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Maria Ivone Mendes da Silva de Correia Costa As - Repositório ...

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52 <strong>As</strong> (re)citações <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s na Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Mário Cláudio<br />

O exercício <strong>de</strong> intertextuali<strong>da</strong><strong>de</strong> feito por Mário Cláudio requer um espectador<br />

próximo do texto original porque só esse tipo <strong>de</strong> espectador po<strong>de</strong>rá, a um tempo, segurar as<br />

ré<strong>de</strong>as <strong>de</strong> dois textos que se movem em ritmos diferentes e reconhecer no traço <strong>da</strong> Me<strong>de</strong>ia,<br />

o traço <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as que foram Me<strong>de</strong>ias e <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as que, num dia em que os <strong>de</strong>uses<br />

<strong>de</strong>spertarem nelas o <strong>de</strong>sespero irracional e irreprimível, hão-<strong>de</strong> pisar o tapete <strong>da</strong> hybris<br />

num passo sem retorno.<br />

O autor necessitava <strong>de</strong> um distanciamento relativamente ao texto original porque<br />

queria que a sua personagem quisesse representar a Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s, mas não a queria<br />

a Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s. Por que razão creio na intencionali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ste afastamento <strong>de</strong> uma<br />

tradução rigorosa do texto <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s? Porque me parece que o autor quis <strong>de</strong>sconstruir a<br />

personagem, fragemtando-a, mas mantendo em ca<strong>da</strong> fragmento a força do original; quis<br />

mostrá-la como se passa<strong>da</strong> <strong>de</strong> voz em voz por to<strong>da</strong>s as actrizes que já a representaram,<br />

como se transmiti<strong>da</strong> <strong>de</strong> tradutor em tradutor, na<strong>da</strong> per<strong>de</strong>sse do mito original, mas se<br />

acrescentassem sobre ela to<strong>da</strong>s as possíveis leituras. O texto <strong>de</strong> Mário Cláudio é como um<br />

palimpsesto, on<strong>de</strong> cama<strong>da</strong>s sobre cama<strong>da</strong>s <strong>de</strong> tinta acrescentam e <strong>de</strong>sven<strong>da</strong>m ao leitor<br />

atento que Me<strong>de</strong>ia é infindável. Nem o <strong>de</strong>speito, nem o rancor, nem o <strong>de</strong>sespero, nem o<br />

excesso ficaram presos na caixa <strong>de</strong> Pandora.<br />

Passemos, então, ao quarto Quadro que, antecipado por este, vai trazer elementos<br />

fulcrais para continuar esta análise.<br />

3.1.4. Quarto Quadro – 1 citação<br />

Este Quadro, segundo a indicação cénica, <strong>de</strong>senrola-se <strong>de</strong>z anos mais tar<strong>de</strong> e abre<br />

com a única citação que nele surge e que é uma repetição <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> citação no primeiro<br />

Quadro:<br />

«Como és doi<strong>da</strong>, Me<strong>de</strong>ia, teimas em te queixar, quando o que os outros preten<strong>de</strong>m é<br />

apenas levar a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> melhor maneira possível, teimas em te queixar, erguendo-te<br />

contra o Rei e contra o teu próprio marido.» (p. 11)<br />

Curiosamente, não é feita pela personagem, o que se ouve é a voz <strong>da</strong> personagem<br />

num gravador que ela liga e <strong>de</strong>sliga. Estamos perante uma outra forma <strong>de</strong> apresentar a

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