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Maria Ivone Mendes da Silva de Correia Costa As - Repositório ...

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<strong>As</strong> (re)citações <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s na Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Mário Cláudio 31<br />

Certo que, para o Coro, foi amor, perspectivado como uma mania, o que impeliu Me<strong>de</strong>ia<br />

aos crimes do passado, conforme se lê na segun<strong>da</strong> estrofe do primeiro Estásimo:<br />

Tu <strong>da</strong> casa paterna navegaste, / coração tresloucado. (vv. 431-432)<br />

Também Jasão consi<strong>de</strong>ra que foi o amor que motivou Me<strong>de</strong>ia a to<strong>da</strong>s as<br />

terríveis acções que ela agora vem cobrar, quando diz no segundo episódio:<br />

Tu tens o espírito subtil, mas é-te <strong>de</strong>sagradável explicar como Eros te forçou com<br />

armas iniludíveis a salvar a minha pessoa. (vv. 529-530)<br />

Embora existam uma ou outra referência pontual ao amor, será licito inferir que<br />

Eurípi<strong>de</strong>s não confere à afecção erótica a justificação para o terrível <strong>de</strong>sfecho <strong>da</strong> tragédia,<br />

nem tampouco a um ciúme que, embora aflorado no diálogo com Egeu, não tem a força do<br />

sentimento <strong>de</strong> abandono que a personagem experimenta. <strong>As</strong>sim sendo, é necessário colocar<br />

to<strong>da</strong> a ênfase noutros sentimentos referidos na peça, esses sim motivadores <strong>da</strong> tremen<strong>da</strong><br />

vingança perpetra<strong>da</strong> pela heroína. Esse abandono <strong>de</strong> que é vítima é encarado em ao longo<br />

do texto, com excepção <strong>da</strong>s falas <strong>de</strong> Jasão e <strong>de</strong> Creonte, como uma traição, prosdosia,<br />

como diz Me<strong>de</strong>ia várias vezes (vv. 489; 606; 707), ou a Ama (v. 19), ou o Coro (vv. 106;<br />

578). E, ain<strong>da</strong> por cima, segundo a Ama (v.33), o Coro (v. 438) e segundo a própria<br />

Me<strong>de</strong>ia (v. 1354) um <strong>de</strong>sonroso ultraje, uma insuportável atimia. A personagem sente-se<br />

vítima <strong>de</strong> uma adikia, uma injustiça <strong>da</strong> qual nem po<strong>de</strong> recorrer <strong>da</strong><strong>da</strong> a sua situação <strong>de</strong><br />

estrangeira que a impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser sujeito <strong>de</strong> direito. Me<strong>de</strong>ia não tem mais para invocar do<br />

que os juramentos feitos por Jasão, único fun<strong>da</strong>mento que conhece e em que se po<strong>de</strong><br />

sustentar. (vv. 161; 207; 495).<br />

<strong>As</strong>sim confronta<strong>da</strong>, a personagem que já tinha sido caracteriza<strong>da</strong> pela Ama, no<br />

Prólogo, como uma mulher terrível, <strong>de</strong> temperamento violento e cuja natureza é selvagem<br />

e temível, vai experimentar as duas fortíssimas emoções que hão-<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar o<br />

<strong>de</strong>senrolar <strong>da</strong> acção, o cholos e a orge, a cólera e ira, transformando uma figura<br />

<strong>de</strong>cepciona<strong>da</strong> numa figura <strong>de</strong>sespera<strong>da</strong> na qual os sentimentos se transmutam nos seus<br />

contrários e a paixão dá lugar a um ódio <strong>de</strong>strutivo. Como diz Henri Stultzman (1996:<br />

132), Me<strong>de</strong>ia mata pela impulsivi<strong>da</strong><strong>de</strong> do seu carácter e pela vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> impor o seu<br />

domínio sobre os seres e as coisas. Para este autor, o filicídio está ligado a dois

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