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Maria Ivone Mendes da Silva de Correia Costa As - Repositório ...

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<strong>As</strong> (re)citações <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s na Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Mário Cláudio 49<br />

A terceira citação avança no texto euripidiano para momento em que o Mensageiro<br />

conta os trágicos eventos <strong>de</strong>correntes <strong>da</strong> entrega dos presentes fatais, o peplos o dia<strong>de</strong>ma,<br />

que causam a morte <strong>de</strong> Glauce. Escreve Mário Cláudio:<br />

«O dia<strong>de</strong>ma <strong>de</strong> oiro que lhe cingia a fronte <strong>de</strong>scarregava um corrente <strong>de</strong> estranho<br />

fogo que a ia <strong>de</strong>vorando- E o tecido <strong>da</strong> belíssima túnica que os teus meninos lhe<br />

tinham oferecido, pobre rapariga, consumia-lhe a carne <strong>de</strong>lica<strong>da</strong>.» (p.20)<br />

A passagem correspon<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Vellacott é:<br />

The gol<strong>de</strong>n coronet round her head discharged a stream/ Of unnatural <strong>de</strong>vouring<br />

fire: while the fine dress/ Your children gave her - poor miserable girl! –the stuff<br />

/was eating her clear flesh.(vv. 1187-1189, pp. 53-54)<br />

Há dois aspectos a sublinhar, aten<strong>de</strong>ndo ao momento em que se insere esta citação<br />

na peça. Em primeiro lugar, a citação ocorre após a personagem referir o amplexo amoroso<br />

em que encontrou o marido e a recor<strong>da</strong>ção, mescla<strong>da</strong> <strong>de</strong> ironia, <strong>da</strong> sua reacção <strong>de</strong><br />

perdão/compreensão “(…) uma actriz perdoa tudo, excepto o sucesso que visita as<br />

colegas” (p.18) e, também, a recor<strong>da</strong>ção outro tempo, um tempo em que ela não tinha<br />

tempo para se <strong>de</strong>itar ao sol como a amante do marido, um tempo em que ain<strong>da</strong> não estava<br />

ain<strong>da</strong> não <strong>de</strong>sgasta<strong>da</strong> pelos sucessivos insucessos profissionais nem:<br />

Nesse tempo não era eu, era uma apaixona<strong>da</strong>, e a paixão gosta <strong>de</strong> sofrer na chama<br />

que a alimenta (…) Que podia eu fazer? (pp.18-19)<br />

O outro aspecto importante a reter na citação referi<strong>da</strong> é o facto <strong>de</strong> a personagem<br />

citar não uma fala <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>ia mas uma fala do Mensageiro 12 . O espectador que não<br />

conheça o texto original não po<strong>de</strong>rá saber a quem pertence aquela fala, pois a personagem<br />

profere-a sem qualquer referência que permita ao espectador menos conhecedor do texto<br />

clássico inferir quem está, na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a falar. A personagem que não <strong>de</strong>siste <strong>de</strong> querer<br />

representar Me<strong>de</strong>ia, torna-se neste momento a Me<strong>de</strong>ia, to<strong>da</strong>s as Me<strong>de</strong>ias já representa<strong>da</strong>s e<br />

<strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as ain<strong>da</strong> possíveis. E torna-se a Me<strong>de</strong>ia, precisamente na sequência do que<br />

12 vv. 1137-1230.

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