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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA<br />
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS<br />
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA<br />
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL<br />
MODALIDADE A DISTÂNCIA<br />
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO<br />
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E INTERSETORIALIDADE: construção de cidadania<br />
e igualdade nas políticas públicas<br />
“Tramas <strong>para</strong> a Vida”<br />
Maria Aparecida Sarinho<br />
Pós-Graduanda Lato Sensu em Gestão Pública Municipal - <strong>UFPB</strong><br />
Prof.º Drº Nelson Rosas Ribeiro<br />
Professor do Departamento de Economia – <strong>UFPB</strong><br />
RESUMO<br />
O presente estudo tem o recorte na violência doméstica contra a mulher e no seu enfrentamento.<br />
Neste sentido, a intersetorialidade das políticas públicas de atenção básica na garantia de direitos às<br />
mulheres vítimas de violência, deverá ser considerada na integralidade das ações institucionais.<br />
Partindo do pressuposto de que o fenômeno da violência contra a mulher tem base , principalmente,<br />
nas relações sociais de gênero , buscou- se investigar na prática dos profissionais que atuam nestas<br />
políticas, seu conhecimento sobre o tema e a sua respectiva atuação intersetorial como resultado ou<br />
fragilidade das ações em rede. Para a investigação usou-se a pesquisa documental, com os dados<br />
produzidos a partir das fichas cadastrais das usuárias do Centro de Referência da Mulher da cidade<br />
de João Pessoa. O Centro oferece um serviço de Referência no atendimento a mulheres vítimas de<br />
violência e tem no seu cotidiano a realização de encaminhamentos a rede de serviços, com<br />
prioridade <strong>para</strong> as políticas de segurança pública, assistência social, saúde e justiça. Portanto, o<br />
estudo teve um olhar especial <strong>para</strong> os profissionais que atuam nestas instituições. Para tanto foi<br />
aplicado um questionário com roteiro semi-estruturado e de caráter exploratório, onde as questões<br />
foram pautadas na intersetorialidade e interdisciplinaridade das ações institucionais públicas.<br />
Espera-se que o estudo, ao desvendar limitações e fragilidades presentes nestas relações, possa vir a<br />
contribuir <strong>para</strong> a construção de caminhos em busca de cidadania e igualdade <strong>para</strong> as mulheres<br />
atendidas pelos serviços de enfrentamento á violência contra a mulher.<br />
Palavras- Chave: Violência contra a mulher, Intersetorialidade, Políticas públicas.
1 - INTRODUÇÃO<br />
No con<strong>texto</strong> social das relações humanas, a violência deveria ser algo advinda do mundo<br />
exterior e não do local onde se escolhe <strong>para</strong> ser um lar, ou seja, a casa onde um casal se instala e<br />
constitui sua família. Contudo <strong>para</strong> muitas mulheres este lar, esta casa, é sinônimo de violação de<br />
seus direitos, de medo e de morte.<br />
A violência contra a mulher não pode ser se<strong>para</strong>da da categoria de gênero, pois ela deve ser<br />
entendida como reflexo de desigualdade social, econômica e política, reforçadas por uma cultura e<br />
ideologias sexistas, racistas, classistas de dominação e exclusão.Sobre a dominação destaca BLAY,<br />
2003:<br />
Agredir, matar, estuprar uma mulher ou uma menina são fatos que têm acontecido ao longo<br />
da história em praticamente todos os países ditos civilizados e dotados dos mais diferentes<br />
regimes econômicos e políticos. A magnitude da agressão, porém, varia. È mais frequente<br />
em países de uma prevalecente cultura masculina, e menor em culturas que buscam<br />
soluções igualitárias <strong>para</strong> as diferenças de gênero. (BLAY,2003).<br />
Segundo informações do Centro da Mulher 8 de Março, 70% dos casos de violência<br />
contra a mulher acontecem dentro de sua própria casa. Para efeito da Lei nº 11.340/2006 – lei Maria<br />
da Penha, a violência contra a mulher é todo e qualquer ato ou atitude de agressão física, verbal,<br />
psicológica ou sexual contra as mulheres que ocorra dentro de casa ou fora dela, decorrente das<br />
relações familiares ou afetivas. Corroborando com o tema PINAFI, 2007 acrescenta:<br />
A violência contra a mulher é produto de uma construção histórica — portanto, passível de<br />
desconstrução — que traz em seu seio estreita relação com as categorias de gênero, classe e<br />
raça/etnia e suas relações de poder. Por definição, pode ser considerada como toda e<br />
qualquer conduta baseada no gênero, que cause ou passível de causar morte, dano ou<br />
sofrimento nos âmbitos: físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública<br />
quanto na privada. (PINAFI,2007).<br />
Conforme dados da Fundação Abramo (2010), 11% das brasileiras com 15 anos ou mais já<br />
foram vítimas de espancamento sendo o marido ou companheiro o responsável por 56% desses<br />
casos de violência. A violência contra a mulher hoje é considerada uma das maiores causas de<br />
homicídios no Brasil.<br />
Os dados mostram que a cada duas horas, uma mulher é assassinada no Brasil; seis em cada<br />
dez brasileiros conhecem alguma mulher que foi vítima de violência doméstica; 30% das mulheres<br />
brasileiras já sofreram algum tipo de violência doméstica; a cada dois minutos, cinco mulheres são<br />
violentamente agredidas no Brasil.<br />
Portanto a leitura destes dados nos revela que vivemos em uma sociedade onde as relações<br />
entre homens e mulheres se dão de forma desigual, as chamadas relações de gênero, onde impera o<br />
poder e a dominação masculina. São os homens, os companheiros, os maridos que agridem e matam
suas companheiras.<br />
Para PINAFI, 2007, a classificação da Mulher tem sido norteada pelas óticas biológica e<br />
social, determinantes <strong>para</strong> a desigualdade de gênero, que traz em seu bojo uma relação assimétrica<br />
sob a égide de um discurso que se pauta na valoração de um sexo sob o outro. Como declara<br />
SAFFIOTI (2004):<br />
É obvio que a sociedade considera normal e natural que homens maltratem suas mulheres,<br />
assim como que os pais e mães maltratem seus filhos, ratificando deste modo a pedagogia<br />
da violência, efetivamente, a questão se situa na tolerância e até no incentivo da sociedade<br />
<strong>para</strong> que os homens exerçam sua força-potência-dominação contra as mulheres, em<br />
detrimento de uma virilidade doce e sensível, portanto mais adequada ao desfrute do prazer.<br />
(SAFFIOTI, 2004,pgs.74 e 75)<br />
Diante deste con<strong>texto</strong>, qualquer mulher pode sofrer violência doméstica, independente de<br />
étnia, religião e classe social, a única diferença é que a mulher economicamente emancipada<br />
consegue esconder melhor sua situação e tem recursos <strong>para</strong> escapar mas rápido da violência.<br />
Para as organizações de defesa e proteção à mulheres vítimas de violência, numa sociedade<br />
patriarcal1, é no espaço doméstico que as mulheres são mantidas como seres sulbalternizados e<br />
violentados, sem acesso a direitos básicos, como educação, trabalho, lazer e cultura, o poder<br />
machista, limita, pune e priva as mulheres dos espaços públicos e da liberdade de ascessão<br />
economica e social. 2<br />
Portanto, é no con<strong>texto</strong> de uma necessidade de ações intersetoriais e em rede <strong>para</strong> o<br />
enfrentamento da violência contra as mulheres que realizaremos este estudo. Pautados nos<br />
referenciais teóricos da questão social da violência.<br />
E ainda nos direitos sociais constitucionais (Constituição Federal de 1988, e Lei Maria da<br />
Penha), além das políticas nacionais <strong>para</strong> mulheres, as políticas de segurança, de saúde, de justiça e<br />
assistência social. Com foco na visão da Intersetorialidade como instrumento de efetivação de<br />
políticas públicas.<br />
1.1 – Problema da Pesquisa<br />
Partindo das reflexões de uma prática de referência no enfretamento da violência contra a<br />
mulher e das dificuldades <strong>para</strong> a realização de ações em rede e que pautamos a discussão deste<br />
estudo. Numa visão de que a intersetorialidade e interdisciplinariedade no campo de politicas<br />
públicas se faz urgente. Precisando ser discutida amplamente por todos os profissionais e gestores<br />
responsáveis pela execusão de serviços, programas e projetos no âmbito do enfrentamento a<br />
1 - Representação de estrutura de poder baseado tanto na ideologia quanto na violência, ver SAFFIOTI, 2004,p.58<br />
2 -Ascessão social, se refere a oportunidade de sair de casa <strong>para</strong> trabalhar, estudar, em sua maioria as mulheres que<br />
sofrem violência doméstica, são prioneiras do agressor e vivem em cárcere privado.
violência contra a mulher.<br />
É preciso o envolvimento das políticas de proteção básica <strong>aqui</strong> priorizadas pela: segurança,<br />
assistência social, saúde,e justiça <strong>para</strong> o desenvolvimento de ações de forma integrada. Avançou-se<br />
na eleboração de idéia de rede interseorial, mas pouco na construção de políticas públicas<br />
integradas voltadas <strong>para</strong> o enfrentamento da violência em suas múltiplas dimensões.3<br />
A partir da criação da Lei 11.340/2006, e o II Plano Nacional de Políticas <strong>para</strong> as Mulheres<br />
de 2007, onde são determinados a implantação e o reaparelhamento dos serviços especializados às<br />
mulheres em situação de violência, as delegacias de mulheres e os Centros de Referência no<br />
atendimento á mulheres vítimas de violência.<br />
Pautou-se também a orientação <strong>para</strong> que as demais políticas públicas garantam a formação<br />
de profissionais <strong>para</strong> o fortalecimento e execução de serviços integrais na defesa e proteção das<br />
mulheres vítimas de violência.<br />
A lei 11.340/2006 tipifica a violência domestica em 5 tipos: a física, a psicológica, a sexual,<br />
a patrimonial e moral, assim sendo, os serviços precisam estar pre<strong>para</strong>dos <strong>para</strong> atender as mulheres<br />
quando encaminhadas.<br />
Dependendo do tipo de violência sofrida pela mulher ela irá percorrer pelo menos quatro<br />
caminhos até encontrar uma solução ou medida de proteção <strong>para</strong> a garantia de sua vida. Caminhos<br />
<strong>aqui</strong> constituídos de instituições de segurança pública, de saúde, de assistência social e de justiça.<br />
A mulher vitima de violência sexual, terá que ser priorizada no atendimento ao chegar no<br />
hospital de referência, como se dá a relação com a delegacia via saúde? e a justiça? a mulher vítima<br />
de violência necessita de num mínimo 3 serviços de urgência, a Assistência Social, pois precisa de<br />
acolhida, seja por parentes, seja por casas de acolhida, precisa da segurança <strong>para</strong> a garantia de<br />
medidas protetivas contra o agressor e quem acolhe estar pre<strong>para</strong>do/a <strong>para</strong> não revitimizar esta<br />
mulher?<br />
Assim, como a intersetorialidade e a interdisciplinaridade acontecem? e qual a importância<br />
da rede integrada na mudança que a mulher quer traçar na sua vida? os profissionais conhecem as<br />
causas da violência contra a mulher ? Como construir caminhos integrados com ela ?<br />
Diante do exposto, surge a problemática de pesquisa a ser investigada: Como se configuram<br />
as ações em rede <strong>para</strong> o enfrentamento da violência contra a mulher e a efetivação de direitos no<br />
con<strong>texto</strong> dos serviços básicos dentro das politicas públicas?<br />
Desta maneira é fundamental a articulação e a integralidade de serviços em rede, através de<br />
3 Considerações do SOS CORPO, sobre as integralidads das politicas intersetoriais no enfrentamento a violencia<br />
doméstica.
políticas transversais que atuem modificando e diminuindo a cultura de dominação e discriminação<br />
a que são submetidas às mulheres. Os gestores públicos precisam tratar a violência contra a mulher,<br />
entendendo que este tema é uma questão de direitos humanos e como tal, devem estar contidos no<br />
âmbito das ações de todas as políticas públicas de proteção e inclusão social.<br />
1.2 Objetivos<br />
Gerais: O escopo deste artigo tem como objetivo geral, analisar a maneira de como se da a prática<br />
dos profissionais na visão da interdisciplinaridade e intersetorialidade, <strong>para</strong> a efetivação de políticas<br />
públicas, que compõem a rede de serviços <strong>para</strong> a garantia de assistência e proteção às mulheres<br />
vítimas de violência, atendidas pelo CRM – Centro de Referência da Mulher de João Pessoa.<br />
Especificos: Contribuir <strong>para</strong> o conhecimento das ações junto aos profissionais que compõem a rede<br />
de assistência e proteção as mulheres vítimas de violência; diagnosticar as fragilidades das ações<br />
intersetoriais e assim, possibilitar a garantia dos serviços integrais às mulheres atendidas pelo CRM<br />
e ainda numa pespectiva interna de atuação, propiciar elementos <strong>para</strong> elaboração de cartilha sobre o<br />
fluxo do trabalho em rede no enfrentamento a violência contra a mulher.<br />
1.3 Justificativa<br />
A garantia dos direitos das mulheres vitimas de violência, parte de um desejo de mudança, de<br />
uma vontade politica de pautar a intersetorialidade como necessidade fundamental nas atividades<br />
dentro de uma gestão pública. A violência contra as mulheres tem caráter emergencial e por ter<br />
características marginais na sociedade necessita de intervenções embasadas nos referenciais de<br />
dignidade e defesa de direitos humanos.<br />
Segundo dados do Centro da Mulher 8 de Março em cada 5 mulheres três são vítimas de<br />
violência e expostas ao perigo dentro da própria casa. A pesquisa ainda indica que: 26 mulheres<br />
foram assassinadas nos seis primeiros meses de 2010, vítimas dos próprios companheiros, ex-<br />
companheiros ou familiares.<br />
Estes dados revelam que houve um crescimento 62,5%, com relação ao mesmo período do<br />
ano de 2009, quando foram registrados 16 casos. Portanto, dependendo do tipo de violência sofrida<br />
pela mulher, estas ações devem assumir caráter emergencial e ético, pois existe uma vitima que<br />
precisa ser protegida de um agressor.
Por isso a importância e responsabilidade do Estado em intervir de maneira articulada<br />
conforme diretrizes e princípios que norteiam as políticas de segurança pública, assistência social,<br />
saúde e justiça, ambas as políticas devem garantir a mulher assistência e proteção <strong>para</strong> que enquanto<br />
cidadã tenha direito a uma vida digna e igualitária.<br />
Em síntese, tais expectativas constituem elementos norteadores <strong>para</strong> o encaminhamento<br />
deste estudo, que tem recorte focalizado na práxis do enfrentamento da violência contra as mulheres<br />
atendidas no Centro de Referência da Mulher do município de João Pessoa – PB.<br />
Busca ainda investigar as fragilidades e importância das ações intersetoriais e<br />
interdisciplinares da rede de serviços que compõem a efetivação de políticas públicas <strong>para</strong> garantia<br />
dos direitos das mulheres em situação de violência.<br />
Asssim sendo, este trabalho, pretende analisar a maneira de como se dá a prática dos<br />
profissionais dos serviços da rede de proteção socioassistenciais numa visão interdisciplinar e<br />
intersetorial <strong>para</strong> a efetivação de politicas públicas primando pela garantia de direitos humanos e<br />
sociais e na luta pela não violência contra as mulheres.<br />
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA<br />
2.1 – Marcos Legais na garantia de direitos<br />
Esta seção visa trazer marcos teóricos conceituais e legais sobre o tema da violência contra a<br />
mulher, de forma que a questão, seja versada dentro das relações de desiguldades culturais,<br />
economicas e sociais que imperam nas contradições de nossa histórica realidade<br />
social.Concordamos com SAFFIOTI, 1995, quando diz:<br />
A sociedade não comporta uma única contradição. Há três fundamentais que devem ser<br />
consideradas: a de gênero, a de raça/etnia e a de classe. Com efeito , ao longo da história do<br />
patriarcado, este foi-se fundindo com o racismo e, posteriormente, com o capitalismo,<br />
regime no qual desabrocham, na sua plenitude, as classes sociais. ( SAFFIOTI,1995)<br />
Segundo ainda SAFFIOTI,(1995) baseado na teoria Marxista, "enquanto a dimensão política<br />
de uma classe social não for constituida, ela não é verdadeiramente uma classe capaz de lutar por<br />
seus interesses".<br />
Assim sendo, a luta dos movimentos feministas, tem a defesa das mulheres partindo da<br />
consciência de dominação de classes e de uma sociedade regida pelo poder patriarcal do homem<br />
sobre a mulher. A luta dos movimentos feministas se tornaram mais forte na década de 80, e a pauta<br />
da violência contra a mulher se tornou mais visível, e desta forma se tem a implantação da<br />
primeira delegacia da mulher na cidade de São Paulo, colocando <strong>para</strong> os governos a obrigação de<br />
defender as mulheres da violência no âmbito público e privado. ( Centro da Mulher 8 de março,
2009).<br />
Ao questionar a construção social da diferença entre os sexos e os campos de articulação de<br />
poder, as feministas criaram o conceito de gênero, abrindo assim, portas <strong>para</strong> se analisar o<br />
binômio dominação-exploração construído ao longo dos tempos. A violência contra a<br />
mulher traz em seu seio, estreita relação com as categorias de gênero, classe e raça/etnia e<br />
suas relações de poder. Tais relações estão mediadas por uma ordem patriarcal proeminente<br />
na sociedade brasileira, a qual atribui aos homens o direito a dominar e controlar suas<br />
mulheres, podendo em certos casos, atingir os limites da violência. (PINAFI,2007)<br />
Conforme Dados da ONG, Centro da Mulher 8 de Março(2009), as delegacias são as<br />
primeiras iniciativas de políticas públicas <strong>para</strong> as mulheres no Brasil, no campo da segurança<br />
pública. E esta iniciativa foi fruto da luta do movimento pela politização da violência contra a<br />
mulher e também do processo de redemocratização do país.<br />
No con<strong>texto</strong> brasileiro, a década de 70 é marcada pelo surgimento dos primeiros<br />
movimentos feministas organizados e politicamente engajados em defesa dos direitos da mulher<br />
contra o sistema social opressor — o machismo. (PINAFI, 2007).E ainda neste con<strong>texto</strong>,<br />
SAFIOTTI,( 1995 , p.26 ) considera :<br />
As relações de gênero, as desigualdades sociais e econômicas que imperam e fundamentam<br />
nossa sociedade, como elementos fundamentais <strong>para</strong> a violência contra a mulher, ou seja, o<br />
debate sobre as contradições de um sistema de capital, onde as desigusldades são visiveis em<br />
nossa sociedadade devem também ser parâmetros <strong>para</strong> explicar o fenômeno da violência<br />
contra a mulher.<br />
A criação das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs) são ações de<br />
compromisso do Governo Brasileiro frente aos organismos internacionais, as delegacias foram<br />
uma das formas de tornar mais visivel a problemática da violência contra a mulher, com prioridade<br />
<strong>para</strong> a doméstica.<br />
Esta visibilidade garantiu a discussão e divulgação do crime nas questões de gênero, além<br />
de se tornarem primeiras referências de redes no enfrentamento a violência contra a mulher, mesmo<br />
antes da criação da Lei Maria da Penha, que só vem no ano de 2006.<br />
Dentre os documentos que embasam a politica pública de enfrentamento a violência contra a<br />
mulher de forma integral e intersetorial, resaltamos a Convenção sobre a Eliminação de Todas as<br />
formas de Discriminação contra a mulher (CENDAW, 1979), A Convenção Interamericana <strong>para</strong><br />
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará, 1994) e a<br />
Conferência Mundial sobre Igualdade, Paz e Desenvolvimento, das nacões Unidas ( Pequim,1995).<br />
Estes instrumentos foram fundamentais <strong>para</strong> a criação da Lei Maria da Penha. A lei<br />
11.340/2006, é um instrumento que garante cidadania e justiça social a mulheres vítimas de<br />
violência. A lei é clara quanto a integralidade e intersetorialidade das politicas públicas <strong>para</strong> as
mulheres que sofrem violência doméstica e familiar. 4<br />
2.2 Atuação em Rede e a interdisciplinariedade no Setor Público<br />
Numa atuação em rede Os parâmetros estabelecidos pela Política Nacional <strong>para</strong> Mulheres,<br />
através do II plano Nacional, devem nortear a politica de enfrentamento a violência contra as<br />
mulheres assim, como as regras e diretrizes das políticas de assistência social e saúde e a política<br />
de segurança pública (delegacias da mulher) e o judiciário com os juizados especiais <strong>para</strong> aplicação<br />
da lei Maria da Penha.<br />
E ainda, os Centros de Referência deve desenvolver estratégias de integração e<br />
complementaridade entre serviços de atendimento à violência<br />
de gênero, <strong>para</strong> a criação ou fortalecimento de redes municipais e/ou regionais de atenção a<br />
mulheres em situação de violência, buscando elaborar e propor a institucionalização de gestão da<br />
rede.<br />
Teoricamente as regras estão colocadas, o desafio e concretizar os desejos com o o fazer no<br />
desenvolvimento e legalização de direitos através de politicas públicas. Desenvolvendo ações de<br />
forma intersetorial e integradas, prioritariamente entre as políticas citadas <strong>aqui</strong>, como as quatro<br />
políticas consideradas de emergência e de proteção básica as mulheres vítimas de violência, numa<br />
relação de pactuação junto a política pública de mulheres, referenciadas pelos Centro de<br />
Atendimento a Mulheres Vítimas de Violência.<br />
Neste con<strong>texto</strong> é importante destacar o papel das ações intersetoriais pelas políticas públicas<br />
nas instituições e o fortalecimento do trabalho interdisciplinar das equipes principalmente nos<br />
serviços básicos. Os serviços básicos, neste estudo serão destacados como de fundamental<br />
importância <strong>para</strong> o enfrentamento e proteção a vida das mulheres vítimas de violência atendidas<br />
pelo centro de referência da mulher de João Pessoa.<br />
O ideal neste caso seria trabalhar tanto com ações pontuais específicas, como com as<br />
políticas públicas transversais. Ao se adotar as políticas públicas transversais, objetivando a<br />
igualdade entre homens e mulheres, encontra-se um norte a trilhar na busca de um caminho que<br />
modifique o panorama da violência em geral e a de gênero em particular. A Secretaria da Mulher<br />
poderia desempenhar o papel de catalisadora neste processo articulando-se aos Conselhos ou<br />
4 Art. 8 o A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por<br />
meio de um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações nãogovernamentais,<br />
tendo por diretrizes:<br />
I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas de<br />
segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação;<br />
V - a promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção da violência doméstica e familiar contra a<br />
mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em geral, e a difusão desta Lei e dos instrumentos de proteção aos<br />
direitos humanos das mulheres;
Secretarias da Mulher em todos os Estados.<br />
Portanto na existência de um instrumento como um pacto o desafio é torná-lo público e fazer<br />
dele um elo entre os gestores públicos, profissionais e as instâncias de controle social( movimentos<br />
organizados de mulheres, conselhos, ONGs, etc).<br />
Os serviços especializados da rede de atendimento a mulheres vítimas de violência<br />
compreendem ainda: Centros de Referência da Mulher, Casas Abrigos, Núcleos de Atendimentos a<br />
Mulher em Situação de Violência, Casas de Passagem, Casas de Acolhida, Núcleos da Mulher nas<br />
Defensorias Públicas, Promotorias Especiais, Juizados Especiais de Violência Doméstica e Familiar<br />
O Pacto atribui a quatro políticas em especial, a necessidade de um envolvimento maior <strong>para</strong><br />
compor uma rede de enfrentamento a violência contra mulher e prioritariamente <strong>para</strong> o apoio na<br />
implementação da lei 11.340/2006, a proteção e a inclusão social.<br />
*A Política de Saúde cabe: combater as doenças crônicas, causadas pelas violências físicas,<br />
psicológicas e a atenção especial a violência sexual .<br />
*A Política de Assistência Social deve: fazer a inclusão social das mulheres em serviços e<br />
programas de diretos sociais (trabalho, habitação, educação, formação cidadã e casas de apoio e<br />
acolhimento).<br />
*A Política de Segurança Pública tem o dever de garantir proteção e defesa <strong>para</strong> a mulher<br />
vítima de violência com a aplicação da Lei Maria da Penha.<br />
* A Justiça o papel de julgar os agressores e garantir a efetividade da lei.<br />
Portanto a intersetorialidade e interdisciplinaridade dos atores que compõem estas políticas<br />
podem de certa forma diminuir os índices de mortes e de desigualdades presentes na vida das<br />
mulheres que sofrem violência.<br />
A ausência e a prática de intersetorialidade em rede e da falta de interdisciplinaridade das<br />
instituições de referência e contra referência nos encaminhamentos das mulheres vítimas de<br />
violência, tem como consequência a fragmentação nas intervenções e até o distanciamento da<br />
mulher do caminho que buscou iniciar <strong>para</strong> sair do ciclo da violência ao chegar ao Centro de<br />
Referência da Mulher.5 Sobre esta questão comenta GOMES:<br />
A fragmentação nos serviços de atenção as mulheres vítimas de violência, bem como o<br />
acesso e a limitada capacidade de tomar resoluções constituem aspectos institucionais que<br />
dificultam o processo de liberação das mulheres da violência doméstica. Por falta de<br />
articulação entre os serviços a mulher revive as cenas da violência, num processo repetitivo<br />
da violência sofrida. (GOMES ,p.42,2009)<br />
5 - Quando o CRM é o primeiro lugar que a mulher percorre até chegar aos demais serviços.
O conhecimento do trabalho do outro, seja o profissional ou o institucional deve ser o de<br />
reconhecer que existem limites e possibilidades em cada profissional e em cada instituição e isto,<br />
pode ser concretamente uma receita bem sucedida no trabalho em rede e na garantia de direitos a<br />
população atendida.<br />
3 – METODOLOGIA<br />
Este estudo tem caráter decritivo e exploratório, tendo como base as análises de<br />
questionários aplicados com profissionais que compõem a rede de serviços básicos de garantia de<br />
direitos as mulheres vítimas de violência atendidas pelo Centro de Referência da Mulher. A<br />
pesquisa tem como norte os meses de janeiro a junho de 2010 e com<strong>para</strong>tivamente os meses de<br />
janeiro e junho de 2011. Segundo ZANELLA:<br />
A pesquisa descritiva se preocupa em descrever os fenômenos por meio dos significados<br />
que o ambiente manifesta, assim os resultados são expressos por meios de entrevistas,<br />
narrativas, documentos, fotografias etc , e entre outras formas de coleta de dados e<br />
informações. (ZANELLA 2009 , p.17)<br />
Os encaminhamentos de referência e contra referencia serão levantados <strong>para</strong> com<strong>para</strong>r o<br />
atendimento no fluxo de chegada ao serviço e no fluxo de saída e sua resolutividade. Será analisado<br />
também, o conhecimento sobre o tema (aspectos culturais, sociais e econômicos) dos profissionais,<br />
que atuam na rede de serviços <strong>para</strong> o enfrentamento da violência contra a mulher.<br />
O questionário (Apêndice 1), consiste na aplicação de entrevistas estruturadas e semi-<br />
estruturadas, com a finalidade de obter informações detalhadas, fornecendo percepções,<br />
interpretações, entendimento e sugerir fontes alternativas <strong>para</strong> contribuir com evidências de outras<br />
fontes de dados. E, desta maneira, contribuir com o grau de confiabilidade do estudo proposto.<br />
Para ZANELLA, numa pesquisa exploratória o objetivo é ampliar o conhecimento a respeito<br />
de um determinado fenômeno, este tipo de pesquisa aparentemente simples, esplora a realidade<br />
buscando maior conheciemento <strong>para</strong> depois planejar um pesquisa descritiva.( ZANELLA ,2009).<br />
Para esta análise foi elaborado um questionário com questões objetivas, <strong>para</strong> ser preenchido<br />
por um ou mais profissionais das quatro áreas de políticas públicas descritas no plano dentro do<br />
eixo enfrentamento a violência. Assim também as profissionais do referido centro de referencia da<br />
mulher. As análises de dados tiveram como base <strong>texto</strong>s sobre a temática da violência de gênero e as<br />
práticas de intersetorialidade nas políticas públicas.<br />
Foram aplicados 30 questionários, entretanto apenas 20 foram respondidos pelos
profissionais que fazem parte do Centro de Referência da Mulher e das demais politicas, elencadas<br />
como de proteção básica no enfrentamento a violência contra a mulher neste estudo.<br />
Os questionários aplicados tinham 24 questões divididas, em dois blocos, o primeiro com<br />
informações padronizadas - idade, sexo, instituição etc. O segundo bloco, incluia perguntas sobre a<br />
visão da violência contra a mulher e a intersetorialidade nos serviços da rede de proteção.<br />
A visão, ou não, de critica do mundo, e de atitude de intersetorialidade dos profissionais<br />
foram tratados como fragilidade ou avanço <strong>para</strong> o enfrentamento do problema levantado. Partindo e<br />
com base nos dados cadastrais das mulheres atendidas pelo Centro de Referencia da mulher de João<br />
Pessoa.<br />
A análise de dados com foco no levantamento do tipo de violência e as demandas <strong>para</strong><br />
intervenção dos profissionais do serviço e da rede. Os encaminhamentos de referencia e contra<br />
referencia serão levantados <strong>para</strong> com<strong>para</strong>r o atendimento no fluxo de chegada ao serviço e no fluxo<br />
de saída e sua intersetorialidade.<br />
Como metodologia de intervenção <strong>para</strong> analise prática, usamos os instrumentos, utilizados<br />
no serviço como: ficha cadastral das mulheres atendidas, fichas de encaminhamento, cadastro das<br />
instituições, questionário de avaliação do serviço em rede pelas mulheres atendidas e pelos<br />
profissionais que atuam no serviço e instituições. Segundo ZANELLA,2009:<br />
A pesquisa documental se caracteriza por sua semelhança com a bibliografica, pois se<br />
utiliza de fontes documentais, isto é dados secundários, encontrados em empresas e<br />
instituições ( dados secundários internos), fichas de usuários, leitura de <strong>texto</strong>s, artigos,<br />
censo demográfico de pesquisas já desenvolvidas etc. E a intepretação depende das<br />
particularidades nas abordagens. (ZANELLA,2009,p.16)<br />
4. RESULTADOS DA PESQUISA E DISCUSSÕES<br />
4-1 – Resultado da Pesquisa Documental<br />
Janeiro a Junho de 2010 – total de atendimentos as Mulheres: 254<br />
Referência de onde vem<br />
encaminhada a mulher<br />
- Demanda Espontânea: ( soube<br />
pela Mídia, propaganda em TV,<br />
revistas, jornais etc.), amigas,<br />
parentes. Total: 69<br />
- Segurança Pública (DEAM):<br />
Total: 09<br />
Agressor Tipo de<br />
Violência<br />
Contra Referência<br />
encaminhamento a Rede de<br />
Serviços<br />
Marido: 79 Psicológica: 102 Segurança Pública:<br />
DEAM: 39<br />
Ex. Marido: 54 Física: 79 Justiça: 35<br />
- Justiça: Total: 04 Companheiro: 38 Patrimonial: 51 Saúde: 11<br />
- Saúde: Total: 07 Ex-Companheiro: 26 Sexual: 21 Assistência Social: 09<br />
- Assistência Social: Total: 18 Namorado: 08 Moral: 01 Outros serviços:
Habitação: 13<br />
- SEPM: Total: 10 Ex. Namorado: 23 Programa de Geração de<br />
renda; Empreender Mulher:<br />
- Movimentos de Mulheres:<br />
Total: 04<br />
Pai: 04<br />
Irmão: 02<br />
Sobrinho: 04<br />
Genro: 02<br />
Padrasto :04<br />
Genro: 03<br />
Vizinho: 03<br />
Desconhecido: 04<br />
Total: 52 referências Total: 109<br />
encaminhamentos a rede,<br />
sendo 94 a rede de proteção<br />
básica<br />
Atendimentos Internos realizados pela Equipe Multidisciplinar<br />
Social: 76 Psicologia: 115 Jurídico: 63<br />
Janeiro a Junho de 2011<br />
Total de atendimentos as Mulheres: 282<br />
Referência de onde vem<br />
encaminhada a mulher<br />
Agressor Tipo de<br />
Violência<br />
02<br />
Contra Referência<br />
encaminhamento a Rede de<br />
Serviços<br />
Demanda Espontânea: 74 Marido: 86 Psicológica: 100 Segurança Pública: 34<br />
Segurança Pública: 23 Ex-Marido: 52 Física: 79 Justiça: 25<br />
Justiça: 04 Companheiro: 72 Patrimonial: 76 Saúde: 15<br />
Saúde: 16 Ex- Companheiro: 41 Sexual: 26 Assistência Social: 24<br />
Assistência Social: 27 Padrasto: 06 Moral: 01 Habitação: 72<br />
SEPM: 04 Irmão: 02 Empreender Mulher: 08<br />
Habitação: 03 Filho: 02 EJA: 04<br />
Movimentos de Mulheres: 03 Tio: 04 Pro Jovem: 02<br />
Genro: 06<br />
Cunhado: 03<br />
Vizinhos: 02<br />
Desconhecido: 06<br />
Total de Referencia: 80 Total de Encaminhamento a<br />
rede: 184, sendo 98 <strong>para</strong> rede<br />
de proteção básica.<br />
Atendimento Internos Realizados pela Equipe Multidiciplinar
Social: 91 Psicologia: 120 Jurídico: 71<br />
Fonte: Elaboração própria (2011), com base na coleta de dados documentais do Centro de Referência da Mulher.<br />
Os dados mostram que a demanda de referência ao serviço é fragil, considerando que a<br />
demanda espontânea em 2010, foi de 69 casos, e de 2011, foi de 74 casos, um pequeno aumento,<br />
porém ambos superam os encaminhamentos da rede de serviços. A demanda espontânea revela<br />
ainda que a informação através dos meios de comunicação tem sido uma forte aliada da mulher no<br />
enfrentamento a violência.<br />
As ações de Contra Referência ao serviços da rede é evidenciada mesmo que com um<br />
crescimento pequeno de um período <strong>para</strong> o outro. Em 2010 foram 94 encaminhamentos e em 2011,<br />
98 encaminhamentos, com destaque em ambos os anos, <strong>para</strong> a segurança pública. Foram no total 73<br />
mulheres encaminhadas <strong>para</strong> a delegacia da mulher, demonstrando assim, um desejo das mulheres<br />
em denunciar seu agressor pela violência sofrida e também uma credibilidade na aplicação da Lei<br />
Maria da Penha.<br />
No total foram 50 processos <strong>para</strong> julgamento e aplicação da Lei 11.340/2006. O poder<br />
judiciário é quem menos encaminha ao serviço, quando analisamos os demais encaminhamentos.<br />
Nas análises dos dados o percentual de encaminhamentos <strong>para</strong> a rede pelos profissionais que<br />
atuam diretamente no serviço é maior que os encaminhamentos de chegada ao serviço, isso<br />
demonstra a falta de informação sobre o serviço existente na rede é uma fragilidade.<br />
São poucos encaminhamentos <strong>para</strong> o número de atendimentos no CRM. De onde vem as<br />
mulheres. Elas não estão na saúde, na Assistência social, e a segurança pública e a justiça ficam<br />
visíveis no descaso <strong>para</strong> o problema.<br />
Um dado que justifica a intervenção do estado no enfrentamento a violência contra a mulher<br />
é o ator principal da agressão, em ambos os anos é o marido ou o companheiro o agressor. Em 2010<br />
são 79 agressões pelos maridos e ex- marido 54, ou seja, 70% dos 254 casos registrados. Em 2011<br />
dos 282 casos, 86 foram praticadas pelo marido e 72 pelo companheiro o que chega 80% dos casos.<br />
Justificando e deixando claro que a violência é doméstica, a mulher é agredida por alguém com<br />
quem ela tem laços afetivos, ou seja o perigo está dentro de casa.<br />
4.2 Análises dos Questionários<br />
Análise quanto a visão dos profissionais sobre a violência doméstica e a intersetorialidade,
este tópico trata das informações colhidas e sistematização.<br />
A partir das análises dos questionários foi possível produzir significados importantes em<br />
relação a opinião sobre a violência doméstica e a compreensão da importância sobre a<br />
intersetorialidade e o trabalho em rede<br />
Para os profissionais o espaço público a diversidade nas ações e a urgência dos serviços<br />
geralmente são entraves na formação de equipes multidisciplinares e a atuação em redes, as<br />
dinâmicas e instrumentos de intervenção e as forma de trabalho tem suas ambiguidades, o que traz<br />
na maioria das vezes distâncias entre profissionais e instituições.<br />
A precarização nas estruturas e as concepções ideológicas de alguns profissionais também<br />
causam dificuldades na recepção e encaminhamentos aos serviços de enfrentamento a violência<br />
contra a mulher. A desinformação o acúmulo de funções e tarefas diretamente e indiretamente<br />
responsáveis por resistências a interdisciplinaridade e intersetorialidade dos serviços.<br />
Todos os profissionais entendem a importância do trabalho em rede, porém só 11<br />
entrevistados consideram que pode acontecer e que eles são fundamentais na ação intersetorial, os<br />
demais culpam a estrutura pública pela fragilidade nas ações integradas.<br />
Todos os profissionais consideraram a questão do estado não intervir na violência contra a<br />
mulher como ultrapassada e retrógada, <strong>para</strong> todos a violência doméstica é um questão de segurança<br />
pública e de justiça.<br />
80% dos profissionais entrevistadas consideram que o maior entrave na questão da aplicação<br />
da lei Maria da Penha e na intersetorialidade da política de enfrenamento a violência contra a<br />
mulher, está no poder Judiciário, segundo os entrevistados, a justiça ainda acha que a violência é<br />
coisa <strong>para</strong> o marido resolver com a mulher, e o estado não deve meter a colher. A falta de<br />
julgamento dos processos e não aplicação da Lei Maria da Penha, como está escrita, provoca:<br />
impunidade e mortes e ainda impede que as mulheres continuem lutando <strong>para</strong> romper com o ciclo<br />
da violência.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É no con<strong>texto</strong> de uma necessidade de ações intersetoriais e em rede <strong>para</strong> o enfrentamento da<br />
violência contra a mulher, que neste estudo foi possível formular um documento capaz de<br />
contextualizar e analisar a conjuntura desta violência. As relações de poder sejam de classe social e<br />
de dominação cultural machista, atrelados ao regime capitalista que regem as relações econômicas e<br />
sociais em nossa sociedade.<br />
Diante da problemática analisada consideramos o reconhecimeto dos profissionais <strong>para</strong> a<br />
importância de ações em rede na execução de suas tarefas no trabalho com mulheres vítimas de<br />
violência, porém as relações ainda acontecem de forma fragmentada e depende da vontade dos<br />
profissionais, não existe um plano institucional que regulamente a intersetrialidade. A falta de<br />
informação sobre o fazer do outro impede a dinâmica de rede.<br />
Espera-se ainda que este possa nortear caminhos em relação à construção de elementos<br />
emancipatórios <strong>para</strong> a igualdade, autonomia e dignidade das mulheres, no con<strong>texto</strong> das relações<br />
sociais vivenciadas por uma sociedade onde as relações de gênero se contrapõem aos direitos<br />
humanos e sociais.<br />
O conhecimento do trabalho do outro, seja o profissional ou o institucional deve ser o de<br />
reconhecer que existem limites e possibilidades em cada profissional e em cada instituição e isto,<br />
pode ser concretamente uma receita bem sucedida no trabalho em rede e na garantia de direitos a<br />
população atendida.<br />
Partindo do entendimento de que a violência contra mulheres é uma questão cultural, social,<br />
de segurança, de justiça com foco nos direitos humanos e de saúde e que isoladamente nenhum<br />
profissional e gestor público terá sucesso no enfrentamento da questão levantada. Assim neste<br />
estudo, entende-se e defende-se ações de caráter multiprofissional e intersetorial pressupondo um<br />
trabalho articulado e em rede.<br />
Desta forma é preciso enquanto profissional de atuação numa gestão pública avaliar<br />
criticamente e buscar respostas respaldadas nos interesses coletivos. Nos marcos legais que regem<br />
as políticas públicas, e nos referencias e con<strong>texto</strong>s teóricos e práticos e as contradições e<br />
desigualdades, onde predominam as relações de poder sejam de classe social e de dominação<br />
cultural machista.<br />
REFERENCIAS<br />
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Defesa da Mulher. São Paulo Fundação Carlos Chagas, Mimeo, 1989.<br />
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HANADA, Heloisa. Violência Contra a Mulher; Assitência Psicológica; Redes de Serviços,<br />
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urbano e os desafios de construir políticas públicas integradas.Recife,2010.<br />
SAFIOTTI, Heleieth, Gênero, Patriarcado, Violência. São Paulo, Editora Fundação Perceu Abramo,<br />
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SAFIOTTI, Heleieth. O Poder do Macho.Editora Moderna, 1987.<br />
SAFIOTTI, Heleieth.A Mulher na Sociedade de Classes; Mito e Realidade. Petrópolis, Ed.<br />
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TELES, Maria Amélia de Azevedo. Breve História do Feminismo no Brasil, São Paulo,<br />
Brasiliense, 1993.<br />
ZANELLA, Liane Carly Hermes. Metodologia de Estudo e de Pesquisa em Administração,<br />
UFSC,[Brasíla]: CAPES: UAB, 2009.<br />
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E INTERSETORIALIDADE: construção de cidadania<br />
e igualdade nas políticas públicas
“Tramas <strong>para</strong> a Vida”<br />
Maria Aparecida Sarinho<br />
Pós-Graduanda Lato Sensu em Gestão Pública Municipal - <strong>UFPB</strong><br />
Prof.º Drº Nelson Rosas Ribeiro<br />
Professor do Departamento de Economia – <strong>UFPB</strong><br />
ABSTRACT<br />
The present study is based on the domestic violence against women and on its challenge to face it.<br />
In this sense, the intersection of public policies whose focus is to ensure social security to women<br />
who are victims of violence, it should be considered on the total scope of the institutional actions.<br />
Assuming the existence of violence against women lies mainly in the social relations of gender, an<br />
investigation was done with the personnel that works with this field, based on their knowledge of<br />
the subject and practice with this intersecting police with some attention to the weakness to these<br />
intercrossing actions. To this investigation, some documental research was done with the record<br />
data of the Woman Reference Center of the city of João Pessoa. This Center provides a reference<br />
service for women who are victims of violence in their daily lives, and it has the record of cases<br />
sent to the network services, giving priority to social security policies, welfare, and health and law<br />
assistance. Therefore, this study had a special look to the personnel who works in these institutions.<br />
It was applied a questionnaire with structured and exploratory guidelines, in which the questions<br />
intended to measure the intersecting and interdisciplinary institutional and social actions. This study<br />
hopes to find out if there are weaknesses and limitations in the core of this crisscrossing police , and<br />
with the result of such investigation could contribute to the build of effective steps to provide<br />
citizenship and special rights for women assisted by services whose purpose is to face violence<br />
against woman.<br />
Key- Words: violence against woman, intersecting, public policies.
APÊNDICE A – INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS<br />
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E ITERSETORIALIDADE: construção de cidadania e<br />
igualdade nas políticas públicas<br />
Dados sócio-demográficos<br />
1. Identificação da Instituição<br />
“Tramas <strong>para</strong> a Vida”<br />
1.1.Nome: ____________________________________________________________________<br />
1.2.Área de Atuação: ____________________________________________________________<br />
2. Identificação do/a Profissional<br />
2.1. Nome:____________________________________________________________________<br />
2.2.Étnia: ____________________________________________________________________<br />
2.3. Religião:__________________________________________________________________<br />
2.4. Escolaridade:______________________________________________________________<br />
2.5 Profissão:_________________________________________________________________<br />
2.6-Orientação Sexual:__________________________________________________________<br />
2.7.Cargo que ocupa/função:_____________________________________________________<br />
3.Aspectos da Organização da rede de serviços <strong>para</strong> a intersetorialidade das políticas públicas<br />
3.1. Você atende a mulher em situação de violência doméstica? Sim ( ) Não ( ) Em caso de<br />
Sim,Qual é o tipo de violência ?<br />
________________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________<br />
3.2. Você sabe o que é intersetorialidade e interdisciplinaridade, qual a importância e impacto destas<br />
ações no seu trabalho e na vida das mulheres vítimas de<br />
violência?________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
________<br />
3.3. Como é realizado o atendimento, existe interdisciplinaridade entre os profissionais que<br />
(compõem) a equipe de atendimento?<br />
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
3.4.Qual o encaminhamento <strong>para</strong> a mulher?<br />
________________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
3.5.Como é feito o acompanhamento da ação<br />
referenciada?_____________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
___________<br />
3.6.Você conhece a rede de serviços existentes <strong>para</strong> o enfrentamento da violência contra a mulher e<br />
qual importância desta rede no desenvolvimento de seu trabalho e desta<br />
política?_________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
_______<br />
3.7. Nesta instituição existe intersetorialidade e interdisciplinaridade com a rede de serviços sócioassistenciais<br />
a mulher em situação de violência?|Se existe como é realizado?<br />
________________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
3.8. Existe articulação com esta rede? Existe cadastro desta rede na instituição?Quem são os<br />
profissionais envolvidos nesta ação?<br />
________________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
4-Aspectos sociais e culturais da violência contra a mulher<br />
4.1.Para você qual é a causa da violência contra a<br />
mulher?_________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
_______<br />
4.2.Você conhece a lei Maria da Penha? Qual é a importância desta lei <strong>para</strong> o enfrentamento a<br />
violência contra a<br />
mulher?_________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
_______<br />
4.3.Você orienta as mulheres quanto aos seus direitos, quando ela chega no serviço? Quais são estes<br />
direitos?_________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
_______<br />
4.4. Você acha que a mulher deve apanhar do marido/companheiro/ex- marido, ex -companheiro,<br />
por não querer mais viver uma relação de poder, submissão e ou violência de um homem<br />
agressor?________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
________<br />
4.5. O que você acha desta frase: “Em briga de marido e mulher ninguém mete a<br />
colher”._________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
4.6. Você se sente incomodado/a com o número de mulheres mortas em sua cidade? Se sim, qual o<br />
papel das políticas públicas <strong>para</strong> o enfrentamento deste<br />
problema?_______________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
_________<br />
5. Cite pelo menos 4 serviços de referência no enfrentamento a violência contra a mulher na sua<br />
cidade___________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
6- Para você qual o maior entrave nas relações e ações de serviços intersetoriais e multiprofissionais<br />
no enfrentamento a violência contra a mulher no lugar onde realiza seu trabalho, e nas outras<br />
instituições?______________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
__________<br />
Obrigada pela contribuição a este estudo!
APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO<br />
INSTITUIÇÃO DE ENSINO EM QUE O PESQUISADOR/A ESTÁ VINCULADO/A<br />
Universidade Federal da Paraiba – <strong>UFPB</strong> VIRTUAL<br />
TÍTULO DO TRABALHO<br />
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E INTERSETORIALIDADE: construção de<br />
cidadania e igualdade nas políticas públicas<br />
“Tramas <strong>para</strong> a Vida”<br />
OBJETIVOS DO TRABALHO<br />
Identificar e avaliar as ações em rede no atendimento as mulheres vítimas de violência<br />
atendidas no Centro de Referência da Mulher de João Pessoa - PB<br />
JUSTIFICATIVA<br />
No atendimento as mulheres vítimas de violência percebe-se a necessidade de se ter uma rede<br />
de serviços articulada, <strong>para</strong> o enfrentamento desta violência, principalmente no que tange aos<br />
direitos básicos que a mulher precisa <strong>para</strong> garantir e ter sua vida protegida.<br />
RISCOS<br />
Estamos cientes que este estudo não trará riscos ao nosso trabalho e nossa profissão e que os<br />
preceitos éticos serão respeitados pelos responsáveis pelo estudo e se comprometem a<br />
suspendê-lo, caso perceba-se algum risco ou dano.<br />
BENEFÍCIOS<br />
A presente pesquisa poderá servir <strong>para</strong> uma melhor identificação e avaliação dos serviços<br />
executados em rede pelas políticas públicas no enfrentamento da violência contra a mulher.<br />
DECLARAÇÃO PARA REVISÃO DE PESQUISA, PARTICIPAÇÃO VOLUNTÁRIA E<br />
OFERECIMENTO PARA RESPONDER AS QUESTÕES<br />
Minha participação é estritamente voluntária, podendo desistir deste estudo a qualquer<br />
momento. Para esclarecer possíveis dúvidas quanto ao procedimento da pesquisa e<br />
aplicabilidade das técnicas, poderei dispor dos responsáveis, através dos seguintes endereços e<br />
contatos:____________________________________________________________________<br />
____________________________________________________________________________<br />
____________________________________________________________________________<br />
_________<br />
CONSENTIMENTO DO VOLUNTÁRIO/A<br />
Admito que revisei totalmente e entendi o conteúdo deste termo de consentimento. Estou<br />
permitindo a minha participação neste estudo, neste estudo, desde que assegurado o anonimato<br />
e preservado o uso de imagens em recursos audiovisuais (DVD,fotos e etc.), e faço por livre e<br />
espontânea vontade, não tendo sido forçado/a ou coagido/a.<br />
Assinatura do participante da pesquisa ou responsável<br />
legal:______________________________________________________________<br />
local e data:_________________________________________________________
RESPONSABILIDADE DO PESQUISADOR: certifico que revisei o conteúdo deste Termo<br />
de consentimento com participante em questão, explicando os riscos e benefícios conhecidos<br />
desta pesquisa. Assumo plena e total responsabilidade sobre a realização deste estudo.<br />
Assinatura do(a) pesquisador(a)<br />
responsável:_________________________________________________________________