educação física escolar frente ao processo de ... - grupo mel
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FÁBIO SANTANA NUNES<br />
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR FRENTE<br />
AO PROCESSO DE TERCEIRIZAÇÃO<br />
Trabalho monográfico solicitado como<br />
requisito básico para conclusão do Curso <strong>de</strong><br />
Licenciatura em Educação Física da<br />
Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Feira <strong>de</strong> Santana.<br />
Orientadores:<br />
Prof. Ms. Cláudio Lucena <strong>de</strong> Souza<br />
Prof. Luís Vítor Castro Júnior<br />
Feira <strong>de</strong> Santana<br />
Setembro <strong>de</strong> 2001
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
“(...) um passo importante para o avanço do<br />
resgate do lúdico é romper, na escola, com a<br />
tentativa <strong>de</strong> separação absoluta entre jogo e<br />
esporte. Não no sentido <strong>de</strong> esportivizar os<br />
jogos populares e as brinca<strong>de</strong>iras, mas no<br />
caminho inverso, ou seja, para brincar <strong>de</strong><br />
esportes, para tornar lúdica a tensão do<br />
esporte, para transformar o compromisso com<br />
a vitória em compromisso com a alegria e o<br />
prazer para todos.”<br />
(ASSIS DE OLIVEIRA, 1999)
SUMÁRIO<br />
RESUMO<br />
INTRODUÇÃO ........................................................................................................7<br />
CAPÍTULO 1<br />
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: REFLETINDO POSSIBILIDADES ......................10<br />
CAPÍTULO 2<br />
A TERCEIRIZAÇÃO: HISTÓRICO, CONCEITOS E CRÍTICAS ..............................17<br />
CAPÍTULO 3<br />
PESQUISA DE CAMPO:ASPECTOS METODOLÓGICOS, APRESENTAÇÃO E<br />
ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS ................................................................... 22<br />
3.1 A natureza da pesquisa e <strong>de</strong>limitação do problema .................................... 23<br />
3.2 Técnicas utilizadas na pesquisa ......................................................................23<br />
3.3 O viver da pesquisa ...........................................................................................26<br />
3.4 Analise dos dados coletados ...........................................................................28<br />
CONCLUSÃO .......................................................................................................33<br />
REFERÊNCIAS .......................................................................................<br />
ANEXO ......................................................................................................
RESUMO<br />
O que percebemos hoje é o crescente <strong>processo</strong> da terceirização que ocorre<br />
em todo o mundo, quase todos os serviços hoje já po<strong>de</strong>m ser terceirizados. A<br />
Educação Física está entrando nessa nova or<strong>de</strong>m, em Feira <strong>de</strong> Santana, esse<br />
<strong>processo</strong> se encontra ainda em fase inicial.<br />
O presente trabalho buscou respon<strong>de</strong>r essa realida<strong>de</strong> levantando a seguinte<br />
problemática: Quais as características e os possíveis problemas da terceirização na<br />
Educação Física Escolar?<br />
No sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitar a problemática <strong>de</strong> pesquisa, optamos em fazer uma<br />
investigação no Colégio Santo Antônio, com as turmas <strong>de</strong> voleibol infantil, crianças<br />
5ª a 7ª Série e han<strong>de</strong>bol – aberto, alunos <strong>de</strong> 5ª Série <strong>ao</strong> 2º ano científico.<br />
Utilizamos a pesquisa qualitativa, Alves (1991, p.54) e fizemos uso das<br />
seguintes técnicas <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados: Observação Simples (GIL, 1999) Entrevista<br />
Semi-estruturada (TRIVIÑOS, 1994, p. 146)e Análise Documental (Lüdke e André,<br />
1986).<br />
Analisamos o <strong>processo</strong> <strong>de</strong> terceirização e sua relação com a Educação Física<br />
<strong>escolar</strong>. Buscamos para isso formar um quadro teórico Terceirização / Educação<br />
Física. Observamos que na Educação Física <strong>de</strong>ve ser entendida como componente<br />
curricular sendo valorizado como qualquer disciplina e que ocorre uma terceirização<br />
da principal ativida<strong>de</strong> da empresa (escola) que é educar, contrapondo <strong>de</strong>ssa<br />
maneira os <strong>de</strong>fensores da terceirização, visto que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a terceirização apenas<br />
das ativida<strong>de</strong>s secundarias.<br />
I<strong>de</strong>ntificamos algumas das características da terceirização da Educação Física<br />
<strong>escolar</strong> como: não ter características <strong>de</strong> disciplina pertencente <strong>ao</strong> currículo básico,<br />
a inexistência <strong>de</strong> interdisciplinarida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntre outras características.<br />
Refletimos sobre esse <strong>processo</strong> <strong>de</strong> terceirização que precariza as relações <strong>de</strong><br />
trabalho afetando diretamente o trabalhador, reduzindo seus salários e seus direitos<br />
trabalhistas.<br />
O referente trabalho foi realizado em apenas uma escola não é nosso <strong>de</strong>sejo<br />
que esses estudos sejam tomados como verda<strong>de</strong>s absolutas por compreen<strong>de</strong>r que a<br />
realida<strong>de</strong> vivenciada durante os estudos <strong>de</strong> campo é muito particular.
INTRODUÇÃO<br />
O que percebemos hoje é o crescente <strong>processo</strong> da terceirização que ocorre<br />
em todo o mundo, são terceirizados serviços <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> produtos, limpeza,<br />
segurança, restaurante, manutenção predial, transporte <strong>de</strong> funcionários, etc. Existe<br />
uma tendência em se terceirizar. Hoje encontramos um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />
ativida<strong>de</strong>s, não apenas os serviços, mas também áreas como produção, assessoria,<br />
vendas, informática, até mesmo pesquisas são terceirizadas. A Educação Física<br />
<strong>escolar</strong> está se encaminhando para essa tendência <strong>de</strong> mercado.<br />
Em Feira <strong>de</strong> Santana, esse <strong>processo</strong> se encontra ainda em fase inicial, pois<br />
muitas escolas ainda possuem em seus quadros <strong>de</strong> funcionários, professores <strong>de</strong><br />
<strong>educação</strong> <strong>física</strong>. Porém, algumas aca<strong>de</strong>mias passaram a oferecer às escolas<br />
serviços <strong>de</strong> ginástica, musculação, além <strong>de</strong> práticas esportivas como: Futebol,<br />
Voleibol, Han<strong>de</strong>bol, <strong>de</strong>ntre outras modalida<strong>de</strong>s esportivas.<br />
A escola tem um profissional <strong>de</strong> <strong>educação</strong> <strong>física</strong> , no entanto, o mesmo não<br />
tem mais vínculo empregatício com a escola, ficando subordinado à empresa<br />
prestadora <strong>de</strong> serviço.<br />
Diante <strong>de</strong>sta realida<strong>de</strong> complexa que o professor se encontra é que pretendo<br />
investigar. Quais as características e os possíveis problemas da terceirização na<br />
Educação Física?<br />
No sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitar a problemática <strong>de</strong> pesquisa, optamos em fazer uma<br />
investigação no Colégio Santo Antônio, com as turmas <strong>de</strong> voleibol infantil, crianças<br />
5ª a 7ª Série e han<strong>de</strong>bol – aberto, alunos <strong>de</strong> 5ª Série <strong>ao</strong> 2º ano científico, uma média<br />
<strong>de</strong> 20 alunos por turma. É importante salientar que a Educação Física está dividida,<br />
nessa escola, entre ativida<strong>de</strong>s esportivas (voleibol, futebol e han<strong>de</strong>bol), ginástica,<br />
musculação, lutas marciais. O aluno, então, escolhe alguma <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s<br />
durante a unida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ndo escolher outra ativida<strong>de</strong> na unida<strong>de</strong> seguinte.<br />
Neste sentido, os nossos objetivos <strong>de</strong> pesquisa são os seguintes:<br />
• Analisar o <strong>processo</strong> <strong>de</strong> Terceirização e sua relação com a Educação Física<br />
<strong>escolar</strong>;
• I<strong>de</strong>ntificar as características da terceirização da Educação Física <strong>escolar</strong>;<br />
• Refletir sobre as possíveis consequências <strong>de</strong>ste <strong>processo</strong>.<br />
O presente trabalho, é relevante, na medida que, busca caracterizar e<br />
i<strong>de</strong>ntificar possíveis problemas, principalmente <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pedagógica, surgidos com<br />
a terceirização da Educação Física <strong>escolar</strong> e procura refletir, a luz da teoria crítico-<br />
social – <strong>de</strong>fendida por educadores como Dermeval Saviani, tem como principal<br />
característica, formar alunos socialmente ativos e críticos - o papel da <strong>educação</strong><br />
<strong>física</strong> <strong>de</strong>ntro da escola, a partir <strong>de</strong>sse nova realida<strong>de</strong>. Acreditamos que esse<br />
<strong>processo</strong> <strong>de</strong> terceirização <strong>de</strong>ve ser <strong>mel</strong>hor estudado e compreendido, pois é algo<br />
recente <strong>de</strong>ntro do contexto <strong>escolar</strong> e só através do entendimento da realida<strong>de</strong> que<br />
nos cerca é que po<strong>de</strong>remos enfrentar as problemáticas e propor soluções.<br />
Enten<strong>de</strong>mos também que a Educação Física é um disciplina que tem sua<br />
importância no contexto <strong>escolar</strong> e <strong>de</strong>ve ser valorizada como qualquer outra<br />
disciplina.<br />
Não temos conhecimento <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong>ssa natureza, visto que a<br />
terceirização da <strong>educação</strong> <strong>física</strong> no âmbito <strong>escolar</strong> é algo recente, mesmo assim é<br />
importante investigarmos essa temática porque ela possibilita uma discussão acerca<br />
<strong>de</strong> como a Educação Física está sendo vista <strong>de</strong>ntro das escolas e sobre um<br />
<strong>processo</strong> mais amplo que extrapola o universo <strong>de</strong> nossa área <strong>de</strong> conhecimento, a<br />
flexibilização do trabalho e suas consequências.<br />
Para atingir os objetivos propostos, optamos por uma a pesquisa <strong>de</strong> natureza<br />
qualitativa por enten<strong>de</strong>r que o ambiente <strong>escolar</strong> e os atores que compõem tal<br />
ambiente, professores, alunos, coor<strong>de</strong>nação pedagógica e direção, não po<strong>de</strong>m ser<br />
entendidos, interpretados e pesquisados apenas por uma pesquisa quantitativa, pois<br />
segundo Alves (1991, p.54), a pesquisa qualitativa:<br />
parte do pressuposto <strong>de</strong> que as pessoas agem em função <strong>de</strong> suas crenças,<br />
percepções, sentimentos e valores e seu comportamento tem sempre um sentido,<br />
um significado que não se dá a conhecer <strong>de</strong> modo imediato, precisando ser<br />
<strong>de</strong>svelado<br />
Fizemos uso das seguintes técnicas <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados: Observação<br />
Simples, Entrevista Semi-estruturada e Análise Documental
No primeiro Capítulo - Educação Física Escolar: refletindo possibilida<strong>de</strong>s -<br />
buscamos fazer um passeio histórico pela Educação Física, compreendo um pouco<br />
do quanto já foi percorrido até os momento e posteriormente refletir sobre possíveis<br />
caminhos que possam fundamentar tal prática nas escolas, nos dias <strong>de</strong> atuais, como<br />
componente curricular.<br />
No segundo Capítulo - A Terceirização: histórico, conceitos e críticas –<br />
falamos sobre a origem da terceirização, seus conceitos e alguns críticas. Até que<br />
ponto, realmente, a Terceirização visa concentrar as atenções da empresa para sua<br />
ativida<strong>de</strong> principal?<br />
Druck (1997, p. 126) escreve sobre a existência <strong>de</strong> uma forma nova <strong>de</strong><br />
Terceirização, passar para terceiros as áreas produtivas ou a “ativida<strong>de</strong>-afim” das<br />
empresas do setor industrial. A Educação Física está sendo ou não ativida<strong>de</strong><br />
principal da escola, nesse contexto <strong>de</strong> Terceirização?<br />
São algumas das indagações que surgiram durante a pesquisa e que<br />
tentaremos respon<strong>de</strong>r.<br />
No terceiro e último Capítulo - Pesquisa <strong>de</strong> Campo: aspectos metodológicos,<br />
apresentação e análise dos dados coletados – procuramos justificar o porquê <strong>de</strong><br />
uma pesquisa <strong>de</strong> natureza qualitativa e suas técnicas <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados.<br />
Apresentamos os dados coletados no campo <strong>de</strong> pesquisa, o Colégio Santo Antônio<br />
e fizemos a análise dos dados, buscando respon<strong>de</strong>r a problemática central da<br />
pesquisa. Além disso, buscamos através <strong>de</strong> um diário <strong>de</strong> bordo registrar momentos<br />
marcantes da pesquisa que está no tópico – O viver da pesquisa.<br />
O referente trabalho foi realizado em apenas uma escola. Não é nosso<br />
<strong>de</strong>sejo que esses estudos sejam tomados como verda<strong>de</strong>s absolutas por<br />
compreen<strong>de</strong>r que a realida<strong>de</strong> vivenciada durante os estudos <strong>de</strong> campo é muito<br />
particular.<br />
Não preten<strong>de</strong>mos apresentar propostas concretas ou <strong>de</strong>finitivas, no entanto<br />
po<strong>de</strong>mos <strong>ao</strong> final do estudo sugerir diretrizes preliminares, levando o leitor à reflexão<br />
sobre possíveis problemas advindos com a terceirização.
CAPÍTULO 1<br />
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR:<br />
REFLETINDO POSSIBILIDADES
Para analisarmos um caminho possível <strong>de</strong> ser trilhado pelos professores<br />
<strong>de</strong> Educação Física, antes temos que compreen<strong>de</strong>r um pouco do quanto já foi<br />
percorrido. Para cumprir esse objetivo, buscaremos fazer inicialmente um<br />
passeio histórico pela Educação Física.<br />
Soares et al (1992) cita que os exercícios físicos, no âmbito <strong>escolar</strong>,<br />
enquanto jogos, dança, ginásticas, equitação, surgem na Europa em meados do<br />
século XVIII e início do século XIX. Foi durante esse período que se construiu e se<br />
consolidou a socieda<strong>de</strong> capitalista e a Educação Física teria um papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque,<br />
pois “Para essa nova socieda<strong>de</strong>, tornava-se necessário ‘construir’ um novo homem:<br />
mais forte, mais ágil, mais empreen<strong>de</strong>dor”. (SOARES et al, 1992, p. 51)<br />
É a chamada Educação Física Higienista, o exercício físico visto sob uma<br />
ótica simplista <strong>de</strong> cuidados com o corpo, exclusivamente como fator higiênico, como<br />
tomar banho, escovar os <strong>de</strong>ntes, lavar as mãos.<br />
Soares et al (1992) afirma que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XVIII existe uma preocupação<br />
em se incluir os exercícios físicos nos currículos <strong>escolar</strong>es, visto alguns escritos <strong>de</strong><br />
pensadores da época como J.J. Rousseau, Guths Muths, J.B. Basedow e Pestalozzi.<br />
As Escolas <strong>de</strong> Ginástica alemãs contribuem muito para essa inclusão, pois se<br />
difun<strong>de</strong>m por países da Europa e da América e pressionam a inclusão da ginástica<br />
nas escolas, esta entendida enquanto Educação Física.<br />
Porém, a ginástica realizada por estas escolas <strong>de</strong> ginástica alemãs não era<br />
própria para estudantes, e foram então criados os Métodos Ginásticos: o Suéco, o<br />
Francês e o Alemão. De acordo com Soares et al (1992), a partir da criação <strong>de</strong>sses<br />
métodos, a Educação Física começou a garantir um espaço <strong>de</strong> respeito e<br />
consi<strong>de</strong>ração perante os <strong>de</strong>mais componentes curriculares. Estes Métodos tinham<br />
sua base científica apoiada nas ciências biológicas, vemos isso claramente na<br />
elaboração das séries dos exercícios, no seu tempo <strong>de</strong> duração e no <strong>de</strong>scanso que<br />
é dado após seu término.<br />
As aulas <strong>de</strong> Educação Física eram ministradas por homens do exército, que<br />
traziam consigo todo o rigor, disciplina e hierarquia das instituições militares.<br />
Percebemos uma forte influência na Educação Física Brasileira <strong>de</strong>sses métodos<br />
ginásticos, na primeira meta<strong>de</strong> do século passado e também influência da Instituição<br />
Militar.
era:<br />
Segundo Soares et al (1992, p. 53), o entendimento <strong>de</strong> Educação Física,<br />
Nesse período, a Educação Física <strong>escolar</strong> era entendida como ativida<strong>de</strong><br />
exclusivamente prática, fato este que contribuiu para não diferenciá-la da instrução<br />
<strong>física</strong> militar. Certamente, também não houve uma ação teórico-prática <strong>de</strong> crítica<br />
<strong>ao</strong> quadro apontado, no sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver um corpo <strong>de</strong> conhecimento<br />
científico que pu<strong>de</strong>sse imprimir uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> pedagógica à Educação Física no<br />
currículo <strong>escolar</strong>.<br />
Até o início dos anos 40, os professores <strong>de</strong> Educação Física que trabalhavam<br />
nas escolas eram formados por instituições militares. Somente em 1939 foi criada a<br />
primeira escola civil <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> professores <strong>de</strong> Educação Física (Brasil,<br />
Decreto-lei nº 1212, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1939).<br />
Po<strong>de</strong>mos resumir essa primeira meta<strong>de</strong> do século XX com o seguinte<br />
parágrafo dos Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física (1998, p. 21):<br />
No século XX, a Educação Física <strong>escolar</strong> sofreu, no Brasil, influências <strong>de</strong><br />
correntes <strong>de</strong> pensamento filosófico, tendências políticas, científicas e<br />
pedagógicas. Assim, até a década <strong>de</strong> 50, a Educação Física ora sofreu influências<br />
provenientes da filosofia positivista, da área médica (por exemplo, o higienismo),<br />
<strong>de</strong> interesses militares (nacionalismo, instrução pré-militar), ora acompanhou as<br />
mudanças no próprio pensamento pedagógico (por exemplo, a vertente escolanovista<br />
na década <strong>de</strong> 50).<br />
Após a Segunda Guerra Mundial, os métodos ginásticos começaram a per<strong>de</strong>r<br />
espaço nas escolas para o Método Desportivo Generalizada, visto que esse, <strong>ao</strong><br />
contrário do anterior, não possuía movimentos uniformes, fechados, “calistênicos”,<br />
sendo <strong>de</strong>ssa maneira mais motivante a sua prática. Se proliferou por todos os<br />
países, sob influência da cultura européia como elemento predominante nas práticas<br />
corporais. Po<strong>de</strong>mos creditar esse fato a Guerra Fria, pois igualmente os países do<br />
Bloco Socialista e do Bloco Capitalista começaram a investir mais no Esporte,<br />
acreditando ser, este, um meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>mostrar a superiorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um sistema sobre o<br />
outro.<br />
A influência do esporte <strong>de</strong>ntro da escola é tão gran<strong>de</strong> que “ temos, então, não<br />
o esporte da escola mas sim o esporte na escola” (SOARES et al, 1992, p. 53)<br />
Percebamos que não é apenas uma mudança semântica “na” e “da”, pois<br />
constituir o “esporte na escola”, é trazer todos os valores do esporte <strong>de</strong> competição,
com suas regras sacralizadas, a racionalização <strong>de</strong> procedimentos e técnicas <strong>de</strong><br />
jogo. Enquanto que o “esporte da escola” é uma proposta mais viável e a<strong>de</strong>quada<br />
para o âmbito <strong>escolar</strong>, pois é o esporte construído nas relações cotidianas entre os<br />
alunos e o professor, construindo regras, fazendo com que o jogo esteja a favor dos<br />
educandos e não o inverso. Os alunos são os sujeitos do <strong>processo</strong>, autônomos e<br />
críticos, e não objetos subordinados <strong>ao</strong> jogo.<br />
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física (1998, p. 21),<br />
po<strong>de</strong>mos ilustrar bem esse período:<br />
Mais recentemente, na década <strong>de</strong> 70, a Educação Física sofreu, mais uma vez,<br />
influências importantes no aspecto político. O governo militar investiu nessa<br />
disciplina em função <strong>de</strong> diretrizes pautadas no nacionalismo, na integração (entre<br />
os Estados) e na segurança nacionais, objetivando tanto a formação <strong>de</strong> um<br />
exército composto por uma juventu<strong>de</strong> forte e saudável como a <strong>de</strong>smobilização das<br />
forças políticas oposicionistas. As ativida<strong>de</strong>s esportivas também foram<br />
consi<strong>de</strong>radas importantes na <strong>mel</strong>horia da força <strong>de</strong> trabalho para “o milagre<br />
econômico brasileiro”. Nesse período, estreitaram-se os vínculos entre esporte e<br />
nacionalismo. Um bom exemplo é o uso que se fez da campanha da seleção<br />
brasileira <strong>de</strong> futebol, na Copa do Mundo <strong>de</strong> 1970.<br />
Busca-se então a eficiência e eficácia no esporte, através do aperfeiçoamento<br />
do gesto motor, <strong>de</strong>nominada <strong>de</strong> pedagogia tecnicista, que imperou durante o<br />
período pós-70.<br />
Segundo Soares et al (1992, p. 55 e 56), nas décadas <strong>de</strong> 70 e 80 emergem<br />
movimentos “renovadores” na Educação Física como a Psicomotricida<strong>de</strong>, a<br />
pedagogia humanista e um movimento chamado Esporte Para todos ( EPT). A<br />
psicomotricida<strong>de</strong> privilegia o estímulo <strong>ao</strong> <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor, a<br />
estruturação do esquema corporal e as aptidões motoras. Na pedagogia humanista,<br />
o conteúdo passa a ser meio para promover relações interpessoais e facilitar o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento da natureza, “em si boa”, da criança. E no EPT , a antropologia<br />
serve <strong>de</strong> base, colocando a autonomia do ser humano no centro.<br />
Após termos percorrido este passeio histórico pela Educação Física, temos<br />
que salientar, antes <strong>de</strong> refletirmos sobre os caminhos que possam fundamentar tal<br />
prática nas escolas nos dias atuais, que <strong>de</strong>vido a toda essa história da Educação<br />
Física e também a professores incompetentes, com posturas ina<strong>de</strong>quadas<br />
pedagógica, metodológica e politicamente, é que a Educação Física possui esse<br />
<strong>de</strong>scrédito. Por ser consi<strong>de</strong>rada disciplina meramente prática, <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> uma
teoria, consi<strong>de</strong>rada não intelectual e pela pesquisa em Educação Física através da<br />
pós-graduação ter se instalado no Brasil, somente a pouco mais <strong>de</strong> 15 anos, a<br />
Educação Física, vem per<strong>de</strong>ndo cada vez mais espaço no sistema <strong>de</strong> ensino na<br />
escolas públicas, em alguns escolas se tornou totalmente teórica e nas particulares<br />
está surgindo esse <strong>processo</strong> <strong>de</strong> Terceirização.<br />
Refletindo sobre os caminhos a percorrer, a Educação Física <strong>de</strong>ve ser<br />
compreendida enquanto componente curricular da escola, que possui saberes e<br />
conhecimentos, <strong>de</strong>vendo ser valorizada como qualquer outra disciplina.<br />
Segundo Bracht 1 :<br />
(...) a hegemonia do conhecimento científico na escola precisa permitir outros<br />
saberes, e é nisso, só na medida em que se reconhece outros saberes que não<br />
saberes <strong>de</strong> caráter conceitual, <strong>de</strong> caráter intelectual, é que nós temos uma chance<br />
<strong>de</strong> nos afirmarmos lá no currículo <strong>escolar</strong>.<br />
Esses “outros saberes” <strong>de</strong> que fala Bracht é o conhecimento que trata a<br />
Educação Física, a Cultura Corporal, Soares et al, ( 1992, p. 38) afirma que, são<br />
“(...) formas <strong>de</strong> representação do mundo que o homem tem produzido no <strong>de</strong>correr da<br />
história, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios<br />
ginásticos, esporte, malabarismo, contorcionismos, mímica e outros (...)”.<br />
Então, Educação Física é uma prática pedagógica, que na escola, busca<br />
refletir sobre a cultura corporal, que são as expressões corporais anteriormente<br />
citadas: jogos, esportes, ginástica, dança entre outras buscando assim contribuir<br />
para a autonomia e criticida<strong>de</strong> dos educandos.<br />
A reflexão sobre a cultura corporal na Educação Física Escolar busca<br />
também a análise sobre valores morais como: solidarieda<strong>de</strong>, cooperação, liberda<strong>de</strong>.<br />
Acredito que esses valores perpassam os jogos esportivos, as brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> roda,<br />
enfim, as ativida<strong>de</strong>s corporais como um todo e <strong>de</strong>vem ser plenamente trabalhados<br />
durante as aulas, pois vivemos num mundo em que os valores como o<br />
individualismo e a competição exacerbada imperam, <strong>de</strong>vendo ser combatidos <strong>de</strong>ntro<br />
do ambiente <strong>escolar</strong>.<br />
1 Legitimida<strong>de</strong> da Educação Física II: o retorno, esse texto foi base para uma intervenção no Congresso Espiritosantense<br />
<strong>de</strong> Educação Física realizado em Vitória/ ES em Dezembro <strong>de</strong> 1999, em mesa redonda que discutiu o<br />
tema “Saber e Fazer Pedagógicos: a Educação Física como componente curricular”.
Esse tipo <strong>de</strong> reflexão que a cultura corporal traz para análise contribui para<br />
que o aluno possua a noção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> classe, pois apresenta valores<br />
contrários <strong>ao</strong>s do sistema capitalista, valores como: individualismo, competivismo.<br />
Saber que esses conhecimentos foram produzidos e compartilhados pelos<br />
próprios homens, ententendo seus contextos <strong>de</strong> criação “ como respostas a<br />
<strong>de</strong>terminados estímulos, <strong>de</strong>safios ou necessida<strong>de</strong>s humanas” (SOARES et al, 1992,<br />
p.39). É fundamental para que o aluno entenda o seu papel como sujeito histórico<br />
capas <strong>de</strong> mudar a realida<strong>de</strong> vivida.<br />
Nessa abordagem, o professor enten<strong>de</strong> que esse homem brinca, dança, pula,<br />
não como indivíduo estanque, separado das relações socioculturais, mas como ser<br />
em contínua evolução, que outrora vivera outras brinca<strong>de</strong>iras, outras danças, outros<br />
movimentos e traz consigo todo esse conhecimento, não <strong>de</strong>vendo ser <strong>de</strong>sprezado.<br />
Tem, também, que olhar seu aluno por inteiro, “ser uno” e não dicotomizá-lo, corpo<br />
e mente. Deve olhar para além das qualida<strong>de</strong>s <strong>física</strong> e ver o ser humano<br />
socialmente construído.<br />
Pensando <strong>de</strong>ssa maneira, a Educação Física estará inserida em um projeto<br />
político-pedagógico <strong>de</strong> caráter crítico, on<strong>de</strong> cada disciplina e cada professor tem<br />
papel fundamental na formação dos alunos. Para tanto, o professor <strong>de</strong> <strong>educação</strong><br />
<strong>física</strong> <strong>de</strong>ve participar das reuniões pedagógicas, pois são nessas reuniões que são<br />
traçados planejamentos que darão o direcionamento que os professores <strong>de</strong>vem<br />
seguir. Po<strong>de</strong>mos afirmar empiricamente, que a participação dos professores <strong>de</strong><br />
<strong>educação</strong> <strong>física</strong> nessas reuniões não é uma prática comum nas escolas.<br />
Esse quadro que acabamos <strong>de</strong> analisar, sinteticamente, é que está servindo<br />
<strong>de</strong> justificativa para a tendência em se terceirizar a Educação Física Escolar, como<br />
se ela não fosse um aspecto importante, primário, a ser <strong>de</strong>senvolvido na escola.<br />
Integrada <strong>ao</strong>s outros componentes <strong>escolar</strong>es como condição indissociada do pleno<br />
<strong>de</strong>senvolvimento dos educandos que ali estão. É isto que abordaremos no próximo<br />
capítulo, a partir <strong>de</strong> um entendimento mais amplo sobre o <strong>processo</strong> <strong>de</strong> terceirização,<br />
<strong>de</strong> modo geral.
CAPÍTULO 2<br />
A TERCEIRIZAÇÃO:<br />
HISTÓRICO, CONCEITOS E<br />
CRÍTICAS
Terceirizar não é prática nova no mundo globalizado dos empreendimentos.<br />
Há muitos anos, nas empresas dos países <strong>de</strong>senvolvidos e no Brasil, se pratica a<br />
contratação via prestação <strong>de</strong> serviços, <strong>de</strong> empresas especializadas em ativida<strong>de</strong>s<br />
que não cabem ser <strong>de</strong>senvolvidas no ambiente interno da organização.<br />
O conceito foi introduzido como <strong>processo</strong> e técnica <strong>de</strong> gestão administrativa-<br />
operacional corrente nos países industrialmente competitivos, tendo se originado nos<br />
Estados Unidos da América (EUA), logo após a eclosão da II Gran<strong>de</strong> Guerra. “Já era<br />
uma idéia antiga que consolidou-se durante a Segunda Guerra Mundial”<br />
(LEITE,1994, p. 03). As indústrias bélicas tinham como <strong>de</strong>safio concentrar-se no<br />
<strong>de</strong>senvolvimento da produção <strong>de</strong> armas e munição, para serem usados contra os<br />
países do EIXO – Alemanha, Japão e Itália - e passaram a <strong>de</strong>legar algumas<br />
ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> suporte a empresas prestadoras <strong>de</strong> serviços por intermédio <strong>de</strong><br />
contrato.<br />
Posteriormente as empresas passaram por “tempos <strong>de</strong> mutação<br />
administrativa” (GIOSA, 1993, p. 12), concentrando todas as funções técnico-<br />
administrativas sob sua coor<strong>de</strong>nação e execução.<br />
No final dos anos 80, o mercado mostrou novos horizontes a serem<br />
percorridos, pois percebeu-se que o importante era satisfazer o cliente, tentando e<br />
tendo, para isso, que dar mais qualida<strong>de</strong> <strong>ao</strong> produto ou serviço prestado.<br />
Para se obter essa “qualida<strong>de</strong>” que o cliente exigia, era necessário conhecer<br />
o seu perfil, seu gosto, seus <strong>de</strong>sejos. As gran<strong>de</strong>s organizações encontravam-se<br />
<strong>de</strong>spreparadas, pois estavam acostumadas a ditar as tendências do mercado.<br />
Assim, as pequenas e médias empresas, mais ágeis e percebendo o momento <strong>de</strong><br />
mutação, aproveitaram-se da situação e começaram a conquistar fatias significativas<br />
do mercado.<br />
Segundo Leite (1994), as gran<strong>de</strong>s corporações reagiram a este <strong>processo</strong>,<br />
primeiramente, introduzindo o “downsizing”, que consiste na redução dos níveis<br />
hierárquicos na empresa. Foi necessário, então, para se diminuir o organograma,<br />
reduzir o número <strong>de</strong> cargos e agilizar a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, o que não significa<br />
cortes <strong>de</strong> pessoal.<br />
Essa nova organização da direção e seus setores <strong>de</strong>terminaram o<br />
enfrentamento <strong>de</strong> um outro paradigma, “questionar as ativida<strong>de</strong>s secundárias
executadas internamente e re<strong>de</strong>finir a verda<strong>de</strong>ira missão da empresa” (GIOSA,<br />
1993, p. 13).<br />
O passo seguinte seria respon<strong>de</strong>r <strong>ao</strong> questionamento: por que não re<strong>de</strong>finir o<br />
papel das empresas, passando para terceiros suas ativida<strong>de</strong>s secundárias e<br />
concentrando suas ações na sua ativida<strong>de</strong> primordial, obtendo com isso maiores<br />
benefícios?<br />
Surge então o “outsourcing”, expressão inglesa que significa transferir para<br />
outras empresas a responsabilida<strong>de</strong> pela coor<strong>de</strong>nação e execução <strong>de</strong> tarefas que<br />
não são o foco principal da atenção da organização, pois não fazem parte do seu<br />
negócio principal - “um neologismo que logo se firmou como uma das palavras da<br />
moda: terceirização” (LEITE, 1994, p. 03) . Essa expressão, ainda segundo Leite, foi<br />
criada na empresa gaúcha Riocell.<br />
A Terceirização, segundo Giosa ( 1993, p. 14):<br />
É um <strong>processo</strong> <strong>de</strong> gestão pelo qual se repassam algumas ativida<strong>de</strong>s para<br />
terceiros- com os quais se estabelece uma relação <strong>de</strong> parceria- ficando a<br />
empresa concentrada apenas em tarefas essencialmente ligadas <strong>ao</strong> negócio em<br />
que atua.<br />
Até que ponto, realmente, a Terceirização visa concentrar as atenções da<br />
empresa para sua ativida<strong>de</strong> principal?<br />
Druck (1997, p. 126) escreve sobre a existência <strong>de</strong> uma forma nova <strong>de</strong><br />
terceirização que é a terceirização das áreas produtivas ou na “ativida<strong>de</strong>-afim” das<br />
empresas do setor industrial. Esse tipo <strong>de</strong> terceirização contrapõe os argumentos<br />
dos <strong>de</strong>fensores da sua prática. Ainda segundo Druck, esse tipo <strong>de</strong> Terceirização:<br />
(...) <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um recurso que busca maior especialização e qualida<strong>de</strong>,<br />
racionalizando a gestão da produção e do trabalho (...), para se transformar<br />
numa prática que busca a redução <strong>de</strong> custos, transferindo gastos com salários,<br />
encargos sociais e, sobretudo, responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gestão.”<br />
Po<strong>de</strong>mos transportar as afirmações anteriores para o universo <strong>escolar</strong> e<br />
analisarmos que a ativida<strong>de</strong> principal da escola é ensinar. No entanto, a realida<strong>de</strong><br />
nos mostra que, também, é preocupação das escolas particulares a obtenção <strong>de</strong><br />
lucro com a <strong>educação</strong>. Na maioria das vezes, essa preocupação, supera o ato <strong>de</strong><br />
educar, dando margem <strong>ao</strong> aparecimento <strong>de</strong>sse <strong>processo</strong> <strong>de</strong> terceirização da<br />
Educação Física <strong>escolar</strong>.
Analisando a relação entre Terceirização e Educação Física, percebemos que<br />
é um <strong>processo</strong> ainda em fase inicial, mas que tem objetivos claros bem traçados,<br />
concentrar a administração, planejamento e execução das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>stinadas <strong>ao</strong><br />
professor <strong>de</strong> Educação Física com apoio da coor<strong>de</strong>nação pedagógica, a uma<br />
empresa prestadora <strong>de</strong> serviço, reduzindo custos, encargos e tempo gasto pela<br />
direção e coor<strong>de</strong>nação da escola na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões.<br />
Outra reflexão que po<strong>de</strong>mos fazer é, a Educação Física está sendo ou não<br />
ativida<strong>de</strong> principal da escola, nesse contexto <strong>de</strong> Terceirização?<br />
A resposta, acredito que é, não. Não está sendo ativida<strong>de</strong> principal da escola,<br />
pois ela não está sendo vista enquanto componente curricular e sim como ativida<strong>de</strong><br />
<strong>escolar</strong>.<br />
Hoje, a terceirização é consi<strong>de</strong>rada, por uma gran<strong>de</strong> parcela dos intelectuais<br />
das ciências sociais, uma mo<strong>de</strong>rna técnica <strong>de</strong> administração que tem como único<br />
objetivo atingir <strong>mel</strong>hores resultados, concentrando toda a atenção e trabalho da<br />
empresa para a sua principal ativida<strong>de</strong>.<br />
.<br />
Contraponho-me à afirmação anterior, pois segundo Santos (2000), as<br />
ciências sociais per<strong>de</strong>m cada vez mais a influência da filosofia - incluo também a<br />
sociologia – buscando inspiração na economia, tornando a ciência econômica “uma<br />
disciplina da administração das coisas <strong>ao</strong> serviço <strong>de</strong> um sistema i<strong>de</strong>ológico” e<br />
segue dizendo que: “É assim que se implantam novas concepções sobre o valor a<br />
atribuir a cada objeto, a cada indivíduo, a cada relação, a cada lugar, legitimando<br />
novas modalida<strong>de</strong>s e novas regras da produção e do consumo (...)” (SANTOS, 2000,<br />
p. 47 ).<br />
A terceirização segue essa lógica justificada por esse discurso cientifico, que<br />
por sua vez é justificado por quadros estatísticos comparativos, que na ilusão dos<br />
números, camuflam a realida<strong>de</strong> cotidiana.<br />
Segundo, Santos ( 2000, p. 53 ):<br />
(...)as técnicas hegemônicas atuais são todas elas, filhas da ciência, e como sua<br />
utilização se dá <strong>ao</strong> serviço do mercado, esse amálgama produz um i<strong>de</strong>ário da<br />
técnica e do mercado que é santificado pela ciência, consi<strong>de</strong>rada, ela própria,<br />
infalível.<br />
No Brasil, a terceirização surgiu sobre outra ótica, não como uma forma <strong>de</strong><br />
prestar serviços <strong>de</strong> <strong>mel</strong>hor qualida<strong>de</strong> <strong>ao</strong> cliente e sim <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> custos para as
empresas <strong>de</strong>vido à recessão. Por outro lado, novas empresas foram criadas para<br />
suprir as <strong>de</strong>mandas das empresas carentes <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> terceiros. Com isso, mais<br />
empregos foram criados, reduzindo assim os efeitos que contribuíram para o<br />
surgimento <strong>de</strong> tais empresas - a recessão.<br />
A afirmação anterior <strong>de</strong>ve ser <strong>mel</strong>hor analisada, pois foi ocorrendo uma<br />
proporcional diminuição dos salários, à medida em que a terceirização foi ocorrendo,<br />
não caracterizando esse esforço para reduzir a recessão. Se uma empresa está<br />
pagando para outra administrar uma <strong>de</strong>terminada ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua<br />
corporação, e isso está sendo lucrativo e mais econômico do que através <strong>de</strong><br />
funcionários próprios, po<strong>de</strong>rá significar que esses funcionários estão ganhando um<br />
salário menor do que se estivessem ligados diretamente à empresa.<br />
Também a Terceirização é um <strong>processo</strong> que visa <strong>de</strong>sobrigar a empresa do<br />
pagamento <strong>de</strong> encargos sociais, pois seus funcionários, na função terceirizada, não<br />
são mais contratados por ela e sim por outra empresa que presta o serviço.<br />
Segundo uma pesquisa 2 do DIEESE – Departamento Intersindical <strong>de</strong><br />
Estatística e Estudos Sócio-econômicos (1993, citada por Druck, 1997), os padrões<br />
salariais <strong>de</strong> quem trabalha nas terceiras, segundo as informações <strong>de</strong> 67,5% dos<br />
entrevistados, são bem inferiores <strong>ao</strong>s das empresas contratante. Além disso, em<br />
72,5%, dos casos os benefícios sociais são menores que os da empresa cliente.<br />
Segundo Giosa (1993, p.13), “(...) o brasileiro, amplamente pesquisado,<br />
<strong>de</strong>finiu há alguns anos atrás seu perfil, respon<strong>de</strong>ndo que o ‘seu principal sonho’ era<br />
abrir uma empresa, ser dono do seu próprio negócio”.<br />
Todos os motivos já citados permitiram, no Brasil, a acelerada difusão da<br />
Terceirização através da propagação pela mídia, passando a fazer parte do<br />
cotidiano do brasileiro nas ações concretas do dia-dia.<br />
Todavia, temos que refletir pois, não po<strong>de</strong>mos a<strong>de</strong>rir, nem justificar formas <strong>de</strong><br />
trabalho que são contrárias à vida humana.<br />
2 Pesquisa realizada com trabalhadores <strong>de</strong> 40 empresas que possuem alguma forma <strong>de</strong> terceirização, a maioria<br />
localizada da região Su<strong>de</strong>ste do país.
CAPÍTULO 3<br />
PESQUISA DE CAMPO:<br />
ASPECTOS METODOLÓGICOS,<br />
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS<br />
DADOS COLETADOS
3.1 A natureza da pesquisa e <strong>de</strong>limitação do problema<br />
A pesquisa ora apresentada tem como característica ser uma pesquisa <strong>de</strong><br />
natureza qualitativa – um estudo <strong>de</strong> campo- que segundo Gil (1999), procura o<br />
aprofundamento das questões propostas, estuda-se um único <strong>grupo</strong> ou comunida<strong>de</strong><br />
em termos <strong>de</strong> sua estrutura social ou seja, ressaltando a interação <strong>de</strong> seus<br />
componentes, também o planejamento do estudo <strong>de</strong> campo apresenta flexibilida<strong>de</strong>,<br />
po<strong>de</strong>ndo ocorrer mesmo que seus objetivos sejam reformulados. Optamos por essa<br />
expressão “Pesquisa Qualitativa” por enten<strong>de</strong>r que possui abrangência suficiente<br />
para englobar as múltiplas variantes (naturalista, estudo <strong>de</strong> caso, humanista,<br />
hermenêutica, i<strong>de</strong>ográfica, construtivista, entre outras)<br />
Enten<strong>de</strong>mos que uma pesquisa qualitativa é fundamental, pois abrirá<br />
possibilida<strong>de</strong>s maiores <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>rmos o fenômeno proposto. Adotado-a por<br />
enten<strong>de</strong>r que o ambiente <strong>escolar</strong> e os atores que compõem tal ambiente,<br />
professores, alunos, coor<strong>de</strong>nação pedagógica e direção, não po<strong>de</strong>m ser entendidos,<br />
interpretados e pesquisados apenas por uma pesquisa quantitativa, pois segundo<br />
Alves (1991, p.54), a pesquisa qualitativa:<br />
parte do pressuposto <strong>de</strong> que as pessoas agem em função <strong>de</strong> suas crenças,<br />
percepções, sentimentos e valores e seu comportamento tem sempre um sentido,<br />
um significado que não se dá a conhecer <strong>de</strong> modo imediato, precisando ser<br />
<strong>de</strong>svelado<br />
Buscou-se durante o trabalho, respon<strong>de</strong>r a seguinte questão: quais as<br />
características e os possíveis problemas da terceirização na Educação Física?<br />
No sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitar a problemática <strong>de</strong> pesquisa, optamos em fazer uma<br />
investigação no Colégio Santo Antônio, com as turmas <strong>de</strong> voleibol infantil, crianças<br />
5ª a 7ª Série e han<strong>de</strong>bol – aberto, alunos <strong>de</strong> 5ª Série <strong>ao</strong> 2º ano científico.<br />
3.2 Técnicas utilizadas na pesquisa<br />
Para alcançarmos os objetivos propostos no trabalho procuramos variar as<br />
técnicas <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados utilizadas. É importante em uma pesquisa <strong>de</strong> dimensão<br />
qualitativa ousar e tomar diversas formas <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> dados, pois, enriquece a<br />
análise dos dados e revela <strong>de</strong> forma mais ampliada o fenômeno pesquisado . Neste<br />
sentido, fizemos uso das seguintes técnicas:
Análise Documental<br />
É uma técnica <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados que segundo Caulley 3 (1981, citado por<br />
Lüdke e André, 1986), busca analisar informações factuais nos documentos a partir<br />
<strong>de</strong> questões ou hipóteses <strong>de</strong> interesse.<br />
São uma fonte permanente <strong>de</strong> dados e serve <strong>de</strong> base para diferentes<br />
estudos. Os documentos, por isso “(...) constituem também uma fonte po<strong>de</strong>rosa <strong>de</strong><br />
on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m ser retiradas evidências que fundamentem afirmações e <strong>de</strong>clarações do<br />
pesquisador”.<br />
Buscamos analisar o projeto pedagógico da escola e o projeto <strong>de</strong> implantação<br />
da Educação Física terceirizada, ressaltando os pontos <strong>de</strong> convergência e<br />
divergência existente entre ambos.<br />
Observação<br />
A observação <strong>de</strong>sempenha papel fundamental durante a pesquisa e segundo<br />
Gil (1999, p. 110), po<strong>de</strong> ser utilizada como instrumento <strong>de</strong> pesquisa quando:<br />
• serve a um objeto <strong>de</strong> pesquisa;<br />
• é sistematicamente planejada<br />
A principal vantagem da observação é ser uma técnica direta, on<strong>de</strong> os fatos<br />
são percebidos diretamente sem intermediações. Segundo Gil (1999, p. 110), <strong>de</strong>ssa<br />
maneira, “(...) a subjetivida<strong>de</strong>, que permeia todo o <strong>processo</strong> <strong>de</strong> investigação social,<br />
ten<strong>de</strong> a ser reduzida” .<br />
E, <strong>de</strong> acordo com o mesmo autor, quando é realizada a coleta <strong>de</strong> dados por<br />
observação, acontece posteriormente uma análise e interpretação dos fatos<br />
observados, isso confere a sistematização e o controle necessários para um<br />
procedimento científico.<br />
Optamos pela Observação Simples, “aquela em que o pesquisador,<br />
permanecendo alheio à comunida<strong>de</strong>, <strong>grupo</strong> ou situação que preten<strong>de</strong> estudar,<br />
observa <strong>de</strong> maneira espontânea os fatos que aí ocorrem.” (GIL, 1999, p. 111).
Sugerimos uma <strong>de</strong>scrição dos fatos observados, que procure captar não só a<br />
aparência do fenômeno mas a essência, procurando saber as causas da existência<br />
do problema, sua origem, suas relações, suas transformações e tentar intuir as<br />
consequências para vida humana.<br />
Durante 1 mês e 10 dias foram feitas observações das aulas, sendo<br />
registradas as ativida<strong>de</strong>s realizadas durante as aulas para análise do <strong>processo</strong><br />
pedagógico.<br />
Entrevista<br />
A entrevista, junto com a observação, é uma das principais técnicas <strong>de</strong>ntro da<br />
pesquisa qualitativa. Segundo Lüdke e André (1986), a entrevista tem uma gran<strong>de</strong><br />
vantagem sobre as outras técnicas, visto, que ela permite a captação imediata e<br />
corrente da informação <strong>de</strong>sejada, praticamente com qualquer tipo <strong>de</strong> informante e<br />
sobre os mais variados tópicos.<br />
Deve ser criado durante a entrevista um clima amigável entre quem pergunta<br />
e quem respon<strong>de</strong>, em especial nas entrevistas menos estruturadas, on<strong>de</strong> não há um<br />
rigor em seguir questões, ficando o entrevistado mais livre para discorrer sobre o<br />
tema proposto.<br />
Por essas razões <strong>de</strong>cidimos pela Entrevista Semi-estruturada, “(...) aquela<br />
que parte <strong>de</strong> certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que<br />
interessam à pesquisa, e que em seguida, oferecem amplo campo <strong>de</strong> interrogativas,<br />
fruto <strong>de</strong> novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas<br />
do informante”.(TRIVIÑOS, 1994, p. 146)<br />
Aplicamos a Entrevista Semi-estruturada <strong>ao</strong> professor que foi observado<br />
durante todo esse tempo, procurando obter mais informações sobre a relação <strong>de</strong>le<br />
com a escola, sobre o pensamento <strong>de</strong>le a respeito da terceirização e da Educação<br />
Física. ( Ver anexo)<br />
3.3 O viver da pesquisa<br />
3 Caulley, D. N. Document Analysis in Program Evaluation (Nº 60 na série Paper<br />
and Report Series of the Research on Evaluation Program). Portland, Or. Northwest
No dia, 18 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2001 fui <strong>ao</strong> campo <strong>de</strong> pesquisa pela primeira vez como<br />
pesquisador, digo como pesquisador, pois antes já a<strong>de</strong>ntrara muitas vezes o Colégio<br />
Santo Antônio, pois passara mais da meta<strong>de</strong> da minha vida naquelas salas <strong>de</strong> aula,<br />
durante 13 anos estu<strong>de</strong>i naquela escola, no tempo ainda, em que não era<br />
terceirizada a Educação Física. Foi <strong>de</strong>sta vez não como aluno, mas como<br />
pesquisador, com o intuito <strong>de</strong> pedir permissão à direção do colégio para prosseguir<br />
minha pesquisa.<br />
Fiquei alguns minutos na recepção, logo após fui recebido pela Profª. Isa, que<br />
me levou a sala da direção, posteriormente falei com a Profª. Lucila, expliquei a<br />
situação, ela me orientou a conversar com o Frei Monteiro - diretor do Colégio.<br />
Durante a conversa, o diretor foi bastante receptivo, <strong>de</strong>ixando livre meu acesso<br />
<strong>ao</strong> colégio para que <strong>de</strong>sse prosseguimento a minha pesquisa e também<br />
disponibilizou o projeto pedagógico da escola e o projeto <strong>de</strong> implantação da<br />
Educação Física terceirizada, além <strong>de</strong> fazer um breve histórico <strong>de</strong> como se iniciou o<br />
<strong>processo</strong> <strong>de</strong> terceirização da mesma. Nos contou que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano 2000 o projeto<br />
foi iniciado por uma empresa coor<strong>de</strong>nada pelo ex-professor <strong>de</strong> Educação Física da<br />
escola, que havia se aposentado. Falou também do receio inicial <strong>de</strong> se terceirizar tal<br />
disciplina, visto a legalida<strong>de</strong> ou não do fato.<br />
No dia 19/06/01 voltei <strong>ao</strong> campo <strong>de</strong> pesquisa com o objetivo <strong>de</strong> conhecer os<br />
professores e conversar com o dono da empresa prestadora <strong>de</strong> serviço <strong>de</strong> Educação<br />
Física, para que ambos permitissem que observasse as aulas ministradas.<br />
Conversei com dois professores, o Marcelo e o Antônio Carlos, e com já os<br />
conhecia. Não encontrei o dono da empresa que estava em sua aca<strong>de</strong>mia, fui então<br />
<strong>ao</strong> seu encontro. Reuni-me com o mesmo, que foi muito atencioso e receptivo,<br />
colocando os documentos necessários sob minha disposição, além <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />
observar as aulas.<br />
No dia seguinte, comecei então a observar as aulas <strong>de</strong> Educação Física.<br />
Observei 1 (uma) aula <strong>de</strong> han<strong>de</strong>bol e 1 (uma) outra <strong>de</strong> voleibol. Apresentei-me <strong>ao</strong><br />
professor Raimundo e expliquei que gostaria <strong>de</strong> observar as aulas <strong>de</strong>le, como parte<br />
<strong>de</strong> uma pesquisa sobre Terceirização da Educação Física. Ele <strong>de</strong>ixou claro que não<br />
Regional Educational Laboratory, 1981.
haveria problema algum. Tinha uma certeza, anotar tudo que meus olhos pu<strong>de</strong>ssem<br />
enxergar e tudo que meus ouvidos pu<strong>de</strong>ssem ouvir.<br />
ano.<br />
Entre os dias 21 <strong>de</strong> junho e 02 <strong>de</strong> julho ocorreu o recesso <strong>escolar</strong> do meio do<br />
No dia 04/07/01 voltei a observar as aulas, voltando a observar por mais 2<br />
(duas) vezes consecutivas, sempre as segundas e quartas-feiras.<br />
Durante um dia que não era <strong>de</strong> observação, fui até a escola e tirei cópias <strong>de</strong><br />
todo o material <strong>de</strong>sejado para a análise documental. Fiquei muito feliz, sabia , que<br />
tal material seria muito útil para a pesquisa ora <strong>de</strong>senvolvida.<br />
Observei por mais 2 (dois) dias as aulas <strong>de</strong> han<strong>de</strong>bol e voleibol, sendo que o<br />
último dia foi, 01 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2001. Durante esse período <strong>de</strong> observação não<br />
participei das ativida<strong>de</strong>s, me colocando como um simples observador, mas mesmo<br />
assim, alguns alunos logo no segundo dia <strong>de</strong> observação me perguntaram quem eu<br />
era e o que estava fazendo ali. Tratei <strong>de</strong> explicar que estava ali para fazer uma<br />
pesquisa. Soube que alguns alunos pensaram que eu era o novo professor <strong>de</strong> volei,<br />
não sei <strong>de</strong> on<strong>de</strong> eles tiraram isso! Acabei até criando algumas amiza<strong>de</strong>s.<br />
De alguma forma pertenci, por alguns momentos, à aquela realida<strong>de</strong>.<br />
Para finalizar minha passagem pelo campo <strong>de</strong> pesquisa, no dia 13 <strong>de</strong> agosto,<br />
entrevistei o professor que observei por todas essas aulas. Foi uma entrevista muito<br />
tranquila, estávamos sentados no sofá, em um dos corredores da escola, pena que<br />
a entrevista foi interrompida por 2 vezes por alguns alunos. Ao final da entrevista<br />
agra<strong>de</strong>ci <strong>ao</strong> professor por ter colaborado durante essa etapa do trabalho, a coleta <strong>de</strong><br />
dados.<br />
Ao final, alguns alunos perguntaram se eu voltaria à escola, já que meu<br />
trabalho estava se encerrando. Falei que voltaria, só não sabia quando...<br />
A simplicida<strong>de</strong> dos primeiros passos do investigador, tanto do noviço, como<br />
do experiente, po<strong>de</strong> conduzir o primeiro, o pesquisador incipiente, para<br />
apreciações equivocadas sobre o valor científico <strong>de</strong> seu trabalho. Este, por outro<br />
lado, marcado mais que outros tipos <strong>de</strong> pesquisa qualitativa, pela implicação do<br />
sujeito no <strong>processo</strong> e pelos resultados do estudo, exige severida<strong>de</strong> maior na<br />
observação, originalida<strong>de</strong>, coerência e consistência das idéias. (TRIVIÑOS, 1994,<br />
p. 134)
3.4 Analise dos dados coletados<br />
A Educação Física terceirizada, no Colégio Santo Antônio, tem como<br />
característica não ser uma disciplina pertencente <strong>ao</strong> currículo básico. Concluímos<br />
essa análise com base no projeto pedagógico da escola, que em uma das linhas <strong>de</strong><br />
ação era implantar o projeto da Educação Física, além <strong>de</strong> outros projetos como<br />
Informática e Educação Religiosa.<br />
Percebemos que o próprio Projeto Pedagógico da Escola coloca a Educação<br />
Física a margem das outras disciplinas, fora da gra<strong>de</strong> curricular e também<br />
i<strong>de</strong>ntificamos quando observamos no campo <strong>de</strong> pesquisa a maneira como ela está<br />
dividida e localizada, dividida em modalida<strong>de</strong>s esportivas, lutas , musculação e<br />
ginástica e localizada em turno oposto, trazendo apenas a idéia <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> <strong>física</strong>,<br />
algo complementar as aulas, à rotina <strong>escolar</strong>.<br />
Analisamos <strong>mel</strong>hor a afirmação anterior quando, na entrevista, o professor<br />
afirma na questão 4: “A gente vem aqui, presta o serviço da gente e apenas isso,<br />
não tem vínculos maiores até com a própria vida <strong>escolar</strong> do aluno.”<br />
Po<strong>de</strong>mos compreen<strong>de</strong>r nesse trecho da entrevista, que o entrevistado não<br />
coloca a Educação Física como disciplina pertencente a essa vida <strong>escolar</strong>, como<br />
parte do currículo, como componente curricular da escola. E quando o entrevistador<br />
comenta, que é preciso reconhecer que a Educação Física possui<br />
saberes/conhecimentos, não só a matemática e o português os tem, o entrevistado<br />
reforça: “É um prolongamento da sala <strong>de</strong> aula (a Educação Física), na realida<strong>de</strong><br />
porque a gente trabalha também com a saú<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> trabalhar com as notas do<br />
aluno em <strong>de</strong>terminadas matérias”<br />
E acabamos por i<strong>de</strong>ntificar outra problemática, não reconhecer que a Educação<br />
Física <strong>de</strong>ntro da escola é antes <strong>de</strong> tudo <strong>educação</strong>. Isso fica mais claro quando<br />
analisamos o documento <strong>de</strong> implantação da Terceirização da Educação Física no<br />
Colégio, em que, na justificativa do projeto, po<strong>de</strong>mos observar a presença da saú<strong>de</strong><br />
como principal argumentação para a existência da Educação Física/ Esporte nas<br />
escolas, quando cita:<br />
Não só no Colégio Santo Antônio mas, também em outros estabelecimentos <strong>de</strong><br />
Ensino tem acontecido a realização <strong>de</strong> pessoas e equipes que praticam o esporte<br />
como meio <strong>de</strong> convivência social, conservando a Saú<strong>de</strong> Física e liberação <strong>de</strong>
tensões causadas pelo ambiente <strong>de</strong> uma ecologia urbana com problemas variados<br />
<strong>de</strong> progresso tecnológicos.<br />
Penso que isso, é voltar no tempo da Educação Física Higienista, em que<br />
tínhamos que formar homens mais fortes, mais ágeis, mais resistentes, e hoje forma-<br />
se esse mesmo homem para uma socieda<strong>de</strong> que busca cada vez mais a<br />
produtivida<strong>de</strong> e a eficácia, transformando homens em máquinas que po<strong>de</strong>m pifar a<br />
qualquer momento - o stress.<br />
Porém, uma passagem do projeto pedagógico da escola, acaba por traçar um<br />
objetivo que não havia sido contemplado no projeto <strong>de</strong> implantação da terceirização.<br />
• “Estabelecer a coerência entre Educação e Educação Física no ensino<br />
fundamental e médio.”<br />
Vimos no Capítulo 1, que tratou da Educação Física, que o professor tem que<br />
olhar seu aluno por inteiro, “ser uno” e não dicotomizá-lo, corpo e mente. Deve olhar<br />
para além das qualida<strong>de</strong>s <strong>física</strong>s, e ver o ser humano socialmente construído.<br />
Seguindo a análise, a respeito da relação escola-terceirização, o documento <strong>de</strong><br />
implantação da Terceirização, na apresentação, nos traz primeiramente a submissão<br />
que a escola <strong>de</strong>ve ter em relação às leis <strong>de</strong> mercado, dizendo “(...) afim <strong>de</strong> tornar<br />
disponíveis no mercado no menor tempo possível, novos produtos e serviços, na luta<br />
pela competitivida<strong>de</strong> e sobrevivência.”<br />
Um exemplo disso, é incluir o Swing Baiano e as artes marciais ( Karatê, Jiu-<br />
Jitsu, Capoeira, Judô). Não sou contra a inclusão <strong>de</strong> tais modalida<strong>de</strong>s, até porque os<br />
próprios Parâmentros Curriculares Nacionais para a Educação Física trazem a<br />
dança e as lutas como conteúdos da Educação Física, mas eles <strong>de</strong>vem estar <strong>de</strong><br />
acordo com o projeto pedagógico da escola e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma proposta <strong>de</strong> Educação<br />
Física em que sejam trabalhados aspectos que levem os alunos a refletir sobre as<br />
práticas trabalhadas, valorizando a história <strong>de</strong>ssas modalida<strong>de</strong> e trazendo isso para<br />
a realida<strong>de</strong> cotidiana. O capoeira por exemplo <strong>de</strong>ve ser entendida, pelos alunos,<br />
como movimento <strong>de</strong> resistência dos negros contra a escravidão, trabalhando na<br />
criança a questão da liberda<strong>de</strong> e da autonomia. Deve ser dado um cunho<br />
pedagógico <strong>ao</strong>s conteúdos.<br />
Ainda, na apresentação do documento, introduz-se alguns i<strong>de</strong>ários <strong>de</strong>ssa nova<br />
fase do capitalismo.
Vejamos: “A<strong>de</strong>mais, seu trabalho <strong>de</strong>ve ser pautado em valores bem <strong>de</strong>finidos,<br />
estrutura organizacional enxuta e flexível, eficácia, gestão com perfil empresarial e<br />
clara <strong>de</strong>monstração dos benefícios para os clientes.” Percebamos que, no<br />
documento, já existe uma introdução <strong>de</strong> como se <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia o <strong>processo</strong> das<br />
terceiras.<br />
Quando analisamos a resposta dada para a questão 3 da entrevista, a respeito<br />
da visão do professor sobre o <strong>processo</strong> <strong>de</strong> terceirização, o professor acaba por nos<br />
mostrar a visão da escola e sem querer <strong>de</strong>nunciar todas as críticas, a esse<br />
<strong>processo</strong>, feitas no capítulo anterior <strong>de</strong>ssa monografia, e finaliza “ (...), o professor<br />
continua na empresa <strong>de</strong>le sem vínculo com o colégio, sem nada.”<br />
trabalho<br />
Vemos pelo quadro apresentado uma crescente precarização das relações <strong>de</strong><br />
Um outro problema da Educação Física terceirizada é a não participação do<br />
professor nos encontros pedagógicos e um consequente afastamento da<br />
coor<strong>de</strong>nação pedagógica. I<strong>de</strong>ntificamos isso quando comparamos as respostas<br />
dadas nas questões 2 e 4 da entrevista, percebemos que o serviço prestado por<br />
esse professor po<strong>de</strong>ria não ser o mesmo, caso existisse vínculo empregatício com o<br />
colégio, pois existiria um acompanhamento pedagógico feito pela coor<strong>de</strong>nação<br />
pedagógica. O próprio entrevistado i<strong>de</strong>ntifica essa problemática referente <strong>ao</strong><br />
<strong>processo</strong> <strong>de</strong> terceirização quando fala:<br />
“Acho que a única falha que nós temos em relação <strong>ao</strong> trabalho é justamente isso,<br />
é em termos <strong>de</strong> reuniões que nós não tomamos conhecimento do que se passa no<br />
colégio, apenas o colégio informa alguns avisos, alguma coisa, mas esse vínculo<br />
com o colégio, em termos <strong>de</strong> a gente saber <strong>de</strong> comportamento <strong>de</strong> aluno em sala<br />
<strong>de</strong> aula normal, notas, como é a vida <strong>escolar</strong> do aluno no colégio. A gente fica<br />
sem ter esse contato com o colégio.”<br />
A consequência da inexistência <strong>de</strong> contato com outros professores e com a<br />
própria coor<strong>de</strong>nação da escola gera um outro problema, a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
interdisciplinalida<strong>de</strong>. Após analisar o Projeto Pedagógico da escola, po<strong>de</strong>mos<br />
perceber que uma das metas do colégio era implementar junto a todos os<br />
professores a prática da interdisciplinalida<strong>de</strong>. Fazemos essa afirmação a partir <strong>de</strong><br />
techos do documento, como: “Será dada total abertura para as outras áreas, criar e
ecriar ativida<strong>de</strong>s em conjunto com a Ed. Física”. Po<strong>de</strong>mos apontar que essa meta<br />
não vem sendo alcançada com a Educação Física com base nas observações e na<br />
entrevista.
CONCLUSÃO<br />
Durante toda essa pesquisa tinha uma questão a ser respondida: quais as<br />
características e os possíveis problemas da terceirização na Educação Física<br />
Escolar?<br />
Procuramos, antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver a pesquisa, buscar referenciais teóricos<br />
que pu<strong>de</strong>ssem sustentar as respostas levantadas, <strong>de</strong>cidimos fazer um passeio<br />
histórico pela Educação Física, compreendo um pouco do quanto já foi percorrido<br />
até o momento e refletimos sobre possíveis caminhos que po<strong>de</strong>m fundamentar tal<br />
prática nas escolas, nos dias atuais, como componente curricular.<br />
Porque, segundo Bracht<br />
(...) a hegemonia do conhecimento científico na escola precisa permitir outros<br />
saberes, e é nisso, só na medida em que se reconhece outros saberes que não<br />
saberes <strong>de</strong> caráter conceitual, <strong>de</strong> caráter intelectual, é que nós temos uma chance<br />
<strong>de</strong> nos afirmarmos lá no currículo <strong>escolar</strong>.<br />
Esses “outros saberes” que fala Bracht é o conhecimento que trata a<br />
Educação Física, a cultura corporal que são as formas <strong>de</strong> expressão do corpo no<br />
<strong>de</strong>correr da história das civilizações. São os jogos, danças, lutas, exercícios<br />
ginásticos, esportes, mímica e outros. A Educação Física é uma prática pedagógica<br />
e não simplesmente uma ativida<strong>de</strong> prática.<br />
Posteriormente, estudamos sobre a origem da terceirização, seus conceitos e<br />
alguns críticas.<br />
Vimos que existe uma forma <strong>de</strong> terceirização, em que, a ativida<strong>de</strong>-principal da<br />
empresa é terceirizada e refletimos que essa forma vem acontecendo atualmente<br />
<strong>de</strong>ntro da escola, a exemplo da Educação Física, pois a obtenção <strong>de</strong> lucro com a<br />
<strong>educação</strong> na maioria das vezes, supera o ato <strong>de</strong> educar.<br />
Após a análise dos dados coletados, po<strong>de</strong>mos observar as seguintes<br />
características e problemas com a Terceirização da Educação Física <strong>escolar</strong>:<br />
• Tem como característica não ser uma disciplina pertencente <strong>ao</strong> currículo básico,<br />
tornando a disciplina, aquem da escola. Não levando os alunos a reflexões<br />
pedagógicas das suas práticas corporais apenas possibilitando a ativida<strong>de</strong> <strong>física</strong>;
• Acabamos por i<strong>de</strong>ntificar, o não reconhecimento que a Educação Física, <strong>de</strong>ntro<br />
da escola, é antes <strong>de</strong> tudo <strong>educação</strong>, vimos no primeiro capítulo <strong>de</strong>sse trabalho<br />
que durante muito tempo ( período militarista e higienista) a Educação Física foi<br />
vista como algo disciplinador e capaz <strong>de</strong> formar sujeito forte e sadios, per<strong>de</strong>ndo a<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> através do ato educativo formar indivíduos autônomos e críticos;<br />
• A não participação do professor nos encontros pedagógicos e um consequente<br />
afastamento da coor<strong>de</strong>nação pedagógica; esse problema está diretamnete<br />
ligado <strong>ao</strong>s citados anteriormente, pois se esse professor não é visto na escola<br />
como produtor e disseminador <strong>de</strong> conhecimento a coor<strong>de</strong>nação pedagógica não<br />
se fará presente, muito menos esse será chamado a participar das reuniões para<br />
discutir as questões pedagógicas da escola ;<br />
• A inexistência <strong>de</strong> interdisciplinalida<strong>de</strong>, que é gerada pelo problema citado<br />
anteriormente;<br />
• A precarização das relações <strong>de</strong> trabalho.<br />
Pensamos que essas características e também problemas expostos sobre a<br />
terceirização da Educação Física <strong>escolar</strong>, significa uma perda na formação das<br />
crianças e adolescentes pois não po<strong>de</strong>rão vivenciar todas as possibilida<strong>de</strong>s que a<br />
Educação Física po<strong>de</strong> oferecer através <strong>de</strong> uma prática educativa que busque criar<br />
seres livres, críticos.<br />
A Educação Física Escolar não <strong>de</strong>ve ser terceirizada, pois ela representa um<br />
aspecto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das crianças, que não po<strong>de</strong> estar dissociado dos<br />
intelectuais e sociais.<br />
Concluo, sugerindo que sejam aprofundadas as discussões e estudos <strong>de</strong>sse<br />
fenômeno, para po<strong>de</strong>rmos contrapor a essa nova or<strong>de</strong>m mundial <strong>de</strong> flexibilização do<br />
trabalho ou reestruturação produtiva, uma das facetas do neoliberalismo que é “(...)<br />
um projeto político e econômico e constitui o arcabouço i<strong>de</strong>ológico i<strong>de</strong>al para<br />
consolidar a reestruturação produtiva no contexto da globalização”. ( DRUCK, 1996,<br />
p. 29)<br />
E que a Educação Física possa voltar a ser uma disciplina curricular, afastando<br />
<strong>de</strong> vez esse retrocesso histórico que por ventura se instalou com a terceirização.
Mesmo porque, segundo Hobsbaws 4 (citado por DRUCK, 1996, p. 39) “... A única<br />
generalização cem por cento segura, sobre a história é aquela que diz que enquanto<br />
houver raça humana haverá história”.<br />
4 HOBSBAWS, E. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 598p.
REFERÊNCIAS<br />
ALVES, Alda Judith. O Planejamento <strong>de</strong> pesquisas Qualitativas em Educação,<br />
Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Pesquisa. São Paulo n.77: 53-61, maio 1991.<br />
BRACHT, Valter. Legitimida<strong>de</strong> da Educação Física II: o retorno. Vitória, ES:<br />
LESEF/CEFD/UFES, 1999. (Texto foi base para uma intervenção no Congresso<br />
Espirito-santense <strong>de</strong> Educação Física realizado em Vitória/ ES em Dezembro <strong>de</strong><br />
1999, em mesa redonda que discutiu o tema “Saber e Fazer Pedagógicos: a<br />
Educação Física como componente curricular” ).<br />
BRASIL. Secretaria <strong>de</strong> Educação Fundamental. Parâmetros curriculares<br />
nacionais: Educação Física, terceiro e quarto ciclo do ensino fundamental. Brasília:<br />
MEC / SEF, 1998. 114p.<br />
DRUCK, Graça. Flexibilização, Terceirização e Precarização: A Experiência dos<br />
Sindicatos. In: FRANCO, Tânia (org). Trabalho, riscos industriais e meio<br />
ambiente: rumo <strong>ao</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável?. Salvador: EDUFBA/CRH/FFCH<br />
/UFBA, p. 117-158, 1997.<br />
______ . Globalização, Reestruturação Produtiva e Movimento Sindical. Ca<strong>de</strong>rno<br />
CRH. Salvador, n.24/25, p. 21-40, jan/<strong>de</strong>z., 1996.<br />
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas <strong>de</strong> pesquisa social. São Paulo: Atlas,<br />
1999.<br />
GIOSA, Lívio Antônio. Terceirização: Uma abordagem estratégica. São Paulo:<br />
Pioneira, 1993.<br />
LEITE, Jaci C. Terceirização em informática. São Paulo: Makron Books, 1994.
LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas.<br />
São Paulo: Pedagógica e Universitária, 1986.<br />
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência<br />
universal. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Record, 2000.<br />
SOARES, Carmem Lucia et al. Metodologia do ensino <strong>de</strong> Educação Física. São<br />
Paulo: Cortez, 1992.<br />
TRIVIÑOS, Augusto. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais. São Paulo:<br />
Atlas, 1994.
ANEXO<br />
Entrevista com o professor observado<br />
1 - Você se consi<strong>de</strong>ra professor do colégio, realmente?<br />
Olha, em termos <strong>de</strong> vínculo com o colégio não, mas como eu presto um<br />
serviço <strong>ao</strong> colégio nesse ponto sim, eu sou um professor do colégio mas sou<br />
funcionário <strong>de</strong> uma outra entida<strong>de</strong> que presta serviço <strong>ao</strong> colégio.<br />
2 - Se o senhor fosse realmente um professor da escola com vínculo<br />
empregatício, haveria alguma diferença?<br />
Creio que não. O mesmo serviço que eu prestaria se fosse funcionário do<br />
colégio eu acho que eu presto o mesmo serviço a empresa.<br />
3 - Como você está vendo esse <strong>processo</strong> <strong>de</strong> terceirização?<br />
É cômodo para o colégio terceirizar porque o colégio tá pagando o serviço,<br />
não tem responsabilida<strong>de</strong> com o funcionário, não tem responsabilida<strong>de</strong> com os<br />
impostos. Então, é bastante cômodo para o colégio apenas eu presto o serviço, o<br />
colégio paga por esse serviço e termina o ano, o professor continua na empresa<br />
<strong>de</strong>le sem vínculo com o colégio, sem nada. Acho que só tem a ganhar, o colégio,<br />
com isso, com a terceirização.<br />
4 - Como é o seu vínculo com a escola, a relação com a parte pedagógica, com<br />
a coor<strong>de</strong>nação pedagógica, com os outros professores?<br />
Acho que a única falha que nós temos em relação <strong>ao</strong> trabalho é justamente<br />
isso, é em termos <strong>de</strong> reuniões que nós não tomamos conhecimento do que se passa<br />
no colégio, apenas o colégio informa alguns avisos, alguma coisa, mas esse vínculo<br />
com o colégio, em termos <strong>de</strong> a gente saber <strong>de</strong> comportamento <strong>de</strong> aluno em sala <strong>de</strong>
aula normal, notas, como é a vida <strong>escolar</strong> do aluno no colégio, a gente fica sem ter<br />
esse contato com o colégio.<br />
A gente vem aqui, presta o serviço da gente e apenas isso, não tem vínculos<br />
maiores até com a própria vida <strong>escolar</strong> do aluno.<br />
Comentário do entrevistador: É preciso reconhecer que a Educação Física é um<br />
conhecimento também, não é só a matemática, o português.<br />
É um prolongamento da sala <strong>de</strong> aula (a Educação Física), na realida<strong>de</strong><br />
porque a gente trabalha também com a saú<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> trabalhar com as notas do<br />
aluno em <strong>de</strong>terminadas matérias. Nós <strong>de</strong>vemos também pensar na questão da<br />
saú<strong>de</strong> do aluno, tudo isso.<br />
E-mail do autor: fabio_uefs@bol.com.br