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1 Dom Expedito Lopes: Esquecimento e Memória (Discurso ... - anpuh

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teremos novamente. Ele nos está exposto e/ou estampado nos jornais, em bibliografias 3<br />

específicas e na oralidade de quem se interessa em narrá-lo.<br />

Nesse aspecto, Lucette Velensi 4 já aponta observações. Seu texto começa com<br />

indagações pertinentes e de extrema importância para os estudos históricos<br />

contemporâneos: “E nós, podemos ouvir as palavras que na época foram<br />

pronunciadas?” 5 . Sua resposta é imediata ao inferir que ouvimos apenas os ecos das<br />

batalhas e dos acontecimentos. Eles chegam até nós através dos textos. O texto é o lugar<br />

onde estão alguns seletivos e eletivos traços da batalha. Como uma narrativa, o texto se<br />

apresenta como um caminho para comunicar a lembrança do evento e tendem a<br />

fixar/apagar imagens, pronunciar e/ou comunicar lembranças de um determinado<br />

acontecimento, partilhá-lo e glorificá-lo.<br />

No caso do assassinato de <strong>Dom</strong> <strong>Expedito</strong>, os textos abundam sobre suas últimas<br />

palavras, sobre o impacto de sua morte – dolorosa e heróica, como afirma a Igreja e os<br />

jornais. É uma escrita com intenção de arquitetar ou fabricar, um mito, em detrimento<br />

de se apagar o anti-herói, o contraponto, configurado na pessoa do sacerdote assassino.<br />

O objetivo desses textos é fixar lembranças e esquecimentos, congelar o acontecimento,<br />

torná-lo estático, mais forte ainda, torná-lo a “verdade”. Desta forma, apaga-se a<br />

pluralidade que ele denota e as outras vozes que o compõem ou que o confrontam, as<br />

outras possibilidades possíveis e os seus silêncios. Essa rigidez textual dos escritos<br />

sobre <strong>Dom</strong> <strong>Expedito</strong> – quer seja oriundo da Igreja ou de outros campos letrados –<br />

contrasta com as afirmações de Lucette Valensi, quando expõe que:<br />

... sempre subsistem certos traços – um título, uma versão dos fatos –<br />

que serão anulados por outros relatos da batalha. Sempre os ecos do ato<br />

produzem uma história que é, ao mesmo tempo, verificável em suas grandes<br />

linhas, penetrada de inexatidões e polêmica em sua interpretação. Todo e<br />

qualquer texto é polissêmico, ou seja, está sempre aberto, chama outras<br />

vozes e interpretações para compô-lo. É uma arquitetura conjunta, ascende<br />

vozes na mesma proporção que tende a calar outras. 6<br />

Então, onde estão as vozes ausentes e que podem contribuir na composição do<br />

quadro de interpretações da morte e das últimas palavras proferidas por <strong>Dom</strong> <strong>Expedito</strong><br />

3 Além da obra já aqui citada de Frei Romeu Peréa, temos ainda: CÉSAR, Ana Maria. A Bala e a Mitra.<br />

Edições Bagaço, Recife, 1994 e BRITO, Taíza. As Confissões do Padre Hosana. Edições Bagaço,<br />

Recife, 1998.<br />

4 VALENSI, Lucette. Fábulas da <strong>Memória</strong>: a batalha de Alcácer Quibir e o Mito do Sebastianismo.<br />

Tradução de Maria Helena Franco Martins. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1994, p.41-128.<br />

5 Ibid. P. 41.<br />

6 Ibid. P. 45.<br />

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