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Maria Ivone Mendes da Silva de Correia Costa As - Repositório ...

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<strong>As</strong> (re)citações <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s na Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Mário Cláudio 55<br />

<strong>de</strong>veria conter uma fala assim”. É o seu texto, que não restem dúvi<strong>da</strong>s. Não per<strong>de</strong> <strong>de</strong> vista<br />

Eurípi<strong>de</strong>s, não tem qualquer intenção <strong>de</strong> o fazer, mas quer afirmar um distanciamento,<br />

reescrevendo texto sobre texto, fazendo <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>ia a sua Me<strong>de</strong>ia, mu<strong>da</strong><strong>da</strong>s as coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s<br />

geográficas, mantendo os símbolos <strong>de</strong> que se tece o mito, como a caveira <strong>de</strong> carneiro no<br />

cenário <strong>de</strong>purado e uma aglomeração lexical <strong>de</strong> taças <strong>de</strong> veneno, tronos <strong>de</strong>rrubados e<br />

mantas vermelhas teci<strong>da</strong>s pelas mulheres <strong>de</strong> Iolcos. Mário Cláudio recria um ambiente<br />

antigo, perdido na cronologia <strong>da</strong>s eras, on<strong>de</strong> uma princesa <strong>da</strong> Cólqui<strong>da</strong> neta do Sol, uma<br />

princesa repudia<strong>da</strong> em <strong>de</strong>svario enterra o punhal no corpo dos filhos. É um ambiente sobre<br />

o qual dormiram os séculos e foram acor<strong>da</strong>ndo Me<strong>de</strong>ias por on<strong>de</strong> passaram a <strong>de</strong>smesura e<br />

o excesso. E quem contou a velha história acrescentou-lhe uma fala nova. Mário Cláudio<br />

também o faz; outros o hão-<strong>de</strong> fazer também. Me<strong>de</strong>ia é uma figura catalisadora <strong>da</strong><br />

transgressão. Ela o afirma: “Saí <strong>de</strong> casa”. E tudo será diferente a partir do momento em que<br />

a neta do Sol abandona a domestici<strong>da</strong><strong>de</strong> a que se confinara. Tudo será diferente a partir do<br />

momento em que a peça é representa<strong>da</strong> pela primeira vez porque, mantendo os símbolos<br />

estruturantes do mito, ca<strong>da</strong> dramaturgo dirá quais as novas falas que o texto <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>veria conter.<br />

3.1.5. Quinto Quadro – 3 citações<br />

No início do quinto Quadro, a personagem evoca os sucessivos e nunca atendidos<br />

pedidos que a personagem fez ao Ministério <strong>da</strong> Cultura, enquanto se ouvem, em fundo, as<br />

panca<strong>da</strong>s do camartelo a <strong>de</strong>molir o edifício do teatro. A personagem incorpora esse ruído<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>struição na sua fala, associando-o ao bater <strong>de</strong> um coração que é, a um tempo,<br />

<strong>de</strong>struído e <strong>de</strong>struidor e, por extensão, a tudo o que é <strong>de</strong>struição em Me<strong>de</strong>ia, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

repúdio sofrido à morte dos filhos.<br />

A fala repeti<strong>da</strong> pela personagem é retira<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma fala do Coro que, no texto <strong>de</strong><br />

Vellacot, é apresenta<strong>da</strong> <strong>de</strong>ste modo:<br />

O miserable mother, to <strong>de</strong>stroy your own increase / Mur<strong>de</strong>r the babes of your body!<br />

/ Stone and iron you are, as you resolved to be. (vv. 1278-1280, p. 56)

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