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SOBRE A MORTE E O MORRER

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NEGAÇÃO<br />

A primeira fase é a da negação, quando o enfermo se recusa a aceitar a ideia da morte. - Não pode ser verdade‖,<br />

pensa. Ele ignora o diagnóstico e finge que nada mudou em sua vida. Nesse estágio é comum o doente apegar-se<br />

a falsas convicções, acreditando, por exemplo, que o hospital trocou o resultado de seus exames ou que o<br />

diagnóstico é fruto da incompetência do médico.<br />

A negação funciona como um pára-choque depois de notícias inesperadas e chocantes, deixando que o paciente<br />

se recupere com o tempo, mobilizando outras medidas menos radicais.<br />

Comumente, a negação é uma defesa temporária, sendo logo substituída por uma aceitação parcial. A negação<br />

assumida nem sempre aumenta a tristeza, caso dure até o fim o que é uma raridade.<br />

RAIVA<br />

Quando não consegue mais disfarçar a realidade, sente raiva. Raiva de Deus, raiva do mundo: - Por que eu?‖ é a<br />

pergunta mais frequente. À revolta misturam-se sentimentos como a inveja das pessoas sadias e o ressentimento<br />

em relação a familiares que não considera suficientemente dedicados. É um dos momentos mais difíceis para a<br />

família.<br />

O problema é que poucos se colocam no lugar do paciente e perguntam de onde pode vir esta raiva. Temos que<br />

aprender a ouvir os nossos pacientes e até, às vezes, a suportar alguma raiva irracional, sabendo que o alívio<br />

proveniente do fato de tê-la externado contribuirá para melhor aceitar as horas finais.<br />

Só podemos fazer isso quando tivermos enfrentado o medo da morte, os nossos desejos de destruição e nos<br />

tivermos compenetrado de nossas próprias defesas, que podem interferir nos cuidados com o paciente.<br />

BARGANHA<br />

A essa fase segue-se o estágio da barganha. O doente faz promessa a Deus e tenta - negociar‖ sua cura. Exibe um<br />

estado de espírito mais sereno e torna-se condescendente com os que o rodeiam - por trás dessa mudança de<br />

atitude, porém, está a expectativa de que possa reverter a sentença que recai sobre ele.<br />

Psicologicamente, as promessas podem estar associadas a uma culpa recôndita. Portanto, seria bom se as<br />

observações feitas por esses pacientes não fossem menosprezadas pela equipe hospitalar.<br />

DEPRESSÃO<br />

ESTÁGIOS DA <strong>MORTE</strong><br />

Quando percebe que não tem jeito, mergulha em depressão. Esse quarto estágio muitas vezes coincide com o<br />

agravamento do estado de saúde do doente ou a frustração diante do fracasso de um novo tratamento. O<br />

paciente entra em contato com a ideia do fim e sente remorso pelo que deixou de fazer. Fecha-se em silêncio e é<br />

tomado por uma sensação de derrota e impotência. É o momento que antecede a chegada do ultimo estágio.<br />

Quando a depressão é um instrumento na preparação da perda iminente e de todos os objetos amados para<br />

facilitar o estado de aceitação, o encorajamento e a confiança não têm razão de ser. O paciente não deveria ser<br />

encorajado a olhar o lado risonho das coisas, pois isto significaria que ele não deveria contemplar sua morte<br />

iminente.<br />

Se deixarmos que exteriorize seu pesar, aceitará mais facilmente a situação e ficará agradecido aos que se<br />

puderem estar com ele neste estado de depressão sem repetir constantemente que não fique triste. É um tipo de<br />

depressão geralmente silencioso.<br />

____________________________________<br />

KÜBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a morte e o morrer. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

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