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Maria Ivone Mendes da Silva de Correia Costa As - Repositório ...

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30 <strong>As</strong> (re)citações <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s na Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Mário Cláudio<br />

por ela ter nascido na Cólqui<strong>da</strong> mas por ela ser como é. Ela não age em função do seu<br />

genos, age em função <strong>da</strong> sua natureza (physis) 20 .<br />

Esta personali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>nsa e tumultuosa <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>ia não explicará, no entanto, só por<br />

si, as atitu<strong>de</strong>s extremas que assume na peça. É bem ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que Me<strong>de</strong>ia é possuidora <strong>de</strong><br />

um carácter on<strong>de</strong> a força <strong>de</strong>struidora, o impulso <strong>de</strong> thanatos, se exprime com um invulgar<br />

vigor. To<strong>da</strong>via, essa expressão do instinto <strong>de</strong> morte precisa sempre <strong>de</strong> uma circunstância<br />

catalisadora, quer seja a paixão que sente por Jasão que a leva a varrer-lhe <strong>da</strong> frente todos<br />

os obstáculos, sejam eles o próprio irmão ou o velho rei Pélias, quer seja o <strong>de</strong>speito pelo<br />

ultraje sofrido quando Jasão a repudia em nome <strong>de</strong> núpcias mais vantajosas.<br />

Paradoxalmente, parece que é Eros que impele Me<strong>de</strong>ia para Thanatos. Se é certo que,<br />

durante a empresa <strong>da</strong> conquista do velo <strong>de</strong> ouro, o amor <strong>de</strong>senfreado que Me<strong>de</strong>ia<br />

experimenta pelo coman<strong>da</strong>nte dos Argonautas a impelem a cometer crimes que se lhe<br />

afiguram necessários para que o homem amado atinja os objectivos, em Corinto já não é a<br />

força <strong>da</strong> paixão amorosa que a <strong>de</strong>termina. Como bem viu Andrés Pociña (2001: 138), o<br />

amor <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>ia na versão <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s é questionável e colocá-lo como elemento<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ador do comportamento <strong>da</strong> personagem seria até anacrónico, pois o<br />

entendimento <strong>da</strong> emoção amorosa como motivadora <strong>da</strong> acção humana apenas dá os<br />

primeiros passos com este tragediógrafo.<br />

Certo é que, logo no Prólogo, a Ama dá conta do imenso amor que Me<strong>de</strong>ia nutria<br />

por Jasão, amor esse que a impeliu a agir <strong>de</strong> forma tão implacável para tudo o que pu<strong>de</strong>sse<br />

opor-se à glória <strong>de</strong>le. Me<strong>de</strong>ia, quando refere o seu amor por Jasão, situa-o sempre no<br />

passado:<br />

Aquele que era tudo para mim (bem o sei) no pior dos homens<br />

se tornou – o meu esposo. (vv. 28-27)<br />

Mais adiante, no segundo episódio, diz que o amor que sentia por Jasão chegou a<br />

fazer com se sentisse a mais afortuna<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s mulheres. Não volta mais a falar do seu amor<br />

passado, mas sim <strong>de</strong> tudo o que fez em nome <strong>de</strong> Jasão e <strong>da</strong> má recompensa que obteve.<br />

20 M. F. Sousa e <strong>Silva</strong> (2005: 69) afirma que “Me<strong>de</strong>ia figura, na produção do trágico, como mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> um certo tipo <strong>de</strong> mulher e <strong>de</strong> comportamento feminino; e não, como é opinião <strong>de</strong> alguns, na galeria dos<br />

selvagens porque bárbaros”.

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