Séneca. Medeia - Universidade de Coimbra
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<strong>Me<strong>de</strong>ia</strong><br />
As leis <strong>de</strong> um mundo bem <strong>de</strong>limitado,<br />
o navio <strong>de</strong> pinho da Tessália 58 reduziu-as a uma só<br />
e obrigou as águas a submeterem-se aos golpes<br />
dos remos e tornou o mar mais remoto<br />
parte do nosso medo.<br />
Aquele ruim navio expiou pesados castigos,<br />
conduzido através <strong>de</strong> perigos tão vastos, quando<br />
duas montanhas 59 , portões das profun<strong>de</strong>zas marítimas,<br />
uma <strong>de</strong> um lado, outra <strong>de</strong> outro, chocando <strong>de</strong> súbito,<br />
fizeram ecoar um som como que vindo do céu,<br />
e as águas, apanhadas a meio, salpicaram cumes<br />
e nuvens. Empali<strong>de</strong>ceu o corajoso Tífis e <strong>de</strong>ixou escapar<br />
<strong>de</strong> sua mão vacilante todas as ré<strong>de</strong>as 60 ,<br />
Orfeu ficou em silêncio, com a lira entorpecida,<br />
e o próprio navio Argo per<strong>de</strong>u a voz 61 .<br />
Que dizer da virgem <strong>de</strong> Peloro, na Sicília 62 ,<br />
quando, com o seu ventre cingido <strong>de</strong> raivosos cães,<br />
abriu ao mesmo tempo todas as suas goelas?<br />
Quem não sentiu todos os seus membros arrepiarem-se,<br />
ao ver um único monstro a soltar tantos latidos?<br />
Que dizer das amaldiçoadas criaturas 63 , quando<br />
58 O navio Argo feito <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira das árvores do monte Pélion,<br />
na Tessália.<br />
59 As Simpléga<strong>de</strong>s.<br />
60 A metáfora refere-se provavelmente às cordas do navio, cujo<br />
controlo Tífis per<strong>de</strong>; cf. v. 2;<br />
61 O navio falava e tinha o dom da profecia.<br />
62 Sila.<br />
63 As Sirenes. Pestis é termo <strong>de</strong> invectiva, aqui traduzido por ‘criatura’.<br />
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