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Noris Biga Kim Yun - Universidade Presbiteriana Mackenzie : Index

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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011<br />

desenvolvimento contra as principais doenças evitáveis, durante dez anos (BARRERE; 1992;<br />

p. 248).<br />

A banalização da violência pode torná-la generalizada e descontrolada, ameaçando as<br />

estruturas sobre as quais se sustenta a sociedade. Girard (2008) analisa o processo de<br />

vingança relacionado à violência:<br />

Por que, em qualquer lugar onde grassa, a vingança do sangue constitui uma<br />

ameaça intolerável? Face ao sangue derramado, a única vingança satisfatória é o<br />

derramamento do sangue criminoso. Não há diferença nítida entre o ato que a<br />

vingança pune e a própria vingança. Ela é concebida como uma represália, e cada<br />

vingança invoca uma outra. Muito raramente o crime punido pela vingança é visto<br />

como o primeiro: ele é considerado como a vingança de um crime mais original.<br />

A vingança constitui portanto um processo infinito, interminável. Quando a<br />

violência surge em um ponto qualquer da comunidade, tende a se alastrar e a<br />

ganhar a totalidade do corpo social, ameaçando desencadear uma verdadeira<br />

reação em cadeia, com consequências rapidamente fatais em uma sociedade de<br />

dimensões reduzidas. A multiplicação das represálias coloca em jogo a própria<br />

existência da sociedade. Por este motivo, onde quer que se encontre, a vingança<br />

é estritamente proibida. (p. 27)<br />

As sociedades primevas lançavam mão de mecanismos de controle da violência. Um dos<br />

principais era o sacrifício religioso. A vítima a ser imolada absorve sobre si as desavenças<br />

oferecendo uma saciação parcial, uma interrupção no ciclo vicioso da vingança. Ao invés da<br />

violência ser banalizada e tornar-se generalizada, ela é canalizada sobre o bode expiatório e<br />

toda a sociedade se volta contra ele. Nesse sistema, o sacrifício pode ser um animal, ou,<br />

também, um ser humano. “O fato de que algumas sociedades tenham sistematizado a<br />

imolação de certas categorias de seres humanos não tem nada de surpreendente.”<br />

(GIRARD; 2008; p. 22)<br />

Contudo, na sociedade hodierna, não há um ciclo incontrolável e generalizado de vingança<br />

claramente visível. Com a secularização, os rituais religiosos de sacrifício parecem banidos.<br />

Substituiu-se o sacrifício pelo sistema judiciário. Girard (2008) argumenta:<br />

Há um circulo vicioso da vingança, e é difícil imaginar seu peso nas sociedades<br />

primitivas. Para nós esse círculo não existe. Qual a razão desse privilégio? Uma<br />

resposta categórica para tal questão surge no plano das instituições: é o sistema<br />

judiciário que afasta a ameaça da vingança. Ela não a suprime, mas limita-a<br />

efetivamente a uma represália única, cujo exercício é confiado a uma autoridade<br />

soberana e especializada em seu domínio. As decisões da autoridade judiciária<br />

afirmam-se sempre como a última palavra da vingança. (p. 28)<br />

A vingança se torna um instrumento exclusivo do poder público. Contudo, com o<br />

agigantamento da crise mimética, e a degeneração moral da sociedade em prol dos lucros e<br />

dos avanços tecnológicos e científicos, coloca-se em dúvida a eficiência dessas instituições<br />

judiciárias. A violência é maior do que o poder público de combatê-la. Os milhões de<br />

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