes <strong>de</strong> <strong>um</strong> sacrifício; têm<br />
coração. Mas <strong>de</strong> que lhes serve esse traste no mun<strong>do</strong> em que vivem!<br />
Araújo – Para amar o homem a quem <strong>de</strong>vem tu<strong>do</strong>.<br />
Meneses – Ele seria o primeiro a escarnecer <strong>de</strong>la.<br />
CENA II<br />
(Os mesmos, Vieirinha e Helena)<br />
Vieirinha (cantarolan<strong>do</strong>) – De suis le sire <strong>de</strong> Framboisy! meus senhores!...<br />
Não se incomo<strong>de</strong>m, estejam a gosto.<br />
Meneses – A<strong>de</strong>us. Como vais?<br />
Vieirinha – Bem, obriga<strong>do</strong>.<br />
Meneses – Que se faz <strong>de</strong> bom?<br />
Vieirinha – Nada; enche-se o tempo.<br />
Meneses – Enfim apareceu!<br />
33