Letícia Rosa Marques - XI Encontro Estadual de História – ANPUH-RS
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este questionamento po<strong>de</strong> estar associada ao fato <strong>de</strong> que a “sua cor” era levada menos em<br />
consi<strong>de</strong>ração do que sua condição socioeconômica.<br />
Hofbauer (2003), em seu texto intitulado Conceito <strong>de</strong> “raça” e i<strong>de</strong>ário do<br />
“branqueamento” no século <strong>XI</strong>X <strong>–</strong> bases i<strong>de</strong>ológicas do racismo brasileiro, ao trabalhar<br />
a questão <strong>de</strong> cor/raça como construções i<strong>de</strong>ológicas vinculadas a contextos econômicos,<br />
históricos e sociais específicos, consi<strong>de</strong>ra que:<br />
[...]o individuo mesmo fisicamente aparentando uma tonalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pele mais<br />
escura que um escravo, sendo liberto e se renda e influências tivesse, po<strong>de</strong>ria<br />
em alguns casos ascen<strong>de</strong>r socialmente. Categorias como “branco”, “negro”,<br />
“mestiço”, “mulato”, etc, eram usadas não apenas para <strong>de</strong>screver, <strong>de</strong> forma<br />
“objetiva”, a pigmentação da pele ou o fenótipo <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado indivíduo.<br />
A ”percepção da cor” (ou do “fenótipo”) orientava-se também pelas relações<br />
<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r (status, dinheiro) bem como pelos contextos sociais específicos.<br />
(HOBFAUER, 2003: 76-77)<br />
O “ser negro” no período Imperial esteve associado muitas vezes à condição<br />
<strong>de</strong> escravo, fazendo com que alguns dos indivíduos que fossem consi<strong>de</strong>rados mulatos<br />
rejeitassem qualquer aproximação com a cor negra, visto que para uma possível ascensão<br />
social, quanto mais claro um individuo fosse, maior espaço <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> este encontraria<br />
na socieda<strong>de</strong>.<br />
Desta forma torna-se evi<strong>de</strong>nte, como nos esclarece Hofbauer (2003), à relação<br />
entre status social e a cor “branca”, bem como as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transformação da<br />
“cor da pele”, uma vez que cor po<strong>de</strong>ria ser visto também como uma “qualida<strong>de</strong>” 23 <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>terminado individiuo.<br />
Assim o mulato neste período encontrou um pequeno, mas existente espaço <strong>de</strong><br />
mobilida<strong>de</strong> social, e era esta mobilida<strong>de</strong>, segundo Gue<strong>de</strong>s, “ascen<strong>de</strong>nte e <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte<br />
conforme as circunstâncias sociais, que transformava um pardo em branco, um branco em<br />
pardo, um pardo em negro...” (GUEDES, 2008: 102)<br />
Para este autor cor e posição social estavam diretamente relacionadas, po<strong>de</strong>ndo<br />
ser alteradas constantemente, uma vez que “a hierarquia e a posição social manifestas na<br />
cor eram fluidas e <strong>de</strong>pendiam <strong>de</strong> circunstâncias sociais, sendo reatualizadas, negociadas”.<br />
(GUEDES, 2008: 102).<br />
Foi <strong>de</strong>sta forma, que Mattos conseguiu ir transformando sua cor e fazendo com<br />
que esta fosse, em alguns casos, menos relevante que sua condição socioeconomia e sua<br />
re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações que se consolidava cada vez mais forte.<br />
O fato <strong>de</strong> Mattos ser enviado como intermediário para a região do Prata, não só<br />
evi<strong>de</strong>ncia a sua força e o seu papel <strong>de</strong>ntro do movimento farrapo como alguém capaz<br />
<strong>de</strong> conseguir dialogar com importantes figuras políticas, como também nos permite<br />
23 Ver sobre esse assunto Gue<strong>de</strong>s (2008: 97)<br />
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