19.04.2013 Views

Maria Ivone Mendes da Silva de Correia Costa As - Repositório ...

Maria Ivone Mendes da Silva de Correia Costa As - Repositório ...

Maria Ivone Mendes da Silva de Correia Costa As - Repositório ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>As</strong> (re)citações <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s na Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Mário Cláudio 27<br />

A figura <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>ia que surge na peça <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s é o resultado <strong>da</strong> síntese <strong>de</strong><br />

diversas sequências míticas, síntese <strong>da</strong> qual sobressaem características como a ascendência<br />

divina, o temperamento indomado, a impulsivi<strong>da</strong><strong>de</strong>/irracionali<strong>da</strong><strong>de</strong>, o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> vingança.<br />

O estudo <strong>da</strong> personagem não <strong>de</strong>verá <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar estes aspectos como um todo que<br />

não po<strong>de</strong> ser dissociado, uma vez que só um olhar <strong>de</strong> conjunto permitirá compreen<strong>de</strong>r<br />

quem é, e como é, a heroína <strong>da</strong> peça.<br />

Me<strong>de</strong>ia percorre, ao longo <strong>da</strong> peça, um caminho que a leva <strong>da</strong> contingência humana<br />

ao encontro <strong>da</strong> sua não humani<strong>da</strong><strong>de</strong>. A figura apresenta<strong>da</strong> pela Ama no Prólogo, é a <strong>de</strong><br />

uma mulher que, sendo <strong>de</strong> um temperamento tumultuoso e exaltado, sê vê traí<strong>da</strong> nos seus<br />

sentimentos e nos juramentos que lhe foram feitos. A Ama receia, por bem a conhecer, o<br />

rasto <strong>de</strong> vinganças que <strong>da</strong>í po<strong>de</strong> advir (vv. 44-45).<br />

A fala <strong>da</strong> Ama, nesta primeira parte do Prólogo, contribui também para situar o<br />

espectador relativamente aos antece<strong>de</strong>ntes <strong>da</strong> história, nomea<strong>da</strong>mente a paixão insana<br />

(nosos) <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>ia por Jasão, paixão essa que a impeliu a matar o irmão para aju<strong>da</strong>r o<br />

agora marido na <strong>de</strong>man<strong>da</strong> do velo <strong>de</strong> ouro. Ter provocado também a morte <strong>de</strong> Pélias<br />

<strong>de</strong>terminou que viesse exila<strong>da</strong> para Corinto com Jasão, on<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se ter resignado,<br />

com <strong>de</strong>terminação e esforço, a usos e costumes alheios, acaba por se ver repudia<strong>da</strong> e na<br />

iminência do exílio.<br />

A Ama dá conta <strong>de</strong> uma personagem entre o <strong>de</strong>sespero provocado por essa<br />

situação 18 , <strong>de</strong>sespero esse que a leva a abominar a presença dos filhos que teve <strong>de</strong> Jasão (v.<br />

36) e a não sentir qualquer alegria na presença <strong>de</strong>les e o aniquilamento por uma situação<br />

que, aparentemente, parece submergi-la:<br />

Jaz sem comer, o corpo abandonado à dor, consumindo nas lágrimas todo o tempo.<br />

(vv.24-25) 19<br />

18<br />

Segundo a lei instituí<strong>da</strong> por Péricles, vinte anos antes <strong>da</strong> elaboração <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>ia, a mulher<br />

estrangeira perdia, ao divorciar-se do marido grego, o estatuto <strong>de</strong> ci<strong>da</strong>dã ateniense e tornava-se concubina :<br />

“Another of the law´s consequences must have been that Athenians who married foreign women now had to<br />

replace them with Athenian wives if they did not want their future sons and <strong>da</strong>ughters to be bastards. These<br />

divorces would have created a class of newly disfranchised, but still free, foreign-born grass widows, who,<br />

Me<strong>de</strong>a-like, either had to stay in a reduced condition as concubines in their former husbands’households - the<br />

option Jason seems to envision for Me<strong>de</strong>a - or find new partners and legal protectors among the foreigners<br />

who resi<strong>de</strong>d in Athens, or, like Aegeus in Corinth, who were just passing through.” Cf. Michael Collier<br />

(2006: 22).<br />

19<br />

<strong>As</strong> citações <strong>da</strong> Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s seguem a versão portuguesa <strong>de</strong> M.H. <strong>da</strong> Rocha Pereira<br />

(1991).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!