Maria Ivone Mendes da Silva de Correia Costa As - Repositório ...
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<strong>As</strong> (re)citações <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s na Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Mário Cláudio 59<br />
transformou numa obsessão que a afastou <strong>de</strong> qualquer possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar uma<br />
qualquer forma <strong>de</strong> felici<strong>da</strong><strong>de</strong>, termina agora com uma personagem que, aparentemente<br />
serena, segura um dos a<strong>de</strong>reços <strong>de</strong> cena, a peruca <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>ia cujos cabelos penteia,<br />
enquanto reflecte sobre os caminhos e sobre os rostos que Me<strong>de</strong>ia, a <strong>da</strong> mágoa, do <strong>de</strong>speito<br />
e <strong>da</strong> vingança, po<strong>de</strong>rá assumir ao longo dos textos a serem escritos: Inventarão uma<br />
Me<strong>de</strong>ia ven<strong>de</strong>dora <strong>de</strong> fruta, outra casa<strong>da</strong> com um fabricante <strong>de</strong> armamento, uma terceira<br />
toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte à beira do fim. (p. 35)<br />
Este Quadro po<strong>de</strong>rá levar o espectador/leitor a acreditar que a personagem se<br />
resignou à impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> atingir o gran<strong>de</strong> objectivo <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>, aceitando as<br />
sucessivas recusas do Ministério <strong>da</strong> Cultura e supondo mesmo que to<strong>da</strong>s as futuras<br />
aspirantes a serem Me<strong>de</strong>ia em palco encontrarão a mesma sorri<strong>de</strong>nte recusa.<br />
3.1.7. Sétimo Quadro – 1 citação<br />
A di<strong>da</strong>scália informa que se passaram <strong>de</strong>z anos sobre o Quadro anterior, no qual a<br />
personagem parecia ter adquirido alguma calma ou, pelo menos, ter conseguido apaziguar<br />
a ansie<strong>da</strong><strong>de</strong> e a inquietação mostra<strong>da</strong>s até aqui. Rapi<strong>da</strong>mente, se verá que não passou <strong>de</strong><br />
uma quietu<strong>de</strong> passageira. Continua a sua obsessão pela representação <strong>da</strong> peça, enquanto se<br />
ouvem em fundo as panca<strong>da</strong>s do camartelo que continua a <strong>de</strong>molição do teatro.<br />
É certo que a personagem encontrou uma certa forma <strong>de</strong> distanciamento. Fala <strong>de</strong> si<br />
própria e fala <strong>da</strong> personagem cuja obsessão a assolou durante to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> como duas<br />
enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s separa<strong>da</strong>s, reconhecendo a convenção do simbólico quando a utiliza:<br />
Quando Me<strong>de</strong>ia se libertou do sonho, quebrou-se o exílio a que fora con<strong>de</strong>na<strong>da</strong> […]<br />
Con<strong>de</strong>nou-me a isto o meu Creonte engravatado […] Os operários chegam às oito<br />
<strong>da</strong> manhã, <strong>de</strong>satam a estilhaçar as pare<strong>de</strong>s que têm à frente. Desfez-se entretanto a<br />
cabeleira <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>ia. Desistiu-se <strong>da</strong>quele figurino(..). (p. 37)<br />
To<strong>da</strong>via este discurso, que aparenta ser mais tranquilo que o dos quadros anteriores,<br />
continua a enre<strong>da</strong>r-se numa teia <strong>de</strong> recor<strong>da</strong>ções do seu insucesso enquanto actriz e <strong>da</strong> sua<br />
frustração enquanto mulher. Enquanto se contempla no espelho, a personagem diz: