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Noris Biga Kim Yun - Universidade Presbiteriana Mackenzie : Index

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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011<br />

metamorfose da vítima expiatória por obra também (embora não apenas) do<br />

paradigma econômico, o necessário “Basta de sacrifícios!” adquire uma urgência e<br />

uma dramaticidade ainda maiores. (p. 303)<br />

O sacrifício é uma característica sui generis do liberalismo e também do neoliberalismo. Ela<br />

é evocada e defendida, se bem que veladamente, na obra daquele que é considerado o<br />

fundador do projeto liberal:<br />

Quando o Governo, para remediar os transtornos de uma carestia, ordena aos<br />

negociantes que vendam o trigo a um preço que supõe razoável, impede-os com<br />

isso de levar o trigo ao mercado, o que poderá por vezes causar a fome mesmo<br />

no início da estação, ou, se o levam, possibilita à população – e com isso lhe<br />

facilita – consumir o trigo de modo tão rápido que a fome necessariamente<br />

sobrevirá antes do final da estação. A ilimitada e irrestrita liberdade do<br />

comércio de trigo, única medida preventiva eficaz para evitar a desgraça da<br />

fome, é assim o melhor paliativo para os transtornos da carestia – os<br />

transtornos de uma verdadeira escassez não podem ser neutralizados, mas<br />

apenas atenuados. Não há atividade econômica que mais mereça a plena<br />

proteção da lei, que dela mais necessite, pois nenhuma outra está tão<br />

exposta ao ódio da população.<br />

Em anos de escassez, os estratos inferiores da população atribuem seu<br />

sofrimento à avareza do comerciante de trigo, que se torna o objeto de seu ódio e<br />

indignação. Portanto, ao invés de lucrar com essa situação, ele corre o perigo<br />

de se ver totalmente arruinado e de ter seus armazéns saqueados e<br />

destruídos pela violência da população. Todavia, é em anos de escassez,<br />

quando os preços estão altos, que o comerciante de trigo conta auferir a maior<br />

parte de seus ganhos. – grifo nosso. (SMITH; 2010; vol. 2; p. 664)<br />

Eunice Ostrensky ao prefaciar a obra de Adam Smith (2003), comenta de maneira<br />

peremptória para o presente trabalho acerca da passagem supracitada:<br />

Chegamos ao cerne do debate sobre o comércio de grãos em particular, e ao do<br />

sistema de perfeita liberdade geral. De um lado, os partidários da intervenção do<br />

Estado no mercado de trabalho e de grãos advogam a necessidade de defender o<br />

direito de sobrevivência dos mais pobres em situações extremadas; de outro, há<br />

os teóricos para quem essa intervenção, mesmo nas piores circunstâncias,<br />

representa um sacrifício das leis. No fundo, o que está em jogo não é apenas a<br />

liberdade de comércio, mas a suspensão das leis que garantem o direito à<br />

propriedade – neste caso, o direito do agricultor a seu trigo. Criada a<br />

instabilidade das posses, fatalmente a riqueza nacional se ressentirá; até<br />

mesmo o direito de propriedade estará em perigo. Em vez de milhares de<br />

pobres a morrer à míngua, talvez uma nação inteira a perecer sob a ameaça<br />

da desordem social. Contra esse perigo, “a única medida preventiva eficaz” é “a<br />

ilimitada e irrestrita liberdade do comércio de trigo”: “Não há atividade econômica<br />

que mais mereça a plena proteção da lei, que dela mais necessite, pois nenhuma<br />

outra está exposta ao ódio da população.” – grifo nosso. (SMITH; 2003; p. XIII e<br />

XIV)<br />

Ameaçado o direito de propriedade, a sociedade de consumidores se vê em perigo. Os<br />

milhares de pobres a morrer à míngua são o preço a se pagar para que a civilização não se<br />

dissolva em um mar de violências e desordem social. Por isso, o comércio de trigo – e no<br />

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