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Revista Azimute - Exército

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AZIMUTE<br />

2<br />

REVISTA MILITAR DA INFANTARIA<br />

EPI<br />

N.º 187 – Agosto 2009<br />

Director:<br />

Comandante da EPI<br />

COR INF João Manuel de Sousa Meneses Ormonde Mendes<br />

Coordenação e Redacção:<br />

COR INF REF Nelson de Sousa Figueiredo<br />

TCOR INF João Pedro Rato Boga de Oliveira Ribeiro<br />

TCOR INF Sebastião Joaquim Rebouta Macedo<br />

MAJ Álvaro Manuel Tavares de Carvalho Campeão<br />

Relações Públicas:<br />

MAJ Álvaro Manuel Tavares de Carvalho Campeão<br />

Nº 187 AGO09<br />

Capa:<br />

SCH INF Jorge M. M. Miranda<br />

Desenho D. Nun’ Álvares:<br />

Maj Inf Álvaro Campeão<br />

Composição/Paginação:<br />

SOLD RC Lino Filipe Marques da Rocha<br />

Impressão:<br />

Rolo & Filhos II, S.A. (Mafra)<br />

Tel. 261 816 500<br />

Propriedade:<br />

EPI - Alameda da Escola Prática de Infantaria<br />

2640 - 777 MAFRA<br />

Tel. Civil - 261 81 21 05<br />

Fax Civil - 261 81 16 01<br />

Tel. Mil. (Central) - 420 400<br />

Fax Mil. - 420 505<br />

Tel. Relações Públicas - 420 456<br />

Fax Relações Públicas - 420 455<br />

www.exercito.pt<br />

epi.mafra@mail.telepac.pt<br />

epi.azimute@mail.telepac.pt<br />

epi@mail.exercito.pt<br />

Tiragem:<br />

1000 Exemplares<br />

Depósito Legal n.º 4510/84<br />

12<br />

O Portal da Arma da Infantaria<br />

53<br />

Colóquio D. Nuno Álvares Pereira<br />

Jornadas de Infantaria 2009<br />

51


Indíce<br />

3 Editorial<br />

4 Mensagem do Director-Honorário da Arma de Infantaria<br />

Temas Gerais<br />

5 25 Anos na EPI<br />

7 Tirocínio Para Oficial de Infantaria “Train As You Fight”<br />

10 O Batalhão de Formação Militar Geral - Um Ano de Actividade<br />

Tema - O Patrono da Infantaria<br />

12 O Colóquio D. Nuno Álvares Pereira<br />

14 D. Nuno Álvares Pereira - O Homem<br />

22 D. Nuno Álvares Pereira - O Militar<br />

25 São Nuno de Santa Maria - Um Santo Condestável e Carmelita<br />

28 A Situação Político-Militar na Guerra dos Cem Anos (1337-1453)<br />

33 O Armamento da Época Medieval<br />

39 A Crise de 1383-1385 e a Batalha de Atoleiros<br />

45 A Invasão Castelhana e a Batalha de Aljubarrota<br />

50 As Patrulhas Nun’ Álvares Pereira - Edição 2009<br />

51 O Portal da Arma de Infantaria<br />

Tecnicamente Falando<br />

52 Jornadas de Infantaria - “As Pequenas Unidades de Infantaria no Combate em Áreas Edificadas”<br />

57 O Batalhão de Infantaria Mecanizado virado para o Futuro<br />

64 As Armas Anticarro num contexto de evolução<br />

67 O Morteiro - Fundamental no Passado, Decisivo no Futuro<br />

71 A Formação de Jornalistas em Zona de Conflito<br />

73 Maneuver Captain’s Career Course<br />

Actividades<br />

75 Juramento de Bandeira do 3º CFGCPE/2009 na Ericeira<br />

77 Visitas e Notícias<br />

Cultural<br />

86 Higiene e Segurança Alimentar na Escola Prática de Infantaria<br />

88 In memorium<br />

Os artigos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores,<br />

e não vinculam as opiniões do Corpo Editorial.<br />

Nº 187 AGO09<br />

<br />

AZIMUTE<br />

3


AZIMUTE<br />

4<br />

Nº 187 AGO09<br />

Editorial<br />

Dois elementos marcantes assinalam esta edição: a canonização<br />

de D. Nuno Álvares Pereira, em 26 de Abril do corrente ano, por sua<br />

Santidade o Papa Bento XVI, e o aniversário comemorativo dos quarenta<br />

e cinco anos da <strong>Revista</strong> <strong>Azimute</strong>, 1964-2009.<br />

Ilustre personalidade da nossa História, com inegável projecção<br />

<br />

arreigado no coração de todos os Infantes portugueses, o Patrono<br />

da Arma de Infantaria foi, este ano, objecto de um vasto programa<br />

de comemorações, sendo de destacar, no âmbito da Infantaria, por<br />

ordem cronológica da sua realização, as tradicionais Patrulhas Nun’<br />

Álvares, abertas à participação de todas as Unidades de Infantaria; o<br />

da<br />

sobre o Homem, o Militar e o Santo; o Concerto em sua homenagem,<br />

conduzido pela Banda Sinfónica do <strong>Exército</strong>, na Biblioteca do<br />

Palácio Nacional de Mafra; e, por último, o tradicional cerimonial militar,<br />

em 14 de Agosto, antecedido por uma missa de acção de graças<br />

na Basílica, com a presença das relíquias de S. Nuno de Santa Maria, e sucedido por uma exposição<br />

sobre o seu legado, as suas representações e as principais vitórias militares em que foi protagonista,<br />

a que quiseram associar-se inúmeras entidades, instituições e organizações para as quais D. Nuno<br />

<br />

Este foi o ano do Santo Condestável, em que igualmente foi relembrado o Portugal de Aljubarrota,<br />

inspirador nos momentos de crise, de dúvida, de incerteza, com a certeza de que tudo é possível, tendo<br />

como paradigma os princípios enformadores da nossa existência soberana, baseada numa vontade<br />

nacional determinada, no sacrifício heróico e patriótico dos nossos antepassados, agigantando-se<br />

perante a liberdade e a independência em perigo, na defesa do solo pátrio, superiormente liderados<br />

por um chefe militar exímio.<br />

<br />

O outro elemento que igualmente assinalamos neste número: quarenta e cinco anos de história<br />

da <strong>Revista</strong> <strong>Azimute</strong> – um marco de inequívoca maturidade, de experiência empreendedora, de<br />

informação útil, de divulgação de ideias precursoras de mentalidades vanguardistas, de conceitos<br />

inovadores, de evolução doutrinária, organizacional, táctica e operacional, e dos seus equipamentos<br />

e armamento. Um instrumento privilegiado na preservação da memória colectiva, do historial, das<br />

tradições e dos símbolos da Arma da Infantaria, bem como no aprofundamento dos mais sublimes<br />

valores éticos e morais, pilares perenes e incontornáveis da Instituição Militar, verdadeiros multiplicadores<br />

do seu potencial e da acção de todos quantos nela servem, no cumprimento dos superiores<br />

desígnios da Nação.<br />

Quarenta e cinco anos de atitude determinada, de ambição construtiva, de primazia ao reforço<br />

<br />

<br />

Que o seu caminho continue a ser o da procura permanente da excelência e da modernidade, em<br />

prol dos Infantes e da Arma de Infantaria.<br />

Termino, citando a mais nobre página da histórica primeira edição do “Jornal <strong>Azimute</strong>”, cujo “responsável<br />

e iniciador” foi o mui ilustre Coronel de Infantaria Vaz Antunes: “Esta é a nossa <strong>Revista</strong>,<br />

espero que se Perpetue no tempo!” - Escola Prática de Infantaria, 15 de Março de 1964 – …


Mensagem do<br />

Director-Honorário da Arma de Infantaria<br />

A canonização em 26 de Abril de 2009 do Condestável, D. Nuno Álvares Pereira,<br />

Patrono da Arma de Infantaria, foi pretexto para intervenções de vária ordem que versaram<br />

o Homem, o Militar e o Santo.<br />

<br />

após ano o celebramos em 14 de Agosto, vimo-nos desta vez acompanhados por várias<br />

correntes de pensamento que praticamente de forma unânime concluíram sobre a sua<br />

grandeza como Homem cujo comportamento e atitude ultrapassaram as questões materiais<br />

e terrenas para se passarem a situar no patamar da espiritualidade.<br />

Em várias dessas ocasiões discutiu-se se a sua condição de cavaleiro do Rei se coadunava<br />

com a sua referência actual como Infante, ao ponto de se ter constituído como<br />

Patrono da Arma.<br />

A educação de D. Nuno na corte do Rei D. Fernando iniciou-se cedo, ainda adolescente.<br />

Parte dessa educação centrou-se, conforme uso da época, no ensino das coisas da<br />

<br />

dos Cem Anos, que envolvendo praticamente todos os Reinos de então opunha principalmente<br />

o Reino de Inglaterra ao de França.<br />

França e Inglaterra tinham concepções diferentes na forma de a fazer.<br />

Os franceses continuavam imbuídos do espírito cavaleiro típico do feudalismo. O seu<br />

principal elemento de combate continuava a ser a cavalaria, protegida pela armadura metálica<br />

e pesada que sufocava os homens e limitava a sua mobilidade. Esta força valia-se<br />

do seu espírito guerreiro, bravura, coragem, e baseava a sua manobra na procura da superioridade<br />

numérica para alcançar a vitória.<br />

Já para o Ingleses os cavaleiros tinham que estar preparados para apear e combater<br />

adaptando o dispositivo às características do terreno, conjugando assim o obstáculo com<br />

-<br />

<br />

Não despiciente é o facto dos Ingleses terem instituído o serviço militar obrigatório, o<br />

que trouxe o povo aos combates e como ele é normalmente, despojado de meios, apenas<br />

fortalecido pela sua própria convicção.<br />

D. Nuno, apesar da sua juventude foi capaz de com inteligência e pragmatismo, fazer<br />

a simbiose perfeita entre estes dois sistemas, sendo um dos mais notáveis da sua época<br />

na concepção da manobra tirando todo o partido dos meios de que dispunha, aplicandoos<br />

onde melhor podia potenciar o seu valor e dirigindo-os evidenciando uma capacidade<br />

<br />

impondo-se naturalmente pelo seu próprio exemplo.<br />

Essa manobra assente na judiciosa escolha do dispositivo adaptado ao terreno, combi-<br />

<br />

mas assente na consulta prévia dos mais velhos sem que nunca se sentisse dúvida na<br />

tomada de decisão, é a referência da manobra de Infantaria.<br />

É esta curiosidade no saber, esta convicção, esta sagacidade e atitude que deve constituir<br />

o modelo do Soldado de Infantaria.<br />

Tendo existido D. Nuno Álvares Pereira, só ele podia ser o Patrono dos Infantes.<br />

O Director Director-Honorário Honorário da Arma de Infantaria<br />

Mário de Oliveira Cardoso<br />

Tenente-General<br />

Nº 187 AGO09<br />

<br />

AZIMUTE<br />

5


AZIMUTE<br />

6<br />

Falar da vivência de 25 anos na Casa-Mãe da<br />

Infantaria é, sem dúvida, um desenrolar de senti-<br />

diferente<br />

e que por isso mesmo me marcaram de<br />

forma natural e perspicaz.<br />

Natural de Lamego, a vida militar foi o percur-<br />

<br />

uma opção decidida em consciência e para concretizar;<br />

assim sendo, frequentei a 1ª parte do Curso,<br />

na Escola de Formação de Sargentos em Lamego,<br />

e após ter escolhido a Arma de Infantaria, prepareime<br />

para a 2ª parte em Mafra.<br />

No dia 27 de Fevereiro de 1981 e após cerca<br />

de 12 horas de transporte alternado entre comboio<br />

e camioneta cheguei a Mafra para completar o objectivo<br />

a que me propusera inserido no 8º Curso de<br />

Formação de Sargentos de Infantaria.<br />

Não conhecia a vila, apenas tinha ouvido falar no<br />

célebre e imponente Convento de Mafra e, quando<br />

ao longe o avistei, senti uma sensação estranha.<br />

Às iniciais da EPI não era dado o seu verdadei-<br />

<br />

designado como a “ Entrada para o Inferno ” , pois<br />

conjugando uma série de factores desde a imponência<br />

do Convento, a dureza da instrução e as<br />

próprias condições meteorológicas adversas, com<br />

vam<br />

toda a instrução, parecia ter alguma razão de<br />

ser e que em nada abonava a favor dos que, não<br />

conhecendo, para aqui vinham.<br />

Fui-me apercebendo, ao longo do Curso, que<br />

de facto a exigência e dureza da instrução eram<br />

evidentes, mas ao mesmo tempo apanágio do lema<br />

da Escola Prática de Infantaria – “é dever da EPI<br />

saber fazer”. Apesar de tudo restava a esperança e<br />

<br />

do curso, poderia haver a possibilidade de regressar<br />

a Lamego.<br />

Mas quis o destino que Mafra não fosse apenas<br />

um local de passagem e o facto de aqui ter casado<br />

e constituído família, alterou os planos que inicialmente<br />

tinha traçado.<br />

Após terminar o curso, a 17Jul81, ter sido promovido<br />

a 2º Sargento e ter feito o Juramento de<br />

Fidelidade na tão emblemática Sala Elíptica, fui<br />

colocado em Tomar no 1º BIMoto/Regimento de<br />

Infantaria nº 15 onde permaneci durante três anos<br />

e meio, tendo nessa altura solicitado a alteração da<br />

mudança da GMP, por motivos familiares, e regressei<br />

a Mafra.<br />

<br />

Nº 187 AGO09<br />

25 Anos na EPI<br />

SMor Amadeu Figueiredo<br />

apresentei-me i na Escola E l Prática P áti de d Infantaria, I f t i<br />

sem<br />

a convicção de que se iria tornar numa tão longa<br />

permanência.<br />

Fui então colocado na 1ª CAT/BEOp como<br />

Sargento de Pelotão do 2º Pelotão de Atiradores<br />

e desde logo integrei a equipa representativa da<br />

Escola na Patrulha D. Nuno Álvares Pereira, que<br />

logrou sair vencedora.<br />

Ao longo de todos estes anos outras funções<br />

me foram sendo atribuídas, como foram as<br />

de instrutor dos vários Cursos de Formação de<br />

Sargentos, tendo sido inclusivé nomeado Adjunto<br />

dos 14º e 15º Curso de Formação de Sargentos de<br />

Infantaria, Sargento de Operações e Informações<br />

no Gabinete do Adjunto do Comandante, Adjunto<br />

do Comandante da 2ª Companhia de Instrução do<br />

<br />

Apoio da Direcção de Instrução e Encarregado do<br />

Museu da Escola onde permaneci durante quatro<br />

anos e meio, Sargento de Pessoal onde permaneci<br />

durante três anos e meio, Adjunto do Comandante<br />

do Batalhão de Apoio à Instrução e, após a promoção<br />

a Sargento Mor, as de Adjunto do Comandante<br />

e Chefe da Secretaria de Comando e após a alteração<br />

dos QOP em Set06, apenas as de Adjunto do<br />

Comandante.<br />

Por aqui se pode constatar que desempenhei<br />

uma multiplicidade de funções que considerei e<br />

cantes,<br />

honrosas e muito enriquecedoras que me<br />

permitiram obter muitos conhecimentos, ensinamentos<br />

e bastante experiência e às quais tentei<br />

sempre corresponder com todo o meu entusiasmo,<br />

dinamismo, empenhamento e dedicação, mas<br />

tenho que destacar duas delas, a de Adjunto dos


14º e 15º CFSI e Adjunto do Comandante da 2ª<br />

CI, talvez pela ainda minha juventude de então<br />

me permitiram, a primeira, um contacto muito próximo<br />

daqueles que iriam ser os futuros Sargentos<br />

do Quadro Permanente a quem ajudei a formar e<br />

transmiti e incuti os valores e virtudes militares que<br />

norteiam a nossa instituição, e a segunda também<br />

um contacto muito próximo daqueles jovens que,<br />

sendo civis e que por força da obrigatoriedade do<br />

Serviço Militar, eram incorporados para aqui cumprirem<br />

um dever de cidadania e a quem eu também<br />

aconselhava e orientava.<br />

Este longo período de permanência na Casa-<br />

Mãe da Infantaria permitiu que aqui fosse promovido<br />

em todos os postos e que para mim constitui<br />

motivo de um grande orgulho.<br />

Permitiu-me também o conhecimento de treze<br />

Comandantes que por aqui passaram, todos eles<br />

com diferentes personalidades e visões diferentes<br />

de Comando, sendo que com os últimos três, pelas<br />

funções que desempenho, privei de muito perto e<br />

aos quais sempre respeitei e usei da máxima lealdade,<br />

honestidade e frontalidade e também dos<br />

quais recebi apoio, consideração e que em muito<br />

<br />

também lhes estou grato.<br />

Foi no contacto das pessoas com quem me relacionei,<br />

durante todo este tempo, que cresci como<br />

pessoa e como militar; a aprendizagem foi uma<br />

constante escutando os camaradas mais antigos,<br />

ouvindo os seus conselhos e as suas experiências<br />

de vida, das quais retirei muito dos princípios e<br />

valores morais e éticos que sempre tentei passar<br />

àqueles que me foram sucedendo e a quem ajudei<br />

a formar.<br />

Também vivi e senti as transformações, que<br />

to,<br />

num passado longínquo: as incorporações que<br />

se efectuavam e que chegavam a atingir efectivos<br />

na ordem dos 2 mil homens, por turno, existiam<br />

dois Batalhões de Instrução com três Companhias<br />

cada, o II Batalhão de Instrução destinado ao COM/<br />

CSM e o I Batalhão de Instrução ao CFP, enquanto<br />

que hoje existe apenas o Batalhão de Formação<br />

Militar Geral, destinado ao Curso de Formação de<br />

Praças RV/C, que incorpora em média um efectivo<br />

de cerca de 130 militares por curso.<br />

A incorporação dos primeiros militares voluntários<br />

do sexo feminino na Escola, em 1993, no<br />

3ºT/93 na 3ª Companhia de Instrução, do I Batalhão<br />

de Instrução.<br />

Com o processo de Transformação do <strong>Exército</strong><br />

dá-se a extinção do Serviço Efectivo Normal em<br />

Novembro de 2004 e a completa implementação<br />

do Regime de Voluntariado e Contrato, isto é, a<br />

<br />

<br />

a Escola, pois face à missão e tarefas a executar<br />

houve necessidade de uma reestruturação interna,<br />

que algum tempo depois acabou por entrar na<br />

normalidade.<br />

Acompanhei de perto as grandes melhorias<br />

que foram sendo feitas ao nível dos alojamentos,<br />

da canalização e do sistema de aquecimentos de<br />

águas, num esforço permanente entendido pelos<br />

Comandantes para criar as melhores condições de<br />

habitabilidade, trabalho e alimentação, num bem<br />

que julgo pertinente e salutar. Saliento com satisfação<br />

a construção do novo campo de lançamento<br />

<br />

forma a permitir a formação e treino nas melhores<br />

condições de segurança. Considero esta infra-estrutura<br />

muito importante que, por força de não garantir<br />

as condições de segurança, esteve inactiva<br />

durante muito tempo.<br />

Com a aprovação do novo QOP de 2006, que<br />

reduziu e em muito o efectivo da Escola, e face<br />

às missões atribuídas para além de outras que se<br />

executam, cumpre-me dizer que nunca tão poucos<br />

to,<br />

voluntariedade, dinamismo e iniciativa de todos<br />

<br />

Praças e Funcionários Civis é possível fazer bem<br />

e bem feito.<br />

É também com agrado que tenho assistido a<br />

uma maior abertura e apoio da Escola à comunidade<br />

civil, quer participando conjuntamente na realização<br />

de eventos, quer promovendo visitas aos espaços<br />

conventuais nela existentes, quer apoiando<br />

várias instituições do concelho e não só, permitindo<br />

desta forma um estreitamento das boas relações já<br />

existentes.<br />

Consequência dos tempos e da modernização,<br />

a Escola Prática de Infantaria não estagnou, evoluiu<br />

bastante em todos os domínios, em especial<br />

no da formação, missão central da Escola, e no das<br />

novas tecnologias de informação, e pela dinâmica<br />

que tem sido dada pelos sucessivos Comandos,<br />

posso garantir que é hoje uma Unidade muito diferente<br />

daquela que há vários anos conheci.<br />

Destes 25 anos na Escola faço um balanço<br />

positivo: garantiu-me estabilidade familiar e pro-<br />

<br />

amizades. Apesar disso sinto que o facto de ter<br />

permanecido aqui todos estes anos me impossibilitou<br />

de ter tido contacto com outras gentes, o conhecimento<br />

de outros locais e experiências vividas<br />

em outras situações, em particular integrando FND<br />

ou mesmo assessoria na CTM, mas não se pode<br />

querer tudo na vida, existem outros valores bem<br />

mais importantes e o da família tem sido para mim<br />

preponderante.<br />

A Escola Prática de Infantaria foi uma casa a que<br />

me dediquei de alma e coração e da qual aprendi<br />

a gostar, podendo considerá-la mesmo como a minha<br />

segunda casa e pela qual nutro muito carinho,<br />

porque só gostando muito é que se consegue permanecer<br />

durante tantos anos. <strong>Azimute</strong><br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

7


AZIMUTEE AZIIIIIIIIIIIIIIMUTEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE<br />

8<br />

Nº 187 AGO09<br />

<br />

“Train As You Fight”<br />

1. Situação<br />

Pode ainda subsistir alguma dose de dúvida no<br />

que concerne às consequências futuras da implementação<br />

prática, por parte da Academia Militar<br />

(AM), do Processo de Bolonha. Todavia, para as<br />

Escolas Práticas, essa é já uma realidade com a<br />

qual terão de se confrontar nos tempos mais próxi-<br />

<br />

directivas provenientes da AM, que revelam o aparentemente<br />

modelo único a seguir para o tirocínio.<br />

Assim, se do ponto de vista formal, e acreditando,<br />

de facto, que todo o processo de mudança<br />

atingirá dividendos positivos, materializáveis num<br />

verdadeiro processo de evolução para melhor, importa,<br />

pois, encontrar o ponto de equilíbrio necessário<br />

à sustentabilidade do processo de formação<br />

planeado e executado pelas escolas, pois já é incontornável<br />

o facto de que o modelo de tirocínio que<br />

até há bem pouco tempo estava em prática mudou,<br />

<br />

Para a Infantaria, o ano lectivo de 2007/2008<br />

marca, sem dúvida, essa mudança, onde se veri-<br />

tando<br />

evitar a duplicação desnecessária de matérias<br />

entre a AM e o programa do tirocínio. No ano<br />

<br />

<br />

decorrente de dois anos lectivos que até podem ser<br />

considerados de anos experimentais e de apren-<br />

<br />

conseguir encontrar um modelo de formação que<br />

vá ao encontro das necessidades operacionais das<br />

unidades, e que cumpra, de uma forma exequível e<br />

racionalmente lógica, o maior dos condicionamentos<br />

impostos pela AM, que diz respeito ao período<br />

máximo de formação atribuído às escolas práticas,<br />

<br />

2. Análise<br />

nar<br />

aos alunos a formação orientada para a prática<br />

e consolidação de conhecimentos teóricos<br />

apreendidos, relevar e exercitar a sua aptidão no<br />

âmbito do comando e liderança, adquirir competências<br />

no âmbito da pesquisa e investigação em<br />

<br />

a su<br />

Cap Inf Pedro Ferreira<br />

comportamental, indispensável a todos os futuros<br />

da Arma de Infantaria.” 1 Tem como objectivo<br />

-<br />

am<br />

as competências mínimas necessárias ao desempenho<br />

das funções de 2º Comandante de uma<br />

Companhia, Comandante de Pelotão de Atiradores,<br />

Comandante de Pelotão de Apoio, Comandante de<br />

Pelotão de Morteiros Pesados, Comandante de<br />

Pelotão Anti-Carro e Comandante de Pelotão de<br />

Reconhecimento. Tendo em conta a dimensão, necessidades<br />

e realidade do <strong>Exército</strong>, revela-se de<br />

todo útil e lógica esta capacidade inicial de sustentar<br />

os jovens quadros com a formação geral das<br />

várias áreas de especialidade da arma. Se por um<br />

lado a formação no âmbito dos atiradores é fulcral,<br />

até porque permite, mais do que qualquer outra,<br />

exercitar e evidenciar as características individuais<br />

de comando e liderança, por outro, deve continuar<br />

a dar-se a ênfase necessária às áreas do apoio de<br />

combate, sob pena de se prejudicar o processo de<br />

integração nas unidades. Numa lógica de forma-<br />

sa<br />

Escola reside na sua capacidade de entender o<br />

presente, de ver o futuro, de ser objectiva e de agir<br />

de uma forma pragmática.<br />

Partindo de uma base de formação modular semanal,<br />

foram “levantados” os grupos de matérias<br />

so<br />

formativo. Assim, a estrutura tipo já conhecida<br />

<br />

AZIMUTE


AZIMUTE<br />

mantém-se, e daí não provêm quaisquer novidades.<br />

No entanto, a sequência tida como lógica<br />

das matérias nucleares assume agora uma maior<br />

relevância, realçando um encadeamento capaz de<br />

evidenciar os mais actuais ambientes operacio-<br />

<br />

permitindo garantir uma real marcação em termos<br />

-<br />

<br />

disponível, a componente do curso efectivamente<br />

prática aumenta, isto devido à diminuição dos ob-<br />

<br />

presencial, em sala, apostando-se mais na aprendizagem<br />

presencial em campo e nos exercícios<br />

tácticos, semanais. A título de exemplo, poderá o<br />

tirocínio seguir a seguinte sequência; Organização<br />

e Procedimentos de Comando, Tarefas Críticas<br />

de Pelotão de Atiradores, Pelotão de Atiradores<br />

nas Operações Ofensivas, Pelotão de Atiradores<br />

nas Operações Defensivas, Pelotão de Atiradores<br />

<br />

Atiradores em Patrulhas, etc.<br />

Para alcançar, sem sobressaltos, o que acima<br />

foi referido, a utilização de novos métodos pedagógicos,<br />

que sejam adequados e que permitam<br />

-<br />

<br />

utilização da componente não presencial revelarse-á<br />

de uma substancial importância, pois irá permitir<br />

ganhar tempo e responsabilizar o aluno no seu<br />

próprio processo de evolução e de aprendizagem.<br />

O racional não será ministrar tudo, mas será, isso<br />

sim, fornecer as ferramentas tidas como necessárias<br />

à compreensão do que vai sendo ministrado.<br />

Aqueles que não entenderem isso como fulcral,<br />

cairão no risco de não conseguirem acompanhar<br />

a dinâmica do curso, arriscando-se a reprovar em<br />

matérias consideradas críticas. Exigir-se-á, então,<br />

uma maior capacidade de organização e método<br />

de estudo aos alunos, bem como que, a partir de<br />

agora, entendam o dinamismo do processo, desde<br />

a altura que a matéria é apresentada, ao tempo<br />

de estudo, à necessidade de esclarecer dúvidas,<br />

<br />

Este é um processo já validado com resultados<br />

aceitáveis, que se quer expedito, e que seja ajustado<br />

aos períodos de empenhamento/descanso, de<br />

<br />

compreensão, que se insiram, especialmente, no<br />

âmbito do domínio do conhecimento.<br />

Com certeza que, a partir de agora, os alunos<br />

começarão a sentir a necessidade de possuírem os<br />

conhecimentos mínimos e indispensáveis trazidos<br />

da AM, pois vão aperceber-se, seguramente, que<br />

o tirocínio assim o exige. O módulo de Morteiros<br />

<br />

programa do tirocínio a carga de instrução de serventes.<br />

Situação já experimentada de forma super-<br />

em<br />

trazida da AM neste domínio. Garantindo, depois,<br />

as condições para que todos os alunos reforcem<br />

no<br />

acompanhado, é de apostar, especialmente,<br />

na parte de táctica de morteiros e de técnica de<br />

tiro. A lógica é preparar para a função, com todo o<br />

trabalho extra a que ao aluno será exigido fora de<br />

horas, ao longo do tirocínio, bem como mais tarde,<br />

aquando da sua entrada no quadro permanente,<br />

sempre que venha a ocupar funções deste âmbito<br />

<br />

A prática do Tiro, individual e colectivo, é outra<br />

componente na qual incidirá uma maior relevância.<br />

Tentando aproveitar os conhecimentos dos alunos<br />

nesta área trazidos da AM, fruto do aumento da<br />

carga horária durante os 4 anos iniciais, quer seja<br />

no bl bloco dde iinstrução t ã militar, ilit quer seja j em estágios tá i<br />

de formação geral, a prática do tiro em ambiente de<br />

combate, espingarda e pistola, será uma priorida-<br />

<br />

reais, todos os outros terão, igualmente, tempo reservado<br />

para a execução de tiro real, em sessões<br />

ajustadas ao tipo de exercício, executadas em período<br />

diurno e/ou nocturno. A fazer crer pelas restrições<br />

e limitações de espaço e de infra-estruturas<br />

actuais, este é um dos módulos onde, porventura,<br />

a Escola terá de se socorrer do apoio de unidades<br />

externas, de forma a não deixar comprometer alguns<br />

exercícios onde a capacidade de recriar um<br />

ambiente próximo do real é deveras importante,<br />

como por exemplo, no exercício de fogos reais de<br />

pelotão de atiradores.<br />

Pelas próprias características da arma, e fru-<br />

centes<br />

e actuais, a componente física manter-seá<br />

transversal às 15 semanas. A intenção é a de<br />

continuar a conferir aos alunos a capacidade física<br />

necessária ao cumprimento das diferentes provas,<br />

nas suas mais variadas vertentes de preparação:<br />

trem inferior, trem superior, resistência mental, potência,<br />

etc. Necessariamente, ainda assim, haverá<br />

um ajustamento do número de provas na sua<br />

componente avaliativa, sem ferir de forma decisiva<br />

alguns aspectos tradicionais do curso mas, todavia,<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE AZIIIMUTE<br />

9


AZIMUTE<br />

10<br />

tentando equilibrar o peso da avaliação neste domínio<br />

com os outros tirocínios.<br />

Aspecto importante é a manutenção do Exercício<br />

de Liderança, senão mesmo, aumentar a sua importância<br />

em todo este contexto de diminuição do<br />

tempo do tirocínio, pois é uma ferramenta essencial<br />

na formação dos jovens infantes e que, de uma forma<br />

plena, consegue transmitir os valores da arma,<br />

ao mesmo tempo que põe em evidência situações<br />

impossíveis de avaliar em contexto diferente. A este<br />

exercício em particular, como é habitual, aquilo que<br />

se exige são as condições de segurança necessárias<br />

e os meios de apoio julgados adequados. Já<br />

que os objectivos e os princípios que sustentam o<br />

exercício, esses, mantêm-se de todo ajustados do<br />

ponto de vista lógico e da sua aplicabilidade, e são<br />

um garante e um reforço moral das tradições e da<br />

<br />

tos,<br />

também, a ser capazes de nos adaptarmos a<br />

novos paradigmas que podem ir contra outros que<br />

ao longo dos anos têm sido válidos e aos quais<br />

<br />

Assim, e nos últimos dois anos, o tirocínio avançou<br />

para um modelo de divisão do ano lectivo em<br />

“três” grandes fases, contrariamente às “duas” a<br />

que estávamos habituados 2 . Ainda que do ponto<br />

de vista operacional possamos dizer que a fase<br />

de FMGTTA, Prática de Comando (PC) e Trabalho<br />

de Investigação Aplicado (TIA) devem ter uma sequência<br />

igual de ano para ano (seja ela qual for),<br />

a verdade é que, fruto de vários factores externos<br />

ao controlo da Escola, e talvez até da própria AM,<br />

a sequência pode variar de ano para ano, facto que<br />

pouco contribui para a estabilização do sistema.<br />

Decorrentes desta constatação advêm algumas<br />

modalidades de acção possíveis, partindo do pressuposto<br />

que a fase de PC não é viável realizar-se<br />

<br />

FMGTTA, e que, idealmente, haverá um trabalho<br />

de equipa na fase de PC com os alunos do Curso<br />

de Formação de Sargentos de Infantaria. Tudo isto<br />

pode parecer não relevante, mas pode fazer toda<br />

a diferença, em termos de articulação do tirocínio.<br />

3. Conclusão<br />

Fazendo crer na necessidade de adopção do<br />

Processo de Bolonha por parte da AM, visualizando-o<br />

até como uma ferramenta de credibilização<br />

te<br />

a sociedade civil, importa encontrar um modelo<br />

que melhor cumpra as necessidades de todos os<br />

intervenientes.<br />

2 Ainda que no plano teórico o TPO esteja dividido em duas<br />

fazes (1ªFase-Formação Militar Geral Técnica e Táctica da<br />

<br />

a divisão é feita em três fases, pois o Estágio de natureza<br />

<br />

de Investigação Aplicado.<br />

Nº 187 AGO09<br />

Queremos que o tirocínio mantenha a sua espinha<br />

dorsal. Queremos que continue a focar as<br />

áreas críticas do saber no seio da Infantaria e que<br />

não abandone as suas principais características<br />

ção<br />

ou derivadas da cultura operacional da arma.<br />

Sabemos, todavia, que para o conseguirmos teremos<br />

de realizar alterações lógicas e introduzir métodos<br />

que o viabilizem. Sabemos que teremos de<br />

ser pragmáticos no planeamento, bem como asser-<br />

<br />

perdermos agarrados ao passado e de não conseguirmos<br />

compreender o presente nem o futuro.<br />

<br />

também importante focar que, cada vez mais, o tirocínio<br />

será uma parceria aberta entre a EPI e as<br />

várias unidades de infantaria, que devem ver-se a<br />

si próprias como verdadeiros parceiros no apoio à<br />

execução.<br />

O racional de planeamento do TPOI deverá assentar<br />

na importância da formação prática, composto<br />

pelas matérias adequadas, e que forneçam a<br />

visão certa tendo em conta a realidade operacional<br />

<br />

A formação deve ser orientada para a função,<br />

privilegiando aspectos do domínio táctico e que<br />

permita evidenciar as qualidades de comando e liderança<br />

dos formandos, ao serviço das pequenas<br />

unidades de infantaria.<br />

Estou convencido que a importância do tirocínio<br />

<br />

irá continuar. E que à semelhança do que sempre<br />

aconteceu, continuará este a ser o ponto de char-<br />

<br />

a formação orientada para a função, conduzida na<br />

<strong>Azimute</strong><br />

Escola.


O Batalhão de Formação Militar Geral<br />

Um Ano de Actividade<br />

O volume e tipo de exércitos, em sentido lato,<br />

determina-se em função das ameaças, para fazer<br />

face às que são levantadas.<br />

Algumas das ameaças podem exigir o emprego<br />

de forças militares. Quando o poder político resolve<br />

enfrentar certas ameaças que exigem o emprego<br />

de meios militares, está a optar por dispor de<br />

Forças Armadas.<br />

A partir daqui desenvolve-se toda uma problemática<br />

técnica de cálculo dos sistemas de forças,<br />

pela qual se determinam os vários patamares de<br />

meios necessários e dos riscos correspondentes.<br />

Estes meios são basicamente equipamentos e homens<br />

em condições de os utilizar. O número calculado<br />

de homens em condições de utilizar os equipamentos<br />

necessários para operar e manter uma<br />

estrutura militar em tempo de paz susceptível de<br />

gerar forças capazes de resolver os vários níveis<br />

da<br />

intensidade, coloca-nos, entre outras, a questão<br />

dos efectivos.<br />

É nesta questão que a Escola Prática de<br />

Infantaria, como Centro de Formação Militar Geral,<br />

na sequência da Directiva Nº 12 do General Chefe<br />

do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, do ano transacto,<br />

através do Batalhão de Formação Militar Geral, dá<br />

o seu contributo, procurando maximizar a retenção<br />

do efectivo incorporado, sem afectar a qualidade<br />

<br />

a ser utilizado no sistema de forças.<br />

Este contributo perfez um ano no passado dia 26<br />

de Maio, data em que no ano de 2008 se efectuou<br />

a incorporação do 3º Curso de Formação Geral<br />

Comum de Praças do <strong>Exército</strong> (3ºCFGCPE08),<br />

o primeiro dos nove cursos já incorporados na<br />

Escola, dos quais sete já foram concluídos. Surge-<br />

pectos<br />

da actividade desenvolvida, deixando para<br />

-<br />

<br />

resultados alcançados.<br />

O Batalhão de Formação Militar Geral, com uma<br />

capacidade para 420 militares, entre elementos<br />

masculinos (360) e femininos (60), é constituído<br />

por duas Companhias de Formação que efectuam<br />

as incorporações de modo alternado, cabendo<br />

TCor Inf Mário Bastos<br />

até à data quatro incorporações à 1ª Companhia<br />

de Formação (1ªCForm) e três à 2ª Companhia de<br />

Formação (2ªCForm). O número de incorporações<br />

e a duração de cada curso, 60 dias úteis (DU), fa-<br />

<br />

o início do curso seguinte, na mesma Companhia,<br />

seja reduzido ou inexistente (Quadro1).<br />

(*) O 7ºCFGCPE08 concluiu-se em 27Fev09 e o 2ºCFGCPE09 foi incorporado em 09Fev09.<br />

<br />

início do seguinte na mesma Companhia de Formação<br />

O número de candidatos incorporados tem va-<br />

<br />

dependendo do número de candidatos mandados<br />

apresentar na Escola pela Direcção de Obtenção<br />

de Recursos Humanos versus capacidade máxima<br />

em alojamento do Batalhão, atingida em Fevereiro<br />

do corrente ano, sendo a média de elementos incorporados<br />

de 123 candidatos por curso.<br />

Quadro 2 – Quantidade de militares em cada Curso de Formação<br />

A quantidade de formandos possibilitaram a<br />

constituição de 45 pelotões, numa média de 25 militares<br />

por pelotão, em que os elementos masculinos<br />

constituem 81,2% do universo e os femininos<br />

18,8%.<br />

Após a incorporação, os formandos iniciam um<br />

período experimental, correspondente à instrução<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

11


AZIMUTE<br />

12<br />

básica (1ª parte) e instrução complementar (2ª<br />

parte), durante o qual qualquer das partes pode<br />

rescindir unilateralmente o contrato, mediante comunicação<br />

escrita com a antecedência mínima de<br />

cinco dias. Em resultado do direito que lhes assiste,<br />

registam-se até ao momento 130 desistências,<br />

correspondendo a 11,77% do efectivo (Quadro 3).<br />

(1) À 10ª semana de formação.<br />

(2) À 5ª semana de formação.<br />

A par das desistências, também as exclusões<br />

afectam o número de militares que concluem com<br />

aproveitamento o Curso. Estas devem-se essencialmente<br />

ao facto dos militares excederem o nú-<br />

<br />

se considerar que não reúnem condições para ob-<br />

<br />

quinze exclusões (Quadro 4).<br />

Em todo o processo formativo, o Batalhão regista<br />

o empenhamento de um elevado número<br />

<br />

e sargentos alunos que frequentam o último ano<br />

dos cursos da Academia Militar e Escola dos<br />

Sargentos do <strong>Exército</strong>s, que aqui efectuam a<br />

“Prática de Comando” inserida no “Estágio de<br />

<br />

Militar Geral Técnica e Táctica” da respectiva arma<br />

meiros<br />

cursos do ano, tendo os restantes vindo a<br />

<br />

Escola Prática de Infantaria e adidos do Centro de<br />

Nº 187 AGO09<br />

Quadro 3 – Desistências<br />

Quadro 4 – Exclusões<br />

Tropas Comandos, Presídio Militar, Regimento de<br />

Artilharia Antiaérea Nº 1, Regimento de Infantaria<br />

Nº 3 e Regimento de Transportes.<br />

Se a estes dados juntarmos os nove militares que<br />

Quadro 5 – Contribuintes do processo formativo e Formandos<br />

<br />

Companhias, atingimos o número de 1270 militares.<br />

É um número expressivo, tão mais quando se apoia<br />

numa estrutura permanente reduzida, obrigada a<br />

planear, preparar e executar de acordo com as condições<br />

referidas no quadro 1, fazendo deste modo<br />

<strong>Azimute</strong><br />

jus ao lema “É DEVER DA EPI SABER FAZER”.<br />

CONDIÇÕES GERAIS:<br />

1 Página<br />

250 €<br />

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Verso Capa/Contra Capa: 300 €<br />

(Aos valores indicados acresce<br />

o IVA à taxa legal em vigor)<br />

1. A reserva do espaço para inserção de publicidade deverá ser feita<br />

até um mês antes da data da saída da revista e os fotolitos terão<br />

de ser entregues se possível em suporte informático, em data a<br />

combnar posteriormente.<br />

2. Os textos para os anúncios de composição devem ser fornecidos<br />

em suporte informático, com a indicação bem legível da dimensão.<br />

3. As campanhas de publici-<br />

<br />

desconto de 10% quando<br />

contemplarem um mínimo<br />

de 3 publicações.<br />

4. Qualquer erro, lapso ou<br />

omissão não responsabiliza<br />

a “AZIMUTE”, para<br />

além da repetição do<br />

anúncio.<br />

5. À revista assiste o direito<br />

de adiar, não publicar<br />

ou suspender qualquer<br />

anúncio por razões técnicas<br />

ou que seja considerada<br />

de alguma forma<br />

contrária ao seu ideário.<br />

6. As Notas de Débito têm<br />

que ser liquidadas até<br />

30 dias após a saída da<br />

revista.<br />

7. As selecções de cor, fotolitos<br />

e preparação dos<br />

anúncios serão debitados<br />

ao cliente quando não forem<br />

por este fornecidos.<br />

8. Todos os assuntos poderão<br />

ser tratados via email,<br />

através dos endereços<br />

acima referidos.


D. Nuno<br />

A 24 de Junho de 1360,<br />

em Cernache do Bonjardim,<br />

nasceu Nuno Álvares Pereira,<br />

<br />

Álvaro Gonçalves Pereira e de<br />

Iria Gonçalves do Carvalhal.<br />

Durante a infância, através<br />

de seu pai e das histórias<br />

por ele relatadas, D. Nuno<br />

cimentou os seus ideais de<br />

Cavalaria, inspirado pelas lendas<br />

do Rei Artur e dos seus<br />

cavaleiros, em particular,<br />

Galaaz, cavaleiro puro, casto,<br />

escolhido por Deus para cumprir<br />

a sua demanda e encontrar<br />

o Graal.<br />

É este fascínio por aqueles<br />

ideais nobres que cimentam o<br />

carácter de D. Nuno, que ao<br />

mesmo tempo em que desenvolve<br />

os seus atributos bélicos,<br />

não se desleixa na preparação<br />

eclesiástica. Naquele<br />

génitos<br />

e ilegítimos poucas<br />

dúvidas se colocavam quando<br />

era necessário escolher uma<br />

O Colóquio D. Nuno Álvares Pereira<br />

Comissão de Honra<br />

ocupação: ou seguiam a carreira<br />

das armas ou enveredavam<br />

pelo clero. D. Nuno optou<br />

por não escolher, tendo na<br />

realidade desempenhado as<br />

duas.<br />

Aos 13 anos de idade o seu<br />

pai leva-o a viver na corte, local<br />

onde rapidamente se notabiliza,<br />

chamando à atenção<br />

da Rainha Dona Leonor que<br />

o chama para seu escudeiro.<br />

Neste período tem a possibilidade<br />

de conviver com os podres<br />

e as intrigas da corte, que<br />

<br />

da sua vocação de Cavaleiro<br />

casto, destinado a cumprir,<br />

pelas armas os desígnios do<br />

Senhor.<br />

A sua ideia de permanecer<br />

casto em acções e pensamentos<br />

sofreu um duro revés<br />

quando, aos 17 anos, o seu<br />

pai decide arranjar-lhe casamento<br />

com Leonor de Alvim,<br />

<br />

<br />

única, D. Beatriz Pereira de<br />

Cap Inf Rocha e Silva<br />

AAlvim,<br />

nascida em 1380, que<br />

<br />

<br />

ccasa<br />

de Bragança.<br />

É já casado e a viver no<br />

MMinho<br />

que, em 1383, recebe<br />

a<br />

notícia da morte do Rei D.<br />

FFernando<br />

deixando o Reino<br />

nnuma<br />

grave crise dinástica.<br />

<br />

sse<br />

coloca ao lado do Mestre<br />

dde<br />

Avis, tendo sido a seu lado<br />

qque<br />

o seu génio de brilhante<br />

CComandante<br />

se revela. A sua<br />

aacção,<br />

durante o período de<br />

2<br />

anos em que o país mergu-<br />

lh lhou numa grave crise, foi vital<br />

<br />

ccomo<br />

Rei de Portugal.<br />

Após a vitória perante os<br />

Castelhanos, D. Nuno dedica<br />

a sua vida à consolidação do<br />

reino, tendo estado sempre do<br />

lado do seu Rei em defesa de<br />

Portugal e dos seus interesses,<br />

tendo-lhe o Rei retribuído<br />

com grandes regalias e propriedades,<br />

tornando-o o mais<br />

poderoso homem do País.<br />

TGen Oliveira Cardoso<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

13


AZIMUTE<br />

14<br />

“B. Nonii a S. Maria Ex Calce Sepulcri”<br />

Nos anos que se seguiram<br />

à feitura da paz com Castela,<br />

em 1411, D. Nuno passa a<br />

ter uma vida mais recatada,<br />

dedica-se à causa social, para<br />

onde dirigiu grande parte da<br />

sua fortuna, também já partilhada<br />

com os seus familiares,<br />

afastando-se cada vez mais<br />

da vida na corte.<br />

D. Nuno e a Igreja<br />

Em 1423, já viúvo, e dando<br />

seguimento a algo previsível<br />

desde a sua juventude,<br />

despoja-se de todos os bens<br />

que lhe restavam, e entra<br />

para Ordem dos Carmelitas,<br />

no Convento do Carmo, cuja<br />

fundação se lhe devia.<br />

Com o nome de Nuno de<br />

Santa Maria, adoptado em<br />

Honra da mãe de Jesus, de<br />

quem era devoto, assume<br />

uma vida de pobreza extrema,<br />

não dispondo de qualquer<br />

bem para além do modesto<br />

hábito que o vestia. Ali, à fama<br />

e respeito granjeados como<br />

Condestável do Reino, juntou<br />

a santidade, pois assim o viam<br />

todos quantos por ele eram<br />

recebidos, e por ele eram confortados<br />

e alimentados. Ali, no<br />

Convento do Carmo, nasceu o<br />

Santo Condestável.<br />

Ao primeiro dia de Novembro<br />

do ano de 1431, com 71<br />

Nº 187 AGO09<br />

anos, o Santo Condestável,<br />

rodeado do Rei e amigo e de<br />

todos os infantes, fecha os<br />

olhos pela última vez, na sua<br />

cela fria e inóspita, deixando<br />

um enorme legado que ofereceu<br />

a todos nós, Portugal.<br />

De Beato a Santo<br />

Ainda antes da sua morte,<br />

D. Nuno, era já visto pelo p povo p<br />

como um Homem Santo, anto, ,<br />

tal a sua generosidade, ade,<br />

antes e depois da entrantrada no convento. Após s a<br />

sua morte, o mito esspalhou-se, passando o<br />

desde esse ano de<br />

1431 a ser venerado<br />

como tal.<br />

Foram precisos,<br />

quase 500 anos para ra<br />

que a igreja visasse, e,<br />

o culto que até ai se<br />

havia praticado em m<br />

Portugal, tendo o Papa apa<br />

Bento XV, procedido do<br />

<br />

23 de Janeiro de 1918, 18, ,<br />

consagrando o dia 6<br />

de Novembro para a<br />

seu louvor.<br />

Em 1940 foi iniciado do<br />

um processo de canoninonização, entretanto reaberto b t em<br />

2004. A 26 de Abril de 2009, o<br />

Papa Bento XVI, formalmente,<br />

declarou D. Nuno como<br />

Santo, algo que na realidade<br />

já o era, há vários séculos.<br />

Colóquio<br />

No âmbito da canonização<br />

de D. Nuno Álvares Pereira,<br />

a 26 de Abril do corrente ano,<br />

a Escola Prática de Infantaria<br />

(EPI) promoveu, no passado<br />

dia 26 de Junho, um colóquio<br />

com o objectivo de assinalar<br />

aquela efeméride.<br />

O referido evento, que teve<br />

lugar no auditório da EPI, foi<br />

realizado com recurso a dois<br />

painéis:<br />

O primeiro, moderado pelo<br />

Sr. Tenente-Coronel Boga<br />

<br />

contribuir para o aprofundamento<br />

do conhecimento do<br />

patrono da Infantaria portuguesa<br />

como Homem, Militar<br />

e Santo, tendo estas três facetas<br />

de D. Nuno sido respectivamente<br />

abordadas pelo<br />

Sr. Tenente-coronel António<br />

Pires Nunes, pelo Sr. Coronel<br />

Américo Henriques e pelo<br />

Bispo Auxiliar de Lisboa, D.<br />

Carlos Azevedo. Azev Neste painel<br />

foram fforam<br />

in invocadas as quali-<br />

dades ddades<br />

humanas e milita-<br />

res res ímpares ímp que levaram<br />

a qque,<br />

reconhecida-<br />

men mente, o patrono da<br />

Infan Infantaria Portuguesa<br />

-<br />

ên ência que teve na<br />

cconsolidação<br />

da so-<br />

bberania<br />

de Portugal<br />

e<br />

da importância<br />

qque<br />

deu às causas<br />

so sociais.<br />

O segundo painel,<br />

de desta feita modera-<br />

do<br />

pelo Sr. Tenente-<br />

Co Coronel Rebouta<br />

-<br />

dad dade de enquadrar as<br />

acçõ acções de D. Nuno no<br />

seu tempo, t tentando-se<br />

comp compreender o porquê<br />

das acções ac de D. Nuno,<br />

tendo tal acontecido a com o<br />

contributo do Sr. Tenente-<br />

Coronel Barroso que abordou<br />

o ambiente estratégico-militar<br />

da época, fortemente marcado<br />

pela Guerra dos cem anos,<br />

relevando a importâncias das<br />

Batalhas de Crecy e Poitier,<br />

pelo Sr. Capitão de Infantaria<br />

Dias Afonso, que detalhou a<br />

crise dinástica de 1383-1385<br />

e a Batalha de Atoleiros, referindo<br />

as acções de D. Nuno<br />

nessa importante batalha,<br />

e pelo Sr. Tenente-Coronel<br />

Lemos Pires, que apresentou<br />

os aspectos que, decorrentes<br />

da invasão de Castela em<br />

1385, levaram à batalha Real<br />

de Aljubarrota, demonstrando<br />

a capacidade de persuasão<br />

numa primeira fase, planeamento<br />

cuidado e brilhante<br />

execução. <strong>Azimute</strong>


Introdução<br />

As Crónicas de D. Fernando<br />

e de D. João I, de Fernão Lopes,<br />

e a Crónica do Condestável, de<br />

autor desconhecido, parcialmente<br />

inserida nas primeiras,<br />

são as fontes essenciais para o<br />

conhecimento da personalidade<br />

e da acção dos dois principais<br />

chefes da Revolução de 1383-<br />

85 – D. João I e D. Nuno Álvares<br />

Pereira. Contudo, nem sempre o<br />

leitor de apercebe dos pormenores<br />

da narração ou dá conta de<br />

que o cronista elegeu D. Nuno<br />

como seu preferido, ao ponto de,<br />

na Crónica de D. João I, exarar<br />

palavras dirigidas ao seu herói,<br />

como não faz ao Rei. Nela, escreve<br />

Fernão Lopes “... podendo nós<br />

largamente ordenar seus prudentes<br />

feitos (de D. Nuno), isto seria<br />

a nós graciosa lembrança e cousa<br />

mais doce que ligeireza de fazer.<br />

Mas quem puder dignamente<br />

contar os louvores deste virtuoso<br />

varão cujas obras e discretos actos,<br />

sendo todos postos em escrito,<br />

ocupariam grande parte deste<br />

livro...”. Desta forma, e com grande<br />

subtileza, ao longo da crónica,<br />

Tenente-Coronel Pires Nunes<br />

D. Nuno Álvares Pereira<br />

O Homem<br />

<br />

Pereira, apagando frequentemente<br />

a de D. João I, exactamen-<br />

<br />

sua especial atenção. Por isso,<br />

é necessária toda a prudência<br />

ao avaliar aspectos panegíricos<br />

exagerados do Condestável, enquanto<br />

nos merece mais crédito<br />

quando relata os seus defeitos.<br />

Ele próprio adianta: “Alguns, sem<br />

limpo desejo, podem dizer que<br />

nós o louvámos mais do que os<br />

seus feitos merecem (...) agravando<br />

va nele algumas<br />

leves lev cousas”.<br />

Acresce que tratar<br />

ta do Homem, numa<br />

<br />

Nuno, Nu obriga necessariamente<br />

sa a abordar<br />

o Militar e o Religioso,<br />

o que farei com o cui-<br />

<br />

não nã interferir na intervenção<br />

te dos outros<br />

conferencistas.<br />

co<br />

TCor Art Pires Nunes<br />

Os Primeiros Tempos<br />

D. Nuno nasceu provavelmente<br />

em Cernache do Bom<br />

Jardim, nos Paços de Bonjardim,<br />

<br />

24 de Junho de 1360, festa litúrgica<br />

de S. João Baptista. Há,<br />

porém, quem defenda ter ele<br />

nascido em Flor da Rosa, sede<br />

da Ordem dos Hospitalários,<br />

nos arredores do Crato, no Alto<br />

<br />

Álvaro Gonçalves Pereira, prior<br />

da Ordem do Hospital, e de Iria<br />

Gonçalves do Carvalhal, um dos<br />

<br />

Prior, que lhe proporcionou uma<br />

educação primorosa, segundo os<br />

ditâmes da época medieval.<br />

Quando tinha pouco mais do<br />

que um ano foi legitimado por D.<br />

Pedro e segundo a Crónica do<br />

Condestável, era “criado a grão<br />

viço”. A sua educação fora entregue<br />

pelo Prior, seu pai, ao tio,<br />

Martim Gonçalves de Carvalho,<br />

irmão da mãe, solicitando-lhe<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

15


AZIMUTE<br />

16<br />

que fosse seu aio, “o criasse e<br />

ensinasse bem, o que faria certo”<br />

e, no dizer do cronista, “que<br />

<br />

tão boas andanças que em todas<br />

as batalhas em que entrasse<br />

sairia sempre vencedor”, como<br />

lhe teria profetizado um vidente<br />

que consultara quando D. Nuno<br />

nasceu.<br />

Pouco mais se sabe da infância<br />

de D. Nuno, que viveu alguns<br />

anos na Corte, onde foi certamente<br />

lendo e ouvindo romances<br />

de cavalaria e adestrando-se<br />

com a espada e com a lança e na<br />

arte de bem cavalgar para disputar<br />

torneios e justas, arte militar<br />

em que se tornou exímio.<br />

Desprovido de bens, era pelo<br />

seu próprio esforço que ambicio-<br />

<br />

tê-lo-ia levado à leitura dos feitos<br />

ciaram<br />

o seu destino.<br />

Sonhava ser um novo Galaaz<br />

(herói imaculado da Távola<br />

Redonda, o único digno de procurar<br />

o Santo Graal) e a História<br />

atesta que tentou aproximar-se<br />

desse homem ideal.<br />

Em Santarém, onde estava<br />

a Corte por motivo das desastrosas<br />

guerras fernandinas, foi<br />

encarregado por D. Fernando<br />

de fazer um reconhecimento às<br />

forças castelhanas que se dirigiam<br />

a Lisboa e regressou com<br />

a informação de que “os castelhanos<br />

lhe pareciam muita gente<br />

mal acaudelada e que pouca<br />

gente com um bom capitão os<br />

poderia desbaratar” (Crónica do<br />

Condestável). A audácia desta<br />

resposta ao rei, que implicava elevada<br />

responsabilidade e grande<br />

<br />

como rapidamente se apercebeu<br />

das fraquezas do exército castelhano<br />

e a importância que atribui<br />

ao chefe militar na condução de<br />

uma batalha, tendo apenas treze<br />

anos de idade, não deixam dúvidas<br />

que D. Nuno era já alguém<br />

com vocação acentuada para a<br />

Nº 187 AGO09<br />

<br />

induzem-nos implicitamente a<br />

pensar que, tão novo, se considerava<br />

esse capitão capaz de se<br />

opor ao inimigo mesmo com um<br />

exército menos numeroso. Não<br />

admira, pois, que D. Leonor de<br />

<br />

<br />

do jovem, o tomou ao seu serviço<br />

e o armou cavaleiro, utilizando<br />

na cerimónia o arnez do Mestre<br />

de Avis. Assim se iniciava entre<br />

os dois jovens uma ligação sentimental<br />

e provavelmente uma<br />

amizade, que viria a ser decisiva<br />

para o destino de Portugal.<br />

Até 1376, D. Nuno, agora com<br />

16 anos de idade, continua na<br />

Corte. O rei e o prior, D. Álvaro,<br />

seu pai, que morreu esse ano,<br />

resolvem casá-lo e escolheram<br />

para sua noiva uma rica viúva,<br />

<br />

de Alvim, senhora possuidora de<br />

grande fortuna. O prior enviou<br />

o comendador da Flor da Rosa<br />

contactar a senhora, que respondeu<br />

se desse conhecimento<br />

ao rei que ela faria como ele<br />

desejasse. Assim se faziam os<br />

casamentos da nobreza nessa<br />

Idade Média e D. Nuno não fugiu<br />

à regra. Importa, todavia, salientar<br />

que a interferência do rei no<br />

casamento mostra que D. Nuno<br />

era tido em grande consideração<br />

por D. Fernando.<br />

Avisado das perspectivas do<br />

casamento, o rapaz pediu ao<br />

<br />

<br />

leitura dos livros da cavalaria, em<br />

especial pela história de Galaaz,<br />

o qual, por se ter conservado em<br />

virgindade, cometera extraordinárias<br />

proezas, que a outros não<br />

fora possível, não se preocupava<br />

senão em cavalgar e andar à<br />

caça. D. Nuno resistiu ao casamento,<br />

que o impedia de concretizar<br />

os seus sonhos e nem o pai<br />

e a mãe o conseguiram convencer<br />

acabando, todavia, por ceder<br />

a rogo de dois amigos.<br />

Depois de casado, retirouse<br />

para a terra da esposa, em<br />

Entre Douro e Minho, onde se<br />

manteve até 1379 ou seja durante<br />

três anos. Desse casamento<br />

reram<br />

à nascença e D. Beatriz,<br />

de cujo parto faleceu a mãe. D.<br />

Nuno, agora viúvo, ainda muito<br />

jovem, não consente em ca-<br />

<br />

que ele idolatrava, veio a casar<br />

a 8 de Novembro de 1401, com<br />

D. Afonso que foi duque de<br />

<br />

João I, dando origem à Casa de<br />

Bragança e a laços familiares<br />

com o rei.<br />

Segundo a Crónica de D.<br />

Fernando, em 1381 encontravase<br />

em Lisboa, cercada pelos castelhanos<br />

que, de vez em quando,<br />

faziam saques na capital. Uma<br />

noite, D. Nuno faz-lhes uma espera,<br />

emboscado na ponte de<br />

Alcântara e caiu sobre eles obrigando-os<br />

a recolher apressadamente<br />

aos navios. Porém, uma<br />

força inimiga com que não contava<br />

apareceu-lhe subitamente em<br />

Santos. Nun’Álvares não hesitou<br />

e lançou-se imediatamente sobre<br />

ela o que podia ter-lhe custado<br />

a vida, pois os seus homens<br />

hesitaram e só quando o viram<br />

isolado acabaram por ir à luta e<br />

salvaram-no.<br />

Esta acção revela-nos um D.<br />

Nuno temerário e um tanto inconsciente<br />

chegando a confundir-se<br />

a sua temeridade com pura<br />

bravata, mas mostra-nos também<br />

que tinha grande espírito de<br />

iniciativa, que constantemente<br />

o impelia à acção. Intimorato ao<br />

extremo nada o detendo, risco no<br />

limite, agressivo contra o inimigo<br />

do,<br />

são os seus atributos mais<br />

evidentes. Este voluntarismo excessivo<br />

haveria de o colocar de<br />

novo em apuros quando, após a<br />

sua brilhante vitória em Atoleiros,<br />

soube que os castelhanos se estavam<br />

a concentrar no Crato. Vai


ao seu encontro com uma força<br />

consideravelmente inferior mas<br />

é cercado e, sem possibilidade<br />

de receber reforços, retira com<br />

o pretexto de ir a Évora buscar<br />

mantimentos. Arriscava tudo<br />

numa acção com grande facilidade<br />

e ânimo leve, seguindo a<br />

máxima de Kipling: ”Um Homem<br />

só é verdadeiramente Homem se<br />

for capaz de arriscar tudo numa<br />

cartada e continuar calmo”. Não<br />

<br />

apenas em si próprio, mas é um<br />

facto que a sorte nunca lhe foi<br />

madrasta dando razão ao aforismo:<br />

“A sorte protege os audazes”.<br />

A Crise em Perspectiva.<br />

D. Nuno Adere ao Mestre<br />

Voltou a Pedraça e ali estava<br />

quando, em 1383, D. Fernando<br />

faleceu.<br />

Passado um mês foi a Lisboa<br />

para assistir às exéquias do 30º.<br />

dia da morte do monarca e apercebeu-se<br />

da conjura que se tramava<br />

já contra D. Leonor e conde<br />

Andeiro, seu amante.<br />

Segundo Fernão Lopes, D.<br />

Nuno era, nesse tempo: “pessoa<br />

de pouca e branda palavra mas o<br />

seu bom gasalhado (bom acolhimento)<br />

e doces razões contentavam<br />

muito a todos” e “nenhuma<br />

coisa fazia com rancor e ódio”.<br />

Apesar destes doces predicados<br />

era um jovem fortalecido pelo<br />

treino da vida de campo, a caça,<br />

as cavalgadas e o exercício das<br />

armas.<br />

Vai a Santarém para convencer<br />

o seu irmão Pedro, Prior<br />

do Crato, a aderir à causa do<br />

Mestre, em vão como é sabido.<br />

<br />

um alfageme e vê uma espada<br />

pendurada que muito lhe agradou<br />

e pede ao artesão que lhe<br />

faça espada igual tendo como<br />

resposta que, para ele, faria uma<br />

ainda melhor. Assim sucedeu e,<br />

quando D. Nuno lhe quer pagar,<br />

o alfageme disse-lhe que receberia<br />

quando ele fosse conde<br />

de Ourém. A profecia realizouse<br />

mas a resposta do alfageme<br />

<br />

D. Leonor acabava de conceder<br />

o título de conde de Ourém ao<br />

conde Andeiro. As palavras do<br />

raia<br />

miúda, a certeza que havia<br />

de que D. Nuno, que ainda não<br />

ganhara qualquer batalha, seria<br />

aquele que, com a sua espada,<br />

venceria o perigo que representava<br />

o valido da rainha. A dramaturgia<br />

portuguesa foi enriquecida<br />

com este tema quando Almeida<br />

Garrett escreveu “O Alfageme de<br />

Santarém”.<br />

Tinha 23 anos quando lhe<br />

chegou a notícia da morte do<br />

conde Andeiro e a sua opção estava<br />

tomada: combateria contra<br />

Castela mesmo que tivesse que<br />

o fazer contra amigos e o seu irmão.<br />

Parte para Lisboa, cheio de<br />

patriotismo e vontade de combater<br />

e encontra-se com o Mestre,<br />

a quem beijou a mão, como<br />

se fosse já rei e, reunindo os<br />

seus homens, manifestou-lhes<br />

o pressentimento de que Deus<br />

lhe reservava a incumbência<br />

de defender a Pátria, apesar de<br />

toda a família e sua mãe o aconselharem<br />

a não se meter nessa<br />

tarefa, que seria inglória dada a<br />

fraqueza do Reino. É esta a segunda<br />

vez, que referimos, em<br />

que coloca sem qualquer hesitação<br />

a Pátria acima da família e<br />

Deus no cume pelo que podemos<br />

dizer que a sua trilogia de valores<br />

era “Deus, Pátria e Família”.<br />

Mais lhes disse: “Deus o impelia<br />

a lançar-se no grande poço cheio<br />

de escuridão, que era a guerra<br />

inevitável, de onde só se sairia<br />

por milagre de Deus e que, apesar<br />

do perigo, o seu coração o<br />

impelia a saltar nele” (Crónica de<br />

D. João I, de Fernão Lopes). Ao<br />

patriotismo junta-se a determina-<br />

<br />

ímpar. É talvez a primeira manifestação<br />

de uma fé inabalável<br />

em Deus a Quem se entregava<br />

e a Quem seguiu até à morte.<br />

Naquele ano, a sorte futura do<br />

país era, de facto, um poço negro<br />

e fundo. Ninguém podia medir a<br />

gravidade e a extensão da crise<br />

que acabava de ser desencadeada.<br />

Aos seus homens disse ainda:<br />

“Aqueles que de vós a quem<br />

prouver de saltar comigo terlho-ei<br />

a grande bem e extremado<br />

serviço” (Crónica de D. João<br />

I, de Fernão Lopes). Um a um<br />

mente,<br />

agrupando-se à sua volta.<br />

Estava traçado o seu destino.<br />

Este jovem tinha já carisma em<br />

elevado grau, capaz de arrostar<br />

os seus homens para os maiores<br />

perigos e revelava-se, ao contrário<br />

de outras ocasiões passadas,<br />

bem consciente da tarefa em que<br />

ia empenhar-se, mostrava-se de<br />

uma lealdade inultrapassável ao<br />

que considerava já ser o seu rei<br />

mas continuava a permanecer<br />

nele a “atracção do abismo”,<br />

lançando-se no escuro conscientemente<br />

sem olhar para as<br />

consequências do seu gesto. Na<br />

sua cabeça tinha o mesmo que<br />

D. Luísa de Gusmão em 1640,<br />

aquando a Restauração: “Mais<br />

vale morrer livre que viver servindo”.<br />

E os seus homens seguiamno<br />

cegamente.<br />

O historiador Oliveira Martins<br />

exprimiu com grande mestria a<br />

simbiose de D. Nuno com Deus<br />

quando escreveu: “A sua fé em<br />

Deus era a chama em que ardia<br />

a sua dedicação patriótica e a<br />

sua energia militar. A religião era<br />

a sua raiz; a virtude, a coragem, o<br />

civismo, os ramos da sua vida iniciada<br />

pela resolução mística da<br />

cavalaria” e acrescentava noutro<br />

espaço: “Nun’Álvares tinha em si<br />

o que levanta as montanhas: tinha<br />

fé e uma virtude imaculada,<br />

<br />

indomável”.<br />

Lançando-se com fé em Deus<br />

no poço fundo que era a incerteza<br />

do desfecho de uma guerra<br />

com Castela, avassaladoramente<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

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AZIMUTE<br />

18<br />

mais poderosa, ao lado do<br />

Mestre de Avis, começa a ser difícil<br />

distinguir o Homem do Militar<br />

e do Místico, facetas de D. Nuno<br />

que aparecem simultaneamente<br />

e estão inter-ligadas. Por outro<br />

lado, ligando o seu destino ao do<br />

Mestre e andando frequentemente<br />

juntos, é também inevitável fazer<br />

uma comparação com este,<br />

em tudo o que diga respeito aos<br />

assuntos da guerra.<br />

D. Nuno na Crise<br />

Fernão Lopes deixa-nos, por<br />

mais do que uma vez, a impressão<br />

de que, na época, haveria<br />

militares tão ilustres ou até de<br />

maior nomeada do que D. Nuno<br />

e que, mesmo já durante os<br />

acontecimentos da Crise, não<br />

era aceite para cargos militares,<br />

sem reservas. O cronista mal se<br />

refere à batalha de Trancoso,<br />

que assumiu grande importância<br />

para o desfecho da batalha<br />

de Aljubarrota, talvez para não<br />

ofuscar o seu herói, que lá não<br />

esteve. O abade de Baçal refere,<br />

em escrito pouco conhecido,<br />

<br />

de Simancas (em Espanha) com<br />

o título “A insídia de Trancoso” e<br />

aqui teria morrido grande número<br />

dos mais experimentados capitães<br />

de Castela, cujos nomes<br />

constam do documento, que vieram<br />

a fazer falta em Aljubarrota.<br />

A batalha de Trancoso foi ganha<br />

por D. Gonçalo Coutinho,<br />

go<br />

que parece não nutria grande<br />

simpatia por D. Nuno e que, apesar<br />

dos apelos para que estivesse<br />

em Aljubarrota, não o fez.<br />

Quando foi necessário nomear<br />

um fronteiro para o Alentejo, a<br />

escolha do Mestre recaiu em D.<br />

Nuno mas encontra oposição de<br />

alguns homens notáveis, como<br />

D. João das Regras de quem o<br />

cronista escreve: “O Doutor João<br />

das Regras era muito contra esto<br />

dizendo que tamanho encarrego<br />

cumpria mandar um homem de<br />

Nº 187 AGO09<br />

madura autoridade”.<br />

Decididamente que, pelo menos<br />

até este momento, D. Nuno<br />

não seria visto como um militar<br />

informado, competente, experiente<br />

e muito avisado; em suma,<br />

ainda não se impusera. A passagem<br />

da Crónica indica, ,<br />

uma vez mais, haver outros<br />

chefes militares considerados<br />

melhores do que ele,<br />

que Fernão Lopes não nomeia,<br />

e que, não obstante te<br />

toda a actividade anterior, erior,<br />

D. Nuno não inspirava va<br />

<br />

responsáveis.<br />

Talvez porque fosse<br />

muito novo (24<br />

anos), porque sobressaia a<br />

demasiadamente o seu eu<br />

aventureirismo, pouco co<br />

compatível com a se-<br />

riedade e ponderação<br />

que exigia o momento<br />

em que se jogava<br />

o destino da Pátria<br />

ou talvez e, sobretudo,<br />

porque tendo sido o<br />

armado cavaleiro por r<br />

D. Leonor de Teles<br />

com quem conviveu<br />

e ter pelo menos um<br />

irmão muito chegado<br />

a si, que combatia por<br />

Castela, seria olhado<br />

<br />

Estas circunstâncias<br />

pesariam mais na<br />

sua avaliação do que<br />

o patriotismo de que<br />

dava exuberantes<br />

mostras e do que o<br />

espírito ofensivo contra<br />

Castela que mostrava<br />

ostensivamente.<br />

Também nestes tempos<br />

teria imperado a<br />

inveja por D. Nuno ter<br />

obtido uma amizade<br />

quase fraternal do rei<br />

e ser um incondicional<br />

deste, o que teria sido o<br />

caso do herói de Trancoso.<br />

D. João não olhou às críticas ticas<br />

e nomeia-o fronteiro-mor do<br />

Alentejo, onde D. Nuno desenvolve<br />

uma notabilíssima actividade<br />

militar que culminou<br />

com a batalha de Atoleiros e o<br />

<br />

mostra, contrariamente ao


que os notáveis diziam, que era<br />

mesmo um militar informado,<br />

competente e sabedor da guerra.<br />

As circunstâncias em que<br />

se desenrolou a batalha de<br />

Aljubarrota inicia um conjunto de<br />

atitudes polémicas do condestável,<br />

ainda hoje discutidas e por<br />

muitos historiadores consideradas<br />

manchas no carácter de<br />

D. Nuno. D. João era o comandante-chefe,<br />

que pensa naturalmente<br />

a nível estratégico e D.<br />

Nuno apenas o chefe militar táctico,<br />

que lhe estava subordinado.<br />

Sucedeu, porém, que D. Nuno<br />

esquece-se disso e, no Conselho<br />

de Abrantes, mostra traços poucos<br />

aceitáveis da sua personalidade.<br />

Não concordando com os<br />

conselheiros, que se inclinavam<br />

para uma manobra de diversão<br />

na Andaluzia, D. Nuno, com alguma<br />

arrogância e sobrepondose<br />

ao rei dirige-se ao Conselho<br />

para o demover, dizendo “não o<br />

fazendo (dar combate imediato)<br />

mostraríamos grande míngua e<br />

cobardia que quebraria o coração<br />

dos portugueses”. Dar batalha<br />

por motivos de honra, sentimento<br />

tão do agrado de D. Nuno,<br />

é tipicamente medieval mas D.<br />

João, muito mais ponderado, não<br />

estava ali para arriscar por motivos<br />

de honra mas para decidir,<br />

com segurança, o destino do<br />

<br />

Obcecado com a ideia de<br />

combater a todo o custo, D.<br />

Nuno parece, por vezes, procurar<br />

o combate pelo combate o<br />

que, de facto, podia ser perigoso<br />

para as aspirações de Portugal.<br />

O chefe táctico, D. Nuno, numa<br />

atitude pouco aceitável, por mais<br />

exaltada que seja, afasta-se do<br />

Conselho e parte arrogantemente<br />

em direcção aos castelhanos.<br />

Abusou da grande amizade do<br />

tre<br />

eles e deixa-se levar pelo arrebatamento<br />

e voluntarismo quase<br />

cego, aliás na linha do que era<br />

o seu caracter. Se a atitude de<br />

D. Nuno é considerada um golpe<br />

de génio, que arrastou o timorato<br />

rei, tese que muitos advogam,<br />

ocorre perguntar de quem seria<br />

a responsabilidade se tivessem<br />

perdido a decisiva batalha de<br />

Aljubarrota?<br />

Analiso o Homem que foi indisciplinado<br />

mas seria estultícia<br />

ser demasiado severo para com<br />

D. Nuno, uma vez que se apercebeu<br />

logo e só ele que “indo a<br />

Sevilha, como o Conselho parecia<br />

advogar, para cortar duas<br />

oliveiras podres (palavras de<br />

Fernão Lopes) equivalia a perder<br />

Lisboa e, perdida Lisboa, estava<br />

o reino perdido”. Viu também que<br />

D. João I de Castela teria que<br />

decidir ali os seus objectivos se<br />

não queria ver cortada a sua linha<br />

de comunicações e que não<br />

havia outra forma de neutralizar<br />

o Conselho e abrir os olhos ao<br />

seu real amigo senão como ele<br />

fez. Teve razão e perdoamos-lhe<br />

a atitude, o que não torna lícito<br />

o seu comportamento. Muito<br />

naturalmente os membros do<br />

do:<br />

“Tem soberba que mostrava<br />

grande desprezo por el-rei e por<br />

todos eles e que pretendia inimistá-los<br />

contra el-rei”, o que era<br />

verdade.<br />

Mas há outras situações bem<br />

graves.<br />

Revelando-se um condestável<br />

pleno de pujança e consciente<br />

das suas funções procurava<br />

informar-se sempre sobre o inimigo.<br />

Tendo-lhe sido entregue um<br />

prisioneiro ordenou-lhe que fosse<br />

a el-rei e a todos os homens de<br />

armas que ali estivessem e lhes<br />

dissesse que as tropas castelhanas<br />

eram fracas, pouco numerosas<br />

e desunidas. Esta atitude<br />

para com o comandante-chefe,<br />

quando se decidia a batalha e a<br />

forma de actuar, tentando levá-lo<br />

ao engano só para que houvesse<br />

batalha, para que se combatesse<br />

e ele tivesse o seu combate<br />

também não é defensável. Que<br />

queria combater pela Pátria te-<br />

<br />

se não também pela sua própria<br />

<br />

E que dizer da impertinência<br />

de D. Nuno que, por decisão própria,<br />

envia uma missiva aos castelhanos,<br />

em clara exorbitação<br />

das suas funções e na ausência<br />

do rei, na qual comunica que elrei<br />

de Portugal lhe daria batalha<br />

se não abandonasse a sua terra,<br />

que desvalorizou a mensagem<br />

posterior de D. João, muito mais<br />

prudente, em que diz ao rei de<br />

Castela que poderá não haver<br />

luta e lhe pede para abandonar<br />

Portugal, em nome de um não<br />

derramamento de sangue?<br />

Desde que é condestável, talvez<br />

pelo facto de o rei ser muito<br />

seu amigo e também jovem e ser<br />

rei não havia muito tempo que<br />

nenhum deles interiorizara ainda<br />

esse facto, D. Nuno está sempre<br />

pronto a sobrepor-se a ele e a<br />

ultrapassá-lo. Por seu lado, no<br />

Conselho de Guerra de D. João<br />

I de Castela, quem foi valorizado<br />

muito naturalmente nas palavras<br />

de João Afonso de Telo é D. João<br />

I de Portugal e não D. Nuno.<br />

“Vencido este homem (D. João<br />

<br />

o reino desimpedido”. De facto,<br />

esse era a pessoa a derrotar por<br />

representar o poder político. Nas<br />

principais batalhas da Guerra<br />

destável<br />

apaga-se perante as<br />

do comandante-chefe, no caso<br />

de Grécy, os reis Eduardo III e<br />

Filipe de Valois. Em Aljubarrota<br />

sucede o contrário muito pelo<br />

protagonismo de D.Nuno, que<br />

se pôs sempre em primeiro plano<br />

e muito pelo apagamento<br />

que Fernão Lopes faz a D. João.<br />

<br />

sido genial na condução da batalha,<br />

muito especialmente se a<br />

manobra que foi executada tiver<br />

sido premeditada e não fruto das<br />

circunstâncias. As atitudes descritas<br />

ocorreram, a meu ver, não<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

19


AZIMUTE<br />

20<br />

por circunstâncias fortuitas mas<br />

pela personalidade do condestável.<br />

Após Aljubarrota, continuou a<br />

proceder da mesma forma quando<br />

a guerra foi levada a Castela.<br />

Em Cória, D. Nuno desobedece<br />

ao rei e fez fracassar o ataque<br />

à povoação com o argumento<br />

de que não tinha engenhos de<br />

assédio. Tendo o rei ordenado o<br />

ataque geral concerteza procedido<br />

de um encontro com o seu<br />

condestável, a inactividade deste<br />

é intrigante. E o mesmo sucedeu<br />

noutras ocasiões das quais<br />

me deterei apenas na batalha<br />

de Valverde, nas margens do<br />

Guadiana, que travou por conta<br />

própria, prolongando as operações<br />

e arriscando demasiado escusadamente.<br />

D. Nuno, sempre<br />

<br />

çara,<br />

arriscando sempre, pensando<br />

arrebatadoramente só por<br />

si, como se não dependesse de<br />

<br />

nunca o abandonou, numa guerra<br />

travada por Portugal e que ele<br />

parecia considerar a sua guerra.<br />

O medievalista, António<br />

Borges Coelho, sobre a batalha<br />

de Valverde, escreve: “Em<br />

Valverde, quando se desenrolam<br />

já os primeiros combates, as<br />

suas tropas estão sem comando<br />

e ele, atrás de uns rochedos, a<br />

implorar o favor divino. Esta atitude<br />

poderá emoldurar a cabeça do<br />

herói com uma auréola de santidade<br />

mas, sob ponto de vista militar<br />

é desastrosa e Fernão Lopes<br />

parece ter disso ideia clara” (A.<br />

Borges Coelho, A Revolução de<br />

1383).<br />

O Humanista<br />

Com as facetas da sua personalidade,<br />

já referidas, Fernão<br />

Lopes apresenta-nos D. Nuno<br />

como um verdadeiro cultor do<br />

humanismo quando testemunha:<br />

“Como a estrela da manhã,<br />

resplandeceu entre os da<br />

sua geração, com honesta vida<br />

Nº 187 AGO09<br />

e honrosos feitos, parecendo<br />

que reluziam nele os avisados<br />

costumes dos antigos e grandes<br />

varões. Na condução da<br />

guerra mostrava tal autoridade,<br />

que nenhum dos que o acompanhavam<br />

se atrevia a hostilizar<br />

os inimigos além do que por ele<br />

lhes era mandado, dispondo-se<br />

cada um a cumprir os preceitos<br />

que ele lhes dava e não lhe desobedecendo<br />

em caso algum. E,<br />

no entanto, morava sempre nele<br />

uma discreta mansidão que é a<br />

alma dos bons costumes. Por<br />

isso, no dizer de Oliveira Martins<br />

“o próprio inimigo adorava esse<br />

Capitão, a quem os seus obedeciam<br />

religiosamente”.<br />

Trazer mulheres e jogar aos<br />

dados a ninguém era consentido;<br />

e quando nascia entre alguns<br />

dos seus qualquer desavença<br />

pela qual deixavam de se falar,<br />

logo tratava de os concordar e<br />

fazer amigos e de guisa que o<br />

seu acampamento não parecia<br />

hoste de guerreiros mas honesta<br />

ordem de defensores.<br />

Em todas as cousas procedia<br />

muito sagesmente, com proporcionado<br />

castigo e prémio àqueles<br />

que dele dependiam; e quando<br />

se zangava contra alguém o seu<br />

castigo não dava lugar a rumor,<br />

de modo que à sua grave quietação<br />

os homens tinham mais reverência<br />

que temor.<br />

Sendo ainda moço e desviando-se<br />

do costume dos homens,<br />

começou a assentar em si todas<br />

as boas condições que podem ser<br />

apontadas num louvado varão,<br />

como se nele estivesse escondido<br />

o tesouro de toda a sabedoria.<br />

Em virtuosos pensamentos e em<br />

pô-los em execução, ocupava<br />

muito mais tempo do que cumpria<br />

a sua tenra idade.<br />

E porque semelhantes perfeições<br />

não eram habituais nos<br />

outros homens, nele eram tidas<br />

em muito grande conta. Por isso,<br />

onde moravam tantas virtudes,<br />

<br />

algum vício pudesse ser hóspede,<br />

nem alguém podia nele por<br />

nódoa que não fosse tido por<br />

malévolo pois, embora ele se esforçasse<br />

por encobrir a sua muito<br />

louvada fama, os seus virtuosos<br />

feitos eram pregoeiros dela.<br />

Compadecia-se dos pobres e<br />

necessitados, não os deixando<br />

padecer injúria e a sua larga mão<br />

estava sempre pronta a dar onde<br />

quer que a honra humanal ou o<br />

espiritual proveito atraíam o seu<br />

dom. Dispunha a sua fazenda,<br />

deixadas as despesas pomposas,<br />

que se devem evitar, de tal<br />

modo que, por nenhuma necessidade<br />

de guerra ou outra, nunca<br />

em suas terras lançou tributo<br />

ou serviço ou outra obrigação de<br />

ajuda e tinha tais administradores<br />

em sua casa que pouca ou<br />

nenhuma nódoa de erro havia<br />

neles.<br />

Na limpeza da sua verdade<br />

<br />

e a sua palavra não era menos<br />

<br />

juramento. Punha os actos espirituais<br />

acima de todas as cousas.<br />

Tanto foi de limpa consciência<br />

que, para salvação da sua alma,<br />

moderou de tal maneira a paixão<br />

da ira, que em muitos parece<br />

loucura, e por mais razão que<br />

tivesse nunca a ninguém cortou<br />

a fala…” (Fernão Lopes, Crónica<br />

de D. João I).<br />

O Herói<br />

A imprevisibilidade de atitudes<br />

e a expectativa sobre o comportamento<br />

de D. Nuno, face aos<br />

acontecimentos, deve ter generalizado<br />

a ideia de que ele era,<br />

no mínimo, diferente. Daí, até à<br />

sua aceitação como herói, vai<br />

apenas a constatação de que<br />

essa diferença conduzia a actos<br />

superiores que não estavam no<br />

alcance de qualquer, em favor<br />

da sua Pátria em perigo. Foi um<br />

herói consciente dos seus comportamentos,<br />

que jogou sempre<br />

incondicionalmente a vida, e para


quem a timidez, o medo e a hesitação<br />

o levavam frequentemente<br />

à exasperação. Determinado a<br />

tudo e denunciando sempre um<br />

caracter muito forte, compreende-se<br />

que possa ter sido alvo de<br />

incompreensão ou mesmo reprovação,<br />

em especial quando as<br />

suas atitudes se confundiam com<br />

falta de prudência e soberba ou<br />

quando afrontava pessoas e posições<br />

estabelecidas e de inveja.<br />

Ele viveu, sem nunca ter sido<br />

derrotado, não obstante ter estado<br />

próximo de o ser, por mais do<br />

que uma vez, riscos constantes<br />

e procurados por sua iniciativa<br />

invulgar, numa série de façanhas<br />

tão ampla que a História<br />

de Portugal raramente descreve<br />

para outro personagem.<br />

Em Almada “moveu a um<br />

monte sobre o mar, e fez os<br />

poer em az ordenado com sua<br />

bandeira no meio tendida, dando<br />

às trombetas... e isto à vista<br />

dos da cidade e do arraial dos<br />

castelãos”. Chegara a Almada,<br />

subira a um monte e mostravase<br />

às gentes de Lisboa para lhes<br />

incutir ânimo e desorientar os invasores.<br />

A surpresa foi grande e<br />

o rei de Castela pergunta quem<br />

é aquele atrevido ao que o fronteiro<br />

de Almada, que estava com<br />

ele, responde que lhe diz o coração<br />

que é Nuno Álvares. Para<br />

ele, só D. Nuno seria capaz de tal<br />

audácia. Desvalorizando o rei a<br />

capacidade do chefe militar português,<br />

recebe como resposta:<br />

“Agradecei a Deus e a este rio<br />

que está antre vós e ele, ca se<br />

este mar não fosse, aqui vos viria<br />

buscar hu estais”.<br />

E, no entanto, o rei de Castela<br />

já tivera encontro, em Elvas, com<br />

este atrevimento durante o seu<br />

casamento com D. Beatriz. Tendo<br />

lugares marcados para si e seu<br />

irmão Fernão numa das mesas<br />

<br />

aguardavam de pé a altura de se<br />

sentarem para o repasto, viram<br />

as suas cadeiras abusivamente<br />

ocupadas por outros. Já irritado<br />

por ter de assistir a um casamento<br />

que representava tudo contra<br />

o que iria lutar “com os joelhos<br />

bateu violentamente no pé da<br />

mesa e deu com ela em terra”<br />

(Fernão Lopes). O rei de Castela<br />

impressionado com este gesto de<br />

audácia e de inconformismo, teria<br />

comentado para D. Fernando<br />

“quem tal coisa cometeu (...) para<br />

muito mais será seu coração”.<br />

O episódio de Almada imprime-nos<br />

a ideia do herói pujante<br />

e triunfante que aparece como<br />

uma visão no outro lado do rio<br />

em todo o seu esplendor, desa-<br />

mindo<br />

temor.<br />

Noutro episódio, Fernão<br />

Lopes dá-nos pretexto para desculparmos<br />

todas as desconsiderações<br />

descritas anteriormente<br />

que D. Nuno teve para com o<br />

rei que, aliás, nalguns casos, lhe<br />

perdoou expressamente. O castelhano,<br />

conde de Maiorgas de-<br />

<br />

num ápice, D. Nuno apercebe-se<br />

do perigo em que o seu rei estava<br />

colocado, aceitando ou não o<br />

ria<br />

à altura de terçar armas com<br />

<br />

aceitando, sairia desprestigiado.<br />

do:<br />

“Eu lhe poerei o corpo sobrelo<br />

e lhe farei combater quer um<br />

por um ou dois por dois ou quantos<br />

ele quizer”. D. Nuno julga-se<br />

capaz de tudo e sente-se apto a<br />

<br />

adestrado da forma escolhida por<br />

este, mesmo em luta individual.<br />

Atendendo às provas que deu,<br />

até então, não teria concerteza<br />

problemas comandando com<br />

bravura dezenas de homens num<br />

torneio ou numa batalha mas lutar<br />

com qualquer faz dele um herói,<br />

à maneira grega e leva-nos<br />

a pensar que D. Nuno era certamente<br />

um combatente com destreza<br />

individual pouco comum.<br />

Oliveira Martins em “A vida<br />

de Nun’Álvares” refere que, em<br />

1382, reúne-se em Évora e Elvas<br />

com o duque de Cambridge e<br />

pede a intervenção do duque junto<br />

do rei para que este lhe permi-<br />

<br />

<br />

Recuemos séculos à Pátria dos<br />

Heróis - a Grécia Antiga, e detenhamo-nos<br />

brevemente na Ilídia<br />

de Homero.<br />

D. Nuno é o Aquiles português<br />

do sec. XIV que, não temendo a<br />

luta individual para resolver uma<br />

contenda, como o fazia o herói<br />

grego, não a pratica, contudo,<br />

não porque o não desejasse ou<br />

fugisse a isso mas porque os<br />

tempos eram outros.<br />

Também Diómedes, outro<br />

herói que ataca os troianos na<br />

ausência de Aquiles é corajoso,<br />

cavalheiresco e valente mas impulsivo.<br />

Decididamente que a<br />

caracterização de D. Nuno em<br />

Fernão Lopes corresponde à do<br />

modelo grego nomeadamente na<br />

impulsividade que parece andarlhe<br />

ligada. As vitórias de D. Nuno<br />

são quase sempre espectaculares<br />

e ser impulsivo e desobediente,<br />

em consequência disso, entra<br />

em nós como uma qualidade,<br />

associada à sua grande capacidade<br />

de decisão, que arrastava<br />

tudo e todos e que lhe permitia<br />

não deixar perder as oportunidades.<br />

Acresce que essa qualidade/defeito<br />

transmite-nos sempre<br />

a ideia de que se não fosse<br />

assim (leia-se que, se não fosse<br />

ele) os grandes êxitos da Crise<br />

não teriam ocorrido.<br />

Em 1415, tinha 55 anos, chegou-lhe<br />

imprevistamente a notí-<br />

<br />

mostra com toda a intensidade<br />

a sua faceta humana. D. Beatriz<br />

era o único afecto humano que<br />

lhe restava no mundo e, tão forte<br />

foi o abalo que a sua morte lhe<br />

provocou, que os íntimos recearam<br />

que lhe faltasse ânimo para<br />

<br />

que muitos ainda assim o olhavam<br />

era agora um homem como<br />

os outros e sofria muito quando<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

21


AZIMUTE<br />

22<br />

o seu íntimo era agredido violentamente.<br />

Já iam longe os tempos<br />

de guerreiro, quando nada o<br />

afectava mesmo a possibilidade<br />

de morrer.<br />

Em 1423, aos 63 anos de idade,<br />

entra na solidão de um convento<br />

e despoja-se de todos os<br />

bens, revelando outro atributo<br />

que ainda não sobressaira – uma<br />

humildade extrema e desprezo<br />

pelos bens materiais que, enquanto<br />

novo, não tinha. Quando<br />

era senhor de enormes terras<br />

<br />

D. João I, chegando ao ponto de<br />

ameaçar exilar-se quando o rei,<br />

pondo em execução uma reforma<br />

de redistribuição de terras,<br />

doadas um pouco na euforia dos<br />

tempos vividos anteriormente, o<br />

ia prejudicar a si e aos companheiros<br />

a quem dera algumas<br />

terras.<br />

Foi admitido no Convento em<br />

15 de Agosto, Festa da Assunção<br />

ou Festa de Santa Maria de<br />

Agosto como era conhecida.<br />

Podemos pensar que a data<br />

não teria sido escolhida ao acaso<br />

e que as datas marcantes da<br />

sua vida bailavam na sua mente.<br />

De facto, a batalha de Aljubarrota<br />

ocorrera 38 anos antes; em meados<br />

de Agosto de 1415 integrarase<br />

na expedição a Ceuta e casara<br />

a 15 de Agosto de 1376.<br />

Em 1431, no dia 1 de Abril,<br />

domingo de Páscoa, ocorreu a<br />

sua morte, com a idade de 71<br />

anos incompletos.<br />

D. Nuno acabou a vida despido<br />

de bens, depois de ter sido<br />

o homem mais rico do país e de<br />

se ter coberto de glória, que lhe<br />

adveio como consequência dos<br />

seus actos e não que a procurasse<br />

à maneira romana para ter a<br />

sua coroa de louros. O Homem<br />

dera lugar ao Militar e, depois,<br />

ao Santo, sem que, desde cedo,<br />

fosse possível distrinçar estas<br />

facetas da mesma pessoa. Foi<br />

sublimando os seus defeitos com<br />

Nº 187 AGO09<br />

a idade e mesmo os arrebatamentos<br />

da idade tenra,<br />

que eram o mais visível do<br />

seu carácter, desapareceram<br />

por completo. Morreu<br />

calmo e feliz de uma felicidade<br />

que já não era deste<br />

mundo mas da presença<br />

do Pai, que adorava desde<br />

novo, e com quem estava<br />

prestes a conviver.<br />

Conclusão<br />

D. António dos Reis<br />

Rodrigues, em Nun’Álvares,<br />

Condestável e Santo, cita<br />

Edgar Prestage no ponto<br />

em que este anota: “as três<br />

virtudes primárias da cavalaria,<br />

no aspecto militar, eram a<br />

coragem, a lealdade e a generosidade.<br />

As três virtudes secundárias,<br />

relativas à religião, eram a<br />

<br />

e a castidade. As três virtudes<br />

terciárias, de natureza social,<br />

eram a cortesia, a humildade e<br />

<br />

meramente pontuais, que assinalámos,<br />

quanto à lealdade para<br />

com o rei e quiçá alguma falta de<br />

humildade, que foi desaparecendo,<br />

tudo isto D. Nuno praticou em<br />

elevado grau. Merece pois, como<br />

ninguém da sua época, o belíssimo<br />

verso de Fernando Pessoa<br />

em Mensagem, no qual o poeta<br />

o designa por “S. Portugal em<br />

ser “ ou, de forma mais clara, “S.<br />

Portugal em pessoa”. Desta for-<br />

<br />

-<br />

<br />

indestrutível.<br />

do<br />

que pela espada de D. Nuno,<br />

Portugal viu o seu caminho<br />

aberto:<br />

“Ergue a luz da tua espada,<br />

para a estrada se ver”<br />

E termino com “Nun’Álvares”,<br />

in “Poemas Ibéricos, no qual<br />

“Pátria – é um palmo de terra defendida.<br />

A lança decidida<br />

Risca no chão<br />

O tamanho do nosso coração.<br />

E todo o inimigo que vier<br />

Tem T de retroceder<br />

Com a sombra da morte no pendão.<br />

<br />

Surdo às razões da força e da fraqueza<br />

(A A liberdade não discute os meios<br />

De se manter).<br />

Mais difícil era a empresa<br />

Que a seguir comecei:<br />

Já sem cota de malha, combater<br />

Por outro Reino e por outro Rei” <strong>Azimute</strong><br />

Miguel Torga T imagina o próprio o<br />

D. Nuno a falar de si próprio:<br />

O Tenente-Coronel de Art na<br />

Refª António Lopes Pires Nunes, é<br />

licenciado em Ciências Militares pela<br />

Academia Militar e em História pela<br />

Universidade Católica.<br />

Tem vários livros publicados, alguns<br />

deles premiados, nas áreas<br />

referidas, com destaque para cinco<br />

referentes às Campanhas de África<br />

(1971-74) e à Arquitectura Militar, sendo<br />

autor do “ Dicionário de Arquitectura<br />

Militar”. Escreveu também “ D. João e<br />

D. Nuno, Chefes Militares em Fernão<br />

Lopes”.<br />

Leccionou no Instituto de Altos<br />

Estudos Militares e da Universidade<br />

Lusófona e colaborou em mestrados<br />

de Estratégia na Universidade<br />

Técnica de Lisboa e de História Militar<br />

na Universidade Lusíada.<br />

É membro do Plenário e do<br />

<br />

Portuguesa de História Militar e sócio<br />

da Associação Portuguesa de<br />

Arqueólogos, nas secções de Pré-<br />

História e História.<br />

Reparte a sua actividade cultural<br />

pelas disciplinas de Antropologia<br />

Cultural, História Militar e História da<br />

Arte.<br />

<br />

Autor Anónimo; Crónica do Condestabre de<br />

Portugal Dom Nuno Álvares Pereira.<br />

Prefácio e notas de M. dos Remédios,<br />

Coimbra, 1911.<br />

BORGES COELHO, António; A Revolução<br />

de 1383, Col. Seara Nova. 3ª. edição,1977.<br />

CAETANO, Marcello; A Crise Nacional de<br />

1383-1385, subsídios para o seu estudo.<br />

LOPES, Fernão; História de uma<br />

Revolução. Primeira Parte da Crónica de El-<br />

Rei D. João I, de Boa Memória, Livros de Bolso<br />

Europa-América, 1977.<br />

Idem; Crónica del Rei Dom Joham I, de<br />

boa memória e dos Reis de Portugal, o décimo,<br />

Parte Segunda, Ed. Imprensa Nacional,<br />

MCMLXVIII, copiada por William J. Entwistle.<br />

NUNES, António Lopes Pires, ten. coronel;<br />

D. João e D. Nuno, chefes militares em<br />

Fernão Lopes, EME, Lisboa, 1986.


Nuno Álvares Pereira foi um<br />

extraordinário e invicto Chefe<br />

Militar, um dos poucos chefes<br />

militares invictos em toda a<br />

História Militar universal. Nuno<br />

Álvares Pereira iniciou a sua<br />

vida militar quando nasceu. E<br />

falou-se da educação de Nuno<br />

Álvares Pereira, dessa Ordem do<br />

Hospital onde ele cresceu, essa<br />

ordem do Hospital que lhe incutiu<br />

os valores da Távola Redonda e<br />

os valores do amor profundo ao<br />

trono e ao altar. Se alguém na<br />

nossa história é o zimbório desse<br />

amor ao trono e ao altar que caracteriza<br />

o povo português é precisamente<br />

Nuno Álvares Pereira.<br />

<br />

Álvaro Gonçalves Pereira, que<br />

Nuno Álvares Pereira criou o espírito,<br />

o amor e a lealdade, acima<br />

de tudo, à terra que o viu nascer.<br />

Porquê este exemplo de seu pai?<br />

Um homem que na sua vida íntima<br />

conseguiu ter trinta e dois<br />

<br />

Mas este homem, quem foi<br />

D. Nuno Álvares Pereira<br />

O Militar<br />

Cor Inf Américo Henriques<br />

ele? Porquê este símbolo na nas façanhas mais temerárias,<br />

temerárias<br />

vida de Nuno Álvares Pereira? é simultaneamente um dos mais<br />

Porquê deste farol? Quem era escrupulosamente seguros,<br />

Álvaro Gonçalves Pereira, o Prior chefes de toda a história militar.<br />

da Ordem do Hospital? Pura e Aprendeu com os Cavaleiros da<br />

simplesmente meus queridos Ordem do Hospital, a experiência<br />

amigos, o verdadeiro vencedor que vinha das Cruzadas, com os<br />

da Batalha do Salado. Foi ele Cavaleiros da Ordem do Hospital<br />

qu que comandou a carga decisiva a conhecer uma coisa funda-<br />

da<br />

Batalha do Salado. Por arma, mental em qualquer chefe - o<br />

lev levava apenas a Vera Cruz de Terreno. E se há uma palavra a<br />

MMarmelar.<br />

Esse espírito do ho- que temos que ligar intimamente<br />

mmem<br />

que se lança no combate, <br />

qu que acredita que acima de todas é ao conhecimento profundo do<br />

as<br />

forças, existe a força do seu terreno. Nuno Álvares Pereira im-<br />

ide ideal. E que a força do seu ideal pôs sempre a batalha. Aprendeu<br />

ve vence fronteiras! É essa, a ver- como estruturar as suas forças<br />

da dadeira alavanca do militar Nuno agarrado ao terreno, àquele que<br />

Ál Álvares Pereira. É o homem que lhe desse a máxima vantagem!<br />

ac acredita que tem o chamamento Há quem diga que o aprendeu<br />

div divino dentro dele, e que esse com os veteranos da guerra dos<br />

ch chamamento divino se confunde 100 anos. Há quem diga que foi<br />

co com a própria Pátria onde nas- o conde de Cambridge num en-<br />

ce ceu. É isso que o leva a essas contro em Elvas, uma pura con-<br />

ac acções tão loucas, tão de arriscar versa que tiveram os dois, pois<br />

tu tudo e todos, e ao mesmo tempo ele praticamente não teve qual-<br />

es este homem capaz de se lançar quer contacto com o Conde de<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

23


AZIMUTE<br />

24<br />

Cambridge. Talvez com o grande<br />

cavaleiro Gascão que morreu<br />

na Batalha de Aljubarrota, Jean<br />

de Monferrand, ele tenha aprendido<br />

a forma como os ingleses<br />

adaptaram tudo quanto aprenderam<br />

à custa das muitas revezes<br />

que sofreram com galeses<br />

e escoceses, no terreno em que<br />

se batiam. Talvez Nuno Álvares<br />

Pereira tenha aprendido com esses<br />

homens que nos vieram ajudar,<br />

depois do tratado celebrado<br />

com Inglaterra. Na nossa Guerra<br />

com Castela, talvez que ele tenha<br />

aprendido com eles a empregar<br />

a combinação do terreno, dos<br />

obstáculos e do poder de fogo.<br />

Porque aqui residiu o grande segredo<br />

de Nuno Álvares Pereira, o<br />

terreno, os obstáculos e o poder<br />

de Fogo. Não o esqueçam!<br />

E se há algum sítio onde o terreno,<br />

os obstáculos e o poder de<br />

fogo emergem do campo de batalha,<br />

agora que já passaram séculos<br />

sobre essa mesma batalha,<br />

é precisamente em Aljubarrota.<br />

Quero lembrar-vos um dos as-<br />

tar<br />

de Nuno Álvares Pereira e<br />

que ressalta como nenhum outro<br />

na sua acção na Batalha de<br />

Aljubarrota. Acima de tudo este<br />

homem que aparentemente é<br />

um visionário, um apaixonado,<br />

um homem com uma grande am-<br />

<br />

homem capaz de pôr em risco<br />

as suas forças, um homem que,<br />

<br />

cavaleiro lançado para a frente,<br />

com o coração na ponta da espada.<br />

Tem uma virtude que desfaz<br />

esta ideia, desfaz esse mito<br />

e põe-o na realidade no sítio que<br />

lhe compete em todos os chefes<br />

militares da história militar universal<br />

– Segurança! Se há batalha<br />

onde a palavra “segurança”<br />

aparece sobre todas as outras<br />

é precisamente na Batalha de<br />

Aljubarrota.<br />

Se há batalha onde parece<br />

que o inimigo vai ganhar porque<br />

não pode ser de outra maneira,<br />

Nº 187 AGO09<br />

porque a sua superioridade é tremenda,<br />

e novamente esse convi-<br />

necessário,<br />

aparente, cai pela<br />

base no Campo de Batalha dos<br />

Atoleiros. É a coberto de um obstáculo,<br />

que ele pela primeira vez<br />

põe a sua tropa pé-em-terra e recebe<br />

o choque do inimigo, com o<br />

seu próprio choque apoiado num<br />

obstáculo e batido por um tremendo<br />

poder de fogo.<br />

Numa guerra em como<br />

<br />

confrontaram:<br />

la<br />

francesa, do poder de choque<br />

da cavalaria nascida do apareci-<br />

-<br />

<br />

pé-em-terra, agarrado ao terreno<br />

e usando esse mesmo terreno.<br />

Nesta guerra o Condestável encabeça<br />

sem dúvida nenhuma a<br />

segunda posição.<br />

Nesta guerra, ele mostra até<br />

que ponto é que o chefe militar<br />

é capaz de, aplicando as suas<br />

forças convenientemente no teatro<br />

onde tem que se bater, não<br />

é vencido pelo inimigo, por mais<br />

forte que ele seja, pela simples<br />

razão que toda a superioridade<br />

desse inimigo cai pela base,<br />

quando choca com um menor número<br />

apoiado naquilo que a na-<br />

<br />

a grande vantagem da defensiva.<br />

Só há, na minha modesta opinião,<br />

um general na história que<br />

nós possamos comparar, quase<br />

como um espelho, com Nuno<br />

Álvares Pereira: é o Duque de<br />

Wellington. Nuno Álvares Pereira<br />

diz, não vamos fazer uma guerra<br />

guerreada, não vamos destruir<br />

as oliveiras em Sevilha, vamos<br />

direitos ao inimigo, porque temos<br />

que vencer o inimigo numa batalha,<br />

uma batalha decisiva.<br />

E como estava Portugal na<br />

altura? Estava todo unido? Não<br />

estava, estava dividido! Muitas<br />

fortalezas tinham dado voz por<br />

Castela, muitas outras tinham<br />

dado voz por D. Beatriz. Havia<br />

<br />

a D. Leonor Teles e, ainda, as<br />

fortalezas que tinham dado voz<br />

pelo Mestre. Não era num terreno<br />

coeso, um terreno compacto,<br />

um terreno levantado com os alcaides<br />

dos castelos, que Nuno<br />

Álvares Pereira contava. Não!<br />

Nuno Álvares Pereira contava<br />

com outra coisa! Contava com<br />

um povo que tinha feito a revolução<br />

de 1383, contava com o germe<br />

da nação portuguesa. A sua<br />

crescente burguesia, os homens<br />

dos mesteres, era com esses<br />

que ele contava.<br />

Como chefe militar, para poder<br />

implementar e aplicar no<br />

campo de batalha as ideias que<br />

tinha não era fácil, porque ele era<br />

um homem à frente do seu tempo!<br />

E por isso aplicou o antídoto<br />

perfeito, a combinação do terreno,<br />

dos obstáculos e do poder<br />

de fogo, por detrás de uma parede<br />

de lanças, de tropas apea-<br />

<br />

como se tratasse de uma falange<br />

oblíqua.<br />

Inventou alguma coisa Nuno<br />

Álvares Pereira? Aplicou vários<br />

conceitos e é muito difícil que um<br />

homem do século XIV, por mais<br />

que tivesse visto, por mais que tivesse<br />

falado, pudesse saber que<br />

a primeira vez que tal aconteceu<br />

foi em pleno século VI na Batalha<br />

de Pagina, quando um General<br />

bizantino chamado Narcés, destruiu<br />

a cavalaria Goda.<br />

Era muito difícil que ele pudesse<br />

aplicar “ipsisverbis”, aquilo<br />

que tinha sido feito em Créci! Era<br />

muito difícil que ele pudesse aplicar<br />

de uma forma precisa o que<br />

tinha sucedido em Poitiers. Era<br />

extremamente difícil, tinha que<br />

ser ele, por ele, no seu génio, na<br />

sua extraordinária capacidade de<br />

aplicar esses conceitos, porque<br />

esses conceitos já existiam há<br />

muito tempo.<br />

Nuno Álvares Pereira<br />

como chefe militar liderou pelo<br />

Exemplo.<br />

Se chefe militar houve que


tivesse liderado pelo exemplo -<br />

“Que eu seja o dianteiro” - ainda<br />

hoje é o lema de uma unidade de<br />

infantaria, - “Que eu seja o dianteiro”!<br />

Ele na frente, ele dando o<br />

peito ao inimigo, ele assumindo<br />

o lugar de maior perigo na vanguarda<br />

de Aljubarrota, ele assumindo<br />

o lugar de maior perigo<br />

na vanguarda dos Atoleiros, ele<br />

assumindo o lugar de maior perigo<br />

no cabeço de Valverde. E se<br />

mais pudéssemos dizer que não<br />

tivesse aqui sido mencionado, a<br />

astúcia, a aplicação de todas as<br />

vantagens que a defensiva traz.<br />

A aplicação de tudo quanto o espírito<br />

medieval trazia ao campo<br />

de batalha.Há em toda a executória<br />

de Nuno Álvares Pereira, a<br />

estratégia ofensiva e a batalha<br />

defensiva – vamos procurar o inimigo,<br />

vamos escolher o terreno e<br />

vamos vencê-los nesse terreno!<br />

Vamos aplicar as nossas armas<br />

contra o poder deles, vamos sobretudo<br />

impedir, e aqui o génio<br />

de Nuno Álvares, e aqui outro<br />

dos pontos marcantes da sua faceta<br />

militar - vamos impedir que<br />

o inimigo aplique contra nós toda<br />

a sua força! “Eles vêm à Batalha<br />

como nós queremos e não como<br />

eles querem”!. Em Aljubarrota<br />

isso é mais do que evidente, e<br />

em Atoleiros.Castela não podia<br />

aplicar toda a sua força, era<br />

completamente impossível em<br />

Aljubarrota. Entre os Ribeiros de<br />

Vale de Madeiros e do Curral da<br />

Mata, entrarem por ali dentro trinta<br />

e dois mil homens? Isso era o<br />

que eles traziam. Se eles tivessem<br />

conseguido atacar numa<br />

frente com quatro mil ou cinco<br />

mil era uma sorte! E mesmo assim<br />

vinham uns encostados aos<br />

outros.<br />

Vejamos agora o que Nuno<br />

Álvares Pereira representa, no<br />

meu conceito, como Patrono da<br />

Arma de Infantaria. O militar patrono<br />

da arma de infantaria, porquê?<br />

Será que a infantaria nasceu<br />

com Nuno Álvares Pereira?<br />

A infantaria, como nós a<br />

entendemos, nasceu muito tempo<br />

depois. Aquilo que nasceu<br />

com Nuno Álvares Pereira foi o<br />

âmago da própria infantaria - o<br />

combate de humildade, o combate<br />

onde o chefe e os seus subordinados<br />

estão ombro a ombro,<br />

agarrados ao chão. O combate<br />

da sobriedade, o combate da<br />

aplicação de todas as armas,<br />

mas acima de tudo o combate<br />

do empenhamento da própria<br />

Alma. E aí, nesse empenhamento<br />

da própria alma, Nuno Álvares<br />

Pereira, o místico, aparecia como<br />

mais ninguém; uma bandeira<br />

<br />

palavra para cada um dos seus<br />

homens, a forma de se dirigir<br />

antes da batalha àqueles se iam<br />

se bater sobre as suas ordens,<br />

incentivando-os e incutindo-lhes<br />

<br />

que sejam não nos vencem, não<br />

só porque Deus está connosco<br />

mas porque somos muito melhores<br />

do que eles”. Em Aljubarrota,<br />

a forma como se dirige aos seus<br />

homens antes da batalha é extraordinária!<br />

O querer, a certeza, a<br />

renúncia à sua própria condição<br />

de Contestável, que o levam à<br />

primeira linha da batalha.<br />

E a segurança? Contrariando<br />

tanto daquilo que se diz de Nuno<br />

Álvares Pereira, tantos dos seus<br />

críticos sabem que depois da batalha<br />

de Aljubarrota Nuno Álvares<br />

Pereira não caiu na tentação de<br />

ordenar uma perseguição em<br />

<br />

Aljubarrota. Era um princípio<br />

medieval?<br />

Pois era, mas também era<br />

princípio perseguir o inimigo.<br />

A quem é que ele entregou a<br />

perseguição? Onde é que ele pôs<br />

<br />

causaram mais de quatro mil baixas<br />

ao exército de Castela e que<br />

<br />

decretasse dois anos de luto?<br />

Foi na ponte da Chiqueda, com a<br />

<br />

por Dom João de Ornelas, que<br />

era o Abade do Convento.<br />

Nuno Álvares Pereira sabia<br />

perfeitamente onde a batalha se<br />

ia travar, não foi ao acaso. Tal<br />

como nos Atoleiros, tal como em<br />

Valverde, impôs o círculo, impôs<br />

o ritmo, marcou o passo e<br />

venceu!<br />

A causa mais culta, a causa<br />

mais justa, a causa mais digna<br />

pela qual um Homem de Bem se<br />

pode e deve bater, essa causa é<br />

a dignidade, a integridade, a liberdade,<br />

a independência e a soberania<br />

da terra onde nascemos.<br />

E porque o representou como<br />

ninguém é que Nuno Álvares<br />

Pereira, muito antes de subir aos<br />

altares de Deus, subiu aos altares<br />

da Pátria e garantiu, e Deus<br />

queira que para sempre, a perenidade<br />

da Nação Portuguesa. <strong>Azimute</strong><br />

<br />

O COR Inf Refª Américo José<br />

Guimarães Fernandes Henriques<br />

é licenciado em Ciências<br />

Militares pela Academia Militar.<br />

Prestou serviço, entre outras<br />

unidades, na Escola Prática de<br />

Infantaria como instrutor, dos<br />

principais cursos da Escola,<br />

no Batalhão de Comandos de<br />

Moçambique, como professor<br />

no Instituto de Altos Estudo<br />

Militares e como Adido Militar<br />

junto à Embaixada de Portugal<br />

em Washington.<br />

Tem no seu curriculum vários<br />

cursos de que se desta-<br />

<br />

Corse e o Curso Básico de Páraquedismo,<br />

nos EUA e o Curso de<br />

Estado-Maior no Reino Unido<br />

Após a sua passagem à situação<br />

de reserva e reforma a<br />

sua actividade tem continuado<br />

intensa desdobrando-se sobre<br />

duas grandes paixões: A História<br />

Militar, tendo sido conferencista<br />

na Bélgica, França e EUA. e a<br />

Tauromaquia.<br />

Tem vindo a participar vários<br />

em programas de Rádio e<br />

de Televisão, no âmbito das actividades<br />

referias, destacando-se<br />

a autoria do programa “Reis de<br />

Portugal”, editado em DVD pelo<br />

Círculo de Leitores e o programa<br />

“Três Andamentos” dedicado aos<br />

cavalos e touros.<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

25


AZIMUTE<br />

26<br />

Tinha Nuno Álvares Pereira 23<br />

anos quando a notícia da morte<br />

do rei D. Fernando lhe chegou ao<br />

solar da sua mulher D. Leonor de<br />

Alvim, da Quinta da Pedraça, em<br />

Cabeceiras de Basto. As exéquias<br />

reais seriam a 22 de Novembro. D.<br />

Álvaro seu pai pressionara este ca-<br />

<br />

tinha escapado. Viria esta a casar-<br />

<br />

Mestre de Avis.<br />

A notícia da morte do Rei caiu<br />

no seu espírito pensativo como<br />

um motor de consequências que o<br />

abalavam. Um turbilhão de ideias<br />

passou-lhe no espírito. A morte<br />

<br />

da rainha regente capaz de desmandos<br />

perversos, o perigo de cair<br />

nas mãos de Castela, já que a úni-<br />

da<br />

com o rei de Castela D. João I,<br />

agitavam a mente de Nuno. Ele conhecia<br />

a corte onde vivera e sabia<br />

que a nobreza se tinha habituado à<br />

ociosidade, à devassidão, à corrupção,<br />

cheia de intrigas. Aí<br />

conhecera João, Mestre<br />

de Avis, do qual se faria<br />

grande amigo para toda a<br />

vida. Partilharam os altos<br />

ideias da independência<br />

de Portugal. Como enfrentar<br />

um grave e terrível<br />

problema ético-político.<br />

rito<br />

bem-razoado 1 .<br />

O jovem Nuno entusiasmara-se<br />

pelo ideal dos<br />

romances de cavalaria e<br />

ambicionara ser um cavaleiro<br />

da Távola Redonda<br />

<br />

1 Cf. CRONICA do Condestável de<br />

Portugal D. Nuno Álvares Pereira.<br />

Preparação do texto e introdução António<br />

Machado de Faria. Lisboa: Academia<br />

Portuguesa da História, 1972. Será de<br />

ter em conta a edição crítica de Adelino<br />

de Almeida Calado da Universidade de<br />

Coimbra, de 1991 e os estudos recentes<br />

de António Branco (Algarve) e de Gilberto<br />

Moiteiro (mestrado FCSH - 2006).<br />

Nº 187 AGO09<br />

São Nuno de Santa Maria<br />

Um Santo Condestável e Carmelita<br />

o cavaleiro Galaaz, o místico puro.<br />

Quer em casa de seu pai, Prior do<br />

Hospital, quer na corte criou-se<br />

entre letrados e sabedores. Ele<br />

próprio lia para escapar à frivolidade<br />

e aborrecimento do ambiente.<br />

Eram estes heróis literários que<br />

alimentavam a mente do jovem<br />

Nuno. Desejava manter puro o<br />

seu coração e o seu corpo. A formação<br />

que tivera junto dos freires<br />

guerreiros da Ordem do Hospital<br />

incutira-lhe o ideal da cavalaria.<br />

Frei Álvaro Gonçalves Pereira ti-<br />

<br />

de Santarém, em 1373, e a rainha<br />

D. Leonor tomou-o como seu escudeiro.<br />

De pequena estatura e<br />

com treze anos mostrava coragem<br />

e depressa foi investido cavaleiro,<br />

usando a mesma armadura do<br />

Mestre de Avis, feito cavaleiro aos<br />

seis anos.<br />

Nuno percebe a sua missão,<br />

como outrora o jovem Galaaz, capta<br />

o seu papel na difícil conjuntura<br />

<br />

D. Carlos Azevedo<br />

a tarefa t f que a hora h lhe lh destinava. d ti<br />

Importava encontrar uma solução<br />

para a crise, percorrer as etapas<br />

até alcançar os objectivos nobres<br />

que norteavam o seu entusiasmo<br />

<br />

sua missão de ser braço armado<br />

do Mestre de Avis para abrir caminho<br />

ao destino de Portugal.<br />

Pára para pensar e amadurece<br />

a intuição que lhe apareceu<br />

D. Carlos A. Moreira Azevedo<br />

Bispo Auxiliar de Lisboa<br />

caminho adequado para sair da<br />

crise. Inaceitável ter uma barregã<br />

como rainha, inaceitável o rei de<br />

Castela como Rei, ou proclamar<br />

como herdeiro o infante D. João<br />

preso em Toledo, ou seu irmão<br />

<br />

-<br />

<br />

que parece comandar da sua torre<br />

lisboeta os passos a dar e Nuno<br />

to<br />

do plano. Eliminar o Andeiro e<br />

proclamar o Mestre de Avis, com<br />

ampla simpatia popular, regedor<br />

e defensor do reino. Ao Mestre de<br />

Avis compete a missão de afastar<br />

o tirano. A teoria medieval do tiranicídio<br />

como obra de Deus, nas<br />

referências dos cronistas, relaciona-se,<br />

no dizer de António Ferreira<br />

Gomes, com os mestres do pensamento<br />

teológico-político, como<br />

João de Salisbúria. Este não só<br />

defendeu o tiranicídio como preferiu<br />

as monarquias electivas2 . Ora<br />

Nuno Álvares, além das “estórias”<br />

de cavalaria, contactava com tácticas<br />

ca guerreiras e também com políticos<br />

tic e diplomatas medievais.<br />

Muitas vezes o que parece estouvado<br />

to é sábio, o que se apelida<br />

de enlouquecido é o visionário. A<br />

coragem co e a audácia, a determinação<br />

çã e o entusiasmo nascem-lhe de<br />

dentro de e contagiam-se. Só assim<br />

pode po ser a alma de um movimento<br />

revolucionário. re<br />

O seu magnetismo<br />

vem ve da pureza do seu ideal forte.<br />

Só assim pode avançar perante<br />

<br />

<br />

o Condestável e Mestre João das<br />

Regras Re era sobretudo ideológico.<br />

A entrada nas Cortes de Coimbra<br />

2 GOMES, A.F. – Igreja na vida pública.<br />

Porto: Fundação Spes, 2003, p. 355.<br />

Foi publicada recentemente a peça de<br />

teatro do mesmo autor, escrita em 1931.<br />

GOMES, António Ferreira – Nuno de<br />

Santa Maria Herói e santo. Introdução<br />

de Guilherme d’ Oliveira Martins, estudo<br />

crítico de Maria Luísa Malato Boralho.<br />

Porto; Lisboa: Fundação Spes; Aletheia,<br />

2009.


tarde contra o teólogo, conduz ao<br />

absolutismo monárquico. Nuno<br />

Álvares está preocupado e em ten-<br />

<br />

por ter aderido à “revolução social<br />

da burguesia e conduzido as suas<br />

acções militares” e não querer voltar<br />

ao “antigo regime”.<br />

A cavalaria valorizava a coragem,<br />

a lealdade e a generosidade.<br />

promissos,<br />

à fé e à Igreja aliava-se<br />

à cortesia nas relações sociais e à<br />

responsabilidade, seja pelo empenho<br />

na defesa dos mais débeis e<br />

humildes, seja no uso das armas<br />

para honra da pátria e progresso<br />

da liberdade dos povos.<br />

À burguesia, que acolhia o<br />

momento para com o espírito de<br />

novas leis subir<br />

ao poder, Nuno<br />

Álvares Pereira ereira<br />

fazia notar que<br />

não impororta fazer leis s<br />

para um país s<br />

que não lhes s<br />

pertencia, pois is<br />

estava ainda a<br />

no domínio o<br />

da Rainha. a.<br />

Fundamental tal<br />

era agir, vencer cer os<br />

obstáculos e não não<br />

<br />

prudências medrosas.<br />

São sempre empre<br />

acusados de e ser<br />

temerários os s que<br />

tomam a dianteira anteira<br />

na construção ão de<br />

um futuro novo. ovo. A<br />

devolução da a liberdade<br />

e da dignidanidade ao país exige xige<br />

riscos. Não pode ode<br />

ser traidor de<br />

si próprio porque DDeus eus<br />

o inspira no caminho i h da d justiça. j i<br />

Não cede a honras que lhe prometem<br />

para nada fazer, não cede aos<br />

pequenos afectos diante do amor<br />

da pátria. Diante da diferença numérica<br />

e da desigualdade de preparação<br />

dos exércitos não teme. A<br />

causa nobre e justa que demanda<br />

concentrava todas as energias. O<br />

país inteiro carregava nele a sua<br />

esperança.<br />

A prece que realizava antes<br />

dos grandes embates concedialhe<br />

a serenidade para as decisões<br />

<br />

verdadeiro impulso da bravura autêntica.<br />

O sucesso da Batalha de<br />

Atoleiros leva-o a agradecer e vai<br />

descalço e a pé em peregrinação<br />

a Santa Maria de Assumar, a duas<br />

léguas de Monforte.<br />

Convocadas as cortes para<br />

Coimbra em ordem a consolidar<br />

a escolha de um rei legítimo que<br />

aguente uma segunda invasão<br />

castelhana, congregam-se 134<br />

pessoas, 72 representantes da<br />

nobreza, 12 do clero e 50 das cidades<br />

e vilas. Nuno Álvares seguiu<br />

com alguma impaciência aquela<br />

reunião que não via desfecho<br />

após alguns dias. Finalmente o Dr.<br />

João das Regras consegue expor<br />

as razões e conduzir à decisão<br />

desejada desejada.<br />

Imp Impedir o invasor de chegar<br />

a Lisboa Lisbo foi a sua luta seguinte.<br />

Também TTambém<br />

não seguiu os debates<br />

políticos<br />

para os quais não tinha pa-<br />

ciência. cciência.<br />

Foi com os seus homens<br />

para ppara<br />

Tomar desobedecendo ao<br />

Rei.<br />

O letrado Gil d’Ossem vai<br />

aju ajudar o rei e mudar a agulha<br />

do<br />

Conselho do Governo e a<br />

se seguir o Condestável.<br />

Como foi santo?<br />

SSoube<br />

ser chefe. Como<br />

pode ppoderia<br />

ter transformado um<br />

band bando de gente sem disciplina<br />

e es estrutura em exército coe-<br />

rente rente? Sendo intransigente nos<br />

princíp princípios morais, duro na execu-<br />

ção, rigoroso rig na disciplina militar.<br />

Ao AAo<br />

enfrentar e a guerra estava<br />

cons consciente da sua justiça e<br />

honr honra, na defesa da terra e dos<br />

ben bens, não como força contra<br />

o direito d ou contra Deus. Não<br />

cast castigava com destempero,<br />

ma mas com brandura, de modo<br />

que<br />

os seus homens tinham<br />

del dele “mais reverência que te-<br />

mor” (Cr (Crónica de D. João I, 425.).<br />

Usava de fraternidade na relação<br />

com os soldados no respeito pela<br />

sua dignidade humana, independentemente<br />

da função. Criava com<br />

os capitães e homens de armas<br />

uma família, capaz de alegria serena,<br />

dado o seu carácter: “seu bom<br />

gasalhado”, “seu ledo semblante”,<br />

“suas doces palavras”.<br />

Sabia repartir com generosidade,<br />

sem qualquer cobiça, o que<br />

resultasse das incursões e fosse<br />

tomado ao inimigo. Em 1393, acabaria<br />

por distribuir as abundantes<br />

terras e rendas que o rei lhe oferecera<br />

pelos cavaleiros e escudeiros<br />

que o seguiram. Quando terminada<br />

a guerra faz a distribuição das<br />

terras, que soubera pedir, pelos<br />

homens que o acompanharam nos<br />

combates obedecia a uma concepção<br />

da sociedade, de um “povo<br />

<br />

económica, como vertebração de<br />

uma pátria livre” 3 .<br />

A sua benignidade brilhava<br />

mesmo para com os inimigos, uma<br />

vez que não odiava os adversários,<br />

nem permitia que a paixão dominasse<br />

o ardor da luta. Por isso cuidava<br />

dos prisioneiros e feridos, não<br />

deixava que destruíssem aldeias<br />

ou campos cultivados. Amparava<br />

as mulheres, crianças e pobres.<br />

Em momento de especial carestia<br />

distribuiu à sua custa pelos castelhanos<br />

6400 alqueires de trigo. Era<br />

manifesto o respeito que estas atitudes<br />

de ética cristã gerava.<br />

Nuno era puro de coração.<br />

Como competia a uma alma forte,<br />

a integridade dos seus costumes<br />

dava estabilidade à sua missão.<br />

A clareza sincera da sua energia<br />

espiritual desenvolvia-se em sólidas<br />

convicções. Nuno Álvares<br />

não aceitava os desvarios dos soldados<br />

e não só os prevenia, mas<br />

também castigava as desordens.<br />

<br />

contrariedades porque a tropa estava<br />

habituada aos abusos sexuais<br />

<br />

a que obrigava as tropas contribuiu<br />

para uma vida sadia.<br />

Na base de toda as suas atitudes<br />

estava a fé profunda em Deus.<br />

Todos os dias, mesmo em tempo<br />

de guerra, cumpria os seus deveres<br />

religiosos. Sabia reconhecer<br />

a Deus as vitórias e sucessos<br />

militares, enquanto os outros se<br />

limitavam à festa. Fez erguer em<br />

Aljubarrota a ermida a s. Jorge.<br />

Deslocava-se em peregrinação<br />

aos santuários vizinhos do lugar do<br />

combate. Assim aconteceu depois<br />

da batalha dos Atoleiros indo a pé<br />

a Santa Maria de Assumar (perto<br />

de Monforte) e após Aljubarrota<br />

a Santa Maria de Seiça (Ourém).<br />

Um facto se evidencia durante a<br />

batalha de Valverde. Rezava serenamente<br />

em êxtase, apesar de ser<br />

reclamado pelos companheiros de<br />

armas. Sabia que a atenção orante<br />

3 Ibid. p. 357.<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

27


AZIMUTE<br />

28<br />

lhe daria a razão e a medida da<br />

acção bélica. Em gratidão mandou<br />

construir, no Carmo, o Convento<br />

de Nossa Senhora do Vencimento<br />

para os carmelitas, que conhecera<br />

bem nas lides alentejanas.<br />

Como Deus estava sempre presente<br />

nas grandes decisões da sua<br />

vida, em grande unidade interior,<br />

agora que estava feita a paz com<br />

Castela a 31 de Outubro de 1411,<br />

podia dedicar-se ao que desde<br />

criança aspirava: a vida entregue<br />

totalmente a Deus.<br />

Pensou sair do Reino e juntou<br />

companheiros. D. João I enviou<br />

três mensageiros, cada vez<br />

mais pesados e só o terceiro, o<br />

arcebispo de Évora, conseguiu demover<br />

Nuno Álvares. Invocava o<br />

Condestável que não tinha que fazer<br />

nada na guerra pela defesa do<br />

reino, “mas no seu íntimo pensaria<br />

antes que não tinha já que fazer na<br />

paz” 4 paz” . Não concordava com o rumo<br />

político-social que o país levou.<br />

<br />

parto em Chaves e Nuno Álvares<br />

vai de Vila Viçosa a Vila do Conde<br />

sepultar o último laço afectivo.<br />

Regressaria ao Alentejo e aí, em<br />

Arraiolos, D. João I o consultaria<br />

sobre a expedição a Ceuta, na qual<br />

manifestou gosto em participar.<br />

<br />

Agosto de 1422, após repartir terras<br />

em favor dos netos, perdoar as<br />

dívidas, dar todos os bens a cavaleiros,<br />

escudeiros e pobres, entrou<br />

no Convento do Carmo como<br />

simples cristão. Seria admitido a<br />

15 de Agosto de 1423, 38 anos depois<br />

de Aljubarrota. Passou a ser<br />

Nuno de Santa Maria, com marca<br />

extremamente simples e modesta,<br />

nos últimos oito anos da sua vida.<br />

A própria tença a que D. Duarte o<br />

4 Não concordava com o rumo<br />

4 Ibid. p. 357.<br />

Nº 187 AGO09<br />

obriga distribui-a em esmolas e ele<br />

mesmo pede para os pobres. Foi<br />

esta atitude radical do que fora o<br />

<br />

que conquistou o coração do povo<br />

de Lisboa. Optar por viver numa<br />

cela solitária e escura, com apenas<br />

mesa de pinho, catre e manta<br />

lêncio<br />

e na contemplação, na humildade<br />

e no abandono a Deus era<br />

prova de santidade.<br />

O que o levou a esta decisão?<br />

As tentativas puramente espirituais<br />

e místicas ou as melancólicas não<br />

explicam tudo. António Ferreira<br />

Gomes aponta a necessidade de<br />

ligar as duas decisões: a de sair do<br />

país com a da opção pelo claustro.<br />

Era a recusa em participar na administração<br />

e na política em virtude<br />

de uma diferente visão política<br />

e social. Porque não a apresentou?<br />

Os amigos, o Rei discordavam<br />

de tanta severidade do<br />

donato do carmelita e não<br />

se se lembravam que também<br />

bé como combatente<br />

ele el era raro nas atitudes<br />

de e despropositado<br />

nas na decisões. Ora a sua<br />

profunda pr amizade ao rei<br />

e aos infantes conduzia-<br />

o a calar, porque tinham<br />

optado op pela ordem nova<br />

do letrado. Por outro<br />

lado lad na sua profunda<br />

penetração pe<br />

intelectual<br />

convenceu-se co<br />

de que já<br />

era er tarde e impossível e<br />

por isso mora moralmente inadmissível.<br />

Ao morrer a 1 de Abril de 1431,<br />

dia de Páscoa, estavam presentes<br />

<br />

o evangelho de S. João e cerrou<br />

<br />

as palavras de Jesus a Maria pronunciadas<br />

do alto da cruz: “Eis aí o<br />

<br />

apelidou Pai da Pátria, morre feliz<br />

<br />

nos braços de Maria, por quem nutriu<br />

especial devoção.<br />

Desde o dobrar dos sinos, a<br />

anunciar a sua morte, a multidão<br />

entendeu que tinha um santo a<br />

quem recorrer porque já estava na<br />

glória de Deus. Logo prestou culto.<br />

O Papa Bento XV aprovou<br />

esse culto a 23 de Janeiro de<br />

1918, após longo processo. Ainda<br />

que projectada a canonização logo<br />

em 1437, como se prova por carta<br />

do rei D. Duarte ao beneditino<br />

João Gomes, abade do mosteiro<br />

de Florença, só a iniciada em<br />

1914, obtém, em 1918, resultados<br />

<br />

do século XV, houve longo silêncio<br />

até 1674, quando se regista uma<br />

súplica do episcopado português,<br />

sem resultado. Novo espaço se<br />

<br />

e início do século XX. Não merecia<br />

tanto desprezo quem tanto fez pela<br />

pátria.<br />

Raras vezes na história um<br />

herói que alterou a história de um<br />

povo, é um santo, que não precisa<br />

de lenda para ser grande na integridade<br />

de carácter, na inteireza de<br />

costumes, na unidade de vida. Têm<br />

sido as lendas a reduzir a personagem<br />

a um sanhudo impetuoso, um<br />

Orlando furioso, dado a intervalos<br />

místicos. Estamos perante um extraordinário<br />

chefe militar, marcado<br />

pela ética cristã. Estamos diante<br />

de alguém com uma visão para o<br />

país, pautado por valores cristãos.<br />

Venceu nas armas por causas nobres,<br />

venceu-se a si mesmo pela<br />

entrega a Deus. São assim os santos:<br />

deslumbrantes, a dar carne à<br />

<strong>Azimute</strong><br />

transcendência.<br />

<br />

Professor da Faculdade de<br />

Teologia desde 1987, foi Vice-Reitor<br />

da Universidade Católica Portuguesa<br />

entre 2000-2004, director do Centro<br />

de Estudos de História Religiosa e<br />

das revistas Lusitânia Sacra (1992-<br />

2000). Humanística e Teologia<br />

(1987-2000) e Museu (1993-1996),<br />

do Museu Nacional de Soares dos<br />

Reis e Cónego da Sé do Porto<br />

(1996-2005).<br />

É membro da Academia<br />

Portuguesa da História, desde 1996.<br />

Bispo auxiliar de Lisboa, desde<br />

2005, foi Secretário da Conferência<br />

Episcopal Portuguesa (2005-2008) e<br />

é Presidente da Comissão Episcopal<br />

de Pastoral social desde 2008.<br />

Entre perto de uma centena de<br />

trabalhos publicados, importa destacar<br />

os seguintes, pela relação com<br />

o tema a tratar: Explicação prévia.<br />

In GOMES, António Ferreira, bispo<br />

– Nuno de Santa Maria: herói e santo.<br />

Lisboa: Fundação Spes; Aletheia<br />

<br />

de São Nuno de Santa Maria. in<br />

Ecclesia 2009.


A Situação Político-Militar na Guerra dos Cem Anos<br />

(1337-1453)<br />

O objectivo deste texto é colocar em fase a<br />

Batalha de Aljubarrota no âmbito da situação política<br />

e militar na Europa. Não se pretende descrever<br />

a guerra dos cem anos, mas tão só fazer relevar os<br />

factores políticos e militares que acabaram por in-<br />

<br />

ram<br />

a batalha de Aljubarrota. Para focalizar o argumento,<br />

estabelecemos dois pontos de referência:<br />

(1) A situação política, expressa numa crise inter-<br />

<br />

entre reinos; e (2) os aparelhos militares em confronto:<br />

o feudal, puro, Francês; e o britânico, uma<br />

síntese do feudal com o “software” desenvolvido<br />

pelas experiências na Escócia.<br />

A situação política na Europa do último quar-<br />

<br />

francês que veio a ser conhecido pela Guerra dos<br />

Cem Anos. Estava-se no alvor dos tempos modernos<br />

enquanto o sistema feudal agonizava por não<br />

conseguir responder às necessidades da sociedade,<br />

nomeadamente ao desenvolvimento comercial<br />

e à emergência de uma burguesia cada vez mais<br />

<br />

<br />

movimentos dos bárbaros para Europa, que fez escassear<br />

a actividade comercial, nomeadamente a<br />

relacionada com as especiarias, na bacia mediterrânica.<br />

As populações fugiram das cidades e orientam-se<br />

na exploração da terra. Este sistema político<br />

foi particularmente evidente no centro da Europa,<br />

especialmente em França e na actual Alemanha. A<br />

guerra era assunto de senhores, nobres cavaleiros,<br />

que gravitavam em torno do Rei, e lutava-se pela<br />

posse de terra, honra e por sucessão dinástica.<br />

A Situação Política na Europa<br />

A nossa breve história inicia-se com a crise política<br />

entre a França e a Inglaterra. Pretensões territoriais,<br />

pretensões ao trono e o controlo do comércio<br />

no norte da Europa foram as razões principais<br />

<br />

guerra iniciou-se no declínio do sistema feudal e<br />

terminou nos<br />

alvores da<br />

idade moderna.<br />

No âmbito<br />

político,<br />

a guerra dos<br />

cem anos tem<br />

cia<br />

decisiva: a<br />

consolidação<br />

das monar-<br />

<br />

do sistema<br />

feudal.<br />

TCor Inf Luís Barroso<br />

Os dois<br />

protagonistas<br />

marcariam de forma indelével a história da Europa. Europa<br />

Por um lado, a França, de orientação europeia, potência<br />

continental, iniciou neste período a sua ca-<br />

ria<br />

seriamente abalada após a derrota de Napoleão<br />

frente a Wellington. A França era o país mais populoso<br />

da Europa, com 16 milhões de habitantes,<br />

era o maior produtor de vinhos e cereais, e dispunha<br />

do exército mais numeroso. Todavia, por ser<br />

constituído maioritariamente por “exércitos particulares”<br />

de senhores feudais que colocaram Filipe VI<br />

no trono, tornou-o refém dos seus interesses. Por<br />

outro, a Inglaterra, afastada do continente europeu<br />

pelo Canal da Mancha, estava demasiado afastada<br />

para ter acesso fácil a uma potência continental,<br />

<br />

os acontecimentos no continente. Por conseguinte,<br />

qualquer ponto de apoio no continente era um factor<br />

central na estratégia inglesa, onde a dimensão<br />

económica seria factor chave. A Inglaterra tinha cerca<br />

de 5 milhões de habitantes, uma economia dependente<br />

do comércio de tecidos com a Flandres, e<br />

um exército unido em torno do rei Eduardo III e com<br />

experiência das campanhas da Escócia.<br />

Historicamente, as causas da Guerra dos<br />

Cem Anos remontam à conquista de Inglaterra<br />

por Guilherme, o Conquistador, que manteve no<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

29


AZIMUTE<br />

30<br />

continente extensos domínios senhoriais, nomeadamente<br />

em França, algo que ameaçava o projecto<br />

de consolidação da monarquia francesa.<br />

Em 1332, Eduardo III, o rei de Inglaterra, lançase<br />

numa campanha militar na Escócia mas, embora<br />

vencesse as batalhas “convencionais”, nunca<br />

obteve o sucesso pretendido, devido às tácticas de<br />

guerrilha dos escoceses. Neste âmbito, um ponto<br />

importante nas relações anglo-francesas era a simpatia<br />

e o apoio da casa real francesa aos “rebeldes<br />

escoceses”, já que, em 1331, tinham decorrido em<br />

Paris as negociações franco-escocesas que estabeleceram<br />

o apoio francês à precária independência<br />

escocesa. Isto era um sério aviso a Eduardo III.<br />

Também as conhecidas pretensões francesas<br />

sobre os feudos em França, a Guiena e a<br />

Gosconha, territórios com elevada produção de<br />

vinhos, pertença da casa real inglesa, eram motivo<br />

de preocupação para Eduardo III. O facto de<br />

Nº 187 AGO09<br />

Figura 1 -Territórios ingleses em França<br />

serem feudos, fazia com que o rei inglês não os<br />

pudesse governar com toda a autonomia, porque<br />

devia vassalagem a Filipe VI, rei de França. Este,<br />

como senhor feudal, podia intervir judicialmente<br />

para impor a sua autoridade. Para marcar a sua<br />

posta,<br />

Eduardo III reivindicou o trono de França, o<br />

que obrigaria Filipe VI a devolver a região. Todavia,<br />

o rei de França impôs o aumento de imposto sobre<br />

os vinhos a comercializar em Inglaterra, causando<br />

mal-estar aos comerciantes ingleses.<br />

A pretensão de Eduardo III ao trono de França<br />

advinha do facto de ser neto do rei Filipe IV, O Belo,<br />

<br />

Filipe VI, sobrinho de Filipe IV, acabou por lhe suceder,<br />

porque, numa reunião de grandes senhores<br />

se<br />

coroado rei de França, por considerarem que o<br />

direito de sucessão não podia advir de linhagem<br />

materna – a Lei Sálica.<br />

Mas nem as pretensões territoriais em França<br />

eram e motivo de diferendo anglo-francês, onde a<br />

levante.<br />

le A Flandres era um ducado cuja suserania<br />

pertencia p ao rei de França. As grandes cidades do<br />

condado c (Bruges, Gent, Ipres) tinham conseguido<br />

um u elevado grau de autonomia devido ao papel<br />

cada c vez mais importante da sua burguesia. Na<br />

-<br />

<br />

nada n com as lãs e tecidos, que a ligava a Inglaterra,<br />

onde o se produzia lã e não havia indústria de tecelagem.<br />

c Eduardo III, para instigar a revolta dos<br />

<br />

exportação e de lãs para a Flandres para obrigar<br />

<br />

<br />

<br />

iniciaram-se in um conjunto de revoltas nas principais<br />

cidades c da Flandres e que as leva a aliarem-se a<br />

Eduardo E III.<br />

Com mais este foco de atrito entrava-se irremediavelmente<br />

m<br />

no caminho da guerra. Eduardo III<br />

estabelece e contactos diplomáticos com a Holanda,<br />

Alemanha A e Itália para granjear apoios contra a<br />

França. F Acaba com o embargo das lãs e jura apoderar-se<br />

d do trono de França. A França foi apoiada<br />

pela p Boémia, Castela, Escócia. A França estava<br />

convencida c da vitória, porque a sua numerosa cavalaria<br />

v lhe parecia invencível.<br />

O primeiro embate militar dá-se em 1340, a nor-<br />

te de Bruges, na batalha naval de L’Ecluse, que foi<br />

aclamada a pelos inglese como a “Trafalgar da Idade<br />

Média” M e que consumava a caminhada decisiva<br />

para p o controlo do Canal da Mancha.


Figura 2 - Batalha de L’Ecluse<br />

Alguns combates de pequena envergadura iam<br />

sendo travados em solo francês, demonstrando a<br />

Filipe VI que os aguerridos ingleses, mesmo famintos<br />

e com frio, eram um temível adversário para a<br />

sua cavalaria. Em 1346 trava-se a batalha de Crécy<br />

com resultados que todos conhecem e que mais<br />

adiante se voltará.<br />

A 1 de Agosto de 1350, Filipe VI morre e é coroado<br />

João II, João-o-Bom. Tinha uma tarefa hercúlea<br />

pela frente: reerguer a França, exaurida pela<br />

guerra, peste negra e fome, devido a sucessivas<br />

más campanhas agrícolas.<br />

dades<br />

domésticas, essencialmente devidas a excessos<br />

de cobrança de impostos para pagar os<br />

empréstimos que tinha contraído junto de italianos<br />

e holandeses. Por conseguinte, nada melhor que<br />

um empenhamento em França para unir esforços<br />

e levantar os ânimos da nação. Propôs a João II<br />

que abdicava das suas pretensões ao trono se lhe<br />

fosse concedida a soberania sobre os territórios em<br />

França ocupados pelas suas tropas. João II recusa<br />

terminantemente e Eduardo decide invadir a França.<br />

Fê-lo por dois locais: ele próprio pela Normandia<br />

<br />

pelo Sul, junto a Bordéus. Depois de algumas escaramuças,<br />

em 1356, junto a Poitiers, trava-se uma<br />

batalha que tem como resultado mais importante a<br />

captura do rei francês. Acaba por ser libertado pelo<br />

tratado de Brétigny (1360) contra o pagamento de<br />

3 milhões de escudos-ouro, a cedência do ducado<br />

da Aquitânia e da cidade de Calais. Este momento<br />

<br />

em França.<br />

Outro ponto de elevada importância na situa-<br />

<br />

como o Cisma do Ocidente: a existência simultânea<br />

dos papados de Avignon e de Roma. Filipe IV<br />

convenceu c o Papa Clemente V a mudar-se para<br />

<br />

às à intrigas políticas em Roma, e às disputas sem<br />

<br />

<br />

França F (1309-1378), sete papas e cerca de 1000<br />

cardeais c eram originários de França. Considerando<br />

a Igreja como um importante factor ordenador do<br />

<br />

sobre s a cristandade.<br />

Entre 1379 e 1417, devido a lutas de poder<br />

entre e cardeais, chega a haver dois papados, o de<br />

Figura 3 - Alinhamentos com os papados de Avignon e de Roma<br />

Avignon e o de Roma, que dividiu as principais potências<br />

quanto ao seu reconhecimento. A França,<br />

Castela, Nápoles e Escócia deviam obediência ao<br />

papa de Avignon. A Inglaterra, reinos escandinavos<br />

e Itália obedeciam a Roma. Portugal, durante<br />

o reinado de D. Fernando obedecia a Avignon e o<br />

mestre de Aviz, para marcar a sua diferença com<br />

a política externa de D. Fernando, alinhou-se com<br />

Roma.<br />

A Situação Militar<br />

Como foi apresentado, encontramo-nos na fase<br />

descendente do sistema feudal. Este período tinha<br />

visto renascer a importância da mobilidade, dos arreios<br />

e da lança que, em síntese, originava o poder<br />

de choque, não sendo necessário ao cavaleiros<br />

o arremesso de lanças. Num choque entre cavalarias,<br />

tal como num combate de forças blindadas<br />

ou numa batalha naval, a vantagem advinha de um<br />

misto de velocidade, protecção e alcance. O alcance<br />

provinha de lanças mais compridas. A protecção<br />

advinha da utilização da armadura.<br />

Quando as campanhas eram prolongadas eram<br />

necessárias várias montadas. Além disso, o cavaleiro<br />

necessitava de quem lhe transportasse o<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

31


AZIMUTE<br />

32<br />

escudo, de um moço de fretes, de um batedor a<br />

cavalo e de uma ou duas sentinelas. Assim, o cavaleiro<br />

transformou-se numa lança, uma equipa de<br />

meia dúzia de homens, que funcionava tal como<br />

hoje a guarnição de um carro de combate. Além do<br />

mais, esta parafernália tornou-se demasiado dispendiosa.<br />

Pegar em armas, ter brasão no elmo e<br />

símbolos no escudo facilmente reconhecíveis em<br />

combate, era sinónimo de nobreza. Ser cavaleiro<br />

era, acima de tudo, uma forma de vida sancionada<br />

e civilizada pelas cerimónias da igreja. Este era o<br />

tributo da Igreja perante os serviços prestados pela<br />

cavalaria à cristandade. Este era o típico aparelho<br />

militar Francês, que defrontou inicialmente os ingleses<br />

em Crécy e Poitiers.<br />

Os ingleses tinham combinado a cavalaria feudal<br />

com soldados de infantaria e, entre eles, sol-<br />

dados arqueiros cujo valor militar tinha já sido de-<br />

<br />

I), onde as montanhas eram o terreno típico, onde<br />

a cavalaria, treinada para combate simétrico e em<br />

<br />

utilizar batedores para arrancar os galeses dos<br />

seus esconderijos e os arqueiros, que utilizavam o<br />

arco longo, tinham substituído os besteiros devido<br />

Nº 187 AGO09<br />

Figura 4 - A cavalaria era o elemento central do<br />

aparelho militar francês<br />

Figura 5 – O sistema militar inglês era baseado na<br />

combinação de efeitos da cavalaria com os arqueiros<br />

essencialmente à cadência de tiro e ao alcance,<br />

cinco a seis disparos por minuto e alcances da ordem<br />

dos trezentos metros.<br />

No período que interessa para o objectivo deste<br />

texto, duas batalhas deixaram uma marca indelével<br />

na arte da guerra: a batalha de Crécy (1346) e a<br />

batalha de Poitiers (1356). Nestas duas batalhas é<br />

francamente notória a diferença entre os dois aparelhos<br />

militares em confronto.<br />

Em Crécy (24 de Agosto de 1346), após algumas<br />

escaramuças e perseguição de Filipe VI, Eduardo<br />

decide-se a tomar posição, aproveitando o terreno<br />

para minimizar a sua vantagem numérica (1:2).<br />

to<br />

para ocupar uma posição defensiva preparada.<br />

Dispõe a infantaria em primeiro escalão e manda<br />

apear a cavalaria para que combatam como tinham<br />

feito fe nas campanhas da Escócia, entre os arqueiros,<br />

ro para os encorajar a manter as suas posições.<br />

Os O franceses, sem reconhecerem a posição inglesa,<br />

s avançam em levas sucessivas, com a infantaria<br />

genovesa g (mercenários) à frente, de forma dessin-<br />

<br />

<br />

as a cordas das bestas, pelo que era muito difícil a<br />

sua s utilização.<br />

Figura 6 – Imagem da batalha de Crécy<br />

Os arqueiros ingleses obrigam os genoveses<br />

<br />

cavalaria c francesa, tornando-se alvo fácil para os<br />

arqueiros a e para os cavaleiros ingleses apeados.<br />

Não N obstante, o mais admirável de Crécy não foi<br />

tanto ta o efeito produzido pelos arqueiros ingleses,<br />

mas m a constatação de que os combatentes apeados<br />

d não fugiram à primeira carga da cavalaria. Na<br />

realidade, re a batalha põe em evidência o combate<br />

apeado a a partir de uma posição bem escolhida e<br />

preparada. p


Figura 7 - Esquema do dispositivo inicial da batalha de Crécy<br />

Em 13 de Setembro de 1356, em Poitiers, os<br />

franceses são novamente derrotados, essencialmente<br />

devido à excelente escolha de terreno defensivo<br />

dos ingleses e ao efeito da concentração<br />

das setas dos arqueiros. O Príncipe Negro, no<br />

Figura 8 – Esquema da batalha de Poitiers, onde se nota (ao<br />

centro da imagem) o envolvimento da cavalaria inglesa<br />

comando c das tropas inglesas, dispõe as suas forças<br />

ç em terreno preparado e de difícil acesso, porque<br />

q para aceder à posição era necessário passar<br />

<br />

<br />

da d posição, de onde era possível concentrar os<br />

<br />

<br />

o seu exército em 3 batalhas, dispostas em profundidade<br />

d e ordenou a um grupo de cerca de 300 cavaleiros<br />

v que penetrasse a posição inglesa através<br />

<br />

<br />

franceses fr a recuar e o príncipe negro ordena de<br />

imediato im um contra-ataque frontal com a sua cavalaria,<br />

la formada por homens de armas e arqueiros a<br />

cavalo. c Ao mesmo tempo executa um envolvimen-<br />

to sobre a 2ª batalha, desorganizando a formação<br />

francesa, fr que, com os cavaleiros apeados, não resiste<br />

s ao choque inglês.<br />

Conclusão<br />

C<br />

va<br />

v em Aljubarrota, porque mostra a importância da<br />

preparação p do terreno e a importância do combate<br />

apeado. a A escolha do terreno serviu para compensar<br />

a inferioridade numérica e a mobilidade da cavalaria<br />

foi decisiva para tirar partido das circunstâncias<br />

favoráveis do combate.<br />

<br />

“software”: reduzir vulnerabilidades; explorar potencialidades;<br />

e aproveitar as circunstâncias do<br />

combate. c<br />

O triunfo da ordem e da disciplina sobre a<br />

<strong>Azimute</strong><br />

coragem c cega da cavalaria.<br />

<br />

O TCor Inf Luís Fernando Machado Barroso é<br />

Licenciado em Ciências Militares pela Academia<br />

Militar e Mestre em História, Defesa e Relações<br />

Internacionais pelo Instituto Superior de Ciências<br />

do Trabalho e das Empresas.<br />

Prestou serviço, entre outras unidades, na<br />

Escola Prática de Infantaria como instrutor, dos<br />

principais cursos da Escola e no Instituto de Altos<br />

Estudos Militares, onde frequentou o Curso de<br />

Estado-Maior entre 2003-2005, tendo de seguida<br />

sido ali colocado em 2005 como professor de<br />

Técnicas de Estado-Maior e Táctica na Área de<br />

<br />

Presentemente é Doutorando em História,<br />

Defesa, e Relações Internacionais no mesmo<br />

Instituto.<br />

É colaborador frequente de várias publicações e<br />

revistas, entre as quais a “<strong>Azimute</strong>”, <strong>Revista</strong> Militar<br />

de Infantaria.<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

33


AZIMUTE<br />

34<br />

Nº 187 AGO09<br />

O Armamento da Época Medieval<br />

Introdução<br />

Escrever sobre aquilo que foi o armamento da<br />

época medieval é, também, escrever sobre o que<br />

foi o progresso da humanidade.<br />

Uma abordagem avulsa de características técnicas<br />

das diferentes fases do desenvolvimento das<br />

armas, sem qualquer enquadramento histórico e<br />

social, torna confusa e por vezes sem sentido esse<br />

progresso.<br />

Assim, neste artigo, abordarei a evolução do<br />

armamento mas, também, os principais períodos<br />

de crescimento da humanidade, onde evidenciarei,<br />

túcia<br />

do homem no fabrico e aperfeiçoamento das<br />

armas face à sempre imperiosa necessidade da<br />

reposição dos equilíbrios de poder. Pontualmente,<br />

sempre que se revele oportuno, procurarei aprofundar<br />

a evolução da Infantaria e da Cavalaria, principais<br />

armas combatentes do período em análise<br />

mente<br />

esta abordagem a partir de alguns sítios da<br />

Internet e na publicação por mim compilada em<br />

2003, enquanto professor da Academia Militar,<br />

escola onde fui responsável pela Cadeira de<br />

Elementos de Armamento.<br />

Da Pré-história à Idade Média<br />

A Pré-História tem o seu início com as primeiras<br />

demonstrações de actividade humana.<br />

Embora possam existir outras, a divisão mais<br />

clássica e generalizada para partição desse período<br />

longo de evolução da humanidade, foi a criada<br />

pelo dinamarquês Thomsen, no Século XIX, para<br />

<br />

Copenhaga.<br />

Essa divisão engloba as seguintes áreas de<br />

evolução:<br />

Pedra Lascada ou Paleolítico (600.000 a.C.<br />

a 10.000 a.C.) – Idade Antiga da Pedra;<br />

Mesolítico ou Média Idade Média (10.000 a<br />

5.000 a.C.) – Idade Média da Pedra;<br />

Pedra Polida ou Neolítico (5.000 a 2000<br />

a.C.) – Idade Nova da Pedra;<br />

Período dos Metais (Cobre, Bronze e Ferro)<br />

(2.000 a.C. a 400 d.C.).<br />

De toda a Pré-História, indubitavelmente, o<br />

TCor Inf Mário Álvares<br />

Paleolítico é o período de maior duração, com cerca<br />

de seiscentos mil anos, bem como o período de<br />

tores<br />

que obrigaram a adaptações funcionais daquilo<br />

que serão as primeiras armas de mão e de<br />

arremesso.<br />

Nesse período, a totalidade da Eurásia, com excepção<br />

da Europa mediterrânea, estava convertida<br />

em campos desérticos e inabitáveis devendo ser<br />

acrescentada a actividade de diversos fenómenos<br />

tectónicos. Nessa altura o homem não tinha local<br />

<br />

vestuário. Ou seja, poucas características o distinguiam<br />

do animal comum. No entanto, é neste período<br />

que cria o primeiro utensílio, a pedra. Esse<br />

simples instrumento, que até um animal com reduzida<br />

capacidade utiliza para quebrar cascas, foi<br />

pela primeira vez empregue pelo homem. O Homo<br />

Habilis, considerado como o verdadeiro ancestral<br />

do homem moderno, manipulava esse objecto dando-lhe<br />

formas que<br />

<br />

como pedaços de<br />

pedra mal talhados<br />

(ver Figura n.º1) com<br />

uma ou mais arestas<br />

<br />

Mais tarde, pró-<br />

Figura n.º1. CANBY, Courtland – op. cit. ximo do Paleolítico<br />

Médio (90.000 a.C.)<br />

o homem aprendeu a rentabilizar o uso do fogo o<br />

que lhe permitiu, para alem da protecção do frio,<br />

cozinhar alimentos.<br />

É então que se dá a transformação gradual para<br />

uma comunidade de tipo mais avançada. O homem<br />

desce das árvores, passa a habitar em cavernas e<br />

desenvolve utensílios para apoio à caça e defesa<br />

contra predadores.<br />

rior<br />

(cerca de 10.000 a.C.), surge a pedra talhada<br />

em pequenas dimensões dando lugar a machados<br />

<br />

madeira para o fabrico de cabos (empunhaduras).<br />

No Mesolítico (10.000 – 5.000 a.C.) o homem<br />

passou a trabalhar o barro e embora continuando a


utilizar a pedra, fabricava redes, machados, pontas<br />

de lança ou anzóis.<br />

Mas é no período da Pedra Polida que, ao nível<br />

do armamento, se marca o crescimento que passaria<br />

a ser determinante para os estádios de desenvolvimento<br />

seguintes.<br />

A arma, que até então tinha uma utilização voltada<br />

para a caça e trabalho doméstico, passa a ter<br />

uma aplicação militar.<br />

Nesse período, destaca-se o surgimento do arco<br />

<br />

a alterar o seu conceito de luta. Com essa nova<br />

arma de projecção de tiro o homem via-se obrigado<br />

a barricar-se para protecção dos projécteis, bem<br />

como a criar outros equipamentos de defesa individual<br />

de forma a permitir o lançamento de armas de<br />

arremesso, como a lança.<br />

Machado em pedra polida<br />

Escudo em couro<br />

<br />

vegetal<br />

Nasce<br />

Pontas de setas e lanças em<br />

bronze<br />

Figura nº2. SEGRELLES, Vincent – op. cit.<br />

assim o escudo e a armadura. O escudo, numa<br />

-<br />

<br />

<br />

eram feitos com um ramo esticado por uma corda,<br />

<br />

bre<br />

que – pese embora as suas fracas qualidades<br />

mecânicas (razão pela qual não contribuiu para a<br />

demarcação de um estádio do desenvolvimento da<br />

humanidade) quando comparado com a pedra (ver<br />

Figura n.º2) –, veio a revelar-se muito útil no melhoramento<br />

de algumas armas, nomeadamente em<br />

pontas de setas e lanças.<br />

Já no Período dos Metais (2.000 a.C a 400 d.C.)<br />

surge a roda (2.000 a.C.) que, conjugado com o<br />

-<br />

<br />

Mas será o bronze (2.000 a. C. a 1.000 d.C),<br />

liga de cobre e estanho, que irá obrigar o homem<br />

a introduzir uma alteração profunda nos modelos<br />

de armamento empregues até então, colocando um<br />

<br />

até então empregue tão importante como viria a ser<br />

a pólvora na Idade Média, que.<br />

A partir desse período as armas como machados<br />

ou lanças passam a ligar-se às empunhaduras<br />

por mangas (ver Figura n.º3). O desenvolvimento<br />

do bronze só seria ultrapassado pelo ferro, essencialmente<br />

pelo seu baixo custo e, mais tarde, quando<br />

descoberta a metalurgia do aço.<br />

Figura n.º3. CANBY, Courtland – op. cit.<br />

<br />

grandes civilizações do “Antigo Oriente” (que compreende<br />

o Irão, a Ásia Menor, a Síria e o Egipto)<br />

como os Sumérios, os Hícsos, os Egípcios ou os<br />

Assírios.<br />

A sociedade Suméria era essencialmente urbana.<br />

O exército era composto por homens livres<br />

ras<br />

de seis homens armados com arco e lança.<br />

Usavam capacetes de couro e um pesado escudo.<br />

Conheciam o uso dos carros de combate com tracção<br />

animal que eram extremamente pesados e de<br />

difícil manejo.<br />

Já os Egípcios eram uma grande potência militar,<br />

tendo conquistado a Síria, Palestina, Líbia e a<br />

Núbia. Aprenderam a dominar o cavalo e a fabricar<br />

o arco curto, mas cedo reconhecem que montar<br />

a cavalo e disparar em simultâneo requeria muita<br />

experiência, unicamente alcançável à custa de um<br />

treino desenvolvido desde tenra idade (nesse período<br />

ainda não se conhecia o emprego generalizado<br />

do estribo, do arreio e do freio sistemas que viriam<br />

a facilitar o controlo dos animais). Assim, passaram<br />

a adoptar e aperfeiçoar um tipo de carro com duas<br />

rodas, herdado dos Hicsos, equipado com condutor<br />

e archeiro, o que lhes conferia um notável poder de<br />

choque e fogo.<br />

Entretanto, nesse período, era a cavalaria que<br />

decidia o combate, enquanto que a infantaria não<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

35


AZIMUTE<br />

36<br />

passava de uma massa heterogénea que pouco<br />

mais fazia do que desempenhar tarefas auxiliares.<br />

A Infantaria, em tronco nu, mas com o abdómen<br />

protegido por panos revestidos por placas de couro,<br />

transportava lanças de ponta curva e escudos<br />

de madeira revestidos a couro. Eventualmente po-<br />

<br />

ou sílex. Entretanto e em consequência do maior<br />

<br />

se vários tipos de defesas. Surgem as vestes a cobrir<br />

todo o corpo e, pela primeira vez, capacetes de<br />

protecção metálicos com couro reforçado. Algumas<br />

unidades de elite equipavam com couraças de lâminas<br />

de couro ou com couraças com cerca de dez<br />

espessuras de linho prensado. Este tipo rudimentar<br />

de armadura não garantia protecção contra armas<br />

de estocada ou ponta mas garantia alguma defesa<br />

contra armas de mão de punho, de corte ou gume.<br />

ção<br />

de três grandes civilizações: Grega, Persa e<br />

Romana.<br />

O auge da civilização Grega situou-se no Século<br />

V a.C., nas Cidades-Estado de Atenas e Esparta.<br />

Com os gregos as campanhas militares passaram<br />

a ser desenvolvidas a partir de formações padroni-<br />

<br />

sistemas de armas empregues, traduzindo assim<br />

um exército organizado em:<br />

Psilitas equipados com arco, funda ou azagaia<br />

e grevas metálicas;<br />

Hoplitas equipados com couraça, escudo<br />

oval, pique (4 a 6 metros) e grevas metálicas;<br />

Peltastas equipados com couraça com placas<br />

de estanho e lâminas de couro, pique e<br />

espada curta;<br />

e Cavalaria a cavalo ou em carros de<br />

combate.<br />

Nº 187 AGO09<br />

Figura n.º4. Infantaria Egípcia - FUNCKEN, Liliane et Fred – op. cit.<br />

Figura n.º5. Infantaria Grega - SEGRELLES, Vincent – op. cit.<br />

Mas no mesmo período, cerca de um Século mais<br />

tarde, depois de Alexandre ter construído um<br />

grande império no Oriente, Roma conquistou as<br />

terras do Mediterrâneo Ocidental e quase todos os<br />

Estados helénicos, a Oriente, incluindo a própria<br />

Grécia.<br />

O seu domínio, marcado por três períodos<br />

díspares em organização e modo de governar<br />

(Monarquia – até 509 a.C., República – até 32 a.C.<br />

e Império – até 410 d.C.), era consubstanciado<br />

num poderoso aparelho militar.<br />

Em termos de equipamento o soldado romano<br />

utilizava capacete de ferro com argola na parte<br />

superior para que pudesse ser transportado ao<br />

ombro durante as marchas (quando sem capacete<br />

utilizavam um gorro de lã). Sobre a túnica colocavam<br />

uma couraça anatómica ou chapas de metal<br />

que não afectassem os movimentos. Essa couraça,<br />

de tipo helénica, é característica dos soldados<br />

de Túlio Hostílio (672 a.C. a 640 a.C.). A partir<br />

de Mário (157 a.C. a 86 a.C.), político e general<br />

da República Romana, os Legionários passam a<br />

adoptar uma cota de malha, provavelmente imputada<br />

aos gauleses, e que se denominava lorega.<br />

Da cintura pendiam tiras de couro endurecidas e<br />

nas pernas usavam grevas metálicas ou sandálias.<br />

Os escudos apresentavam as formas circulares ou<br />

rectangulares com um depósito central onde guardavam<br />

objectos de valor. A cavalaria utilizava escudos<br />

redondos de pequenas dimensões. A partir da<br />

época de Júlio César os escudos abandonaram a<br />

tradicional forma oval e passaram a adoptar a forma<br />

rectangular.<br />

Como armas ofensivas utilizavam uma espada<br />

curta de dois gumes (gládio). Podiam ainda utilizar<br />

um pique ou uma pequena lança curta de arremesso,<br />

o pilum, que quando lançada contra um<br />

<br />

tornava impossível ser retirada do corpo.<br />

Porém, a partir de 400 d.C, a luta desenfreada


Figura n.º6. Soldado Romano -<br />

SEGRELLES, Vincent – op. cit.<br />

pelo poder e a corrosão do sistema<br />

de d controlo e gestão dos escravos<br />

foi f responsável pela desorganização<br />

económica e, consequentemente,<br />

pela desordem social que levou<br />

à derrocada do Império Romano<br />

e toda a sua organização militar.<br />

A partir dessa data Roma passou a<br />

ser uma cidade provinciana e todo o<br />

Império Ocidental foi subjugado às<br />

invasões de bárbaros provenientes<br />

da Gália, Norte da Europa e<br />

Ásia.<br />

A Idade Média e as novas organizações<br />

militares<br />

A Idade Média foi um termo criado pelos<br />

Europeus no Século XVII para exprimir, no seu<br />

ponto de vista, um longo e melancólico período<br />

de interrupção da evolução civilizacional, marcado<br />

pela queda do Império Romano do Ocidente,<br />

e que se prolongou até 1.500 d.C., ano em que<br />

Constantinopla, capital do Império Romano do<br />

Oriente, foi conquistada pelos Turcos.<br />

<br />

e início da Idade Média o cristianismo era o único elo<br />

cultural que ligava os povos da Europa Ocidental.<br />

Mas em 800 d.C. um novo reino, reunindo várias<br />

populações Bárbaras, como os Francos e os<br />

Lombardos, formou um novo Império restaurando o<br />

antigo Império Romano do Ocidente. A sua extensão<br />

era comparável àquela que o Império Ocidental<br />

da antiga Roma tinha alcançado. O rei mais famoso<br />

desse Império foi Carlos Magno que governaria até<br />

cerca de 814 d.C., ano da sua morte.<br />

<br />

uma nova vaga de invasões Bárbaras que varreram<br />

o litoral de muitos países. Esses novos invasores<br />

eram oriundos das terras<br />

do Norte (Dinamarca,<br />

Suécia e Noruega) e eram<br />

conhecidos por Vikings<br />

<br />

seu armamento e equipamento<br />

era em todo idêntico<br />

às das restantes civilizações<br />

Bárbaras suas<br />

antecessoras.<br />

Entretanto, no Oriente,<br />

o limiar do Século X marcou<br />

o auge do Império<br />

Bizantino e Constantinopla<br />

transformou-se no centro<br />

do comércio de todo o<br />

TORÍBIO, J. M. Cuenca – op. cit. p. 268.<br />

Próximo Oriente. Para os Bizantinos a guerra era<br />

uma ciência. O treino militar era intenso e vários<br />

compêndios militares foram escritos.<br />

Por seu turno, a Europa Ocidental, atingia o<br />

“máximo de desorganização”.<br />

O Ex-Império de Carlos Magno encontrava-se<br />

dividido num grande número de reinos e ducados<br />

tribais auto-subsistentes. Todavia, e tal como<br />

<br />

união, dando origem<br />

a um novo Estado<br />

antecessor da moderna<br />

Alemanha,<br />

o Santo Império<br />

Romano-Germânico.<br />

Entretanto, neste<br />

período, conturbado<br />

para a Europa<br />

Ocidental, no Oriente,<br />

uma grande civilização<br />

que tinha o seu cen-<br />

tro, tal como hoje, no<br />

mundo árabe, atingiu o<br />

apogeu.<br />

Figura n.º7. Militares e armamento árabe<br />

SEGRELLES, Vincent – op. cit.<br />

A reunião de povos como os egípcios, árabes,<br />

assírios e palestinos deu origem à criação de um<br />

exército heterogéneo onde se destacava uma excelente<br />

cavalaria e archeiros de elevada precisão.<br />

O seu exército era modelado por persas e bizantinos.<br />

Cada divisão tinha duas alas de lanceiros a<br />

cavalo, as quais cobriam a vanguarda, e na retaguarda,<br />

uma infantaria ligeira e pesada equipada<br />

<br />

As armas ofensivas e defensivas dos Árabes<br />

eram, no seu aspecto funcional, as mesmas que<br />

as dos seus opositores embora com mais ornatos e<br />

aço de melhor qualidade.<br />

A sua arte na construção de material bélico foi<br />

melhorando com o decorrer das conquistas sendo<br />

disso exemplo a cota de<br />

malha, a utilização da cimitarra<br />

e do sabre. Mais<br />

tarde passaram a adoptar<br />

espadas de lâmina direita<br />

e de dois gumes.<br />

Entretanto, na Europa<br />

Ocidental, as diferenças<br />

do tipo de equipamento<br />

e armamento, que, em<br />

alguns casos, eram imagem<br />

de marca de determinadas<br />

civilizações, deixaram<br />

de existir.<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

37


AZIMUTE<br />

38<br />

Cota de malha em<br />

anéis metálicos<br />

A lorega – feita com pequenas chapas metálicas<br />

cozidas a uma túnica de couro, que resultava numa<br />

protecção pesada e rígida que terminava num capuz<br />

de couro, cobrindo a parte de trás do pescoço<br />

e a cabeça, sobre a qual assentava o capacete<br />

que tinha então uma peça saliente para protecção<br />

do nariz –, foi sendo aperfeiçoada dando origem à<br />

vo<br />

da “blindagem” do combatente, passaram a ser<br />

utilizadas algumas armas, muitas delas herdadas<br />

de outras civilizações, nomeadamente o chicote de<br />

armas e o machado de mão ou de arremesso, sistemas<br />

que pela distância do centro de gravidade<br />

à pega na empunhadora, desde que empregues<br />

como à arma de mão de esmagamento e corte,<br />

eram sempre animados de uma elevada energia<br />

cinética.<br />

Entretanto, o infante (soldado de infantaria), dotado<br />

de um armamento de defesa menos completo,<br />

sendo as principais armas defensivas o escudo e o<br />

capacete de ferro ou couro, foi aumentando a sua<br />

protecção a ponto de adoptar, numa fase posterior,<br />

armaduras tão pesadas e incómodas como a cavalaria<br />

do Século XIII.<br />

Mas será no dealbar do Século XIV que o in-<br />

<br />

Num primeiro instante, passando a adoptar piques<br />

de grandes dimensões, obriga a cavalaria a introduzir<br />

alterações profundas no seu armamento<br />

defensivo. O elmo, até então parcialmente aberto<br />

na parte frontal, passou a estar completamente fechado.<br />

E a armadura, até então em cota de malha,<br />

passou a ser reforçada com chapas metálicas para<br />

aumentar a resistência.<br />

Mas será a introdução do arco longo, concebido<br />

em madeira de olmo ou teixo, sistema que permitia<br />

bater alvos às mais longas distâncias (400 metros)<br />

com uma grande energia cinética, e a introdução<br />

gradual da besta, também ela arma de projecção<br />

de tiro mas que, ao contrário do arco, não neces-<br />

<br />

Nº 187 AGO09<br />

Lorega<br />

Cota de malha<br />

Fig n.º8 SEGRELLES, Vincent – op. cit.<br />

Chicote de armas<br />

imediato, que passaram aram a condicionar,<br />

de forma irremediável, vel, o emprego<br />

da cavalaria sem recurso ecurso a pesadas<br />

armaduras.<br />

Hoje, não há qualquer ualquer<br />

dúvida que a besta a e o<br />

arco, juntamente com com<br />

piques, marcaram a dedecadência da cavalaria aria<br />

feudal. Acima de tudo do<br />

os homens equipa-<br />

dos com piques e<br />

os arqueiros não<br />

se bateram nem<br />

como aliados nem Figura n.º 9. Arqueiro com arco longo e besta.<br />

SEGRELLES, Vincent – op. cit.<br />

como adversários<br />

<br />

arma criando um corpo com capacidade de projecção<br />

de fogo, capacidade para conduzir o combate<br />

próximo e capacidade para resistir ao poder de<br />

choque da cavalaria.<br />

Todavia, para além do emprego da besta, o século<br />

XIV foi marcado pelo emprego das armas de<br />

fogo.<br />

A tradição europeia menciona dois monges, um<br />

inglês Roger Bacon (1212-1294) e outro alemão<br />

Bertoldo Schwartz, como os criadores da pólvora<br />

como sistema de projecção para armas de fogo.<br />

No entanto, o que parece mais provável, é que os<br />

inventores tenham sido os Árabes que, enquanto a<br />

Europa ainda atravessava um período de recuperação<br />

algo obscuro, o período pós-romano, terão<br />

traduzido trabalhos de sábios gregos e latinos que<br />

se dedicavam à alquimia, considerando-os apenas<br />

como uma curiosidade, até que, em meados do<br />

século XIV, alguém lhes descobriu uma utilidade<br />

prática, inventando o canhão. Como a combustão<br />

dessa substância (pólvora) era muito brusca, a súbita<br />

expansão dos gases formados durante a combustão<br />

podia lançar um projéctil. Assim nasceu a<br />

pólvora que se passou a usar para o lançamento<br />

de pedras de grande volume destinadas a esmagarem,<br />

pelo seu peso, as muralhas.<br />

As primeiras armas de fogo foram a bombarda,<br />

para tiro indirecto, e a colubrina, para tiro directo.<br />

A Bombarda não era mais que uma tosca<br />

peça de chapa de aço forjada em forma de tubo e<br />

reforçada com cintas de metal que podia ou não<br />

ser montada sobre um reparo rodado.<br />

A colubrina, de menor calibre, podia ser carregada<br />

pela culatra por intermédio de uma cavilheta<br />

(Figura n.º10) que se ajustava à pressão por intermédio<br />

de uma cunha. No entanto <br />

de ajustamento das diferentes peças levaram esse


Cavilheta<br />

Figura n.º10. Colubrina. SEGRELLES, Vincent – op. cit.<br />

equipamento ao fracasso.<br />

O primeiro emprego da pólvora numa arma de<br />

projecção de fogo em campanha foi em Inglaterra<br />

durante a Batalha de Crecy a 26 de Agosto de 1346.<br />

ros<br />

canhões de mão com um simples tubo em ferro<br />

tendo no extremo posterior de uma das suas geratrizes<br />

um orifício para que pudesse ser comunicado<br />

o fogo à carga que se encontrava no interior da<br />

arma.<br />

Assim, no início do século XVI (início da Idade<br />

Moderna) e até ao surgimento das armas de retrocarga<br />

com a introdução generalizada dos sistemas<br />

semi-automáticos dos inícios do Século XX, a infantaria,<br />

apesar do emprego das primeiras armas<br />

de fogo, passou a utilizar três tipos básicos de unidades<br />

de manobra: Alabardeiros equipados com<br />

alabarda (composta por uma haste longa idêntica<br />

ao pique é atravessada por uma lâmina em forma<br />

de meia-lua (similar à de um machado), Piqueiros<br />

equipados com pique, e Arcabuzeiros equipado<br />

com arcabuz.<br />

<br />

a luta pelos equilíbrios de poder foi determinante<br />

para evolução tecnológica do armamento.<br />

Se numa fase inicial da humanidade as necessidades<br />

de sobrevivência levaram ao desenvolvimento<br />

de sistemas de armas para a caça e protecção<br />

de predadores, cedo se constatou que os primeiros<br />

grupos sociais, na procura da segurança colectiva<br />

temporânea,<br />

arrastaram o homem para uma luta<br />

desenfreada no desenvolvimento de sistemas de<br />

protecção mas, também, em sistemas de projecção<br />

do poder de fogo às mais longas distâncias.<br />

<br />

a introdução de novos sistemas de armas teve um<br />

<br />

seus escalões, e modos de actuação.<br />

peita,<br />

importa relevar que a Idade Média, herdeira<br />

de grandes civilizações da Antiguidade Clássica<br />

mas marcada por um retrocesso em termos civi-<br />

<br />

franca evolução da tecnologia do armamento, factor<br />

que veio a ser determinante na célere evolução<br />

das armas de projecção de fogo individuais e colec-<br />

<br />

<strong>Azimute</strong> AZIMUTE<br />

<br />

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Nº 187 AGO09<br />

39


AZIMUTE<br />

40<br />

Nº 187 AGO09<br />

A CCrise<br />

de 1383-1385 e a Batalha de Atoleiros<br />

O Séc XIV Europeu<br />

O Séc. XIV traduz-se na Europa por uma crise<br />

profunda. As causas exactas desta apelidada<br />

“crise” são ainda hoje difíceis de apontar com<br />

precisão 1 .<br />

Como resultado da crise frumentária 2 , ocorreram<br />

períodos de fome generalizada: na Europa do<br />

Norte entre 1315 e 1317 3 ; na Europa do Sul entre<br />

1346 e 1347 4 . A sucessivos anos de colheitas<br />

<br />

mineira, com a consequente compensação imposta<br />

dade<br />

5 . Por outro lado, a peste negra, entre 1346 e<br />

1350, reduziu a população europeia em cerca de<br />

um terço. Em Portugal o surto foi mais intenso em<br />

1348 6 . Esta epidemia não só foi um drama sanitário<br />

como assumiu dois efeitos importantíssimos. Um,<br />

no campo do místico-religioso e, portanto, moral,<br />

entendido como castigo divino e um outro, muito<br />

mais terreno, mas de repercussões prolongadas<br />

no tempo: desbaratou a mão-de-obra agrícola de<br />

<br />

golpe na produção das décadas seguintes.<br />

<br />

enfrentadas pelas então comunas autónomas da<br />

Flandres, em que a produção de tecidos sofreu<br />

<br />

mengos<br />

para Itália 7 . O Séc. XIV europeu viu ocorrer<br />

frequentes revoltas localizadas, sobretudo protagonizadas<br />

pelo povo. As revoltas dos trabalhadores<br />

ingleses liderados por Watt Tyler, em França<br />

os “Jacques”, na Flandres os “Unhas Azuis”, em<br />

1 Monteiro, 2003: 30.<br />

2 Crise da produção de cereais.<br />

3 Entre 1315 e 1317 registou-se pluviosidade excessiva por<br />

toda a Europa.<br />

4 Na Península Ibérica registaram-se secas e más colheitas,<br />

que resultaram em fomes em 1302, 1333 e 1344-46 (Duarte,<br />

2006:15).<br />

5 Monteiro, 2003: 30-31.<br />

6 Rodrigues, 1985: 15.<br />

7 Desde 1270 que a Flandres era nominalmente pertença<br />

da coroa francesa. No entanto, as associações urbanas<br />

de tecelões nunca reconheceram verdadeiramente aquela<br />

soberania, fazendo a situação degenerar numa série de<br />

<br />

1304. A partir desta altura, a prosperidade flamenga foi<br />

declinando, agravada durante todo o Séc. XIV por ocorrências<br />

como a peste negra e a Guerra dos Cem Anos (1337 – 1453).<br />

Florença os “Ciompi”<br />

não ocorreram em<br />

simultâneo, não<br />

se trataram de<br />

movimentos sociais<br />

combinados,<br />

nem os propósitos<br />

eram exactamente<br />

iguais8 . Nem sequer<br />

se pode falar<br />

de uma consciência<br />

popular ou nacional.<br />

Dado que não há<br />

ligação entre as di-<br />

ferentes revoltas, somos mos orientados a concluir que<br />

estas eclodiram porque o ambiente e a situação<br />

social e económica assim o determinaram. E este<br />

dado, por sua vez, prova que o Séc. XIV foi profundamente<br />

diferente para pior, a uma grande escala,<br />

do que os séculos que o antecederam e dos que o<br />

sucederam.<br />

Em 1337 os poderosos reinos de Inglaterra e<br />

França envolvem-se na Guerra dos Cem Anos<br />

(1337-1453), a “primeira guerra mundial fora do<br />

Mediterrâneo” 9 . Logo no início, o rei Eduardo III de<br />

Inglaterra, procurou aliar-se com a Flandres e com<br />

o Sacro Império Romano-germânico, mas “não<br />

<br />

estratégia e procurou antes alianças na Península<br />

Ibérica” 10 . As décadas seguintes foram marcadas<br />

pelo crescente envolvimento dos reinos peninsula-<br />

<br />

O Contexto Ibérico<br />

O Séc XIV peninsular é, em certa medida, um<br />

<br />

monarquias portuguesa e castelhana tiveram em<br />

comum, por diversas ocasiões, lutas internas entre<br />

a nobreza e elementos da própria família real, normalmente<br />

por questões sucessórias. Isto originou,<br />

<br />

<br />

se iam cruzando. Em Portugal, o conhecido desfecho<br />

da relação amorosa entre o infante D. Pedro e<br />

D. Inês de Castro (em 7 de Janeiro de 1355) acentuou<br />

uma clivagem já existente entre elementos da<br />

8 Duarte, 2006: 17.<br />

9 Martins, 2006: 33.<br />

10 Martins, 2006:10.<br />

Cap Inf Carlos Afonso


alta nobreza. Por outro lado, a corte portuguesa pululava<br />

de linhagens castelhanas exiladas, ao mesmo<br />

tempo que inúmeros nobres portugueses foram<br />

acolhidos em Castela.<br />

Do lado castelhano, a subida<br />

<br />

de Afonso XI, D. Pedro I, o “Cruel”,<br />

provocou uma luta com um conjunto<br />

de herdeiros ilegítimos, fomentando<br />

a guerra civil 11 . Henrique de<br />

Trastâmara, meio-irmão de D. Pedro<br />

I, foi o pretendente que congregou<br />

em redor de si a mais poderosa facção,<br />

constituída pela parte da nobreza<br />

ansiosa de mais representatividade<br />

e pelos comerciantes das cidades<br />

da Galiza e Astúrias. Os reinos de<br />

Aragão, Navarra, Portugal e até o reino<br />

mouro de Granada viram-se envolvidos<br />

na contenda. Aragão e Navarra,<br />

movidos por interesses próprios, alinharam<br />

com Henrique e com os franceses. D. Pedro I<br />

de Castela e D. Fernando de Portugal procuraram<br />

o apoio de Inglaterra 12 . Granada, embora opositor<br />

natural de todos os reinos cristãos da Península,<br />

<br />

nas vésperas da Primeira Guerra Fernandina, em<br />

1369 13 .<br />

Do ponto de vista social, a segunda metade do<br />

século XIV é caracterizada pela drástica redução<br />

dos rendimentos senhoriais, situação que não é estranha<br />

à Península Ibérica. Isto veio a acentuar as<br />

tados<br />

do acesso ao património familiar por regras<br />

14 .<br />

Foi este o quadro que o rei D. Fernando (1367-<br />

1383) encontrou quando ascendeu ao trono. Em<br />

Castela, a guerra civil prolongava-se. Em 1369, D.<br />

Pedro I de Castela foi morto em Montiel, fechando<br />

um ciclo que durava desde 1350. Apesar da tentativa<br />

inicial de manter a neutralidade, D. Fernando de<br />

<br />

Muitas cidades castelhanas, não se querendo submeter<br />

a Henrique de Trastâmara, invocaram o parentesco<br />

do rei português com o falecido D. Pedro<br />

I, pressionando-o. Foram esta exigência política e o<br />

facto de ainda não ser ter casado, os dois factores<br />

que mais terão condicionado o início do reinado de<br />

D. Fernando15. Embora sob o motivo aparente da<br />

questão do direito ao trono de Castela, era já clara,<br />

<br />

<br />

europeu era de certo modo análoga à de Portugal, negociar<br />

alianças com os opositores do reino vizinho (naquele caso,<br />

alianças com a França que se opunha a Inglaterra) permitia<br />

aguardar um balanço de forças favorável (Gomes, 2009: 32).<br />

13 Gomes, 2009: 91.<br />

14 Monteiro, 2003: 14.<br />

15 Martins, 2006: 51.<br />

<br />

nova nobreza. Após a subida ao trono de Castela<br />

de Henrique de Trastâmara, em 1369, o problema,<br />

como interpreta Borges de Macedo, “não não era o da<br />

Os reis D. Fernando de Portugal e D. Juan I de Castela<br />

sucessão, mas o facto de ter sido colocado no trono<br />

um rei com o apoio da França e o perigo que isso<br />

representava para todos os reinos independentes<br />

da Península” 16 . D. Fernando viu-se então obrigado<br />

a entrar em guerra com Castela, numa sucessão<br />

nhecidos<br />

como as três Guerras Fernandinas (1369-<br />

1371, 1372-1373, 1381-1382).<br />

Casou com D. Leonor Teles de Menezes (1350-<br />

1386), em 1372, no mosteiro de Leça do Bailio,<br />

sede da Ordem do Hospital. D. Leonor pertencia à<br />

<br />

<br />

muito querida pelo povo tendo recebido o epíteto<br />

de “a Aleivosa” porque foi considerada responsável<br />

por um conjunto de conspirações, entre elas o da<br />

morte da sua própria irmã (no episódio que se descreve<br />

a seguir), pelo aprisionamento de D. João,<br />

Mestre de Avis e pelo seu relacionamento conheci-<br />

<br />

galego, o conde João Fernandes Andeiro.<br />

Encontramo-nos agora já na década de 70 do<br />

<br />

agregar em sua volta um conjunto de desconten-<br />

<br />

velho de Pedro e Inês. Casado com Maria Teles, a<br />

irmã da rainha, foi vítima de uma intriga que o levou<br />

a assassinar a própria mulher, vindo a refugiar-se<br />

depois em Castela 17 , onde foi aprisionado. Deste<br />

modo, um dos principais pretendentes à sucessão<br />

de D. Fernando, <br />

colocado “fora de campo”.<br />

Na sequência da Terceira Guerra Fernandina, o<br />

Tratado de Salvaterra de Magos, celebrado em 2 de<br />

Abril de 1383, promoveu o casamento da princesa<br />

16 Idem.<br />

17 Crê-se que a fomentadora da intriga terá sido a própria<br />

rainha, D. Leonor Teles.<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

41


AZIMUTE<br />

42<br />

<br />

com o monarca de Castela, D. Juan I 18 em 1383. D.<br />

Fernando morreu em Outubro desse mesmo ano,<br />

aos 38 anos de idade, sem deixar nenhum herdeiro<br />

directo masculino. Pelo tratado de Salvaterra, D.<br />

Leonor Teles assumiria a regência do reino até que<br />

gisse<br />

a maioridade de 14 anos 19 . D. Beatriz contava,<br />

ao tempo da boda, com 10 ou 11 anos de idade.<br />

Dado que o infante D. João de Castro se encontrava<br />

aprisionado em Castela, as famílias relegadas<br />

para segundo plano na corte durante o reinado<br />

de D. Fernando apressaram-se a organizar-se em<br />

<br />

e de uma outra dama, D. Teresa Lourenço. Era D.<br />

João, Mestre da Ordem Militar de Avis, que viria a<br />

ser o rei D. João I.<br />

<br />

duas facções principais em oposição: o partido de<br />

D. Beatriz, que defendia que o trono de Portugal<br />

pertencia, por direito, ao monarca de Castela, seu<br />

marido, e o partido de D. João Mestre de Avis. A<br />

gente<br />

do reino, a rainha viúva, D. Leonor Teles, com<br />

a sua conhecida relação amorosa com o Conde<br />

João Fernandes Andeiro, ideólogo do partido que<br />

apoiava Juan I de Castela e D. Beatriz.<br />

Em torno de D. Beatriz encontrava-se boa par-<br />

deiros,<br />

senhores de vastas possessões. Em torno<br />

cundogénitos,<br />

boa parte deles com carreiras militares<br />

nas Ordens de Avis, de Cristo, Santiago e<br />

do Hospital. Era uma elite militar. Prova-o a forma<br />

como foi conduzida a campanha de 1383-1390 e<br />

como se avançou para Ceuta em 1415. O próprio<br />

D. João era precisamente o Mestre de uma das<br />

Ordens.<br />

A crise de 1383-1385 teve também uma dimensão<br />

popular muito importante explicável pelas<br />

circunstâncias sociais e económicas anteriormente<br />

descritas. Resta ainda referir que D. Juan<br />

I de Castela apoiava um papa, Clemente VII, de<br />

Avinhão. Os portugueses eram partidários do papa<br />

de Roma, Urbano VI 20 . Este aspecto religioso assume<br />

alguma relevância quando pensamos nas<br />

motivações e argumentos para a mobilização das<br />

populações rurais 21 .<br />

18 Filho de Henrique de Trastâmara.<br />

19 Lei “sálica” – costume antigo, passado a escrito no tempo<br />

de Clóvis, rei dos Francos, em 490, e depois sucessivamente<br />

reinterpretado. Destinava-se a regular o acesso a terras por<br />

parte dos herdeiros. No Séc. XIV o conceito encontrava-se<br />

<br />

mulheres ao trono (Duarte, 2006: 7).<br />

20 Tavares, 1985: 21. Em 1379, em Évora, D. Fernando<br />

declarara o apoio ao papa de Avinhão, mas esta opção não<br />

foi duradoura (Gomes, 2009: 121).<br />

21 É sabido que, entre os apoiantes do Mestre de Avis, se<br />

encontravam as massas urbanas comerciantes e elementos da<br />

baixa nobreza. No entanto, o argumento religioso deve bem ter<br />

Nº 187 AGO09<br />

A caminho dos Atoleiros<br />

Atoleiros (6 de Abril de 1384), Trancoso (29<br />

de Maio de 1385) e Aljubarrota (14 de Agosto de<br />

1385), foram as três grandes batalhas entre 1383<br />

e 1385 dignas desse nome. Houve inúmeros confrontos<br />

durante todo o tempo, mas os efectivos<br />

presentes raramente ultrapassaram as escassas<br />

centenas. Atoleiros foi essencial como catalisador<br />

moral, positivo para os partidários do Mestre<br />

de Avis e negativo para Juan I. Demonstrou claramente<br />

que Castela não era invencível em campo<br />

aberto, representando o maior revés sofrido pelos<br />

castelhanos até então e um reforço extremamente<br />

consistente da causa de D. João de Avis.<br />

Em 8 de Fevereiro de 1384, estando já estacionado<br />

em Santarém, o rei de Castela colocou forças<br />

em Lisboa, na zona do Lumiar, dando assim início<br />

<br />

com a chegada de uma frota castelhana ao Tejo.<br />

O Mestre d’Avis, ocupado com a defesa de<br />

Lisboa, foi informado de que Juan I tinha solicitado<br />

reforços para o cerco, que se dirigiam de Castela<br />

pelo eixo mais directo – o Alto Alentejo. Em Março<br />

de 1384 nomeou D. Nuno fronteiro da comarca de<br />

Entre Tejo e Guadiana. Esta decisão teve alguma<br />

oposição inicial de João das Regras, dado que este<br />

alegava que os irmãos de D. Nuno vinham na hoste<br />

castelhana. D. João manteve a sua intenção e autorizou<br />

D. Nuno a escolher, em Lisboa, 200 cavaleiros,<br />

dos quais 40 da primeira nobreza 22 . Deu-lhe<br />

também autorização para juntar à sua hoste cerca<br />

de 1.000 homens a pé. Nuno Álvares Pereira partiu<br />

então para o Alentejo, em meados de Março, sendo<br />

acompanhado por D. João até Coina, onde se<br />

despediram.<br />

No mesmo dia, as gentes de Setúbal negaramlhe<br />

a entrada e a força acabou por bivacar em<br />

Palmela. Naquela altura, D. Nuno, recém-nomeado,<br />

acalentava dúvidas acerca das convicções<br />

daqueles que o acompanhavam. Ao mesmo tempo<br />

tinha verdadeira consciência do pouco grau de treino<br />

da força. Na noite de Palmela terá aproveitado<br />

a detecção à distância das fogueiras de um acampamento<br />

de almocreves para levantar a suspeita<br />

de que se poderiam tratar de cerca de 300 lanças<br />

castelhanas 23 . D. Nuno e os seus prepararam o<br />

combate, mas a manhã veio a esclarecer o engano.<br />

servido de instrumento na mobilização das populações rurais,<br />

dada a religiosidade medieval e o receio de excomunhão.<br />

22 Entre os escolhidos encontravam-se bastantes homens<br />

oriundos de Évora e Beja, cidades que tinham dado o seu apoio<br />

à causa de D. João [Martins,(?): 4]. Este pormenor é importante<br />

porque revela dois aspectos. Por um lado, a intenção destes<br />

combatentes de estarem presentes junto das suas terras,<br />

contribuindo para a sua defesa. Por outro lado, a decisão de<br />

ter na hoste verdadeiros conhecedores da área de operações<br />

que, para além de relevantes ao nível táctico, teriam um papel<br />

importante no recrutamento da hoste ao longo do percurso.<br />

23 Correu o rumor de que Pedro Sarmento tinha vindo de<br />

Santarém, por Coruche, para barrar o caminho à hoste que se<br />

dirigia para o Alentejo (Crónica do Condestável, 53).


D. Nuno tinha acabado de os submeter à primeira<br />

prova. Nenhum desertara 24 . Foi também por esta<br />

altura inicial da campanha que optou por formar<br />

um “estado-maior”, constituído por representantes<br />

das gentes de cada um dos concelhos que tinha na<br />

hoste 25 .<br />

De Setúbal dirigiu-se por Montemor até Évora,<br />

onde tentou recrutamento, mas só conseguiu 30<br />

lanças adicionais. Com 230 lanças avançou para<br />

Estremoz, onde teve conhecimento que os castelhanos<br />

já estavam no Crato, comandados pelo<br />

mestre da Ordem de Alcântara, Diego Gomez<br />

Barroso 26 . Convocou as gentes dos arredores de<br />

Estremoz e dos concelhos de Elvas e Beja. Juntou<br />

estas forças no Rossio de São Braz, em Estremoz 27<br />

, onde passou revista à tropa, composta por cerca<br />

de 300 cavaleiros, 1.100 homens a pé e 100 besteiros.<br />

Desde logo mostrou intenção de ir ao encontro<br />

dos castelhanos para lhes “dar peleja”, mas os<br />

seus companheiros deram uma resposta negativa,<br />

invocando duas razões: os castelhanos eram muitos<br />

e vinham comandados por grandes senhores –<br />

a luta era desigual. Além disso vinha na hoste inimiga<br />

D. Pedro Álvares Pereira, prior do Crato e ainda<br />

um outro irmão de D. Nuno 28 <br />

D. Nuno os podia arrastar para uma cilada. Esta<br />

última razão tê-lo-á exasperado a ponto de jurar ser<br />

o primeiro a entrar em combate. Naquele momento<br />

sabia que tinha de jogar o tudo ou nada. Intimou<br />

aqueles que o quisessem seguir a atravessar uma<br />

pequena ribeira que existia no local. A maioria fê-lo<br />

instintivamente e os que hesitaram acabaram também<br />

por a atravessar, seguindo os primeiros.<br />

Atoleiros<br />

No dia seguinte, 6 de Abril de 1384, véspera de<br />

Quinta-feira Santa, D. Nuno mandou tocar as trombetas<br />

de madrugada, ouviu missa e depois partiu<br />

com a sua gente em direcção a Fronteira, que estava<br />

então a ser cercada pelos castelhanos, vindos<br />

do Crato.<br />

Ao encontro de Nuno Álvares Pereira veio um<br />

escudeiro, de nome Rui Gonçalves 29 , trazendo-lhe<br />

grandes propostas de honras e mercês, desde que<br />

se passasse para o partido de Castela. Referiu também<br />

que seria inútil, com tão pouca gente, combater<br />

contra tantos. D. Nuno tudo recusou, dizendo-lhe,<br />

24 Fernão Lopes, 1ª Parte da Crónica de el-Rei D. João I, o<br />

de Boa Memória, pp. 237 e 238.<br />

25 Correu o rumor de que Pedro Sarmento tinha vindo de<br />

Santarém, por Coruche, para barrar o caminho à hoste que se<br />

dirigia para o Alentejo (Crónica do Condestável, 53).<br />

26 D. Diego Gomez de Barroso viria a morrer nesta batalha.<br />

27 Hoje o Largo Dragões de Olivença.<br />

28 D. Diogo Álvares Pereira. Os irmãos eram quatro tendo<br />

ainda D. Fernão ficado do lado de D. Nuno. A mãe, Iria<br />

Gonçalves, tentou inicialmente demover D. Nuno, acabando<br />

convertida à causa do Mestre.<br />

29 Escudeiro, hospitalário, que tinha vivido com D. Nuno no<br />

Crato, na infância.<br />

contudo, “que fosse tão depressa quanto pudesse<br />

ter com os seus companheiros, pois a hoste portuguesa<br />

estaria, mais depressa do que julgavam,<br />

próxima de Fronteira e pronta para o combate”. Ao<br />

ouvirem a mensagem de D. Nuno Álvares Pereira,<br />

os castelhanos deixaram os preparativos do cerco<br />

a Fronteira e deslocaram-se na direcção do exército<br />

português, pela estrada que ia para Estremoz<br />

por Santo Amaro.<br />

Nas imediações do local que é hoje a Herdade<br />

dos Atoleiros, a 2,5 Km a sul de Fronteira, D. Nuno<br />

fez alto ao deslocamento e escolheu o local apropriado<br />

para colocar a sua força. Optou por um terreno<br />

ligeiramente inclinado e que tinha em toda a<br />

extensão, na zona mais baixa, uma linha de água 30 .<br />

Tratou-se de um local extremamente bem escolhido,<br />

pois embora fosse aparentemente convidativo<br />

para um ataque, tinha diante de si a ribeira, que<br />

temente<br />

larga e profunda para constituir um fosso.<br />

Por outro lado, ao colocar os seus homens num<br />

local ligeiramente mais elevado, proporcionava um<br />

ângulo de tiro muito vantajoso para os besteiros.<br />

O cabeço dos Atoleiros não tem mais do que 200<br />

metros de largura, no sentido leste-oeste, e elevase<br />

cerca de 15 a 20 metros sobre as linhas de água<br />

que o rodeiam, nomeadamente sobre a ribeira do<br />

Carvalho, a norte. É ladeado, a leste e oeste, por<br />

ra.<br />

Para a retaguarda da posição (sul), o terreno é<br />

relativamente plano.<br />

Em primeiro lugar, D. Nuno mandou apear toda<br />

a cavalaria, mal armada, e que seria incapaz de<br />

resistir ao choque dos esquadrões castelhanos.<br />

Seguidamente, organizou com eles a vanguarda<br />

a duas linhas, mandando cravar compridas lanças<br />

de madeira tosca no solo 31 , seguras obliquamente.<br />

Colocou cerca de 50 cavaleiros montados na retaguarda<br />

32 . Posicionou os besteiros em duas alas<br />

e também por detrás da vanguarda, uma vez que<br />

estavam mais elevados, de modo que podiam fazer<br />

tiro por sobre as cabeças das duas linhas da<br />

frente. Finalmente, fez distribuir criteriosamente os<br />

cerca de 1.100 homens a pé pela vanguarda e alas,<br />

sem contudo deixar de misturar no meio deles al-<br />

<br />

ou mesmo matar, caso dessem mostras de querer<br />

retirar 33 . É importante salientar aqui que este procedimento<br />

revela que D. Nuno não tinha a certeza<br />

da prestação da sua peonagem, receando uma<br />

30 A ribeira do Carvalho. Após a batalha o povo começou a<br />

chamá-la das Águas Belas (Bessa, 1985: 19).<br />

31 Pode tratar-se de um indício de que D. Nuno tinha intenção,<br />

desde o início, de contrariar a cavalaria pesada inimiga com<br />

recurso aos piques. Não é provável que as lanças de madeira<br />

tosca ou estacas tivessem sido improvisadas no local, dado a<br />

vegetação típica, de oliveiras e azinheiras, não ser adequada.<br />

<br />

Nuno não prescindiu de uma reserva com grande mobilidade.<br />

33 Duarte, 2006: 83.<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

43


AZIMUTE<br />

44<br />

retirada. De modo diferente do que faria no ano<br />

seguinte, em Aljubarrota, D. Nuno optou por posicionar<br />

primeiro um “xadrez” de homens d’armas<br />

<br />

que idealizou, preenchendo depois os espaços<br />

com os peões. Há, por parte de alguns autores,<br />

principalmente as fontes mais antigas, a tendência<br />

drado<br />

perfeito (tal como foi ideia corrente quanto<br />

a Aljubarrota). Estamos em crer que esta hipótese<br />

seria desadequada tanto num caso como no outro,<br />

contravam<br />

bem protegidos por intermédio de linhas<br />

de água, o que permitiria à retaguarda uma reacção<br />

em tempo oportuno, em caso de envolvimen-<br />

to. Nos Atoleiros as linhas de água não são muito<br />

profundas ou recortadas, mas encontramo-nos em<br />

Abril, num terreno que alaga com facilidade. Nesta<br />

situação, os fracos declives favorecem o encharcamento<br />

e saturação dos solos.<br />

Antes do encontro, D. Nun´Álvares Pereira,<br />

montado numa mula, referiu aos seus homens que<br />

tivessem presentes quatro coisas: em primeiro lugar,<br />

que se encomendassem a Deus e à Virgem<br />

Maria; em segundo lugar, que era ali que se servia<br />

o seu senhor, D. João Mestre de Avis, e se alcançaria<br />

a honra dada por Deus; em terceiro lugar, que<br />

ali vinham para defender as suas famílias, as suas<br />

casas e as suas terras, de modo a libertarem-se da<br />

sujeição que el-rei de Castela lhes queria impor; e,<br />

<br />

hora mas sim um dia ou mais.<br />

Quando os castelhanos se aproximaram, Nun’<br />

Álvares Pereira desmontou, beijou o solo e posicionou-se<br />

na vanguarda, colocando um bacinete sem<br />

viseira, e tomando nas mãos uma comprida lança.<br />

Tinha assim cumprido a promessa de ser o primeiro<br />

a iniciar o combate.<br />

O exército castelhano era composto por cerca<br />

de 1000 cavaleiros e 4000 peões. Ao avistarem<br />

a diminuta hoste portuguesa, os castelhanos<br />

Nº 187 AGO09<br />

Dispositivo português aguardando o primeiro assalto castelhano.<br />

Foto: Google Earth.<br />

abandonaram a hipótese de combater a pé e optaram<br />

por decidir a batalha numa carga de cavalaria<br />

pesada. O terreno estava alagadiço, mas a desproporção<br />

era tal que mesmo uma infantaria bem<br />

agarrada ao solo não poderia resistir a 1000 lanças.<br />

Nenhuma das fontes consultadas refere que tenha<br />

havido tiro dos besteiros castelhanos, o que sugere<br />

que estes não se encontravam à distância de tiro<br />

(pelo menos 100 metros, para obter alguma pre-<br />

<br />

o posicionamento destes combatentes. Sabemos<br />

também que, como já foi dito, a opção do Mestre<br />

de Alcântara, após avistar a força portuguesa, foi a<br />

de efectuar um ataque frontal de cavalaria, embora<br />

inicialmente tivesse considerado combater a pé34 .<br />

Es Estes dois dados poderão contri-<br />

bu buir para a tese de que, no excesso<br />

<br />

ata atacou na frente da infantaria, sem<br />

es esperar que esta se posicionasse<br />

co convenientemente.<br />

Foi por volta do meio-dia que os<br />

ca castelhanos iniciaram o seu ataque,<br />

ca carregando com as compridas lan-<br />

ça ças em riste e gritando “Por Castela<br />

e por p Santiago!”. À aproximação do<br />

inim inimigo, os besteiros portugueses<br />

inic iniciaram a descarga de virotões<br />

em<br />

toda a frente. Há fontes que re-<br />

lat latam que a curta distância come-<br />

ça çaram os castelhanos igualmente<br />

a ser s atingidos por pedras atiradas<br />

pe pela peonagem. O terreno junto à<br />

linha de água, fazendo jus à designação<br />

de “atoleiros”, contribuiu decisivamente para<br />

atrasar e desorganizar a carga castelhana, provocando,<br />

inclusive, a queda de inúmeros cavaleiros.<br />

Depois começou a passar-se o que normalmente<br />

acontece, uma vez dada a ordem de carregar. Os<br />

cavaleiros da retaguarda já não têm hipótese de<br />

parar, pois são pressionados pelos que vêm atrás e<br />

acabam por se precipitar sobre homens e cavalos<br />

caídos e atolados à sua frente. Ainda assim muitos<br />

cavaleiros castelhanos chegaram ao contacto<br />

com as lanças cravadas no solo da vanguarda<br />

portuguesa.<br />

O primeiro assalto foi muito mal sucedido e provocou<br />

enorme confusão e fúria na hoste castelhana.<br />

Foi efectuado um segundo assalto, comandado<br />

pelo próprio Mestre de Alcântara. O resultado foi<br />

semelhante à primeira investida, com a agravante<br />

de que o solo à frente da posição portuguesa estava<br />

já pejado de cadáveres de homens e cavalos<br />

e de moribundos. Neste segundo ataque morreu o<br />

Mestre de Alcântara.<br />

Foram efectuados ainda um terceiro e quarto<br />

ataques, desta vez contra as alas. Crê-se que,<br />

34 Os castelhanos, que de início pensaram em atacar a pé,<br />

<br />

(Bessa, 1985: 21).


nestes assaltos, não tenha participado apenas o<br />

que restava da cavalaria castelhana, mas sim que<br />

tenham sido essencialmente combates de infantaria.<br />

No entanto, uma vez mais, o terreno difícil para<br />

hom<br />

atacante. A natureza do solo implicava que os movimentos<br />

fossem efectuados com muita lentidão, o<br />

que converteu os peões castelhanos em alvos fáceis<br />

para os besteiros portugueses.<br />

Calcula-se que a batalha tenha durado cerca<br />

de uma hora. Os castelhanos acabaram por retirar,<br />

tendo então sido perseguidos por diversos cavaleiros<br />

portugueses, montados já nos seus cavalos.<br />

Esta perseguição, na qual participou também<br />

Nun’Álvares Pereira, durou até ao cair da noite, e<br />

desenvolveu-se por uma área de aproximadamente<br />

uma légua a partir do campo de batalha, sobretudo<br />

nas direcções de Monforte e do Crato.<br />

Este combate não originou também grande<br />

número de mortes, e as que ocorreram advieram<br />

sobretudo dos dois choques frontais entre as duas<br />

vanguardas. Do lado castelhano são referidas algumas<br />

dezenas 35 , setenta e sete homens de armas,<br />

de acordo com o Coronel Carlos Gomes Bessa36.<br />

A tradição oral refere um valor da ordem das centenas.<br />

No entanto, nem Fernão Lopes, nem o autor<br />

anónimo da Crónica do Condestável adiantam um<br />

número, referindo apenas que do lado castelhano<br />

morreram muitos 37 , entre os quais alguns destacados.<br />

Sabe-se que um dos irmãos de D. Nuno,<br />

<br />

aceite, mas não crível, que do lado português não<br />

tenha havido baixas. No entanto, a existirem, terão<br />

sido mínimas.<br />

No dia seguinte à batalha, D. Nuno Álvares<br />

Pereira dirigiu-se a Assumar, descalço e a pé, em<br />

agradecimento pelo resultado do combate e para<br />

fazer oração a Santa Maria desta vila.<br />

A Batalha dos Atoleiros representa um marco<br />

histórico da maior relevância, não só no contexto<br />

da Crise de 1383-85, mas na vida de Portugal.<br />

“Teve, a múltiplos títulos, um carácter precursor<br />

para o destino nacional” 38 :<br />

Do ponto de vista político, Atoleiros foi o primeiro<br />

sinal claro da determinação de defender<br />

Portugal e de que o partido do Mestre de Avis<br />

não se tratava se um conjunto de revoltosos<br />

desorganizados, mas sim uma força com identidade<br />

nacional;<br />

Do ponto de vista psicológico, provou aos portugueses<br />

que os castelhanos não eram invencíveis<br />

e contribuiu para reforçar a ideia de que<br />

35 Duarte, 2005: 85.<br />

36 Bessa, 1985: 22.<br />

37 Crónica do Condestável: 58.<br />

38 Bessa, 1985: 27.<br />

a legitimidade e a justiça estavam do lado do<br />

Mestre de Avis;<br />

Do ponto de vista militar, foi a primeira experiência<br />

portuguesa do que já vinha acontecendo<br />

nos campos de batalha da Europa. A infantaria,<br />

armada de piques, em formação cerrada e<br />

com um aproveitamento adequado do terreno,<br />

conseguia ser um adversário à altura da cavalaria<br />

pesada;<br />

<br />

acção de comando saiu extremamente reforçada,<br />

conseguindo quebrar as opiniões mais<br />

cépticas de que se tratava de um jovem inconsciente<br />

e um pouco “alucinado”, reforçando<br />

a sua imagem como comandante militar de<br />

<strong>Azimute</strong><br />

ciência e valor.<br />

<br />

O CAP Inf Carlos Filipe Nunes Lobão Dias<br />

Afonso é Licenciado em Ciências Militares pela<br />

Academia Militar.<br />

Prestou serviço, entre outras unidades,<br />

no 2BIMec, como Comandante de Pelotão<br />

<br />

Informações e na Academia militar como<br />

Adjunto da 1ª Companhia de Alunos, tendo mi-<br />

<br />

do <strong>Exército</strong>.<br />

Possui textos publicados na revista<br />

Atoleiros, da Brigada Mecanizada e na revista<br />

<strong>Azimute</strong>, da Escola Prática de Infantaria.<br />

Efectuou diversas comunicações em unidades<br />

militares no âmbito da História Militar.<br />

<br />

BESSA, Carlos Gomes (1985). Batalha dos Atoleiros. Seu carácter<br />

precursor em Portugal. In Aljubarrota 600 anos, Ciclo de conferências<br />

da Sociedade Histórica da Independência de Portugal. Lisboa, Fundação<br />

Calouste Gulbenkian<br />

Crónica de D. Nun’Álvares Pereira. Actualização, introdução e notas<br />

de Teresa Lacerda (2007). Porto, Fronteira do Caos.<br />

DUARTE, Luís Miguel. 2006. Guerra pela Independência. Batalhas<br />

da História de Portugal, Vol. 4. Coord. Prof.ª Doutora Manuela Mendonça.<br />

Lisboa, Quid Novi.<br />

GOMES, Rita Costa. 2009. D. Fernando. Reis de Portugal. Mem<br />

Martins, Temas e Debates.<br />

LOPES, Fernão, 1ª Parte da Crónica de el-Rei D. João I, o de Boa<br />

Memória.<br />

MARTINS, A. de Oliveira. 1968. A vida de Nun’Álvares. Lisboa,<br />

Guimarães Editores.<br />

MARTINS, Armando. 2006. Guerras Fernandinas, 1369-1371, 1372-<br />

1373, 1381-1382. Batalhas da História de Portugal, Vol. 3. Coord. Prof.ª<br />

Doutora Manuela Mendonça. Lisboa, Quid Novi.<br />

MARTINS, Miguel Gomes. (?). Nuno Álvares e a Arte da Guerra.<br />

Inserido no colóquio D. Nuno Álvares Pereira, o Homem e a Memória.<br />

Disponível na internet em http://www.icea.pt/Conferencias/Conferencia1/<br />

Conf01_03.pdf [referência de 19 de Junho de 2009]<br />

MONTEIRO, João Gouveia. 2003. Aljubarrota, 1385. A Batalha Real.<br />

Lisboa, Tribuna da História.<br />

RAGAGELES, Paula Cristina Branco e. 2004. A Batalha de Atoleiros.<br />

Separata da <strong>Revista</strong> “Atoleiros” da BMI.<br />

RODRIGUES, António dos Reis. 1985. Nun’Álvares, Condestável e<br />

Santo. Lisboa, Direcção do Serviço Histórico-Militar.<br />

TAVARES, Jorge Campos. 1985. Aljubarrota. Porto: Lello & Irmão.<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

45


AZIMUTE<br />

46<br />

Nº 187 AGO09<br />

A Invasão Castelhana e a Batalha de Aljubarrota<br />

“A batalha mais brilhante,<br />

mais decisiva nos seus resultados<br />

e aquela que maior eco<br />

teve em Portugal e no mundo” 1<br />

A batalha que iremos de seguida<br />

abordar é uma natural evolução<br />

das batalhas ocorridas nos<br />

anos anteriores na Europa, com<br />

a vantagem adicional de esta ter<br />

sido genialmente conduzida por<br />

D. Nuno Álvares Pereira.<br />

Para não sermos demasiado<br />

exaustivos referiremos em síntese<br />

algumas das inovações mais<br />

importantes nessas batalhas e<br />

que pudemos testemunhar o seu<br />

uso posterior em Aljubarrota 2 :<br />

Courtrai (11/7/1302)<br />

que opôs Flamengos a<br />

menga<br />

deveu-se, entre outros factores, ao inteligente<br />

uso do terreno com as fossas, muitas<br />

delas cheias de água, tirando partido do rio<br />

que isolava e limitava o campo de batalha e os<br />

cavaleiros apeados a combater;<br />

Bannockburn (24/6/1314) entre Escoceses e<br />

Ingleses - Além do uso das linhas de água,<br />

foi alargado o aproveitamento do terreno com<br />

abatizes e covas de lobo (com estacas) além<br />

de um dispositivo de forças inovador organizado<br />

em quatro conjuntos com a cavalaria a<br />

combater apeada com uso de longas lanças<br />

que sem dúvida foram um dos factores da vitória<br />

dos escoceses de Robert Bruce sobre<br />

Eduardo II;<br />

Morgarten (15/11/1315) entre Suíços e<br />

Austríacos – mais do que uma batalha esta foi<br />

uma “emboscada” em que foi visível o esforço<br />

na pesquisa de informações, nos reconhecimentos<br />

ao terreno com o uso de batedores<br />

e que permitiu escolher o melhor local para o<br />

combate, além do aparecimento de um novo<br />

<br />

denominados “quadrados suíços” e ainda uma<br />

arma nova: a alabarda;<br />

Dupplin Moor (11/9/1332) entre Escoceses e<br />

Ingleses – destaca-se o posicionamento dos<br />

1 THEMUDO BARATA: 23<br />

2 MONTEIRO, 37 e seguintes<br />

TCor Inf Lemos Pires<br />

arqueiros equipados com “Long-Bow” “Long-Bow”, com<br />

uma cadência de tiro muito mais elevada do<br />

que as tradicionais bestas, colocados nas alas<br />

da batalha, o que veio desta vez levar à vitória<br />

dos ingleses.<br />

Crecy (26/8/1346) entre Ingleses e Franceses<br />

– uma das mais famosas batalhas da Guerra<br />

dos Cem Anos – foi notório o despique e a<br />

diferença de capacidades entre arqueiros e<br />

besteiros, ganhando os primeiros em ritmo de<br />

fogo. De destacar também o uso de “muralhas”<br />

fortalezas” feitas com<br />

as carroças;<br />

Poitiers (19/9/1356) entre Ingleses e Franceses<br />

– outra das mais famosas da Guerra dos cem<br />

anos – em que foi possível utilizar de forma inteligente<br />

não só a cavalaria inglesa com explorar<br />

a mobilidade dos próprios arqueiros;<br />

Nájera (2/4/1367) entre D. Pedro I com<br />

Ingleses contra Henrique Transtâmera com o<br />

apoio Francês - de notar a oportunidade como<br />

se explorou as fraquezas do adversário e de<br />

novo o uso inteligente dos arqueiros.<br />

Interessa ainda ressalvar três aspectos muito<br />

importantes da forma de combater e da organiza-<br />

<br />

no decorrer da Batalha de Aljubarrota:<br />

Portugal, desde os tempos de Viriato, sabendo-se<br />

das reais capacidades em meios humanos<br />

e materiais que possuía sempre privilegiou<br />

combater usando a táctica da guerrilha


“guerra guerreada” – ou seja, os soldados e os<br />

comandantes portugueses estavam por isso<br />

habituados ao uso de tácticas mais ligeiras,<br />

com grande iniciativa, bom aproveitamento do<br />

terreno, rapidez de actuação e uso inteligente<br />

dos meios materiais à disposição (foi assim e<br />

assim permaneceria quase sempre ao longo<br />

da nossa história);<br />

Nuno Álvares Pereira, herdeiro desta forma de<br />

combater era um verdadeiro adepto da mesma:<br />

executava deslocamentos longos, fazia<br />

todo o seu planeamento em segredo, utilizava<br />

judiciosamente um excelente serviço de espionagem<br />

e tinha uma elevadíssima preocupação<br />

com a segurança dos acantonamentos;<br />

A mobilização para guerra assentou numa<br />

base nacional e não regional: o <strong>Exército</strong>, mesmo<br />

havendo partidários de ambos os lados,<br />

era um <strong>Exército</strong> do Rei e não a soma de pequenos<br />

exércitos feudais que deviam a sua<br />

lealdade ao seu Senhor feudal, esta aparente<br />

pequena diferença permitiu sempre ao comandante<br />

nacional organizar, dispor e combater<br />

como um todo no uso das suas forças o que<br />

somado ao inequívoco apoio das populações,<br />

<br />

vantagem táctica (lembremo-nos que as tropas<br />

invasores precisavam do apoio da população<br />

para sobreviverem e esse apoio praticamente<br />

não existia).<br />

Mas vamos directos ao ano de 1385 e à Batalha<br />

de Aljubarrota:<br />

D. Juan I de Castela concentrara-se com a<br />

sua hoste em Ciudad Rodrigo e, após descartar a<br />

possibilidade de optar por um outro tipo de guerra<br />

(devastações fronteiriças, nomeadamente), entra<br />

em Portugal por Almeida, na segunda semana de<br />

Julho de 1385 3 . Toma o itinerário das beiras em<br />

direcção a Lisboa 4 (Pinhel, Trancoso, Celorico,<br />

Fornos, Mangualde, Mortágua, Mealhada, Coimbra<br />

e Soure). O exército português, comandado pelo<br />

rei D. João I, após ter assegurado que os castelhanos<br />

não cercariam Elvas, passa para a margem<br />

norte do Tejo, vindo a estabelecer-se em Abrantes<br />

<br />

no Alentejo, em recrutamento, e viria a juntar-selhe<br />

em Abrantes, a 3 de Agosto.<br />

Desde Junho desse ano que a frota castelhana<br />

voltara a ocupar o estuário do Tejo e D. Juan I<br />

avança sobre a capital, para lhe levar novo cerco,<br />

acreditando que, desta vez e depois da malograda<br />

tentativa do ano passado, seria muito difícil a<br />

resistência portuguesa. Em Abrantes reúne-se um<br />

<br />

João a optar pelas preferidas “acções de guerra<br />

<br />

3 MONTEIRO, 80. e também BESSA: 44<br />

4 “ganhada Lisboa, todo Portugal era cobrado” citado em<br />

BESSA:36<br />

comunicações na retaguarda castelhanas e forçar<br />

assim o monarca castelhano a movimentar as suas<br />

forças nessa direcção “melhor seria entrar pela<br />

rer<br />

ali, desviando-o de Lisboa” 5 .<br />

D. Nun’Álvares Pereira tem opinião contrária. Já<br />

não estamos em momento para guerrilhas. É fundamental<br />

travar uma batalha decisiva. Uma vitória<br />

<br />

fronteira, D. João I como rei de Portugal. Pelo contrário,<br />

mover uma guerra de “guerrilha” neste momento<br />

da campanha daria azo a que D. João e a<br />

sua causa fossem considerados como meros rebeldes,<br />

num reino que aparentava pertencer à coroa<br />

de Castela. Perante a hesitação do rei, D. Nuno<br />

parte de Abrantes com a sua parte da hoste em<br />

direcção a Tomar, obrigando D. João a rever a sua<br />

opção e a sua estratégia.<br />

Na ideia de D. Nuno é importante travar essa<br />

batalha num local em que os castelhanos já estivessem<br />

bem internados em território de Portugal,<br />

<br />

uma derrota permitisse algum tempo de reorganização.<br />

A 8 de Agosto todo o exército português está<br />

em Tomar. D. Nuno terá, nesta altura, enviado um<br />

<br />

batalha. Este regressa no dia 10 com notícias alarmantes:<br />

a hoste castelhana é constituída por mais<br />

de 7000 lanças e 2000 ginetes, além de um número<br />

incontável de besteiros e homens a pé. Consigo,<br />

<br />

muitos senhores portugueses que a ele se aliaram.<br />

D. Nuno opta então por esconder os verdadeiros<br />

valores às suas tropas, fazendo transmitir que<br />

os castelhanos eram poucos e mal equipados. Era<br />

não só importante executar uma boa estratégia de<br />

contra-informação ção como prover para que a mo- mo-<br />

ral se mantivesseelevada<br />

entre os<br />

portugueses.<br />

A hoste portuguesacontaria<br />

entre 5000<br />

a 10000 combatentes,dependendo<br />

dos<br />

autores. É certo<br />

que a hoste<br />

castelhana a<br />

sobrepassava<br />

bastante em<br />

número, provavelmenteacima<br />

dos 20000.<br />

A 11 de Agosto<br />

os portugue-<br />

TCor Inf Lemos Pires<br />

ses avançam para Ourém e a 12 os castelhanos<br />

5 BESSA: 46<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

47


AZIMUTE<br />

48<br />

para Leiria. Informado dos movimentos do inimigo,<br />

D. Nuno avança para Porto de Mós, onde estaciona<br />

na noite de Sábado, dia 12 6 .<br />

O local exacto da batalha foi criteriosamente seleccionado.<br />

Ambos, D. João e D. Nuno, terão ponderado<br />

as vantagens daquela área, bem próxima<br />

do couto e mosteiro de Alcobaça, onde o abade<br />

D. João de Ornelas, com bastante rapidez, poderia<br />

conseguir recrutar mais homens para a hoste<br />

e, ao mesmo tempo, fornecer mantimentos. Além<br />

disso, D. Nuno, acompanhado por 100 cavaleiros,<br />

aproveita o domingo dia 13 de Agosto, para um reconhecimento<br />

detalhado a todo o terreno que ia de<br />

Porto de Mós às imediações de Leiria. O facto de levar<br />

uma tão grande força para um reconhecimento<br />

deve-se, provavelmente, a dois aspectos: primeiro,<br />

à necessidade de segurança, dada a proximidade<br />

do inimigo e, segundo, tudo leva a crer que D. Nuno<br />

terá gizado o plano de operações para o dia seguinte<br />

na companhia dos seus lugar-tenentes, ou<br />

seja os seus subordinados directos. Ele quis que<br />

eles vissem o terreno e ajudassem nas decisões<br />

operacionais.<br />

Ainda antes do alvorecer do dia 14 de Agosto<br />

de 1385 (nesse dia o raiar da aurora deu-se à 3h37<br />

e foi dia claro às 4h48 7 ), a hoste portuguesa levantou<br />

o arraial de Porto de Mós e percorreu os 7 a<br />

8 km que a separavam do planalto de S. Jorge,<br />

onde se veio a colocar, voltada a norte, num cabeço<br />

que hoje é sobranceiro à povoação da Batalha<br />

(que na altura era somente um lugarejo chamado<br />

Jardoeira). A enorme coluna castelhana, que se<br />

calcula ter mais de 15 km, vinda de Leiria, atinge a<br />

baixa da Jardoeira a meio da manhã. A vanguarda<br />

pôde observar desse local a hoste portuguesa no<br />

<br />

duas linhas de água profundas.<br />

Em boa linguagem militar vamos descrever o<br />

dispositivo, a composição e articulação das forças 8 :<br />

“uma formação de quadrado a duas azes (batalhas)<br />

com uma Vanguarda <br />

Álvares Pereira) próprio comandava, a seiscentas<br />

lanças; uma Ala direita de duzentas lanças de<br />

cavaleiros cujo comando seria atribuído a Mem<br />

Rodrigues e coadjuvado por seu irmão Rui Mendes;<br />

uma Ala esquerda de duzentos homens de armas<br />

que Antão Vasques comandaria; e, recuada, uma<br />

Retaguarda, com el-rei, de setecentas lanças,<br />

montadas tanto quanto possível para maior mobilidade,<br />

como Reserva, pronta para contra-atacar ou<br />

reforçar a Vanguarda, a Ala esquerda e a Ala direita<br />

por esta ordem; os arqueiros ingleses atribuídos<br />

à Ala esquerda; os besteiros guarneciam todas as<br />

faces do dispositivo, com prioridade para as Alas<br />

6 MONTEIRO, p. 82<br />

7 OLIVEIRA, Frederico Alcide de, Aljubarrota Dissecada,<br />

Direcção do Serviço Histórico-Militar, Lisboa 1988<br />

8 RODRIGUES: 90<br />

Nº 187 AGO09<br />

e, juntamente com os peões montariam guarda à<br />

carriagem, esta colocada por trás da Reserva, com<br />

excepção de um reduzido trem de apoio ao combate<br />

dos arqueiros e besteiros que se situaria dentro<br />

do quadrado”<br />

Perante esta forte posição portuguesa a opção<br />

castelhana foi a de envolver por oeste, passando<br />

pela povoação da Calvaria, num longo movimento<br />

que demoraria toda a tarde, acabando a vanguarda<br />

castelhana por se posicionar no Chão da Feira,<br />

exactamente 5 km à retaguarda da posição inicial<br />

portuguesa, entre as 16 e as 17 horas.<br />

D. Nuno acompanha o movimento torneante<br />

castelhano e faz mover o seu dispositivo cerca de<br />

2 km mais para sul, invertendo-o. Encontrava-se,<br />

agora, ainda no planalto de S. Jorge, entre as duas<br />

linhas de água (embora menos acentuadas, pois<br />

estava mais próximo das nascentes 9 ), mas tem<br />

tempo de organizar o terreno e reajusta, proporcionalmente,<br />

o dispositivo escolhido:<br />

“Quanto à composição e articulação das forças,<br />

pensara não serem necessárias grandes altera-<br />

<br />

reforçar a Frente à custa da Reserva, aí com umas<br />

oitenta a cem lanças, porque o terreno era mais<br />

fraco e mais extensa a frente a cobrir mas, face<br />

à possibilidade do inimigo empregar em qualquer<br />

direcção, mesmo pela retaguarda, a sua cavalaria<br />

ligeira sob o comando do Mestre de Alcântara (…)<br />

optara por manter a Reserva forte (…) esta última<br />

posição permitia-lhe também, criar um saco (uma<br />

bolsa), uma zona de morte onde nos derradeiros<br />

momentos antes do contacto, o inimigo aí entrado,<br />

seria sujeito a um potencial de tiro das armas de<br />

arremesso que queria devastador” 10<br />

Manda colocar abatises, abrir fossos e covas de<br />

lobo a sul desta nova posição, numa frente que não<br />

seria superior a 300 metros.<br />

Uma das questões que sempre se tem colocado<br />

aos vários investigadores da Batalha, após observação<br />

do campo de batalha e das escavações arqueológicas<br />

que revelaram até agora pelo menos<br />

830 covas de lobo e fossos, um deles com 182 m<br />

de comprimento e uma profundidade dos 40 aos 70<br />

cm, é: de quanto tempo dispuseram os portugueses<br />

para os escavar? Estima-se que num tempo<br />

de três horas e empenhando cerca de metade do<br />

efectivo, tornariam possível a acção, mas não é de<br />

descartar totalmente a possibilidade de D. Nuno ter<br />

começado a organização do terreno mais cedo. Na<br />

verdade há vários factores que levam a crer que<br />

ele já sabia, desde o início, que o combate se iria<br />

9 A oeste, o ribeiro de Vale de Madeiros (que corre para a<br />

Azenha da Amieira) e, a leste, o do Carqueijal ou de Vale da<br />

<br />

ao Lena). MONTEIRO, p. 87.<br />

10 RODRIGUES: 91


travar de sul para norte e não de norte para sul.<br />

Aliás, uma das razões pelas quais os castelhanos<br />

deram batalha foi o facto de estarem convencidos<br />

de que, envolvendo a hoste portuguesa, se encontrariam<br />

numa posição de vantagem. É crível que D.<br />

Nuno tivesse imaginado a manobra dessa forma e<br />

com o apoio das populações envolventes tivesse o<br />

terreno preparado antes da mudança de posição.<br />

(Nota: Usámos para esta recolha de informação<br />

mos<br />

de destacar que os autores referidos recorreram,<br />

para além das usuais crónicas de Fernão<br />

Lopes, Pedro Lopes de Ayala e a do Condestabre,<br />

a importantíssimas fontes coevas como as “entrevistas”<br />

recolhidas pelo cronista francês Froissart a<br />

Jean de Rye – camareiro do rei de França e veterano<br />

das batalhas de Crecy e Poitiers - ou ao cavaleiro<br />

gascão Espan du Lion – do condado de Foix, no<br />

sul de França que tinha combatido em Aljubarrota –<br />

ou ao relato de João Fernandes Pacheco – um dos<br />

heróis da Batalha de Trancoso e que também esteve<br />

em Aljubarrota - são por isso testemunhos importantíssimos<br />

que nos ajudam a compreender melhor<br />

a Batalha o que cruzado com a célebre carta<br />

de D. Juan I de Castela à cidade de Múrcia poucos<br />

dias após a Batalha Real nos ajudam a perceber<br />

melhor o que se passou a 14 de Agosto de 1385).<br />

“A batalha, mais do que entre os exércitos em<br />

presença, punha frente a frente os dois Reinos. Por<br />

isso, nela participaram ambos os Reis, e muitos lhe<br />

chamaram BATALHA REAL” 11<br />

Pelas 17h00, a vanguarda castelhana, constituída<br />

essencialmente por um a dois milhares de<br />

cavaleiros franceses, carrega sobre a posição portuguesa.<br />

A enorme frente montada é muito mais<br />

larga do que a frente portuguesa, mas, à medida<br />

que a carga progredia, os cavaleiros, condicionados<br />

pelos abatises, pelas linhas de água e pela<br />

natural procura de estabelecer o contacto com um<br />

inimigo em frente mais estreita, vão afunilando. À<br />

semelhança dos Atoleiros, as armas de projecção<br />

(os besteiros portugueses reforçados por cerca de<br />

300 arqueiros mercenários ingleses) fazem tiro sobre<br />

a massa de cavalaria que se precipita contra<br />

eles. Em simultâneo, cavalos e cavaleiros abatidos<br />

obrigam os seguintes a desviar-se e a cair com<br />

mais facilidade nas covas de lobo e fossos (que<br />

dos<br />

com vegetação). Para aquela massa confusa<br />

de homens e cavalos é impossível recuar. Muitos<br />

perecem por esmagamento pelos próprios camaradas<br />

que os seguiam, como comprovam inúmeras<br />

ossadas extraídas do local 12 . Os poucos cavaleiros<br />

11 BESSA: 58<br />

12 Há um grande número de ossadas encontradas com sinais<br />

de esmagamento e não de cortes ou fracturas provocados<br />

por lâminas de armas de corte. Além disso há ainda dois<br />

aspectos que merecem a atenção: a existência de bastantes<br />

franceses que sobrevivem são capturados e enviados<br />

para a zona da carriagem portuguesa, onde<br />

<br />

Talvez cerca de uma hora mais tarde entra em<br />

posição a “batalha real castelhana” 13 . Mais uma vez<br />

a frente castelhana sobrepassa enormemente a estreita<br />

frente portuguesa. O avanço inicia-se montado,<br />

mas mais uma vez as abatises e a própria<br />

<br />

perar<br />

que o centro “encaixe” no corredor de 300<br />

metros de largura que conduz à frente portuguesa.<br />

<br />

covas de lobo pejados de cadáveres e moribundos.<br />

Os arqueiros ingleses e os besteiros portugueses<br />

disparam chuvas contínuas de setas e virotões. Os<br />

cavaleiros têm de apear. Mesmo assim chegam ao<br />

contacto e tem início um feroz corpo a corpo, com<br />

inúmeras baixas em ambos os lados.<br />

Segundo Fernão Lopes, nesta fase, a frente<br />

portuguesa acabaria por ceder, mas as alas, mais<br />

libertas, dobram-se naturalmente para o interior,<br />

criando uma bolsa e continuam a disparar projécteis.<br />

D. João I viu necessidade de reforçar a frente<br />

com elementos da retaguarda. Mandou matar os<br />

prisioneiros franceses, provavelmente para desempenhar<br />

o pessoal que lhes fazia guarda e, ao<br />

<br />

da guerra pudessem aproveitar o empenhamento<br />

da frente para eles próprios tentarem algo sobre os<br />

peões e criados que permaneciam nos trens.<br />

<br />

O Rei contra-atacou decididamente (…) um cavaleiro<br />

castelhano enfrentou o Rei, que alçou a facha<br />

para o abater. Ele, porém, parou o golpe, desarmou<br />

<br />

com a sua facha. O Rei, refazendo-se, aparou-o,<br />

por sua vez, e desarmou o adversário. Quando ia<br />

abatê-lo, já era tarde. Alguém se lhe tinha antecipado<br />

e o cavaleiro castelhano jazia morto. (...) este<br />

episódio tendo-o como um dos momentos cruciais<br />

da batalha. Se a sorte do Rei lhe houvesse sido<br />

adversa, outro seria certamente o desfecho do<br />

combate (…) e um novo acontecimento crucial - a<br />

bandeira de Castela caiu derrubada.” 14<br />

Os castelhanos acabariam por ceder e começam<br />

uma retirada desorganizada e tomada de pânico.<br />

<br />

casos de lesões nos ossos frontal e occipital do crânio (que<br />

indiciam agressões direccionadas e provavelmente desferidas<br />

por trás ou quando o indivíduo se encontrava caído no chão)<br />

e a frequência de fracturas remodeladas (ossos fracturados<br />

que foram curados), que indiciam a presença de veteranos<br />

de guerra, com ferimentos de outras batalhas aos quais<br />

sobreviveram.<br />

13 O corpo onde vinha o rei.<br />

14 BESSA: 60-61, na opinião do Coronel Américo Henriques<br />

o combate do Rei com o Castelhano Álvaro Gonçalves de<br />

Sandoval deu-se mais tarde na Batalha, provavelmente durante<br />

a perseguição aos castelhanos<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

49


AZIMUTE<br />

50<br />

(por Oeste era quase impossível devido ao declive<br />

do terreno) e ataque à retaguarda portuguesa por<br />

parque do Mestre de Alcântara e algumas centenas<br />

de ginetes. O ataque começa por ser rechaçado por<br />

alguns besteiros e pessoal que se encontra com os<br />

trens, dado que os castelhanos se encontram a tentar<br />

atravessar o ribeiro do Carqueijal (e os silvados<br />

que o ladeavam). D. Nuno e alguns dos seus montam<br />

nos poucos cavalos que se encontram disponíveis<br />

e acorrem à retaguarda, mas já o Mestre de<br />

Alcântara retira pelo mesmo caminho.<br />

A perseguição, desferida de imediato pela hoste<br />

portuguesa, é terrível, completada ainda pela<br />

acção dos populares. No entanto D. Nuno acabou<br />

por limitá-la, mandando regressar a S. Jorge, dado<br />

que tinha consciência que o exército castelhano<br />

era muito numeroso e podia reagrupar para voltar<br />

a combater. Na realidade, isto não aconteceu. Só<br />

na madrugada seguinte, com o levantar do dia, é<br />

que D. João I tem verdadeira consciência da retumbante<br />

vitória. O exército português e os populares<br />

do couto de Alcobaça tinham morto cerca de 6000<br />

castelhanos e franceses. As baixas do lado portu-<br />

<br />

no terreno os tradicionais 3 dias que simbolizam a<br />

vitória campal. No dia 17 de Agosto retira a hoste<br />

portuguesa sobre Alcobaça e “à passagem pela<br />

<br />

e Nun’Álvares encontraram mortos muitos dos castelhanos<br />

que tinham logrado escapar na noite da<br />

batalha” 15 . Mais uma vez se comprova o forte apoio<br />

local que se produziu nos terrenos envolventes a<br />

S. Jorge, em especial, pelo já referido Abade de<br />

Alcobaça, D. João de Ornelas<br />

Em síntese foram estas as principais causas da<br />

vitória 16 :<br />

A ousadia de ir ao encontro de uma hoste muito<br />

mais numerosa;<br />

A escolha judiciosa do terreno;<br />

O alongamento da coluna castelhana;<br />

A precipitação do ataque castelhano – os castelhanos<br />

sabiam o risco de, se seguissem em<br />

da<br />

com forças experientes na “guerra guerreada”<br />

e poderem ainda encontrar uma Lisboa<br />

bem defendida;<br />

A rapidez da inversão do dispositivo português;<br />

A articulação entre vanguarda, retaguarda e as<br />

alas;<br />

O impedimento da tentativa de envolvimento<br />

castelhano;<br />

Superioridade do comando e disciplina<br />

portuguesa<br />

Na sequência do êxito de Aljubarrota, D. João<br />

I ocupa Santarém, Leiria, Óbidos, Alenquer, Torres<br />

Vedras, Sintra, Crato, Monforte, Vila Viçosa, Marvão<br />

e outros lugares. Ainda no mesmo ano D. Nuno entra<br />

em Castela, para, mais uma vez, sair vitorioso<br />

15 MONTEIRO: 115<br />

16 BESSA: 72-73<br />

Nº 187 AGO09<br />

no recontro de Valverde, numa acção propositada<br />

para manter a pressão militar. O monarca castelhano,<br />

com um exército desfeito e dois grandes revezes<br />

na memória, nunca mais teve condições de<br />

discutir a sucessão de D. Fernando.<br />

<br />

na vida dos portuguesas, a batalha por excelência.<br />

Portugal, que se estava gerando como Pátria, desde<br />

os tempos de Afonso Henriques, vira chegada a<br />

sua hora de surgir como Nação. Tinha condições e<br />

gente. Teve chefe – e a história cumpriu-se” 17 <strong>Azimute</strong><br />

<br />

O TCor Inf Nuno Correia Barrento de Lemos<br />

Pires é Licenciado em Ciências Militares pela<br />

Academia Militar, em Gestão de Recursos<br />

Humanos pela Universidade Lusófona e possui<br />

uma Pós-graduação em História Militar<br />

pela Universidade Lusíada.<br />

Prestou serviço, entre outras unidades na<br />

Escola Prática de Infantaria, como instrutor<br />

dos principais cursos da Escola, no Instituto de<br />

Altos Estudos Militares, leccionando a cadeira<br />

de História Militar, no Corpo de Intervenção<br />

Rápida da NATO em Valência/Espanha<br />

(NRDC – Spain) na área de informações e<br />

desde Novembro de 2007 como Comandante<br />

do 2º Batalhão de Infantaria Mecanizado da<br />

Brigada Mecanizada em Santa Margarida.<br />

Com várias obras publicadas, colaborou<br />

em diversos livros e projectos em Portugal e<br />

Espanha, especialmente no âmbito da história<br />

militar, tendo igualmente publicado dezenas<br />

de artigos em diversas revistas e jornais, e<br />

conduzido diversas conferências em Portugal,<br />

Espanha e Alemanha.<br />

É sócio efectivo da <strong>Revista</strong> Militar, colaborador<br />

e revisor para assuntos militares do<br />

Círculo de Leitores, membro do Conselho<br />

<br />

Militar, membro do Foro para el Estudio de la<br />

Historia Militar de España.<br />

<br />

BESSA, Carlos Gomes, e BARATA, Themudo, Conferência<br />

na Sociedade Histórica da Independência de Portugal, 23 de<br />

Maio de 1985, no Ciclo Comemorativo da Batalha de Aljubarrota.<br />

MARTINS, A. de Oliveira, A vida de Nun’Álvares, Guimarães<br />

Editores, Lisboa, 1968.<br />

MONTEIRO, João Gouveia, Aljubarrota, 1385. A Batalha<br />

Real, Lisboa, Tribuna da História, 2003.<br />

OLIVEIRA, Frederico Alcide de, Aljubarrota Dissecada,<br />

Direcção do Serviço Histórico-Militar, Lisboa 1988.<br />

RODRIGUES, H.S. Castro, Aljubarrota ou a Fava de Terena,<br />

Moinho Velho, Lisboa, 2002<br />

17 RODRIGUES: 10


No período de 23 a 24 de Junho de 2009,<br />

como é tradição, realizou-se mais uma edição das<br />

Patrulhas D. Nun’ Álvares Pereira. A edição des-<br />

te ano, repartida<br />

por po dois dias,<br />

contou co com a<br />

presença pre<br />

de<br />

doze do Patrulhas.<br />

Com Co uma nova<br />

dinâmica din mas<br />

que qu mantém inalterável<br />

ter o concei-<br />

to subjacente a<br />

este evento, evento os dois dias de prova permitiram per desenvolver<br />

o espírito de corpo no seio das Patrulhas e,<br />

também, desenvolver a responsabilidade individual<br />

em função dos objectivos do grupo. Antecedendo<br />

o primeiro dia e depois da cerimónia de recepção,<br />

os participantes e elementos da organização<br />

tiveram o privilégio o de assistir a uma palestra do<br />

Sr. Coronel de e<br />

Infantaria Américo o<br />

Henriques so-<br />

bre o patrono da a<br />

Infantaria e inspi-<br />

rador do evento, ,<br />

D. Nuno Álvares s<br />

Pereira. No primei-<br />

ro dia, no interior r<br />

da Tapada Militar, ,<br />

as Patrulhas reali-<br />

zaram uma prova em estafeta que englobou a realização<br />

de uma Marcha/Corrida, Tiro com Espingarda<br />

Automática, Tiro com Pistola, e a realização de<br />

uma Pista de Combate no Complexo de Formação<br />

gundogun<br />

dia, enquadrados<br />

dra por algu-<br />

<br />

da segunda linha<br />

de redutos defensivos<br />

sivo das Linhas<br />

de Torres Vedras,<br />

realizou-se rea uma<br />

<br />

As Patrulhas Nun’ ÁÁlvares<br />

Pereira<br />

Edição 2009<br />

TCor Inf Mário Álvares<br />

ao longo da qual, a partir de um trabalho colectivo,<br />

<br />

de técnicas e procedimentos expeditos de orientação<br />

e de avaliação de distâncias. Nesta edição saiu<br />

vencedora a Patrulha da Unidade de Intervenção<br />

<br />

a EPI e o CTOE, respectivamente.<br />

Em termos das restantes<br />

equipas participantes<br />

ram<br />

os seguintes:<br />

O tempo relativo à prestação<br />

da ETP traduz a impossibilidade<br />

de realização<br />

das provas do primeiro dia,<br />

em função das restrições<br />

de segurança impostas pela<br />

organização. Não obstante,<br />

<strong>Azimute</strong><br />

louve-se a sua participação!<br />

<br />

<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

51


AZIMUTE<br />

52<br />

Nº 187 AGO09<br />

O Portal da Arma de Infantaria<br />

As novas tecnologias de informação com as suas páginas<br />

na Internet abriram espaço a uma nova dinâmica<br />

para a partilha do conhecimento.<br />

Esta vertente, marcante no nosso quotidiano e ao alcance<br />

de um “click” num teclado, vem-se revestindo de<br />

<br />

esta revolução digital mudou os nossos conceitos de espaço,<br />

de tempo, e de massa. Uma organização já não<br />

precisa de ocupar muito espaço, pode mesmo ser virtual,<br />

estar aqui ou em outro qualquer lugar. Pode receber e<br />

enviar mensagens simultaneamente. E objectos como li-<br />

<br />

em forma de “bits” sem necessitarem de embalagens ou<br />

portes de correio.<br />

Estes novos<br />

recursos rec tecnológicos<br />

lóg trazem a<br />

possibilidade pos<br />

de<br />

efectuar efe actividades<br />

dad de âmbito<br />

global, glo oferecen-<br />

do níveis de interactividade<br />

rac nun-<br />

ca antes vistos.<br />

Depois, é dentro deste contexto que surge sur o marketing<br />

<br />

têm possibilidade de atingir níveis de interacção com<br />

seus clientes baseados em relações cada vez mais confortáveis<br />

e convincentes.<br />

Mas este “veículo” privilegiado de partilha e transmissão<br />

de saber é também fundamental e indispensável<br />

em escolas e centros de aprendizagem, sendo hoje<br />

um vector indissociável de qualquer percurso formativo<br />

pois possibilita a transmissão do conhecimento, facilita<br />

a acessibilidade, economiza tempo e recursos, permite<br />

desenvolver trabalho cooperativo e permite constituir bibliotecas<br />

de dados passíveis de actualização on-line.<br />

Hoje, a Internet deixou de ser um ambiente alternativo,<br />

onde apenas estudantes e curiosos navegavam.<br />

Hoje, ela é o principal canal de comunicação, entre a organização<br />

e os colaboradores que lhe dão vida.<br />

A organização e o seu sítio são a imagem institucional,<br />

da missão da organização no mundo virtual. Assim,<br />

as páginas de web são uma espécie de montra para<br />

apresentação de informação que suporta a actividade da<br />

organização.<br />

Foi nesta óptica que a Escola Prática de Infantaria,<br />

nas recentes Jornadas da Arma, realizadas no passado<br />

mês de Junho, sugeriu a criação de um sítio sobre a<br />

TCor Inf Mário Álvares<br />

Infantaria Portuguesa.<br />

Indubitavelmente, envolvendo as Unidades de<br />

Infantaria, procura-se com esse novo espaço consolidar<br />

a identidade da Arma através de um trabalho colaborativo<br />

de partilha de conhecimento e de informação.<br />

Todavia, a importância de credibilizar um “sítio” está<br />

directamente relacionada<br />

com a<br />

disponibilidade<br />

de informação de<br />

<br />

fácil de encontrar<br />

sem dispender<br />

muito tempo, e<br />

que vá ao encontro<br />

do universoalvo.<br />

Este novo<br />

espaço, construído o de forma objectiva, com conteúdos<br />

sucintos ao nível da organização e desenho, procura dar<br />

resposta às temáticas comuns à Arma e a áreas de saber<br />

de interesse à actividade operacional, doutrinária e<br />

técnica da Infantaria.<br />

A partir deste espaço será possível estudar e conhecer<br />

o armamento ligeiro, médio e pesado empregue pela<br />

nossa Infantaria, conhecer muitos dos d seus projectos de<br />

inv investigação e desen-<br />

vo volvimento, ou debater<br />

e<br />

analisar assuntos de<br />

int interesse comum.<br />

Também a partir<br />

de dele será possível ace-<br />

de der e compreender me-<br />

lho lhor a história, os sím-<br />

bo bolos e as tradições<br />

da Infantaria portuguesa, conhecer instantaneamente a<br />

acção dos infantes, em território nacional e no exterior,<br />

na prossecução dos superiores interesses nacionais.<br />

Será, também, um espaço em que todos os infantes, no<br />

activo, na reserva ou na reforma, poderão melhor sentir<br />

o pulsar da instituição à qual estão interporalmente e<br />

emocionalmente ligados. Também por isso esta é uma<br />

iniciativa que vale a pena, que garanta a inclusão de toda<br />

a Infantaria, em prol da sua coesão e espírito de corpo.<br />

Entendendo a importância desta iniciativa, importa<br />

apresentar um “sítio” actualizado. Um “sítio” com conte-<br />

<br />

utilizadores. Um “sítio” que seja a imagem da Infantaria<br />

Portuguesa no mundo e critério de selecção utilizado por<br />

milhares de pessoas.<br />

<strong>Azimute</strong><br />

Assim o faremos.


Jornadas de Infantaria<br />

“As Pequenas Unidades de Infantaria no Combate em<br />

<br />

A Escola Prática de Infantaria a<br />

(EPI) promove anualmente as s<br />

- -<br />

<br />

ao nível da Arma, sobre temas s<br />

e assuntos que directa ou indi--<br />

<br />

a Infantaria Portuguesa, nomea-<br />

damente sobre os aspectos s<br />

doutrinários, técnicos e de em-<br />

prego das pequenas Unidades s<br />

de Infantaria. Pretende-se en-<br />

quadrar as Jornadas no contex-<br />

to da modernidade operacional, ,<br />

designadamente quanto a orga-<br />

nização, treino, meios e equipa-<br />

mentos, liderança, pessoal, infra-<br />

estruturas e interoperabilidade.<br />

Assim, realizaram-se entre 18 8<br />

e 22 de Junho de 2009 as Jornadas<br />

Sessão de Abertura<br />

MGen Pereira Agostinho e o Comandante da EPI<br />

de Infantaria 2009 (JI09), subordinadas ao tema<br />

geral “As Pequenas Unidades de Infantaria no<br />

tegrado<br />

no programa das Comemorações do Dia<br />

da Arma de Infantaria e da EPI, tendo o dia do encerramento<br />

coincidido com a inauguração de uma<br />

<br />

na Sala de Honra da Infantaria.<br />

As JI09 foram iniciadas por um conjunto de palestras<br />

que permitiram enquadrar o tema geral acima<br />

referido e posteriormente foram debatidos os<br />

temas propostos no seio de Grupos de Trabalho<br />

(GT), com representantes das diferentes Unidades,<br />

Estabelecimentos e Órgãos, na modalidade de<br />

workshoptributos<br />

para a formulação de uma proposta consolidada<br />

sobre “As Pequenas Unidades de Infantaria<br />

rentes<br />

subtemas tratados.<br />

No dia 18 decorreu a sessão de abertura, presidida<br />

pelo Exmo. Presidente do Conselho da Arma<br />

de Infantaria, Major-General António Noé Pereira<br />

Agostinho, estando presentes inúmeros convidados,<br />

elementos participantes nos Grupos de<br />

Trabalho, além de quatro conferencistas que em<br />

muito engrandeceram estas Jornadas, permitindo<br />

acompanhar o “estado da arte” de outros comandos<br />

e países. Os trabalhos iniciaram-se com a intervenção<br />

do Exmo. Comandante da EPI - Coronel<br />

de Infantaria João Ormonde Mendes que deu as<br />

Conferencistas e participantes<br />

Direcção de Formação<br />

boas-vindas a todos os presentes e fez a introdução<br />

ao tema das Jornadas de Infantaria 2009.<br />

Seguidamente, o Exmo. Major-General António<br />

Noé Pereira Agostinho usou da palavra para salientar<br />

a actualidade e pertinência do debate sobre<br />

<br />

riamente<br />

tendo este ambiente como pano de fundo,<br />

e as missões em que Portugal tem participado e<br />

está a participar não fogem a esta regra.<br />

De seguida, o Tenente-Coronel de Infantaria<br />

Sebastião Macedo, Director de Formação da EPI,<br />

apresentou as Jornadas de Infantaria 2009 no que<br />

<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

53


AZIMUTE<br />

54<br />

Palestras Enquadrantes do Tema<br />

Palestra nº1<br />

Pelo - US Army, da<br />

Embaixada dos EUA em Lisboa, foi apresenta-<br />

do<br />

o tema “The tac-<br />

tica tical Employment at<br />

Squ Squad and Platoon<br />

Lev Level and the Infantry<br />

Tac Tactics in MOUT/<br />

FIB FIBUA”,envolvendo<br />

as<br />

principais lições re-<br />

tira tiradas da Operação<br />

Pha Phantom Fury em<br />

Fallujah, Iraque - Novembro 200 2004. Na sua apresentação<br />

destacou quatro ensinamentos que o exército<br />

americano tirou desta operação e que rapidamente<br />

introduziu na doutrina e programa de cursos:<br />

1. O combate urbano combina infantaria e<br />

carros de combate (CC)<br />

Além da necessidade, utilidade e complementaridade<br />

dos CC e da Infantaria, o orador alertou<br />

para um problema que os CC têm e que<br />

só pode ser resolvido com o auxílio da infantaria.<br />

Trata-se dos ângulos mortos dos CC e<br />

que são ainda mais evidentes quando estes<br />

<br />

No entender do conferencistaasolução conferencista a solução en- encontrada<br />

para melhor combinar Infantaria e<br />

CC é a que a seguir se expõe:<br />

Nº 187 AGO09<br />

De salientar, como conclusão deste ponto,<br />

que o exército americano pretende transformar<br />

os seus agrupamentos (com unidades<br />

de escalão Companhia), em subagrupamentos<br />

(constituídos por pelotões de Infantaria e<br />

CC). O objectivo é fazer baixar o escalão de<br />

integração da Infantaria com CC.<br />

2. A Infantaria deve ser treinada para proceder<br />

à abertura de brechas com explosivos<br />

Este ponto foi relacionado com a formação em<br />

manejo de explosivos por parte dos militares<br />

de infantaria, tendo em conta que do antecedente<br />

era matéria exclusiva da engenharia. A<br />

necessidade cada vez maior destas perícias<br />

veio impor que a formação nesta área deve<br />

ser extensível a todos os militares em geral e<br />

não só a especialistas.<br />

3. O maior perigo para a infantaria é na passagem<br />

entre edifícios<br />

dade<br />

que o exército americano sentiu na pro-<br />

<br />

entre edifícios expõe a infantaria e transforma<br />

o militar num alvo vulnerável. As técnicas de<br />

transposição, de mascaramento do movimento<br />

devem ser aprofundadas e treinadas até à<br />

exaustão.


4. Técnicas de limpeza de compartimentos e<br />

treino de tiro em ambiente urbano<br />

No quarto ponto foram apresentadas algumas<br />

técnicas de entrada em edifícios que, na sua<br />

maioria, já são por nós ensinadas nos cursos<br />

e treinadas nas unidades da FOPE, de onde<br />

se realça o tiro como factor fundamental para<br />

o sucesso de qualquer unidade de combate.<br />

Palestra nº2<br />

O LTC Niels Windheuser do JALLC, a quem<br />

foi<br />

proposto o tema<br />

Th The Interoperability<br />

wit within NATO Urban<br />

Op Operations at Small<br />

tac tactical Units, organi-<br />

zo zou a sua apresen-<br />

taç tação nos seguintes<br />

po pontos:<br />

1.<br />

O processo de li-<br />

çõ ções aprendidas do<br />

JA JALLC;<br />

2.<br />

Um relatório so-<br />

bre<br />

<br />

Soldier System - DSS (Soldado (S do Futuro)<br />

efectuado por militares do JALLC que acompanharam<br />

uma força do exército do Reino<br />

Unido no Afeganistão;<br />

3. Lições Aprendidas nas operações correntes<br />

da NATO.<br />

Da sua apresentação, que foi preparada em<br />

coordenação com o TCor Inf Jorge Costa Campos<br />

(que presta serviço no JALLC e que por motivos de<br />

serviço não pôde estar presente), são de salientar<br />

as seguintes conclusões:<br />

Com o DSS pretende-se a integração de tudo<br />

o que o Soldado utiliza, transporta e consome<br />

para potenciar as sua capacidades individuais<br />

e colectivas (Pequenas Unidades) dentro da<br />

sua estrutura nacional de Comando e Controlo;<br />

A Interoperabilidade é fundamental, com a<br />

Infantaria Ligeira a desempenhar um papel<br />

predominante;<br />

Combate conduzido praticamente sempre<br />

apeado e em terreno complexo, com as áre-<br />

<br />

Improvisados) sempre presentes, levando as<br />

operações a caracterizarem-se por grande<br />

intensidade;<br />

DSS não deverão estar dependentes da sua<br />

ligação a veículos e deverão estar aptos para<br />

<br />

O peso dos equipamentos é um factor-chave<br />

(o que hei-de transportar para esta Missão?).<br />

No que se refere à multinacionalidade das<br />

operações foram destacados os seguintes pontos,<br />

como sendo os mais importantes:<br />

Aspectos culturais e linguísticos – críticos nos<br />

baixos escalões;<br />

Nas actuais operações da NATO existem diferentes<br />

tácticas, técnicas e procedimentos<br />

(TTP) nos diferentes países;<br />

<br />

melhora:<br />

o Comando e Controlo aos baixos escalões;<br />

a Designação de alvos e a Navegação.<br />

<br />

<br />

(Exemplo do GPS).<br />

Palestra nº3<br />

O Cap Inf Rafael a ae Lopes, opes, Co Comandante a da te da<br />

Companhia a<br />

de Apoio à<br />

Formação da a<br />

EPI, represen-<br />

tanteportu- guês no “Urban n<br />

Operations s<br />

Working Group p<br />

(UOWG)”, ,<br />

abordou o tema a<br />

“ UOWG - Situação ação Actual e Perspectivas Futuras”. Futuras”<br />

Foi apresentado:<br />

1. O enquadramento do UOWG na estrutura da<br />

NATO;<br />

2. A origem e objectivos do UOWG;<br />

3. Perspectivas de Futuro.<br />

O GT depende directamente do Army Sub-<br />

Group (ASG) que está subordinado ao NATO<br />

Training Group (NTG) e :<br />

Recebe das nações representadas no GT<br />

apoio no treino e documentação relativa ao<br />

CAE.<br />

Analisa TTP e equipamentos de forma a criar<br />

um conceito comum e integrado de CAE.<br />

Assegura que a formação e treino do CAE se<br />

mantêm actualizados de acordo com as mais<br />

recentes missões e ameaças.<br />

No que diz respeito às perspectivas de futuro,<br />

foi feito um resumo do que o GT está a desenvolver<br />

e que se destaca:<br />

O CAE como base da formação do Infante;<br />

Promover a discussão do emprego de armas<br />

combinadas no CAE (já iniciado);<br />

Apoiar o desenvolvimento do Projecto de<br />

Ampliação do “ALDEIA CAMÕES” e contribuir<br />

para a actualização dos programas de instrução<br />

dos cursos ministrados na EPI;<br />

Análise do Cap. V do Urban Operations Tactical<br />

Handbook (UOTH), no que diz respeito às funções<br />

de Combate;<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

55


AZIMUTE<br />

56<br />

Aprovação do Vol. II do UOTH e passagem do<br />

Vol I a ATP;<br />

Decorrerá em Portugal a Reunião do UOWG no<br />

âmbito das “Informações no CAE”, de 26 a 30 de<br />

Abril de 2010.<br />

Palestra nº4<br />

O Capitão de Infantaria Alexandre Ale Capote, da<br />

Bri Brigada Mecanizada,<br />

a quem q foi proposto o<br />

tem tema: “As Pequenas<br />

Un Unidades de<br />

Inf Infantaria no Combate<br />

<br />

- PPerspectiva<br />

do em-<br />

pre prego de meios meca-<br />

niz nizados e blindados”.<br />

O<br />

Capitão Capote<br />

<br />

<br />

em Portugal e no Reino Unido. Foi comandante da<br />

2ªCAt / AgrMec / NRF 12 e é actualmente adjunto<br />

<br />

Da sua apresentação temos a destacar uma série<br />

de apontamentos que são o resultado do estudo<br />

e da experiência operacional de um Agrupamento<br />

em NRF. A apresentação, entre outros aspectos,<br />

trouxe de relevante os seguintes:<br />

Emprego de meios mecanizados e blindados;<br />

<br />

O Emprego de meios mecanizados e blindados<br />

<br />

uma fórmula que a seguir se descreve:<br />

Efeito magnético das áreas urbanas +<br />

Caracterização ameaça = Necessidade de protecção<br />

/ Poder fogo<br />

No que diz respeito ao treino, “o que treinar?”<br />

foi a primeira questão a ser respondida, com uma<br />

lista de temas explanados no PLANO DE TREINO<br />

e de onde se retira a seguinte conclusão: o treino<br />

deve abarcar todo o espectro de operações, deve<br />

ser contínuo e com prioridade para as tarefas inerentes<br />

ao combate.<br />

Quanto aos Objectivos do treino, estes devem<br />

ser detalhados até ao escalão secção de atiradores.<br />

Desenvolvimento dos Trabalhos<br />

<br />

debate sobre os diferentes temas propostos.<br />

Os GT contaram com a presença de diversos<br />

<br />

que em muito contribuíram para as discussões entre<br />

o grupo e para as conclusões que foram apresentadas<br />

no dia 22Jun09.<br />

Nº 187 AGO09<br />

Conclusões das Jornadas<br />

A Cerimónia de Encerramento das JI 09 contou<br />

com a presença dos Comandantes das unidades<br />

de infantaria e foi presidida pelo Exmo. Director<br />

-Honorário da Arma de Infantaria, Tenente-General<br />

Mário de Oliveira Cardoso.<br />

Nesta sessão foi feita a apresentação das conclusões<br />

por parte dos GT, efectuadas pelos seus<br />

coordenadores, que seguidamente se resumem:<br />

Encerramento das Jornadas de Infantaria<br />

GT 1 – pelo Tenente-Coronel de Infantaria Jorge<br />

Gamito Torres, que coordenou o tema “A Condução<br />

de Operações de Combate em Ambiente Urbano<br />

– Requisitos de Capacidades de Informação nos<br />

Baixos Escalões (Companhia, Pelotão e Secção)”,<br />

e apresentou as seguintes conclusões:<br />

Doutrina – Técnicas, Tácticas e Procedimentos<br />

<br />

com a doutrina ISTAR (impacto dos novos<br />

meios);<br />

Treino – Aplicação dos meios – Impacto no treino<br />

individual e colectivo: integração e gestão<br />

de sensores e C 2;<br />

Organização – Novos requisitos só alteram a<br />

estrutura orgânica de material. As células de<br />

gestão de sensores (UAV’s/UGV’s) são orgânicas<br />

da UEB;<br />

Meios – Requisitos de capacidades dos sistemas:<br />

actuar de forma autónoma; isolada do<br />

apoio das principais plataformas e/ou sistemas<br />

de armas; ligeiros;<br />

Liderança – Planeamento centralizado, execução<br />

descentralizada – maior exigência e responsabilidades<br />

na coordenação das operações<br />

aos baixos escalões;<br />

Pessoal – Necessidades de novas competências:<br />

selecção; especialização; ambiente<br />

multinacional/língua;<br />

Interoperabilidade – Uso do SICCE na integração<br />

de todos os meios C4ISR até ao escalão<br />

secção.


GT2 – pelo Major de Infantaria Jorge Varanda<br />

Pinto, que se debruçou sobre o “Emprego Táctico<br />

de uma Unidade de Escalão Companhia, em todo o<br />

Espectro das Operações, num Cenário de Contrasubversão<br />

Urbana” apresentou as conclusões que<br />

se destacam:<br />

Doutrina - proposto que fossem elaborados<br />

dois manuais pela EPI, coadjuvada pela<br />

FOPE, sobre COMBATE URBANO. Propõem<br />

para a organização base de um Batalhão de<br />

Infantaria, com a constituição permanente de<br />

Sub-Agrupamentos, com base nas companhias<br />

e esquadrões da BrigInt. E ainda a integração<br />

nesse batalhão de Lança Granadas<br />

Automáticos, UAV e secções Cinotécnicas;<br />

Treino e material – proposta de algumas alterações<br />

e aquisições para fazer face às novas<br />

tecnologias.<br />

Este GT considera a liderança como área essencial<br />

para os novos quadros. Este ponto tem<br />

ligação directa ao seguinte, do pessoal, e onde<br />

o GT salienta uma série de acções de formação<br />

no TN e no estrangeiro que seriam necessárias<br />

para fazer face ao tema proposto;<br />

Quanto às infra-estruturas a proposta vai no<br />

sentido de se ampliar e melhorar as infra-estruturas<br />

existentes para o CAE, pois estas devem<br />

permitir a execução de tiro real, a utilização de<br />

viaturas mecanizadas/blindadas e alterar as situações<br />

de treino, para o tornar mais realista;<br />

No último ponto, a interoperabilidade, as propostas<br />

vão no sentido de a doutrina ser comum<br />

ou, no mínimo, compatível e possibilitar o emprego<br />

combinado de forças.<br />

O treino deve ser do tipo Cross Training para<br />

adaptação e integração. É, no entanto, no<br />

material (Armamento, Transmissões, Etc.),<br />

onde existem mais sistemas que requerem<br />

compatibilidade.<br />

Quanto ao pessoal, deve ter as competências<br />

para participar em operações combinadas<br />

(Linguística).<br />

GT3 – Coordenado pelo Tenente-Coronel de<br />

Infantaria Rui Mendes Dias, que teve como objec-<br />

<br />

e Técnicos de Simulação para os Sistemas de<br />

Combate de Infantaria dos baixos escalões tácticos<br />

(Companhia, pelotão e Secção) em ambiente urbano”,<br />

apresentou as seguintes conclusões:<br />

cional<br />

deve ser construída com base nos<br />

conceitos basilares da OTAN (Simulação,<br />

Interoperabilidade e Reutilização), bem como<br />

nos seus princípios-guia, a normalização de<br />

tácticas e procedimentos fruto das lições aprendidas,<br />

e a revisão dos diversos referenciais de<br />

curso;<br />

Quanto à organização a proposta vai no sentido<br />

de se criarem dois níveis de Simuladores:<br />

o primeiro nível nas entidades que sejem iden-<br />

<br />

acesso aos sistemas; o segundo nível, para<br />

<br />

zadora,<br />

destinado ao treino do pessoal;<br />

No que diz respeito às infra-estruturas, as recomendações<br />

vão no sentido de haver uma<br />

lação<br />

estar associado à infra-estrutura real, da<br />

criação de instalações para acolher sistemas de<br />

simulação e da rentabilização das infra-estruturas<br />

reais, permitindo o seu desenvolvimento;<br />

As propostas respeitantes ao pessoal vão no<br />

sentido da criação de órgãos ou entidades responsáveis<br />

pela gestão da formação de quadros<br />

<br />

vinculação/permanência dos militares e da contratualização<br />

de formação, manutenção e reu-<br />

-<br />

<br />

sentado<br />

pelo comandante da EPI, à audiência, uma<br />

proposta de “site” da arma de infantaria. Este sítio<br />

terá como objectivo ser um repositório dos símbolos,<br />

das tradições e do historial da arma para além<br />

de documentos relacionados com a infantaria portuguesa<br />

e estará disponível na internet. Foi com muito<br />

agrado e receptividade que este assunto foi visto,<br />

pois permite colmatar uma lacuna existente, constituindo-se<br />

igualmente como um local de debate e<br />

encontro entre Infantes.<br />

Como já anteriormente se aludiu, teve ainda lugar<br />

uma visita inaugural, pelo Tenente-General Director-<br />

Honorário da Arma de Infantaria, à Exposição sobre<br />

a participação do Corpo Expedicionário Português<br />

(CEP) na 2ª Guerra Mundial. A visita foi guiada<br />

pelo Coronel Américo Henriques, especialista em<br />

História Militar, que mostrou efectivamente o que foi<br />

<strong>Azimute</strong><br />

a digna e difícil participação portuguesa na IGM.<br />

<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

57


AZIMUTE<br />

58<br />

Nº 187 AGO09<br />

O Batalhão de Infantaria Mecanizado<br />

virado para o Futuro<br />

Com a realização deste trabalho pretendeu-se<br />

d<br />

Mecanizado (BIMec) no futuro, tendo em conta<br />

as funções de combate e, por outro lado, a consequente<br />

necessidade de adaptação do <strong>Exército</strong><br />

Português, no que concerne às suas forças mecanizadas,<br />

face a introdução dos novos Carros de<br />

Combate (CC) - LEOPARD II A6.<br />

Como factor condicionante, tendo em conta os<br />

<br />

das verbas afectas, constitui-se determinante para<br />

o <strong>Exército</strong> o projecto de reequipamento e modernização<br />

das viaturas M113 e substituição dos CC<br />

M60, sendo este aspecto fundamental para o desenvolvimento<br />

do respectivo parecer técnico.<br />

<br />

para além da análise e determinação das principais<br />

características tendo em conta o novo ambiente<br />

operacional – o conjunto de capacidades necessárias<br />

que deverá possuir um BIMec, quando em<br />

operações num teatro não linear 1 , de forma a obter<br />

uma linha de orientação para a concepção e organização<br />

de uma possível estrutura para a unidade<br />

em estudo.<br />

A metodologia adoptada para este estudo consistiu<br />

na sustentação de um conjunto de hipóteses,<br />

através da pesquisa de anteriores trabalhos,<br />

efectuada em fontes abertas, para os quais concorreram<br />

diferentes modelos, como por exemplo o<br />

Israelita, Brasileiro, Australiano e Italiano; as lições<br />

aprendidas em operações, em especial pelas for-<br />

tos<br />

que lançam os <strong>Exército</strong>s na senda da transformação,<br />

como necessidade última de protecção e<br />

sobrevivência no que concerne à abordagem rea-<br />

<br />

No entanto, pela sua natureza, este trabalho<br />

foi limitado tendo em conta os sistemas de armas,<br />

equipamentos colectivos e protecção e a<br />

1 O campo de batalha moderno é não-linear, com áreas de<br />

operações contíguas ou não contíguas, incluindo, para além da<br />

vertente aérea, terrestre e marítima, igualmente a componente<br />

espacial, onde se desenrolarão os combates da informação,<br />

e o espectro electromagnético. Inclui ainda as características<br />

do terreno, a população, as forças amigas e o adversário. (RC<br />

Operações – SET05)<br />

Maj Inf Rodrigues Dias<br />

consequente necessidade de evolução.<br />

<br />

pela Organização do Tratado do Atlântico Norte<br />

(OTAN) para este tipo de unidades, procurou-se<br />

chegar à questão central.<br />

A questão central: “A organização actualmente<br />

proposta para um Batalhão de Infantaria<br />

Mecanizado é adequada ao seu emprego em “full<br />

Spectrum 2 ”? Como seria a aplicação dos actuais<br />

BIMec portugueses em teatros de operações, de<br />

natureza não linear, sem perder as características<br />

básicas da arma de Infantaria.”?<br />

Tal serviu de suporte a um conjunto de questões<br />

derivadas que regularam todo o processo de<br />

investigação:<br />

O actual modelo preconizado para um BIMec,<br />

consegue suportar o conjunto variado de capacidades<br />

(capability statements), no amplo<br />

<br />

guerra?<br />

O actual modelo suportado em viaturas da família<br />

M113 A1 e A2 cumpre todas as capability<br />

statements?<br />

O actual modelo suportado em viaturas da<br />

família M113 A1 e A2, em termos de manobra,<br />

apoio de combate e comando e controlo,<br />

acompanha os CC LEOPARD II A6?<br />

Tendo em conta que o Ambiente Operacional<br />

ências<br />

que afectam o emprego de forças militares<br />

3 , importa<br />

pois ter bem presente que factores o condicionam<br />

e caracterizam:<br />

Os objectivos nacionais a alcançar através dos<br />

diversos elementos do poder nos quais está in-<br />

<br />

pela política, e que estão directamente relacionados<br />

com os interesses nacionais, constituindo<br />

assim a envolvente estratégica do ambiente<br />

operacional;<br />

Os objectivos militares da operação, determinados<br />

pela estratégia e enquadrados pela doutrina<br />

de emprego de forças;<br />

2 Operações em todo o espectro (FM 3-0 Operations FEB08)<br />

3 Regulamento de Campanha 130-1 operações (1987)


A ameaça, referida ao tipo de forças e seu po-<br />

prego<br />

das suas forças, bem como qual o tipo<br />

<br />

A área de operações, de onde importa considerar<br />

as suas características e a forma como<br />

afecta o emprego de forças;<br />

A informação, tendo em vista a forma como ela<br />

pode condicionar o desenrolar das operações;<br />

A tecnologia e contributos inerentes ao desenvolvimento<br />

e aplicação da mesma no emprego<br />

de forças;<br />

A unidade de esforço como componente fun-<br />

<br />

militar.<br />

Este novo ambiente operacional, caracterizado<br />

por ameaças e riscos difusos, traz agregado um<br />

conjunto de tendências, com destaque para a globalização,<br />

a proliferação de fenómenos regionais<br />

associados ao alastramento de nacionalismos e<br />

radicalismos.<br />

Há que considerar também o maior protagonismo<br />

dos actores não-estatais, a descaracterização<br />

das fronteiras físicas, a crescente vulnerabilidade<br />

dos Estados, as intromissões externas e o aumento<br />

das assimetrias entre países ricos e pobres, que<br />

constituem igualmente elementos caracterizadores<br />

da actual conjuntura internacional.<br />

nal,<br />

face a este tipo de ameaças, caracterizam-se<br />

essencialmente por serem assimétricos 4 , onde o<br />

mais fraco procura anular as vantagens do adversário<br />

tecnologicamente mais evoluído.<br />

Perante este novo cenário internacional os países<br />

terão que determinar as modalidades de acção<br />

para atingir os objectivos políticos e salvaguardar<br />

os seus interesses 5 , modalidades essas que afectarão<br />

a atribuição das missões às forças militares, o<br />

volume e a composição dessas forças, os recursos<br />

postos à sua disposição e as linhas gerais de emprego<br />

operacional dos meios<br />

Estas ameaças e riscos à segurança nacional e<br />

internacional, assumem um carácter multi-facetado,<br />

<br />

natureza similar, sendo característicos do ambiente operacional<br />

da guerra-fria, condicionando ainda hoje a doutrina, treino e<br />

<br />

opõem forças armadas convencionais ou não, com estrutura,<br />

volume, equipamento, tecnologia e doutrina muito díspares.<br />

<br />

básicas, fundamentais da nação, os objectivos nacionais<br />

descrevem o que um país procura atingir. Os objectivos<br />

nacionais são metas específicas que uma nação procura<br />

alcançar a fim de promover, apoiar ou defender os seus<br />

interesses nacionais.<br />

imprevisível e transnacional que devem privilegiar<br />

-<br />

prego<br />

num ambiente conjunto e combinado para fa-<br />

<br />

e elevada intensidade.<br />

Para tal, tendo em conta as tarefas, localizar,<br />

<br />

do combate, tais como a manobra, o fogo, a liderança,<br />

a protecção e a informação 6 . Ao combinar e<br />

conjugar estes elementos com o objectivo de executar<br />

as tarefas fundamentais, temos os sistemas<br />

operativos denominados por funções de combate,<br />

que são 7 :<br />

Manobra;<br />

Apoio de Fogos;<br />

Informações;<br />

Protecção (Mobilidade, Contramobilidade e<br />

Sobrevivência);<br />

Defesa Aérea;<br />

Apoio de Serviços;<br />

Comando e Controlo.<br />

Por tudo o que foi referido até ao momento, é<br />

dentro deste espírito que a modernização dos actuais<br />

equipamentos, e neste caso concreto a modernização<br />

das viaturas da família M113, assume<br />

especial relevância, sem dúvida um salto qualitativo<br />

positivo e prova que aquilo que se pretende<br />

é um “ <br />

evidencie força, adaptado e adaptável ao ambiente<br />

interno e externo, cada vez mais projectável, com<br />

vel<br />

de meios, pronto a ser empenhado em todo o<br />

ta<br />

e combinada onde e quando for superiormente<br />

determinado” 8 .<br />

guma<br />

pesquisa através das fontes abertas de forma<br />

a tentar perceber o que fazem os outros exércitos<br />

no domínio das forças mecanizadas, dos quais se<br />

destacam os Estados Unidos (EUA), Israel, Itália,<br />

<br />

apresentam características comuns:<br />

Alta mobilidade estratégica, tendo em vista<br />

a aplicação dos mesmos em Teatros de<br />

Operações (TO) muito afastados do país de<br />

origem;<br />

Preparados para operar em ambientes complexos<br />

em que as Áreas de Operações (AO)<br />

são dominadas pelo ambiente urbano (prepon-<br />

6 Regulamento de Campanha – Operações (2005).<br />

7 Idem.<br />

8 Visão – Directiva 90/CEME/2007.<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

59


AZIMUTE<br />

60<br />

derância de TTP 9 para o combate urbano);<br />

Possuem sistemas operacionais fortemente<br />

apoiados na capacidade C3I, para recolha e<br />

tratamento de notícias para além de possuírem<br />

unidades especializadas em ISR (Intelligence,<br />

Surveillance and Reconnaissance);<br />

Armamento e viaturas com um grande incremento<br />

tecnológico e protecção;<br />

Uma grande aposta na indústria de defesa nacional,<br />

com ligações aos grandes fornecedores<br />

internacionais;<br />

<br />

as forças mecanizadas devem estar aptas a enfrentar<br />

as condicionantes operacionais do moderno<br />

campo batalha.<br />

Relativamente às Forças Mecanizadas<br />

Portuguesas e quando confrontadas com outros<br />

exércitos, demo-nos conta desde logo, de uma<br />

acentuada diferença em termos de comparação,<br />

com as nossas forças mecanizadas, onde interessa<br />

salientar, ao contrário de outros exércitos, que a<br />

unidade táctica fundamental assenta no Batalhão<br />

ou Agrupamento.<br />

Dito isto, uma questão que de imediato se coloca<br />

é qual será a verdadeira realidade, em termos<br />

operacionais e tácticos, das nossas forças mecanizadas,<br />

entenda-se a composição e articulação<br />

de forças com Viaturas Blindadas de Transporte<br />

Pessoal (VBTP) e Carros de Combate (CC):<br />

<br />

continuado 10 ;<br />

As nossas VBTP M113 têm mais de 30 anos,<br />

pouca ou nenhuma tecnologia, fraca blinda-<br />

<br />

CC. Este aspecto será mais notório quando<br />

os agrupamentos forem articulados com CC -<br />

LEOPARD II A6;<br />

Pouca ou nenhuma capacidade de produção<br />

de Informações, capaz de auxiliar o comandante<br />

a perceber o campo de batalha – capacidade<br />

“Common Operational Picture” 11 ;<br />

Inexistência de viaturas blindadas leves de<br />

rodas, para o desempenho de tarefas espe-<br />

Intelligence,<br />

9 Técnicas, Tácticas e Procedimentos<br />

10 O conceito de combate continuado visa a máxima utilização<br />

<br />

criar janelas de oportunidade.<br />

11 A Imagem Operacional Comum (COP – Common Operational<br />

Picture) é uma imagem no tempo de forças amigas (azuis),<br />

neutras (verdes ou brancas), adversárias (vermelhas) e, do<br />

campo de batalha (castanho). É formada através da base de<br />

dados das operações, das notícias e informações comuns a<br />

todos os escalões de comando e é disseminada ao seu escalão<br />

de comando. (PDE 2-00 Informações e Segurança)<br />

Nº 187 AGO09<br />

Surveillance and Reconnaissance), o que dimi-<br />

<br />

combate;<br />

ção<br />

das actuais viaturas M113 A1 e A2 pois, já<br />

não se fabricam;<br />

A dependência de meios de comunicações e<br />

tando<br />

a capacidade destas unidades em operar<br />

isoladamente;<br />

<br />

em operarem em ambientes complexos conjugados<br />

com o ambiente urbano.<br />

Desta forma, todo o processo de modernização<br />

das viaturas M113 deverá ser orientado pelo conjunto<br />

de capacidades requeridas pela OTAN.<br />

É certo que este estudo teve em conta a probabilidade<br />

de emprego dos BIMec, desde situações<br />

<br />

de Resposta a Crises (CRO), onde se torna urgente<br />

dotar estas unidades de sistemas modernos de<br />

protecção, poder de fogo e comando e controlo, de<br />

forma a colmatarem as limitações/problemas levantados<br />

durante o estudo em apreço.<br />

Neste contexto foram assumidas como referência<br />

as capacidades exigidas pela OTAN referentes<br />

a um Batalhão Mecanizado:<br />

Actuar como agrupamento (quando reforçado<br />

com carros de combate);<br />

Participar em operações Conjuntas/<br />

Combinadas;<br />

Capacidade para observar, negar o acesso,<br />

ocupar e defender pontos fortes;<br />

Capacidade de empenhamento decisivo, excepto<br />

em terreno montanhoso e selva;<br />

Capacidade para receber e integrar o apoio de<br />

combate, apoio de fogos e apoio de serviços de<br />

outras unidades (engenharia, reconhecimento,<br />

artilharia, ISTAR - Intelligence, Surveillance<br />

Target Acquisition and Reconnaissance, GE –<br />

Guerra Electrónica, etc);<br />

Capacidade para atacar, defender ou executar<br />

operações de retardamento com outras unidades<br />

amigas em apoio<br />

Capacidade para desenvolver operações militares<br />

em áreas urbanizadas;<br />

Capacidade de combate próximo com o armamento<br />

orgânico e quando reforçado com carros<br />

de combate;<br />

Capacidade de garantir um nível adequado de<br />

protecção da força (incluindo NBQ e protecção<br />

contra engenhos explosivos improvisados<br />

accionados remotamente) para todo o pessoal,<br />

armamento e equipamento orgânico da


Unidade;<br />

<br />

tres<br />

para evitar o fratricídio;<br />

Capacidade para actuar integrado num ambiente<br />

em rede (NNEC – NATO Network<br />

Enabled Capability);<br />

Capacidade para obter / partilhar informação<br />

em “tempo real / próximo do real” que contribua<br />

para o BFSA (Blue Force Situation Awareness<br />

– Percepção Situacional das Forças Amigas);<br />

Capacidade para actuar sem reabastecimentos<br />

ou recompletamentos por um período até 3<br />

dias (excepto classe V);<br />

Capacidade para manter actualizada, de forma<br />

automática, a rede de Comando e Operações<br />

e Logística relativamente à situação da classe<br />

III e V, bem como os danos existentes relativos<br />

a combate e não combate;<br />

Capacidade para fornecer apoio sanitário e logístico<br />

integral;<br />

Capacidade de fornecer apoio a forças blindadas<br />

fazendo uso da mobilidade e protecção;<br />

Capacidade de conduzir operações de contrasubversão,<br />

apoio à paz e outras tarefas como<br />

sejam execução de patrulhamentos, controlo<br />

de tumultos, em ambientes pouco permissivos<br />

usando outros sistemas ou doutrinas;<br />

Capacidade de conquistar, controlar, segurar e<br />

organizar o terreno;<br />

Capacidade de participar em operações conjuntas<br />

e combinadas como força expedicionária<br />

e emprego táctico em condições climatéricas<br />

extremas de calor e frio e condução de<br />

operações em terrenos austeros;<br />

Capacidade de integração dentro do sistema<br />

JISR - Joint Intelligence, Surveillance and<br />

Reconnaissance;<br />

Capacidade de partilha da COP – Common<br />

Operational Picture – com as suas subunidades<br />

até ao escalão Secção;<br />

Capacidade de obter de dia, noite e em condições<br />

de visibilidade reduzida, imagens de<br />

objectos ou de actividades de interesse e<br />

disseminar essa informação e dados complementares<br />

(por ex: GDH, localização) para um<br />

sistema de exploração e tratamento em tempo<br />

oportuno e de forma segura;<br />

Capacidade de adquirir e bater alvos de dia /<br />

noite quer estacionária quer em movimento;<br />

Capacidade de conduzir operações apeado;<br />

Capacidade de fornecer apoio próximo a forças<br />

blindadas fazendo uso da mobilidade,<br />

fogo, protecção;<br />

As viaturas devem possuir canhões com calibre<br />

superior a 20mm e sistemas de mísseis<br />

anti-carro guiados.<br />

Como facilmente se pode depreender, a BrigMec<br />

Portuguesa, face à obsolescência dos seus meios<br />

<br />

critérios operacionais acima mencionados. Acresce<br />

que esta brigada, e os seus batalhões em particular<br />

deve garantir um grande poder de choque, fogo<br />

<br />

média/alta intensidade 12 . Como tal, tem como principais<br />

elementos de manobra dois BIMec, um Grupo<br />

de Carros de Combate (GCC) e um Esquadrão de<br />

Reconhecimento (ERec).<br />

Desta forma, tendo subjacente o conjunto de<br />

princípios anteriormente referidos, urge a introdução<br />

de “upgrades” que tenham em atenção a protecção,<br />

a capacidade de vigilância e combate próximo<br />

para toda a família de viaturas VBTP M113.<br />

Face às exigências do moderno campo de batalha,<br />

as viaturas de combate com lagartas precisarão<br />

de andar mais rapidamente, carregar cargas<br />

mais pesadas, fornecer à tripulação equipamento<br />

e protecção aumentada e possuir sistemas digitais<br />

próprios da denominada Força XXI.<br />

Actualmente os governos e indústrias de defesa<br />

detêm um conjunto de iniciativas no sentido de<br />

assegurar estas capacidades às viaturas da família<br />

M113A3. A estrutura de força para as forças blindadas<br />

do século XXI manterá muitas das viaturas<br />

blindadas de lagartas que existem nos diferentes<br />

<strong>Exército</strong>s, assumindo desta forma a necessidade<br />

de constantes “upgrades-<br />

nanciamentos<br />

para melhorar as capacidades das<br />

mesmas e reduzir as limitações do actual parque<br />

de viaturas blindadas.<br />

Esta tem sido uma tónica constante de outros<br />

exércitos que têm viaturas da família M113. Sendo<br />

que, em todos eles, o objectivo prioritário de modernização<br />

é garantir o estado de operacionalidade<br />

das unidades, de modo a não comprometer o treino<br />

das subunidades e os compromissos internacionalmente<br />

assumidos.<br />

Para além do anteriormente referido, a manutenção<br />

elevada de índices de disponibilidade, a<br />

redução de custos e o tempo de manutenção preventiva<br />

e a extensão do ciclo de vida das mesmas<br />

por mais 15 ou 20 anos encerram em si o objectivo<br />

deste mesmo projecto.<br />

12 Entenda-se alta intensidade como a Guerra Global Ilimitada,<br />

Guerra Regional Ilimitada ou o Terrorismo ataques Nucleares<br />

Biológicos Químicos ou Radioactivos (NBQR) ou Endémico<br />

(relativo a um povo ou a uma região) (Collins, 2002, 22).<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

61


AZIMUTE<br />

62<br />

Como exemplo, seguiu-se o projecto de modernização<br />

das viaturas M113 do exército Brasileiro<br />

que têm sofrido constantes “upgrades” relativamente<br />

ao projecto básico da VBTP M113 BR. Para<br />

que se tenha uma noção mais adquada, estes<br />

foram os sistemas contemplados em termos de<br />

modernização:<br />

Sistemas de força: motor/transmissão;<br />

Sistemas de arrefecimento;<br />

Sistema de suspensão e conjunto de lagarta;<br />

Sistemas de direcção e comando para o<br />

condutor;<br />

Sistemas de observação;<br />

Sistemas de comunicações;<br />

Sistemas eléctricos;<br />

Porta, escotilha, dobradiças, dispositivos de<br />

retenção e trincos;<br />

Sistemas de navegação;<br />

Sistema de armas;<br />

<br />

Sistemas de ventilação interna;<br />

Sistemas de alimentação;<br />

Sistema de combate a incêndios.<br />

Devido à sua durabilidade, baixo custo e peso<br />

leve, o projecto para as viaturas M113 é um ponto<br />

de partida ideal para o desenvolvimento de veículos<br />

blindados pouco pesados (abaixo das 20Ton).<br />

Os conceitos variam desde viaturas de apoio até<br />

viaturas guarnecidas com torres, ou seja, as mais<br />

pequenas alternativas são todas possíveis dado o<br />

tipo de chassis e respectivos componentes que são<br />

a linha de base das viaturas M113. Os conceitos<br />

recentes para o M113 no futuro incluem:<br />

O suporte universal XM1 108 13 ;<br />

O sistema de alta mobilidade do M113A3, e o<br />

M577A3 CPC “Stretch”.<br />

Estes conceitos, assim como outras iniciativas<br />

em curso de melhoramento, fornecem os alicerces<br />

para a modernização futura e contínua viabilidade<br />

e utilidade dos sistemas M113.<br />

Não obstante a necessidade e os prazos envolvidos,<br />

estes conceitos fornecem uma alternativa<br />

<br />

mento<br />

dos programas se concentre nos sistemas<br />

de aquisição de alvos, sobrevivência, e nas necessárias<br />

tecnologias referente às comunicações.<br />

As possibilidades de evolução das viaturas da<br />

família M113 são imensas. Países como o Brasil,<br />

Canadá, Austrália e Israel, têm feito diversos<br />

13 The XM1108 Universal Carrier is a classic example of<br />

how technological advances within the M113 FOV can lead to<br />

<br />

Nº 187 AGO09<br />

“upgrades <br />

este artigo demasiado extenso apenas serão referenciados<br />

mais alguns aspectos como complemento<br />

a tudo o que foi escrito até ao momento.<br />

Actualmente as viaturas da família M113, que<br />

equipam os Batalhões de Infantaria Mecanizados<br />

da Brigada Mecanizada Portuguesa, estão dotadas<br />

de uma Metralhadora Pesada (MP) Browning<br />

de calibre 12,7mm. Esta arma garante à viatura a<br />

capacidade de efectuar fogos de supressão. No<br />

entanto, o berço onde a arma se encontra não é<br />

estabilizado e além do que, expõe por completo o<br />

apontador da arma aos fogos directos, e não permite<br />

que o mesmo execute fogos ajustados quando a<br />

viatura está em movimento.<br />

Para tal, existe a possibilidade de dotar a viatura<br />

com um conjunto de escudos protectores da arma e<br />

do apontador, que se podem acoplar entre a escotilha<br />

do chefe de viatura e escotilha de carga, bem<br />

como dotar esta última com escudos protectores.<br />

Existe também a possibilidade de dotar as viaturas<br />

com sistemas de protecção NBQR (Nuclear,<br />

Biológico, Quimico e Radiológico) que fornecem<br />

<br />

protecção contra<br />

ataques nucleares,biológicos<br />

e químicos.<br />

Todos os sistemas<br />

NBQR<br />

consistem num<br />

<br />

nos conjuntos<br />

de mangueiras<br />

que transportam<br />

<br />

até às más-<br />

caras de gás,<br />

num disjuntor,<br />

Fig. 01 – Evolução das viaturas M113<br />

Fig. 02 – Reparo para a Metralhadora<br />

Pesada (MP) browning com protecção


num interruptor, e respectivos cabos eléctricos.<br />

Além disto, o sistema básico denominado por NBC<br />

M8A3, pode ainda ser dotado com o sistema NBC<br />

<br />

as temperaturas são mais baixas, tendo ainda a<br />

<br />

de manterem aquecidos eventuais tripulantes que<br />

se encontrem feridos.<br />

Fig. 03 – Sistemas de protecção NBQR<br />

À semelhança das Viaturas Blindadas de Rodas<br />

(VBR) PANDUR 8X8, também as VBTP M113 deverão<br />

ser dotadas de dispositivos lançadores de<br />

granadas de fumos, de forma a garantir a neutralização<br />

de possíveis ameaças. Estes deverão ser<br />

capazes de lançar fumígenos a distancias entre os<br />

180 a 200mts, tendo em conta que a maior parte<br />

<br />

Possibilidade de adaptação do reparo da MP<br />

browning, de forma a garantir a colocação de uma<br />

Metralhadora Ligeira (ML) de calibre 7,62mm. Esta<br />

solução permite diminuir o poder de destruição<br />

causado por munições 12,7mm para além do que,<br />

estas estão proibidas de serem usadas contra pessoas,<br />

pela convenção de genebra.<br />

<br />

oriente vieram provar que a utilização do calibre<br />

das<br />

ou mesmo contra viaturas é muito útil no entanto,<br />

a sua utilização contra pessoal apeado ou em<br />

apoio das forças de manobra pode causar muitos<br />

problemas por isso, deverá também ser equacionada<br />

a possibilidade de colocação de um reparo<br />

lateral que permita a utilização de uma ML 7,62mm.<br />

Outra capacidade que deverá ser conferida a<br />

quando do “upgrade” às viaturas M113, é possibilitar<br />

que o apontador da Browning possa fazer tiro a<br />

partir do interior da viatura, ou seja, o reparo da MP<br />

terá que ser convertido numa torre, possibilitando<br />

que o apontador possa continuar a fazer tiro, quer<br />

seja diurno ou nocturno. Para tal o apontador deverá<br />

dispor no interior da viatura de um visor ligado a<br />

um dispositivo exterior, dotado de capacidade para<br />

visão nocturna e de um controlo remoto.<br />

Fig. 4 - Exemplo de uma torre para MP e sistema de controlo<br />

remoto<br />

A utilização massiva de IED (Improvised<br />

), em Teatro de Operações (TO)<br />

como o Afeganistão ou o Iraque, tem demonstrado<br />

que a possibilidade dos mesmos causarem sérios<br />

danos a viaturas blindadas é enorme bem como, a<br />

<br />

das viaturas é igualmente elevada. A solução passará<br />

por adaptar sistemas de combate a incêndio<br />

no interior da viatura que possibilitem o seu accionamento<br />

manual ou automático, que através de tubos<br />

perfurados permitam “banhar” a tripulação da<br />

viatura, dando desta forma a hipótese que a mesma<br />

possa p reagir g de imediato à ameaça. ç<br />

Fig.5 – Exemplo da aplicação de um sistema de<br />

combate a incêndio no interior da viatura<br />

mação<br />

o domínio e o uso da mesma em tempo<br />

oportuno fazem toda a diferença durante o processo<br />

de planeamento e tomada de decisão bem como<br />

na fase de execução da missão. Para tal foi proposto<br />

que as viaturas da família M113 sofressem<br />

o necessário “upgrade” de modo a possuírem um<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

63


AZIMUTE<br />

64<br />

sistema de Comando, Controlo e Comunicações<br />

(C3I) idêntico ao das VBR PANDUR II.<br />

A digitalização já não é uma necessidade mas<br />

uma consequência dos inúmeros factores que caracterizam<br />

o moderno campo de batalha. Hoje existem<br />

sistemas digitais de controlo de tiro, capazes<br />

<br />

capacidade de integração horizontal e que consolidam<br />

vários programas de controlo de tiro e respectivas<br />

tecnologias, optimizando desta forma os<br />

sistemas existentes e consequentemente reduzem<br />

a duplicação da tecnologia, permitindo ao longo do<br />

tempo, e quando necessário, o mais fácil “upgrade”<br />

dos mesmos.<br />

Estes sistemas permitem que o controlo de tiro<br />

seja feito a partir de uma única viatura, não necessitando<br />

de apear a respectiva guarnição, conferindo<br />

a possibilidade de a mesma executar fogos<br />

dentro da viatura.<br />

Nº 187 AGO09<br />

Fig. 6 – Sistema de Controlo de Tiro para Morteiros Pesados<br />

Um outro aspecto muito importante prende-se<br />

com a blindagem, tendo em conta a protecção ne-<br />

mente<br />

onde proliferam todo o tipo de ataques, quer<br />

sejam com recurso às Armas Anticarro (AACar) ou<br />

a quaisquer outro tipo de explosivos.<br />

Para que se tenha uma noção mais exacta uma<br />

viatura blindada, por mais blindada que seja, nunca<br />

é totalmente invulnerável.<br />

Para tal, o mercado oferece um leque muito B<br />

Fig. 7 – Viatura M113 A3 com blindagem tipo “Gaiola”<br />

variado de blindagens, que vão desde as blindagens<br />

compostas, em aço, alumínio, titanium, do tipo<br />

“Ceramic-faced” e “sanduíche” às do tipo “gaiola”.<br />

Como corolário da investigação efectuada e<br />

atendendo à questão central e respectivas questões<br />

derivadas, procurou-se ao longo deste parecer<br />

técnico dar resposta às mesmas, procurando<br />

da mesma forma a solução para cada uma delas.<br />

O <strong>Exército</strong> Português continua a considerar<br />

nização<br />

e actualização das unidades das FOPE.<br />

O conjunto de projectos desencadeados, durante<br />

2008/2009, provam exactamente esta preocupação.<br />

No entanto, sabemos que os mesmos têm<br />

custos associados muito elevados mas, necessário.<br />

O actual ambiente operacional, assim como as<br />

condicionantes operacionais decorrentes do mes-<br />

bilidade,<br />

fazendo com que as forças mecanizadas<br />

se adaptem às constantes variações do mesmo,<br />

<br />

para cumprirem as missões que lhes forem<br />

<br />

As propostas efectuados neste mesmo<br />

parecer, foram fundamentadas com a análise<br />

das condicionantes operacionais do combate<br />

moderno e na análise das forças mecanizadas<br />

de outros países que actualmente se debatem<br />

com o mesmo problema.<br />

No entanto, deverá ser equacionado se<br />

alização<br />

e modernização das viaturas M113<br />

não serão demasiado onerosos obrigando a levantar<br />

a hipótese de aquisição de novas viaturas<br />

dições<br />

necessárias que as nossas forças mecani-<br />

tes<br />

a um campo de batalha difuso onde a ameaça<br />

faz uso de técnicas, tácticas e procedimentos (TTP)<br />

difíceis de combater.<br />

O actual modelo preconizado para os nossos<br />

BIMec, não é adequado às operações em “Full<br />

Spectrum” 14 S , muito menos conseguirá cumprir com<br />

o<br />

conjunto variado de capacidades requeridas e<br />

<br />

<br />

ccom<br />

os CC LEOPARD II A6.<br />

Assim, modernizar e tornar mais aptas as via-<br />

tu turas M113 é uma exigência da necessidade<br />

<strong>Azimute</strong><br />

ooperacional.<br />

Staff Officer/Ops Div<br />

no<br />

JALLC/ACT (Monsanto)<br />

14 Operações em todo o espectro (FM 3-0 Operations – FEB08)


As Armas Anticarro num contexto de evolução<br />

Desde sempre as Forças Armadas têm feito um<br />

esforço de adaptação aos novos contextos de segurança,<br />

e o <strong>Exército</strong> Português não é excepção.<br />

O empenhamento do <strong>Exército</strong>, na última década e<br />

meia, em diversos Teatros de Operações, alguns<br />

deles a milhares de quilómetros de Portugal obrigaram<br />

à necessária mudança.<br />

Nesses teatros os militares portugueses são<br />

confrontados com ameaças multifacetadas, rea-<br />

<br />

em contacto com novas tecnologias. Todos estes<br />

factores têm obrigado a mudanças, que vão da formação<br />

dos seus recursos humanos, a novas estruturas<br />

organizacionais, novos equipamentos e<br />

novos métodos de treino, passando pela doutrina<br />

de emprego das unidades.<br />

A 15 de Maio de 2008, realizou-se uma reunião<br />

de trabalho na DPF/EME (Divisão de Planeamento<br />

cou<br />

estabelecido a responsabilidade da EPI<br />

<br />

Coordenador de Área de Reequipamento) para as<br />

Armas Anticarro (AACar) a equipar num futuro próximo<br />

as Unidades de Infantaria.<br />

Neste sentido, a 02 de Outubro de 2008<br />

constituiu-se um GT (Grupo de Trabalho), envolvendo<br />

representantes da EPI, BrigMec (Brigada<br />

Mecanizada), BrigInt (Brigada de Intervenção),<br />

BRR (Brigada de Reacção Rápida) e CTC (Centro<br />

de Tropas Comando), dentro da área técnica em<br />

apreço - AACar.<br />

dar,<br />

analisar e propor o reequipamento da Infantaria<br />

no respeitante às AACar e o seu correspondente<br />

são<br />

da actual LPM (Lei de Programação Militar),<br />

nomeadamente:<br />

Ponto de Situação em relação aos<br />

equipamentos;<br />

Necessidades para cada sistema/subsistema<br />

de AACar;<br />

Capacidades requeridas para cada sistema e<br />

respectivo emprego táctico;<br />

Requisitos operacionais;<br />

Custos envolvidos;<br />

Calendarização em termos de aquisição para<br />

cada sistema.<br />

Maj Inf Rodrigues Dias<br />

Tendo por base o anteriormente referido, o<br />

Objectivo do Projecto visava o reequipamento e<br />

modernização das unidades da Força Operacional<br />

Permanente do <strong>Exército</strong> (FOPE), no respeitante às<br />

AAcar, tendo em vista assegurar os meios necessários<br />

à sua prontidão, segundo um conjunto de<br />

Capacidades e Requisitos Operacionais que lhe<br />

permitam actuar em todo o espectro das operações<br />

militares, no cumprimento de missões e tarefas<br />

de interesse nacional ou no âmbito das Missões<br />

<br />

meios necessários à prontidão de forças, através<br />

da materialização de capacidades militares necessárias<br />

para actuar em qualquer parte do Espaço<br />

Estratégico de Interesse Nacional (EEIN) tendo em<br />

conta os compromissos assumidos com as organizações<br />

do qual Portugal faz parte.<br />

Para tal, o GT orientou os seus estudos tendo<br />

em conta o Plano Médio e Longo Prazo (PMLP)<br />

conjugado com as Fichas de Proposta de Força/<br />

Medidas (EC – <strong>Exército</strong> Capacidade) e as Force<br />

Proposal 2008, Blue Book, ACT (Allied Command<br />

Transformation), Staff Element Europe.<br />

Após ter sido efectuado o ponto de situação relativo<br />

às AACar que equipam as Subunidades das<br />

diferentes Brigadas, chegou-se à conclusão que os<br />

equipamentos/tecnologias existentes se encontram<br />

obsoletos e completamente desajustados da realidade<br />

bem como, pelo facto de existirem diferentes<br />

sistemas de armas, desde mísseis a canhões, de<br />

<br />

manutenção, actualização de software e hardware,<br />

aquisição de munições, deixando que os equipamentos<br />

entrassem no conceito de “descontinuado”.<br />

A título de exemplo este OCAR chegou à conclusão<br />

que o Canhão (Cnh) de 30mm, que irá equipar<br />

as viaturas VBR (Viaturas Blindadas de Rodas)<br />

com destino às SecACar (Secções Anticarro) do<br />

PelAp (Pelotão de Apoio) das CAt (Companhia de<br />

Atiradores), e de acordo com os dados técnicos recolhidos<br />

sobre o Cnh 30 mm, os mesmos indicam<br />

que esta arma se destina a apoiar com fogos directos,<br />

à defesa anti-aérea e ao reconhecimento de<br />

combate, não referindo explicitamente a luta anticarro.<br />

Desta forma o GT colocou algumas dúvidas<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

65


AZIMUTE<br />

66<br />

quanto à capacidade de penetração/destruição<br />

do seu projéctil sobre VBR e Carros de Combate.<br />

Para complementar as capacidades do Cnh 30 mm<br />

fez-se uma proposta no sentido de incluir futuramente<br />

um SLM (Sistema de Lança-Míssil) do tipo<br />

MR (Medium Range), acoplado na torre da viatura,<br />

à semelhança das viaturas que irão equipar<br />

as Unidades de Fuzileiros Portuguesas. A título<br />

de exemplo, as viaturas que equipam o exército<br />

da Republica Checa possuem para além do Cnh<br />

<br />

Outro exemplo, prende-se com a actual situação<br />

do SLM MILAN que equipa algumas das nossas<br />

unidades da FOPE, que se encontra completamente<br />

desactualizado não podendo o mesmo sofrer as<br />

necessárias actualizações pois, já se encontra na<br />

situação de “descontinuado”.<br />

Tendo em conta que a probabilidade de empre-<br />

-<br />

<br />

a Operações de Resposta a Crises (CRO), torna-se<br />

urgente dotar estas unidades de sistemas e subsistemas<br />

de AACar modernos, de forma a colmatarem<br />

as limitações/problemas levantados relativamente<br />

ao ponto de situação actual dos equipamentos desta<br />

natureza.<br />

De forma a consubstanciar o anteriormente<br />

referido, as AACar deverão ser encaradas como<br />

um factor multiplicador do Potencial Relativo de<br />

Combate (PRC), garantindo desta forma uma<br />

Capacidade efectiva de Aplicação de Força em<br />

<br />

Neste contexto, a aquisição de novos equipamentos<br />

e correspondente modernização dos exis-<br />

Capacidade de<br />

Intervenção, Capacidade de Reacção Rápida e<br />

Capacidade Mecanizada.<br />

É certo que a aquisição de novos equipamentos<br />

e modernização dos existentes deverá ser efectuada<br />

de forma faseada no âmbito da revisão da Lei<br />

de Programação Militar (LPM), tendo em conta os<br />

compromissos assumidos em sede do Force Goal<br />

Cycle 2008 (FGC 2008).<br />

Nº 187 AGO09<br />

Fig 1 - Pandur-II A/IFV<br />

No entanto, todo este processo<br />

xibilidade<br />

x às unidades AntiCarro<br />

(ACar), (A orgânicas da Infantaria, facilidade<br />

c de montagem, utilização,<br />

transporte, tr e acima de tudo, permitir<br />

m a interoperabilidade com diferentes<br />

re viaturas e garantir a capacidade<br />

d de C4I (Command, Control,<br />

Communications, C<br />

Computers, and<br />

Intelligence).<br />

In<br />

ma<br />

m geral, ainda que resumidamente,<br />

te o conceito geral de emprego das<br />

AACar: A<br />

Os sistemas de AACar de Infantaria<br />

disponíveis deverão ser capazes de<br />

providenciar fogos ACar (longa, média e curta<br />

distância) contra forças blindadas e alvos<br />

<br />

em apoio à manobra das forças de Infantaria,<br />

Carros de combate (CC) e Auto-Metralhadoras<br />

(AM).<br />

Em termos de Capacidade Ofensiva, uma<br />

unidade ACar providencia inicialmente, no<br />

xar<br />

ou destruir posições inimigas. As unidades<br />

ACar devem também ser empregues para<br />

empenhar unidades blindadas em Áreas de<br />

Empenhamento (AE) planeadas, para isolar<br />

objectivos e destruir o inimigo e/ou ameaça em<br />

possíveis contra-ataques, ou destruí-lo em retirada.<br />

Estas unidades são também adequadas<br />

<br />

com a consequente destruição ou para repelir<br />

<br />

Em termos de Capacidade Defensiva, as unidades<br />

ACar podem ser posicionadas, no sector<br />

defensivo, bem à frente para participarem<br />

em operações de segurança, em operações<br />

de reconhecimento ou cobrir obstáculos com<br />

os seus fogos. Terão de ser capazes de cana-<br />

<br />

facilitar a destruição das mesmas. As unidades<br />

ACar podem ser posicionadas em toda a profundidade<br />

do sector de forma a baterem com<br />

os seus fogos os Eixos de Aproximação (EA)<br />

mais prováveis para forças blindadas. Durante<br />

o contra-ataque terão que ser capazes de executar<br />

fogos ACar em apoio aos elementos de<br />

manobra.<br />

Como Capacidades Adicionais, dependendo<br />

do tipo de armamento as unidades ACar<br />

deverão ser capazes de integrar os seus fogos<br />

garantindo as mesmas capacidades de<br />

<br />

permitir que os diferentes sistemas ACar se<br />

adaptem rapidamente às mudanças resultantes<br />

dos factores de decisão MITM-TC (Missão,


Inimigo, Terreno, Meios, Tempo disponível e<br />

Considerações de natureza civil), ou seja, garantir<br />

uma Capacidade efectiva de Aplicação<br />

de Força tegração<br />

dos diferentes sistemas deverá continuar<br />

a permitir a destruição de veículos blinda-<br />

<br />

qualquer dos sistemas deverá ter a capacidade<br />

para executar fogos em viatura e no solo.<br />

Em resumo, tendo em conta o anteriormente<br />

exposto, as AACar, em termos de capacidades<br />

genéricas, letalidade, sobrevivência e sustentabilidade<br />

devem garantir:<br />

Elevada probabilidade de bater alvos (consequente<br />

redução de custos);<br />

Elevada probabilidade de destruir um alvo<br />

<br />

Cadência de fogo;<br />

Sustentação dos fogos;<br />

Sobrevivência das armas e das unidades.<br />

Desta forma, e decorrente do acima referido, foi<br />

produzida uma lista de capacidades e requisitos<br />

operacionais por alcances (curto, médio e longo).<br />

Como corolário de tudo o que foi referido até ao<br />

nização<br />

não se prevêem alterações substanciais, a<br />

aquisição de novos equipamentos e a modernização<br />

dos existentes previsivelmente não provocará<br />

<br />

no que concerne ao conceito de emprego destas<br />

armas. O mesmo não poderá ser dito ao nível do<br />

treino operacional, equipamentos complementares<br />

e sustentação dos mesmos. No entanto, nos casos<br />

da BrigInt e da BrigMec, a nova organização e estrutura<br />

das suas unidades, em particular daquelas<br />

que irão possuir AAcar, obrigaram a uma reformulação<br />

da táctica de emprego deste tipo de unidades,<br />

nomeadamente com a introdução do Can 30 mm e<br />

de um SLM MR (Sistema de Lança Míssil Medium<br />

Range), e na possibilidade das viaturas da família<br />

M113 A2, receberem um canhão de 30mm.<br />

Por outro lado, as necessidades em AACar irão<br />

obrigar a um reajustamento no compartimento de<br />

carga das VBR PANDUR II e à colocação de dispositivos<br />

que permitam posicionar/armazenar os SLM<br />

e os mísseis/ munições no interior do mesmo, bem<br />

como em arrecadação.<br />

A aquisição de equipamentos tecnologicamente<br />

evoluídos a todos os níveis, desde a sua constituição<br />

até ao seu sistema de armas, exige o levantamento<br />

de novos conceitos de formação e treino,<br />

-<br />

<br />

todo o processo de sustentação.<br />

Ainda sobre o parágrafo anterior, importa realçar<br />

a necessidade de aquisição de sistemas de simulação<br />

e treino dos apontadores em sala e em<br />

campanha.<br />

Outro aspecto de extrema importância e que<br />

foi observado pela GT é a interoperabilidade, sendo<br />

fundamental que o <strong>Exército</strong> Português cumpra<br />

os critérios de convergência no plano do emprego<br />

de forças militares no âmbito da Organização do<br />

Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que actualmente<br />

são baseados em operações combinadas e/ou<br />

conjuntas. Deste conceito surge o imperativo de interoperabilidade<br />

de forças, onde os novos equipamentos<br />

têm um papel fulcral, requisito fundamental<br />

para a condução de variadíssimas actividades baseado<br />

no novo espectro de operações.<br />

No que respeita à sustentação é previsível que<br />

surjam necessidades de sobressalentes ou de manutenção<br />

programada dos SLM. Por outro lado,<br />

importa destacar que as AACar deverão sofrer nos<br />

anos mais próximos contínuas transformações,<br />

com a introdução de novas tecnologias, novos sistemas<br />

de aquisição de objectivos, factores estes<br />

que tornarão os nossos equipamentos ACar obsoletos,<br />

não estando assim garantida a completa operacionalidade<br />

dos mesmos.<br />

Como facilmente se poderá depreender, o processo<br />

de reequipamento visa, basicamente, a atribuição<br />

dos meios materiais indispensáveis para<br />

que o <strong>Exército</strong>, e neste caso particular as unidades<br />

da FOPE cumpram as missões que lhes estão atribuídas,<br />

prioritizando, naturalmente, a supressão ou<br />

<br />

durante este processo de estudo.<br />

<br />

traçar linhas orientadoras para cada uma das unidades<br />

da FOPE tendo sempre em mente uma clara<br />

sinergia de esforços no que concerne à modernização<br />

e aquisição de novas AACar. A existência de<br />

linhas orientadoras, o tratamento integrado de todo<br />

o processo de modernização e aquisição e o seu<br />

enquadramento numa perspectiva de longo prazo,<br />

abrangendo todo o ciclo de vida do material, são<br />

elementos indispensáveis para uma correcta ponderação<br />

das opções de reequipamento.<br />

Daqui se poderá inferir que a actualização dos<br />

equipamentos a adquirir bem como a modernização<br />

dos existentes deverá ser alvo de um constante<br />

<strong>Azimute</strong><br />

acompanhamento.<br />

Staff Officer/Ops Div<br />

no<br />

JALLC/ACT (Monsanto)<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

67


AZIMUTE<br />

68<br />

Nº 187 AGO09<br />

O Morteiro<br />

Fundamental no Passado, Decisivo no Futuro<br />

1.Uma arma antiga reinventada<br />

A ideia de permanecer seguro enquanto se ataca<br />

à distância tem sido a génese para o fabrico e<br />

consequente utilização de armamento.<br />

A utilização dos morteiros remonta ao Séc XIV<br />

(logo após a invenção da Pólvora), tendo sido a<br />

bombarda (Pumhart Von Steyr 1 ) a sua antecessora,<br />

que não era mais<br />

do que uma chapa de<br />

aço forjada em forma<br />

de tubo e reforçada<br />

com cintas metálicas.<br />

Desde o séc XVIII<br />

até ao início do Séc<br />

XX, os morteiros,<br />

tacticamente concebidos<br />

para operações<br />

de cerco, eram<br />

caracterizados por<br />

elevados calibres e<br />

pesos, podendo ir até<br />

calibres de 915mm<br />

(Mallet’s Mortar).<br />

Fig 1. Bombarda Pumhart Von Steyr<br />

No início do Séc XX, e com o eclodir da Iª Guerra<br />

Mundial, novas necessidades de emprego táctico<br />

eram exigidas ao armamento. Vários foram os<br />

esforços de diversas nações (Reino Unido, Alemanha<br />

e Estados Unidos da América), em reduzir o<br />

peso destas armas, bem como adequá-las às reais<br />

necessidades do combate. Era para isso vital,<br />

reduzir-lhes o peso, aumentar a mobilidade e diminuir<br />

consequentemente a carga logística para as<br />

forças.<br />

Os primeiros passos foram dados pelos alemães.<br />

Enquanto observadores, e após as lições re-<br />

tiradas da Guerra Russo-Japonesa (1904 – 1905),<br />

anteviram a necessidade de aapoiar<br />

o combate na<br />

“trincheira”. “trin Entre 1908<br />

e 1909, conceberam<br />

então ent um morteiro designado<br />

sign “Minenwerfer”,<br />

especialmente esp<br />

conce-<br />

bido para a “Guerra<br />

de Trincheira”, atingido<br />

Fig.2 – Morteiro “Minenwerfer<br />

alvos, alvo que não podiam<br />

ser batidos pela Artilharia.<br />

Este morteiro, entrou pela primeira vez em combate,<br />

na França, mais precisamente na Batalha de<br />

Neuve Chapelle, em Outubro de 1914, tendo obtido<br />

1 Bombarda capaz de lançar a 600m uma bola de pedra de 690Kg utilizando 15Kg<br />

de pólvora e uma elevação até 10º.<br />

Cap Inf Rafael Lopes<br />

excelentes resultados para a época, o que provocou<br />

que estes morteiros passassem a ser produzidos<br />

em massa.<br />

Em Janeiro de 1915, Sir Wilfred Stokes2 , inspirando-se<br />

numa arma desenvolvida no séc XVII<br />

pelo Baron Menno van Coehoorn3 , criou o “Stokes<br />

Mortar”. Este morteiro rapidamente se tornou refe-<br />

rê rência e foram inicialmente produzidas 1000 armas<br />

(A (Agosto de 1915) e mais tarde 304 (4º Trimestre de<br />

11915),<br />

das quais 200 foram servir em escolas de<br />

fo formação. ação.<br />

Fig.3 – Stoke Mortar<br />

Este morteiro de concepção bastante simples,<br />

não era mais do que um tubo assente num prato<br />

base e apoiado por um bipé. Os projécteis, disparados<br />

por esta nova arma (ou reinventada), de ferro<br />

fundido, tinham como princípio de funcionamento o<br />

actual sistema, ou seja, a granada, com as cargas<br />

adequadas ao alcance desejável, era introduzida<br />

na boca do cano, e deslizava sobre ele em virtude<br />

do seu peso e do seu calibre ligeiramente inferior<br />

ao do tubo. A granada, ao deslizar ao longo da alma<br />

do tubo, vai de encontro ao percutor, o que provoca<br />

a detonação da cápsula fulminante e origina a<br />

nientes<br />

da combustão das cargas, expandem-se e<br />

colidindo com a base da granada provocam a saída<br />

desta à boca da arma.<br />

Outros modelos se seguiram, e outros países,<br />

especialmente a França, também produziram a<br />

2 Sir Wilfred Stokes, foi o inventor do Stokes Mortar, principal morteiro utilizado<br />

pelos britânicos na Iª GM.<br />

3 Engenheiro militar holandês, líder oficial nas forças de William III (rei da<br />

Inglaterra, depois de 1689), que fez um sem número de inovações em matéria de<br />

armamento e de técnicas de guerra de cerco. O Morteiro Coehoorn, de cano curto<br />

e antecarga, conseguia grandes trajectórias e alcances máximos de 275 metros<br />

com uma elevação de 45º


sua própria versão da arma. Durante a Iª GM, os<br />

Estados Unidos da América, França e Itália utilizaram<br />

a versão Francesa “Brandt” do Morteiro, e os<br />

Alemães, Ingleses e Japoneses adoptaram a tecnologia<br />

“Stokes”.<br />

Durante a IIª GM, e desde os primeiros combates<br />

de 1939, até aos últimos momentos desesperantes<br />

ram<br />

parte integrante da frente de combate, sendo<br />

um aliado de vital importância para os Infantes.<br />

2. Importância dos Morteiros<br />

As unidades de morteiros existentes apenas até<br />

ao nível Batalhão e portanto originalmente direccionada<br />

para o apoio a este, constituem-se com um<br />

meio orgânico fundamental de apoio de fogos indirectos,<br />

aos comandantes das unidades de manobra.<br />

A sua elevada cadência de tiro aliada à sua<br />

capacidade única de bater ângulos<br />

mortos, resultado das altas trajectórias<br />

de tiro que pode conseguir, bem<br />

como os alcances mínimos possíveis<br />

faz dos morteiros um elemento<br />

fundamental de apoio ao conceito<br />

operacional dos comandantes das<br />

unidades de manobra.<br />

3. O Futuro<br />

As características actuais do<br />

moderno campo de batalha, assente<br />

no novo ambiente operacional e<br />

a própria conjuntura internacional,<br />

impõe para além das restrições<br />

orçamentais próprias de cada nação,<br />

restrições ao nível do emprego táctico<br />

do armamento. Por outro lado, a<br />

<br />

vez mais gerações de armamento e equipamento<br />

de emprego cirúrgico, não só em termos de localização,<br />

mas também ao nível dos efeitos desejados<br />

no objectivo.<br />

A execução de fogo de morteiros para bater<br />

objectivos de área, em áreas abertas, recorrendo<br />

a granadas de Alto Explosivo, executando salvas<br />

em elevados regimes de tiro para suprimir pessoal<br />

Fig.4 –Dispersão do tiro de morteiro<br />

abrigado, é passado. Hoje e amanhã, o fogo de<br />

morteiros passa por bater objectivos precisos e<br />

localizados, utilizando poucas munições e “inteligentes”,<br />

diminuindo os danos colaterais.<br />

As exigências do combate urbano, centram-se<br />

objectivamente em dois pilares fundamentais, o<br />

Soldado e o Armamento. Para o presente artigo,<br />

ir-nos-emos focar apenas no Armamento.<br />

Para o cumprimento da sua função as unidades<br />

de morteiros, têm diversas áreas que poderão e<br />

deverão ser automatizadas, são elas: Armamento,<br />

Aquisição e Processamento de informações do<br />

Objectivo, Controlo de Trajéctoria, Desenvolvimento<br />

de Sistemas de C2, Munições, Diminuir a carga<br />

logística, Utilização de sistemas de simulação<br />

<br />

Fig.5 – O Futuro do sistema de armas - Morteiro<br />

a. Armamento<br />

O Morteiro, como arma do sistema de apoio<br />

de fogos de uma unidade, deve necessariamente<br />

acompanhar as exigências tácticas<br />

que vão sendo colocadas pelas unidades de<br />

manobra. Para responder as estas exigências<br />

tácticas, devem as unidades de morteiros, ter<br />

capacidade de:<br />

<br />

Quais os efeitos desejados no objectivo –<br />

Supressão, neutralização, destruição;<br />

Qual o alcance máximo e mínimo da arma?<br />

Qual o regime de tiro?<br />

Que tipo de munições pode a arma utilizar?<br />

Guarnição para operar a arma?<br />

Qual o sistema de controlo de tiro?<br />

Compatibilidade e interoperabilidade com<br />

outros sistemas?<br />

Mobilidade (Apeado, MecanHizado ou<br />

Motorizado)<br />

Qual o tempo de entrada em posição?<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

69


AZIMUTE<br />

70<br />

b. b Aquisição A i i ã e PProcessamento t dde iinfor f<br />

mações do objectivo<br />

Actualmente a aquisição e Processamento<br />

de informações do objectivo pode ser<br />

obtida com recurso a Observadores Avançados,<br />

Radares de contra-bateria, Reconhecimento<br />

e Unmanned Aerial Vehicules<br />

(UAV’s). Estes sistemas como pontos<br />

de recolha de informações, catapultam<br />

a informação para diversos sistemas de<br />

processamento. Assim que a informação<br />

é obtida e após ser processada deve ser<br />

imediatamente disponibilizada aos intervenientes<br />

do Sistema de apoio de fogos.<br />

Hoje, sem um sistema comum de apoio de<br />

fogos, capaz de receber, analisar e difundir<br />

todas as informações, o cumprimento<br />

da missão das unidades de morteiros é<br />

<br />

c. Controlo de trajectória<br />

A necessidade cada vez mais premente<br />

de um controlo efectivo da trajectória de<br />

uma granada, desde a origem de tiro até<br />

ao ponto de queda decorre de uma das<br />

características do moderno campo de<br />

batalha – presença de civis. Nesse sentido<br />

o controlo de danos deve ser uma<br />

preocupação permanente quando se faz<br />

uso da força.<br />

Muitas têm sido as evoluções, tendo em<br />

vista dotar os sistemas de apoio de fogos<br />

com dispositivos que permitam implementar<br />

um controlo permanente da trajectória<br />

da granada. As granadas PGMM 4 ,<br />

permitem ao comandante táctico dispor<br />

de capacidade cirúrgica de bater alvos,<br />

4 Precision Guided Mortar Munition<br />

Nº 187 AGO09<br />

Fig.6 – Requisitos de Capacidades dos morteiros<br />

mantendo as mesmas dimensões de granadas<br />

standard utilizadas pelas actuais<br />

armas<br />

Esta granada utiliza um laser semi-ativo<br />

de alinhamento que é activado na fase<br />

<br />

objectivo (Fig5).<br />

d. Desenvolvimento de sistemas C2<br />

As características exigidas às forças que<br />

actualmente são empregues nos diversos<br />

teatros de operações, implica que,<br />

seja disponibilizada através do Sistema<br />

de Comando, Controlo, Comunicações,<br />

Computadores, Informações, Vigilância<br />

e Reconhecimento (C4ISR) a Common<br />

Operational Picture (COP). O <strong>Exército</strong><br />

tem já à sua disposição, um sistema de<br />

gestão da informação (AFATDS - Advan-<br />

).<br />

Outro sistema, consubstanciado no programa<br />

de aquisições da viatura PANDUR,<br />

é a Estação de Controlo de Tiro BEACON,<br />

da empresa ELBIT SYSTEMS, de Israel.<br />

Este sistema, concebido para computorizar<br />

e automatizar todos os procedimentos<br />

executados no Posto de Controle de<br />

Tiro, sendo interoperável com o sistema<br />

AFATDS, será certamente uma mais valia<br />

para a partilha permanente da COP entre<br />

os diversos escalões de comando.<br />

e. Munições e Espoletas<br />

O desenvolvimento da tecnologia inerente<br />

à utilização de granadas de morteiros e<br />

espoletas, assenta em quatro vectores<br />

de abordagem fundamentais, são eles:<br />

Precisão, Letalidade, carga logística e<br />

maneabilidade. Hoje, o número de granadas<br />

existentes é diversa, no entanto, nem<br />

todos os morteiros têm as características<br />

para as utilizarem. Dando como exemplo<br />

o Sistema Autónomo de tiro de Morteiro<br />

120mm que irá equipar a PANDUR, pode<br />

utilizar 3 tipos de munições: HE (normal<br />

e Longo Alcance), Fumos (normal e longo<br />

alcance) e iluminação (normal e longo<br />

alcance)5.<br />

Muitos têm sido os desenvolvimentos<br />

nesta área, tendo em vista aprimorar<br />

os 4 vectores anteriormente referidos,<br />

5 Informação retirada do manual de utilização do sistema<br />

autónomo de tiro de morteiro 120mm SOLTAM, da ELBYT<br />

SYSTEMS. Por uma questão de síntese vamos focar o objecto<br />

do artigo, no que a munições diz respeito no Morteiro 120mm


nomeadamente, no que diz respeito aos<br />

2 primeiros (Precisão e Letalidade), sem<br />

nunca esquecer os outros 2. A aposta,<br />

no desenvolvimento de munições insensíveis,<br />

tendo em vista diminuir os acidentes<br />

com munições militares desde a produção<br />

até à utilização6, tem sido o projecto<br />

pioneiro, e permite garantir às forças o<br />

seguinte:<br />

Diminuir a vulnerabilidade das plataformas<br />

de combate;<br />

Diminuição de custos associados;<br />

Aumento da performance dos sistemas de<br />

tiro;<br />

Assegurar total segurança a pessoal e<br />

material.<br />

f. Instrução e Treino<br />

Os custos e riscos associados à execução<br />

de tiro de morteiros, na fase de formação<br />

dos militares e posteriormente na<br />

fase do treino orientado e treino operacional,<br />

são extremamente<br />

elevados, ,<br />

pelo que, é funda-<br />

mental permitir de e<br />

base aos militares, ,<br />

automatizar pro-<br />

cedimentos de tiro o<br />

antes de a execu-<br />

ção de tiro real. A<br />

simulação é hoje e<br />

uma realidade, ,<br />

uma possibilidade e<br />

e certamente um m<br />

caminho prioritário o<br />

<br />

técnico-táctica do soldado e da sua unidade.<br />

Existem já sistemas que permitem a<br />

simulação de todo o sistema de comando,<br />

controlo e execução de tiro, nomeadamente<br />

no Reino Unido o Phoenix artillery<br />

and mortar trainer e nos Estados Unidos o<br />

(CFFT).<br />

4. Conclusões<br />

A nova tipologia de operações militares apresenta<br />

hoje um corte com uma organização tradicional<br />

do sistema de forças, única e exclusivamente<br />

orientada para o cumprimento de missões de guerra<br />

pelo que, a força militar da actualidade, a par<br />

das ditas operações clássicas, de carácter ofensivo<br />

e defensivo, deverá reunir capacidades que lhe<br />

6 13 Incidentes relatados entre Julho e Agosto de 2003<br />

Fig.7 Transporte de munições de AT 4 (Forças Holandesas no Afeganistão)<br />

permitam actuar e desenvolver operações em torno<br />

de um largo espectro de operações militares trabalhando,<br />

se necessário, numa óptica conjunta e/ou<br />

combinada.<br />

Esta realidade preconiza um “campo de batalha”<br />

em que os sistemas operativos de informação<br />

e forças terão que ser sustentados numa óptica<br />

transnacional, e em que o quadro de ameaças à<br />

segurança, para além de exigirem uma actuação<br />

da componente militar pela antecipação, exigem<br />

uma complexidade crescente de capacidades.<br />

Ou seja, no que aos Morteiros respeita, será<br />

exigida:<br />

Adaptação às Tecnologias de Informação<br />

pois a superioridade nesse domínio proporciona<br />

ao sistema em si uma vantagem competitiva<br />

que se materializa numa capacidade<br />

de reacção oportuna e adequada;<br />

Formação técnica dos operadores do sistema<br />

porque a diversidade de operações<br />

militares e os novos requisitos tecnológicos<br />

passam pa a impor uma nova dinâmica<br />

nâ ao nível da componen-<br />

te humana, exigindo adaptabilidade,<br />

da inovação, discernimento<br />

e conhecimento multifuncional;<br />

Interoperabilidade dos sisemas<br />

em de armas pois só esta<br />

linha lin de acção norteia toda a<br />

estratégia es de uma força conjunta<br />

jun nacional ou multinacional<br />

(combinada);<br />

(c<br />

Letalidade pois a complementaridade<br />

m dos factores fogo,<br />

manobra, m protecção comando<br />

e econtrolo controlo, conti continuam a ser as chaves para o<br />

<strong>Azimute</strong><br />

sucesso nas operações militares.<br />

<br />

Manual de Morteiros, Escola Prática de Infantaria,<br />

2008;<br />

Norris, John, Infantry Mortars of World War II, 2002;<br />

Kalberer, James, Apresentação em Power Point de<br />

PGMM Case Study, 2007;<br />

Internet:<br />

http://www.cannonsuperstore.com/mortars.htm, acedido<br />

em 23 Junho de 2009, 09h35;<br />

http://www.scribd.com/doc/7026422/Weapons-of-<br />

War, acedido em 23 Junho de 2009, 09h35;<br />

<br />

acedido em 23 Junho de 2009, 12h00;<br />

<br />

em 24 Junho de 2009, 12h20;<br />

http://defense-update.com/products/x/xm395.htm,<br />

acedido em 25 Junho de 2009, 12h20;<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

71


AZIMUTE<br />

72<br />

A vontade e a necessidade de dar a conhecer,<br />

a audiências cada vez mais vastas, as notícias que<br />

diariamente se passam no nosso mundo, tem-se<br />

constituído num imperativo cuja origem é difícil de<br />

determinar. Foi, no entanto, na Guerra da Crimeia,<br />

-<br />

<br />

guerra.<br />

ciando<br />

tantas vezes o rumo dos acontecimentos,<br />

tornou-se incontornável e tem levado a que os jor-<br />

<br />

<br />

onde a instabilidade, a insegurança, a ausência de<br />

ordem e regras, exige o conhecimento de técnicas<br />

e procedimentos para minimizar esse factor tão<br />

aleatório quanto imprevisível e sempre presente: o<br />

risco.<br />

Sentindo a necessidade de proteger os seus<br />

<br />

<br />

as audiências exigem conhecer cada vez mais e<br />

com a maior rapidez possível, a Rádio Televisão<br />

Portuguesa (RTP) estabeleceu um protocolo com<br />

o <strong>Exército</strong> Português no sentido de formar adequa-<br />

<br />

O modelo encontrado para cada acção de formação,<br />

que tem evoluído ao longo dos anos, resulta<br />

de reuniões de coordenação entre o Centro de<br />

Formação da RTP, o Gabinete do Chefe do Estado-<br />

Maior do <strong>Exército</strong> e a Escola Prática de Infantaria<br />

(EPI). A EPI tem-se constituído como entidade coordenadora,<br />

essencialmente devido ao facto das<br />

acções de formação decorrerem na Tapada Militar.<br />

No entanto, é importante realçar que grande parte<br />

das capacidades do <strong>Exército</strong> têm sido aplicadas e<br />

demonstradas nestas acções de formação e não<br />

seria possível um curso tão completo e interessante<br />

se não estivessem aplicadas as sinergias das<br />

unidades representadas vindas da componente<br />

operacional e da estrutura de base do exército.<br />

Este ano a formação decorreu em três fases.<br />

Uma primeira fase com uma acção de formação<br />

em Media Training, em Mafra; uma segunda constituída<br />

por um workshop na Tapada Militar; e uma<br />

terceira fase constituída por uma palestra sobre<br />

Nº 187 AGO09<br />

<br />

terrorismo nas instalações da RTP.<br />

TCor Sebastião Macedo<br />

1. Acção de formação em Media Training<br />

em Mafra<br />

Esta acção de formação em Media Training des-<br />

taram<br />

o Curso de Promoção a Capitão de Infantaria<br />

2009 (CPCI 09). O objectivo foi, através de formação<br />

teórica e prática em frente às câmaras de te-<br />

<br />

com os órgãos de comunicação social, aperfeiçoando<br />

a sua conduta quando solicitados a intervir<br />

em situações de reportagem ou noticiário, através<br />

da entrevista directa ou gravação. Os conteúdos<br />

nais<br />

destacados para o efeito pela RTP, abordaram<br />

a atitude em frente às câmaras, a imagem, a voz,<br />

passando pelo vestuário e formas verbais.<br />

Os ensinamentos transmitidos, essencialmente<br />

práticos, impõem-se como fundamentais para<br />

os militares do <strong>Exército</strong>, que cada vez mais são<br />

chamados a desempenhar missões externas (mas<br />

também em território nacional), com a consequente<br />

maior probabilidade de ter que falar para as câmaras<br />

de televisão. As futuras edições destas acções<br />

de formação em Media Training poderão ser a um<br />

são<br />

manifestada pelos futuros capitães.<br />

2. Workshop para Jornalistas<br />

Esta acção de formação foi planeada, organizada,<br />

e conduzida pela EPI em coordenação<br />

com a Direcção de Formação da RTP e contou<br />

com a presença de doze formandos/jornalistas da<br />

Sessão de “Media Training”


RTP (Televisão e Rádio), do Jornal Público e da<br />

Agência Lusa. Participaram também na execução<br />

deste Workshop, os formandos do CPCI, militares<br />

da EPI, da Brigada Mecanizada e do Regimento<br />

de Lanceiros nº2 (Controlo de Tumultos e Equipa<br />

Cinotécnica).<br />

Neste tipo de workshop pretendeu-se apresentar<br />

um conjunto de capacidades do <strong>Exército</strong>, que<br />

envolvem a apresentação de engenhos explosivos,<br />

de procedimentos ppráticos a aplicar p nos deslocamentos,<br />

de ges-<br />

tão do stress, ,<br />

de técnicas de e<br />

sobrevivência, e<br />

onde também se e<br />

<br />

as diferentes s<br />

visões e per-<br />

cepções tidas s<br />

por militares e<br />

jornalistas.<br />

No caso o<br />

concreto deste e<br />

workshop, o ob-<br />

jectivo foi, atra-<br />

vés de formação o<br />

teórica e prática, ,<br />

cimentos<br />

práticos em situações embedded, nomeadamente<br />

na forma como a Imprensa, a Rádio e<br />

a Televisão actuam quando integrados em Forças<br />

<br />

Mafra, Maf a imprevisibilida<br />

prev<br />

de ddas<br />

situa-<br />

ções foi uma<br />

constante,<br />

con<br />

tendo tend os formandos<br />

man participado<br />

ticip integrados<br />

tegr em<br />

forças forç milita-<br />

res, a actuar<br />

<br />

<br />

proporcionando assim um treino realista e exigente,<br />

que permitiu a militares e jornalistas perceber<br />

-<br />

<br />

A execução de trabalhos jornalísticos na modalidade<br />

de embeded (em que o jornalista ou uma<br />

equipa de reportagem vive durante um período de<br />

tempo integrado dentro de uma força militar) é muito<br />

complexa e difícil. É nesta situação que se torna<br />

mais nítida a possibilidade de tensão entre os objectivos<br />

militares e jornalísticos, pois, por um lado,<br />

se o jornalista pretende colocar no ar a informação<br />

que recolhe o mais rapidamente possível, por outro<br />

lado, la laado<br />

quer por motivos de segurança das opera- operações<br />

çõ em curso ou futuras, quer por motivos da segurança<br />

g física da força e mesmo dos jornalistas,<br />

podem p existir restrições à divulgação das notícias.<br />

Se S por um lado o jornalista gostaria de localizar no<br />

tempo te e no espaço o seu trabalho (a sua notícia!),<br />

imagine-se im qual seria a sensação dos militares sabendo<br />

b que acabava de ser revelada a localização<br />

dessa d força, a sua missão actual ou futura…<br />

Foi neste sentido que a experiência entre militares<br />

re e jornalistas permitiu conhecer melhor e mutuamente<br />

m as suas deontologias e obrigações.<br />

3. Palestra sobre Terrorismo e visita às<br />

instalações da RTP<br />

Coube ao Centro de Tropas de Operações<br />

Especiais a responsabilidade de conduzir esta<br />

acção, com o objectivo de dar a conhecer a perspectiva<br />

do terrorismo à escala global, alertar para<br />

os perigos inerentes a estas acções no terreno, e<br />

<br />

nível internacional e nacional, tendentes a minorar<br />

esta ameaça.<br />

A acção de formação contou com a presença de<br />

vários jornalistas e repórteres do grupo RTP (rádio<br />

e televisão), da Agência Lusa e do Jornal Público,<br />

assim como dos alunos do CPCI09, que no âmbito<br />

da temática do relacionamento com os órgãos de<br />

comunicação social, realizou também uma visita às<br />

<strong>Azimute</strong><br />

instalações da RDP e da RTP.<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

73


AZIMUTE<br />

74<br />

Nº 187 AGO09<br />

Maneuver Captain’s Career Course<br />

Introdução<br />

O Maneuver Captain’s Career Course (MCCC),<br />

é um curso ministrado nos Estados Unidos da<br />

América (EUA), destinado aos jovens capitães<br />

e que se assemelha ao Curso de Promoção a<br />

Capitão de Infantaria (CPCI) português.<br />

Esta acção de formação tem como pólo de<br />

formação por excelência a Escola Prática de<br />

Infantaria Americana (Infantry School), situada em<br />

Fort Benning, Columbus, Geórgia, onde são ministrados<br />

quatro cursos por ano, com uma média de<br />

Alunos Internacionais - MCCC 02-08<br />

150 alunos por curso.<br />

O curso, conhecido do antecedente como<br />

Infantry Captains Career Course (ICCC), combina<br />

agora parte do programa de formação da componente<br />

dos carros de combate (CC) oriunda do<br />

“Armor Captains Career Course” (ACCC) ministrado<br />

em Fort Knox (Armor School), pelo que o MCCC<br />

não é mais que uma combinação do ICCC+ACCC.<br />

Devem-se estas alterações ao programa do<br />

curso, entre diversos factores os seguintes:<br />

Lições Apreendidas do Afeganistão e Iraque,<br />

procurando fazer face às novas ameaças;<br />

Alterações ao treino e doutrina, decorrente da<br />

<br />

terrorismo e insurgentes;<br />

Fusão da Escola Prática de Infantaria e de<br />

Cavalaria num único centro de formação, passando<br />

a denominar-se “Escola da Manobra”<br />

(Maneuver Center of Excellence);<br />

Processo de selecção<br />

A nomeação para a frequência do curso é<br />

Cap Inf Hélder Parcelas<br />

<br />

<br />

nomeado após a frequência do curso colocado por<br />

um período de 2 anos na EPI.<br />

<br />

terá de realizar um teste de admissão de Inglês na<br />

cação<br />

igual ou superior a 75%.<br />

Com vista à frequência do curso ainda existe<br />

todo o processo legal conduzido pelo EME, processo<br />

este que consiste na Credenciação NATO,<br />

Pa Passaporte, Visto e Guia de Marcha. Por seu<br />

tu turno a embaixada Americana é responsável<br />

pa para além da execução do teste de admissão<br />

lin linguístico, pelo fornecimento da passagem<br />

<br />

so sobre aspectos culturais e legais, bem como,<br />

so sobre Fort Benning e o <strong>Exército</strong> dos EUA.<br />

Após a admissão, e uma vez chegado a<br />

-<br />

mmente<br />

à realização de um teste de Inglês a<br />

<br />

do<br />

aluno. Este facto deve-se essencialmente<br />

-<br />

tid tidos, uma vez que na sua maioria os alunos<br />

in internacionais, já frequentaram um curso de<br />

in inglês no Estado do Texas, por 6 a 9 meses,<br />

à<br />

excepção de alguns países.<br />

Generalidades<br />

G<br />

No que se refere a material e equipamento para<br />

a frequência do curso, os militares internacionais<br />

podem utilizar os uniformes de trabalho dos respectivos<br />

países, sendo apenas obrigatório o uso do<br />

uniforme de ginástica do <strong>Exército</strong> Americano.<br />

Por seu turno, em termos de documen-<br />

<br />

<br />

Unidos, onde consta o número da segurança social<br />

<br />

em que se encontra. Outro documento tido como<br />

importante, é a Carta de Condução, que poderá ser<br />

obtida do Automóvel Clube de Portugal, ou tirada<br />

na cidade mais próxima. Por último, para quem estiver<br />

interessado será aberta uma conta bancária, a<br />

<br />

e pagamentos nos EUA.<br />

Fort Benning<br />

Em Fort Benning está localizada a Escola<br />

Prática de Infantaria Americana e da sua organização<br />

fazem parte: 192º Brigada de Infantaria, 197º<br />

Brigada de Infantaria, 198º Brigada de Infantaria,


199º Brigada de Infantaria (Escola Pára-quedista<br />

- MCCC), Ranger Training Brigade e a 3rd Heavy<br />

Brigade Combat Team.<br />

Em termos de formação, passaram no presente<br />

ano 108000 militares num total de 61 cursos, sendo<br />

a sua ocupação média na ordem das 120000 pessoas<br />

incluindo familiares e civis.<br />

No que se refere a regras de conduta, fumar,<br />

ingerir álcool e exceder os limites de velocidade<br />

expressamente proibidos, implicando o desrespeito<br />

das mesmas, severas punições, podendo mesmo<br />

levar à expulsão do <strong>Exército</strong> e no caso dos alunos<br />

internacionais à exclusão do curso.<br />

res<br />

internacionais<br />

cada aluno possui<br />

um “Sponsor”, estes<br />

procuram auxiliar<br />

na integração<br />

cultural, formação<br />

e constituem-se<br />

como “embaixadores”<br />

do <strong>Exército</strong><br />

dos Estados<br />

Unidos. Por outro<br />

lado, existe também<br />

o “Sponsor”<br />

civil, que é um civil<br />

americano da<br />

cidade mais próxima,<br />

que de forma<br />

voluntária procura<br />

acolher e auxiliar<br />

os alunos internacionais.<br />

No caso<br />

dos alunos internacionaisportu-<br />

Cap Inf Parcelas com seu Sponsor<br />

gueses os “sponsor” são por norma a Sr.ª Truman e<br />

o Sr. Herb hà muito conhecidos por todos os alunos<br />

portugueses.<br />

O Curso<br />

<br />

<br />

<br />

Batalhão.<br />

Com uma duração de cerca de 186 dias (6 meses),<br />

o curso está dividido em duas fases. Numa<br />

primeira fase onde de aborda a componente<br />

Companhia, com principal incidência para as três<br />

principais tipologias de Brigadas existentes, Heavy<br />

Brigade Combat Team (HBCT), Stryker Brigade<br />

Combat Team (SBCT) e Infantry Brigade Combat<br />

Team (IBCT). Numa segunda fase é abordado então<br />

o Batalhão, com incidência no desempenho<br />

das funções EM de Batalhão. Decorre também e<br />

em simultâneo um curso de combate de corpo a<br />

corpo (Combatives Course), visando este dotar os<br />

futuros comandantes de companhia de técnicas<br />

de combate corpo a corpo – Nível 1, possibilitando<br />

aos futuros capitães ministrar aos seus soldados<br />

técnicas de combate. Este curso tem uma média<br />

de 150 alunos Americanos e cerca de 16 alunos<br />

internacionais, sendo que no MCCC 02-08, os<br />

alunos internacionais eram na sua grande maioria<br />

Europeus. A classe é dividida em grupos mais<br />

pequenos de 20 elementos, sendo as aulas ministradas<br />

por um instrutor (capitão ou major), denominado<br />

de SGI (Small Group Instructor), responsável<br />

pelas aulas em sala e educação física.<br />

O Programa de Formação está elaborado por<br />

forma a que a aprendizagem seja conduzida de<br />

de<br />

aumentado com o decorrer do curso. Durante<br />

o curso são tratados temas tácticos de companhia<br />

(Fase 1), em que os alunos são colocados na função<br />

de comandantes de companhia e elaboram as<br />

respectivas Ordens de Operações de forma indivi-<br />

ddual,<br />

onde as componentes terrorismo e insurgen-<br />

te tes estão sempre presentes. Na fase do Batalhão<br />

(F (Fase 2) desenvolve-se o trabalho em grupos, em<br />

qque<br />

cada aluno desempenha uma das funções de<br />

EEM.<br />

No que se refere ao dia “tipo”, este começa sem-<br />

ppre<br />

com a sessão de educação física antes do pe-<br />

qqueno-almoço<br />

pelas 06h00m, sendo que as aulas<br />

ccomeçam<br />

às 08h00 e terminam às 16h30m. As au-<br />

la las são na sua maioria de cariz prático, onde o de-<br />

bbate<br />

e a troca de experiências são constantes, uma<br />

vvez<br />

que cerca de 85% dos alunos Americanos têm<br />

eexperiência<br />

de combate no Iraque ou Afeganistão<br />

(m (mínimo 15 meses).<br />

No que se refere à componente avaliação, in-<br />

ccide<br />

essencialmente nos seguintes pontos: tes-<br />

<br />

665%),<br />

Ordem de Operações e respectiva exposi-<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

oobtida<br />

nos testes realizados semanalmente (média<br />

dde<br />

2 por semana) e, por último, o desempenho e<br />

participação do aluno.<br />

Visitas<br />

Também os aspectos culturais dos EUA não foram<br />

deixados ao acaso, pelo que no decorrer do<br />

curso efectuaram-se duas viagens, uma à cidade<br />

de Atlanta e a segunda a Washington D.C., sendo<br />

a última de elevado interesse, onde se pôde visitar<br />

a Casa Branca, Capitólio, Pentágono e diversos<br />

museus e monumentos. Por seu turno, a viagem<br />

a Atlanta, assentou basicamente na visita à CNN<br />

<br />

organizações<br />

Conclusões<br />

A ida a Fort Benning, constitui uma experiência<br />

muito valiosa, na medida em que possibilita conhecer<br />

o que de mais moderno se encontra disponível<br />

aos mais baixos escalões, conjugado com a<br />

actualização de métodos e técnicas de emprego.<br />

Pelo que, julgo ser de elevada importância a nome-<br />

<br />

MCCC, permitindo aos jovens capitães, para além<br />

de viverem a experiência de trabalhar junto de um<br />

dos melhores exércitos do mundo, a possibilidade<br />

de contribuírem para a actualização do programa<br />

<strong>Azimute</strong><br />

de formação do CPCI.<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

75


AZIMUTE<br />

76<br />

Juramento de Bandeira do 3º CFGCPE/2009 na Ericeira<br />

“Cheio de Deus não temo o que virá<br />

Pois, venha o que vier, nunca será<br />

Maior do que a minha alma.”<br />

Fernando Pessoa<br />

Os soldados recrutas do 3º Curso de Formação<br />

Geral Comum de Praças do <strong>Exército</strong> de 2009 juraram<br />

bandeira no dia 29 de Maio, num espaço público<br />

da Vila da Ericeira – o Largo de S. Sebastião,<br />

recinto fronteiro ao Oceano Atlântico.<br />

Esta cerimónia, acontecimento repleto de simbolismo<br />

e relevância na tradição castrense, mo-<br />

<br />

na vida dos jovens que, um dia, decididamente,<br />

optaram por servir Portugal como militares do<br />

<strong>Exército</strong>, tem as suas origens, no que nos diz respeito,<br />

na Idade Média, no espírito da Cavalaria e<br />

<br />

ao certo, quando e como se deu origem à “liturgia”<br />

actual, sendo contudo um hábito enraizado e<br />

antigo.<br />

O Juramento de Bandeira realiza-se em parada<br />

militar, perante o Estandarte Nacional, constituin-<br />

<br />

marcando de forma indelével um compromisso em<br />

que o cidadão transformado em militar assume um<br />

compromisso de honra e de sangue, a sua honra<br />

e o seu sangue, ao repetir a fórmula:<br />

“JURO,<br />

Como Português e como Militar,<br />

Servir as Forças Armadas,<br />

Cumprir os deveres Militares,<br />

Guardar e fazer guardar a Constituição<br />

E as Leis da República.<br />

JURO,<br />

Defender a minha Pátria,<br />

E estar sempre pronto a lutar,<br />

Pela sua Liberdade e Independência<br />

Mesmo com o sacrifício da própria vida.”<br />

Nº 187 AGO09<br />

Pelo TCor Inf Mário Bastos<br />

O Juramento tem uma particularidade que não<br />

<br />

nem em qualquer código ético-deontológico: é que<br />

a defesa daquilo que se jura pode implicar a doação<br />

da própria vida. Daí a transcendência do acto.<br />

O quadro legal vigente é caracterizado pela pro-<br />

<br />

para os regimes de voluntariado e de contrato, pelo<br />

<br />

de Bandeira é assim uma opção consciente de um<br />

homem livre, que o acompanha ao longo da vida,<br />

esperando-se que cada um saiba cumprir o seu<br />

Dever, conforme expresso no Juramento. Por isso,<br />

o compromisso é público e ritualizado.<br />

Tradicionalmente efectuado no quartel ou na<br />

vila de Mafra, foi desta vez conduzido na vila da<br />

Ericeira, iniciativa da Escola Prática de Infantaria<br />

que permitiu promover um relacionamento de maior<br />

proximidade com a população, uma presença mais<br />

efectiva junto da sociedade, reforçando a abertura<br />

da Instituição Militar ao exterior e a divulgação da<br />

imagem pública do <strong>Exército</strong>, saindo, assim, reforçada<br />

a sua visibilidade, com dividendos que poderão<br />

vir a traduzir-se numa maior atracção de recursos<br />

<br />

O seu planeamento, programação e organização<br />

implicou um vasto conjunto de coordenações<br />

com diversas entidades, da Câmara Municipal<br />

de Mafra à Junta de Freguesia da Ericeira, do<br />

Gabinete do CEME à Direcção de Obtenção de<br />

Recursos Humanos, passando pela Escola Prática<br />

de Engenharia (disponibilização, montagem e desmontagem<br />

da Tribuna), Regimento de Lanceiros<br />

2 (escoltas e segurança próxima), Regimento de


Transportes (reforço de meios auto), Regimento<br />

de Transmissões (disponibilização, montagem e<br />

desmontagem do som para a cerimónia), Centro<br />

de Recrutamento de Lisboa (stand de divulgação),<br />

Regimento de Infantaria 3<br />

(disponibilização, montagem e<br />

desmontagem da Torre de escalada/Slide)<br />

e Guarda Nacional<br />

Republicana (segurança e gestão<br />

da circulação), que culminaram<br />

num treino geral em 28 de<br />

Maio, véspera do evento, num<br />

assinalável esforço colectivo.<br />

À cerimónia, que foi presidida<br />

pelo Exmo. tenente-general<br />

Alves dos Reis, assistiram diversas<br />

entidades civis e militares,<br />

além de familiares e amigos dos<br />

militares que juraram bandeira e<br />

da população em geral.<br />

Desde o campo de S.<br />

Mamede, em 1128, muitos foram<br />

os que caíram na defesa de Portugal. gal. Por isso os<br />

evocamos em todas as cerimónias militares, tendo<br />

sido lembrado o Fuzileiro Especial Eduardo<br />

Henriques Pereira, o “Ericeira”, natural desta vila.<br />

Após o acto solene do juramento a Portugal e<br />

à Bandeira Nacional e na sequência da imposição<br />

<br />

das boinas aos Soldados que o efectuaram, as<br />

<br />

Nacional, passando em frente à Tribuna de Honra<br />

onde se encontravam o Eng. José Ministro dos<br />

Santos, Presidente da Câmara Municipal de<br />

Mafra, o Sr. Joaquim Casado, Presidente da Junta<br />

de Freguesia da Ericeira, o Dr. Mário Pereira,<br />

Director do Palácio Nacional de Mafra, o Major-<br />

General Alfredo Piriquito, Director da Formação do<br />

Comando da Instrução e Doutrina e outros convidados<br />

militares e civis.<br />

<br />

Antes de se encerrar a Cerimónia Militar, o<br />

pados<br />

e armados para o moderno combate e com o<br />

“Pelotão 1810”, equipado e armado à época.<br />

Após o encerramento da<br />

Cerimónia C foi possibilitado à população<br />

pu em geral a utilização da<br />

Torre To T de Escalada e do Slide, que<br />

contou co com o apoio de militares<br />

da Escola Prática de Infantaria,<br />

disponibilizando di<br />

o Centro de<br />

Recrutamento R<br />

de Lisboa, através<br />

do seu Stand de divulgação, informação<br />

m útil e actualizada sobre o<br />

<strong>Exército</strong>. E<br />

Desta forma conjugou-se tradição<br />

di e modernidade, objecto de<br />

rasgados ra elogios por parte das<br />

mais m altas entidades, civis e mi-<br />

<br />

<br />

Sargentos, S Praças e Funcionários<br />

Civis C que, de forma inequivocamente<br />

competente, altamente abnegada, e com<br />

cio”,<br />

nas palavras do Exmo. Comandante, CorInf<br />

Ormonde Mendes, prestam serviço na Escola<br />

Prática de Infantaria e “deste modo muito contribuíram<br />

para o reforço do prestígio e da imagem da<br />

<strong>Azimute</strong><br />

Casa-Mãe da Infantaria.”<br />

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Nº 187 AGO09<br />

Visitas e Notícias<br />

<br />

No âmbito do plano de actividades do Grupo de Adidos<br />

Militares Acreditados em Portugal – 2009, visitaram<br />

a EPI em 17JUN09 os Adidos de Defesa Militar dos EUA,<br />

Alemanha, Brasil, Espanha e Colômbia. Do programa da<br />

visita constou a tradicional homenagem aos mortos, ao<br />

que se seguiu um briefing pelo Exmo. Cmdt sobre a EPI,<br />

na Sala de Honra da Infantaria, e uma visita histórica pelo<br />

convento e pelo Palácio Nacional de Mafra, culminando<br />

com um almoço servido na sala das bicas.<br />

Na sequência de uma solicitação da Escola Básica<br />

nº1 Hélia Correia, decorreu em 29Jun09, na parada TCor<br />

Magalhães Osório, a festa de finalistas do 4º ano, com a<br />

presença de 1200 pessoas, incluindo 200 crianças. Do programa<br />

constou uma apresentação, na Sala Elíptica, sobre o<br />

Santo Condestável, D. Nuno Álvares Pereira, para além da<br />

entrega de diplomas aos alunos finalistas e da apresentação<br />

de peças teatrais, musicais e de dança, seguindo-se o jantar<br />

no refeitório dos Frades.<br />

Visita dos Adidos Militares<br />

“O <strong>Exército</strong> Napoleónico em Mafra. Um Convento Ocupado (1808)”<br />

As figuras históricas regressaram ao Palácio<br />

Nacional de Mafra, numa recriação intitulada “O<br />

<strong>Exército</strong> Napoleónico em Mafra. Um Convento<br />

Ocupado (1808)”. O evento realizou-se no dia 21<br />

de Junho, organizado pela Câmara Municipal de<br />

Mafra, com o apoio da Escola Prática de Infantaria.<br />

Este evento permitiu conhecer um período conturbado,<br />

quando o exército napoleónico ocupou<br />

o Convento de Mafra. Foram recriados episódios<br />

desta ocupação com o povo de Mafra, os frades<br />

que ocupavam o convento e o exército francês.<br />

Mais de cem participantes (actores e voluntários)<br />

constituiram19 cenas.<br />

O histórico refeitório dos frades, neste dia assumiu-se como uma máquina de viajar no tempo e<br />

os visitantes puderam assistir a uma refeição fielmente reproduzida por actores profissionais e figurantes<br />

voluntários da Vila de Mafra.


Visita do Presidente da Comissão<br />

Nacional da UNESCO<br />

Visitou a EPI, em 19 de Fevereiro, o<br />

Exmo. Presidente da Comissão Nacional<br />

da UNESCO, o Sr. Embaixador Fernando<br />

Andresen de Guimarães, tendo percorrido<br />

os espaços históricos do convento.<br />

Protocolo com a Escola José Saramago<br />

A Escola Prática de Infantaria, no âmbito<br />

da Directiva 174/CEME/07, celebrou um<br />

protocolo com o Centro de Novas Oportunidades<br />

(CNO) da Escola Secundária José<br />

Saramago de Mafra. A cerimónia de assinatura<br />

decorreu no gabinete do Exmo. Cmdt da<br />

EPI, tendo assinado o Cor Ormonde Mendes<br />

e a Profª Margarida Branco na qualidade<br />

de representantes das duas organizações.<br />

Visita da Escola Secundária<br />

da Venda do Pinheiro<br />

Em 26MAR09 visitaram a EPI os alunos<br />

da Escola Secundária da Venda do<br />

Pinheiro. tendo percorrido os seus espaços<br />

históricos após o que foi servido o almoço<br />

no refeitório dos Frades.<br />

Visita de Cadetes da Croácia<br />

Inserida no programa de intercâmbio com<br />

a Academia Militar, em 19 de Junho visitou<br />

a EPI uma delegação de 4 cadetes da Croácia,<br />

dos três Ramos das FA. A delegação<br />

foi acompanhada por um Capitão da Força<br />

Aérea Croata, tendo visitado os espaços<br />

históricos do convento, culminando a visita<br />

no gabinete do Exmo. Cmdt da EPI.<br />

Missa pelos Combatentes da Guerra de Ultramar<br />

Incluído no programa de inauguração do monumento em honra dos<br />

Combatentes da Guerra de Ultramar, realizou-se no dia 24 de Maio de 2009<br />

uma missa no Turcifal, na Igreja de Santa Maria Madalena. O BF enviou 5<br />

militares da CAF para a execução da Guarda de Honra no Altar ao Santo e<br />

Patrono da arma de Infantaria.<br />

Nº 187 AGO09<br />

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Nº 187 AGO09<br />

Canonização de D.Nuno Álvares Pereira, em Roma<br />

Em 26ABR09 deslocou-se a Roma a fim de participar na<br />

cerimónia de canonização do Beato Nuno de Santa Maria, D.<br />

Nuno Álvares Pereira Patrono da Infantaria, uma delegação<br />

do <strong>Exército</strong> composta pelo Cmdt da BrigMec MGen Pereira<br />

Agostinho, o Cmdt da EPI Cor Inf Ormonde Mendes, o Capelão<br />

da EPI Maj Rui Peralta, SMor Inf Manuel Martins, Cadete-<br />

Aluno Adriano Afonso e Furriel-Aluno Ricardo Gonçalves.<br />

A cerimónia decorreu na Praça de São Pedro, no Vaticano.<br />

Juramento de Bandeira 4ºCFGCPE09<br />

<br />

Integrada nas “Jornadas da Juventude”, organizadas<br />

pela Câmara Municipal de Mafra, que decorreram de 21<br />

a 22 de Março nos claustros contíguos à porta das palmeiras,<br />

a Feira das Profissões, permitiu aos alunos das<br />

escolas do concelho de Mafra recolherem informações<br />

sobre as diversas profissões existentes, no sentido de<br />

os auxiliar a fazerem as suas escolhas profissionais de<br />

uma forma mais consciente.<br />

A EPI montou um Stand por onde passaram mais de<br />

duas centenas de jovens e que também tiveram oportunidade<br />

de visitar o Museu da Infantaria.<br />

Em 01 de Julho de 2009 decorreu a Cerimónia do Juramento<br />

de Bandeira do 4º Curso de Formação Geral Comum<br />

de Praças do <strong>Exército</strong> de 2009, num total de 85 militares.<br />

A Escola recebeu ainda um Pelotão de cadetes (17), da<br />

Escola Prática de Artilharia, que juraram bandeira com o 4º<br />

CFGCPE09.<br />

Presidiu à cerimónia o Exmo. Major-General, Alfredo Nunes<br />

da Cunha Piriquito, que incluiu a participação da Banda<br />

Militar de Évora.<br />

Futurália<br />

A Escola Prática de Infantaria participou naquele que<br />

é considerado o maior evento nacional de educação e<br />

formação. O evento decorreu entre os dias 10 e 13 de<br />

Dezembro na Feira Internacional de Lisboa (Parque das<br />

Nações).<br />

A participação da EPI, contou com a presença de um<br />

Sargento e duas Praças com a Viatura Blindada de Rodas<br />

PANDUR.


Visita da Escola Secundária Maria Amália Vaz de Carvalho<br />

A Fundação Jorge Álvares quis assinalar os 10<br />

anos do fim da administração portuguesa em Macau,<br />

tendo, para o efeito, reuniu na Escola Prática<br />

de Infantaria, em Mafra, cerca de duas mil pessoas<br />

de alguma forma ligadas a Macau. O encontro<br />

constituiu um grande e forte abraço de saudade.<br />

Nesta iniciativa estiveram presentes alguns antigos<br />

governadores de Macau: General Garcia Leandro<br />

(1974-1979), Joaquim Pinto Machado (1986-1987),<br />

Engº Carlos Melancia (1987-1991) e o General<br />

Vasco Rocha Vieira (1991-1999).<br />

Em colaboração com a empresa de eventos éter produções,<br />

empresa responsável pela peça de Teatro “ O Memorial do Convento”<br />

em cena na capela do Campo Santo do Palácio Nacional<br />

de Mafra, a Escola Secundária Maria Amália Vaz de Carvalho<br />

visitou a EPI em 23MAR09. O grupo era composto por cerca de<br />

256 alunos e 8 professoras.<br />

Macau - 10 anos depois<br />

<br />

Iniciou-se a 13 de Julho de 2009 na Escola Prática de Infantaria o<br />

Curso Elementar de Combate em Áreas Edificadas – 2009 (CECAE),<br />

tendo términus a 31 de Julho de 2009, constituído por 26 Formandos<br />

(10 Oficiais, 16 Sargentos). Este curso tem por finalidade habilitar os<br />

formandos a desempenhar as funções de Comandante de Secção e<br />

Pelotão, nas tarefas de formação e treino, planeamento e conduta de<br />

operações de combate em áreas edificadas.<br />

10.º CLOM<br />

Teve início, em 18 de Fevereiro de 2009,<br />

na Escola Prática de Infantaria, o 10.º Curso<br />

de Ligação e Observação Militar, constituído<br />

por oito formandos. O objectivo do curso é<br />

o de habilitar os formandos a desempenhar<br />

funções no âmbito de uma missão de Ligação<br />

e Observação Militar.<br />

Visita da Escola Secundária de Gouveia<br />

Por solicitação da Escola Secundaria José<br />

Saramago, a EPI alojou uma turma do 9º ano<br />

da escola secundária de Gouveia. A sua estada<br />

incluiu a visita aos espaços históricos e as 1ª<br />

e 3º refeições. A vivência no interior de uma<br />

unidade militar e em especial no refeitório dos<br />

frades foi do agrado geral.<br />

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<br />

Em 01JUN09 visitou a EPI uma delegação<br />

de alunos da Academis Militar das Agulhas<br />

Negras do Brasil, inserida no programa<br />

de intercâmbio de Academias Militares. A<br />

delegação era composta por dois cadetes<br />

Brasileiros. Após um briefing sobre a EPI, os<br />

alunos visitaram alguns espaços históricos<br />

do Convento de Mafra.<br />

Nº 187 AGO09<br />

Visita de Cadetes da Academia<br />

Militar Brasileira<br />

Iniciou-se a 14 de Abril de 2009 na Escola<br />

Prática de Infantaria o Curso de Formação de<br />

Oficiais e o Curso de Formação de Sargentos 1.º<br />

Turno 2009 com um efectivo de 131 elementos (18<br />

Aspirantes Graduados e 113 Furriéis Graduados).<br />

O curso destina-se a habilitar os formandos com<br />

as aptidões técnico-tácticas, perícias e atitudes<br />

exigidas no de desempenho das funções próprias<br />

da respectiva categoria e posto.<br />

Visita da Escola Secundária de<br />

Santa Maria da Feira<br />

Em 14MAR09 a Escola Secundaria de<br />

Santa Maria da Feira visitou a EPI, após ter<br />

assistido à peça de Teatro o Memorial do<br />

Convento. O grupo era composto de cerca<br />

de 30 alunos adultos e acompanhado por<br />

8 professores das áreas de história, artes<br />

e ciências..


“Paulo Combatente contra Cristo e por Cristo”<br />

Em 25MAR09 decorreu no auditório da EPI<br />

a conferência intitulada “Paulo Combatente<br />

contra Cristo e por Cristo” proferida por D.<br />

Anacleto de Oliveira. O Exmo. 2º Cmdt e o<br />

Capelão da Escola Prática de Infantaria acompanharam<br />

o Bispo Auxiliar de Lisboa ao longo<br />

da sua palestra, perante uma audiência com<br />

cerca de 170 militares da EPI e convidados<br />

da paróquia de Mafra.<br />

Visita de S. Ex.ª a Secretária de<br />

Estado da Cultura<br />

Inserida no programa da visita Oficial ao<br />

Palácio Nacional de Mafra, S. Exª a Secretária<br />

de Estado da Cultura (SEC), Mestre<br />

Maria Paula Fernandes dos Santos, visitou<br />

a EPI em 11FEV09, tendo sido recebida pelo<br />

Exmo. Cmdt da Instrução e Doutrina, TGen<br />

Vaz Antunes. A visita decorreu ao longo dos<br />

espaços históricos da EPI, sendo de salientar<br />

o interesse e a satisfação com que percorreu<br />

corredores como o La Couture, o Museu da<br />

Infantaria e a Sala Elíptica. A visita terminou<br />

com a assinatura do livro de honra e troca de<br />

lembranças.<br />

6º, 7º e 8º CFPIF09<br />

De acordo com o Plano de Formação<br />

Anual 2009, iniciou-se em 24 de Abril de<br />

2009 o 6º, 7º e 8º Cursos de Formação<br />

Pedagógica Inicial de Formadores, constituída<br />

por 44 militares distribuídos da<br />

seguinte forma: 15 Sargentos da EPC;<br />

12 Sargentos da EPT; 16 Sargentos da<br />

EPS; 01 Oficial da Compº Info, Seg Militar<br />

Durante 3 semanas os formandos<br />

receberam as ferramentas necessárias<br />

ao incremento da qualidade da formação,<br />

através da aquisição de competênciaschave<br />

no domínio pedagógico-didático.<br />

Juramento de Bandeira do 3ºCFGCPE09<br />

Em 29 de Maio de 2009 decorreu a Cerimónia<br />

do Juramento de Bandeira do 3º Curso<br />

de Formação Geral Comum de Praças do<br />

<strong>Exército</strong> de 2009, num total de 274 militares.<br />

A Cerimónia teve lugar na vila da Ericeira,<br />

visando uma maior interligação entre a<br />

Escola e a Comunidade, configurando uma<br />

abertura da instituição castrense à sociedade.<br />

Presidiu à cerimónia o Exmo. Tenente-<br />

General, Alves dos Reis. As actividades de<br />

divulgação incluiram um Stand do <strong>Exército</strong>,<br />

uma torre de escalada, e ainda, um Simulador<br />

de tiro.<br />

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Realizou-se no dia 20 de Fevereiro de<br />

2009, um “Challenger” do Instituto Superior<br />

de Ciências Policiais e Segurança<br />

Interna (ISCPSI), com o apoio da EPI e<br />

do CMEFD.<br />

A prova realizada na Tapada Militar,<br />

Aldeia de Camões e CMEFD foi composta<br />

por várias provas entre as quais o Lançamento<br />

de Granada, Rappel, Slide, Pista<br />

Internacional, Tiro, entre outras.<br />

Nº 187 AGO09<br />

“Challenger”<br />

Em 27 de Março teve lugar a Cerimónia do Juramento de<br />

Bandeira dos Formandos do 2º Curso de Formação Geral<br />

Comum de Praças do <strong>Exército</strong> de 2009.<br />

A cerimónia foi presidida pelo Exmo. MGen Aníbal Alves<br />

Flambó, Director de Doutrina do Comando da Instrução e<br />

Doutrina. No fim da cerimónia, as duas Companhias do<br />

Batalhão de Formação Militar Geral fizeram uma demonstração<br />

de actividades de treino físico militar, ao que seguiu<br />

um almoço-convívio. A RTP fez uma reportagem alusiva<br />

ao evento.<br />

Directo para o Jornal da SIC<br />

Em 02MAR09 o comando da EPI recebeu<br />

uma equipa de reportagem da SIC,<br />

com o objectivo de realizar um directo<br />

para o jornal da tarde daquele canal, entrevistando<br />

alguns recrutas para aferir da<br />

relação de casualidade entre o aumento<br />

da adesão de cidadãos para servir nas<br />

Forças Armadas e o aumento de desemprego.<br />

A jornalista Sara Antunes de Oliveira,<br />

atendendo à hora do directo, escolheu o<br />

refeitório dos frades para a condução da<br />

entrevista a dois militares do BFMG.<br />

Juramento de Bandeira do 2ºCFGCPE de 2009<br />

Visita do Comandante das Forças Terrestres da República Democrática e Popular da Argélia<br />

Em 18FEV09 visitou a EPI o Comandante das Forças Terrestres<br />

da República Democrática e Popular da Argélia, Major-<br />

General Ahcéne TAFER. A delegação argelina era composta<br />

por dois Coronéis e um Tenente-Coronel, acompanhada pelo<br />

Major-General Henrique Dinis e um oficial de ligação do EME.<br />

Receberam a delegação Argelina o Exmo. Comandante de<br />

Instrução e Doutrina, TGEN Vaz Antunes e o Exmo. Director<br />

de Formação Major-General Alfredo Piriquito. O programa da<br />

visita contemplou uma apresentação pelo Cmdt da EPI, na Sala<br />

de Honra da Infantaria, seguida de uma visita aos espaços<br />

históricos da Escola, após o que se deslocaram para a Aldeia<br />

de Camões, onde puderam assistir a uma demonstração Three<br />

Block War, a cargo do Batalhão de Formação. O almoço foi servido na sala das colunas, tendo-se<br />

seguido a assinatura do livro de honra no gabinete do Cmdt da EPI.


Comemorações do dia 10 de Junho<br />

A Escola Prática de Infantaria participou nas comemorações<br />

do Dia de Portugal de Camões e das Comunidades<br />

Portuguesas, em Santarém, de 06 a 12 de Junho,<br />

com 5 militares e um simulador de tiro.<br />

Militar da EPI dá formação de Informática na Universidade Sénior de Mafra<br />

Na sequência da solicitação à Escola Prática<br />

de Infantaria para ministrar formação na<br />

área da informática na Universidade Sénior de<br />

Mafra, o Alferes Caridade teve o grato prazer<br />

em colaborar nesta actividade, tendo abordado<br />

temas sobre internet, Microsoft Office, correio<br />

electrónico, entre outros. O objectivo foi o de<br />

proporcionar aos formandos um primeiro contacto<br />

com esta tecnologia.<br />

O Alferes Caridade foi incorporado em Março<br />

de 2008 na Escola Prática de Artilharia onde<br />

frequentou o Curso de Formação de Oficiais. Em<br />

Janeiro de 2009, após conclusão da especialidade,<br />

foi colocado na EPI, onde desempenhou<br />

as funções de comandante de pelotão no Batalhão de Formação, sendo mais tarde colocado na<br />

Secção de Informática, onde desempenha funções actualmente. O Alferes Caridade é licenciado<br />

em Radiologia pela Escola Superior de Saúde do Alto Ave.<br />

Visita de S. Ex.ª o Gen CEME de Espanha<br />

Em 24JUN09, S. Exa. o Gen CEME de Espanha,<br />

General-de-<strong>Exército</strong> D. Fulgencio Coll Bucher,<br />

visitou a Escola Prática de Infantaria. Do Programa<br />

constou um Briefing na Sala de Honra de Infantaria,<br />

Pelo Cmdt da Escola, e uma demonstração de 3BW<br />

na “Aldeia Camões”.<br />

A visita terminou no gabinete do Exmo. Cmdt,<br />

onde se procedeu à troca de lembranças e à assinatura<br />

do Livro de Honra, de que se transcrevem algumas<br />

palavras de S. Ex.ª o Gen. CEME de Espanha:<br />

“ É uma grande honra e satisfação visitar a EPI,<br />

berço de valores morais, militares e exemplo de<br />

serviço à sociedade, à Pátria.<br />

Como General do <strong>Exército</strong> Espanhol e Presidente<br />

da Academia de Infantaria quero felicitar e agradecer a qualidade dos exercícios que pude ver,<br />

a atitude e disponibilidade dos oficiais e soldados, que se instruem como podem combater, com os<br />

sacrifícios que nos formam e endurecem para os sacrifícios necessários (...)”.<br />

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<br />

No âmbito do Protocolo entre o <strong>Exército</strong> Português e<br />

a RTP, decorreu no dia 07 de Maio de 2009 na Escola<br />

Prática de Infantaria um workshop para jornalistas em<br />

zona de conflito. Esta acção de formação foi planeada,<br />

organizada, e conduzida pela EPI, em coordenação<br />

com a Direcção de Formação da RTP, e contou com a<br />

presença de doze formandos/jornalistas da RTP, RDP,<br />

do Jornal Público e Agência Lusa. Participaram, também,<br />

os formandos do Curso de Promoção a Capitão<br />

de Infantaria, a Companhia de Apoio à Formação do<br />

Batalhão de Formação, um Pelotão do Batalhão de<br />

Formação Militar Geral, um Pelotão de Atiradores do 2º<br />

BIMec/BRIGMEC, um Pelotão de Controlo de Tumultos<br />

e uma Equipa Cinotécnica do RL2. O Objectivo deste workshop foi, através de formação teórica e<br />

prática, habilitar os profissionais de jornalismo com conhecimentos pluridisciplinares e transversais<br />

em situações “Embedded”, integrados em Forças Militares numa zona de conflito.<br />

“Sons da Primavera”<br />

A liga dos Amigos de Mafra realizou um encontro<br />

na EPI designado “Sons da Primavera”,<br />

com os seus associados. O evento reuniu cerca<br />

de 300 elementos oriundos das diversas partes<br />

do País, tendo-se iniciado na praça D. João V<br />

e culminando com um almoço convívio servido<br />

no refeitório dos Frades.<br />

Visita da Escola Secundária da<br />

Senhora da Hora<br />

Em 16MAR09 a Escola Secundária da<br />

Senhora da Hora visitou a EPI. O grupo era<br />

composto por 116 alunos e acompanhado por<br />

6 professores das áreas de história e artes.<br />

A visita contemplou os espaços históricos<br />

da EPI.


Higiene e Segurança Alimentar<br />

na Escola Prática de Infantaria<br />

Enquadramento<br />

Os estabelecimentos de restauração têm sido<br />

frequentemente associados a surtos de infecções<br />

alimentares. De modo a reduzir a incidência de<br />

tais surtos, a contaminação dos alimentos por perigos<br />

biológicos, químicos ou físicos deve ser prevenida,<br />

reduzida e/ou eliminada. Isso poderá ser<br />

conseguido mediante a implementação de práticas<br />

<br />

de segurança alimentar<br />

podem<br />

ser subdivididos<br />

em pré-requisitos<br />

como a manutenção,<br />

limpeza,<br />

higiene pessoal,<br />

etc., e Análise de<br />

Perigos e Pontos<br />

de Controlo<br />

Críticos (HACCP).<br />

De forma a garantir<br />

a qualidade e<br />

segurança do pro-<br />

sequentemente,<br />

a<br />

segurança e satisfação<br />

do consumidor,<br />

as empresas<br />

agro-alimentares<br />

têm vindo progressivamente<br />

a adoptar sistemas de segurança<br />

alimentar/HACCP. O sistema HACCP é um sistema<br />

preventivo e a sua implementação baseia-se na<br />

cação<br />

de pontos críticos de controlo.<br />

Historicamente, desde 1972 que os alimentos<br />

fornecidos à NASA para os tripulantes em voos<br />

espaciais são controlados por este sistema de segurança<br />

alimentar, tendo igualmente durante este<br />

Alferes RC Tiago Bispo<br />

ano, iniciado a sua aplicação à indústria conserveira<br />

americana. A sua implementação é obrigatória<br />

em Portugal, em todas as etapas de processamento<br />

do produto alimentar, desde 01 de Janeiro de<br />

2006, com a entrada em vigor do Regulamento<br />

(CE) nº 852/2004 de Parlamento Europeu e do<br />

Conselho de 29 de Abril.<br />

Com objectivo de dar cumprimento a estes requisitos<br />

legais, é necessário que as empresas tenham<br />

n previamente implementado um<br />

programa p de pré-requisitos, sem os<br />

quais q é impossível desenvolver de for-<br />

<br />

<br />

Estes pré-requisitos passam por:<br />

Requisitos gerais das instalações<br />

do d estabelecimento<br />

Higiene pessoal e estado de saúde<br />

dos d manipuladores<br />

Plano de higienização das instalações<br />

ç e equipamentos<br />

Controlo de pragas<br />

Controlo de equipamentos<br />

Gestão, recolha e eliminação de<br />

resíduos re<br />

Sistema de rastreabilidade<br />

Formação dos manipuladores<br />

Controlo analítico – análises<br />

microbiológicas<br />

m<br />

Situação da Escola Prática de Infantaria<br />

A Escola Prática de Infantaria já cumpriu neste<br />

momento a maior parte destes pré-requisitos e tem<br />

desenvolvido esforços no sentido de dar cumprimento<br />

a todos. Entre outros é de salientar:<br />

Plano de Higienização implementado;<br />

<br />

produtores de alimentos relativamente à sua<br />

especialidade e em boas práticas de higiene<br />

pessoal;<br />

Nº 187 AGO09<br />

AZIMUTE<br />

87


AZIMUTE<br />

88<br />

Áreas de preparação diferenciadas e aplicação<br />

de tábuas e facas de cores diferentes para<br />

as várias categorias de produtos, de forma a<br />

evitar contaminações cruzadas;<br />

Boas condições e capacidade de armazenamento<br />

tanto à temperatura ambiente como em<br />

frio positivo e frio negativo;<br />

<br />

das temperaturas no centro térmico dos alimentos,<br />

o que permite<br />

namento<br />

dos sistemas<br />

de armazenamento em<br />

frio;<br />

Equipamento adequado<br />

ao controlo frequente da<br />

qualidade dos óleos de<br />

fritura e reciclagem do<br />

óleo de fritura;<br />

Estufas de banho-maria<br />

com termómetro na<br />

distribuição;<br />

Contentores de resíduos<br />

de cores diferentes<br />

e com tampa accionada<br />

com pedal;<br />

Plano de controlo de pragas<br />

instaurado e revisto<br />

periodicamente.<br />

Pré-requisitos por cumprir<br />

Fardamento adequado – o uniforme deve ser<br />

de cor clara, de uso exclusivo no local de laboração,<br />

não deve possuir bolsos exteriores<br />

ou botões, devendo os bolsos interiores estar<br />

posicionados abaixo da cintura para que, caso<br />

algum objecto salte de um bolso, caia directamente<br />

no pavimento. Idealmente, todo o vestu-<br />

<br />

ou mais frequentemente, caso a natureza das<br />

<br />

Portas de acesso sem molas de retorno e imperfeito<br />

ajuste das portas às ombreiras e pa-<br />

<br />

prevenção de pragas;<br />

ga<br />

a que as janelas estejam abertas durante a<br />

confecção;<br />

<br />

Nº 187 AGO09<br />

Perspectivas<br />

Estes e outros pré-requisitos que ainda não<br />

estejam totalmente cumpridos, inviabilizam a im-<br />

tanto,<br />

os visíveis esforços do chefe da Secção<br />

de Alimentação, 1º Sargento do Serviço de<br />

Administração Militar, Luís Rodrigues e do<br />

Excelentíssimo 2º Comandante da EPI, Tenente-<br />

Coronel de Infantaria, João Pedro Ribeiro, para se<br />

informarem e preencherem<br />

to todas as lacunas que pos-<br />

ssam<br />

existir, têm sido deve-<br />

ra ras recompensados através<br />

dda<br />

manutenção da salu-<br />

bbridade<br />

dos alimentos que<br />

ddiariamente<br />

são servidos e,<br />

cconsequentemente,<br />

da saú-<br />

dde<br />

e satisfação de todos os<br />

mmilitares<br />

da EPI.<br />

Muitas das lacunas refe-<br />

ri ridas devem-se sem dúvida<br />

aao<br />

facto da nossa Escola<br />

sse<br />

situar no Convento de<br />

MMafra,<br />

o que impossibilita a<br />

re realização de obras, que se-<br />

ri riam indispensáveis para o<br />

sseu<br />

preenchimento. Sendo<br />

aassim,<br />

na nossa realidade,<br />

qquase<br />

tudo o que podia ter<br />

ssido<br />

feito já o foi, ganhando<br />

relevância na manutenção do bom trabalho que se<br />

tem desenvolvido na cozinha, o papel individual<br />

de cada trabalhador. Todos os trabalhadores manipuladores<br />

de alimentos devem ter consciência<br />

da responsabilidade e da importância de evitar a<br />

contaminação dos alimentos durante a sua manipulação/produção,<br />

assumindo os comportamentos<br />

adequados durante o desempenho das suas tarefas.<br />

Diariamente a saúde de centenas de pessoas<br />

depende das acções e cuidados que tomam. Se<br />

não se conseguir a motivação dos trabalhadores,<br />

não importa a formação que lhes seja fornecida,<br />

será difícil que estes mantenham os essenciais elevados<br />

padrões de higiene. Até ao momento, é sem<br />

dúvida de louvar todo o trabalho feito por todos<br />

os militares da Secção de Alimentação da Escola<br />

<strong>Azimute</strong><br />

Prática de Infantaria.<br />

<br />

- Guidelines for Food Safety Control in European Restaurants; DECLAN, Bolton;<br />

MAUNSELL, Bláithín; The Food Safety Department, Teagasc – The National Food<br />

Center, Ashtown Dublin 15, Republic of Ireland


In memorium<br />

Falecimento do Furriel-Aluno<br />

Agostinho Carvalho<br />

No dia 16 de Janeiro de 2009, faleceu com vinte e<br />

nove anos de idade, no Hospital Militar Principal, o<br />

Furriel-Aluno Agostinho Alves de Carvalho. Frequentava<br />

o 36º CFSI, tinha como esposa D. Maria Alcina<br />

Pinto de Teixeira e era pai de Mariana Teixeira de<br />

Carvalho. Era natural de Canedo de Basto, Celorico<br />

<br />

<br />

decorreu na capela da Escola Prática de Infantaria a<br />

-<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

A Família da Escola Prática de Infantaria apresenta sentidas condolências e<br />

<br />

prematura partida do camarada Agostinho.<br />

Nº 187 AGO09<br />

89

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