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Séneca. Medeia - Universidade de Coimbra

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Ana Alexandra Alves <strong>de</strong> Sousa<br />

coro, a presença do senário jâmbico nas falas das<br />

personagens que, em cena, nunca são mais <strong>de</strong> três, e os<br />

metros líricos nas o<strong>de</strong>s corais.<br />

Tem sido muito discutida a relação entre as<br />

tragédias e as obras em prosa, nas quais <strong>Séneca</strong> nunca faz<br />

referência àquelas. As suas personagens distanciam-se da<br />

atitu<strong>de</strong> do sábio e exemplificam a escolha do uitium,<br />

sofrendo as consequências <strong>de</strong>ssa opção, num excesso<br />

que as torna representativas: Atreu, do po<strong>de</strong>r do ódio;<br />

<strong>Me<strong>de</strong>ia</strong>, do ciúme e <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> vingança; Fedra, do amor<br />

<strong>de</strong>senfreado; Teseu, Pirro e Ulisses, da corrupção do<br />

po<strong>de</strong>r. Estes caracteres senequianos permitem, portanto,<br />

ao homem assistir à queda inerente à <strong>de</strong>smesura<br />

humana. Apesar <strong>de</strong> estarem longe do comportamento<br />

estóico, há momentos em que postulam opiniões e<br />

conceitos estóicos, classificados por Maria Cristina<br />

Sousa Pimentel como “tópicos <strong>de</strong> serenida<strong>de</strong> e certeza,<br />

por oposição à <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m e conflito” 6 .<br />

Todas estas paixões estavam, aliás, próximo da<br />

vivência dos cidadãos romanos, com um imperador<br />

capaz <strong>de</strong> assassinar a própria mãe e esbulhar os patrícios<br />

romanos para satisfazer os seus caprichos. Mas o teatro<br />

<strong>de</strong> <strong>Séneca</strong>, além <strong>de</strong> reflectir uma época <strong>de</strong> terror, repleta<br />

<strong>de</strong> violência e iniquida<strong>de</strong>, transpõe as barreiras temporais<br />

na reflexão que faz sobre o po<strong>de</strong>r 7 .<br />

6 Pimentel 1993 74.<br />

7 F. Oliveira 1999 consi<strong>de</strong>ra a existência <strong>de</strong> três tipos <strong>de</strong> herói<br />

nas tragédias <strong>de</strong> <strong>Séneca</strong>, os quais relaciona com a problemática do<br />

po<strong>de</strong>r: com uns o tragediógrafo con<strong>de</strong>na o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> cariz tirânico,<br />

com outros adverte para a perversão inerente ao po<strong>de</strong>r e com outros<br />

propõe um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> governação estóica.<br />

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