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Maria Ivone Mendes da Silva de Correia Costa As - Repositório ...

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<strong>As</strong> (re)citações <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s na Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Mário Cláudio 39<br />

Por saber, também, que a peça <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s foi recria<strong>da</strong> sob as mais diversas formas 3 , o<br />

leitor/espectador encontra-se na expectativa <strong>da</strong> versão ou recriação do drama <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>ia a<br />

que irá assistir. Se não é fácil para o estudioso encontrar caminhos ain<strong>da</strong> não percorridos<br />

na análise do mito e <strong>da</strong>s suas sucessivas representações, mais difícil ain<strong>da</strong> será para um<br />

dramaturgo trabalhar sobre um tema tão revisitado por diversos autores, tão próximo e<br />

compreensível no que diz respeito aos motivos que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iam o pathos <strong>da</strong> heroína,<br />

embora as <strong>de</strong>sajusta<strong>da</strong>s consequências <strong>de</strong>sse sofrimento no comportamento humano<br />

continuem a afigurar-se aterradoras e incompreensíveis. 4<br />

2. O(s) texto(s) <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>ia: a memória <strong>de</strong> um mito<br />

No texto do programa (2007) que acompanhou as representações <strong>da</strong> peça, o autor<br />

escreveu:<br />

Uma actriz arrasta ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> a obsessão <strong>de</strong> representar Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

Eurípe<strong>de</strong>s, e empolga<strong>da</strong> pela ânsia que se torna matéria <strong>de</strong> alma, precipita na morte<br />

dos que a ro<strong>de</strong>iam o seu próprio e irredimível aniquilamento. A mulher que evolui à<br />

nossa vista maniacamente <strong>de</strong>struirá, conforma a heroína que abraça, os filhos que<br />

nela engendrou o amante traidor e até a casa <strong>de</strong> teatro na qual um palco vazio,<br />

corroído pelo interminável tempo <strong>de</strong> um país pequeníssimo, parecia esperar por ela<br />

até acabar por ir sendo lentamente <strong>de</strong>moli<strong>da</strong>.<br />

No Prólogo <strong>da</strong> peça, Me<strong>de</strong>ia resume, praticamente, o argumento <strong>da</strong> peça <strong>de</strong><br />

Eurípi<strong>de</strong>s com a focalização nos pontos fulcrais <strong>da</strong> acção: Me<strong>de</strong>ia apaixona-se por Jasão na<br />

<strong>de</strong>man<strong>da</strong> do velo <strong>de</strong> ouro; vem com ele para Corinto on<strong>de</strong> lhe nascem os filhos; é<br />

3 Para uma análise <strong>da</strong>s diversas versões do mito <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> até ao momento<br />

presente vd. Aurora López e Andrés Pociña (2002).<br />

4 O filicidio não é, infelizmente, um crime ausente <strong>da</strong>s páginas dos jornais contemporâneos. Os<br />

contornos <strong>da</strong>s situações que o po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar são bem diversas, mas nelas cabem motivos <strong>de</strong> ciúme,<br />

<strong>de</strong>sajustamento social, psicopatologias. A peça Gota d’Água <strong>de</strong> Francisco Buarque <strong>de</strong> Holan<strong>da</strong> e Paulo<br />

Pontes, analisa<strong>da</strong> por <strong>Maria</strong> Apareci<strong>da</strong> Ribeiro (1991: 171-195), parte precisamente <strong>de</strong> um filicídio numa<br />

favela do Rio <strong>de</strong> Janeiro. O tema dos pais que matam os filhos para os poupar a um <strong>de</strong>stino que julgam ser<br />

pior também surge como motivo em alguns textos literários como, por exemplo, no romance Beloved <strong>da</strong><br />

Nobel norte-americana, Toni Morrisson (1987).

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