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Diário reflexivo na formação inicial - CCHLA - Universidade Federal ...

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1<br />

<strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> da Paraíba<br />

Centro de Ciências Huma<strong>na</strong>s, Letras e Artes<br />

Departamento de Letras Estrangeiras Moder<strong>na</strong>s<br />

Licenciatura Ple<strong>na</strong> em Letras – Habilitação em Língua Francesa<br />

DIÁRIO REFLEXIVO NA FORMAÇÃO INICIAL: SIGNIFICANDO AÇÕES NA<br />

CONSTRUÇÃO DE UMA IDENTIDADE PROFISSIONAL<br />

ANA CLÁUDIA DE MELO FREITAS<br />

Orientadora: Profª. Drª. Betânia Passos Medrado<br />

João Pessoa – PB<br />

2011


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2<br />

<strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> da Paraíba<br />

Centro de Ciências Huma<strong>na</strong>s, Letras e Artes<br />

Departamento de Letras Estrangeiras Moder<strong>na</strong>s<br />

Licenciatura Ple<strong>na</strong> em Letras – Habilitação em Língua Francesa<br />

ANA CLÁUDIA DE MELO FREITAS<br />

DIÁRIO REFLEXIVO NA FORMAÇÃO INICIAL: SIGNIFICANDO AÇÕES NA<br />

CONSTRUÇÃO DE UMA IDENTIDADE PROFISSIONAL<br />

Trabalho apresentado ao Curso de Licenciatura em Letras da<br />

<strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> da Paraíba como requisito para obtenção do grau de<br />

Licenciado em Letras, habilitação em Língua Francesa.<br />

Orientadora: Profª. Drª. Betânia Passos Medrado<br />

João Pessoa – PB<br />

2011


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5<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Meus sinceros agradecimentos a todos os que colaboraram direta ou indiretamente<br />

<strong>na</strong> realização deste trabalho.<br />

A Deus, razão da minha existência e minha fonte de esperança, por ter me dado<br />

graça em todas as etapas deste trabalho.<br />

Aos meus pais, Francisco e Adenice, pelo apoio em toda a minha jor<strong>na</strong>da de<br />

estudos. Certamente essa é uma importante herança que vocês me deixarão.<br />

Aos meus queridos sobrinhos, Kelvin, Keyla e Kemily pela doçura e carinho que<br />

me dedicam, me mostrando que a vida também é feita de brincadeiras.<br />

Ao meu noivo, Presley Charllysson, pela compreensão e amor sempre.<br />

A todos que participaram dos Projetos acadêmicos (PROBEX e PROLICEN), que<br />

cito neste trabalho: as coorde<strong>na</strong>doras, os colegas e os alunos, vocês me proporcio<strong>na</strong>ram<br />

muitas vivências significativas profissio<strong>na</strong>lmente e pessoalmente, e parte do resultado é<br />

esta monografia.<br />

Aos professores que tive a oportunidade de conhecer durante a Graduação, todos<br />

contribuíram de alguma forma em minha <strong>formação</strong> e me fizeram perceber que quando<br />

amamos o que fazemos estamos no caminho de ser um profissio<strong>na</strong>l bem sucedido.<br />

À professora Drª. Betânia Passos Medrado, orientadora desta pesquisa, que me<br />

orientou de uma forma tão profissio<strong>na</strong>l. Pelas palavras, esclarecimento de dúvidas, livros<br />

emprestados e superação de dificuldades inesperadas, confirmando que além de um<br />

modelo de professora e pesquisadora é também excelente orientadora. Muito obrigada por<br />

tudo!<br />

Às professoras que compõem a Banca exami<strong>na</strong>dora deste trabalho, por terem<br />

aceitado o convite e pelas possíveis sugestões.<br />

Aos colegas de curso, em especial à: Ja<strong>na</strong>í<strong>na</strong>, Jo<strong>na</strong>than, Anne Cléa, Jane Kelly,<br />

Elaine, Meli<strong>na</strong>, Mônica, Maria Tereza, Anderson, Webert, Michael e Daniel, entre tanto<br />

outros que além de trocarmos conhecimentos acadêmicos, de alguma forma me ensi<strong>na</strong>ram<br />

lições para a vida.


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6<br />

RESUMO<br />

O processo de <strong>formação</strong> docente, <strong>inicial</strong> e continuada, tem gerado inquietações nos<br />

diversos profissio<strong>na</strong>is envolvidos e motivado diversas pesquisas no meio acadêmico, tendo<br />

em vista a importância de uma <strong>formação</strong> que desenvolva profissio<strong>na</strong>is capazes de refletir<br />

criticamente sobre a prática pedagógica, capazes de se auto-avaliarem, entre outros<br />

aspectos. Inseridos nesse contexto e partindo de nossa prática de ensino da língua francesa<br />

no âmbito de Projetos acadêmicos e seu registro em diários <strong>reflexivo</strong>s, bem como<br />

interessados em melhor compreender o processo de <strong>formação</strong> da identidade profissio<strong>na</strong>l<br />

docente, pretendemos com este trabalho, discutir de que forma uma professora de língua<br />

estrangeira em <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> evidencia, em diários <strong>reflexivo</strong>s, a conscientização de suas<br />

ações e reflexão crítica do processo de ensino-aprendizagem e até que ponto o<br />

posicio<strong>na</strong>mento crítico dessa professora si<strong>na</strong>liza para a construção da sua identidade como<br />

profissio<strong>na</strong>l do ensino. Fundamentados nos estudos de Liberali, Magalhães e Romero<br />

(2003); Moita Lopes (2003); Zabalza (2004); Reichmann (2007); Bortoni-Ricardo (2008);<br />

Medrado (2008); Dias (2009); Liberali (1999, 2010), entre outros. Nosso corpus consiste<br />

em um diário <strong>reflexivo</strong> produzido pela pesquisadora-diarista durante sua participação no<br />

Projeto de extensão Direitos Linguísticos e Inclusão social: ofici<strong>na</strong>s de língua estrangeira<br />

para a comunidade Maria de Nazaré (PROBEX/UFPB) com vigência nos anos 2008, 2009<br />

e 2010, totalizando 98 registros. A análise qualitativa dos dados evidenciou que o diário<br />

auxilia <strong>na</strong> visualização da ação do professor e contribui para o desenvolvimento de uma<br />

postura crítico-reflexiva, assim como, é um instrumento capaz de auxiliar <strong>na</strong> construção da<br />

identidade profissio<strong>na</strong>l docente.<br />

Palavras-chave: <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> - língua estrangeira - construção identitária


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7<br />

LISTA DE ILUSTRAÇÕES<br />

FIGURAS<br />

Figura 1.1 - Práticas de escrita reflexiva.............................................................................13<br />

Figura 1.2 - O diário no ciclo <strong>reflexivo</strong>..............................................................................18<br />

QUADROS<br />

Quadro 1.1 - Tipos de reflexão de Van Manem..................................................................16<br />

Quadro 2.1 - Diferenças <strong>na</strong>s vigências do Projeto (PROBEX/UFPB)...............................23<br />

Quadro 3.1 - Conteúdos temáticos recorrentes <strong>na</strong>s três vigências (2008, 2009 e 2010)....27<br />

Quadro 3.2 – Características da <strong>formação</strong> de uma identidade profissio<strong>na</strong>l........................36


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8<br />

SUMÁRIO<br />

INTRODUÇÃO..................................................................................................................08<br />

CAPÍTULO 1. PERCORRENDO OS CAMINHOS DA TEORIA...............................11<br />

1.1 Um breve olhar sobre <strong>na</strong>rrativas docentes....................................................11<br />

1.1.1 O diário <strong>reflexivo</strong>............................................................................................13<br />

1.2 Por uma <strong>formação</strong> crítico-reflexiva................................................................15<br />

1.3 Construindo uma identidade profissio<strong>na</strong>l docente........................................19<br />

CAPÍTULO 2. DIRETRIZES DA METODOLOGIA ADOTADA...............................21<br />

2.1 A <strong>na</strong>tureza e o contexto da pesquisa...............................................................21<br />

2.2 Perfil da pesquisadora-diarista.......................................................................24<br />

2.3 Procedimentos de análise.................................................................................25<br />

CAPÍTULO 3. DIÁRIOS REFLEXIVOS: O ENCONTRO DA AÇÃO E DA<br />

REFLEXÃO........................................................................................................................26<br />

3. 1 O diário como espaço de/para a reflexão......................................................26<br />

3.1.1 O que é dito e como é dito?.............................................................................28<br />

3.1.1.1 Descrição das dinâmicas realizadas............................................................28<br />

3.1.1.2 Afetividade entre os alunos e os professores/a docente e vice-versa...........30<br />

3.1.1.3 Motivação da docente para atuar no ensino de FLE...................................31<br />

3.1.1.4 Tratamento do erro e sua correção..............................................................32<br />

3.1.1.5 Reações, questio<strong>na</strong>mentos, reflexões, motivação/desmotivação diante de<br />

questio<strong>na</strong>mentos/ comportamentos dos alunos....................................................................33<br />

3.2 Constituindo-se professora..............................................................................36<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................38<br />

REFERÊNCIAS.................................................................................................................39<br />

APÊNDICES.......................................................................................................................41<br />

Apêndice A..........................................................................................................................42<br />

Apêndice B..........................................................................................................................44<br />

Apêndice C..........................................................................................................................45


INTRODUÇÃO<br />

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9<br />

O processo de <strong>formação</strong> docente, <strong>inicial</strong> e continuada, gera inquietações nos<br />

diversos profissio<strong>na</strong>is envolvidos. Verificamos que esse tema tem motivado diversas<br />

pesquisas no meio acadêmico. Interessa-nos neste trabalho destacar as pesquisas<br />

relacio<strong>na</strong>das à <strong>formação</strong> docente <strong>na</strong> área de língua estrangeira, com ênfase <strong>na</strong> <strong>formação</strong> do<br />

professor <strong>reflexivo</strong> (LIBERALI, 1999; LIBERALI, MAGALHÃES e ROMERO, 2003;<br />

ZABALZA, 2004; SIGNORINI, 2006; ALARCÃO, 2010, dentre outras).<br />

Dada à importância de uma <strong>formação</strong> que desenvolva profissio<strong>na</strong>is capazes de<br />

refletir criticamente sobre a prática pedagógica, capazes de se auto-avaliarem, conscientes<br />

de seu papel enquanto cidadãos, docentes que exercitem a autonomia, que saibam agir<br />

diante dos desafios, tanto no âmbito da escola pública quanto privada, frente aos avanços<br />

tecnológicos. Será que a <strong>formação</strong> que dispomos tem cumprido seu papel de “formar”<br />

profissio<strong>na</strong>is com esse perfil e ainda alinhar teoria e prática?<br />

Relacio<strong>na</strong>r teoria e prática nem sempre é possível. Felizmente, tivemos a<br />

oportunidade de vivenciar uma primeira experiência prática com o ensino de língua<br />

estrangeira, nesse caso a língua francesa, ao mesmo tempo em que estávamos em<br />

<strong>formação</strong>. Isso foi possível através de projetos acadêmicos, como o projeto de extensão<br />

Direitos Linguísticos e Inclusão social: ofici<strong>na</strong>s de língua estrangeira para a comunidade<br />

Maria de Nazaré 1 (PROBEX/UFPB, 2008-2010) que, além de nos permitir a prática<br />

pedagógica, apresentou-nos o gênero diário <strong>reflexivo</strong>. Um segundo projeto, intitulado<br />

<strong>Diário</strong>s Reflexivos e Formação do Professor de Língua Estrangeira: construindo<br />

educadores-pesquisadores críticos 2 (PROLICEN/UFPB, 2009-2010), durante o qual nos<br />

foi possível aprofundar o conhecimento e a análise do gênero mencio<strong>na</strong>do.<br />

O ato de escrever para muitas pessoas é prazeroso; para outras, pode ser uma<br />

atividade extremamente difícil e trabalhosa. Particularmente, por termos afinidade com a<br />

escrita, talvez esse tenha sido um dos motivos pelo qual o diário <strong>reflexivo</strong> despertou nossa<br />

atenção. Mas isso não significa que registrar - após cada aula ou ofici<strong>na</strong> - o que aconteceu<br />

foi sempre fácil e agradável. Às vezes, o cansaço e o desânimo nos faziam pensar em não<br />

1 O referido Projeto é vinculado ao Programa de Bolsas de Extensão (PROBEX/UFPB). Desenvolvido por<br />

professoras do Departamento de Letras Estrangeiras Moder<strong>na</strong>s (DLEM/UFPB): Profª. Drª. Marta Praga<strong>na</strong><br />

Dantas (coorde<strong>na</strong>dora), Profª. Drª. Clélia Barqueta (vice-coorde<strong>na</strong>dora), Profª. Ms. Maria de Guadalupe Melo<br />

Coutinho e alunos da Graduação em Letras Francês da UFPB.<br />

2 Projeto vinculado ao Programa das Licenciaturas (PROLICEN/UFPB) desenvolvido pela Profª. Drª. Clélia<br />

Barqueta (coorde<strong>na</strong>dora) e alu<strong>na</strong>s da Graduação em Letras Francês da UFPB.


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10<br />

escrever, mas continuamos, e hoje vemos a importância de ter persistido, por motivos que<br />

vão além dos que apresentamos neste trabalho.<br />

Dessa forma, propomo-nos a a<strong>na</strong>lisar o diário <strong>reflexivo</strong> produzido por esta<br />

pesquisadora, professora em <strong>formação</strong>, durante sua participação no PROBEX já<br />

mencio<strong>na</strong>do.<br />

Dentre as concepções atribuídas ao gênero diário <strong>reflexivo</strong>, que serão abordadas<br />

neste trabalho, ressaltamos o pensamento de Smyth (1992 apud LIBERALI,<br />

MAGALHÃES e ROMERO, 2003, p. 143) que caracteriza o diário como um instrumento<br />

cujo objetivo é “[...] auxiliar o professor a visualizar sua ação através do processo de<br />

descrição da prática e a interpretar essa prática à luz de teorias de ensino-aprendizagem e<br />

de linguagem, para, assim, criticá-la e reconstruí-la.”<br />

Alinhando-nos a essa perspectiva, entendemos que da mesma forma que o diário<br />

auxilia <strong>na</strong> visualização da ação do professor, ao criticar e reconstruir a prática pedagógica,<br />

este docente possivelmente desenvolverá uma postura crítico-reflexiva. Concebemos o<br />

diário também como um instrumento capaz de contribuir para a construção da identidade<br />

profissio<strong>na</strong>l docente, pois ao ser elaborado,<br />

[...] são desencadeados processos de articulação e legitimação de<br />

posições, papéis e identidades autorreferenciadas, ou seja, construídas<br />

pelo <strong>na</strong>rrador/autor para si mesmo [...] bem como das identidades<br />

profissio<strong>na</strong>is, individuais e de grupo [grifo da autora] (SIGNORINI, 2000<br />

apud SIGNORINI, 2006, p. 54).<br />

Fundamentados <strong>na</strong>s concepções apresentadas e nos estudos de Liberali, Magalhães<br />

e Romero (2003); Moita Lopes (2003); Zabalza (2004); Tápias-Oliveira (2005),<br />

Reichmann (2007); Bortoni-Ricardo (2008); Medrado (2008); Dias (2009); Liberali (1999,<br />

2010), entre outros, objetivamos com este trabalho responder as seguintes questões de<br />

pesquisa:<br />

1- De que forma uma professora de língua estrangeira em <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong><br />

evidencia, em diários <strong>reflexivo</strong>s, a conscientização de suas ações e reflexão crítica do<br />

processo de ensino-aprendizagem?<br />

2- Até que ponto o posicio<strong>na</strong>mento crítico dessa professora si<strong>na</strong>liza para a<br />

construção da sua identidade como profissio<strong>na</strong>l do ensino?<br />

Esta pesquisa está situada <strong>na</strong> área da Linguística Aplicada, especificamente no<br />

campo de estudos da <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> de professores de francês como língua estrangeira,<br />

tendo o diário <strong>reflexivo</strong> como objeto de investigação.


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11<br />

Considerando as questões de pesquisa citadas, traçamos para este trabalho, os<br />

objetivos específicos a seguir:<br />

1- Verificar até que ponto as ações de descrever, informar, confrontar e<br />

reconstruir 3 (SMYTH, 1992) aparecem no diário <strong>reflexivo</strong>, indicando a presença de uma<br />

reflexão crítica acerca das primeiras vivências em sala de aula.<br />

2- Identificar trechos no diário <strong>reflexivo</strong> que indicam a construção identitária da<br />

professora em <strong>formação</strong>.<br />

Nossa motivação para esta pesquisa advém de inquietações geradas a partir da<br />

prática de ensino da língua francesa e seu registro em diários <strong>reflexivo</strong>s. Destacamos a<br />

relevância deste trabalho por vários motivos, entre eles, o número escasso de pesquisas no<br />

campo da <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> de professores de francês como língua estrangeira (doravante<br />

FLE). Além disso, ratificamos, através desta pesquisa, a possibilidade de utilização do<br />

gênero diário <strong>reflexivo</strong>: 1) como instrumento de pesquisa em sala de aula e como espaço<br />

de voz do professor e do aluno; 2) como contribuição no processo de reflexão para o<br />

desenvolvimento de um profissio<strong>na</strong>l capaz de atuar de forma crítico-reflexiva; 3) como<br />

auxílio <strong>na</strong> construção da identidade profissio<strong>na</strong>l docente; 4) como fonte de interesse para<br />

despertar/incentivar outros professores, em <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> ou continuada, a adotarem<br />

uma postura mais reflexiva, seja por meio de diários ou não; 5) como prática de letramento<br />

em sala de aula.<br />

Diante disso, nosso trabalho está organizado em três capítulos. No primeiro,<br />

faremos um breve percurso sobre a teoria referente a diários <strong>reflexivo</strong>s, <strong>formação</strong> críticoreflexiva<br />

e construção da identidade profissio<strong>na</strong>l docente. No segundo capítulo,<br />

apresentaremos as diretrizes da metodologia utilizada nessa pesquisa e, fi<strong>na</strong>lmente, no<br />

terceiro capítulo faremos a análise dos dados, buscando responder as nossas questões de<br />

pesquisa e alcançar os objetivos específicos.<br />

3 Trabalharemos com mais noções no capítulo 1.


INTRODUÇÃO<br />

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12<br />

O processo de <strong>formação</strong> docente, <strong>inicial</strong> e continuada, gera inquietações nos<br />

diversos profissio<strong>na</strong>is envolvidos. Verificamos que esse tema tem motivado diversas<br />

pesquisas no meio acadêmico. Interessa-nos neste trabalho destacar as pesquisas<br />

relacio<strong>na</strong>das à <strong>formação</strong> docente <strong>na</strong> área de língua estrangeira, com ênfase <strong>na</strong> <strong>formação</strong> do<br />

professor <strong>reflexivo</strong> (LIBERALI, 1999; LIBERALI, MAGALHÃES e ROMERO, 2003;<br />

ZABALZA, 2004; SIGNORINI, 2006; ALARCÃO, 2010, dentre outras).<br />

Dada à importância de uma <strong>formação</strong> que desenvolva profissio<strong>na</strong>is capazes de<br />

refletir criticamente sobre a prática pedagógica, capazes de se auto-avaliarem, conscientes<br />

de seu papel enquanto cidadãos, docentes que exercitem a autonomia, que saibam agir<br />

diante dos desafios, tanto no âmbito da escola pública quanto privada, frente aos avanços<br />

tecnológicos. Será que a <strong>formação</strong> que dispomos tem cumprido seu papel de “formar”<br />

profissio<strong>na</strong>is com esse perfil e ainda alinhar teoria e prática?<br />

Relacio<strong>na</strong>r teoria e prática nem sempre é possível. Felizmente, tivemos a<br />

oportunidade de vivenciar uma primeira experiência prática com o ensino de língua<br />

estrangeira, nesse caso a língua francesa, ao mesmo tempo em que estávamos em<br />

<strong>formação</strong>. Isso foi possível através de projetos acadêmicos, como o projeto de extensão<br />

Direitos Linguísticos e Inclusão social: ofici<strong>na</strong>s de língua estrangeira para a comunidade<br />

Maria de Nazaré 4 (PROBEX/UFPB, 2008-2010) que, além de nos permitir a prática<br />

pedagógica, apresentou-nos o gênero diário <strong>reflexivo</strong>. Um segundo projeto, intitulado<br />

<strong>Diário</strong>s Reflexivos e Formação do Professor de Língua Estrangeira: construindo<br />

educadores-pesquisadores críticos 5 (PROLICEN/UFPB, 2009-2010), durante o qual nos<br />

foi possível aprofundar o conhecimento e a análise do gênero mencio<strong>na</strong>do.<br />

O ato de escrever para muitas pessoas é prazeroso; para outras, pode ser uma<br />

atividade extremamente difícil e trabalhosa. Particularmente, por termos afinidade com a<br />

escrita, talvez esse tenha sido um dos motivos pelo qual o diário <strong>reflexivo</strong> despertou nossa<br />

atenção. Mas isso não significa que registrar - após cada aula ou ofici<strong>na</strong> - o que aconteceu<br />

foi sempre fácil e agradável. Às vezes, o cansaço e o desânimo nos faziam pensar em não<br />

4 O referido Projeto é vinculado ao Programa de Bolsas de Extensão (PROBEX/UFPB). Desenvolvido por<br />

professoras do Departamento de Letras Estrangeiras Moder<strong>na</strong>s (DLEM/UFPB): Profª. Drª. Marta Praga<strong>na</strong><br />

Dantas (coorde<strong>na</strong>dora), Profª. Drª. Clélia Barqueta (vice-coorde<strong>na</strong>dora), Profª. Ms. Maria de Guadalupe Melo<br />

Coutinho e alunos da Graduação em Letras Francês da UFPB.<br />

5 Projeto vinculado ao Programa das Licenciaturas (PROLICEN/UFPB) desenvolvido pela Profª. Drª. Clélia<br />

Barqueta (coorde<strong>na</strong>dora) e alu<strong>na</strong>s da Graduação em Letras Francês da UFPB.


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13<br />

escrever, mas continuamos, e hoje vemos a importância de ter persistido, por motivos que<br />

vão além dos que apresentamos neste trabalho.<br />

Dessa forma, propomo-nos a a<strong>na</strong>lisar o diário <strong>reflexivo</strong> produzido por esta<br />

pesquisadora, professora em <strong>formação</strong>, durante sua participação no PROBEX já<br />

mencio<strong>na</strong>do.<br />

Dentre as concepções atribuídas ao gênero diário <strong>reflexivo</strong>, que serão abordadas<br />

neste trabalho, ressaltamos o pensamento de Smyth (1992 apud LIBERALI,<br />

MAGALHÃES e ROMERO, 2003, p. 143) que caracteriza o diário como um instrumento<br />

cujo objetivo é “[...] auxiliar o professor a visualizar sua ação através do processo de<br />

descrição da prática e a interpretar essa prática à luz de teorias de ensino-aprendizagem e<br />

de linguagem, para, assim, criticá-la e reconstruí-la.”<br />

Alinhando-nos a essa perspectiva, entendemos que da mesma forma que o diário<br />

auxilia <strong>na</strong> visualização da ação do professor, ao criticar e reconstruir a prática pedagógica,<br />

este docente possivelmente desenvolverá uma postura crítico-reflexiva. Concebemos o<br />

diário também como um instrumento capaz de contribuir para a construção da identidade<br />

profissio<strong>na</strong>l docente, pois ao ser elaborado,<br />

[...] são desencadeados processos de articulação e legitimação de<br />

posições, papéis e identidades autorreferenciadas, ou seja, construídas<br />

pelo <strong>na</strong>rrador/autor para si mesmo [...] bem como das identidades<br />

profissio<strong>na</strong>is, individuais e de grupo [grifo da autora] (SIGNORINI, 2000<br />

apud SIGNORINI, 2006, p. 54).<br />

Fundamentados <strong>na</strong>s concepções apresentadas e nos estudos de Liberali, Magalhães<br />

e Romero (2003); Moita Lopes (2003); Zabalza (2004); Tápias-Oliveira (2005),<br />

Reichmann (2007); Bortoni-Ricardo (2008); Medrado (2008); Dias (2009); Liberali (1999,<br />

2010), entre outros, objetivamos com este trabalho responder as seguintes questões de<br />

pesquisa:<br />

1- De que forma uma professora de língua estrangeira em <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong><br />

evidencia, em diários <strong>reflexivo</strong>s, a conscientização de suas ações e reflexão crítica do<br />

processo de ensino-aprendizagem?<br />

2- Até que ponto o posicio<strong>na</strong>mento crítico dessa professora si<strong>na</strong>liza para a<br />

construção da sua identidade como profissio<strong>na</strong>l do ensino?<br />

Esta pesquisa está situada <strong>na</strong> área da Linguística Aplicada, especificamente no<br />

campo de estudos da <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> de professores de francês como língua estrangeira,<br />

tendo o diário <strong>reflexivo</strong> como objeto de investigação.


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14<br />

Considerando as questões de pesquisa citadas, traçamos para este trabalho, os<br />

objetivos específicos a seguir:<br />

1- Verificar até que ponto as ações de descrever, informar, confrontar e<br />

reconstruir 6 (SMYTH, 1992) aparecem no diário <strong>reflexivo</strong>, indicando a presença de uma<br />

reflexão crítica acerca das primeiras vivências em sala de aula.<br />

2- Identificar trechos no diário <strong>reflexivo</strong> que indicam a construção identitária da<br />

professora em <strong>formação</strong>.<br />

Nossa motivação para esta pesquisa advém de inquietações geradas a partir da<br />

prática de ensino da língua francesa e seu registro em diários <strong>reflexivo</strong>s. Destacamos a<br />

relevância deste trabalho por vários motivos, entre eles, o número escasso de pesquisas no<br />

campo da <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> de professores de francês como língua estrangeira (doravante<br />

FLE). Além disso, ratificamos, através desta pesquisa, a possibilidade de utilização do<br />

gênero diário <strong>reflexivo</strong>: 1) como instrumento de pesquisa em sala de aula e como espaço<br />

de voz do professor e do aluno; 2) como contribuição no processo de reflexão para o<br />

desenvolvimento de um profissio<strong>na</strong>l capaz de atuar de forma crítico-reflexiva; 3) como<br />

auxílio <strong>na</strong> construção da identidade profissio<strong>na</strong>l docente; 4) como fonte de interesse para<br />

despertar/incentivar outros professores, em <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> ou continuada, a adotarem<br />

uma postura mais reflexiva, seja por meio de diários ou não; 5) como prática de letramento<br />

em sala de aula.<br />

Diante disso, nosso trabalho está organizado em três capítulos. No primeiro,<br />

faremos um breve percurso sobre a teoria referente a diários <strong>reflexivo</strong>s, <strong>formação</strong> críticoreflexiva<br />

e construção da identidade profissio<strong>na</strong>l docente. No segundo capítulo,<br />

apresentaremos as diretrizes da metodologia utilizada nessa pesquisa e, fi<strong>na</strong>lmente, no<br />

terceiro capítulo faremos a análise dos dados, buscando responder as nossas questões de<br />

pesquisa e alcançar os objetivos específicos.<br />

6 Trabalharemos com mais noções no capítulo 1.


1. PERCORRENDO OS CAMINHOS DA TEORIA<br />

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15<br />

Neste capítulo, apresentaremos a fundamentação teórica da nossa pesquisa, cujo<br />

ponto de partida será um breve olhar sobre <strong>na</strong>rrativas docentes; em seguida, expla<strong>na</strong>remos<br />

algumas concepções de diário <strong>reflexivo</strong> e abordaremos o processo de <strong>formação</strong> críticoreflexiva,<br />

destacando as formas de ação de Smyth (1992). Fi<strong>na</strong>lizaremos refletindo sobre o<br />

processo de construção da identidade profissio<strong>na</strong>l docente.<br />

1.1 Um breve olhar sobre <strong>na</strong>rrativas docentes<br />

Uma característica do ser humano é a necessidade de registrar suas experiências de<br />

vida, o que pode ser observado desde os primórdios da humanidade, pois antes mesmo do<br />

homem desenvolver a habilidade da escrita, ele já registrava suas vivências. Exemplo disso<br />

são as inscrições rupestres. Com as grandes <strong>na</strong>vegações, o homem passou a se aventurar<br />

por mares nunca dantes <strong>na</strong>vegados e muitas dessas experiências foram registradas nos<br />

chamados diários de viagem ou diários de bordo. Na infância, juventude e até mesmo <strong>na</strong><br />

idade adulta, muitas pessoas já escreveram diários, seja para expressar sentimentos,<br />

angústias, medos, segredos ou mesmo para registrar lembranças que não querem que se<br />

apaguem com o tempo. Esses são os chamados diários de memória pessoal.<br />

Como não lembrar que durante muito tempo, e até <strong>na</strong> atualidade, é possível<br />

encontrar pessoas que associam o diário ao universo feminino, pertencente às mocinhas e<br />

às mulheres. Quando <strong>na</strong> verdade, muitos homens aderiram ao uso do diário no passado e<br />

nos dias de hoje. O diário era considerado íntimo, privado, mas com o tempo, tornou-se<br />

público, exemplo disso são os blogs, tão populares em nossos dias, devido à<br />

democratização da tecnologia e da internet. Nesse espaço moderno as pessoas escrevem e<br />

tor<strong>na</strong>m seus escritos conhecidos.<br />

Partindo do universo das experiências huma<strong>na</strong>s para o âmbito acadêmico, os diários<br />

ganharam espaço tor<strong>na</strong>ndo-se objeto de estudo em pesquisas sobre <strong>na</strong>rrativas docentes. A<br />

esse respeito, Barcelos (2006, p.148 apud DIAS, 2009, p.37) postula que “[...] vários<br />

estudiosos são unânimes em situar a <strong>na</strong>rrativa como instrumento e método por excelência<br />

que captura a essência da experiência huma<strong>na</strong> e, consequentemente, da aprendizagem e da<br />

mudança huma<strong>na</strong>”.<br />

As <strong>na</strong>rrativas docentes podem ser entendidas como gêneros, “[...] uma vez que se<br />

realizam a partir de formas relativamente estáveis de enunciados concretizados em


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16<br />

contextos específicos entre interlocutores característicos e com objetivos determi<strong>na</strong>dos.”<br />

(LIBERALI, MAGALHÃES e ROMERO, 2003, p.136). Considerando essa concepção das<br />

<strong>na</strong>rrativas como gênero, entendemos também que apesar de serem diferentes entre si,<br />

podem ser utilizadas com a mesma fi<strong>na</strong>lidade, no caso, <strong>na</strong> <strong>formação</strong> docente.<br />

O campo das práticas de escrita reflexiva é composto por diferentes tipos de<br />

<strong>na</strong>rrativas docentes, entre elas, encontramos as autobiografias, também chamadas histórias<br />

de vida; o relato <strong>reflexivo</strong>; o diário dialogado; o diário virtual, popularmente conhecido<br />

como blog; e por fim, o que denomi<strong>na</strong>remos diário <strong>reflexivo</strong>, sendo esse último nosso<br />

objeto de estudo. Na próxima seção discutiremos especificamente esse tipo de diário.<br />

A autobiografia é a história de vida escrita pelo próprio indivíduo. Os relatos<br />

segundo, Medrado (2007, p. 121), “[...] não possuem uma estrutura ou forma<br />

preestabelecida. Funcio<strong>na</strong>m como uma <strong>na</strong>rrativa pessoal, muitas vezes num estilo bastante<br />

informal [...]”. Com relação ao diário dialogado, Reichmann (2007, p. 229) postula que<br />

“[...] é uma interação escrita ancorada <strong>na</strong> sala de aula – um gênero acadêmico<br />

assemelhando-se à escritura de cartas. A linguagem é informal, frequentemente se<br />

aproximando da oralidade [...] pode ser realizado em um caderno, ou em meio virtual.”<br />

Verificamos que o diário está inserido no campo das práticas de escrita reflexiva,<br />

destacando-se em pesquisas <strong>na</strong>s quais é utilizado como diário de aula (ZABALZA, 2004;<br />

TÁPIAS-OLIVEIRA, 2005), também como diário dialogado <strong>na</strong> <strong>formação</strong> continuada de<br />

professores (REICHMANN, 2007) e coorde<strong>na</strong>dores (LIBERALI, 1999), em outros casos,<br />

como diário de leitura (MACHADO, 1998) e até mesmo pesquisas como diário de classe<br />

(MENEGOLO e CARDOSO, 2007).<br />

Com o objetivo de ilustrar os tipos de <strong>na</strong>rrativas citadas, elaboramos a figura a<br />

seguir:


<strong>Diário</strong><br />

dialogado<br />

1.1.1 O diário <strong>reflexivo</strong><br />

Blog<br />

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17<br />

<strong>Diário</strong> <strong>reflexivo</strong><br />

NARRATIVAS<br />

DOCENTES<br />

Relato<br />

Reflexivo<br />

Figura 1.1 - Práticas de escrita reflexiva<br />

Autobiografias<br />

ou histórias de<br />

vida<br />

Após termos abordado a inserção do diário no âmbito da área de estudos das<br />

<strong>na</strong>rrativas docentes, deter-nos-emos no diário <strong>reflexivo</strong>, explorando especificamente,<br />

aspectos que consideramos relevantes para sua compreensão.<br />

Apresentamos a seguir, algumas das concepções de diário. Nossa primeira<br />

definição de diário parte do trabalho de Liberali (1999, p. 24) que, citando Zabalza (1994),<br />

entende-o como “[...] o espaço <strong>na</strong>rrativo de pensamento dos professores, isto é, como<br />

documentos da expressão e da elaboração do pensamento e dos dilemas desses<br />

professores”. Ainda nessa perspectiva, a referida pesquisadora apresenta a concepção de<br />

Zeichner (1981) como “[...] documentários que estimulam elevados graus de pensamento e<br />

uma crescente conscientização sobre os valores pessoais e as teorias implícitas <strong>na</strong>s ações<br />

dos praticantes”.<br />

Ratificando a ideia de diário <strong>reflexivo</strong> como gênero, lembramos que nossa visão<br />

advém do que postula Liberali (1999, p. 32):


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18<br />

O diário seria um gênero que se apresenta como um instrumento, no<br />

sentido vygotskiano do termo. Em outras palavras, seria um gênero que<br />

ocorre em função de um fim específico. Isso remete ao seu papel como<br />

ferramenta para alcançar determi<strong>na</strong>dos objetivos. O diário seria, assim,<br />

um gênero orientado para a atividade inter<strong>na</strong>, para a organização do<br />

comportamento humano e criação de novas relações com o ambiente. E<br />

essa atividade inter<strong>na</strong> neste estudo seria a reflexão crítica (LIBERALI,<br />

1999, p. 32).<br />

Assim, adotamos a nomenclatura diário <strong>reflexivo</strong>, tendo em vista que ao fazer uso<br />

desse gênero em contextos de <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> ou continuada, temos o objetivo de<br />

desenvolver a reflexão crítica, além de propiciar um espaço importante e pessoal no qual<br />

“[...] o professor/aprendiz/autor pode colocar suas dúvidas, anseios, percepções, questões,<br />

críticas, conflitos - enfim, documentar suas tensões, reflexões e (re) elaborar crenças e<br />

práticas” (REICHMANN, 2007, p. 229).<br />

Nessa direção é importante lembrar determi<strong>na</strong>das características que o diário<br />

apresenta. Dentre elas, destacamos seu aspecto longitudi<strong>na</strong>l, o que buscamos explorar nesta<br />

pesquisa, tendo em vista que os diários foram produzidos em determi<strong>na</strong>do momento com o<br />

objetivo de registrar as vivências da professora em <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> e agora estão sendo<br />

utilizados como objeto de investigação. Esse afastamento do momento de produção para a<br />

análise permite melhor compreensão e crítica dos fatos registrados.<br />

De acordo com Zabalza (2004, p. 142), o diário apresenta duas perspectivas: a<br />

sincrônica e a diacrônica. A sincrônica é “o que aconteceu nesse momento que cada parte<br />

do diário registra”; já a diacrônica é “a forma como vão evoluindo os fatos <strong>na</strong>rrados e<br />

nossa própria experiência”. Nossa análise se constrói de acordo com essa segunda<br />

perspectiva.<br />

Outro aspecto a ser destacado é como pode ser estruturado o diário. Observamos<br />

que ele não possui uma forma preestabelecida; <strong>na</strong> verdade apresenta uma estrutura<br />

<strong>na</strong>rrativa flexível. Portanto, cabe ao autor, nesse caso o professor, escolher a maneira que o<br />

agrada e os objetivos que se pretende alcançar, pois ao variar a forma mudam-se também<br />

os resultados.<br />

Com relação à fi<strong>na</strong>lidade do diário, chamamos atenção para a importância dele<br />

como instrumento de pesquisa em sala de aula, por acreditarmos que dessa forma o<br />

professor pode “[...] diminuir a distância secular entre aqueles que fazem pesquisa – os<br />

experts – e eles mesmos – os que, incansavelmente, tentam aplicar <strong>na</strong> prática aquilo que os<br />

outros elaboram <strong>na</strong> teoria” (MEDRADO, 2008, p. 99). Assim como, ao buscar soluções<br />

para os problemas que surgem em sua prática pedagógica, ele deixa de ser ape<strong>na</strong>s


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19<br />

reprodutor de conhecimentos para modificar sua prática e também produzir conhecimento,<br />

conforme afirma Bortoni-Ricardo (2008, p. 46)<br />

O professor pesquisador não se vê ape<strong>na</strong>s como um usuário de<br />

conhecimento produzido por outros pesquisadores, mas se propõe<br />

também a produzir conhecimentos sobre seus problemas profissio<strong>na</strong>is, de<br />

forma a melhorar sua prática. O que distingue um professor pesquisador<br />

dos demais professores é seu compromisso de refletir sobre a própria<br />

prática, buscando reforçar e desenvolver aspectos positivos e superar as<br />

próprias deficiências. Para isso ele se mantém aberto a novas idéias e<br />

estratégias (BORTONI-RICARDO, op. cit. p. 46).<br />

O professor, em <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> ou continuada, sempre deve buscar aperfeiçoar<br />

sua prática e como vimos anteriormente é importante alinhar teoria e prática. Atuar como<br />

professor-pesquisador é possível e a prática diarista pode contribuir nesse sentido. Por ser<br />

um instrumento capaz de auxiliar no processo de reflexão sobre a prática, o diário<br />

possibilita também o desenvolvimento de pesquisas <strong>na</strong> própria sala de aula, através do qual<br />

pode-se investigar, por exemplo, a interação em sala de aula, as dificuldades dos alunos<br />

<strong>na</strong>s atividades e de que forma o professor lida com o erro.<br />

Na próxima seção abordaremos o processo de <strong>formação</strong> crítico-reflexiva,<br />

destacando as formas de ação de Smyth (1992).<br />

1.2 Por uma <strong>formação</strong> crítico-reflexiva<br />

A problemática sobre a <strong>formação</strong> do professor <strong>reflexivo</strong> foi bastante evocada por<br />

volta dos anos 1990. Na década seguinte, percebemos uma crescente crítica a essa nova<br />

postura, como no trabalho de Pimenta e Ghedin (2002) que vão questio<strong>na</strong>r o uso do<br />

conceito de reflexão/reflexividade.<br />

Tendo em vista o impasse, consideramos relevante discutir esses conceitos. Entre<br />

diversos pesquisadores, destacamos a concepção de Liberali (2010, p. 25) ao afirmar que<br />

“refletir não seria um simples processo de pensar, mas uma ação consciente realizada pelo<br />

professor, que busca compreender o seu próprio pensamento, sua ação e suas<br />

conseqüências”. Nessa mesma linha, Pérez-Gomes (1999, p. 29 apud MEDRADO, 2008,<br />

p. 91) concebe reflexividade como a:<br />

[...] capacidade de voltar sobre si mesmo, sobre as construções sociais,<br />

sobre as intenções, representações e estratégias de intervenção. Supõe a<br />

possibilidade, ou melhor, a inevitabilidade de utilizar o conhecimento à


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20<br />

medida que vai sendo produzido, para enriquecer e modificar não<br />

somente a realidade e suas representações, mas também as próprias<br />

intenções e o próprio processo de conhecer.<br />

A partir dessas duas citações, entendemos a abrangência do que significa refletir,<br />

posto que o refletir implica uma ação interior de autoconhecimento, pois ao conhecer-se o<br />

indivíduo não é mais o mesmo; o porquê de suas ações se revelam, e consequentemente,<br />

despertam a necessidade de mudanças. O professor que faz uso dessa prática certamente<br />

demonstra em suas ações uma postura diferente e procura a cada dia aperfeiçoar-se.<br />

Buscando melhor compreender o processo de reflexão, Van Manem (1977 apud<br />

LIBERALI, 2010, p. 26) descreveu três tipos de reflexão, a saber: a reflexão técnica, a<br />

reflexão prática e a reflexão crítica. Para visualização dos três tipos de reflexão citadas,<br />

apresentamos uma síntese de cada uma delas no quadro a seguir.<br />

REFLEXÃO TÉCNICA<br />

Preocupada com a<br />

eficiência e eficácia dos<br />

meios e com a teoria.<br />

REFLEXÃO PRÁTICA<br />

Preocupada com os<br />

problemas da ação.<br />

REFLEXÃO CRÍTICA<br />

Relacio<strong>na</strong>da às anteriores,<br />

porém focando nos<br />

critérios morais e <strong>na</strong>s<br />

ações pessoais em<br />

contextos históricos-<br />

sociais mais amplos.<br />

Quadro 1.1 - Tipos de reflexão de Van Manem<br />

Ao visitarmos a bibliografia referente à perspectiva de ensino <strong>reflexivo</strong>,<br />

encontramos, no trabalho de Medrado (2008), os vários estudiosos que se debruçaram<br />

sobre o tema, entre eles, John Dewey ([1934] 1987) e Lawrence Stenhouse (1984). A<br />

pesquisadora afirma que Dewey “[...] propunha, no início do século passado, a reflexão<br />

sobre a experiência como uma forma de posicio<strong>na</strong>mento crítico diante das práticas<br />

pedagógicas que, já <strong>na</strong>quela época, cultivavam a submissão e a obediência” (MEDRADO,<br />

op.cit., p. 99).


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21<br />

A pesquisadora nos apresenta também as contribuições de Do<strong>na</strong>ld Shön (1983), que<br />

retomando os ideais de Dewey e se contrapondo à racio<strong>na</strong>lidade técnica 7 frequente nos<br />

anos 70 e 80, elaborou os conceitos de reflexão-<strong>na</strong>-ação e reflexão-sobre-a-ação. A<br />

reflexão-<strong>na</strong>-ação consiste, por exemplo, em o professor refletir sobre determi<strong>na</strong>da<br />

atividade da aula ao mesmo tempo em que a atividade está sendo realizada. Já a reflexãosobre-a-ação<br />

é o professor a<strong>na</strong>lisar, retrospectivamente, as suas ações. Selecio<strong>na</strong>mos dois<br />

excertos de nossos dados para exemplificar os conceitos que acabamos de mencio<strong>na</strong>r:<br />

“Pensei em continuar trabalhando a música e até tentei, mas eles já estavam querendo se<br />

dispersar, então conclui que era hora de dar o assunto programado.”<br />

(04/12/2008) [grifo nosso]<br />

Nesse trecho do diário, observamos a presença da reflexão-<strong>na</strong>-ação, pois a docente<br />

reflete no momento em que está trabalhando uma música. Ela percebe que os alunos estão<br />

querendo se dispersar, então decide trabalhar o conteúdo programado. Ao refletir <strong>na</strong> ação a<br />

consequência é imediata, no caso, ocorre a mudança de atividade.<br />

“Foi uma boa experiência realizar a ofici<strong>na</strong> sozinha, não que eu não goste de trabalhar em<br />

equipe, mas é que me senti bem com essa experiência, pude até imagi<strong>na</strong>r eu ensi<strong>na</strong>ndo no<br />

futuro. Consegui manter o controle, “driblar” situações que exigiam agilidade de ação, como a<br />

palavra que tive que procurar no dicionário e quando alguns alunos que não estavam<br />

participando da ofici<strong>na</strong> tentaram atrapalhar.”<br />

(04/12/2008) [grifo nosso]<br />

O trecho acima aponta para a reflexão-sobre-a-ação, tendo em vista que a docente<br />

reflete sobre a ofici<strong>na</strong> realizada em momento posterior, ou seja, após a ofici<strong>na</strong>. Ela<br />

descreve como se sentiu com o trabalho desenvolvido e o que fez.<br />

No âmbito do processo crítico-<strong>reflexivo</strong>, Smyth (1992, p. 295 apud LIBERALI,<br />

MAGALHÃES e ROMERO, 2003, p. 134) com base <strong>na</strong> discussão de Freire (1970)<br />

sistematizou o processo <strong>reflexivo</strong> através de quatro ações, a saber: descrever, informar,<br />

confrontar e reconstruir. Cada uma dessas ações busca responder a alguma questão,<br />

respectivamente, seriam: O que fiz? Qual a fundamentação teórica para minha ação?<br />

7 Expressão bastante utilizada nos trabalhos de Shön para se referir à crença em uma competência<br />

profissio<strong>na</strong>l que pode ser alcançada pela simples aplicação dos conhecimentos que são produzidos pela<br />

Academia. (CLANDININ e CONNELLY, 2000, p. 35 apud MEDRADO 2008, p. 90)


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22<br />

Como me tornei assim? A que interesses minha prática está servindo? Como posso agir de<br />

forma diferente? A seguir explicaremos cada uma das quatro ações.<br />

• Descrever deve permitir ao professor e a outros a visualização de suas ações em<br />

sala de aula, de forma rica em detalhes e sempre apresentando o contexto,<br />

possibilitando assim a compreensão do que foi feito.<br />

• Informar consiste no embasamento das ações em sala de aula através de teorias<br />

formais.<br />

• Confrontar pode ser compreendido como o questio<strong>na</strong>mento as teorias e as suas<br />

ações, buscando compreender os valores que as baseiam.<br />

• Reconstruir é a busca por alter<strong>na</strong>tivas para as ações.<br />

É importante salientar que o processo <strong>reflexivo</strong> pode ser compreendido como um<br />

ciclo, dessa forma o reconstruir não seria o fim, mas o ponto de partida para um novo<br />

ciclo; Até porque a atividade docente e a reflexão não são estáticas, mas vão se (re)<br />

construindo <strong>na</strong> prática. Partindo da ilustração elaborada por Lima (2010), achamos<br />

conveniente fazer algumas modificações com a fi<strong>na</strong>lidade de mostrar visualmente nossa<br />

concepção do papel do diário no nosso processo <strong>reflexivo</strong>.<br />

Confrontar<br />

Reconstruir<br />

<strong>Diário</strong><br />

Reflexivo<br />

Informar<br />

Descrever<br />

Figura 1.2 - O diário no ciclo <strong>reflexivo</strong><br />

Ao refletirmos sobre essas concepções, levantamos alguns questio<strong>na</strong>mentos, tais<br />

como, até que ponto os cursos de licenciatura proporcio<strong>na</strong>m meios para os professores em


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23<br />

<strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> desenvolverem essa postura crítico-reflexiva? E o sistema educacio<strong>na</strong>l no<br />

qual atuam muitos professores que ainda não desenvolveram essa postura, será que esse<br />

sistema oportuniza a autonomia do professor, ou faz dele um refém do currículo e do<br />

conteúdo a ser visto durante o ano letivo? Embora o objetivo deste trabalho não seja<br />

responder a essas questões, é inevitável não trazê-los à to<strong>na</strong>, tendo em vista a <strong>na</strong>tureza<br />

reflexiva desta pesquisa.<br />

1.3 Construindo uma identidade profissio<strong>na</strong>l docente<br />

Nessa seção, propomo-nos a expla<strong>na</strong>r algumas considerações sobre o diário<br />

enquanto instrumento capaz de auxiliar <strong>na</strong> construção de uma identidade profissio<strong>na</strong>l. Esse<br />

tema foi incluído nesse trabalho por nos alinharmos a concepção de que “[...] através da<br />

escrita diarista, o professor será capaz de mediar suas experiências em sala de aula, suas<br />

representações docentes e, consequentemente, a sua construção identitária profissio<strong>na</strong>l”<br />

[grifo nosso] (DIAS, 2009, p. 43).<br />

Inicialmente discutiremos o que quer dizer identidade <strong>na</strong> área dos estudos<br />

linguísticos, em seguida abordaremos outros aspectos, para isso tomaremos como base os<br />

trabalhos de Rajagopalan (2002), Moita Lopes (2003), Rollemberg (2003) e Pellim (2010).<br />

Salientamos ainda, que as concepções de identidade social apresentadas neste trabalho, são<br />

norteadas pela Teoria Socioconstrucionista do discurso e das identidades.<br />

Segundo Moita Lopes (2003, p. 20), a identidade pode ser entendida como “[...] um<br />

construto de <strong>na</strong>tureza social – portanto, político –, isto é, identidade social, compreendida<br />

como construída em práticas discursivas”. A partir dessa concepção de identidade,<br />

compreendemos que são os discursos e o aspecto social que estabelecem as identidades dos<br />

sujeitos. Isso pode ser exemplificado a partir da pesquisadora deste trabalho, tendo em<br />

vista que ao vivenciar a experiência de ser alu<strong>na</strong> de um curso de Licenciatura e professora<br />

em um projeto acadêmico, através da interação com professores, colegas e alunos sua<br />

identidade profissio<strong>na</strong>l foi sendo construída.<br />

De acordo com Rajagopalan (2002, apud DIAS 2009, p. 31), “[...] as identidades<br />

são construídas <strong>na</strong> e pela língua e estão sempre em movimento”. O que significa que a<br />

identidade de um professor, por exemplo, não está totalmente construída após concluir sua<br />

<strong>formação</strong> acadêmica; ao contrário, durante toda sua trajetória profissio<strong>na</strong>l essa identidade<br />

vai sendo (re) construída.


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24<br />

É importante destacar também, a <strong>na</strong>tureza multifacetada das identidades sociais.<br />

Isso significa dizer que “[...] não somos sujeitos de ape<strong>na</strong>s uma identidade homogênea.<br />

Pelo contrário, somos sujeitos fragmentados, atravessados por uma série de traços<br />

identitários que nos conferem singularidade” (PELLIM, 2010, p. 129). A esse respeito,<br />

exemplificamos a pesquisadora deste trabalho, uma vez que ela é professora, alu<strong>na</strong>,<br />

mulher, filha, segue determi<strong>na</strong>da religião, tem suas crenças, enfim, possui várias<br />

identidades sociais e essas identidades não são estáticas, mas vão se reconstruindo através<br />

de suas interações sociais.<br />

De acordo com o exposto anteriormente e acrescentando a perspectiva da prática<br />

reflexiva, Celani e Magalhães (2002 apud LIBERALI, MAGALHÃES e ROMERO, 2003,<br />

p.138) afirmam que “[...] ao ver, por meio da prática reflexiva, como as representações<br />

profissio<strong>na</strong>is foram construídas, o professor passa a ter novas compreensões de sua<br />

identidade”. É o que temos vivenciado a partir da produção diarista e da prática reflexiva.<br />

Conforme veremos <strong>na</strong> análise dos dados, esses aspectos têm contribuído <strong>na</strong> construção e <strong>na</strong><br />

(re) construção da identidade do professor.<br />

No próximo capítulo apresentaremos a metodologia adotada nessa pesquisa.


2. DIRETRIZES DA METODOLOGIA ADOTADA<br />

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25<br />

Neste capítulo, apresentaremos a metodologia utilizada no desenvolvimento da<br />

pesquisa, sendo este estruturado em três partes, são elas: a <strong>na</strong>tureza e o contexto da<br />

pesquisa, o perfil da pesquisadora-diarista e os procedimentos de análise.<br />

2.1 A <strong>na</strong>tureza e o contexto da pesquisa<br />

Podemos classificar essa pesquisa como de <strong>na</strong>tureza qualitativa e interpretativa,<br />

considerando que “[...] A pesquisa qualitativa procura entender, interpretar fenômenos<br />

sociais inseridos em um contexto” (BORTONI-RICARDO, 2008, p. 34). Tendo em vista<br />

os objetivos dessa pesquisa, que de forma geral consistem <strong>na</strong> verificação da presença das<br />

formas de ação de Smyth (1992) e a identificação de trechos no diário <strong>reflexivo</strong> que<br />

indicam a construção identitária da professora em <strong>formação</strong>, acreditamos que a escolha por<br />

esse tipo de pesquisa é viável e atende os objetivos pretendidos.<br />

Como já mencio<strong>na</strong>mos, para esta pesquisa, optamos por a<strong>na</strong>lisar o diário <strong>reflexivo</strong><br />

de uma professora de língua francesa em <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong>, participante dos Projetos<br />

acadêmicos: Direitos Linguísticos e Inclusão social: ofici<strong>na</strong>s de língua estrangeira para a<br />

comunidade Maria de Nazaré (PROBEX/UFPB), com vigência nos anos 2008 a 2010 e<br />

<strong>Diário</strong>s Reflexivos e Formação do Professor de Língua Estrangeira: construindo<br />

educadores-pesquisadores críticos (PROLICEN/UFPB), com vigência nos anos 2009 e<br />

2010.<br />

O Projeto de Extensão Direitos Linguísticos e Inclusão social: ofici<strong>na</strong>s de língua<br />

estrangeira para a comunidade Maria de Nazaré (PROBEX/UFPB) tinha por objetivo a<br />

realização de ofici<strong>na</strong>s de língua francesa, de modo prazeroso e lúdico, apoiando-se sobre o<br />

tripé: construção de cidadania, aprendizagem de língua estrangeira e espaço para prática de<br />

ensino. As ofici<strong>na</strong>s eram realizadas no núcleo do Programa de Erradicação do Trabalho<br />

Infantil (PETI) da Comunidade Maria de Nazaré, no Bairro Funcionários III, <strong>na</strong> cidade de<br />

João Pessoa.<br />

De acordo com a perspectiva adotada, procurava-se trabalhar questões da<br />

cidadania, da inclusão social, aspectos culturais, de relações sociais, de respeito ao outro e<br />

de tolerância. Baseando-se <strong>na</strong> pedagogia da autonomia (FREIRE, 2003) e <strong>na</strong> pedagogia da<br />

positividade (MATOS, 1996), que consiste <strong>na</strong> utilização de palavras que promovam a paz


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26<br />

e a comunicação para o bem entre as pessoas, ou seja, falar com os alunos de forma<br />

positiva, procurando valorizá-los, contribuindo assim para o bem estar do grupo.<br />

Com relação ao trabalho com o gênero diário <strong>reflexivo</strong> no âmbito do Projeto é<br />

relevante destacar que a produção dos diários foi orientada pelas leituras e discussões dos<br />

trabalhos de Zabalza (2004) e Liberali, Magalhães e Romero (2003). Antes de iniciar a<br />

produção dos diários, os alunos extensionistas receberam orientações, fizeram leituras e<br />

assistiram ao filme Escritores da Liberdade (Freedom Writers, EUA, 2007), iniciando as<br />

discussões a partir dele. Essas discussões sobre o filme vieram acompanhadas de um relato<br />

escrito, com a fi<strong>na</strong>lidade de fazer os extensionistas experimentarem o ato de descrever<br />

aquilo que haviam visto, os objetivos do que viram,bem como tecer comentários pessoais<br />

acerca do que haviam vivenciado. Após as trocas de experiências a partir do trei<strong>na</strong>mento<br />

com a escritura do diário, a etapa seguinte consistiu em definir as perguntas que norteariam<br />

a <strong>na</strong>rração dos diários. As perguntas escolhidas foram:<br />

• O que fiz em sala de aula e quais foram minhas ações?<br />

• Quais objetivos pretendíamos atingir?<br />

• Comentários pessoais.<br />

As duas primeiras perguntas foram baseadas no descrever, que é a primeira ação<br />

do processo <strong>reflexivo</strong> proposto por Smyth (1992). No item comentários pessoais era<br />

possível escrever como foram as reações dos alunos e as suas reações enquanto<br />

professores, o que sentiram, o que não ocorreu conforme esperado e o que poderia ser<br />

melhorado, entre outras questões. Esse item foi acrescentado por considerarmos de grande<br />

importância um espaço desti<strong>na</strong>do às impressões, dúvidas e posicio<strong>na</strong>mentos dos<br />

professores em <strong>formação</strong>. No que diz respeito à periodicidade, definiu-se que a elaboração<br />

dos diários aconteceria após cada ofici<strong>na</strong> realizada, ou seja, duas vezes por sema<strong>na</strong>.<br />

Esperava-se que as etapas seguintes do processo <strong>reflexivo</strong> (informar, confrontar e<br />

reconstruir) seriam desenvolvidas gradualmente pelo docente em <strong>formação</strong>.<br />

Uma vez por sema<strong>na</strong>, os integrantes do Projeto juntamente com as orientadoras se<br />

reuniam e pautados no que haviam escrito nos diários, questio<strong>na</strong>vam o que deu certo, o que<br />

não deu certo e o porquê. Essa reflexão sistemática sobre as ações desenvolvidas tinha por<br />

objetivo possibilitar a estes professores em <strong>formação</strong> que avaliassem sua prática e a partir<br />

dessas vivências promovessem mudanças para si e para o ambiente de atuação.<br />

Passados alguns meses produzindo os diários orientados pelas três questões<br />

citadas, os extensionistas, juntamente com as orientadoras, observaram a necessidade de<br />

fazer algumas mudanças nessa produção, pois foram detectados problemas no ato de


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27<br />

descrever. Constatou-se que a forma que havia sido adotada estava limitando a reflexão<br />

crítica. A percepção foi que os docentes em <strong>formação</strong> deveriam focar a escrita em sua<br />

prática, levantando questio<strong>na</strong>mentos sobre sua forma de atuar, ou seja, o ensinoaprendizagem,<br />

e também sobre a recepção dos alunos em relação ao trabalho desenvolvido.<br />

A partir de então a escritura dos diários deixou de ser baseada <strong>na</strong>s perguntas já citadas,<br />

passando a um texto corrido baseado nos aspectos mencio<strong>na</strong>dos.<br />

É importante destacar que o Projeto passou por três vigências diferentes, referentes<br />

aos anos de 2008, 2009 e 2010, e cada uma teve aspectos diversos em relação ao título do<br />

Projeto, ao local de realização das ofici<strong>na</strong>s, aos integrantes, ao público-alvo, a ministração<br />

das ofici<strong>na</strong>s (em dupla ou individual) e ao modo de produção dos diários. Para melhor<br />

visualização das diferenças elaboramos o quadro a seguir.<br />

1ª Vigência: Ano 2008 2ª Vigência: Ano 2009 3ª Vigência: Ano 2010<br />

Título do Projeto: Direitos<br />

Linguísticos e Inclusão social:<br />

ofici<strong>na</strong>s de língua estrangeira<br />

para a comunidade Maria de<br />

Nazaré<br />

Local: Núcleo PETI da<br />

Comunidade Maria de Nazaré<br />

Integrantes: 4 professoras do<br />

DLEM e 8 estudantes do<br />

Curso de Letras Francês<br />

Público-alvo: crianças e<br />

adolescentes entre 7 e 15 anos<br />

Ofici<strong>na</strong> ministrada em dupla<br />

<strong>Diário</strong> manuscrito<br />

Título do Projeto: Direitos<br />

Linguísticos e Inclusão social:<br />

ofici<strong>na</strong>s de língua estrangeira<br />

para a comunidade Maria de<br />

Nazaré<br />

Local: Núcleo PETI da<br />

Comunidade Maria de Nazaré<br />

Integrantes: 3 professoras do<br />

DLEM e 5 estudantes do<br />

Curso de Letras Francês<br />

Público-alvo: crianças e<br />

adolescentes entre 7 e 15 anos<br />

Ofici<strong>na</strong> ministrada em dupla<br />

<strong>Diário</strong> manuscrito e digitado<br />

Título do Projeto: Direitos<br />

Linguísticos e Inclusão social:<br />

ofici<strong>na</strong>s de língua francesa<br />

Local: Aldeias Infantis SOS<br />

Brasil<br />

Integrantes: 3 professoras do<br />

DLEM e 5 estudantes do<br />

Curso de Letras Francês<br />

Público-alvo: crianças e<br />

adolescentes entre 11 e 15<br />

anos<br />

Ofici<strong>na</strong> ministrada individual<br />

<strong>Diário</strong> digitado<br />

Quadro 2.1 - Diferenças <strong>na</strong>s vigências do Projeto (PROBEX/UFPB)


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28<br />

Como já mencio<strong>na</strong>do, os diários <strong>reflexivo</strong>s foram produzidos durante as três<br />

vigências do Projeto (PROBEX/UFPB). Na primeira vigência, temos um total de 23<br />

registros 8 , todos manuscritos, referente às ofici<strong>na</strong>s ocorridas no período de agosto a<br />

dezembro do ano 2008. Na segunda vigência, temos 44 registros, sendo 40 manuscritos e 4<br />

digitados, abrangendo as ofici<strong>na</strong>s de março a dezembro do ano 2009. Na terceira vigência<br />

temos 31 registros todos digitalizados, das ofici<strong>na</strong>s realizadas de maio a novembro do ano<br />

2010. São estes registros das três vigências que constituem o corpus dessa pesquisa.<br />

Ressaltamos que o Projeto intitulado <strong>Diário</strong>s Reflexivos e Formação do Professor<br />

de Língua Estrangeira: construindo educadores-pesquisadores críticos<br />

(PROLICEN/UFPB), <strong>na</strong>sceu a partir da necessidade de aprofundar o conhecimento e a<br />

análise dos diários <strong>reflexivo</strong>s, tendo, portanto, um caráter voltado para pesquisa, enquanto<br />

o PROBEX que lhe deu origem possibilitava a prática de ensino.<br />

2.2 Perfil da pesquisadora-diarista<br />

A pesquisadora desse trabalho é a própria autora dos diários <strong>reflexivo</strong>s. Em relação<br />

à <strong>formação</strong> acadêmica, a pesquisadora é alu<strong>na</strong> concluinte do curso de Letras, habilitação<br />

em língua francesa, da <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> da Paraíba, localizada <strong>na</strong> cidade de João<br />

Pessoa-PB. Atualmente participa de um projeto acadêmico (PROLICEN/UFPB) no qual é<br />

bolsista e atua ministrando ofici<strong>na</strong>s de língua francesa através da temática do<br />

desenvolvimento sustentável em uma escola da rede municipal de João Pessoa.<br />

A pesquisadora teve seu primeiro contato com o gênero diário <strong>reflexivo</strong> nos<br />

projetos acadêmicos já mencio<strong>na</strong>dos. Ao decidir utilizar os diários como corpus para esse<br />

trabalho, a pesquisadora havia encerrado sua participação nos referidos Projetos e<br />

consequentemente, parado de escrever os diários.<br />

Foi durante os projetos acadêmicos já citados que a pesquisadora-diarista vivenciou<br />

pela primeira vez a prática de ensino da língua francesa. Ao iniciar sua atuação como<br />

professora, era alu<strong>na</strong> do terceiro período da Graduação e havia cursado as discipli<strong>na</strong>s:<br />

Língua Francesa – Nível Básico I, II e III; Cultura dos Povos de Língua Francesa; Fonética<br />

e Fonologia da Língua FrancesaI e II; Introdução aos Estudos Literários e Teorias<br />

Literárias I e II; Teorias da Linguística I e II, Fundamentos Antropo-filosóficos, Sóciohistóricos<br />

e Psicológicos da Educação e Metodologia do Trabalho Científico. Quando<br />

8 Adotamos o termo registro para nos referirmos a cada “entrada” (entry) do diário, uma vez que, em cada<br />

registro, identificamos tipos textuais <strong>na</strong>rrativos, descritivos e argumentativos.


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29<br />

fi<strong>na</strong>lizou a produção dos diários e a participação no Projeto, cursava o oitavo período de<br />

Letras.<br />

2.3 Procedimentos de análise<br />

No capítulo a seguir, apresentaremos a análise dos dados, sendo importante nessa<br />

seção destacar quis as etapas que desenvolvemos para a leitura e interpretação dos registros<br />

nos diários, as quais foram realizadas da seguinte forma:<br />

A primeira etapa consistiu <strong>na</strong> leitura geral dos dados. Em um segundo momento,<br />

realizamos leituras em perspectiva diacrônica de cada vigência, buscando identificar os<br />

conteúdos temáticos mais recorrentes. Em seguida, fizemos a seleção e digitação de<br />

excertos para exemplificar cada conteúdo temático encontrado e por fim desenvolvemos a<br />

classificação e discussão dos excertos de acordo com as formas de ação e <strong>formação</strong> da<br />

identidade profissio<strong>na</strong>l.


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30<br />

3. DIÁRIOS REFLEXIVOS: O ENCONTRO DA AÇÃO E DA REFLEXÃO<br />

Neste capítulo, trataremos da análise dos dados obtidos no diário <strong>reflexivo</strong>.<br />

Inicialmente, apresentaremos os conteúdos temáticos mais recorrentes nos diários em cada<br />

vigência do Projeto. Em seguida, identificaremos os excertos selecio<strong>na</strong>dos de acordo com<br />

as ações de descrever, informar, confrontar e reconstruir. Fi<strong>na</strong>lizaremos discutindo o<br />

processo de construção identitária da professora em <strong>formação</strong>.<br />

3. 1 O diário como espaço de/para a reflexão<br />

Consideramos pertinente lembrar que no momento em que o diário foi escrito o<br />

objetivo era registrar/sistematizar as vivências da professora em <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong>. Esse<br />

mesmo diário, tomado agora no âmbito de uma pesquisa acadêmica, tornou-se objeto de<br />

investigação e espaço de ressignificação da prática pedagógica. Isso significa que a<br />

docente em <strong>formação</strong> experimentou a prática em sala de aula e, posteriormente, a pesquisa<br />

sobre sua atuação, o que acarreta um desenvolvimento tanto <strong>na</strong> sua vida profissio<strong>na</strong>l<br />

quanto pessoal.<br />

Após várias leituras dos diários produzidos <strong>na</strong>s três vigências do Projeto (anos<br />

2008, 2009 e 2010), encontramos diversos conteúdos temáticos em evidência. Em virtude<br />

da <strong>na</strong>tureza monográfica deste trabalho, no qual temos um espaço limitado para aprofundar<br />

a análise, selecio<strong>na</strong>mos os conteúdos temáticos mais recorrentes <strong>na</strong>s três vigências.<br />

Vejamos o quadro a seguir:


Primeira vigência<br />

(ano 2008):<br />

1. Descrição detalhada<br />

das dinâmicas realizadas;<br />

2. Afetividade entre os<br />

alunos e os professores e<br />

vice-versa;<br />

3. Motivação da docente<br />

para atuar no ensino de<br />

FLE;<br />

4. Reações dos<br />

professores diante de<br />

questio<strong>na</strong>mentos dos<br />

alunos e dificuldades<br />

encontradas.<br />

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31<br />

Segunda vigência<br />

(ano 2009):<br />

1. Descrição detalhada das<br />

dinâmicas e o porquê<br />

delas;<br />

2. Motivação da docente<br />

para atuar no ensino de<br />

FLE;<br />

3. Tratamento do erro,<br />

correção, tradução e<br />

justificativa para o uso;<br />

4. Reações/<br />

reflexões/questio<strong>na</strong>mentos<br />

e desmotivação dos<br />

professores diante do<br />

comportamento dos alunos<br />

e com relação às ofici<strong>na</strong>s.<br />

Terceira vigência<br />

(ano 2010):<br />

1. Descrição detalhada das<br />

dinâmicas realizadas;<br />

2. Afetividade entre os<br />

alunos e a docente e viceversa;<br />

3. Tratamento do erro e<br />

sua correção;<br />

4. Reações/ reflexões e<br />

desmotivação da docente<br />

em relação às dificuldades;<br />

5. Comportamentos dos<br />

alunos em relação ao<br />

trabalho desenvolvido;<br />

6. Utilização de estratégias<br />

pela docente.<br />

Quadro 3.1 - Conteúdos temáticos recorrentes <strong>na</strong>s três vigências (2008, 2009 e 2010)<br />

Conforme podemos observar no quadro, identificamos quatro conteúdos temáticos<br />

em evidência <strong>na</strong> primeira vigência (ano 2008); quatro <strong>na</strong> segunda vigência (2009); e seis<br />

<strong>na</strong> terceira vigência (2010). Lembrando que apesar de não constar no quadro, encontramos<br />

também trechos que exprimem a reflexão-<strong>na</strong>-ação e a reflexão-sobre-a-ação, conforme já<br />

foi exposto (cf. p. 17), mediante dois excertos da primeira vigência como exemplos.<br />

Cada vigência é composta por diferentes quantidades de registros (cf. p. 24) e a<br />

quantidade de conteúdos temáticos também é diferente de uma vigência para outra,


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32<br />

conforme mostrado no quadro, a exemplo da terceira vigência (ano 2010) que, embora<br />

tenha o maior número de conteúdos temáticos (6) apresenta menor quantidade de registros<br />

(31).<br />

Observamos que alguns conteúdos temáticos estão presentes <strong>na</strong>s três vigências, é o<br />

caso, por exemplo, da descrição das dinâmicas. Isso indica que ao produzir os registros, a<br />

preocupação <strong>inicial</strong> da docente era descrever as dinâmicas realizadas, o que é<br />

compreensível, pois a utilização do diário no âmbito do Projeto era, a princípio, para<br />

registrar/sistematizar as ações desenvolvidas pelos professores em <strong>formação</strong>.<br />

3.1.1 O que é dito e como é dito?<br />

Conforme dissemos no capítulo 1, segundo Smyth (1992), o processo <strong>reflexivo</strong> se<br />

desenvolve através das ações de descrever, informar, confrontar e reconstruir. A partir da<br />

identificação dos conteúdos temáticos, pudemos verificar aqueles que se repetem nos três<br />

anos de projeto e nos foi possível a<strong>na</strong>lisá-los a partir do construto teórico das formas de<br />

ação com o intuito de observar como o processo de reflexão crítica sobre as vivências no<br />

projeto foi sendo desenvolvido. Adiante apresentamos excertos de cada vigência, e<br />

a<strong>na</strong>lisamos em quais formas de ação do processo <strong>reflexivo</strong> eles se enquadram.<br />

Fi<strong>na</strong>lizaremos com a discussão sobre a construção da identidade profissio<strong>na</strong>l docente.<br />

3.1.1.1 Descrição das dinâmicas realizadas<br />

Vejamos, neste primeiro momento, como a descrição das dinâmicas planejadas e<br />

realizadas durante as ofici<strong>na</strong>s são descritas pela pesquisadora no diário ao longo do<br />

desenvolvimento do projeto:<br />

Excerto 01/08: “[...] Logo após esse diálogo, partimos para o primeiro contato deles com a<br />

língua francesa, através da dinâmica da bola, com todos sentados no chão, cada um jogava a<br />

bola para o outro, respondia a pergunta e perguntava ao colega, passando a bola. A bola 1º foi<br />

passada por nós de modo que os alunos pudessem observar o que eles deveriam responder e<br />

perguntar. Em seguida veio a 2ª rodada, da mesma forma, seguindo esta sequência: 1ª rodada: Je<br />

m'appelle...et toi? E a 2ª rodada: J'habite..., à JP, et toi? E,por fim, a retomada das duas<br />

perguntas [...]”. (19/08/2008) [grifo nosso]


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33<br />

Excerto 01/09: “[...] Na sequência, sem mostrar imagens, para verificar se eles haviam<br />

relembrado mesmo as frutas, falei em francês que hoje nós iríamos comer uma salada de frutas<br />

e perguntei: quais as frutas usamos para fazer uma salada? Eles compreenderam perfeitamente,<br />

até uma alu<strong>na</strong> traduziu o que eu falei, e começaram a dizer o nome das frutas em francês, cada<br />

um disse uma ou mais [...]” (02/04/2009) [grifo nosso]<br />

Excerto 01/10: “[...] Depois pedi que sentassem formando um círculo, expliquei a dinâmica da<br />

caixa e coloquei a música (OH, OH,OH de Tragedie) para tocar enquanto a caixa passava de<br />

mão em mão, eles gostaram muito dessa música. Conforme a música parava,quem estivesse com<br />

a caixa tirava um papelzinho e lia para a turma. Era uma pergunta que eles deveriam escrever a<br />

resposta <strong>na</strong> folha que eu já havia distribuído. Todos participaram passando a caixa e escrevendo<br />

a resposta <strong>na</strong> folha.” (06/05/2010) [grifo nosso]<br />

No excerto 01/08, referente à primeira vigência, observamos uma descrição<br />

detalhada das dinâmicas realizadas. É informado o título da dinâmica (dinâmica da bola), a<br />

disposição dos alunos no espaço (todos sentados no chão), o passo-a-passo da atividade<br />

(cada um jogava a bola para o outro, respondia a pergunta e perguntava ao colega,<br />

passando a bola) e o que estava sendo trabalhado, nesse caso a oralidade (1ª rodada: Je<br />

m'appelle...et toi? E a 2ª rodada: J'habite..., à JP, et toi? E, por fim, a retomada das duas<br />

perguntas).<br />

No excerto 01/09, da segunda vigência, também é mostrada uma descrição<br />

detalhada da dinâmica realizada. Percebemos, no entanto que, o que difere da primeira<br />

vigência são as explicações presentes. A docente faz uma pergunta aos alunos (sem<br />

mostrar as imagens, para verificar se eles haviam relembrado o conteúdo), espera a<br />

resposta e obtém o resultado almejado. Aparece ainda a transcrição direta da fala da<br />

docente e as reações dos alunos, como a alu<strong>na</strong> que traduziu o que a professora falou em<br />

francês.<br />

No excerto 01/10, da terceira vigência, é possível observar a descrição detalhada da<br />

dinâmica realizada, mas existe uma diferença com relação aos outros dois excertos<br />

representativos das outras vigências. Percebemos que a diferença é maior com relação ao<br />

excerto 01/08. Tendo em vista que no excerto 01/10 a docente se posicio<strong>na</strong> fazendo uso do<br />

pronome em primeira pessoa (pedi, expliquei, eu já havia distribuído), demonstrando que<br />

descreve as situações em sala de aula, enfatizando as suas próprias ações e<br />

direcio<strong>na</strong>mentos para os alunos.<br />

Nos três excertos 01/08, 01/09 e 01/10, observamos que a docente em <strong>formação</strong><br />

descreve de forma detalhada as dinâmicas realizadas. Essa descrição permite uma


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34<br />

visualização das ações, o que nos leva a afirmar que esses excertos se enquadram <strong>na</strong><br />

primeira ação do processo <strong>reflexivo</strong>, que é o descrever.<br />

Além disso, no excerto 01/09, referente à segunda vigência, a docente em <strong>formação</strong><br />

descreve a dinâmica realizada e explica o porquê de suas escolhas, informando-nos as<br />

intenções da ação. Logo, esse trecho se enquadra também, <strong>na</strong> segunda ação, que é o<br />

informar.<br />

3.1.1.2 Afetividade entre os alunos e os professores/a docente e vice-versa<br />

Em vários momentos dos diários, observamos que a afetividade foi um tema<br />

bastante recorrente. Vejamos alguns exemplos:<br />

Excerto 02/08: “[...] Depois nos despedimos, muitos nos abraçaram [...] Com relação às<br />

crianças, elas tem se mostrado participativas, interessadas e bastante carinhosas”. (16/09/2008)<br />

[grifo nosso]<br />

Excerto 02/10: “Quando eu cheguei, de longe vi meus alunos, apesar de eu ter chegado<br />

pontualmente, eles já estavam me esperando, foi uma festa, me abraçaram, eu acho que eles<br />

sentiram saudades, eu senti saudades deles e falei pra eles, pois já fazia vários dias que não<br />

tínhamos ofici<strong>na</strong> por causa do recesso de São João.” (08/07/2010) [grifo nosso]<br />

No excerto 02/08, da primeira vigência, é apresentada a afetividade dos alunos em<br />

relação aos professores, tendo em vista a ação dos alunos de abraçar os professores e,<br />

posteriormente, a docente relata que as crianças tem se mostrado bastante carinhosas.<br />

No excerto 02/10, a afetividade é relatada tanto entre os alunos e a docente (me<br />

abraçaram) quanto entre a docente e os alunos (senti saudades deles e falei pra eles).<br />

Percebemos no excerto 02/08 a presença do descrever, enquanto no excerto 02/10<br />

aparecem as ações de descrever e informar.<br />

A presença do registro da afetividade nos diários pode ser entendida pelas<br />

características do público-alvo a que se desti<strong>na</strong>vam as ofici<strong>na</strong>s, que era para crianças e<br />

adolescentes em situação de risco, cercados por um ambiente de violência <strong>na</strong> comunidade e<br />

muitas vezes no meio familiar. Consequentemente, ao se envolverem <strong>na</strong> ação pedagógica<br />

professor e aluno interagem e criam laços afetivos. Nessa primeira experiência de ensino, a<br />

docente revela que essa proximidade afetiva contribui <strong>na</strong> aprendizagem e no interesse do<br />

público para participar das ofici<strong>na</strong>s. Não que o professor possa suprir as carências afetivas


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35<br />

dos alunos, mas ele pode, sim, servir de ponto de apoio ao relacio<strong>na</strong>r-se de forma saudável<br />

com seus alunos.<br />

3.1.1.3 Motivação da docente para atuar no ensino de FLE<br />

Tendo em vista que um projeto de extensão visa, dentre outros objetivos, inserir<br />

alunos graduandos em contextos escolares para que esses possam “ir aprendendo com a<br />

prática”, observamos, em muitos trechos dos diários, uma menção explícita da professora à<br />

motivação ou estímulo que sentia <strong>na</strong> convivência com os alunos e no exercício da docência<br />

propriamente dita. Vejamos alguns trechos:<br />

Excerto 03/08:“[...] Nas férias sentirei saudades de todas aquelas crianças, estou aprendendo a<br />

ser professora com elas, e estou tendo cada vez mais certeza que essa é a profissão que quero<br />

seguir”. (09/12/2008) [grifo nosso]<br />

Excerto 02/09: “[...] Eles pareceram ter gostado da ofici<strong>na</strong> de hoje, eu gostei bastante, a cada<br />

ofici<strong>na</strong> me sinto mais segura para ensi<strong>na</strong>r francês, a experiência está sendo ótima.”<br />

(20/08/2009) [grifo nosso]<br />

Nos excertos 03/08 e 02/09 a docente expressa que tem cada vez mais certeza que<br />

essa é a profissão que quer seguir e a cada ofici<strong>na</strong> sente-se mais segura para ensi<strong>na</strong>r<br />

francês. A certeza e a confiança da docente revelam-se como a fonte de motivação para sua<br />

atuação no ensino de FLE, no presente e no futuro. Registra-se também a presença da<br />

afetividade, ao dizer que sentirá saudades das crianças <strong>na</strong>s férias e que está aprendendo a<br />

ser professora com elas.<br />

Ressaltamos a importância do projeto para que a docente em <strong>formação</strong> comece a se<br />

sentir uma professora de verdade. Identificamos assim o início da <strong>formação</strong> de sua<br />

identidade profissio<strong>na</strong>l, pois ao vivenciar processos reais de contato com alunos, com<br />

questões concernentes à sala de aula, como os impedimentos, as inseguranças e as alegrias<br />

ela reflete sobre a importância da experiência e expressa a certeza de permanecer <strong>na</strong><br />

profissão docente. Destacamos que antes de sua entrada no projeto, a docente em <strong>formação</strong><br />

possuía muitas dúvidas sobre a profissão e, várias vezes, pensou em desistir.


3.1.1.4 Tratamento do erro e sua correção<br />

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36<br />

Ao longo do diário <strong>reflexivo</strong> a professora registra o tratamento do erro, assim como<br />

sua correção. Observamos que ocorrem mudanças <strong>na</strong> forma como a docente se posicio<strong>na</strong> e<br />

como seus alunos reagem.<br />

Excerto 03/09: “[...] explicamos que eles deveriam montar o poema, memorizar uma frase<br />

que depois iriam recitar, a maioria conseguiu montar logo, e quando termi<strong>na</strong>vam nos<br />

chamavam para ver, nós conferíamos e dizíamos trés bien, se não estivesse <strong>na</strong> ordem nós<br />

dizíamos olhe direitinho, olha a sequência dos dias da sema<strong>na</strong>, e eles logo corrigiam.”<br />

(04/06/2009) [grifo nosso]<br />

Excerto 04/09: “[...] eles foram respondendo, quando erravam eu corrigia, mas eles<br />

acertaram a maior parte, geralmente as correções que tive que fazer era em relação à<br />

pronúncia, a correção era feita da seguinte forma: eu repetia a palavra ou frase, só que<br />

pronunciando de forma correta, e eles repetiam da forma que eu falei.”(06/08/2009)<br />

[grifo nosso]<br />

Excerto 03/10: “[...] Algo bastante interessante é que quando um dos alunos errava ou<br />

esquecia parte da frase, os colegas é que corrigiam e ajudavam a lembrar a parte esquecida,<br />

evitei corrigir e ajudar, ao invés disso eu dizia ajudem o colega e eles ajudavam. Depois eu<br />

não precisava nem dizer, eles ajudavam os colegas automaticamente.” (13/05/2010)<br />

[grifo nosso]<br />

Excerto 04/10: “[...] N começou a dizer os números de 20 a 30. Ela se atrapalhou em alguns,<br />

mas conseguiu dizer tudo. Nos números que ela se atrapalhou eu corrigia, dizendo a<br />

pronuncia correta e ela repetia. Após N termi<strong>na</strong>r, falei os números novamente e toda a<br />

turma repetindo (para melhor fixação).” (21/09/2010) [grifo nosso]<br />

Nos quatro excertos anteriores observamos como é o tratamento do erro e sua<br />

correção. Com relação à oralidade, a correção é feita através da repetição da forma<br />

“correta”, ou seja, se o aluno pronuncia incorretamente, a professora repete, novamente, a<br />

forma padrão e o aluno repete o que a professora falou. Esse método de correção da<br />

oralidade tem por base ape<strong>na</strong>s a repetição, não indicando se o aluno assimilou ou não o que<br />

foi corrigido, neste caso a pronúncia. Lembramos que é bastante comum a utilização desse<br />

tipo de correção em cursos de idiomas, em cursos de <strong>formação</strong> e no próprio Projeto que a<br />

docente participava, evidenciando assim que a docente reproduz a forma como aprendeu.


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37<br />

No excerto 03/10 percebemos uma diferença <strong>na</strong> correção tanto em relação à<br />

mostrada em 04/10 quanto às duas anteriores, tendo em vista que os alunos é que se<br />

ajudam, o conhecimento é construído <strong>na</strong> interação com o outro. Identificamos um<br />

amadurecimento da docente, pois ao agir diferente em uma situação semelhante a outras<br />

ocorridas e <strong>na</strong>s quais ela simplesmente reproduzia o método de correção, aqui observamos<br />

que ela faz uso da interação entre os alunos para a correção, o que si<strong>na</strong>liza uma mudança,<br />

uma (re) construção de sua identidade profissio<strong>na</strong>l.<br />

3.1.1.5 Reações, questio<strong>na</strong>mentos, reflexões, motivação/desmotivação diante de<br />

questio<strong>na</strong>mentos/comportamentos dos alunos<br />

O diário como espaço de voz do professor permite que ele externe suas emoções,<br />

sua motivação, desmotivação, reflexões, entre outros, diante de situações e<br />

comportamentos de seus alunos. Os trechos a seguir nos mostram o posicio<strong>na</strong>mento da<br />

docente nesses momentos.<br />

Excerto 05/09: “[...] Eles cantaram o inicio da música, mas não conseguiram aprender toda,<br />

falaram que era para nós termos levado a letra da música impressa, que seria mais fácil<br />

aprender a música assim […] Não gostei da música não ter sido assimilada por eles, e em<br />

parte foi por falha nossa, pois concordo que a letra da música impressa ajudaria <strong>na</strong><br />

aprendizagem [...]” (07/07/2009) [grifo nosso]<br />

Excerto 06/09: [...] Está diminuindo o número de alunos que está participando das ofici<strong>na</strong>s,<br />

observei que ultimamente sempre que é a hora da ofici<strong>na</strong> eles estão fazendo algum “trabalho<br />

mais importante” (cartazes, colagens, trabalhos da escola). O que fazer para atraí-los para a<br />

ofici<strong>na</strong> de modo que façam os seus trabalhos importantes, antes ou depois do horário das<br />

ofici<strong>na</strong>s?”(07/07/2009) [grifo nosso]<br />

Os dois excertos expressam questio<strong>na</strong>mentos, reflexões e um pouco de<br />

desmotivação em relação ao andamento das ofici<strong>na</strong>s. O excerto 06/09, da segunda<br />

vigência, apresenta a preocupação da docente quanto à redução no número de alunos que<br />

frequentam as ofici<strong>na</strong>s. A professora procura uma causa para essa redução, demonstra<br />

capacidade de reflexão sobre a situação, questio<strong>na</strong>ndo de que modo isso pode ser revertido.<br />

Compreendemos que ela confronta o problema e reflete em como mudar. Dessa forma,<br />

esse trecho se enquadra <strong>na</strong> terceira ação de Smyth (1992) que é o confrontar.


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38<br />

Observa-se que no excerto 05/09 é descrito o uso mal sucedido de uma música em<br />

sala de aula e a docente reflete o que poderia fazer diferente (a letra da música impressa<br />

ajudaria <strong>na</strong> aprendizagem). Nele os alunos se expressam, sugerindo algo que os<br />

professores poderiam fazer para ter êxito com a atividade e, por fim, a docente reconhece a<br />

falha e como poderia contribuir <strong>na</strong> aprendizagem dos alunos. Concluímos que esse trecho<br />

se enquadra <strong>na</strong> quarta ação de Smyth (1992) que é o reconstruir. Um fato interessante<br />

nesse processo é que o reconstruir contou com a participação dos alunos.<br />

Excerto 07/10: “Eles se levantaram começaram a formar a fila, mas se dispersaram totalmente,<br />

eu tentava organizar, mas era em vão, pedia silencio para explicar a atividade (que no caso seria<br />

de perguntar: Quelle est ta <strong>na</strong>tio<strong>na</strong>lité.) e não adiantava <strong>na</strong>da (foi meu limite, tive vontade de ir<br />

embora) então pedi as bandeiras, sai recolhendo todas de volta. Em seguida fiz um sermão (não<br />

gosto de dar sermão em ninguém, acho q nem em Maria de Nazaré fiz isso) Falei sobre a questão<br />

de eles não serem obrigados a participar do Francês, falei do meu esforço para preparar o<br />

material, etc [...]Não compreendo bem o que levou os alunos a não se comportarem, talvez a<br />

dinâmica de introdução tenha sido muito cansativa. Fiquei muito triste nesse dia, foi uma<br />

ofici<strong>na</strong> muito tumultuada, espero que isso não se repita, prestarei mais atenção a aplicação das<br />

dinâmicas (que não podem ser monóto<strong>na</strong>s JAMAIS).” (01/06/2010) [grifo nosso]<br />

Excerto 08/10: “[...] Confesso que esta sema<strong>na</strong> eu fiquei bastante desmotivada, o acúmulo de<br />

situações desanimadoras como a redução do numero de alunos <strong>na</strong>s ofici<strong>na</strong>s, o problema do<br />

chuveiro do banheiro da sala que não para de derramar água (pense no desperdício e no<br />

barulho) e as reflexões <strong>na</strong> <strong>Universidade</strong> sobre o mercado de trabalho <strong>na</strong> área de francês em<br />

nossa cidade (não são <strong>na</strong>da animadoras) me deixaram bem desmotivada, mas até que a ofici<strong>na</strong><br />

de hoje me deu um pouco mais de ânimo.” (26/08/2010) [grifo nosso]<br />

Nos excertos 07/10 e 08/10 são relatados reações, reflexões e desmotivação da<br />

docente em relação às dificuldades encontradas no desenvolvimento das ofici<strong>na</strong>s. São<br />

relatadas situações de mau comportamento dos alunos, redução do número de alunos<br />

frequentando as ofici<strong>na</strong>s e até as reflexões realizadas <strong>na</strong> <strong>Universidade</strong> com relação ao<br />

mercado de trabalho <strong>na</strong> área de francês. Essas reflexões possivelmente foram realizadas<br />

durante alguma das aulas de Estágio Supervisio<strong>na</strong>do. Tendo em vista que nessas<br />

discipli<strong>na</strong>s se configuram como espaço de teoria e prática, ocasio<strong>na</strong>ndo importantes<br />

reflexões sobre o trabalho docente.<br />

O excerto 07/10 apresenta conflitos enfrentados pela docente ao tentar realizar uma<br />

atividade com os alunos, entretanto não tem êxito, sendo necessário fazer um sermão. Ela


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39<br />

relata o incômodo que toda a situação acarreta e no fi<strong>na</strong>l reflete sobre o porquê de tudo que<br />

aconteceu; e fi<strong>na</strong>liza mencio<strong>na</strong>ndo a dinâmica como monóto<strong>na</strong>, sendo assim a possível<br />

causa da dispersão dos alunos.<br />

Embora não tenhamos apontado como conteúdo temático, mas alguns aspectos<br />

linguísticos despertaram nossa atenção <strong>na</strong> forma da escrita do diário. A mais frequente<br />

delas foi o uso das palavras aula e ofici<strong>na</strong>, assim como a classificação que é apresentada<br />

como boa, proveitosa e produtiva. A seguir, exemplificamos com excertos das três<br />

vigências:<br />

Excerto 08/08:“A aula foi bastante proveitosa, a participação deles foi constante e um grande<br />

número de alunos participou”. (16/10/2008) [grifo nosso]<br />

Excerto 07/09: “[...] A ofici<strong>na</strong> foi muito boa, apesar do grande número consegui manter o<br />

controle e realizar a ofici<strong>na</strong> alcançando os objetivos pretendidos, me senti muito feliz e as<br />

crianças demonstraram ter gostado da ofici<strong>na</strong>.” (13/08/2009) [grifo nosso]<br />

Excerto 12/10: “A ofici<strong>na</strong> foi boa, apesar de só ter duas alu<strong>na</strong>s, hoje a ofici<strong>na</strong> fluiu bem, elas<br />

estavam concentradas e participaram totalmente.” (26/08/2010) [grifo nosso]<br />

Ao longo da primeira vigência, dentre os vinte e três registros que dispomos,<br />

observamos que a utilização da palavra aula foi frequente, pouco apareceu a palavra<br />

ofici<strong>na</strong>. O excerto 08/08 mostra a utilização da palavra aula e sua classificação como<br />

bastante proveitosa. No excerto 07/09 observamos a utilização frequente da palavra<br />

ofici<strong>na</strong>, essa é uma das características dos registros da segunda vigência, nos quais pouco<br />

aparece a palavra aula. Com relação à terceira vigência, é frequente nos registros a<br />

utilização da palavra ofici<strong>na</strong> e não aparece a palavra aula.<br />

Destacamos que no Projeto havia grande incentivo para a utilização do termo<br />

ofici<strong>na</strong>, pois o caráter lúdico das atividades propostas, a não-obrigatoriedade de<br />

participação dos alunos, o uso de jogos pedagógicos, entre outros aspectos, mostram a<br />

concepção das atividades desenvolvidas, portanto o uso do termo ofici<strong>na</strong>. Todavia, os<br />

professores em <strong>formação</strong>, habituados ao sistema de ensino tradicio<strong>na</strong>l se depararam<br />

<strong>inicial</strong>mente com a dificuldade de nomear a ação desenvolvida de ofici<strong>na</strong>, com o tempo, as<br />

experiências possibilitaram a mudança e a adoção do termo espontaneamente, conforme<br />

vimos nos excertos.


3.2 Constituindo-se professora<br />

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40<br />

Durante a análise dos excertos referentes aos conteúdos temáticos, observamos<br />

momentos que si<strong>na</strong>lizam a <strong>formação</strong> de uma identidade profissio<strong>na</strong>l docente. A seguir,<br />

considerando a perspectiva diacrônica da análise de nossos dados que tentamos<br />

empreender, mostraremos como essa alu<strong>na</strong> (professora em <strong>formação</strong>) foi se construindo<br />

como professora de língua francesa.<br />

• demonstra<br />

2008 2009 2010<br />

afetividade<br />

• reproduz modelos<br />

que inter<strong>na</strong>lizou<br />

como alu<strong>na</strong><br />

• motivada em relação<br />

à <strong>formação</strong><br />

profissio<strong>na</strong>l<br />

• demonstra<br />

afetividade<br />

• demonstra, ao<br />

mesmo tempo,<br />

motivação e<br />

desmotivação<br />

• busca agir diferente<br />

• demonstra<br />

afetividade<br />

• demonstra, ao<br />

mesmo tempo,<br />

motivação e<br />

desmotivação<br />

• faz uso de diferentes<br />

estratégias<br />

• busca soluções para<br />

dificuldades <strong>na</strong>s<br />

ofici<strong>na</strong>s<br />

Quadro 3.2 – Características da <strong>formação</strong> de uma identidade profissio<strong>na</strong>l<br />

Conforme podemos observar no quadro, em cada vigência a docente apresenta<br />

traços que caracterizam a construção de uma identidade profissio<strong>na</strong>l. Ratificamos que o<br />

processo de identidade da professora em <strong>formação</strong> sofre mudanças visíveis ao longo das<br />

três vigências do Projeto. Isso pode ser observado <strong>na</strong>s transformações que ocorrem <strong>na</strong>s<br />

ações da docente. Verificamos que em determi<strong>na</strong>dos momentos, ela revive uma situação<br />

similar a de outra vigência, mas sua reação é diferente.<br />

Algumas dessas características permanecem ao longo do tempo (por exemplo, a<br />

preocupação relacio<strong>na</strong>da à afetividade e à relação com os alunos), enquanto outras sofrem<br />

mudanças. Exemplo disso é a vigência 2008 <strong>na</strong> qual ela reproduz modelos que inter<strong>na</strong>lizou<br />

como alu<strong>na</strong>, enquanto que <strong>na</strong> vigência 2009, busca agir diferente e em 2010 faz uso de<br />

diferentes estratégias para resolver dificuldades encontradas durante as ofici<strong>na</strong>s. Vejamos<br />

alguns exemplos:


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41<br />

Excerto 03/08:“[...] Nas férias sentirei saudades de todas aquelas crianças, estou aprendendo a<br />

ser professora com elas, e estou tendo cada vez mais certeza que essa é a profissão que quero<br />

seguir”. (09/12/2008) [grifo nosso]<br />

Excerto 02/09: “[...] Eles pareceram ter gostado da ofici<strong>na</strong> de hoje, eu gostei bastante, a cada<br />

ofici<strong>na</strong> me sinto mais segura para ensi<strong>na</strong>r francês, a experiência está sendo ótima.”<br />

(20/08/2009) [grifo nosso]<br />

Nos excertos apresentados, observamos o posicio<strong>na</strong>mento da docente em relação à<br />

afetividade, ao relatar que sentirá saudade dos alunos <strong>na</strong>s férias. Ela demonstra motivação<br />

para atuar como professora, ao expressar certeza <strong>na</strong> escolha profissio<strong>na</strong>l. Outro aspecto é o<br />

sentir-se feliz com a ofici<strong>na</strong> realizada, sua percepção sobre os alunos gostarem da ofici<strong>na</strong>,<br />

assim como sua motivação para atuar como professora. Ela relata também o sentir-se<br />

segura para ensi<strong>na</strong>r francês, que pode ser entendido como uma apropriação dessa<br />

identidade, ao agir e ao sentir-se professora, a docente revela uma identidade constituída e<br />

reconstruída, considerando que a cada nova experiência em sala de aula a professora se<br />

transforma.


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

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42<br />

Com a realização da análise dos dados, foi possível compreender melhor algumas<br />

questões referentes à <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> docente. Ressaltamos que a pesquisadora-diarista<br />

vivenciou uma <strong>formação</strong> permeada pela participação em projetos acadêmicos, que<br />

contribuíram grandemente ao possibilitarem a prática pedagógica, a reflexão sistematizada<br />

através de diários <strong>reflexivo</strong>s e discussões em grupo, o que acarretou no desenvolvimento<br />

de uma postura mais reflexiva, transformando a futura professora enquanto indivíduo,<br />

refletindo tanto em suas relações acadêmicas, profissio<strong>na</strong>is quanto pessoais.<br />

Neste trabalho, objetivamos responder duas questões de pesquisa, que retomamos<br />

nesse momento para melhor sistematizar nossas reflexões.<br />

1- De que forma uma professora de língua estrangeira em <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong><br />

evidencia, em diários <strong>reflexivo</strong>s, a conscientização de suas ações e reflexão crítica do<br />

processo de ensino-aprendizagem?<br />

2- Até que ponto o posicio<strong>na</strong>mento crítico dessa professora si<strong>na</strong>liza para a<br />

construção da sua identidade como profissio<strong>na</strong>l do ensino?<br />

A análise dos dados dessa pesquisa feita através da (re) leitura do diário, permitiu a<br />

identificação de conteúdos temáticos, os quais trouxeram à to<strong>na</strong> as dificuldades no ensinoaprendizagem<br />

de FLE, a afetividade professor-aluno e aluno-professor, as inquietações<br />

diante de situações novas e inesperadas, como agressividade entre alunos, desrespeito,<br />

entre outros. Apontou diversos trechos que evidenciaram as quatro formas de ação de<br />

Smyth (1992), caracterizando momentos de reflexão crítica. Identificamos também trechos<br />

que caracterizam a construção de uma identidade profissio<strong>na</strong>l docente. Portanto, é possível<br />

afirmar que os objetivos traçados foram atingidos.<br />

Dentre as implicações e contribuições deste trabalho, é relevante destacar a<br />

importância da introdução de gêneros <strong>na</strong>rrativos <strong>na</strong> <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> docente, por exemplo,<br />

<strong>na</strong>s discipli<strong>na</strong>s de Estágio Supervisio<strong>na</strong>do e em projetos acadêmicos, e o estímulo ao<br />

desenvolvimento de uma postura crítico-reflexiva, que ao se tor<strong>na</strong>r um hábito <strong>na</strong> <strong>formação</strong><br />

<strong>inicial</strong> tem grande possibilidade de perdurar <strong>na</strong> vida profissio<strong>na</strong>l.<br />

Em virtude da limitação do tempo e espaço para abordar todas as questões que<br />

emergem de um diário <strong>reflexivo</strong> de uma professora em <strong>formação</strong> – ciente de que há muito<br />

o que se pesquisar – não esgotam-se aqui as reflexões acerca da <strong>formação</strong> docente.<br />

Pretendemos dar continuidade a esse trabalho em investigações futuras.


REFERÊNCIAS<br />

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43<br />

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Pessoa: [s.n], 2009. CD-ROM.<br />

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São<br />

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Editores, 2010, vol. 8.<br />

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LIMA, Anne Cléa Soares. Formação de professores de língua francesa em um projeto de<br />

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UFPB. João Pessoa: [s.n], 2010. CD-ROM.<br />

MACHADO, An<strong>na</strong> Rachel. O diário de leituras: a introdução de um novo instrumento <strong>na</strong><br />

escola. São Paulo: Martins Fontes, 1998.<br />

MATOS, Francisco Cardoso Gomes de. Pedagogia da Positividade. Recife: Editora da<br />

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MEDRADO, Betânia Passos. A constituição dos relatos de experiência como um gênero<br />

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Linguística (UFAL), 2007. p. 111-128. v. 39.<br />

_____. Espelho, Espelho Meu: Um estudo sociocognitivo sobre a conceptualização do<br />

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2008.<br />

MENEGOLO, Elizabeth D.da C. Wallace; CARDOSO, Cancionila Janzkovski. <strong>Diário</strong>s de<br />

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Acesso em: 03 out. 2011.


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44<br />

MOITA LOPES, Luiz Paulo da. Socioconstrucionismo: discurso e identidades sociais. In:<br />

MOITA LOPES, Luiz Paulo da. (Org.). Discursos de Identidades: discurso como espaço de<br />

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PELLIM, Tiago. Negociando identidades: quando o aluno vira professor e o professor vira<br />

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Emoções, reflexões e (trans)form(ações) de alunos, professores e formadores de<br />

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PIMENTA, Selma Garrido; GHEDIN, Evandro. Professor <strong>reflexivo</strong> no Brasil. Gênese e<br />

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REICHMANN, Carla Lynn. Professores-em-construção: reflexões sobre reposicio<strong>na</strong>mnto<br />

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ROLLEMBERG, A<strong>na</strong> Tereza Vieira Machado. Histórias de vida de duas professoras:<br />

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de Letras, 2003. p. 249-271.<br />

SIGNORINI, Inês. Gêneros catalisadores: letramento e <strong>formação</strong> de professores. São<br />

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TÁPIAS-OLIVEIRA, Eveline Mattos. A construção da identidade profissio<strong>na</strong>l do<br />

professor e sua produção diarista. In: KLEIMAN, Angela B.; MATÊNCIO, Maria de<br />

Lourdes M. (Org.). Letramento e Formação do Professor: práticas discursivas,<br />

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ZABALZA, Miguel A. <strong>Diário</strong>s de Aula: um instrumento de pesquisa e desenvolvimento<br />

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45<br />

APÊNDICES


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46<br />

Apêndice A – Registro do diário <strong>reflexivo</strong> da vigência 2008 9<br />

P. 01<br />

9 Dentre o total de 98 registros do diário <strong>reflexivo</strong>, referente às três vigências do Projeto (PROBEX/UFPB),<br />

selecio<strong>na</strong>mos um registro de cada vigência para visualização.


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47<br />

P. 02


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48<br />

Apêndice B – Registro do diário <strong>reflexivo</strong> da vigência 2009


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49<br />

Apêndice C – Registro do diário <strong>reflexivo</strong> da vigência 2010<br />

Ofici<strong>na</strong> 06/05/2010 Atelier de sensibilisation<br />

Hoje foi realizada a primeira ofici<strong>na</strong> de francês <strong>na</strong> Aldeia SOS. Quando eu cheguei Anne Cléa<br />

estava ministrando a ofici<strong>na</strong> com a turma dela. Cheguei cedo, então fiquei aguardando em um<br />

banco do lado de fora da sala. Havia três garotos sentados também, então comecei a fazer<br />

perguntas a eles (puxar conversa), perguntei se eles iriam participar do francês, eles disseram que<br />

não, perguntei por que, disseram que não novamente, fiz mais algumas perguntas e depois fiquei<br />

calada, escutando a ofici<strong>na</strong> de Anne Cléa. Quando ela terminou, eu entrei <strong>na</strong> sala para organizar<br />

e esperar os alunos chegarem, depois de organizar o data show, convidei os alunos para entrar<br />

em sala, eles já estavam esperando do lado de fora da sala. Saudei-os com Bonjour, chamei<br />

também os três que estavam lá fora quando eu cheguei, eles não quiseram entrar. Depois que<br />

todos se sentaram, eu falei sobre o projeto rapidamente, um aluno (Marcelino) me fez algumas<br />

perguntas, como por exemplo, se eu era casada, eu respondi que não, sou noiva. Inclusive disse<br />

em francês também. Depois os convidei para ficarem de pé, em círculo, e expliquei a dinâmica do<br />

nome, comecei mostrando como seria, inclusive pedi ajuda a um aluno do meu lado(Marcelino),<br />

expliquei a ele o que deveria fazer, assim eu fiz e ele também, logo a turma entendeu a lógica da<br />

dinâmica. Acho que eles gostaram dessa dinâmica porque pediram para repetir a sequência, após<br />

termos feito a 1ª vez. Depois pedi que sentassem formando um círculo, expliquei a dinâmica da<br />

caixa e coloquei a música (OH, OH,OH de Tragedie) para tocar enquanto a caixa passava de mão<br />

em mão, eles gostaram muito dessa música. Conforme a música parava, quem estivesse com a<br />

caixa tirava um papelzinho e lia para a turma. Era uma pergunta que eles deveriam escrever a<br />

resposta <strong>na</strong> folha que eu já havia distribuído. Todos participaram passando a caixa e escrevendo a<br />

resposta <strong>na</strong> folha. Só um aluno não quis escrever (Anderson), ele disse que não queria escrever e<br />

eu não insisti. Depois das perguntas lidas e respondidas <strong>na</strong> folha, recolhi as folhas, expus as<br />

perguntas pelo slide e fui relendo as perguntas e eles falando as respostas, de forma breve. Na<br />

sequência, falei para eles sobre a influência da língua francesa <strong>na</strong> língua portuguesa. Pedi que<br />

eles dissessem palavras que eles achavam que era de origem francesa. Antes disso, fiz<br />

comparação com palavras da língua inglesa, que utilizamos no dia-a-dia. Eles disseram várias<br />

palavras, depois eu expus o slide com as palavras e eles leram juntos todas as palavras. Em<br />

seguida, expus o slide com as imagens dos lugares onde se fala francês. Perguntei para eles: em<br />

qual desses lugares vocês acham que se fala francês? Eles iam até lá <strong>na</strong> tela, apontavam e diziam<br />

o nome do lugar, só duas ou três alu<strong>na</strong>s que disseram de suas cadeiras mesmo, sem ir até a tela.<br />

Depois de todos participarem, e ficarem bastante curiosos para saber se tinham acertado, eu falei<br />

que se fala francês em todos aqueles lugares e expliquei porque (língua oficial, foi colônia da<br />

frança, etc).

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