Séneca. Medeia - Universidade de Coimbra
Séneca. Medeia - Universidade de Coimbra
Séneca. Medeia - Universidade de Coimbra
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
39<br />
<strong>Me<strong>de</strong>ia</strong><br />
com chicotes flamejantes os ígneos cavalos;<br />
Corinto, que atrasa os navios com a sua dupla costa,<br />
seja consumida pelo fogo e <strong>de</strong>ixe os dois mares confluírem 8 .<br />
Resta-me apenas isto: levar eu própria, <strong>de</strong> pinho,<br />
o archote nupcial ao tálamo e, <strong>de</strong>pois das preces<br />
sacrificiais, imolar as vítimas nos altares consagrados.<br />
Procura nas próprias vísceras o caminho para a vingança,<br />
se estás viva, minha alma, e se é que ainda tens um pouco<br />
do teu antigo vigor. Bane os medos próprios das mulheres<br />
e reveste o teu espírito da inospitalida<strong>de</strong> do Cáucaso.<br />
Quaisquer perfídias que o Fásis 9 ou o Ponto tenham visto,<br />
o Istmo também as verá. Selvagens, <strong>de</strong>sconhecidos, arrepiantes,<br />
capazes <strong>de</strong> fazer tremer tanto o céu como a terra<br />
são os males que agitam, bem fundo, a minha mente: feridas<br />
e carnificina e exéquias perturbadas por membros lacerados.<br />
[É leve <strong>de</strong>mais o que enumero:<br />
isto fiz eu, uma rapariga virgem. Que um ressentimento<br />
[mais <strong>de</strong>vastador se levante:<br />
convêm-me agora crimes maiores, visto que já <strong>de</strong>i à luz.<br />
Arma-te <strong>de</strong> cólera e prepara-te para o morticínio<br />
com todo o furor. Que a história a contar sobre o teu repúdio<br />
iguale a do teu tálamo. De que modo <strong>de</strong>ixarás o teu marido?<br />
Do mesmo modo que o seguiste. Acaba já com as tuas<br />
[hesitações cobar<strong>de</strong>s:<br />
a casa que <strong>de</strong> um crime recebeste, com um crime a <strong>de</strong>ves <strong>de</strong>ixar.<br />
8 A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Corinto está situada no istmo que separa os mares<br />
egeu e jónico. Na Antiguida<strong>de</strong>, fizeram-se várias tentativas para<br />
abrir um canal no istmo, mas nenhuma <strong>de</strong>las foi bem sucedida.<br />
9 Rio da Cólquida: cf. v. 102, 211, 451, 762.<br />
35<br />
40<br />
45<br />
50<br />
55