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Maria Ivone Mendes da Silva de Correia Costa As - Repositório ...

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22 <strong>As</strong> (re)citações <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s na Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Mário Cláudio<br />

homónima, ela parecia corporizar o papel <strong>de</strong> uma mulher inexoravelmente oprimi<strong>da</strong> pela<br />

dor <strong>da</strong> traição e do infortúnio.<br />

Penso que o autor esperava que o espectador/leitor <strong>da</strong> sua peça – pelo menos o mais<br />

informado – conhecesse, em linhas gerais, o mito <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>ia, mesmo que nunca tivesse<br />

lido a tragédia <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s, e que facilmente associaria ao nome <strong>da</strong> mítica heroína os<br />

motivos do <strong>de</strong>speito, <strong>da</strong> vingança e <strong>da</strong> morte.<br />

A peça é um longo monólogo que se divi<strong>de</strong> em nove Quadros com Epílogo,<br />

precedidos <strong>de</strong> um Prólogo, no qual a voz <strong>da</strong> personagem resume, em traços muito sucintos,<br />

o argumento <strong>da</strong> peça grega que será o objectivo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> actriz em cena.<br />

Do primeiro ao terceiro Quadro, a personagem contempla, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> olhar para as<br />

mãos, que são os primeiros sinais visíveis do envelhecimento 5 <strong>de</strong> uma mulher, o seu<br />

passado <strong>de</strong> mulher e <strong>de</strong> actriz que foi dominado por três motivos <strong>de</strong> frustração e <strong>de</strong><br />

conflito. Primeiro, o marido, Jasão, confrontou-a com sucessivas infi<strong>de</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s à medi<strong>da</strong><br />

que o fulgor e a beleza <strong>da</strong> juventu<strong>de</strong> a abandonavam; segundo, os filhos, testemunhos <strong>de</strong><br />

uma paixão que terminou, ocupam na sua vi<strong>da</strong> um espaço <strong>de</strong> exigência a que não sabe<br />

como respon<strong>de</strong>r; terceiro, o Ministério <strong>da</strong> Cultura não ce<strong>de</strong> à sua solicitação <strong>de</strong> um<br />

subsídio para a produção <strong>da</strong> Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s. Encontramos, pois, uma personagem<br />

volta<strong>da</strong> para o passado, e tudo o que <strong>de</strong>le po<strong>de</strong> recor<strong>da</strong>r são momentos <strong>de</strong>sagradáveis,<br />

geradores <strong>de</strong> conflito e <strong>de</strong> frustração.<br />

O monólogo <strong>da</strong> personagem dá conta <strong>de</strong> que, no seu pensamento, fluem e refluem<br />

as recor<strong>da</strong>ções <strong>de</strong> um passado <strong>de</strong> mágoas e do texto euripidiano no qual se revê. A função<br />

<strong>da</strong> actriz, que é a <strong>de</strong> memorizar/<strong>de</strong>corar um texto, vai ao encontro <strong>da</strong> rememoração <strong>da</strong> sua<br />

vivência pessoal e familiar pois a actriz revê-se na personagem mítica e é essa<br />

i<strong>de</strong>ntificação que abre caminho ao diálogo entre o texto antigo e o texto mo<strong>de</strong>rno como<br />

uma representação que se actualiza pela ficção que parece ser reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

<strong>As</strong> falas <strong>da</strong> personagem são entrecorta<strong>da</strong>s por várias recitações <strong>da</strong> peça, adiante<br />

observa<strong>da</strong>s em pormenor, que, algumas vezes, propiciam a recor<strong>da</strong>ção pela similitu<strong>de</strong> entre<br />

a vivência <strong>da</strong> heroína grega e o passado <strong>da</strong> personagem em cena; outras vezes, é a<br />

recor<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> um momento passado que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia a citação do texto <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s.<br />

5<br />

No final do terceiro quadro (p. 24) a referência aos netos permite também inferir que a personagem<br />

já tem alguma i<strong>da</strong><strong>de</strong>.

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