Maria Ivone Mendes da Silva de Correia Costa As - Repositório ...
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50 <strong>As</strong> (re)citações <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s na Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Mário Cláudio<br />
transformou a Me<strong>de</strong>ia mítica na Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> quantos <strong>de</strong>la quiseram fazer o<br />
centro <strong>da</strong> sua peça, do seu quadro, do seu filme: o ciúme e o <strong>de</strong>speito.<br />
3.1.3. Terceiro Quadro – 2 citações<br />
<strong>As</strong> citações <strong>de</strong>ste Quadro surgem no contexto <strong>da</strong> relação <strong>da</strong> personagem <strong>da</strong> actriz<br />
com os filhos. Não é uma relação maternal comum. Após a terceira citação do primeiro<br />
Quadro, encontra-se uma primeira referência a crianças:<br />
Meninos! Que meninos? Eles comem com os seus gestos <strong>de</strong> ternura o corpo in<strong>de</strong>feso<br />
dos pais. (Voltando a observar as mãos.) E enquanto nos esquecemos <strong>da</strong>s mãos, e a<br />
velhice as transforma em pássaros moribundos, aumenta o apetite <strong>da</strong>s crianças que<br />
trouxemos ao Mundo. Que meninos? Serpentes <strong>de</strong> cabelos <strong>de</strong> Medusa! (p.12)<br />
A segun<strong>da</strong> fala <strong>da</strong> personagem (p.22), neste terceiro Quadro, é uma retrospectiva <strong>de</strong><br />
um momento <strong>da</strong> infância e <strong>de</strong> uma história repeti<strong>da</strong>mente conta<strong>da</strong> durante a doença do<br />
filho, mas esse momento <strong>de</strong> recor<strong>da</strong>ção é cortado por uma citação do texto <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s<br />
que a actriz utilizaria na brinca<strong>de</strong>ira com o filho:<br />
«Ó Terra, acor<strong>da</strong>! Brilhantes flechas <strong>de</strong> sol, olhai! Reparai na maldita antes que ela<br />
erga a mão assassina, mancha<strong>da</strong> pelo sangue dos filhos!» (p.22).<br />
Em Vellacott po<strong>de</strong> ler-se:<br />
Earth, awake! Bright arrows of the Sun, / Look! Look down on the accursed woman /<br />
Before she lifts up a mur<strong>de</strong>rous hand / To pollute it with her children’s blood. (vv.<br />
1252-1255, p. 55)<br />
De algum modo, po<strong>de</strong>r-se-á pensar que a fala do Coro usa<strong>da</strong> na brinca<strong>de</strong>ira com o<br />
filho é uma estranha forma <strong>de</strong> brincar, to<strong>da</strong>via penso que, mais do que isso, esta citação<br />
mostra como a personagem está imbuí<strong>da</strong> <strong>da</strong> peça, como se na própria relação, e estranha<br />
relação com os filhos, as falas <strong>da</strong> Me<strong>de</strong>ia lhe surgissem a propósito <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as situações e<br />
to<strong>da</strong>s as situações lhe permitissem continuar o seu exercício <strong>de</strong> memorização <strong>de</strong> uma peça<br />
a que se nega o palco.