1 Dom Expedito Lopes: Esquecimento e Memória (Discurso ... - anpuh
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clero e à cidade como um cordeiro imolado, num ritual de entrega, assim como Cristo<br />
entregou-se pela humanidade na cruz.<br />
Acolhido no Hospital <strong>Dom</strong> Moura, teve assistência médica e religiosa. Muitos<br />
padres e religiosas o acompanhavam em seu leito. Frei Romeu Peréa, capelão daquele<br />
hospital na época, anotara suas últimas palavras. As escreveu e publicou em dois livros.<br />
Nestas obras 1 faz alusão do leito de morte de <strong>Dom</strong> <strong>Expedito</strong> à cena bíblica da última<br />
ceia, ou seja, Cristo estava rodeado de apóstolos oferecendo seu corpo e seu sangue à<br />
humanidade. Entre eles estava um traidor, Judas Scairotes. Cristo, então, partilha o pão,<br />
o vinho e oferece-se como um cordeiro imolado. <strong>Dom</strong> <strong>Expedito</strong>, por sua vez,<br />
encontrava-se rodeado de padres. Um deles o traiu, Padre Hosana. O bispo então se<br />
configura na descrição desta cena como o pão partilhado para todos, ao mesmo tempo, o<br />
cordeiro imolado que doa a própria vida e o seu próprio sangue aos seus.<br />
Um texto fabricado para convencer ao clero e a população de Garanhuns as<br />
virtudes de <strong>Dom</strong> <strong>Expedito</strong>. O homem que doa a própria vida pela Igreja, pela<br />
preservação da moral, dos bons costumes e pela perpetuação e solidificação da tradição.<br />
Podemos considerar sua morte como um ritual, uma fabricação intencional, uma vez<br />
que, em entrevistas com alguns padres ainda presentes que viveram essa experiência e o<br />
depoimento de outros no processo criminal sobre esse caso, eles afirmam que o bispo<br />
pressentia e/ou sabia que algo desagradável iria acontecer. 2 Uma morte com intenção<br />
de perpetuar uma memória, de congelá-la e, sob a administração da Igreja Católica, ser<br />
vigiada e repassada para a população pernambucana. Entretanto, antes de adentrarmos<br />
nessa discussão é necessário descrever um pouco mais sobre a sucessão de<br />
acontecimentos imediatos aos disparos.<br />
Padre Hosana refugiou-se no Mosteiro de São Bento, próximo ao Palácio<br />
Episcopal – local dos disparos. Foi acolhido por <strong>Dom</strong> Bento, administrador do<br />
Mosteiro, e, posteriormente, entregue à polícia. Foi transferido para a Casa de Detenção,<br />
capital. Lá esperou seu julgamento. Lá também foi ouvida sua Excomunhão,<br />
1 PERÉA, Frei Romeu. A Morte de <strong>Dom</strong> <strong>Expedito</strong>. Editora Flos Carmelo, Recife-PE, 1957. Ver ainda: -<br />
---------------------. <strong>Dom</strong> <strong>Expedito</strong> <strong>Lopes</strong>: considerações a cerca de um cadáver glorioso. Editora Flos<br />
Carmelo, Recife-PE, 1958.<br />
2 Cita-se: <strong>Dom</strong> Acácio Rodrigues Alves, Bispo Emérito de Palmares-Pernambuco; Padre Frota Carneiro,<br />
auxiliar e amigo de <strong>Dom</strong> <strong>Expedito</strong>; Depoimento de Monsenhor Adelmar Valença, pároco da Catedral de<br />
Santo Antônio, à época do Crime. Este último só foi possível essa informação através de seu depoimento<br />
no Processo Criminal de Padre Hosana; uma vez que já pereceu. Fragmentos do Processo Criminal de<br />
Padre Hosana de Siqueira e Silva encontra-se em meu poder, especificamente, os depoimentos das cinco<br />
testemunhas de defesa e as cinco testemunhas de acusação do sacerdote. Estes me foram gentilmente<br />
cedidos por Ana Maria César, advogada aposentada, residente em Recife-Pernambuco.<br />
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