19.04.2013 Views

Casa de penhores - Isis Baião - Cia. Atelie das Artes

Casa de penhores - Isis Baião - Cia. Atelie das Artes

Casa de penhores - Isis Baião - Cia. Atelie das Artes

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Ih, tio, você tá com um cheirinho meio podre! Vou lhe botar na janela pra pegar<br />

um sol.<br />

MÃE - Cuidado com os urubus no seu tio.<br />

DORA - Velha, você ficou realista <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> morta!<br />

MÃE - Já não tenho ilusões! Cresci.<br />

DORA - É, você esticou mesmo. Os mortos esticam. E per<strong>de</strong>m as<br />

ilusões, é? Per<strong>de</strong>m as emoções também, é? Me responda. Preciso saber. Você<br />

tem emoções? (A MÃE FECHA OS OLHOS) Sacana, já se mandou.<br />

(PENDURA O TIO NA JANELA) Não sei porque, mas pensar em pessoas sem<br />

emoções me dá um frio na espinha... E pensar que são elas que mandam na<br />

gente!... Não, Dora, tira isso da cabeça, você tá pirando. Ih, não, isola!<br />

TOCA O TELEFONE<br />

DORA - Alô... De Brasília? Não, eu não atendo mais pedidos <strong>de</strong><br />

Brasília. Essa cida<strong>de</strong> está cheia <strong>de</strong> caloteiros... Não quero nem saber. Descansem<br />

em paz! (DESLIGA O TELEFONE) Mais um ministério moribundo! Nunca<br />

pensei que existissem tantos ministérios, e moribundos! Não tenho nada com<br />

isso. Há uma semana que como arroz, feijão e batata. Isso é o que me interessa.<br />

(METE UMA BALA NA BOCA) Vida mais maluca!<br />

VAI PRA COZINHA. MEXE NO ARMÁRIO.<br />

DORA - O feijão acabou.<br />

COMEÇA A ESCURECER. ELA VAI À JANELA E RETIRA O TIO. FECHA<br />

A JANELA. ACENDE A LUZ. VOLTA PRA COZINHA. ENTRA EDUARDO.<br />

DORA - (ANSIOSA) E então?<br />

EDUARDO - Nada feito.<br />

DORA - Como, nada feito? Explica.<br />

EDUARDO - Eles não vão pagar.<br />

DORA - Não vão pagar? Mas eles compraram, eles me<br />

encomendaram...<br />

EDUARDO - Tinham que ter feito concorrência pública.<br />

DORA - Eduardo, quer explicar essa porra que eu não estou<br />

enten<strong>de</strong>ndo nada?<br />

EDUARDO - No serviço público, qualquer coisa que se compre tem que<br />

ser através <strong>de</strong> concorrência. Várias firmas apresentam propostas e a que oferecer<br />

menor preço, fornece o produto. É isso.<br />

DORA - E que que a gente tem com isso?<br />

EDUARDO - Nada.<br />

DORA - E você não vai fazer nada? Vai se conformar?<br />

33

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!