1 Dom Expedito Lopes: Esquecimento e Memória (Discurso ... - anpuh

enxergar e cristalizar um só Dom Expedito – o “mártir” e “santo”, o “bispo dos pobres”,
o “bispo de coração mariano” e o “bispo do perdão” – e, assim, silenciar outras
interpretações do e sobre o mesmo e silenciar a personalidade de Padre Hosana,
deixando-o relegado ao esquecimento. São os silêncios em torno da história do
moribundo, e também, sobre a tentativa de sua beatificação e construção de sua imagem
de herói, que dão-nos brechas e lacunas para fomentar outras interpretações e
questionamentos.
Sallta aos olhos nessa celebração o uso dos símbolos, das imagens e dos discursos
sobre o bispo assassinado. As imagens têm o poder de materializar um discurso. Assim
como as imagens, nessa fala católica as palavras são estáticas, têm uma só interpretação,
uma só possibilidade. Apaga-se a polissemia e a dinâmica do discurso. As palavras não
são “assanhadas”, provocadas, violentadas. Tornam-se linear, cronológica, posta dentro
dos quadros institucionais da Igreja.
Então, outras imagens e interpretações sobre a história de Dom Expedito podem e
devem ser mencionados, como esta que trilhamos até aqui. As interpretações, os
discursos estão sempre em curso, estão sempre abertos. Não há um ponto final, assim
como não há um ponto inicial, porque a história não é linear, coerente, fechada. O que
há são visões de mundo e interpretações sobre determinadas coisas, pessoas e situações
embebidas nas idéias e ideologias de seu tempo. O dizer, como afirma Eni Orlandi, está
sempre aberto, é sempre flexível e sempre apresenta silêncios que falam.
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