Maria Ivone Mendes da Silva de Correia Costa As - Repositório ...
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3.1.8. Oitavo Quadro – 1 citação<br />
<strong>As</strong> (re)citações <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s na Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Mário Cláudio 61<br />
O Oitavo Quadro abre com a voz <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>ia que repete o texto <strong>da</strong> carta ao Ministro<br />
<strong>da</strong> Cultura, carta que já fora li<strong>da</strong> no quinto Quadro (p.30), na qual se solicita um subsídio<br />
para a produção <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>ia. A fala <strong>da</strong> personagem rapi<strong>da</strong>mente passa do tom irónico que se<br />
manifesta na observação “E que continua por realizar”(p.43) para um registo diferente<br />
on<strong>de</strong>, <strong>de</strong> novo, se esbatem as fronteiras entre a heroína mítica e a actriz em cena porquanto<br />
as alusões feitas, embora se reportem ao referencial mítico, po<strong>de</strong>m ligar-se, <strong>de</strong> um modo<br />
simbólico, ao passado <strong>da</strong> personagem:<br />
Vêm as criancinhas <strong>da</strong>s escolas pedir-lhe autógrafos em tiras <strong>de</strong> papel, e ela sorri<br />
por <strong>de</strong>trás do rosto <strong>de</strong> nativa <strong>da</strong> Cólqui<strong>da</strong>. Quem diz que não teria sido Me<strong>de</strong>ia<br />
tolhi<strong>da</strong> pelos <strong>de</strong>uses infernais, gente com quem se habituara a partilhar o po<strong>de</strong>r?<br />
Quem garante que não teria sido por isso que a trocou Jasão pela esbelta Glaucis?<br />
Quem nega que haveriam <strong>de</strong> a irritar as correrias dos pequenos que pariu, sempre à<br />
beira <strong>de</strong> a <strong>de</strong>rrubar do trono para on<strong>de</strong> as Parcas a <strong>de</strong>sterraram? (p.44)<br />
Este discurso readquire a toa<strong>da</strong> <strong>de</strong>mencial dos primeiros Quadros. O espectador é<br />
confrontado com a evidência <strong>de</strong> que a personagem nunca ultrapassou a frustração por não<br />
ter consigo levar à cena Me<strong>de</strong>ia nem as traições conjugais. Nesta fala, expressões como<br />
“<strong>de</strong>uses infernais”, “po<strong>de</strong>r”, “trocou”,”irritar”, “<strong>de</strong>rrubar” e “<strong>de</strong>sterraram” recuperam um<br />
ambiente trágico, prenunciador <strong>de</strong> um retrocesso a uma fúria indomável.<br />
Logo <strong>de</strong>pois, recomeça o ruído <strong>da</strong>s panca<strong>da</strong>s do camartelo que se ouvem ca<strong>da</strong> vez<br />
com mais intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Então, surge nova citação do texto <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s:<br />
«Que se passa comigo? Será que ficarão os meus inimigos a rir-se <strong>de</strong> mim? Será<br />
que os irei <strong>de</strong>ixar em liber<strong>da</strong><strong>de</strong>»? (p.44)<br />
Mário Cláudio reproduz a versão <strong>de</strong> Vellacott:<br />
What is the matter with me? Are my enemies / To laugh at me? Am I to let them off<br />
scot free? (vv. 1049-1050, p. 49)