19.04.2013 Views

Casa de penhores - Isis Baião - Cia. Atelie das Artes

Casa de penhores - Isis Baião - Cia. Atelie das Artes

Casa de penhores - Isis Baião - Cia. Atelie das Artes

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Deus, só Ele sabe dos meus esforços! Cada um <strong>de</strong> nós tem que apertar um pouco<br />

o cinto em benefício da coletivida<strong>de</strong>, não é mesmo?<br />

DORA - Talvez o senhor tenha razão, mas eu já não tenho o que<br />

apertar...<br />

DADDY - Todos temos. Basta ter boa vonta<strong>de</strong> e otimismo. Por<br />

exemplo, <strong>de</strong>ssa quantia a mais que valeriam os seus pés, você abre mão para que<br />

eu possa ajudar a outro tão necessitado quanto você.<br />

DORA - O senhor parece um padre falando.<br />

DADDY - Um padre à antiga, que os mo<strong>de</strong>rnos são mais discípulos <strong>de</strong><br />

Marx do que <strong>de</strong> Cristo!<br />

DORA - Agora o senhor falou igualzinho à minha mãe.<br />

DADDY - Leve meus respeitos à sua genitora.<br />

DORA - Ela está morta.<br />

DADDY - Que Deus a guar<strong>de</strong>! Vá, amanhã po<strong>de</strong> vir receber o<br />

dinheiro.<br />

DORA - Só amanhã? Mas eu preciso agora, preciso pra ontem...<br />

DADDY - Racionalizamos a burocracia, mas não a erradicamos ainda.<br />

Tenha paciência. (DORA VAI SAINDO) Espere. Nessa mesa aí à sua direita, há<br />

papeletas <strong>de</strong> doação. Preencha uma e assine.<br />

DORA - Doação?<br />

DADDY - Sim, é a maneira <strong>de</strong> dizer. Não se preocupe. Quando você<br />

pagar a dívida, <strong>de</strong>volverei a papeleta. Não confia em mim?<br />

DORA - Que jeito!... Desculpe, confio, não sei...<br />

ASSINA A PAPELETA E SAI.<br />

CENA 10 - PRIMEIRO, CASA DE DORA. DEPOIS, CASA DE DORA E<br />

PREGO, SIMULTANEAMENTE.<br />

JÁ NÃO RESTA QUASE NADA DOS MÓVEIS DA CASA. DORA E<br />

EDUARDO ESTÃO MAIS CANSADOS E ENVELHECIDOS. ELA<br />

TRABALHA. ELE BEBE.<br />

DORA - O material está acabando... Se ao menos eu conseguisse<br />

terminar esta encomenda... É <strong>de</strong> uma empresa particular, po<strong>de</strong> até ser que me<br />

paguem...<br />

EDUARDO - Desiste disso. Neste país, a gente só tem direito a pagar. Já<br />

se nasce <strong>de</strong>vendo. Morre-se <strong>de</strong> fome, <strong>de</strong> medo, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero, <strong>de</strong> cabeça baixa, e<br />

rindo, o riso <strong>das</strong> hienas. Somos um povo atavicamente escravo. Meu Deus, que<br />

povinho <strong>de</strong> merda somos nós!<br />

37

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!