Casa de penhores - Isis Baião - Cia. Atelie das Artes
Casa de penhores - Isis Baião - Cia. Atelie das Artes
Casa de penhores - Isis Baião - Cia. Atelie das Artes
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
DORA COMEÇA A CHORAR.<br />
DORA - Eu não sei o que faça ... Meu marido ficou <strong>de</strong>sempregado...<br />
Já não temos dinheiro nem pra comer...<br />
DADDY - (PATERNAL) Calma, não chore, não posso ver mulher<br />
chorando. Eu entendo. Também tenho sofrido injustiças e até ingratidões! Sou<br />
um trabalhador como você. Um trabalhador que nem sempre recebe remuneção -<br />
ou sequer reconhecimento! - pelo que faz! Vou ajudá-la, custe o que custar.<br />
DORA FUNGA, ENXUGA AS LÁGRIMAS.<br />
DADDY - Você tem umas belas mãos!<br />
DORA - Obrigada.<br />
DADDY - Sou um esteta. A beleza me toca fundo! Gosto <strong>das</strong> suas<br />
mãos!<br />
DORA - Obrigada.<br />
DADDY - Quer empenhá-las?<br />
DORA - Empenhar minhas mãos? ... Mas... mas são os meus<br />
instrumentos <strong>de</strong> trabalho!<br />
DADDY - Não vou cortá-las, nem danificá-las... Não <strong>de</strong>struo o que é<br />
belo. Você só assina um papel, no qual reconhece que suas mãos são minhas, até<br />
que possa saldar a dívida. Não confia em mim?<br />
DORA - Confio, confio... Mas é que pra trabalhar eu tenho<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentir minhas mãos muito presentes, muito minhas... Servem os<br />
pés?<br />
DADDY - Deixe-me vê-los.<br />
DORA TIRA OS SAPATOS E EXIBE OS PÉS.<br />
DADDY - É, são bonitos... não valem tanto quanto as mãos, mas<br />
servem.<br />
DORA - Mas... e o meu marido? Ele não vai gostar <strong>de</strong> ter uma<br />
mulher sem pés...<br />
DADDY - Sem pés? Que idéia! Eu lhe darei um atestado <strong>de</strong><br />
integrida<strong>de</strong> física, incontestável!<br />
DORA - É, se é assim... e quanto o senhor me dá pelos pés?<br />
DADDY - Digamos... bom, consi<strong>de</strong>rando que já somos amigos...<br />
(FALA UMA QUANTIA IRRISÓRIA)<br />
DORA - Só? Isso não dá pra nada!... (VOLTA A CHORAR)<br />
DADDY - Eu sei que é pouco, minha filha. Mas são muitas as pessoas<br />
que precisam <strong>de</strong> ajuda. Minha jornada <strong>de</strong> trabalho tem sido <strong>de</strong> vinte horas. Já tive<br />
um infarto, operei o coração - tenho três safenas! Estou aqui por um milagre <strong>de</strong><br />
36