As asas de um anjo - a casa do espiritismo
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Carolina – Pois eu previno-te que enquanto houver <strong>um</strong>a luz sobre a mesa e<br />
<strong>um</strong>a gota <strong>de</strong> vinho nos copos, não saio daqui. Tenho tantas vezes sonha<strong>do</strong><br />
<strong>um</strong>a noite como esta, tenho espera<strong>do</strong> tanto por estas horas <strong>de</strong> prazer, que<br />
preten<strong>do</strong> gozá-las até o último momento. Quero ver se a realida<strong>de</strong><br />
correspon<strong>de</strong> à imaginação.<br />
Ribeiro . Está bem, Carolina: po<strong>de</strong> ficar o tempo que quiseres. Não te<br />
zangues por isso.<br />
Carolina – Oh! Não me zango! Já estou habituada à vida triste a que me<br />
con<strong>de</strong>naste. Mas hoje...<br />
Helena – Então não vives satisfeita?<br />
Carolina – Não vivo, não, Helena: sabes que me prometeram <strong>um</strong>a existência<br />
brilhante, e me fizeram entrever a felicida<strong>de</strong> que eu sonhava no meio <strong>do</strong><br />
luxo, das festas e da riqueza! A ilusão se <strong>de</strong>svaneceu bem <strong>de</strong>pressa.<br />
Ribeiro – Tu me ofen<strong>de</strong>s com isto, Carolina.<br />
Carolina –`Cuidas que foi para me escon<strong>de</strong>res <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong>a <strong>casa</strong>, para<br />
olhar <strong>de</strong> longe o mun<strong>do</strong> sem po<strong>de</strong>r gozá-lo, que aban<strong>do</strong>nei meus pais? Que<br />
sou eu hoje? Não tenho nem as minhas esperanças <strong>de</strong> moça, que já<br />
murcharam, nem a liberda<strong>de</strong> que sonhei.<br />
Ribeiro – Mas, Carolina, tu bem sabes que eu, se te guar<strong>do</strong> para mim<br />
somente, se tenho ciúme <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, é porque te amo: sou avaro, confesso;<br />
sou avaro <strong>de</strong> <strong>um</strong> tesouro.<br />
Carolina – Não enten<strong>do</strong> esse amores ocultos que têm vergonha <strong>de</strong> se<br />
mostrarem; isto é bom para os velhos e para os hipócritas. Amar é gozar a<br />
existência a <strong>do</strong>is, partilhar seus prazeres e sua felicida<strong>de</strong>. Que prazeres<br />
temos nós que vivemos aborreci<strong>do</strong>s <strong>um</strong> <strong>do</strong> outro? Que felicida<strong>de</strong> sentimos<br />
para darmo-nos mutuamente?<br />
Ribeiro – Está hoje <strong>de</strong> mau h<strong>um</strong>or.<br />
Carolina – Ao contrário, estou contente! A vista <strong>de</strong>stas luzes, <strong>de</strong>stas flores,<br />
<strong>de</strong>sta mesa, <strong>de</strong>stes preparativos <strong>de</strong> ceia, me alegrou. É assim que eu<br />
compreen<strong>do</strong> o amor e a vida. Na companhia <strong>de</strong> alguns amigos, ven<strong>do</strong> o<br />
vinho esp<strong>um</strong>ar nos copos e sentin<strong>do</strong> o sangue ferver nas veias. Os olhares<br />
queimam como fogo; os seios palpitam, a alma bebe o prazer por to<strong>do</strong>s os<br />
poros; pelos olhos, pelos sorrisos, nos perf<strong>um</strong>es, e nas palavras que se<br />
trocam!<br />
Helena – Bravo! Como estás romântica!<br />
Carolina – Oh! Tu não fazes idéia! Meu espírito tem revoa<strong>do</strong> tantas vezes em<br />
torno <strong>de</strong>ssa esperança, que ven<strong>do</strong>-a prestes a realizar-se, quase<br />
enlouqueço. Outrora <strong>de</strong>i por ela a minha inocência; hoje daria a minha vida<br />
inteira!<br />
(Ribeiro e Pinheiro conversam à parte)<br />
Helena– Pois olha! Tens o que <strong>de</strong>sejas bem perto <strong>de</strong> ti.<br />
Carolina – Não enten<strong>do</strong>.<br />
Helena - Deixa-te ficar e verás.<br />
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