19.04.2013 Views

Maria Ivone Mendes da Silva de Correia Costa As - Repositório ...

Maria Ivone Mendes da Silva de Correia Costa As - Repositório ...

Maria Ivone Mendes da Silva de Correia Costa As - Repositório ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

34 <strong>As</strong> (re)citações <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s na Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Mário Cláudio<br />

Creio que, por muito pertinente que seja a discussão sobre a inclusão do<br />

comportamento <strong>da</strong> personagem <strong>de</strong>ntro dos parâmetros do código heróico, é importante não<br />

per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista o facto <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>ia se situar sempre, embora isso possa estar invisível<br />

algumas vezes, num plano que está para além do que é humano e explicável e, portanto,<br />

escapar a um enquadramento a<strong>de</strong>quado a heróis humanos, sejam eles masculinos ou<br />

femininos.<br />

Ao retirá-la <strong>de</strong> cena no carro do Sol, Eurípi<strong>de</strong>s não redime a personagem, como<br />

Pucci (1980: 158) afirma, apenas a <strong>de</strong>volve à sua natureza, <strong>de</strong>ixando aos espectadores uma<br />

incompreensão que é, afinal <strong>de</strong> contas, a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a personagem não<br />

como um paradigma mas como um ser no qual se juntaram ocasionalmente, por força do<br />

que não tem explicação, uma physis invulgar e um drama humano, <strong>de</strong>masiado humano.<br />

Reduzir Me<strong>de</strong>ia a uma só explicação ou a uma só visão é abandonar aquilo que, a<br />

meu ver, é o traço fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> figura: a impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se dissociarem os elementos<br />

que a compõem. Me<strong>de</strong>ia é a mulher <strong>de</strong> terrível génio numa situação extrema. Mas não é<br />

apenas isso: é também a estrangeira que se sujeitou a cumprir as regras <strong>de</strong> um nomos<br />

estranho e que não viu reconheci<strong>da</strong> essa sua sujeição. Mas não é apenas isso: é também a<br />

feiticeira <strong>de</strong> sangue divino e <strong>da</strong> estirpe do incompreensível. Querer isolar qualquer dos<br />

componentes, é perdê-la <strong>de</strong>finitivamente.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!