Casa de penhores - Isis Baião - Cia. Atelie das Artes
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DORA - Pare de implicar com os meus fregueses. Ai de nós se não fossem eles! São pessoas ótimas! EDUARDO - Mortas! DORA - Não é verdade. Deix'eu te enxugar pra você não se gripar... Tira as cuecas também, meu bem... MÃE - Prostituta! DORA - Até o pau encharcou... e encolheu! OS DOIS RIEM. EDUARDO PROTEGE-SE COM A TOALHA. DORA - Será que ele ainda estica? (BOLINA-O) EDUARDO - Me deixa, mulher, tô cansado. DORA - E ainda fala dos mortos! Quer uma birita pra se reanimar? Que pergunta! ELA TRAZ PRA ELE DOIS DEDOS DE VODCA. EDUARDO - Que miséria! (BEBE DE UM GOLE) Cadê a garrafa? DORA - Tá no finalzinho. EDUARDO - E o meu pijama? DORA - Qualé, Eduardo, tá pensando que sou tua babá? Não abusa, senão perco o bom humor. EDUARDO SAI DE CENA. EDUARDO - (OFF) Não acho o meu pijama. Vai ver que virou flor de defunto! DORA - Se ele ainda tivesse cor!... EDUARDO VOLTA. DE PIJAMA E COM A GARRAFA DE VODCA. DORA - Assim que pintar uma grana, vou comprar um pijama pra você. Ai, estou exausta! Vou ter que contratar alguém pra me ajudar. Todo dia aumenta o número de encomendas. Já tem gente encomendando com três meses de antecedência. EDUARDO - Melhor negócio neste país, só supermercado! DORA - Você não leva a sério o meu trabalho. Por puro preconceito... Acha que estou compactuando com eles (FRISA O "ELES"). E daí? São eles que me dão trabalho e, bem ou mal, estão aí. Os outros, nem existem!... EDUARDO - (SEM TIRAR OS OLHOS DO JORNAL) Eles não deixam! 28
DORA - Estou de saco cheio de blá-blá-blá. Quero viver bem, sem sufoco de dinheiro, sem ficar contando tostões no fim do mês...Você, Eduardo... EDUARDO - Não sou eu que crio os impostos... DORA - Quero comer bem, me vestir bem, ter grana pra ir ao cinema, jantar fora... EDUARDO - ... pra comprar o carro do ano... DORA - É isso mesmo. É melhor do que ter um fusca de porta amarrada com barbante. Quero um carrão, zero quilômetro, a gasolina! Não há nenhum pecado em se viver bem, nem mesmo em ser rico. Duda, nós vamos poder viajar, vamos poder ir aos Estados Unidos, à Europa, à África! Ai, sou louca pra conhecer a África! (ESPERA. EDUARDO NÃO SE ENTUSIASMA. CHEIA DE INTENÇÕES) Duda, nós vamos poder visitar os países da União Soviética! EDUARDO - Acabou. DORA - Os países? EDUARDO - A União. DORA - (RI. AMOROSA) Duda, meu amor, você precisa me ajudar. Preste atenção, só um minutinho. (TIRA O JORNAL DA MÃO DELE) Olha, daqui a pouco eu não vou conseguir mais dar conta desse serviço sozinho. Vou ter que contratar uma, duas, três, sei lá quantas pessoas pra me ajudar na confecção... EDUARDO - Mal começou já tá querendo botar os outros pra trabalhar pra você, é? DORA - Espera, ouve. Não quero explorar ninguém, pelo contrário, vou abrir mercado de trabalho, melhorar a vida de algumas pessoas... EDUARDO - Aprendeu rápido o discurso do patrão! DORA - Há patrões e patrões. Vou pagar muito bem aos meus operários. Eles vão ter até participação nos lucros. Gostou? Agora, presta atenção, pra poder fazer esse negócio direitinho, respeitando todos os direitos do "povo injustiçado", eu preciso da tua ajuda. EDUARDO - Tá me gozando? DORA - Não! EDUARDO - Então corta essa que eu não entendo de coroa de defunto. PEGA O JORNAL. DORA O TOMA NOVAMENTE. DORA - Espera. Não seja preconceituoso, é um negócio como outro qualquer! Mas eu não sei fazer negócio, preciso de alguém que dirija a fábrica. Um homem prático, dinâmico, capaz... EDUARDO - Erro de pessoa. Contrate outro. DORA - (ENÉRGICA) Você pode ser tudo isso, basta querer. Além do mais, a direção de um negócio a gente não entrega a qualquer um. É um 29
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DORA - Estou <strong>de</strong> saco cheio <strong>de</strong> blá-blá-blá. Quero viver bem, sem<br />
sufoco <strong>de</strong> dinheiro, sem ficar contando tostões no fim do mês...Você, Eduardo...<br />
EDUARDO - Não sou eu que crio os impostos...<br />
DORA - Quero comer bem, me vestir bem, ter grana pra ir ao<br />
cinema, jantar fora...<br />
EDUARDO - ... pra comprar o carro do ano...<br />
DORA - É isso mesmo. É melhor do que ter um fusca <strong>de</strong> porta<br />
amarrada com barbante. Quero um carrão, zero quilômetro, a gasolina! Não há<br />
nenhum pecado em se viver bem, nem mesmo em ser rico. Duda, nós vamos<br />
po<strong>de</strong>r viajar, vamos po<strong>de</strong>r ir aos Estados Unidos, à Europa, à África! Ai, sou<br />
louca pra conhecer a África! (ESPERA. EDUARDO NÃO SE ENTUSIASMA.<br />
CHEIA DE INTENÇÕES) Duda, nós vamos po<strong>de</strong>r visitar os países da União<br />
Soviética!<br />
EDUARDO - Acabou.<br />
DORA - Os países?<br />
EDUARDO - A União.<br />
DORA - (RI. AMOROSA) Duda, meu amor, você precisa me<br />
ajudar. Preste atenção, só um minutinho. (TIRA O JORNAL DA MÃO DELE)<br />
Olha, daqui a pouco eu não vou conseguir mais dar conta <strong>de</strong>sse serviço sozinho.<br />
Vou ter que contratar uma, duas, três, sei lá quantas pessoas pra me ajudar na<br />
confecção...<br />
EDUARDO - Mal começou já tá querendo botar os outros pra trabalhar<br />
pra você, é?<br />
DORA - Espera, ouve. Não quero explorar ninguém, pelo contrário,<br />
vou abrir mercado <strong>de</strong> trabalho, melhorar a vida <strong>de</strong> algumas pessoas...<br />
EDUARDO - Apren<strong>de</strong>u rápido o discurso do patrão!<br />
DORA - Há patrões e patrões. Vou pagar muito bem aos meus<br />
operários. Eles vão ter até participação nos lucros. Gostou? Agora, presta<br />
atenção, pra po<strong>de</strong>r fazer esse negócio direitinho, respeitando todos os direitos do<br />
"povo injustiçado", eu preciso da tua ajuda.<br />
EDUARDO - Tá me gozando?<br />
DORA - Não!<br />
EDUARDO - Então corta essa que eu não entendo <strong>de</strong> coroa <strong>de</strong> <strong>de</strong>funto.<br />
PEGA O JORNAL. DORA O TOMA NOVAMENTE.<br />
DORA - Espera. Não seja preconceituoso, é um negócio como outro<br />
qualquer! Mas eu não sei fazer negócio, preciso <strong>de</strong> alguém que dirija a fábrica.<br />
Um homem prático, dinâmico, capaz...<br />
EDUARDO - Erro <strong>de</strong> pessoa. Contrate outro.<br />
DORA - (ENÉRGICA) Você po<strong>de</strong> ser tudo isso, basta querer. Além<br />
do mais, a direção <strong>de</strong> um negócio a gente não entrega a qualquer um. É um<br />
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