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Maria Ivone Mendes da Silva de Correia Costa As - Repositório ...

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58 <strong>As</strong> (re)citações <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s na Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Mário Cláudio<br />

“Vai Me<strong>de</strong>ia pelo Mundo fora” (p. 33), diz antes <strong>de</strong> afirmar que está<br />

completamente só, esqueci<strong>da</strong> do marido e dos filhos que foi assassinando para lhes roubar<br />

o direito <strong>de</strong> a assassinarem ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> (p. 33). A referência aos filhos já surgira<br />

anteriormente, nos terceiro e quarto Quadros (pp. 23 e 28) e, apesar <strong>da</strong> linguagem<br />

<strong>de</strong>mencial em que essas referências são feitas, torna-se neste Quadro ain<strong>da</strong> mais claro que<br />

os filhos, para além <strong>de</strong> não serem objecto <strong>de</strong> um amor constante e alinhado por um padrão<br />

consi<strong>de</strong>rado normal, constituem, por um lado uma <strong>de</strong>silusão pela fraqueza <strong>de</strong> carácter que<br />

evi<strong>de</strong>nciam, por outro lado, uma <strong>de</strong>silusão por terem feito um percurso <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> que a<br />

<strong>de</strong>sencantou. Este motivo dos filhos, <strong>da</strong>s crianças como elementos que sugam o espaço dos<br />

adultos para centralizarem neles to<strong>da</strong>s as atenções é frequente em Mário Cláudio.<br />

A personagem evoca o passado, passando a fala para a primeira pessoa:<br />

Me<strong>de</strong>ia dilui a paixão na morte, pacifica-se na culpa que os <strong>de</strong>uses a obrigaram a<br />

tragar. E que fiz eu dos filhos? (p. 34)<br />

A resposta e esta pergunta é <strong>da</strong><strong>da</strong> nas linhas seguintes, nas quais a vi<strong>da</strong> dos dois<br />

filhos é resumi<strong>da</strong> com palavras <strong>de</strong> <strong>de</strong>sencanto. A actriz não faz um juízo <strong>de</strong> valor, limita-se<br />

a <strong>da</strong>r como resposta à pergunta feita a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> duas vi<strong>da</strong>s on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>silusão e ausência<br />

<strong>de</strong> qualquer tipo <strong>de</strong> felici<strong>da</strong><strong>de</strong> são evi<strong>de</strong>ntes. Se não foi ela a responsável por aqueles<br />

percursos <strong>de</strong>sencantados <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, na<strong>da</strong> fez para o evitar.<br />

A personagem passa abruptamente <strong>da</strong> referência aos filhos para a afirmação <strong>de</strong> que<br />

teima em <strong>de</strong>corar as linhas do texto euripidiano:<br />

«Ó filhos, filhos! Ten<strong>de</strong>s uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e uma casa. E quando nos separarmos, ficareis<br />

aí para sempre, vós órfãos <strong>de</strong> mãe, eu uma miserável. E terei <strong>de</strong> partir para o exílio<br />

numa outra terra.» (p. 34)<br />

Mário Cláudio partiu novamente <strong>da</strong> versão <strong>de</strong> Vellacott:<br />

O children, Children! You have a city and a home; / And when you parted, there you<br />

both will stay for ever, / you motherless, I miserable. And I must go / To exile in<br />

another land. (vv. 1021-1024, p. 48)<br />

Se este Quadro se iniciara com referências ao passado <strong>da</strong> personagem, à sua relação<br />

com os filhos, à impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> levar à cena a peça a que <strong>de</strong>dicou to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> e que se

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