Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> CARLOS NINE<br />
<strong>Casa</strong> <strong>21</strong><br />
cidades ilustradas<br />
CARLOS NINE<br />
<strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong><br />
<strong>Casa</strong> <strong>21</strong>
Patrocínio Apoio<br />
cidades ilustradas<br />
CARLOS NINE<br />
<strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong><br />
Prefácio de Jorge Furtado
Copyright © Carlos Nine<br />
TEXTO Carlos Nine<br />
TRADUÇÃO E REVISÃO Pina Bastos<br />
VERSÃO INGLÊS Sonia Al Abdalla<br />
PESQUISA FOTOGRÁFICA Fábio Zimbres e Jack Kaminski<br />
PESQUISA TEXTO Lucas Nine<br />
PRODUÇÃO GRÁFICA Radiográfico<br />
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE<br />
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ<br />
N6<strong>21</strong>p<br />
Nine, Carlos, 1944-<br />
<strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> / Carlos Nine ; [versão para o inglês Sonia Al Abdalla ; tradução e revisão Pina Bastos ;<br />
pesquisa fotográfica Fábio Zimbres e Jack Kaminski]. - Rio de Janeiro : <strong>Casa</strong> <strong>21</strong>, 2008. 72p. :<br />
principalmente il. color. ; . -(Cidades ilustradas ; n.9)<br />
Texto em português e inglês<br />
ISBN 978-85-88627-14-7<br />
1. <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> (RS) - Obras ilustradas. 2. <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> (RS) -<br />
Descrições e viagens. I. Título. II. Série.<br />
08-1689. CDD: 918.8165<br />
CDU: 913(816.5)<br />
05.05.08 05.05.08 006437<br />
Todos os direitos desta edição reservados à:<br />
<strong>Casa</strong> <strong>21</strong> Ltda<br />
Rua do Catete, 92 – casa <strong>21</strong><br />
22220-000 – Rio de Janeiro – RJ<br />
www.editoracasa<strong>21</strong>.com.br<br />
Não deixa de ser humilhante: precisou vir alguém de longe para mostrar aos porto-alegrenses o que a cidade tem de mais bonito.<br />
Eu, que sempre morei aqui e faz tempo, nunca tinha visto a cidade tão bonita. Faltou só o Museu Iberê e o Teatro São Pedro, ambos<br />
cobertos de tapumes quando Carlos Nine andou por aqui.<br />
De resto, o melhor da cidade está lá: a incomparável luz oblíqua, os prédios elegantes, as árvores multicores pedindo para virar aquarelas,<br />
o céu imenso sobre o Guaíba, o pôr-do-sol de catálogo, os parques cheios de tipos e, principalmente, os tipos.<br />
Repare nos tipos. Aquele coelho artista, cachimbador, mora perto da minha casa, vejo por aqui seguido. É ensimesmado, arredio,<br />
talvez sonhe com murais ou tenha problemas em casa. Não dá conversa a ninguém.<br />
O porco de gabardine e sua esposa longilínea eu já vi lá pelo bric, acho que mexe com imóveis. Tipo risonho, viajado, bom papo. Sua<br />
senhora é uma deusa, mangas bufantes, très chic, dizem que fidelíssima. Porco de sorte.<br />
E os monges flutuantes? Acabou de passar um pela minha janela, juro, sem piadas e sem balões, são monges sérios. Levitam por<br />
serem leves, naturalmente, vão com o vento. Mas voltam, acho que a pé.<br />
Reparem o cão deprimido que bebe vinho no chalé da Praça XV. Seu interlocutor, bacharel psitacídeo, se esforça em convencê-lo<br />
a tentar vida em São Paulo. O cão reluta. Talvez já mude de idéia, pois se aproxima o leão, rei dos arquitetos, vendendo imóveis na<br />
planta, uma conversa intragável. Menos mal que a filha é uma gata.<br />
E preste atenção, quantos livros: patos, pintos, bigodudos, mocinhas pernudas, gansos, guascas, todos lêem. A cidade gosta de livros,<br />
bem que ela faz. Todos lêem, ou tocam violão, ou cantam, ou pintam, ou dançam. Se não lêem, correm, se exercitam, cuidam da<br />
mente ou do corpo. Todos lêem, mas na cidade, olhe bem, não se vê palavra escrita: sem placas, reclames, faixas, nada de letras na<br />
rua! Que prazer as placas dão com sua ausência! Ah, fosse sempre assim!<br />
Sereias, dragões, tritões, o pato cantor, Padre Mário, o Veríssimo, Netuno, o Vasques, o Santiago, aquela coruja pilchada, mais os anjos<br />
trombeteiros, o Rodrigo Rosa, o Lancast, o Fraga, o Atlas, o Zimbres, andam todos por aqui, vez por outra nos cruzamos. Já o Gilmar,<br />
não conheço, pelo menos que eu me lembre. A cidade também não é tão pequena assim, nuvem aqui não falta.<br />
Valeu Nine! Volte sempre!<br />
Jorge Furtado<br />
<strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>, seis de maio de dois mil e oito
Sou Gilmar, a última fumaça saída da Usina do Gasômetro, antes de<br />
ser convertida em um Centro Cultural. E devo dizer com orgulho que<br />
sou uma fumaça gaúcha. Aproveito esta oportunidade que me dão para<br />
relembrar dos velhos companheiros; outras fumaças há muito tempo<br />
dissolvidas no céu úmido de <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>. Dentre meus amigos mais<br />
queridos, vou citar João, Zelmar e Teté.<br />
Sei que algum dia este será o meu destino, também, mas, por ora, aqui<br />
estou, muito confortável, escondido nesta velha chaminé.<br />
Gostaria de convidá-los para percorrer a cidade comigo.
Nos velhos tempos, gostávamos de sair muito cedo, antes do amanhecer, para<br />
não perder a oportunidade de despedirmo-nos da lua e, principalmente dessas<br />
quatro beldades que eram Camila, Maria, Lúcia e Isadora.<br />
Estrelas, é claro!
Nossa localização perto do porto era um lugar privilegiado<br />
para receber esses barcos carregados de imigrantes que<br />
navegavam pelo Guaíba. Aqui, vocês me vêem fazendo uma<br />
serenata de boas-vindas, minha especialidade, a uma bonita<br />
coluna de fumaça, saída da chaminé de um barco italiano.<br />
Que pena que não me ouviu. Era branca, suave, bonita...<br />
nunca a esquecerei.
Tinha de ser rápido no cantar, porque esses barcos estavam<br />
terminando as viagens no porto, onde uns gigantes de ferro que<br />
passeavam na doca os esperavam. As pessoas os chamavam<br />
de “gruas”, não sei por quê.<br />
Nunca me pareceram simpáticos esses grandalhões fortões.
Esta é a Igreja das Dores. O problema são os anjos que a sobrevoam o<br />
tempo todo! Qualquer pessoa pode vê-los. Só precisa ficar parada dez<br />
minutos em frente à igreja para que apareçam. Quase sempre se dedicam<br />
a incomodar as velhas, até que aparece o Padre Mario e lhes pede<br />
que voltem ao Céu, que deixem as pessoas tranqüilas.<br />
Pelo menos, temos que reconhecer que são bons músicos.
Ao lado da igreja, ergue-se esse bonito edifício,<br />
com um letreiro que diz “Quartel General”.<br />
Sempre me chamou a atenção uma escultura de<br />
uma senhorita com uma bandeira que puseram<br />
na fachada. É esta aqui, estão vendo?
Seguindo por esta rua, chamada Rua da Praia, chegamos a<br />
este imponente edifício, que nos velhos tempos foi um hotel<br />
de luxo de que ainda me lembro, e que agora se chama “<strong>Casa</strong><br />
de Cultura Mario Quintana”. Dali entram e saem atores, cantores,<br />
gente com livros nas mãos.<br />
Que será que acontece ali dentro?
Não creiam que por ser uma velha nuvem de usina termoelétrica<br />
só me dedico a tocar violão e cantar. Também sei folhear<br />
livros. Gostaria de ser parte desse mundo. Aceitariam<br />
uma velha fumaça com aspirações? Hum...
Seguimos viagem, sempre pela Rua da Praia... Um<br />
pombo correio me saúda da copa das árvores da Praça<br />
da Alfândega. É uma praça pequena, mas encantadora.<br />
O pombo vagueia em torno da torre do palácio dos Correios,<br />
em busca de mensagens. Certamente não sabe<br />
que os Correios não funcionam mais ali.
A Praça da Alfândega tem um aspecto muito europeu,<br />
mas não se enganem. Vi alguns sujeitos tomando mate.
Abandono o lugar, seguindo a sinuosa Rua da Praia,<br />
que nesta altura se transforma em uma rua de pedestres<br />
movimentadíssima. Os pedestres vão e vêm<br />
como loucos, pisando em tudo e apressando a vida.<br />
Nada a ver com a minha tranqüila e sábia lentidão.<br />
Às vezes tento chamar a atenção de alguma garota<br />
sensacional, mas sem êxito.<br />
Creio que me confunde com uma sombra qualquer.
Chego ao Chalé da Praça XV, conhecido como refúgio<br />
de boêmios e intelectuais. De que se refugiam?
Onde tenho grandes amigos é no Mercado Público. Os<br />
aromas que saem dali são todos velhos companheiros que<br />
me conhecem desde sempre. Entre outros, me saúdam<br />
peixe, abacaxi, porco... que prazer me dá cheirá-los!
Muito perto dali, ergue-se a Prefeitura Velha. Não podem perder os<br />
leões que decoram a entrada. Mas tenham cuidado. São de temperamento<br />
extremamente explosivo. Uma vez foi necessário contratar<br />
um especialista de um circo para ensinar-lhes boas maneiras.<br />
Devem se lembrar que estão em uma cidade, senhores!
Em frente à Prefeitura se encontra a Fonte Talavera,<br />
presente do governo da Espanha. Se você passar por ali<br />
todos os dias 29 de agosto depois da meia-noite, poderá<br />
observar maravilhosas danças de Sereias, Netunos<br />
e Tritões, que lhe oferecerão água fresca, se você pedir<br />
com muito respeito e bons modos.
Em outra época, se o viajante preferisse tomar cerveja em vez de água, valeria a pena<br />
visitar o prédio da antiga cervejaria Continental. Era um verdadeiro templo da cevada,<br />
do lúpulo e do malte, onde os apreciadores e suas amigas marcavam encontro.<br />
Um verdadeiro prazer!
Esta é a Praça da Matriz, onde<br />
se ergue o monumento a Júlio<br />
de Castilhos, escoltado por<br />
cães e dragões. Ontem, precisamente,<br />
sonhei com uma<br />
praça cheia de esculturas de<br />
cães e dragões. Eram assim:
Sobrados da Rua General Auto, um lugar ideal para fazer serenatas para<br />
as garotas apaixonadas, às quintas-feiras, entre as nove e a meia-noite.<br />
Nunca aos domingos.
Aqui vemos a famosa Ponte de Pedra. A ponte atravessava um canal que hoje é<br />
um espelho d’água. Eram outros tempos. Peixes e passantes se davam as mãos<br />
e se olhavam cara a cara. Que linda época!
Esta é a Inspetoria da Receita Federal, onde um Atlas faz um esforço<br />
tremendo, que todos devemos compreender e apoiar, para<br />
sustentar o mundo nos ombros. Meu Deus, que trabalho!<br />
Claro que de noite tem um descanso merecido. De manhã, deve<br />
voltar ao seu posto mais reanimado.<br />
Agora sabemos seu segredo.
Sobre este bonito balcão decorado com azulejos, vemos<br />
um grupo de velhas senhoras tomando mate, uma infusão<br />
muito comum em nossa zona. O pôr-do-sol é um momento<br />
ideal para que estas senhoras reflitam, enquanto sorvem o<br />
chimarrão, sobre as coisas da vida e do amor.<br />
Que terá acontecido com seus antigos namorados?
Aqui vemos a Praça Província de Shiga, típico jardim japonês (com espelho<br />
d’água e tudo), onde as meninas de <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> de ascendência<br />
japonesa podem pedir três desejos. As de mais de 25 anos estão<br />
autorizadas a pedir até oito. Depois dos quarenta, podem pedir tantos<br />
quantos quiserem, porque a coisa se complica bastante.
O delta do Guaíba é o local ideal para as brincadeiras de praia. O encanto<br />
das damas provoca o entusiasmo dos cavalheiros. E o meu também.
A escadaria da Rua Fernando Machado foi feita com a finalidade expressa<br />
de desenvolver os músculos e a saúde. Qualquer pessoa pode reconhecer<br />
os habitantes de <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> por suas pernas incríveis!
Seguindo a mesma idéia, está o “Parcão”, oficialmente chamado de Parque<br />
Moinhos de Vento, que é o lugar preferido pelos jovens (e os que já não o são)<br />
para exercitar-se em todo tipo de ginásticas artísticas e desportivas. Alguns<br />
exageram um pouco e precisam ser auxiliados.
Na Rua Fernando Machado ergue-se este edifício, considerado<br />
o mais bonito de toda a cidade. Trata-se da Cúria Metropolitana,<br />
onde os monges meditam. E até levitam!
Aqui está o grande projeto do aeromóvel,<br />
um trem ultramoderno que quase leva o meu<br />
querido irmão menor, a fumaça da locomotiva<br />
de vapor, com quem eu sempre cruzava<br />
no céu. Por sorte, ficou inacabado e seguimos<br />
juntos por mais um tempo. Mas já não<br />
está mais aqui, como estranho isso!
Isto sim que é um espetáculo! Não se<br />
pode perder! O sol vai-se fundindo lentamente<br />
no Guaíba e exatamente às sete<br />
e quinze pisca o olho para nós e desaparece.<br />
É algo impressionante!<br />
Não existe outro pôr-do-sol igual no<br />
mundo e, creiam-me, não exagero!
orto <strong>Alegre</strong>!<br />
Acreditem-me!
Estes são alguns dos artistas<br />
importantes de <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>:<br />
Fernando Veríssimo<br />
Rodrigo Rosa<br />
Edgar Vasques<br />
Gilmar Fraga<br />
Lancast<br />
Fábio Zimbres<br />
Santiago
CIDADES ILUSTRADAS – PORTO ALEGRE<br />
1/2<br />
I am Gilmar, the last smoke flowing out of the “Usina do Gasómetro”, before being changed<br />
into a Cultural Center. And I must say, proudly, that I am a gaúcho smoke. I take advantage of<br />
this opportunity that they give me, to remember my old men companions; other smokes, already<br />
dissolved in the humid skies of <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> some time ago. Among my dearest friends,<br />
it is necessary to mention João, Zelmar and Teté. I know that some day this will be also my<br />
destiny, but right now, here I am, very comfortable, hidden in this old chimney. I would like to<br />
invite you to stroll with me the city.<br />
Soy Gilmar, el último humo salido de la “Usina do Gasómetro”, antes de ser convertida en un<br />
Centro Cultural. Y debo decir con orgullo que soy un humo gaúcho. Aprovecho esta oportunidad<br />
que me dan, para recordar a mis viejos compañeros; otros humos, ya hace tiempo disueltos en los<br />
cielos húmedos de <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>. Entre mis amigos más queridos, cabe citar a João, Zelmar y Teté.<br />
Sé que algún día ese será también mi destino, pero por ahora, aquí estoy, muy cómodo, escondido<br />
en esta vieja chimenea. Quisiera invitarlos a recorrer conmigo la ciudad.<br />
3/4<br />
In the old times, we used to flow out very early, before the dawn, not to lose the opportunity<br />
to say goodbye to the moon and, especially to those four beauties that were Camila, Maria,<br />
Lucia and Isadora. Stars, of course!<br />
En los viejos tiempos, solíamos salir tempranísimo, antes del amanecer, para no perder la<br />
oportunidad de despedirnos de la luna y, especialmente de esas cuatro bellezas que eran Camila,<br />
Maria, Lucia e Isadora. Estrellas, por supuesto!<br />
5/6<br />
Our location near the port was a privileged place to receive those loaded ships of immigrants<br />
that navigated the Guaíba. Here, they could see me singing a welcome serenade, my<br />
specialty, to a beautiful column of smoke flowing out of the chimney of an Italian ship. What a<br />
pity that she couldn’t understand me. She was white, soft, beautiful...I will never forget her.<br />
Nuestra ubicación cerca del puerto era un lugar privilegiado para recibir a esos barcos cargados<br />
de inmigrantes que navegaban por el Guaíba. Aquí me ven dándole una serenata de bienvenida,<br />
mi especialidad, a una hermosa columna de humo, salida de la chimenea de un barco italiano.<br />
Que pena que no me entendiera. Era blanca, suave, hermosa... jamás la olvidaré.<br />
7/8<br />
I had to sing fast, because these ships would finish their trip in the port, where the iron giants<br />
that were surrounding me by the dock, waited for them. People called them<br />
‘‘Cranes’’, I don’t know why. They have never seemed nice to me, these hefty giants.<br />
Tenía que ser rápido al cantar, porque estos barcos terminaban su viaje en el puerto, donde<br />
unos gigantes de hierro que me rodeaban por el dock, los esperaban. La gente los llamaba “grúas”,<br />
yo no sé por qué.<br />
Nunca me cayeron simpáticos estos grandotes forzudos.<br />
9/10<br />
This one is the ‘’Igreja Das Dores’’. The problem is the angels that fly over it all the time!<br />
Anyone can see them. It is only necessary to stop ten minutes in front of it, and they appear.<br />
They almost always spend their time bothering old women, until the Father Mario appears,<br />
begging them to return to the Sky and to leave people alone.<br />
Although it is necessary to admit that they are good musicians.<br />
Esta es la “Igreja das Dores”. El problema son los ángeles que la sobrevuelan todo el tiempo!<br />
Cualquiera puede verlos. Sólo hace falta estar parado diez minutos frente a ella para que aparezcan.<br />
Casi siempre se dedican a molestar a las viejas, hasta que aparece el Padre Mario y les ruega<br />
que vuelvan al Cielo, que dejen tranquila a la gente.<br />
Aunque hay que reconocer que son buenos músicos.<br />
11/12<br />
On its side, rises a nice building with a poster that says “Quartel General”. A sculpture of<br />
a young lady with a flag they have placed on the facade always attracted my attention. It’s<br />
this one, do you see it?<br />
A su lado, se levanta ese bonito edificio con un cartel que dice “Quartel General”. Siempre me<br />
llamó la atención una escultura de una señorita con una bandera que han puesto sobre la fachada.<br />
Es esta de aquí, ¿ven?<br />
13/14<br />
Following this street, called “Rua Da Praia” we arrive at this imposing building, which at that<br />
time was a luxurious hotel that I still remember, and nowadays is called “Centro Cultural Mario<br />
Quintana”. Actors, singers, people with books go in and out of there. What’s going on inside?<br />
Siguiendo por esta calle, llamada “Rua da Praia” llegamos a este imponente edificio, que ensu<br />
momento fue un hotel del lujo que aún recuerdo, y que ahora se llama “<strong>Casa</strong> de Cultura Mario Quintana”.<br />
De ahí, entran y salen actores, cantantes, gente con libros ¿Qué será lo que ocurre allí dentro?<br />
15/16<br />
Do not think that being an old cloud of an thermoelectric factory; I only spend my time<br />
playing guitar and singing. I used to leaf through books as well. I would like to be a part of this<br />
world. Would you accept an old smoke with aspirations? Hum....<br />
No crean que por ser una vieja nube de usina termoeléctrica sólo me dedico a tocar la guitarra<br />
y cantar. Yo también suelo hojear libros. Me gustaría ser parte de ese mundo. Aceptarían a un<br />
viejo humo con aspiraciones? Hum...<br />
17/18<br />
Let’s keep on travelling, still along the “Rua Do Praia”... A passenger pigeon greets me<br />
from the top of the trees of the “Praça Alfandega”. It is a small but a lovely place. The pigeon<br />
flies around the tower of the “Palacio de Correos”, in search of messages. Certainly, it doesn’t<br />
know that the Mail doesn’t function anymore.<br />
Seguimos viaje, siempre por la “Rua da Praia”... Un palomo mensajero me saluda desde la<br />
copa de los árboles de la “Praça Alfândega”. Es una plaza pequeña pero encantadora.<br />
El palomo merodea la torre del palacio de Correos, en busca de mensajes. Seguramente no<br />
sabe que el Correo ya no funciona allí.<br />
19/20<br />
The “Praça Alfandega” has a very European aspect, but don’t delude yourself. I have already<br />
seen some countrymen drinking “mate” there.<br />
La “Praça Alfândega” tiene un aspecto muy europeo, pero no se engañen. Yo he visto algunos<br />
paisanos tomando mate.<br />
<strong>21</strong>/22<br />
I leave the place, following the sinuous “Rua da Praia” which, at this level has become in<br />
a busy pedestrian street. The pedestrians come and go like madmen, standing on everything<br />
in their hurried life. There is nothing to do with my calm and wise slowness. Sometimes, I try<br />
to attract some amazing girl’s attention, but without any success. I think that she confuses<br />
me with any shadow.<br />
Abandono el lugar, siguiendo a la sinuosa “Rua da Praia”, que a esta altura se ha transformado<br />
en una transitadísima peatonal. Los peatones van y vienen como locos, pisándolo todo y apurando<br />
la vida. Nada tiene que ver con mi tranquila y sabia lentitud. A veces intento llamar la atención de<br />
alguna formidable “garota”, pero sin éxito. Creo que me confundió con una sombra cualquiera.<br />
23/24<br />
I arrive at the “Chalé da Praça XV”, known as the bohemians and intellectuals’ refuge.<br />
From what are they hiding?<br />
Llego al “Chalé da Praça XV”, conocido como refugio de bohemios e intelectuales. ¿De qué<br />
se refugian?<br />
25/26<br />
Where I have great friends is in the “Mercado Público”. The smells that get out by there<br />
are all my old buddies who have known me for ever. Between them, the fish, the pineapple, the<br />
pig ... greet me...what a pleasure it is for me to smell them!<br />
Donde tengo grandes amigos, es en el “Mercado Público”. Los olores que salen allí son todos<br />
viejos compañeros que me conocen desde siempre. Entre otros, me saludan “peixe”, “abacaxi”,<br />
“porco”… que placer me da olerlos!<br />
27/28<br />
Very close from here, the “Prefeitura Velha” rises. Nobody can fail to notice the lions that<br />
decorate the entrance. But be careful! They have an extremely volcanic character. Once, a<br />
specialist of a circus was contacted to teach them good manners. Don’t forget that they are<br />
in a city, gentlemen!<br />
Muy cerca de ahí, se levanta la “Prefeitura Velha”. No puede perderse a los leones que decoran<br />
la entrada. Pero tengan cuidado. Son de temperamento sumamente volcánico. Una vez fue<br />
necesario contratar a un especialista de un circo para enseñarles buenos modales. Deben recordar<br />
que están en una ciudad, señores!<br />
29/30<br />
In front of the “Prefeitura”, stands the “Fonte Talavera”, a gift from the Spanish government.<br />
If you go there every 29th of August after midnight, you will be able to see wonderful<br />
dances of Sirens, Neptunes and Titrones, who offer you fresh water, if you request it with much<br />
respect and good manners.
Frente a la “Prefeitura” se encuentra la “Fonte Talavera”, obsequio del gobierno de España. Si<br />
usted pasa por allí todos los 29 de Agosto después de las 12 de la noche, podrá observar maravillosas<br />
danzas de Sirenas, Neptunos y Tritones, que le ofrecerán agua fresca, si es que usted la<br />
requiere con mucho respeto y buenos modales.<br />
31/32<br />
Now, if the traveller prefers drinking beer instead of water, I recommend him to visit the estate<br />
of the old brewery, the Continental. A real temple of barley, hop and malt. Only for experts.<br />
Ahora, si el viajero prefiere beber cerveza en lugar de agua, les recomiendo visitar el predio<br />
de la antigua cervecería Continental. Un verdadero templo de la cebada, el lúpulo y la malta. Sólo<br />
para expertos.<br />
33/34<br />
Once upon a time, if the traveller preferred drinking beer instead of water, the advisable thing<br />
was to visit the estate of the old brewery, the Continental. It was a real temple of barley, hop and<br />
malt, where the experts, and their friends set a date.<br />
A real pleasure!<br />
En otra época, si el viajero prefería beber cerveza en lugar de agua, lo recomendable era visitar<br />
el predio de la antigua cervecería Continental. Se trataba de un verdadero templo de la cebada,<br />
el lúpulo y la malta donde los expertos, y sus amigas, se daban cita.<br />
Un verdadero placer!<br />
35/36<br />
This is the “Sobrado General Auto”, a perfect place to serenade enamored girls, on every<br />
Thursday from nine p.m. to midnight. Never on Sunday.<br />
Esta es el “Sobrado General Auto”, un lugar ideal para dar serenatas a las chicas enamoradas,<br />
los días jueves, entre las nueve y doce de la noche. Nunca en domingo.<br />
37/38<br />
Here we can see the famous “Ponte de Pedra”. The bridge crossed a canal that nowadays is<br />
a mirror of water. Back then things were different. Fish and countrymen shook hands and looked<br />
at each other face to face. What a nice time it was!<br />
Aquí vemos al famoso “Ponte de Pedra”. El Puente atravesaba un canal que hoy es un espejo<br />
de agua. Eran otros tiempos. Peces y paisanos se daban la mano y se miraban frente a frente.<br />
Qué linda época!<br />
39/40<br />
This is the “Inspetoria da Receita Federal”, where an Atlas makes a tremendous effort, to hold<br />
up the entire world on his back; thing that all of us should understand and support him. Oh, my<br />
God, what a hard job! Of course during nighttime he takes a merited rest. In the morning he has<br />
to return to his position again, with full strength. Now, we know his secret.<br />
Esta es la “Inspetoria da Receita Federal”, donde un Atlas hace un tremendo esfuerzo, que<br />
todos debemos comprender y apoyar, para sostener el mundo sobre sus espaldas. Mi Dios, que<br />
trabajo! Claro que por las noches se toma un merecido descanso. A la mañana debe volver a su<br />
puesto, más reanimado.. Ahora sabemos su secreto.<br />
41/42<br />
On this beautiful balcony decorated with tiles, we can see a batch of old ladies drinking<br />
“mate”, a very common infusion in our place. The sunset is the best moment for these old ladies<br />
to reflect on lifetime and love, while they are drinking the “chimarrão”...What has happened to<br />
their ex fiancés?<br />
Sobre este hermoso balcón decorado con azulejos vemos a un grupo de ancianas tomando<br />
mate, una infusión muy común en nuestra zona. La puesta de sol es el momento ideal para que<br />
estas viejas reflexionen, mientras sorben de la bombilla, acerca de las cosas de la vida y del amor.<br />
¿Qué habrá pasado con sus antiguos novios?<br />
43/44<br />
Here we can see the “Praça Província de Shiga”, a typical Japanese garden (with mirror of<br />
water and everything), where the girls from <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>, of Japanese descent, can make three<br />
wishes. Those who are over twenty-five years are allowed to make up to eight wishes. After the<br />
forties, it is possible to wish anything you want because things are enough complicated.<br />
Aquí vemos la “Praça Província de Shiga”, típico jardín japonés (con espejo de agua y todo)<br />
donde las chicas de <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> de ascendencia japonesa pueden pedir tres deseos. Las mayores<br />
de veinticinco años están autorizadas a pedir hasta ocho. Después de los cuarenta, se pueden<br />
pedir todos los que uno quiera porque la cosa se complica bastante.<br />
45/46<br />
The delta of the Guaíba is the perfect field for beach games. The ladies’ enchantment provokes<br />
the gentlemen’s enthusiasm. And mine as well.<br />
El delta del Guaíba es el ámbito ideal para juegos de playa. El encanto de las damas provoca<br />
el entusiasmo de los caballeros. Y el mío también.<br />
47/48<br />
The “Escadaria Fernando Machado” was built deliberately to develop muscles and health.<br />
Anyone can recognize the inhabitants of <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>, thanks to their incredible legs!<br />
La “Escadaria Fernando Machado” fue hecha con la función expresa de desarrollar los músculos<br />
y la salud. Cualquiera puede reconocer a los habitantes de <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> por sus piernas increíbles!<br />
49/50<br />
Following the same idea, there is the “Parcão”, officially called “Parque Moinhos de Vento”, which<br />
is the favorite place of the young people (and of those who aren’t young anymore) to practice all kinds<br />
of artistic and sportive gymnastics. Some of them exaggerate a little and need to be helped.<br />
Siguiendo con la misma idea está “El Parcão”, oficialmente llamado “Parque Moinhos de Vento”,<br />
que es el lugar preferido por los jóvenes (y los que ya no lo son) para ejercitarse en todo tipo<br />
de gimnasias artísticas y deportivas. Algunos, exageran un poco y deben ser auxiliados.<br />
51/52<br />
In the “Rua Fernando Machado” rises this building, known as the most beautiful of the whole<br />
city. It’s the “Curia Arquidiocesana”, a place where the monks meditate. And even levitate!<br />
En la “Rua Fernando Machado” se levanta este edificio, considerado como el más bonito de<br />
toda la ciudad. Se trata de la ‘Cúria Arquidiocesana”, donde los monjes meditan. ¡Y hasta levitan!<br />
53/54<br />
Here is the great project of the Monorail, an ultramodern train which almost took away from<br />
me my dear younger brother, the smoke of the steam locomotive that I have always crossed in the<br />
sky. Thankfully, the train remained unfinished and we could keep being together for a while. But<br />
he is not here anymore, how much I miss him!<br />
He aquí al gran proyecto del Monoriel, tren ultramoderno que casi me quita a mi querido hermano<br />
menor, el humo de locomotora de vapor, con el que siempre me cruzaba en el cielo. Por suerte<br />
quedó inconcluso y seguimos juntos un tiempo más. Pero ya no está más, como lo extraño!<br />
55/56<br />
That’s a show! You better not miss it! The sun slowly dives in the Guaíba and exactly at quarter<br />
past seven it winks your eye and then disappears. Spectacular! There is no other sunset, equal to<br />
this one, in the world; and believe me, I ‘m not exaggerating!<br />
¡Esto sí que es un espectáculo! ¡No se lo puede perder! El sol se va hundiendo lentamente en<br />
el Guaíba y exactamente a las siete y cuarto nos guiña el ojo y desaparece. Es algo impresionante!<br />
No existe otra puesta de sol igual en el mundo, y créanme que no exagero!<br />
57/58<br />
Well, friends, the trip finishes here. I have to go back to my chimney. Remember, even if you<br />
don’t see me, I will always be there waiting for you, because I am the soul of <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>!<br />
Bueno, amigos, aquí terminó el viaje. Yo vuelvo a mi chimenea. Recuerden que siempre estaré<br />
allí aunque no me vean, esperándolos, porque soy el alma de <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>!<br />
Y no exagero!<br />
59/60<br />
Here are some of the important artists of <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>: Fernando Veríssimo, Rodrigo Rosa, Edgar<br />
Vasques, Gilmar Fraga, Lancast, Fabio Zimbres and Santiago.<br />
Estos son algunos de los importantes artistas de <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>: Fernando Veríssimo, Rodrigo<br />
Rosa, Edgar Vasques, Gilmar Fraga, Lancast, Fabio Zimbres and Santiago.
Série “Cidades Ilustradas”<br />
Rio de Janeiro, JANO<br />
Belo Horizonte, MIGUELANXO PRADO<br />
Curitiba, CESAR LOBO<br />
Salvador, MARCELLO QUINTANILHA<br />
Belém, JEAN-CLAUDE DENIS<br />
Cidades do Ouro, MARCELO LELIS<br />
São Paulo, DAVID LLOYD<br />
Florianópolis, ELOAR GUAZZELLI<br />
<strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>, CARLOS NINE
Este livro foi impresso em maio de 2008<br />
na Ipsis Gráfica e Editora