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Maria Ivone Mendes da Silva de Correia Costa As - Repositório ...

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38 <strong>As</strong> (re)citações <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s na Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Mário Cláudio<br />

Lin<strong>da</strong> Hutcheon explica, ain<strong>da</strong>, que “a citação, por outras palavras, embora<br />

fun<strong>da</strong>mentalmente diferente <strong>da</strong> paródia em alguns aspectos, está também estrutural e<br />

pragmaticamente próxima o suficiente para que o que <strong>de</strong> facto aconteça seja que a citação<br />

se torne uma forma <strong>de</strong> paródia, em especial na arte e na e na música mo<strong>de</strong>rnas” (1995: 59).<br />

Catherine Darbo-Peschanski (2004: 9) consi<strong>de</strong>ra que a citação é uma forma <strong>de</strong><br />

discurso no qual o enunciado preten<strong>de</strong> comunicar o que pensa ou diz uma outra pessoa.<br />

Isolar a citação sem compreen<strong>de</strong>r que ela forma com o texto on<strong>de</strong> é inseri<strong>da</strong> uma segun<strong>da</strong><br />

uni<strong>da</strong><strong>de</strong>, é <strong>de</strong>svalorizá-la e torná-la uma simples referência ou menção. Uma visão<br />

semiológica, como a que é apresenta<strong>da</strong> por A. Campagnon (1979: 56-99), encara a citação<br />

como sendo mais do que um conjunto <strong>de</strong> palavras retira<strong>da</strong>s <strong>de</strong> um enunciado e coloca<strong>da</strong>s<br />

num outro, acentuando a relação que se estabelece entre os dois textos o texto <strong>de</strong> on<strong>de</strong> é<br />

extraí<strong>da</strong> a citação e aquele on<strong>de</strong> é coloca<strong>da</strong>. O enunciado citado é um signo que passa <strong>de</strong><br />

um sistema semiótico para um outro, constituindo-se, assim, um novo enunciado na<br />

medi<strong>da</strong> em que este é o resultado <strong>da</strong> ligação entre o sistema <strong>de</strong> parti<strong>da</strong>, o texto original, e o<br />

sistema <strong>de</strong> chega<strong>da</strong>, o texto que recebe.<br />

Na Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Mário Cláudio, a citação manifesta-se como um tipo <strong>de</strong><br />

intertextuali<strong>da</strong><strong>de</strong> explícita e é explora<strong>da</strong> como um eficaz recurso metateatral que não só<br />

actua ao nível <strong>da</strong> macroestrutura <strong>da</strong> peça como possibilita ain<strong>da</strong> que a personagem se vá<br />

construindo ao longo dos quadros que se suce<strong>de</strong>m, <strong>de</strong> um forma auto-reflexiva e crítica.<br />

Enquanto fenómeno intertextual, a citação apropria-se do texto matricial não simplesmente<br />

para o repetir/copiar, mas para o comentar, criticar ou até rejeitar porque ela própria<br />

representa já por si uma forma e reescrita e <strong>de</strong> leitura.<br />

Na peça <strong>de</strong> Mário Cláudio, a citação é explicitamente i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong> no texto<br />

di<strong>da</strong>scálico, on<strong>de</strong> é referi<strong>da</strong> por um termo mais a<strong>de</strong>quado à cena teatral – “recitação” – e<br />

como intertexto cria uma relação dialógica com um texto primacial em que o dramaturgo e<br />

a personagem buscam sentidos.<br />

Mário Cláudio optou por escrever Me<strong>de</strong>ia sob a forma <strong>de</strong> um texto dramático. A<br />

opção por esse género literário começa por ser a primeira ligação ao texto <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s.<br />

Será lícito ao espectador 2 supor que o tema <strong>da</strong> peça a que vai assistir será o do texto grego.<br />

2 Recor<strong>de</strong>-se que esta peça <strong>de</strong> Mário Cláudio conheceu a sua primeira representação a 2 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong><br />

2007, antes <strong>de</strong> o texto ser publicado, em Maio <strong>de</strong> 2008. Esta situação, intencionalmente ou não, apresenta<br />

uma certa analogia com o contexto originário <strong>da</strong> tragédia ática.

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