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Maria Ivone Mendes da Silva de Correia Costa As - Repositório ...

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26 <strong>As</strong> (re)citações <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s na Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Mário Cláudio<br />

persuadi<strong>da</strong> <strong>de</strong> que Jasão os protegeria. Os habitantes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> mataram-nas e disseram<br />

que Me<strong>de</strong>ia matara Creonte e os próprios filhos.<br />

Henri Sztulman (1996: 127) utiliza uma feliz expressão ao afirmar que Eurípi<strong>de</strong>s<br />

dispunha <strong>de</strong> uma vasta “paisagem mitológica” quando começou a escrever Me<strong>de</strong>ia,<br />

personagem <strong>da</strong> qual já se ocupara uns vinte e cinco anos antes na tragédia perdi<strong>da</strong> <strong>As</strong><br />

Pelía<strong>de</strong>s. Nela, o autor retomara uma sequência mítica segundo a qual Me<strong>de</strong>ia e Jasão,<br />

vindos <strong>da</strong> Cólqui<strong>da</strong> com o velo <strong>de</strong> ouro, chegam a Iolcos e verificam que Pélias levou Éson<br />

ao suicídio e faltou ao compromisso <strong>de</strong>, em troca do velocino, <strong>de</strong>volver o trono. Me<strong>de</strong>ia<br />

persua<strong>de</strong>, então, as filhas <strong>de</strong> Pélias, sob pretexto <strong>de</strong> o rejuvenescer, a esquartejar o pai e a<br />

cozê-lo num cal<strong>de</strong>irão borbulhante 16 .<br />

O <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>ia após Corinto e a sua i<strong>da</strong> para Atenas on<strong>de</strong> <strong>de</strong>u a Egeu a<br />

prometi<strong>da</strong> <strong>de</strong>scendência eram o tema <strong>de</strong> uma outra tragédia <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s, Egeu, também<br />

perdi<strong>da</strong>.<br />

Duarte Mimoso-Ruiz (1988: 978-987) mostra como do mito <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>ia emanam<br />

cinco mitemas que seguem o percurso <strong>da</strong> heroína antes e após Corinto: a Cólqui<strong>da</strong> e o<br />

auxílio a Jasão na <strong>de</strong>man<strong>da</strong> do velo <strong>de</strong> ouro; o assassínio do irmão Apsirto e a saí<strong>da</strong> através<br />

<strong>da</strong>s Simpléga<strong>de</strong>s; a Tessália e o assassínio <strong>de</strong> Pélias; Corinto e a morte <strong>da</strong>s crianças;<br />

Atenas e a tentativa <strong>de</strong> envenenar Teseu; a Cólqui<strong>da</strong> e o regresso através <strong>da</strong>s Simpléga<strong>de</strong>s.<br />

Estas cinco sequências míticas assentam nos três motivos fulcrais do mito: a ligação à<br />

expedição dos Argonautas, a ascendência divina <strong>da</strong> personagem e a morte <strong>da</strong>s crianças.<br />

3. A Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s<br />

A originali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s residiu no facto <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mentar o filicídio na<br />

infi<strong>de</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Jasão. Terá sido na versão <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s, que viria a influenciar autores<br />

posteriores como Apolónio <strong>de</strong> Ro<strong>de</strong>s (Argonáutica) e Ovídio (Me<strong>de</strong>ia, Herói<strong>de</strong>s e<br />

Metamorfoses) que o mito “cristalizou”, para usar a expressão <strong>de</strong> Burkett 17 , e que se<br />

escreveram, pintaram ou filmaram to<strong>da</strong>s as Me<strong>de</strong>ias posteriores.<br />

16 Esta sequência mítica está representa<strong>da</strong> em Pín<strong>da</strong>ro (P. 4.251) e em Feroci<strong>de</strong>s (FGrHist 3 F 105).<br />

17 Apud M.H. <strong>da</strong> Rocha Pereira (1991: 12).

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