19.04.2013 Views

If I Have a Wicked Stepmother, Where's My Prince - CloudMe

If I Have a Wicked Stepmother, Where's My Prince - CloudMe

If I Have a Wicked Stepmother, Where's My Prince - CloudMe

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>If</strong> I have a <strong>Wicked</strong><br />

<strong>Stepmother</strong>, Where’s <strong>My</strong><br />

Price?<br />

Melissa Kantor<br />

Créditos<br />

Comunidade Traduções de Livros<br />

[http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=25399156]<br />

Tradutor:Letícia<br />

[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=3049810646327686758]<br />

Tradutor:Juliana<br />

[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=2713339427589710285]<br />

Tradutor:Carol<br />

[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=8767032667957141107]<br />

Tradutor:Marina<br />

[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=5864430758438116047]<br />

Tradutor:Julya<br />

[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=16776834213471241757]<br />

Tradutor:Bela<br />

[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=2589355548699632123]<br />

Tradutor:Rafa<br />

[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=2821954478852063405]<br />

Revisora: Si Costa<br />

[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=16940845770447372255]


Capítulo 1<br />

Cinderela<br />

√ Mãe Morta<br />

√ Madrasta Má<br />

√ Irmãs Adotivas Diabólicas (2)<br />

√ Sem Amizades<br />

Eu<br />

√ Mãe Morta<br />

√ Madrasta Má<br />

√ Irmãs Adotivas Diabólicas (2)<br />

√ Sem Amizades<br />

Eu mordi a minha caneta, na dúvida se Cinderela tinha ou não amigos. Quero dizer, ela tinha<br />

todos aqueles animais falantes ajudando ela quando ela entrava em apuros. Mas eles contavam<br />

como amigos? Não é como se você pudesse encontrar uma sábia azul depois da escola no<br />

Starbucks para tomar um café latte. Enquanto eu tentava categorizar a pequena fauna de<br />

animais falantes da Cinderela, meus olhos acidentalmente desviaram-se para Jéssica Johnson, a<br />

menina que se senta do outro lado da classe. Quando meus olhos fizeram contato, sua<br />

expressão não mudou – era como se eu não estivesse ali.<br />

Eu risquei Sem Amizades da coluna da Cinderela e escrevi embaixo<br />

Cinderela<br />

√ Pai Morto<br />

Eu<br />

√ Pai Vivo<br />

Mais uma vez, eu não estava certa se essa era uma precisa descrição de nossas situações. Digo,<br />

tecnicamente, meu pai está vivo. Mais do que tecnicamente - não é como se ele estivesse em<br />

coma ou algo assim. Mas considerando que eu estou atualmente morando com sua nova esposa<br />

e minhas irmãs adotivas em Long Island enquanto ele fica de segunda à sexta em São Francisco<br />

trabalhando no grande caso que ele supostamente deveria ter terminado antes da gente se mudar<br />

para Nova York em Agosto, sete meses antes, ele estar vivo não significa grandes coisas.<br />

Eu voltei para minha lista e coloquei uma anotação ao lado de ‗vivo‘.<br />

―...então você não pode subtrair aqui enquanto não tiver dividido aqui.‖ Sr. Palmer escreveu no<br />

quadro, desenhando uma nuvenzinha de giz. Então ele virou para a janela. ―Senhor Marcus,‖<br />

ele cuspiu. ―Você pode me dizer por que isso acontece?‖<br />

A cabeça de John Marcus levantou e ele olhou para a sala em pânico. A revista sobre skates<br />

escorregou de seu livro de matemática e bateu no chão.<br />

Eu mal ouvi o sermão que o Sr. Palmer deu no John, segregando saliva pelo canto da boca. Eu<br />

não era a única não impressionada com o acesso de raiva do Mr. Palmer (seu terceiro do dia);<br />

até mesmo John manteve seus olhos em sua revista, escorregando ela para baixo da sua carteira


com a ponta do dedão. E como sempre, antes mesmo da sirene ter tocado, ignorando o fato de<br />

que Sr. Palmer continuava falando, pessoas começaram a jogar as coisas para suas mochilas.<br />

―Eu acho que vocês vão querer ouvir isso, já que ira cair no teste surpresa de quinta-feira‖<br />

Ninguém prestou atenção nele. Sr Palmer está sempre inventado testes supressas e nunca<br />

passando eles. Todo primeiro semestre eu passei minhas noites me preparando para um teste<br />

que nunca veio. Agora eu só ignoro suas ameaças como todos os outros.<br />

Do lado de fora, no corredor, Madison Lawler, melhor amiga de Jéssica Johnson, abraçou<br />

Jéssica entusiasmaticamente, como se as dificuldades da matemática fosse tão grandes que elas<br />

não podiam suportar. Talvez eu seja paranóica, mas quando eu passei por elas pareceu que a<br />

verdadeira razão pela reunião diária delas era pra me lembrar do quão excluída eu era.<br />

Para a lista, vamos só reconhecer que a mudança não fez maravilhas para minha vida social.<br />

Dizer que não encontrei uma alma gêmea dentro da população de Glen Lake seria um erro. Eu<br />

nem mesmo descobrir um colega pra fazer dever-de-casa. E a ironia da minha atual situação é<br />

que eu só entrei nisso um ano atrás. Quando eu estava na oitava série, quando meu pai ficou<br />

totalmente obcecado como o meu currículo no ensino fundamental não era rico o suficiente ou<br />

tanto faz, e ele decidiu que eu não ia ficar na Academia Wellington para cursar o ensino médio,<br />

se não eu seria uma vazia, inexistente e insignificante existência (mais ou menos o que eu sou<br />

agora). Então eu tive que dar uma beijo de despedida na Escola Bayview Middle, deixa todos<br />

os meus amigos, e ir estudar em Wellington, onde eu não conhecia ninguém. Então, quando eu<br />

estou finalmente me estabilizando e parando de me esconder nos corredores como uma<br />

assassina, praticamente no mesmo momento que o meu telefone começou a receber ligações de<br />

pessoas que não queriam que eu batesse o meu recorde de distância, meu pai anunciou que<br />

estava se casando com a Bruxa Má do Norte, nós estávamos nos mudando para Nova York, e<br />

eu estaria começando meu segundo ano na Glen Lake High nesse outono.<br />

Você sabe com quem as pessoas não conversam quando elas invadem seu território fora do<br />

tempo?<br />

A garota novata.<br />

Eu fiz meu caminho para meu armário e então para o refeitório. Desde janeiro, quando eu<br />

comecei a ter aulas de arte, eu estava me acostumando a comer meu almoço na sala de artes,<br />

evitando terrivelmente a humilhação de comer sozinha em uma mesa do refeitório que poderia<br />

facilmente acomodar vinte. Mas Sra. Daniels, minha professora de artes, estava fazendo<br />

reuniões privadas por todo o estúdio durante todo o almoço, então eu não tinha nenhum local<br />

para onde escapar. Eu comprei um sanduíche e fiz meu caminho para onde parecia uma isolada,<br />

indesejada mesa no canto do lotado refeitório.<br />

Eu descobri que eu estava errada sobre a mesa indesejada, assim como eu estava errada sobre<br />

várias outras coisas em Glen Lake High. Minutos depois de sentar em um canto, um barulhento<br />

grupo de sêniors veio e sentou na outra ponta, balançando suas chaves-de-carro e tirando<br />

batatas-fritas de suas sacolas pra viagem do Mc‘Donalds.<br />

No centro do grupo sentou Connor Pearson, rindo e conversando com seus fieis companheiros.<br />

A estrela do time de basquete e presidente do Conselho Estudantil, Connor também foi votado<br />

―Mais Bonito‖ pela classe dos sêniors. No outono, para arrecadar dinheiro, as animadoras de<br />

torcida rifaram um beijo de Connor Pearson e duzentas garotas compraram rifas (pode ser cento<br />

e noventa e nove rifas mais a sua). Mas tristemente para mim e para todo o resto da população<br />

de Glen Lake, Connor só tinha olhos para Kathryn Ford: Rainha das Volta às Aulas, que, como<br />

todas as boas rainhas, estava atualmente sentada à direita de seu Rei.


Algumas pessoas me fazem sentir estranhamente mais alta e mais ruiva do que eu atualmente<br />

sou, e Kathryn Ford é uma dessas pessoas. Tudo que se refere a ela é pequeno e pálido e<br />

perfeito. Eu às vezes acho que ela foi criada de um kit. Também, ela age como se ignorar<br />

meninos de classes inferiores fosse um esporte.<br />

Basicamente, você não pode não a odiar.<br />

Mesmo assim, eu não sou louca o suficiente para achar que Kathryn Ford é a culpa para Connor<br />

não saber que eu exista. Ou que ela me pôs na lista negra, e é por isso que eu não fiz nenhum<br />

amigo na comunidade da Glen Lake. Eu sei que eu só tenho a mim mesma para culpar. Eu<br />

observo as pessoas nas minhas aulas antes do sinal tocar, e eu sei que tudo que eu tenho que<br />

fazer se eu quiser conversar com eles é conversar Só dizer alguma coisa. Qualquer coisa. E não<br />

é como se eu não quero falar com algum deles. Não é culpa deles que eu fui arrastada enquanto<br />

gritava e chutava feito uma mimada pelo Estados Unidos.<br />

Se supunha-se que aqui deveria estar meu príncipe charmoso, não há nenhum príncipe. Se<br />

mudar para Nova York para terminar os meus três anos de ensino médio parece ter causado<br />

alguma reação mutante em algum gene de fazer amigos que eu nem sabia que eu tinha. Agora,<br />

ao invés de falar com pessoas como eu normalmente faria, eu só sento em silêncio, como se eu<br />

tivesse vendo eles nadando e pulando de um trampolim cada vez mais alto enquanto espero eles<br />

começarem a pular do começo.<br />

E eles nunca começam.<br />

Aquela noite no jantar, enquanto eu estava sentada pensando nas minhas coisas e tentando<br />

decidir se eu deveria tirar meu pai do seu sonho que os Rockets iam perder por 10 pontos, uma<br />

das minhas irmãs adotivas de 12 anos olhou para mim e pressionou seus lábios, como se ela<br />

tivesse comido algo e não gostado do sabor. Eu deveria ter pegado o olhar dela como um aviso,<br />

mas eu estava muito ocupada calculando os pontos do jogo. E é por isso que um minuto depois,<br />

quando ela foi discursar para mim, eu fui pega fora de guarda.<br />

―Você deveria usar um sutiã de bojo, Lucy.‖ Disse <strong>Prince</strong>sa Um, ainda olhando para mim.<br />

―Seus peitos são realmente pequenos.‖<br />

Infelizmente, ela não tinha discutido esse assunto com sua irmã, que estava tão ansiosa para<br />

contrariar o conselho, ela mal mexeu no seu hambúrguer vegetariano ―É muito tarde para isso<br />

agora‖ disse <strong>Prince</strong>ssa Dois ―Ela deveria ter começado a usar em setembro.‖<br />

―Isso é uma boa questão.‖ Concordou <strong>Prince</strong>ssa Um.<br />

Nenhuma das minhas irmãs adotivas parecia incomodada com o fato de que comparada a elas,<br />

eu sou Pamela Anderson.<br />

―Na verdade,‖ eu disse, ―você se lembra de como semana passada você disse que eu deveria<br />

fazer luzes loiras por causa de como meu cabelo é vermelho?‖<br />

As <strong>Prince</strong>ssas concordaram ansiosamente.<br />

―Bem, eu estava pensando em tingir os meus peitos de loiro e conseguir um sutiã de bojo com<br />

uma caveira.‖<br />

―Ha ha, Lucy‖ disse <strong>Prince</strong>ssa Um. ―Nova notícia: talvez se você levasse esse tipo de coisa um


pouco mais a sério, você seria convidada para a festa de boas-vindas.‖<br />

―Nova notícia:― Eu a imitei ―Nem o objetivo de vida de todo mundo é ter a palavra PUTA<br />

tattoada na bunda.<br />

―Lucy,‖ Mara disse, saindo do coma que ela entra toda vez que as filhas dela estão me<br />

criticando, ―por favor não use esse palavreado na mesa.‖<br />

Depois do jantar eu desci para o meu ―quarto‖, conhecido na maioria das casas como ―o<br />

sótão.‖.<br />

Pelos primeiros meses depois de eu e meu pai nos mudarmos para a casa da minha madrasta, eu<br />

estava um pouco animada com um fato de que eu morava num calabouço sem mobília onde<br />

minha cama é um colchão de ar; e minhas roupas – que estavam inicialmente numa caixa de<br />

papelão escrito ―roupas‖ – foram lentamente terminando em pilhas por todo o piso, assim que a<br />

primeira, e depois outra, e depois ainda outra das ―gavetas‖ ter caído.<br />

Toda vez que eu tinha coragem de reclamar, e chamar a atenção para o fato de que a única<br />

razão de eu não ter trago toda a minha mobília de São Francisco era por causa de toda a nova e<br />

linda mobília que Mara estava ―tão animada‖ em comprar, eu fui lembrada pela minha<br />

madrasta, a decoradora de interiores amadora, que achar a ―peça perfeita‖ leva tempo. Nações<br />

caíram e levantaram-se, revoluções vieram e foram-se, casais de celebridades tinham se casado<br />

e se separado, e a cabeceira de cama perfeita ainda ilude minha madrasta.<br />

A única coisa legal de estar aqui embaixo é que eu pendurei pôsteres dos meus dois quadros<br />

preferidos; exceto por eles as paredes são completamente nuas, então é como se eu estivesse em<br />

um museu – você sabe, vasto espaço vazio, com espetaculares trabalhos de arte. Deitada em<br />

minha ―cama‖ eu posso ficar olhando para a parede a minha frente onde The Dancer de Matisse<br />

está penduro, ou olhar para o teto, onde eu colei um enorme pôster do Autum Rhythm (Number<br />

30)<br />

Minha mãe foi realmente uma ótima artista. Suas pinturas estão penduradas em museus por<br />

toda Europa, e MOMA e Metropolitan Museum of Art têm uma, cada. As paredes de nossa<br />

casa em São Francisco eram cobertas com seu trabalho, nós colocamos todas elas no armazém.<br />

Meu pai diz que pode machucar os sentimentos de Mara se a gente perguntar se podemos<br />

pendurar as pinturas de mamãe aqui. Esse é o grande assunto na minha vida agora – Os<br />

Sentimentos de Mara. Basicamente, eles estão sempre sendo feridos ou em perigo de serem<br />

feridos.<br />

O que significa que eu estou sempre em problemas ou em perigo de estar em problema.<br />

Antes de eu dormir, eu folheei um livro das reproduções de Cezane que eu peguei na biblioteca.<br />

Mas mesmo olhando nas suas perfeitas pêras, cada uma perfeitamente esculpida, e não<br />

conseguia tirar a minha mente da lista que eu estava fazendo na aula de matemática, a prova de<br />

que algo tinha algo muito, muito errado com a minha vida.<br />

Porque se eu tenho uma madrasta má e duas irmãs adotivas diabólicas, eu não deveria ter um<br />

Príncipe?


Capítulo 2<br />

Uma vez há um tempo atrás eu até tentei fazer um amigo na Glen Lake.<br />

Isso foi em janeiro, no começo do segundo semestre, quando eu estava tolamente convencida<br />

que minha vida ia mudar. Eu me inscrevi para a aula de artes, e do primeiro dia eu podia te<br />

dizer que ia ser ótima. Diferente do resto dos professores da Glen Lake, Sra. Daniels, a<br />

professora de artes, A) Realmente conhece a área dela, B) não é surda, burra, cega e/ou<br />

clinicamente insana, e C) não se veste como se estivéssemos debaixo do Presidente<br />

Washington. Além disso, ela não tem medo de manda tarefas sérias (natureza morta, nudez) e<br />

de dar nota para eles severamente.<br />

As outras crianças na aula não são especialmente talentosas, exceto por um, Sam Wolff, um<br />

junior que é sem dúvida o melhor artista na escola inteira. Suas pinturas estão penduradas por<br />

todo prédio, e quando Sra. Daniels fez a chamada na primeira aula e eu percebi que ele era o<br />

cara que na qual as pinturas eu estava admirando por todo primeiro semestre. Eu estava<br />

completamente admirada. Finalmente alguém com que eu pudesse conversar sobre algo que eu<br />

amava.<br />

Na segunda semana de aula, quando eu cheguei ao studio mais cedo e encontrei ele sozinho,<br />

sentado e rascunhando na velha poltrona no canto, eu percebi, Agora é minha chance. Eu tentei<br />

começar um conversa, falando de como eu gostava de um desenho de natureza morta que<br />

estava em exposição no lobby. É uma pintura de uma dessas pequenas mesas verdes que eles<br />

têm no Starbcucks, e em cima da mesa tem uma xícara de café, um guardanapo amarrotado,<br />

algum troco, e um sonho meio mordido. Mesmo ele brincando com proporções e perspectiva,<br />

de alguma maneira tudo parecia incrivelmente real. Você pode sentir os grãos de açúcar<br />

espalhados pela superfície da mesa e a pegajosa camada de açúcar sobre o sonho.<br />

Eu disse a Sam que eu achava a pintura muito legal e passei um bom tempo olhando para ela.<br />

Eu disse a ele como parecia que você só podia dar uma mordida no sonho. Pelos primeiro sete<br />

oitavos do meu monólogo, ele só deu uma olhada para mim, sem dizer nada. Então, depois de<br />

eu continuar falando e falando por, tipo, duas horas, ele colocou seus óculos (ele usa esses<br />

óculos com armação preta e grossa), parou de olhar, e disse, ―Obrigado‖, mas ele não disse isso<br />

como Obrigado, é muito legal da sua parte tirar um tempo da sua ocupada agenda para<br />

apreciar a arte que eu me esforcei tanto para elaborar. Só saber que meu trabalho é apreciado<br />

é toda a gratidão que eu preciso nesse mundo muito, muito cruel.<br />

Ao invés disso ele disse isso como Você poderia voltar para qualquer buraco da qual você<br />

saiu e parar de me incomodar?<br />

Sem necessidade de comentar que parei de insistir em fazer amizades com qualquer pessoa da<br />

comunidade artística de Glen Lake.<br />

Na quarta-feira, eu passei toda a aula de artes terminando um desenho em carvão de um copo<br />

água, um limão e um caderno em uma prateleira perto de uma janela. Quando o sinal tocou eu<br />

me encaminhei para minha gaveta para guardar as minhas coisas, e Sra. Daniels fez um gesto<br />

para eu ir até o local onde ela estava selecionando a maior parte do tubos de tinta velho de um<br />

armário e atirando eles no lixo. Ela abriu um tubo, testou a tinta nas costas da mão dela, e então<br />

colocou isso de volta na prateleira antes de pegar meu desenho da minha mão.


―Isso parece bom, Lucy.‖ Ela disse, traçando seu dedo pela beirada da página. ―Eu amo o jeito<br />

que as cortinas são transparentes.‖<br />

―Obrigado,‖ eu disse. Eu estava realmente orgulhosa das minhas cortinas, eu desenhei só um<br />

risco nos cantos e umas linhas para indicar pregas, eu queria que o tecido parecesse material,<br />

mas sem peso.<br />

Ela me devolveu o rascunho e cruzou as mãos em frente a seu queixo, tapeando seus dedos<br />

contra seus lábios. ―Lucy, você conhece Francesco Clemente?‖<br />

Sra. Daniels e eu conversamos sobre um monte de artista que nós gostamos, mas eu nunca ouvi<br />

sobre Clemente. Eu estava tentada em fingir que sabia quem ele era então eu não a<br />

desapontaria, mas no último segundo eu mudei de idéia. Digo, e se ele nem fosse um artista? E<br />

se ele fosse o Primeiro Ministro Espanhol ou algo assim?<br />

Eu balancei minha cabeça com um sinal de negação ―Quem ele é?‖<br />

Ela prendeu todo o seu longo cabelo em um coque na altura do pescoço. ―Ele é um artista aqui<br />

em Nova York,‖ ela disse. ―As coisas dele são extraordinárias. Elas me lembram do trabalho<br />

mais antigo de Picasso. Todo aquele talento e alegria.‖ Ela deslizou um lápis pelo coque para<br />

mantê-lo no lugar. ―Ele está com uma retrospectiva no Guggenheim. Você deveria dar uma<br />

olhada.‖<br />

Eu me perguntei se ela falou para todo mundo sobre a exposição ou só para mim. Desde janeiro<br />

eu queria que a Sra. Daniels pensasse que o meu trabalho era de alguma maneira especial. Era<br />

esse o sinal que eu estava esperando? Sem mesmo a minha consciência de que eu estava<br />

fazendo isso, eu senti os cantos dos meus lábios levantarem, algo que não acontecia a um<br />

longo, bom tempo. Era um tipo de milagre que os meus músculos não tivessem atrofiado.<br />

Pensando alto, eu disse ―Talvez eu vá.‖ Eu poderia perguntar ao meu pai se ele queria ir,<br />

também. É claro que isso significava que ele não podia ir esse sábado. Esse sábado tinha sido<br />

reservado por Mara para passar em busca de seu Santo Graal pessoal: a cristaleira no estilo<br />

vitoriano que sem isso o hall de entrada parecia, e eu dei ênfase nisso, ―como se ninguém<br />

amasse ele.‖<br />

―As pinturas de Clemente são simplesmente vibrantes.‖ Sra. Daniels disse. ―E eu acho que você<br />

vai achar isso particularmente interessante por causa da direção que sua arte está levando.‖<br />

Minha arte está levando um direção?<br />

―Soa incrível‖ eu disse, fazendo a decisão de ir lá imediatamente. ―Eu não vou perder isso.<br />

Obrigada.‖<br />

Eu pensei que o elogio da Sra. Daniels ia me carregar pela semana, mas não tão cedo quando eu<br />

abri a porta do refeitório e o calafrio da exclusão social penetrou a calorosa sensação que eu<br />

tinha conseguido com a minha conversa com ela. Eu comprei um sanduíche de peito de peru e<br />

puxei uma cadeira numa mesa vazia onde alguém tinha deixado a sessão de esportes do dia. Ler<br />

sobre basquete deve ter me animado se não tivesse um artigo na primeira página sobre como os<br />

Chicago tinha a partida garantida contra os Lakers hoje à noite. Meu pai cresceu em L.A, e eu<br />

nasci lá. Então mesmo que eu tenha passado a maior parte da minha vida em São Francisco, eu<br />

sou uma grande fã dos Lakers. Como se o artigo obscuro não fosse ruim o bastante, quem<br />

decidiu sentar bem em frente à mesa vazia comigo senão Jéssica e Madison.<br />

―Ok, posso te mostrar o ursinho?‖ Madison perguntou. ―Porque você vai morrer!‖ Eu olhei


para elas. O cabelo de Madison estava sutilmente preso em um rabo-de-cavalo, e seus lábios<br />

era de uma cor ameixa que eu sabia que até minhas irmãs adotivas iriam aprovar.<br />

Jéssica terminou de arrancar a tampa do seu yogurt e olhou para Madison. ―Me dá,‖ ela disse,<br />

levantando a sua mão e balançando seus dedos.<br />

Madison parecia como se ela fosse explodir de alegria enquanto ela passava o ursinho para<br />

Jéssica ―Você tem que apertar ele,‖ Madison explicou.<br />

Jéssica apertou o ursinho, que anunciou ―Eu amo você.‖<br />

Madison deu um pequeno gritinho de alegria, como se ela estivesse esperando a eternidade por<br />

tal confissão desse ursinho em particular. ―Eu sei que é completamente idiota,‖ ela disse. ―Mas<br />

é tão fofo.‖<br />

―Vocês dois são nauseantes,‖ Jéssica disse, mas ela disse isso de um jeito legal, como se ela<br />

não se importasse em ter uma amiga que era parte de um casal nauseante.<br />

―Obrigado,‖ Madison disse. ―Eu estava dizendo a ele que desde que é nosso aniversário de três<br />

meses, ele deveria-― De repente ela apontou pelo refeitório, ―Hey!‖ ela gritou. Então ela<br />

começou a balançar seus braços. Eu olhei na direção que ela estava acenando e vi Matt e Dave,<br />

os namorados de Madison e Jéssica, andando em direção a mesa que nós estávamos sentadas.<br />

Com eles estava Connor Pearson.<br />

Eu o encarei enquanto ele cruzava o refeitório. Era como se meus olhos estivessem agindo por<br />

conta própria; eles não podiam não admirar as longas pernas e os ombros largos de Connor, sua<br />

caminhada graciosa e atlética. E quem podia culpar eles? Se o David de Michelangelo saísse da<br />

L‘Academia usando um uniforme do time de basquete da Glen Lake High School, você ia olhar<br />

também.<br />

Quando os garotos chegaram à mesa, Madison se levantou e deu um beijo de tirar o fôlego.<br />

Como se tivessem sido inspirados pela paixão de seus colegas, Jéssica e Dave começaram a se<br />

pegar com igual, e incrível, desejo.<br />

Finalmente Madison se separou e deu um tapa em Matt no seu braço. ―Eu odeio Matt‖, ela<br />

disse numa voz de menininha.<br />

―Whoa‖ ele disse, passando a mão aonde ela tinha batido. ―Para que isso?‖<br />

―Por assistir o jogo com esses caras hoje à noite ao invés de ver filme comigo.‖ Ela disse.<br />

―Matt. É. Um. Babaca.‖ Ela apontou para ele no peito a cada palavra que ela pronunciava.<br />

―Você não entende,‖ Dave explicou para Madison enquanto Matt desviava dos tapas dela.<br />

―Esse vai ser O jogo. L.A vai se rebaixar.‖ Ele e Matt bateram as mãos no ar.<br />

E então, saindo do nada, como se suporte para o time de casa fosse algum tipo de resposta<br />

automática, eu murmurei ―Aham, certo.‖<br />

Assim que eu percebi o que eu tinha feito, tentei focar os meus olhos no papel, como se as<br />

palavras que eu disse tivessem sido proferidas não pelo meu descuido, mas por alguma coisa<br />

que eu tivesse lido. Era tarde demais. Dave, Matte, Connor, Jéssica e Madison estavam todos<br />

olhando para mim como se eu fosse um pedaço da mobília que tinha de repente recebido o


poder de falar.<br />

―Você está louca?‖ Dave disse. ―Você viu o jeito que Chicago jogou noite passada?‖<br />

Eu desisti de tentar desviar o meu olhar e olhei para ele. ―Como eles jogaram?‖ eu perguntei.<br />

―Os dois melhores jogadores do Lakers estava fora e o juiz deu cinco faltas insanas. Chicago<br />

recebeu o jogo de mão dada.‖<br />

― Recebeu o jogo de mão dada?‖ Dave estava praticamente chocado de indignação. Ele<br />

derrubou seus braços dos ombros de Jéssica. ―Você viu os três pontos? Viu?‖<br />

―Eu vi isso.‖ Eu disse<br />

―Então do que você está falando?? Ele balançou as mãos como se quisesse me chacoalhar.<br />

―Hey, calma aí, cara.‖ Connor disse, segurando os braços de Dave até ele derrubar isso de volta<br />

para o seu lado.<br />

Dave e eu continuamos a nos encarar, mas Dave só estava me encarando por causa do que eu<br />

disse sobre o Chicago, eu estava pirando por bem mais que isso. Falar sem ser convidada para<br />

conversar é quebrar um dos maiores tabus sociais.<br />

Eu estava realmente ferrada.<br />

E então Jéssica abriu sua boca para dizer algo para mim (sem dúvidas nas entrelinhas Cala a<br />

boca, estranha!), Connor deixou os braços de Dave e virou na minha direção. ―Desculpe-me<br />

por isso,‖ ele disse ―O cara aqui tem uma pequena paixão pelo Chicago.‖<br />

E então piscou para mim.<br />

Connor Pearson piscou para mim.<br />

Todo mundo viu isso, também. E eu me senti ficar quente. ―Yeah, claro.‖ Eu gaguejei ―não se<br />

preocupe com isso.‖<br />

Jéssica fechou sua boca e virou para o outro lado. Porque quando Connor Pearson pisca para<br />

alguém, esse alguém não está realmente ferrado.<br />

Ela está realmente perdoada.<br />

―Yo, Pearson!‖ Nós todos olhamos pela porta onde Kathryn Ford e duas das suas criadas<br />

estavam paradas. Mesmo do outro lado do refeitório seu sorriso era de cegar. ―Vocês estão<br />

vindo ou não?‖<br />

―Você sabe isso‖ Connor gritou de volta. Ele virou para Dave e Matt. ―Vamos, caras,‖ ele<br />

disse.<br />

Dave e Jéssica, Matt e Madison começaram a se pegar de novo. Parecia que nada ia por um fim<br />

no selar lábios deles, até Connor pegar a manga da jaqueta de Dave e começar a puxar.<br />

―Vamos!‖ ele disse, agarrando forte o couro. E então Dave estava puxando a jaqueta de Matt e<br />

– ploof! – todos os três tinham ido.<br />

Ninguém disse nada por um minuto depois dos garotos irem embora, e então Jéssica virou na


minha direção.<br />

―Uau, você é realmente, como, ligada em basquete, não é?‖<br />

Poderia ser isso curiosidade no tom dela? Hey, você é a nova garota que está na minha aula de<br />

matemática. Eu realmente deixei passar muito tempo sem tentar te conhecer melhor. Conte-nos<br />

sobre sua paixão por esportes! Eu não estava familiarizada com as normas sócias no meu novo<br />

habitat – era ela amiga ou inimiga?<br />

―Yeah‖ eu disse. Eu odiei que a minha resposta você tão dócil, como se eu tivesse esperando<br />

que ela aprovasse isso. Eu me sentei mais reta. ―Eu sou uma grande fã.‖ Eu estava preparada<br />

para defender meu lazer até a morte.<br />

Isso, aparentemente, não seria necessário, ―Legal,‖ Jéssica disse. Então ela virou de mim para<br />

Madison. ―Você viu Connor e Kathryn no estacionamento hoje de manhã?‖<br />

―Ai meu Deus,‖ disse Madison. ―Eu dou a eles um mês, no máximo, antes deles ficarem<br />

juntos.‖<br />

―Um mês?‖ disse Jéssica. ―Tente uma semana. Você deveria ter ouvido ela. Ela estava toda ‗Eu<br />

ouvi que os Knicks estão tendo uma boa temporada.‘ E ele estava todo ‗Esse pode ser o ano<br />

deles.‘―<br />

―Como se Kathryn de repente se importasse com basquete.‖ Madison disse.<br />

―Como se alguém se importasse com basquete.‖ Disse Jéssica. E ela deu uma pequena mordida<br />

enfática numa cenourinha.<br />

Eu queria dizer algo sobre os prazeres do basquete, como era se perder em um ótimo jogo,<br />

como era assistir o seu time sair da lanterna para marcar em um jogo considerado perdido, ver<br />

um jogador que você estava duvidando por meses manter o seu ritmo. Tinha tanta coisa que eu<br />

poderia ter dito.<br />

Mas eu já tinha dito mais do que o necessário. Eu terminei o meu sanduíche e o artigo e fui<br />

jogar as minhas coisas no lixo, sem me surpreender que nem mesmo Jéssica ou Madison deram<br />

tchau para a minha ida.


Capítulo 3<br />

Quando era só eu e meu pai, nós costumávamos comer a qualquer hora, mas para a inquietação<br />

de Mara, se você não se sentar-se à mesa para as refeições as sete em ponto, você é algum tipo<br />

de bárbaro que não pode ser salvo. E ―se sentar para uma refeição‖ não significa só se sentar.<br />

Significa pratos de porcelana, talheres de prata, velas e arranjos florais elaborados. Mara sai do<br />

―trabalho‖ dela (de meio-meio-meio período como Consultante de Relações Publicas) uns 15<br />

minutos antes, depois de o meu pai tê-la pedido em casamento, então agora ela é livre para<br />

gastar quantidades massivas de tempo e energia obcecada com acessórios culinários, assim<br />

como receitas de crème brulée e algo chamado colher de demistasse. Uma vez, ela entrou na<br />

cozinha enquanto eu estava comendo lo mein direto do pote com os dedos; ela arfou e colocou<br />

a mão no peito como se eu estivesse mordiscando uma cabeça humana.<br />

Como sempre ninguém conversou comigo por todo o jantar – Mara e as <strong>Prince</strong>sas só<br />

compararam teorias sobre os casais das celebridades e tendências da moda. Eu não estava<br />

exatamente chateada por estar sendo ignorada já que as minhas outras opções eram ser instruída<br />

sobre a maneira que eu sou fisicamente e/ou me visto de forma repulsiva.<br />

Depois do jantar o telefone tocou, assim como ele faz todas as noites às 20:00h. Eu estava bem<br />

do lado segurando uma pilha de pratos que eu carregava da sala-de-jantar. Eu derrubei os pratos<br />

na pia e peguei o telefone.<br />

―Hey, Goose, como você vai indo?‖ Meu pai perguntou assim que eu atendi.<br />

―Ok‖ Eu disse.<br />

―Como vai a escola?‖<br />

Mesmo pensando que meu pai pergunta isso todas as noites, eu posso te dizer que ele não quer<br />

realmente saber a verdade. Digo, quem quer ouvir que a filha é uma escória social? Ao invés de<br />

dar detalhes da minha gloriosa vida social, eu disse para ele como Connor, Dave e Matt<br />

achavam que o Chicago iam vencer o L.A.<br />

―Uau, essas crianças na Glen Lake são realmente estúpidas.‖ Ele disse.<br />

―Sem mencionar totalmente grosseiros‖ eu disse, eu comecei uma descrição da sessão de<br />

―beijos e abraços‖ que eu tinha presenciado no almoço. Na metade da minha descrição verbal<br />

dos beijos dos casais, <strong>Prince</strong>sa Um, que estava sentada com sua irmã na mesa da cozinha<br />

mandando e-mails do laptop da mãe delas para todos os meninos do estado, interrompeu.<br />

―Você está falando sobre Jéssica Johnson?‖ ela perguntou.<br />

―Espera só um instante,‖ eu disse para o meu pai. Então me virei ―O quê?‖<br />

―Eu disse você está falando sobre Jéssica Johnson? Porque ela é totalmente demais.―<br />

Eu ouvi meu pai chamando o meu nome pelo telefone.<br />

―Espera um segundo‖ Eu disse, ainda olhando para <strong>Prince</strong>sa Um. ―Como você conhece Jéssica<br />

Johnson?‖ eu perguntei.


<strong>Prince</strong>sa Um suspirou e soprou o de ar com pesar. ―Alô-ou! Ela é, tipo, a irmã mais velha de<br />

Jennifer‖ Jennifer, eu tinha sido informada recentemente, é o nome da garota que é atualmente<br />

a melhor amiga das <strong>Prince</strong>sas. Com o posto de presidente da União Européia, essa posição é<br />

rotativa.<br />

―Espera um minuto, você está me dizendo que tem pais por aqui que o sobrenome é Johnson e<br />

colocam o nome dos filhos deles de Jéssica e Jennifer de verdade? Qual é o nome do irmão<br />

delas, Jack?‖<br />

―Jason‖ as <strong>Prince</strong>sas disseram unidas.<br />

Eu comecei a rir.<br />

―O quê?‖ elas perguntaram, olhando para mim.<br />

―Você não acha que é um pouco estúpido por o nome de seus filhos começando com a mesma<br />

letra do seu sobrenome?‖<br />

―Eu gosto disso.‖ <strong>Prince</strong>ssa Um disse ―É chic‖<br />

Eu estava a ponto de dizer que era chic como uma estrela pornô, mas por agora meu pai estava<br />

praticamente gritando o meu nome.<br />

―Desculpe,‖ Eu disse, colocando o telefone de volta a minha orelha. ―Eu só tive que navegar<br />

por uma atmosfera lunática de Long Island.‖<br />

Quando meu pai e Mara decidiram se casar, teve todo esse debate sobre onde deveríamos<br />

morar. Porque o pai das <strong>Prince</strong>sas mora na cidade seguinte e elas têm duas vezes mais tempo de<br />

escola do que eu, a decisão foi que meu pai e eu devíamos nos mudar de São Francisco já que<br />

era melhor que submeter as <strong>Prince</strong>sas a uma traumática travessia do Rio Missisippi. Se você me<br />

perguntar, esse foi um grande erro, já que mudar as <strong>Prince</strong>sas da área-561 era a única coisa que<br />

podia salvar minhas irmãs adotivas a se tornaram má-motoristas, usadoras-de-unhas-postiças e<br />

donas-de-casa viciadas-em-novela.<br />

Infelizmente para elas, ninguém me perguntou.<br />

―Então,‖ meu pai disse ―você leu o Times? Stanford está parecendo muito boa. Eu acho que<br />

esse pode ser o ano.‖ Meu pai, que foi para Stanford, tem uma lealdade ao time da sua<br />

faculdade de tal modo que eu só posso descrevê-lo como perversa. Mesmo que o time deles não<br />

tenha ido para uma final do NCAA a décadas, ele continua a apostar neles.<br />

Antes de eu poder responder, eu ouvi um click, que significava que Mara tinha atendido a<br />

extensão da linha no escritório. É essa totalmente coisa importuna que ela faz – atendendo ao<br />

telefone comigo e meu pai. É como se ela estivesse com medo de que se ela não o<br />

supervisionasse a cada segundo, ele ia perceber o erro que vez ao se casar com ela.<br />

―Olá, amor.‖ Ela disse.<br />

―Oi, querida.‖ Ele disse.<br />

Me mata.<br />

Eu fiz o que eu sempre faço quando Mara se intromete na nossa conversa: a ignorei


―É só em fevereiro.‖ Eu disse ao meu pai. ―Eu não posso começar a pensar em NCCA já.‖<br />

―Espera,‖ Mara disse. ―Eu só comecei a me acostumar com NBA. O que é NCCA?‖<br />

Meu pai só riu como se Mara tivesse tido a coisa mais engraçada na face da terra. ―Nós<br />

cruzaremos aquela ponte quando chegarmos lá, Mrs. Norton‖ ele disse, ainda rindo. ―Docinho,<br />

você é oficialmente fofa."<br />

Eu limpei minha garganta para lembrá-lo que ele não estava exatamente tendo uma conversa<br />

privada.<br />

―Lucy, eu estou só te dizendo,‖ ele disse ―Stanford está tendo uma temporada matadora.‖<br />

Eu suspirei. A verdade é que, mesmo que eu pensasse que Stanford tinha uma chance de vencer<br />

a NCCA, o que eles não vão, eu nunca poderia torcer para escola que é atualmente a<br />

responsável pelo meu estado de miséria. Se meu pai e o irmão de Mara não estivessem no<br />

mesmo andar no primeiro ano de Stanford, e o irmão de Mara não tivesse decidido visitar o<br />

velho amigo dois anos atrás quando ele foi fazer negócios em São Francisco, e meu pai não<br />

tivesse, brevemente desde então, dito uma reunião da sua firma no escritório em New York, e<br />

se ele não tivesse, depois da reunião, encontra seu velho amigo para tomar um drink, e se esse<br />

velho amigo não tivesse levado sua irmã divorciada para o drink, e se essa irmã não estivesse<br />

totalmente a procura de um novo marido, e se meu pai não tivesse se apaixonado por uma<br />

mulher que acha que decoração de interiores é uma arte liberal, eu não estaria atualmente<br />

vivendo em exílio social, relacionado com um casamento e com duas irmãs adotivas de 12 anos<br />

que acreditam que um corte e uma mudança na cor do cabelo é um experiência espiritual<br />

enriquecedora.<br />

―Standfor vai perder pai, dê uma chance a realidade.‖ Era um conforto frio que Stanford tinha<br />

zero chances de levar o título da NCCA para casa, mas ainda era confortante acima de tudo.<br />

―É inacreditável,‖ Mara disse ―se você tivesse me dito a um ano atrás que eu teria uma filha<br />

fanática por esportes, eu nunca teria acreditado.‖<br />

Eu não disse nada. Se você me perguntar, é totalmente estranho como ela começou a se referir<br />

a mim como filha. Certo verão, antes deles se casarem, Mara me tirou do jantar e fez todo esse<br />

discurso de como ela nunca tentaria substituir a minha mãe e como ela totalmente entendia que<br />

eu nunca poderia amar ela do jeito que eu tinha amado a minha verdadeira mãe, mas que ela<br />

esperava que ela podia preencher um espaço na minha vida. Eu disse a ela que eu não<br />

realmente me lembrava da minha verdadeira mãe tão bem assim considerando que ela morreu<br />

de câncer quando eu tinha somente três, então não era como se tivesse realmente algo a se<br />

preencher. Eu quis dizer que eu realmente não me sentia como se precisasse de uma mãe, mas<br />

ficou claro que Mara entendeu que eu quis dizer que eu queria ela para ser minha mãe.<br />

―MÃE‖ As <strong>Prince</strong>sas chiaram.<br />

―O que é?‖ Eu podia ouvir Mara com minhas duas orelhas, na direita, pelo telefone, e na<br />

esquerda, do escritório. Ela estava em todos os lugares de uma vez só.<br />

―Nós precisamos de você!‖<br />

―Estou indo.‖ Eu ouvi o click do telefone enquanto ela desligava.


―Hey, pai.‖ Eu disse, tirando vantagem do nosso ter um minuto para conversar sem Mara ouvir.<br />

―Você quer ir ao Guggheneheim comigo próximo sábado?‖<br />

―Claro, Goose. Vai ser divertido. A gente não vai a um museu a bastante tempo.‖<br />

Eu não podia acreditar o quão fácil tinha sido. Porque eu não tinha sugerido de fazermos<br />

alguma coisa sozinhos antes?<br />

Mara veio correndo para a cozinha ―Sim, meninas?‖<br />

―Esquece‖ <strong>Prince</strong>ssa Um disse, não se importando nem de olhar por cima da tela. ―Está<br />

funcionando agora.‖<br />

Mara não estava ao menos chateada de ter corrido toda a casa por nada. Ela só andou para onde<br />

eu estava, ainda no telefone.<br />

―Lucy, você poderia ajudar a terminar de limpar a mesa?‖ eu adoro como ela diz ―ajudar‖,<br />

como se alguém além de mim estivesse fazendo isso.<br />

―Bem, tchau, pai.‖ Eu disse, pegando o conselho de Mara não tão sutil assim.<br />

―Tchau, Goose. Até amanhã.‖ Eu dei o telefone a Mara e fui para sala-de-jantar, onde eu<br />

descobri que nenhum das <strong>Prince</strong>sas tinham carregado nem mesmo um garfo da onde elas<br />

estavam sentadas. Quando eu entrei de novo na cozinha, carregando as coisas delas, eu quase<br />

fiz uma piada de como Cinderela devia saber melhor do que achar que as irmãs dela eram<br />

capazes de limpar algo por elas mesmas, mas eu sabia que ninguém além de mim ia achar<br />

engraçado.<br />

Pessoas nunca acham a verdade divertida.


Capítulo 4<br />

―Lucy, eu sinto que nós vamos encontrar alguma mobília adorável para o seu quarto nessa<br />

viagem. Eu estou tãããão feliz que você pode vir conosco hoje.‖<br />

Era sábado de manhã, e nós estávamos andando pela rua principal de Lomax, New York, uma<br />

cidadezinha no Vale do Rio Hundson. Todos os lugares por onde passávamos eram um café ou<br />

uma loja de móveis antigos. Quando a gente chegou, eu perguntei para um vendedor se ele<br />

sabia algum lugar da cidade aonde se vendia CDs, e ele olhou para mim como se eu tivesse<br />

começado a barganhar um mesa de centro feita de mármore raro.<br />

―Doug, querido, olhe para isso.‖ Mara puxou meu pai em direção a uma vitrine que exibia um<br />

enorme mobília que eu agora sabia que se chamava Cristaleira. ―Isto não iria ficar<br />

simplesmente delicioso no hall?‖<br />

―É bonito, docinho,‖ meu pai disse ―Você quer entrar e dar uma olhada?‖<br />

Os olhos de Mara cintilaram ―Como você me conhece tão bem? É claro que sim.‖ Ele segurou<br />

a porta para ela e ela praticamente dançou para entrar (pelo menos ele não a carregou).<br />

―Você vem, Goose?‖ meu pai perguntou. Ele pergunta como se eu tivesse escolha, como se eu<br />

dissesse ‗não‘ eu não seria acusada de ter um Má Atitude . Aparentemente se você não acha<br />

que examinar mobília antiga de madeira em pequenas cidadezinhas é o melhor jeito de passar o<br />

seu tempo livre, você tem uma Má Atitude. Você também está machucando os Sentimentos de<br />

Mara, o que é uma coisa muito, muito ruim de se fazer. É por isso que eu estou presa nas<br />

pequenas compras de hoje – por que fim-de-semana passado, ao invés de mentir e dizer que eu<br />

tinha um monte de amigos ou trabalho ou qualquer coisa que poderia me manter longe de<br />

passar o fim-de-semana com meu pai comparando cristaleiras no estilo vitoriano novo com o<br />

velho, eu fiz o catastrófico erro de dizer que eu não era lá muito chegada em comprar mobília<br />

antiga. Isso foi no último sábado à noite. Na última manhã de domingo, meu pai veio ao meu<br />

quarto e disse que os sentimentos de Mara tinham sido muito feridos, e ele certamente esperava<br />

que eu considerasse ir com ele no próximo fim-de-semana. Mesmo sabendo que ele tinha usado<br />

a palavra esperava ele claramente significava sabia como ―Eu sei que você vai considerar e vir<br />

conosco próximo fim-de-semana, ou você vai ficar de castigo pro resto da sua vida‖.<br />

Eu disse a ele que eu ia considerar me juntar a eles.<br />

Eu segui Mara pela loja. ―Olhe por ai, Goose,‖ meu pai disse. ―Talvez você ache algo que você<br />

goste para o seu quarto.<br />

Como se não fosse ruim o bastante eu estar morando em uma área ‗desmobilhada‘, Mara tinha<br />

adicionado insulto a injustiça por basicamente remodelar a casa inteira em sete messes desde<br />

que nos mudamos. Eu uma vez fiz o erro de perguntar ao meu pai se não machucava ele ter um<br />

pouquinho de suspeita de que ela tinha sido capaz de escolher, pedir, e trazer de navio da<br />

Inglaterra uma sala-de-estar inteira enquanto continuava a reclamar que não tinha uma única<br />

gaveta na inteira área metropolitana de Nova York que fosse digna do meu ‗quarto-de-porão‘.<br />

Meu pai ficou realmente carrancudo e disse, ―O que você está querendo dizer, Lucy? Que Mara<br />

não quer mobilhar o seu quarto?‖ Na verdade isso era exatamente o que eu queria dizer, mas<br />

ver ele ficando daquele jeito, todo frio e assustado, me deixava maluca. Então eu só disse,<br />

―Nada. Eu não disse nada.‖ e não mencionei isso de novo.


Eu fingi que estava olhando uma penteadeira grosseiramente do tamanho do Arco do Triunfo<br />

enquanto Mara guinchava de prazer em frente à cristaleira. Finalmente seus gritinhos de<br />

empolgação (―Olhe querido, uma gaveta!‖) foram mais do que eu podia suportar, e eu fiz o<br />

meu caminho para o fundo da loja, onde os móveis estavam empilhados tão loucamente que era<br />

impossível achar um lugar para fica em pé. E então meus olhos bateram em algo que pegou<br />

minha atenção – num bom sentido.<br />

―Pai! Hey, pai! Vem ver isso aqui!‖ Deve ter levado a meu pai mais de vinte minutos para<br />

responder; sem dúvidas que é realmente difícil se separar de um cintilante tête à tête sobre<br />

cristaleiras.<br />

―Yeah?‖ Ele finalmente respondeu.<br />

―Vire a esquerda‖ Eu disse ―Eu estou bem no canto onde a pequena mesa está.‖<br />

―Wow, isso é terra incógnita,‖ meu pai disse, subindo sobre um escabelo.<br />

―E olha o que eu descobri‖ eu disse. Encostado na parede estava uma antiga moldura de<br />

madeira. As correntes que passavam pelos suportes eram delicadamente trabalhadas, e a<br />

madeira era de uma vermelho escuro, retirada de algum lugar intrigante. Parecia uma moldura<br />

que Monet ou Ingress teria usado. ―Legal, não?‖ Eu disse.<br />

―Oh, Yeah‖ ele disse. ―É incrível.‖ Ele se ajoelhou, ―Olhe para isso‖ e apontou para o chão.<br />

―Uau‖ eu não tinha percebido que os suportes terminavam em pequenas patinhas de leão. ―É<br />

lindo.‖<br />

Ajoelhados na luz turba da loja de antiguidades eu percebi que era a primeira vez em quase um<br />

ano que eu estava na verdade conseguindo um minuto sozinha com meu pai. Então não foi<br />

exatamente surpresa que eu ouvi Mara chamando o nome dele.<br />

―Doug? Doug, onde você está?‖ O seu tom beirava a histeria.<br />

―No fundo, amor.,‖ ele chamou, ficando de pé. ―Vire a direita na mesa de mármore.‖<br />

―É tão sujo ai atrás‖<br />

Mara prefere suas antiguidades em ótimo estado e limpas. Esta tudo bem que a mobília tenha<br />

sido usada, portanto que não pareça usada.<br />

―Olhe o que Lucy achou‖ meu pai disse, apontando para a moldura. ―Não é incrível?‖<br />

Mara fez uma cara pensativa, ―Oh, é adorável!‖ ela disse. ―Que peça maravilhosa. É como algo<br />

que você acharia em um museu.‖<br />

E então eu sabia que eu nunca estaria permitida a comprar a moldura. Se Mara só tivesse dito<br />

que era adorável, talvez eu teria uma chance, mas ―É como algo que você acharia em um<br />

museu.‖ É traduzido para ―Isso só entra na minha casa sobre o meu cadáver.‖<br />

Meu pai não percebeu isso de primeira ―Oh, você gostou?‖ ele perguntou.<br />

―Eu amei‖ ela disse, indicando com a cabeça animada. ―É realmente uma pena que nós não<br />

tenhamos onde por tão original peça.‖


Diferente de meu pai, eu peguei onde Mara estava indo com seu falso entusiasmo, mas eu não<br />

podia acreditar que ela estava deixando algo tão bonito ―Eu pensei que poderia ir para o meu<br />

quarto.‖ Eu disse.<br />

A indicação de Mara com a cabeça virou uma indicação de negatividade. ―Eu ouvi o que você<br />

disse, Lucy. Só não acho que combina exatamente com o espaço.‖<br />

Yeah, por que você não iria querer comprar algo que confronta com absolutamente nada<br />

―Bem, talvez nos podemos fazer isso funcionar. Você sabe que pode escolher um móvel que<br />

combine com isso.‖<br />

―Mmmmm, yeah.‖ Ela pressionou os lábios, como se estivesse pensando bastante no que eu<br />

tinha dito ―Infelizmente, eu só não acho que vá funcionar.‖<br />

―Bem, porque não?‖ Eu perguntei. Minha voz saiu mais aguda do que eu queria.<br />

Meu pai, que vinha examinando o trabalho em espiral na moldura, olhou para cima. Eu posso<br />

dizer que ele estava tão concentrado na moldura que não tinha sido capaz de ouvir uma palavra<br />

do que tinha sido dito até agora, tão quanto ele estava preocupado, eu estava tomando esse tom<br />

com Mara por nenhuma razão.<br />

―Lucy, eu sei que você esta decepcionada,‖ ela disse ―Mas você sabe que agora nós temos que<br />

nos concentrar no essencial.‖<br />

Ela se virou e foi para a frente da loja. Meu pai pos sua mão no meu ombro ―Talvez outra hora,<br />

Goose.‖ Ele disse<br />

―Yeah, talvez.‖ Eu disse.<br />

Enquanto meu pai pagava pela cristaleira e Mara e o vendedor discutiam sobre uma ótima<br />

maneira de ter o móvel entregue na nossa casa, eu fiquei na porta, pensando preguiçosa na<br />

única coisa boa que me aconteceu recentemente – a piscadela que eu consegui de Connor<br />

Pearson. Eu ainda estava pensando nisso quando nós saímos da loja e começamos a descer o<br />

quarteirão. Ele não tinha só piscado para mim, eu lembrei. Ele tinha me dado aquele realmente<br />

charmoso sorriso, também. A piscadela. O Sorriso. A piscadela. O sorriso. A-<br />

―Oh, Lucy‖ Mara colocou sua mão no meu braço ―Eu deixei minha jaqueta na loja. Você podia<br />

correr lá e pegar para mim?‖<br />

A piscadela. O sorriso... A realidade.<br />

Cinderella nunca tira folga nos fins-de-semana.


Capítulo 5<br />

Ainda bem que Sra. Daniels havia terminado a conferência, então depois de eu pegar o meu<br />

almoço na quinta, eu me encaminhei para o estúdio para come-lo. No meu caminho pelo<br />

Corredor das Humanidades, eu passei por Connor Pearson, que tinha seu braço em torno de<br />

Kathryn Ford casualmente. Eles pareciam com modelos extremamente bonitos retirados de um<br />

catálogo de alguma loja para adolescentes. Assim que eu estava tentando parar de olhar para<br />

ele, Connor Pearson olhou na minha direção. Nossos olhares se encontraram e ele me estudou<br />

por um segundo, como se ele pudesse quase, mas não totalmente, se lembrar de quem eu era. E<br />

então, abriu um sorriso enorme.<br />

―Heeeey – bela aposta no jogo dos Lakers!‖<br />

Ao invés de dar a ele uma espirituosa resposta ou só um sorriso, como eu sou uma garota que<br />

recebe elogios por suas apostas de garotos atletas o tempo todo, eu congelei totalmente. Eu só<br />

fiquei parada lá, como um cervo a ser atingido por um carro.<br />

Por sorte, minha resposta (ou a falta de) não importava. Antes mesmo da pessoa mais<br />

inteligente ter dado a resposta mais esperta, ele já havia ido.<br />

A sala-de-artes estava vazia, mas não parecia deserta. Musica Erodida tocava de um pequeno<br />

rádio que Sra. Daniels tinha na sua mesa, e o cheiro característico de tinta, terebentina e café<br />

eram toda a companhia que eu precisava. Eu me sentei no sofá do canto, tirei meu bloco de<br />

desenho de dentro da mochila, e folheando-o enquanto comia o sanduíche sem gosto que eu<br />

tinha comprado. Estava Sra. Daniels certa? Minha arte estava levando uma direção? Enquanto<br />

eu virava as páginas, eu tentei ver o meu trabalho como um estranho veria, procurando por um<br />

estilo em rascunhos aleatórios que eu havia desenhado nos últimos meses. Mas pelo o que eu<br />

podia dizer, tudo parecia mais o menos a mesma coisa. Eu queria acreditar na Sra. Daniels, que<br />

eu estava desenvolvendo como artista. Mas mesmo me chamar de artista (ainda que uma em<br />

desenvolvimento) parecia pretensioso. Eu olhei pela sala para uma das pinturas de Sam Wolff.<br />

Era uma árvore no inverno – sem folhas, enquanto pingos de neve derretiam pelos galhos.<br />

Como todo o trabalho dele, te colocava lá, fazia você se sentir como estivesse dentro, que se<br />

você tocasse o tronco da árvore, a umidade fria de Fevereiro iria entrar na sua pele. Sim, ele era<br />

um artista. Infelizmente, ele também era um babaca anti-social.<br />

Seria possível para uma pessoa ter talento e uma vida social normal?<br />

Talvez a pergunta fosse: Porque eu, que não tenho nenhum dos dois, desejo tê-los?<br />

Quando eu cheguei no refeitório na sexta-feira, os sanduíches não tinham saído ainda, o que<br />

significa que eu ia ter que ficar em pé na fila sozinha por dez anos esperando na caixa<br />

registradora. Eu tentei cultivar uma cara de legal e desinteressada, como se eu estivesse tão<br />

acima do ensino-médio que eu nem lembrasse que estava cursando-o. Eu na verdade estou em<br />

um pensamento profundo sobre uma tendência intelectual de extrema importância. Mesmo que<br />

você tentasse fazer contato, eu não responderia. Quando a moça do refeitório finalmente<br />

derrubou uma pilha de sanduíches no balcão, eu só peguei um, sem me incomodar de verificálo,<br />

joguei o dinheiro na direção dela, e corri para a porta.


Eu estava a metade do caminho para a liberdade quando eu ouvi alguém gritando o meu nome.<br />

―Oi! Lucy Norton!‖ Eu olhei em volta, Jéssica Johnson e Madison Lawler estavam sentadas<br />

numa mesa, acenando freneticamente na minha direção.<br />

Por um segundo eu considerei apontar para mim e dizer ―Quem, eu?‖ mas considerando que A)<br />

eu não sou uma personagem de uma sitcom, e B) as duas estavam olhando diretamente para<br />

mim, enquanto Jéssica gritava meu nome inteiro. Eu escolhi andar até onde elas estavam<br />

sentadas. Assim que eu cheguei na mesa, Jéssica segurou o meu braço tão forte que as unhas<br />

dela entraram na minha pele.<br />

―Hei‖ Eu disse. Meus cumprimentos foram casuais, ao invés dos de Jéssica, que se agarrava a<br />

mim como se eu fosse a única coisa entre ela e um transplante de órgãos que salvaria sua vida.<br />

―Nós podemos só dizer que achamos que você nunca ia chegar aqui?‖ disse Jéssica, me<br />

puxando para o lado dela. Ela virou para Maddison, que estava concordando de modo<br />

encorajante. ―Eu não tinha dito ‗Eu vou totalmente procurar ela se ela não aparecer por aqui<br />

rápido‘?‖ Maddison continuou concordando, com seu rabo-de-cavalo indo pra cima e pra<br />

baixo, como um compasso.<br />

―Oh‖ eu disse, considerando perguntar, Alguma chance de vocês terem me confundido com<br />

outra pessoa?<br />

Maddison tirou com habilidade uma mexa de cabelo do seu rosto. Então apontou para uma<br />

cadeira na mesa delas ―Senta‖.<br />

Eu puxei uma cadeira e sentei, esperando pelo próximo comando. Late! Rola! Jéssica levantou<br />

suas sobrancelhas para mim, ―Então,‖ ela disse<br />

―Então,‖ eu repeti.<br />

―Então,‖ disse Maddison, ―quem é a menina de cabelos vermelhos fogosos nova na sala que<br />

talvez tenha chamado a atenção de -―<br />

―Licença,‖ Jessica disse alto ―Eu acho que esse é o meu anuncio.‖ Mas Jéssica não parecia se<br />

importar em interromper. De fato, ela sorriu para Maddison, e as duas começaram a dar<br />

risadinhas. A coisa toda estava começando a me deixar bem, bem nervosa. Eu apertei meu<br />

sanduíche misterioso, minha mão meio suada contra o papel.<br />

―Ok,‖ disse Jéssica, prendendo a respiração. ―Quem é o cara mais bonito da escola inteira?<br />

Dica: ele é um sênior e está no time de basquete.‖<br />

Seria isso um truque? Ambos Dave e Matt eram sêniors. Eu decidi enrolar por um tempo.<br />

―Bem, isso é meio que subjetivo,‖ Eu disse cuidadosamente.<br />

Enquanto Maddison fez uma cara (ou por causa da minha enrolação ou por não saber o que<br />

subjetivo significa), Jéssica continuo, ―O nome Connor Pearson diz algo a você?‖<br />

Por um segundo eu não disse nada; eu só abri e fechei a minha boca, como um peixe. Então, o<br />

tão calmamente quanto eu podia, eu repeti, calmamente ―Connor Pearson?‖


Jéssica se inclinou para trás sem dizer uma palavra e levantou as sobrancelhas, primeiro para<br />

mim e depois para Maddison. Por um segundo, eu congelei de medo. Seria isso um tipo de<br />

piada de humilhação bem elaborada? Eu continuei em silêncio, tentando recriar a série de<br />

circunstâncias que fariam Maddison e Jéssica decidirem que elas tirariam tempo das suas vidas<br />

ocupadas para me atormentar, mas era impossível. Vamos só encarar isso: Se Maddison tivesse<br />

energia criativa para elaborar o esquema que eu estou imaginando ela provavelmente estaria<br />

numa classe de matemática avançada.<br />

―O que tem Connor Pearson?‖ Eu disse, mantendo minha voz regular. Talvez isso fosse só um<br />

tipo de teste de cidadania da Glent Lake HighSchool. Qual o nosso mascote? Como você vai do<br />

laboratório pro teatro sem passar pelo lobby? Quem é o garoto mais bonito da escola?<br />

Jéssica balançou sua cabeça, claramente desorientada com o qual difícil eu estava tornando isso<br />

para todo mundo. Então ela passou pela mesa e tocou minha mão, como se contato físico fosse<br />

penetrar minha estupidez. ―Que tal isso, sobre Connor Pearson,‖ Ela pausou dramaticamente e<br />

apertou meus dedos. ―Connor Pearson gosta de... rufem os tambores, por favor...‖ ela virou<br />

para ter certeza que Maddison estava olhando intensamente para ela como eu e então virou para<br />

mim de volta ―Lucy Norton.‖<br />

Uma sensação quente e latejante começou na minha cabeça e se preparou para descer por todo<br />

meu corpo. Ao contrário de todas as ruivas, eu não tenho sardas e não fico vermelha – ao<br />

menos no lado de fora. Mas eu podia sentir-me ficando quente; um pingo de suor desceu pelas<br />

minhas costas, e o sanduíche quase caiu das minhas mãos.<br />

Maddison se virou para Jéssica ―Ela está sem fala‖ ela anunciou, dando uma risadinha.<br />

Jéssica estava rindo, também ―Eu te disse que ela iria ficar‖. Ela levantou as sobrancelhas para<br />

Maddison antes de se virar para mim. ―Connor disse para Dave para me dizer para te dizer que<br />

ele gostaria que você fosse no jogo hoje à noite. Ele disse que ele acha-― ela parou para olhar<br />

para nós duas ―que você é legal.‖<br />

Meu coração estava batendo forte e algo estava errado na minha cabeça, que parecia estar<br />

flutuando em algum lugar em cima do meu corpo.<br />

Eu limpei minha garganta. ―Ele não, hm, sai com Kathryn Ford?‖<br />

Jéssica fez uma cara como se eu tivesse sugerido que Connor saia com Dave ―Eles são só<br />

amigos.‖ Ela disse.<br />

―Yeah‖ Maddison disse, avastando a minha idéia como se fosse uma nuvem inconveniente de<br />

fumaça de cigarro. ―Eles são só amigos.‖<br />

Nós todas ficamos sentadas lá por segundo, digerindo a informação. Então Jéssica tocou minha<br />

mão novamente e balançou a cabeça entusiasmada. ―Então eu digo que você deveria vir ao jogo<br />

com a gente.‖<br />

A Cabeça de Maddison balançou para cima e para baixo ―Yeah, Lucy, venha ao jogo hoje à<br />

noite.‖<br />

Meu cérebro continuava não funcionando direito; eu podia ver os lábios se movendo, mas não<br />

conseguia processar o que elas estavam dizendo. ―Hm, desculpe, você disse hoje à noite?‖<br />

Minha boca estava tão seca que foi difícil separar os meus lábios.


O riso de Jéssica se transformou numa careta ―Qualquer outro plano que você tenha, você tem<br />

que cancelar.‖<br />

Outros planos? Eu quase ri. Quando foi a última fez que eu tive outros planos?<br />

Isso estava realmente acontecendo? Eu estava realmente sendo convidada a um jogo de<br />

basquete pelo cara mais gostoso da escola? Era quase como se-<br />

―Ah, meu Deus,‖ eu disse alto. Porque de repente, olhando através da mesa para Maddison, a<br />

verdade bateu tão forte que eu senti ela estalar entre meus olhos.<br />

O Príncipe Encantado estava requisitando a minha presença hoje à noite.<br />

Jéssica, entendendo errado o meu ataque, gritou ―Eu seeeei!‖ então ela estendeu as mãos na<br />

minha direção e na de Maddison ―Então, você vem?‖ ela perguntou.<br />

Por um segundo eu só fiquei lá, olhando para elas. Com seus suéteres combinando, cabelo<br />

arrumado e com luzes, lábios e olhos bem pintados, Maddison e Jéssica pareciam mais modelos<br />

teen do que fadas-madrinhas. Mas eu não tinha dúvida de que fadas-madrinhas era exatamente<br />

o que elas eram. Porque você não tem que ser Walt Disney para ver que minha vida era um<br />

conto-de-fadas. E finalmente, depois de todo esse tempo, eu tinha chegado a parte que eu<br />

terminva em ―e viveram felizes para sempre‖.<br />

Eu esperei um minuto, me dando tempo para que a importância do momento entrasse. Então eu<br />

respirei fundo, coloquei minha mão junto as de Jéssica, e aceitei meu destino.<br />

―Definitivamente.‖ Eu disse.


Capítulo 6<br />

Às cinco e meia, bem quando eu estava terminando um segundo breakdown e começando meu<br />

terceiro, alguém bateu na porta do porão.<br />

"Lucy, posso descer?" Era Mara.<br />

"Claro". Ela desceu as escadas segurando uma amostra quadrada de carpete na mão, algo com o<br />

qual eu poderia ficar empolgada se ela não tivesse descido com quadrados idênticos pelos<br />

últimos seis meses. Quem poderia saber que existem tantos tons de bege no planeta?<br />

"Como vai?", ela perguntou.<br />

"Bem", eu disse. Foi bom que ela não tivesse aparecido cinco minutos antes, quando eu estava<br />

tentando fazer minha cabeça parar de girar colocando-a entre os joelhos e respirando fundo.<br />

Ela atravessou o piso, que estava coberto de roupas e livros. "O quarto está meio bagunçado",<br />

ela disse.<br />

"É, desculpe por isso", eu disse.<br />

Mara ficou contra a parede, cruzando os braços no peito. "Eu gostaria que você cuidasse um<br />

pouco mais das suas coisas, Lucy."<br />

Eu estava tentada a perguntar para que cuidar das minhas coisas se eu não tinha lugar para<br />

guardar o que eu por acaso quisesse cuidar. Mas isso significaria uma grande discussão sobre<br />

como Mara dava duro para achar a cômoda perfeita e o quanto ela queria que eu gostasse do<br />

meu quarto e me sentisse à vontade lá uma vez que estivesse decorado. Tendo menos de uma<br />

hora para tomar banho, decidir o que vestir, me vestir, e dar mais alguns breakdowns para não<br />

ficar nervosa, essa não era a hora de explicar à minha madrasta que ela não tinha que se<br />

preocupar com o aconchego do meu quarto.<br />

Em vez de tentar explicar minha nova situação, eu decidi simplificar as coisas. "Eu<br />

definitivamente vou limpá-lo quando tiver tempo", eu disse. "Eu só não posso fazê-lo agora."<br />

"Você tem planos hoje?" Foi minha imaginação ou Mara soou chocada?<br />

"Mais ou menos", eu disse. Pensando nos meus planos, eu comecei a ficar com a cabeça leve de<br />

novo, eu esperava não precisar soprar uma sacola de plástico na frente da minha madrasta.<br />

"Oh?"<br />

"Eu meio que fui convidada para o jogo", eu disse. "Por essas garotas que eu conheço."<br />

"Que garotas?" ela perguntou, como se soubesse o livro do ano da Glen Lake decorado e fosse<br />

imediatamente capaz de reconhecer qualquer uma das centenas de garotas cujos nomes eu<br />

poderia dizer.<br />

"Ahn, são só umas garotas que eu conheço", eu disse. Por que eu consigo passar uma dúzia de<br />

sextas-feiras encarando as paredes descascadas do meu "quarto" sem ninguém da minha família<br />

colocar a cabeça aqui em baixo para ver se eu ainda estou viva e, na primeira vez em que eu


ealmente tenho planos (grandes planos, que precisam de extraordinária concentração e<br />

preparação em massa), minha madrasta de repente sugere que cantemos um dueto de "Getting<br />

To Know You"¹?<br />

¹"Conhecendo você" em inglês<br />

Eu realmente queria pedir a Mara um pouco de privacidade, mas eu tinha que tomar cuidado<br />

em rejeitar as iniciativas maternas dela. Se eu fizer isso, ela fica toda magoada, então reclama<br />

com o meu pai e ele briga comigo por não ter dado uma chance a ela. O máximo que eu podia<br />

arriscar era dar as costas e escavar uma pilha de roupas.<br />

"Como você vai ao jogo?" Mara claramente não tinha conhecimento dos significados da<br />

linguagem corporal.<br />

"Elas vêm me buscar", eu disse, ainda não virando de frente.<br />

Houve um breve sinal de respiração. "Elas dirigem? Quantos anos elas têm?"<br />

"Estão no segundo ano", eu disse. "Vêm me pegar em um táxi.<br />

Mara pensou no que eu disse por um minuto. "Que horas você estará em casa?"<br />

Eu hesitei. Que horas eu vou estar em casa? Em São Francisco eu nunca tive um horário oficial<br />

para estar em casa, eu só tinha que ligar e informar ao meu pai que horas esperar por mim.<br />

"Eu não sei", eu disse. "Mas eu ligo se for chegar tarde."<br />

"Como?" disse Mara. Ela falou isso como se eu tivesse dito que iria ligar pra ela de Charles de<br />

Gaulle se a tarde virasse uma viagem continental.<br />

"Eu disse que vou ligar se ficar tarde."<br />

―Lucy, seu pai não vai ficar feliz quando eu contar para ele que eu não tenho a mínima idéia de<br />

que horas você estará em casa.‖<br />

Eu trinquei os dentes. Como se eu precisasse dela para me dizer sobre quais circunstâncias meu<br />

pai ia ou não iria ficar bravo.<br />

―Olha, Mara, eu não sei o que te dizer. Eu não vou chegar em casa tarde.‖ Lembrando de algo<br />

que Jéssica me disse no almoço, eu disse ―Eu acho que os garotos tem um horário de recolher<br />

durante a temporada ou algo assim‖.<br />

Os olhos de Mara quase pularam da cara dela. Muito tarde, eu percebi o que tinha feito. ―Os<br />

garotos?‖ ela disse. ―Que garotos?‖.<br />

Eu me forcei a andar até Mara e por minha mão no braço dela. Nós estávamos em um território<br />

muito, muito delicado.<br />

―Eu estou indo num jogo de basket com Jéssica Johnson. Você sabe, a irmã mais velha de<br />

Jennifer?‖ Quem diria que eu estaria agradecida com minhas meias-irmãs pelo conhecimento<br />

intimo que elas tinham da família J-J-J-Johnson?<br />

Mara concordou.


―Então depois nós poderemos jantar depois do jogo com alguns jogadores,‖ eu adicionei ―Eu<br />

vou estar em casa as onze.‖. Honestamente, eu não tinha idéia de que horas eu estaria em casa,<br />

mas o vôo do meu pai chegava seis e meia. As onze eu estaria lidando com ele e não ela.<br />

―Bem-em‖ ela disse ―Onze soa razoável‖<br />

Por um segundo eu fiquei com medo de que eu não iria me segurar de gritar com ela. Eu não<br />

tenho horário de dormir, a regra é que eu tenho que ligar se for me atrasar. Eu só disse que<br />

iria estar em casa as onze para te tirar da minha cola, sua bruxa má controladora.”<br />

Felizmente eu fui capaz de reprimir a necessidade de expressar esses sentimentos. A única<br />

coisa que eu não conseguia controlar era como minha mão apertava-se levemente no braço da<br />

Mara.<br />

Ela confundiu meu aperto de raiva com algum tipo de gesto afetuoso e sorriu para mim.<br />

―Eu só quero o que é melhor para você,‖ ela disse.<br />

―Ah, eu sei, Mara.‖<br />

Eu aposto que foi isso que a madrasta da Cinderela disse, também.<br />

De pé na frente do espelho do banheiro com uma camiseta e calça de moletom, eu podia ver<br />

que me livrar da Mara tinha me lançado de um dos muitos obstáculos da noite diretamente para<br />

outro: O que eu iria vestir?<br />

Os conselhos fashion das minhas irmãs adotivas ecoaram no meu cérebro. Lucy, você não vai<br />

usar isso vai? Lucy, as suas calças são tããão cinco minutos atrás. Dez minutos atrás. Ontem.<br />

Mês passado. Ano passado.<br />

Hoje à noite eu definitivamente não queria estar cinco minutos atrás. Eu queria estar atual. Eu<br />

queria estar bonitinha. Eu queria estar sexy. Eu queria estar descolada. O problema era que eu<br />

absolutamente não tinha idéia de quais eram os padrões de Glen Lake de gostosa, bonitinha,<br />

sexy, ou descolada. Na Wellington, todo mundo basicamente usava jeans e camisetas o tempo<br />

todo. Mesmo se tivesse um baile ou algo assim, as pessoas se vestiam o mais casualmente<br />

possível, como se nem em um milhão de anos elas fariam algo tão podre como se arrumar para<br />

um baile de escola. Eu acho que a idéia é aparecer com um aspecto de como se você nem<br />

soubesse que tinha um baile; você só tinha ido passer com o cachorro ou comprar cigarros ou<br />

algo assim, e quando deu por si você estava agitando com os seus colegas.<br />

Mas as pessoas em Glen Lake se arrumavam até mesmo para a escola. Elas usavam conjuntos,<br />

camisas de cores coordenadas e calças e meias. Eu mesma não tenho nenhum conjunto. A não<br />

ser que conte jeans e uma camiseta preta. O que é totalmente o meu uniforme de cincominutos-atrás.<br />

De jeito nenhum eu iria usar jeans e uma camiseta preta para o jogo depois de usar isso<br />

basicamente todos os dias do ano.<br />

Eu finalmente me decidi por uma camiseta apertada e verde com decote em U com uma sainha<br />

preta, meia-calça preta, e botas pretas com um salto baixo e grosso. Por cima da camiseta, eu<br />

coloquei uma blusa de moletom velha de Stanford do meu pai. Eu olhei para mim mesma no<br />

espelho. Não estava mal. A blusa de moletom dizia, ―Eu sou super doidinha‖, enquanto a saia<br />

dizia, ―Eu sou super sexy.‖


A não ser que eu estivesse enganada e todo o conjunto simplesmente dissesse, ―Eu sou uma<br />

super esquisita.‖ Eu encarei o meu reflexo.<br />

―Ei, Connor,‖ eu disse nervosamente. Minha voz soou aguda e diminuta, Barbie Tropical<br />

bombada com estrogênio.<br />

Eu limpei minha garganta. ―Ei, Connor,‖ eu disse novamente, abaixando a minha voz em um<br />

oitavo.<br />

Agora eu soava como Harvey Fierstein.<br />

Um carro buzinou do lado de fora. Meu coração começou a golpear e eu tive a sensação no<br />

fundo do meu estômago de que estava prestes a vomitar.<br />

Outra buzinada. Eu tomei um longo fôlego e exalei lentamente.<br />

―Ei, Connor,‖ eu disse para o espelho. Soava bom. Não perfeito, mas bom. Eu estudei o meu<br />

reflexo. Algo ainda não estava bem certo. Eu tirei a blusa do moletom.<br />

O carro buzinou novamente.<br />

Eu estiquei a mão e puxei o prendedor do rabo-de-cavalo. Meu cabelo caiu ao redor do meu<br />

rosto e ombros, um aquarela de vermelhor vivo.<br />

Eu encarei a mim mesma, duramente. Com o meu cabelo solto, eu definitivamente não parecia<br />

uma imitação de mulher. E a camiseta verde ficava bem contra o vermelho. Nada mal. Nada<br />

mal mesmo.<br />

Eu apaguei a luz e corri escada acima.<br />

―Desculpa estarmos atrasadas,‖ disse Jessica, enquanto ela e Madison deslizavam para abrir<br />

espaço ao lado delas no banco traseiro. ―Essa aqui‖ – ela apontou para Madison – ―levou por<br />

volta de dez anos para decidir o que usar.‖<br />

Madison deu de ombros e apontou para mim. ―Gostei da sua saia,‖ ela disse.<br />

―Ah, obrigada,‖ eu disse, aliviada.<br />

―Ei, as suas irmãzinhas estão na sala da minha irmã,‖ disse Jessica. ―Ela são totalmente<br />

adoráveis.‖ As <strong>Prince</strong>sas? Adoráveis?<br />

―Er, é,‖ eu disse. ―Eu acho que Jennifer é a grande amiga delas.‖ Eu consegui não acrescentar<br />

por enquanto no final da minha sentença.<br />

―É, ela é uma completa pirralha,‖ disse Jessica. ―Ela me deixa louca.‖<br />

Eu sabia que havia uma oportunidade se apresentando aqui, mas eu não estava certo sobre<br />

como proceder. Eu dizia que as <strong>Prince</strong>sas eram umas completas pirralhas, também, ou isso me<br />

faria parecer uma vaca? Talvez eu tivesse que defender a Jennifer, dizer que ela era adorável,<br />

como a Jessica tinha dito que as <strong>Prince</strong>sas eram. Enquanto eu analisava e rejeitava meia dúzia<br />

de superficialidades, eu percebi que seis meses na Sibéria social tinham cobrado seu preço. Eu<br />

não era mais capaz de levar adiante até mesmo a mais mundana das conversas.


Enquanto eu estava ocupada tentando bolar uma observação banal mas ao mesmo tempo<br />

profundamente significante sobre as minhas irmãs adotivas monstruosas, a conversa avançou.<br />

―Você está totalmente animada sobre o Connor?‖ perguntou Jessica.<br />

―Bem, eu–‖<br />

―Deus, essa cor é escura demais,‖ disse Madison, que tinha tirado um espelho da bolsa da<br />

Jessica para checar seu batom.<br />

Era verdade; a boca dela estava manchada com um tom perturbador de roxo. Ela esfregou seus<br />

lábios com um lenço de papel.<br />

Jessica desmanchou rabo-de-cavalo, virando-se na minha direção enquanto afofava seu cabelo<br />

ao redor do seu rosto. ―Uau,‖ ela disse, ―seu cabelo é realmente vermelho.‖<br />

Ela estava fazendo uma observação ou uma acusação?<br />

―Er, é,‖ eu disse. Minha mão voou para a minha cabeça como se tocar meu cabelo o fizesse<br />

menos vermelho.<br />

―Vou usar o seu gloss,‖ disse Madison, alcançando a bolsa da Jessica.<br />

―É, claro. Vá em frente,‖ disse Jessica. Ela ainda estava olhando para mim. ―É natural?‖<br />

―Er, é,‖ eu disse pela segunda vez enquanto Jessica pegava sua bolsa de volta da Madison e<br />

procurava nela.<br />

Eu nunca deveria ter soltado o meu cabelo. O que eu estava pensando? Eu me sentia<br />

absolutamente exposta, como se eu estivesse vivendo aquele sonho em que você está andando<br />

pelo corredor na escola e de repente percebe que não está usando nenhuma roupa.<br />

―Minhas irmãs adotivas vivem me dizendo para tingir,‖ eu disse, tentando controlar meu tom<br />

para que ficasse em algum lugar entre uma afirmação e uma pergunta. Tinha um prendedor na<br />

minha bolsa?<br />

―Por que você tingiria?‖ perguntou Jessica, correndo sua escova pelo seu cabelo. O olhar que<br />

ela me deu foi um de confusão honesta. ―É totalmente legal.‖<br />

―Ah, obrigada,‖ eu disse, forçando uma risada. ―Quero dizer, não estava pensando seriamente<br />

em tingir.‖<br />

Mas, é claro, por um segundo ali, eu estive.<br />

Eu nunca fui à um jogo de basquete de escola antes. Oficialmente, Wellington tinha um time de<br />

basquete, mas eles não são exatamente do tipo campeões estaduais, e ninguém que eu<br />

conhecera já seguiu seus pontos de perto. O time de Glen Lake por outro lado, é uma força<br />

destruidora, algo que os poetas de versos épicos devem cantar sobre nos próximos séculos.<br />

Logo que chegamos eu chequei o placar: 5-0 para Glen Lake. O time visitante estava dando um<br />

lance livre. Eu sempre amei observar os jogadores na linha de falta. O jeito como eles driblam<br />

lentamente, param, driblam novamente. Eles são como figuras religiosas entrando em um<br />

transe místico. O cara fazendo esse lance estava nervoso, e ele segurou a bola por um longo<br />

tempo antes de jogá-la em direção a cesta. Antes mesmo que ela deixasse suas mãos eu podia


dizer que não ia entrar, mas eu observei ela cair perto da cesta de qualquer jeito, sentindo a<br />

combinação de simpatia e alívio que eu sempre sinto quando um time oposto perde um lance.<br />

O ginásio, que poderia ter facilmente agrupado milhares de pessoas, estava dois terços cheio, e<br />

a multidão estava entusiasmado o bastante para o dobro das pessoas que realmente estavam ali.<br />

Nós subimos até a metade das arquibancadas lotadas e nos sentamos com um grupo de<br />

estudantes do segundo ano que eu não conhecia. Enquanto Madison e Jessica falavam com seus<br />

amigos, eu olhei para baixo para a quadra e achei Connor, que estava gritando algo para o cara<br />

que estava com a bola. Mesmo dessa distância ele era lindo. Diferente de um monte de caras<br />

altos ele não é desengonçado e desajeitado, e seu cabelo espesso e escuro caia sobre suas<br />

sobrancelhas. Enquanto eu estava observando, ele tirou-o de seu rosto e então correu seus<br />

dedos por ele. Eu senti um pequeno choque de eletricidade formigar na minha própria mão.<br />

O placar rapidamente ficou absurdamente perto. No quarto tempo Glen Lake conseguiu fazer<br />

uma cesta atrás da outra por um curto tempo, mas então o outro time alcançou e nós ficamos<br />

empatados por um longo tempo. Eu estava na beirada do meu assento, especialmente num<br />

momento realmente tenso quando Connor e a defesa do time foram em direção à cesta como se<br />

não houvesse nada que os impediria de marcar. Eles passavam a bola facilmente para frente e<br />

para trás até que a defesa, repentinamente cercada, tentou, e falhou dar uma volta nos caras que<br />

o estavam cercando. Eu segurei minha respiração enquanto ele driblava em um lugar,<br />

procurando por uma abertura, então passou para o centro, que, em um lance quase impossível<br />

do lado de fora do círculo de três pontos, afundou a bola. Eu atirei meu punho no ar e gritei,<br />

―SIM!‖<br />

―O quê?‖ perguntou Jessica, que estivera falando com Madison.<br />

―Você perdeu isso?‖ Eu perguntei. Nosso lado todo estava torcendo. Mesmo nós estarmos<br />

sentadas bem ao lado uma da outra, eu tive que gritar para ser ouvida.<br />

―O quê?‖ ela perguntou, ―O que eu perdi?‖ e de repente Madison estava me encarando,<br />

também.<br />

―O número dezessete acabou de marcar,‖ eu expliquei. ―Nós estamos na frente por dois.‖ Eu<br />

me perguntei se a razão pela qual elas não estavam exatamente assistindo o jogo tinha algo a<br />

ver com o fato de que Matt e Dave ainda tinham que sair do banco.<br />

―Ai meu Deus, esse é o irmão do Matt,‖ disse Madison, estapeando suas bochechas com suas<br />

mãos para que parecesse com O Grito. ―Não acredito que perdi essa.‖<br />

―Que bom,‖ disse Jessica. ―É melhor esperar que Matt não pergunte sobre isso.‖<br />

Madison tirou seu cabelo da frente de seu rosto. ―Pooor favoor,‖ ela disse. ―O que ele vai fazer,<br />

me interrogar sobre o jogo?‖ Então ela riu. ―E se ele interrogar, Lucy pode me ajudar. Certo<br />

Lucy?‖ Ela colocou seu braço ao redor dos meus ombros e me deu um apertão, apertando sua<br />

bochecha nas minhas costas por um segundo antes de me soltar.<br />

―Certo,‖ eu disse.<br />

Quando Connor afundou a última cesta da vitória, até mesmo Jessica e Madison estavam de pé.<br />

A onda de prazer que havia me banhado era algo muito mais intenso do que qualquer tipo de<br />

espírito escolar.


Por toda as arquibancadas as pessoas estavam chamando o nome do Connor. Ele sorriu para os<br />

fãs e até mesmo deu um pequeno aceno, o que só fez as pessoas gritarem mais alto. Eu sabia<br />

que ele não estava acenando para mim, mas mesmo assim. Connor Pearson sabe quem eu sou,<br />

eu me encontrei pensando. Ele sabe o meu nome. É claro que o meu nome é justamente a única<br />

coisa que ele sabe sobre mim, mas era algo.<br />

Afinal de contas, o que o Príncipe Encantado sabia sobre a Cinderela além do número do<br />

sapato dela?


Capitulo 7<br />

Piazzola está localizado na Vila de Glen Lake, numa estrutura de madeira envelhecida que<br />

costumava ser um moinho e está situado na beira do rio que atravessa o Centro da Cidade, é, na<br />

verdade, um edificio bem legal, diferentemente de toda Glen Lake, que tem todo este falso ar<br />

de cidade antiga de Glenne Loch. Se você olha o Piazzola por fora você pode até pensar que é<br />

um restaurante italiano chique porque é todo de madeira escura e iluminação fraca, mas<br />

basicamente é apenas uma pizzaria.<br />

Quando nós entramos, tinha uma longa fila formada quase que inteiramente das pessoas que<br />

estiveram no jogo.<br />

Jessica, Madson, e eu tinhamos tomado um taxi na escola, e quando Dave, Matt e Connor<br />

chegaram, cabelos molhados pelo banho, havia apenas um grupo de pessoas na nossa frente<br />

esperando por uma mesa. Pessoalmente, eu não me importaria se tivessem cinquenta grupos de<br />

pessoas na nossa frente, já que eu estava uma pilha de nervos. Como eu ia conseguir engolir<br />

algum pedaço de pizza? Eu estava num encontro. Eu estava num encontro com o garoto mais<br />

popular da escola e eu nunca tinha tido um encontro na minha vida.<br />

Minha ansiedade não diminuiu exatamente pelo fato de que assim que chegaram os garotos, os<br />

dois casais começaram a se beijar enquanto eu e Connor ficamos ali em pé. Seu cabelo<br />

molhado estava brilhando,e suas bochechas estavam vermelhas.<br />

―Oi‖, ele disse,sorrindo. ―Você veio‖.<br />

―Eu vim‖, eu disse.<br />

Os olhos deles estavam num azul profundo, e enquanto nós nos encarávamos, ele colocou os<br />

braços em volta do meu ombro, se aproximou de mim, mal encostando seus lábios na minha<br />

bochecha. Eu senti uma agradável brisa de alguma coisa doce e deliciosa – Colônia, sabonete<br />

ou shampoo, eu não tinha certeza. Meu coração pulou até a garganta e eu não pude mais<br />

respirar. Eu tive certeza que eu ia desmaiar.<br />

Pra minha sorte, os casais logo pararam de se beijar e Connor deu um passo atrás.<br />

―Dave, Matt, vocês conhecem a Lucy‖, disse Jéssica.<br />

―Oi‖, disse Dave.<br />

―Oi‖, disse Matt.<br />

―Oi‖, eu disse. ―Grande jogo‖.<br />

Matt e Dave murmuraram obrigado, eu me perguntei se eles se sentiram estranhos de levar<br />

crédito de uma vitória que eles não tinham contribuído em nada. Então, pensei, talvez eles<br />

ainda estejam amargos pela derrota do Chicago para os Lakers semana passada. Enquanto eu<br />

estava tentando me decidir como eu poderia abordar o assunto do Chicago Bulls sem parecer<br />

que eu estava me vangloriando, a recepcionista veio até onde nós estávamos e chamou o nome<br />

da Jéssica.<br />

―Somos nós‖, disse Jéssica. ―Mesa para seis‖.Enquanto nós entrávamos pelo restaurante atrás


da recepcionista, Connor colocu seus braços em volta dos meu ombro como se fosse uma coisa<br />

que ele tivesse feito um milhão de vezes antes. Nós passamos no mínimo por 5 ou 6 mesas de<br />

estudantes do Glen Lake, e em cada uma delas, alguém sempre acenava e dizia. ―Oi,Connor‖<br />

ou ―Grande jogo, Connor‖ ou ―Como vai,Connor?‖ E até um simples, ―E aí, cara!‖ Connor não<br />

parou pra falar com ninguém, mas ele sorriu para muitos e disse ―oi, cara‖, algumas vezes para<br />

pessoas que eu não conhecia. Todos que chamaram Connor também sorriram para mim, o que<br />

foi bem legal, mesmo que alguns dos sorrisos parecessem mais com um ponto de interrogação.<br />

Assim que o garçom tirou nosso pedido, Madison virou para o Connor. ―Aquele foi um<br />

arremesso maravilhoso‖, ela disse. Eu imaginei se ela realmente viu ele fazendo o arremesso da<br />

vitória, ou se só estava repetindo o que ouviu as outras pessoas falarem.<br />

―É‖, disse Dave.‖Grande jogada‖. Ele e Connor bateram as mãos por cima da mesa.<br />

―Obrigado, cara‖, disse Connor. Ele tinha tirado a jaqueta e o suéter e estava usando apenas<br />

uma camiseta cinza que mostrava o quanto os ombros dele eram bem definidos.<br />

Meu estomago revirou, e eu tive que olhar para o outro lado.<br />

―Então, ruiva‖, ele disse. Demorou um minuto para eu perceber que ele estava falando comigo.<br />

―Você gostou do jogo?‖ Ele colocou sua mão nas costas da minha cadeira.<br />

―Foi um grande jogo‖, eu falei pra ele,―eu fiquei roendo minhas unhas o tempo inteiro‖.<br />

―Lucy sabe tudo sobre basquete‖, Jéssica informou Connor.<br />

―Bem, depois daquela vitória do Lakers, eu estou planejando levar as provisões dela bem mais<br />

a sério‖, Connor disse, sorrindo um sorriso privado só para mim.<br />

―O que?‖perguntou Madison, e quando Connor não explicou, ele se voltou para Matt, ―Que<br />

provisões?‖ ela perguntou.<br />

Eu sorri de volta para Connor e olhei dentro de seus olhos azuis.―É por isso que você quis que<br />

eu viesse esta noite?‖ eu perguntei, balançando a cabeça. ―Pra ter meus palpites para as finais?"<br />

Ele arqueou a sombracelha para mim. ―Talvez seja isso‖, ele disse. ―Talvez seja isso‖.<br />

Quando não tinha mais nada sobrando das duas grandes pizzas que nós pedimos, a não ser uns<br />

pedaços de borda, Jessica, Madison e eu pedimos licença e fomos ao banheiro. Enquanto<br />

Jessica e eu fazíamos xixi, Madison ficou em frente ao espelho contando para nós quantas<br />

calorias tinha em cada pedaço de pizza. Assim que eu saí do reservado, Maddison virou pra<br />

mim e perguntou se eu achava que ela estava gorda. Quando eu disse que não, ela esperou a<br />

Jéssica sair do reservado e então perguntou a Jessica se ela achava que ela estava gorda. Jessica<br />

disse que não. Madison disse que nós duas éramos mentirosas e beliscou uma gordura bem<br />

acima do quadril para provar sua teoria.<br />

Quando nós voltamos para mesa havia um monte de dinheiro no centro dela.Eu peguei a minha<br />

bolsa para tirar o dinheiro.<br />

―Não se preocupe‖, disse Connor, ―Eu paguei a sua parte‖.<br />

Paguei a sua parte.


Então ele riu para mim, como se pagar meu jantar fosse a coisa mais normal do mundo.<br />

―Obrigada‖, eu disse. Mas o que eu queria dizer era , Connor, sou toda sua.<br />

Connor, Dave e Matt se levantaram. ―Vocês, garotas, podem nos comprar sorvetes‖, disse Matt.<br />

―Ah, Ei‖, disse Madison enquanto seguíamos os garotos para fora do Piazzola, ―eu não vou<br />

comer sorvete. Vocês sabem o quanto de gordura tem numa bola de sorvete?‖<br />

Nós descemos a Rua Main em direção a Sorveteria Gelato e na primeira ou segunda quadra eu<br />

me dei conta de quanto nós dois estávamos calados. Jessica e Dave estavam tendo algum tipo<br />

de conversa aconchegante (Jessica estava fazendo gestos e Dave assentia com a cabeça), e<br />

Madison e Matt estavam rindo, mas Connor e eu estávamos apenas andando, sem falar nada.<br />

Justo quando eu tive certeza que minha falta de coisas interessantes para dizer estava tornando<br />

o meu encontro dos sonhos em um pesadelo, Connor colocou sua mão bem atrás do meu<br />

pescoço.<br />

Você pode até achar que é desconfortável ter alguém te segurando pelo pescoço, mas não é. É<br />

exatamente o oposto, de fato. Eu não sei se era por causa de todos os treinos com a bola de<br />

basquete, mas Connor Pearson sabia exatamente como colocar as mãos po trás do pescoço de<br />

uma pessoa, não tão gentil, e também não tão apertado. Quando nós chegamos na sorveteria,<br />

ele estava usando seu dedão e dedo indicador para me fazer uma massagem realmente leve, e<br />

eu sabia que não importava que nós não estivessemos conversando.<br />

Nós andamos em volta da vila comendo nossos sorvetes por algum tempo até que os garotos<br />

tiveram que voltar para casa por causa do toque de recolher. Madison me acenou enquanto ela e<br />

Matt andavam em direção ao carro dele, e Jessica me deu um abraço apaixonado como aqueles<br />

que ela dava em Madison depois de uma prova de Matemática.<br />

―Te vejo segunda‖, ela disse, finalmente me soltando e seguindo em direção ao carro de Dave.<br />

―Sim, te vejo segunda‖, eu disse. Connor e eu andamos em direção ao carro dele e ele manteve<br />

a porta aberta para mim enquanto eu deslizava pelo couro do banco de passageiros.<br />

Por toda noite eu tentei manter meu ar sofisticado de quem não estava nem aí, como se sair<br />

com um cara lindo, popular, mais velho, fosse uma coisa que eu fizesse regularmente em<br />

Wellington. Agora que Connor e eu estávamos sozinhos, contudo, a fachada estava caindo.<br />

Violentamente.Meu estomago estava dando nós. Minha boca estava como o deserto do Saara.<br />

Eu busquei uma bala na minha bolsa, mas assim que meus dedos fizeram contato com a<br />

embalagem da bala, me ocorreu que talvez aparecendo de repente com um curioso cheiro forte<br />

de menta na minha boca, assim que eu acabei de entrar no carro, podia me dar uma imagem de<br />

garota fácil, como, Oi, eu acho que nós vamos nos beijar a qualquer momento, e eu quero estar<br />

preparada. Eu fechei a minha bolsa deixando o pacote de Altoids dentro.<br />

Eu nunca estive num carro com um garoto antes. Quer dizer, obviamente, eu já estive nm carro<br />

com uma espécie masculina, mas eu nunca fui levada em casa de um encontro por um garoto.<br />

Connor apertou um botão no rádio e Mos def começou a tocar. O volume estava um pouco alto<br />

para que nós dois pudéssemos conversar, mas Connor não pareceu se importar, então também<br />

não me importei. Ele pousou sua mão levemente no meu joelho enquanto dirigia.<br />

Quando nós chegamos na minha vizinhança, eu falei minhas primeiras e únicas palavras de<br />

todo caminho: ―Vira a esquerda na esquina‖, seguido por, ―é a terceira casa a direita‖.


―Bem, é isso‖, eu disse. Enquanto Connor diminuia a velocidade em frente a minha casa e<br />

estacionava o carro, minhas mãos começaram a suar.<br />

―Ei, ruiva‖, ele disse,e tirou seu cinto de segurança.<br />

Na luz baixa do carro , eu podia apenas ver suas bochechas e seu perfil perfeito.E então tudo<br />

começou a ficar borrado e eu percebi que ele estava se inclinado na minha direção.<br />

Seus lábios eram macios, e ele colocou suas mãos em volta da minha nuca e moveu seus dedos<br />

gentilmente sob os meus cabelos. Beijar ele era como tomar um copo de água cristalina e<br />

gelada quando você está queimando de calor.Eu não queria parar nunca mais.<br />

Quando ele finalmente se separou de mim e eu abri meus olhos, eu não conseguia me focar em<br />

nada.<br />

―Eu tenho que ir‖, ele disse suavemente,―toque de recolher‖.<br />

―Ah,certo‖, eu disse, ―toque de recolher‖.<br />

―Eu me diverti muito hoje a noite‖, ele disse.<br />

Eu mal podia formar as palavras, meus lábios estavam derretendo.<br />

―Eu também‖, eu finalmete consegui dizer.<br />

―Então, te vejo segunda‖, ele disse.<br />

Eu assenti, e alcancei a porta para abri-la, e comecei a sair sem tirar o cinto de segurança, o que<br />

me puxou de volta. Eu votei para o mesmo lugar que estava.<br />

―Eu esqueci de tirar meu cinto‖, eu disse. Mesmo sabendo que eu não bebi nada, me senti<br />

bêbada.<br />

―Sim‖, ele disse, e se inclinou e me beijou de novo antes de alcançar o cinto e abri-lo para mim.<br />

―Agora sim‖, ele disse.<br />

―Obrigada‖, eu disse. Eu saí pela porta e fechei ela atrás de mim. Agora era como se todo meu<br />

corpo estivesse derretendo, demorei um tempo pra poder me coordenar para ir me afastando do<br />

carro. Eu me virei e vi Connor dirigindo para longe. Minhas bochechas estavam quentes e meus<br />

lábios estavam inchados, como se eu estivesse mordendo eles. Então eu flutuei de volta pra<br />

casa, percebendo que possivelmente eu passei a melhor noite da minha vida.<br />

Aparentemente ser Cinderela não era tão ruim assim.


Capítulo 8<br />

Quando eu acordei de manhã eu me senti tão bem como se tivesse ganhado as finais da NBA.<br />

Não só eu tinha tido o mais perfeito, maravilhoso, incrível (para não mencionar único) encontro<br />

da minha vida, eu ia realmente passar um dia sozinha com o meu pai, algo que não acontecia<br />

desde que morávamos em uma costa diferente.<br />

―Lucy, está acordada?‖ Era o meu pai gritando da cozinha. Eu olhei para o relógio – dez e<br />

quinze. Nós deveríamos estar a caminho do Guggenheim em trinta minutos.<br />

―Estou!‖ Eu gritei, jogando as cobertas para longe de mim e saltando para fora da cama.<br />

Meu pai odeia esperar as pessoas.<br />

Enquanto me apressava para ficar pronta, eu mantinha o filme do beijo de Connor correndo na<br />

minha mente. Eu o via se inclinar na minha direção, perfeitamente iluminada pelas luzes da rua.<br />

Eu senti sua mão na minha cintura, seus lábios encostando contra a minha têmpora.<br />

Geralmente meu pai começa a marchar pela sala como um animal engaiolado, checando seu<br />

relógio e suspirando dramaticamente a medida que a hora estimada de partida se aproxima.<br />

Mas essa manhã quando eu subi as escadas, ele estava lendo calmamente o jornal na sala de<br />

estar, e eu era quem estava inquieta para ir embora. Eu mal conseguia esperar para entrar no<br />

carro e começar a contar a ele tudo sobre a minha noite.<br />

Bem, talvez não tudo sobre ela.<br />

―Vamos, vamos, Senhorzinho,‖ eu disse, apontando para o meu pulso onde meu relógio, se eu<br />

usasse um, estaria. ―Você acha que Patton leu a seção de Artes e Lazer no dia D?‖<br />

Meu pai olhou para cima. ―Bem, bem, bem, como estamos no horário certo,‖ ele disse. ―Você<br />

parece praticamente pronta para sair por essa porta.‖<br />

―E você pode tirar o ‗praticamente.‘ Eu estou saindo.‖ Eu comecei a ir em direção a porta.<br />

―Eu acho que Mara está um pouco atrasada,‖ meu pai disse. ―Nós estamos ajustando a hora<br />

estimada de partida em meia hora.‖<br />

"Mara?" Eu disse como se nunca tivesse ouvido o nome antes.<br />

―Não se preocupe, Sargento, nós logo a colocaremos em nosso patamar de pontualidade,‖ disse<br />

meu pai.<br />

Eu fiquei feliz de estar de costas para ele para que ele não conseguisse ver a expressão em meu<br />

rosto. Eu tentei deixar minha voz neutra. ―Eu só não... Quero dizer, eu não sabia que ela ia,‖ eu<br />

disse. Assim que eu consegui moldar minha boca em algo semelhante a um sorriso, eu me virei.<br />

―Claro que ela vai,‖ disse meu pai. Ele pareceu confuso. ―Por que ela não iria?‖<br />

Bem, por que ela iria? ―Eu achei que íamos, sabe, para a cidade só nós dois.‖ Eu tentei lembrar<br />

da própria conversa em que contei a ele sobre a exibição. Ele tinha mencionado que Mara ia?


Quando eu disse ―juntos‖ ele achou que eu quis dizer os três de nós juntos?<br />

Agora meu pai estava franzindo a testa. Ele abaixou sua voz. ―Lucy, eu acho que iria realmente<br />

machucar os sentimentos da Mara se ela achasse que você não quer que ela vá conosco.‖<br />

Eu abaixei a minha, também. ―Não é que eu não queira que ela vá,‖ eu comecei. Mas também<br />

eu não sabia como terminar a sentença. Porque honestamente, era exatamente o que era.<br />

―Eu achei que você gostasse da Mara,‖ disse o meu pai. Ele não parecia mais bravo, ele parecia<br />

magoado, como se eu tivesse aberto um presente que ele estava muito animado em me dar só<br />

para ver o meu rosto cair.<br />

―Eu gosto da Mara,‖ eu disse. ―Sério.‖ Eu fui até onde ele estava sentado e fiquei no chão ao<br />

lado da cadeira dele. Ele colocou sua mão na minha cabeça.<br />

―Querida, somos uma família agora,‖ ele disse. ―E famílias fazem as coisas juntas.‖<br />

Eu estava prestes a dizer que muitas famílias que eu conheço fazem coisas separadamente, mas<br />

bem quando eu abri minha boca, Mara desceu a escada.<br />

―Tcha-ram!‖ ela disse, de pé na arcada entre a sala de estar e o vestíbulo. ―Só quinze minutos<br />

atrasada. Um recorde pessoal.‖<br />

Meu pai aplaudiu. ―E valeu cada segundo extra,‖ ele disse. Ela veio e beijou o topo da cabeça<br />

dele, então se inclinou e beijou o topo da minha. Meu escalpo latejou com aborrecimento onde<br />

os lábios dela tinham tocado-no.<br />

―Pronto?‖ ela perguntou.<br />

―Podi apostá,‖ disse meu pai, ficando de pé. Ele esticou sua mão e me ajudou a levantar do<br />

chão. "Lucy? Está pronta?‖<br />

Eu olhei para cima. Seu rosto era uma mistura de preocupação e impaciência que eu nunca<br />

tinha visto antes. ―É,‖ eu disse, esticando a minha mão para pegar a dele. ―Estou pronta.‖<br />

Quando chegamos no carro, eu abri a porta do lado do passageiro e estava prestes a entrar<br />

quando vi meu pai olhando para mim. Ele franziu a testa e balançou sua cabeça ligeiramente.<br />

Eu fiz uma careta para ele gesticulou em direção ao assento. ―Entra,‖ eu disse para Mara.<br />

―Agora, é isso que eu chamo de serviço,‖ ela disse, deslizando para dentro do carro. Eu fechei a<br />

porta e abri a de trás, deslizando pelo assento traseiro para sentar no meio. Eu capturei o olhar<br />

do meu pai enquanto ele olhava no espelho retrovisor antes de recuar.<br />

―Você está bem aí atrás?‖ ele perguntou.<br />

Mas era mais uma afirmação que uma pergunta, então eu dei a resposta que eu sabia que ele<br />

queria. ―Claro,‖ eu disse. ―Simplesmente ótimo.‖<br />

―É isso que nós gostamos de ouvir,‖ ele disse, colocando o carro em marcha ré.<br />

Certamente é, eu pensei. Certamente é.


―Graças a Lucy, nós vamos ver uma das mostras de arte mais quentes em Nova York,‖ meu pai<br />

disse, esticando sua mão sobre a marcha e pegando a mão de Mara. Não havia tráfego na<br />

alameda, e ele estava dirigindo a cerca de mil seiscentos e nove quilômetros por hora.<br />

―Clemente é o sucesso do momento.‖ Deitada no assento traseiro, eu girei meus olhos para o<br />

teto do carro.<br />

Mara virou-se e sorriu para mim. ―Como você ficou sabendo da mostra?‖<br />

Eu sabia que ela só estava falando comigo porque o meu pai estava ali, então mantive minha<br />

resposta o mais curta possível. ―Da minha professora de artes.‖<br />

Mara ainda estava virada me encarando. ―Deve ser legal para você ter uma professora que você<br />

respeita tanto na aula de artes,‖ disse Mara.<br />

―É? Por que isso?‖<br />

Mara estava sempre falando sobre como é importante que as garotas tenham bons professores<br />

de matemática e ciência porque uma vez que elas cheguem no ensino médio, elas<br />

aparentemente começam a bombar nessas matérias. É bem engraçado ouvir ela falar seus<br />

monólogos feministas, considerando que ela passou sua vida adulta inteira sendo sustentada por<br />

não somente um mas dois maridos. Eu acho que a idéia da minha madrasta de oportunidade<br />

igualitária é a mulher aproveitar toda oportunidade que tiver para descontar algo no cartão de<br />

crédito do homem.<br />

Ela derrubou a mão do meu pai, esticou a mão atrás de si, e deu tapinha na minha coxa antes de<br />

se virar para frente de novo. ―Bem eu acho que estava pensando no quão importante a Sra.<br />

Daniels deve ser já que sua mãe era uma artista,‖ ela disse.<br />

Mara está totalmente convencida de que eu nunca falo sobre a minha mãe por causa do quão<br />

traumatizada eu estava por sua morte. É uma das muitas teorias brilhantes sobre<br />

comportamento humano que ela confeccionou da biblioteca de livros de auto-ajuda que ela<br />

acumulou durante seus anos como divorciada. Eu me sentei e tentei fazer com que meu pai<br />

fizesse contato visual comigo ao encarar o espelho retrovisor, mas apesar de ser um dia<br />

nublado, ele tinha colocados os seus óculos de sol do Exterminador do Futuro, e eu não<br />

conseguia encontrar seus olhos.<br />

―Ela é legal,‖ eu disse, e eu deitei de novo.<br />

O Museu Guggenheim fica na esquina da Fifth Avenue com a Eighty-Ninth Street, diretamente<br />

do outro lado do Central Park. Frank Lloyd Wright designou o estranho e lindo prédio – uma<br />

pilha de círculos brancos que se expandiam de baixo para cima. Hoje o museu estava lotado de<br />

turistas, a maioria dos quais parecia que tinha acabado de sair de um cruzeiro e mal conseguia<br />

esperar para voltar a bordo. Enquanto líamos o painel introdutório da exibição, Mara, que<br />

estava inclinada contra o meu pai, sussurrou algo em seu ouvido, e ele riu e envolveu o braço<br />

que não estava ao redor da cintura dela ao redor de seu peito.<br />

Era isso que ele queria dizer por famílias fazendo coisas juntas?<br />

―Ei, pai, olha só isso,‖ eu disse, ―esse não seria um nome ótimo para uma banda – Criação<br />

Extraordinária?‖ Eu apontei para a frase no painel.


Meu pai estava sussurrando algo no ouvido da Mara quando eu comecei a falar, e agora ambos<br />

olharam para mim, como se tivessem esquecido que eu estava lá.<br />

―O que você disse, querida?‖ ele pergunta.<br />

Bem quando eu ia me repetir, meu pai fez cócegas em Mara, que deixou escapar um grito e<br />

disse, ―Doug!‖<br />

Deus, comparado a esses dois, Madison e Matt realmente tem uma certa decência.<br />

―Eu disse que eu acho que vou seguir,‖ eu disse.<br />

―Por quê?‖ Mara estava com seus dedos entrelaçados nos do meu pai. Suas bochechas estavam<br />

coradas.<br />

―Eu meio que tenho que olhar umas coisas para a aula.‖<br />

―Você quer dizer, como uma tarefa?‖ perguntou meu pai. Ele tinha corrido uma mão pelo<br />

cabelo de Mara, deixando seus dedos descansarem na sua nuca. Eu pensei na noite passada e<br />

em Connor segurando meu pescoço.<br />

Tudo tinha oficialmente ficado um tantinho estranho demais.<br />

―É, exatamente,‖ eu menti. ―Como uma tarefa.‖<br />

―Bem, está certo,‖ ele disse. ―Suponho que nos encontraremos no final.‖<br />

Eu já estava recuando, me perdendo na multidão. ―Ótimo,‖ eu disse, concordando<br />

entusiasmadamente. ―Vejo vocês no final.‖<br />

Eu caminhei por décadas do trabalho de Clemente, nervosa demais para ver qualquer uma das<br />

telas brilhantemente coloridas ao meu redor. Se tudo o que ele ia fazer era acariciar Mara, por<br />

que meu pai se incomodou em vir? Ele realmente queria arruinar o meu dia? Essa era uma<br />

teoria plausível, exceto que para planejar arruinar meu dia meu pai teria que na verdade pensar<br />

em mim, algo que ele claramente não fazia mais.<br />

E então, de repente, bem quando eu estava considerando sair com tudo na Fifth Avenue e<br />

deixar Mara, meu pai, e o museu para trás, eu parei com tudo por causa de uma pintura que<br />

ocupava quase uma parede inteira: um rosto amalucado de vermelho e verde e amarelo. A boca<br />

estava aberta em um sorriso, e cada dente era um crânio. A língua era um impossível rosa<br />

pálido e delicado. Sentado na afiada ponta do lindo e do grotesco, não era como qualquer outra<br />

obra de arte que eu já tinha visto.<br />

Eu não sei quanto tempo eu fiquei parada ali, de boca aberta, quando eu notei o cara que ficava<br />

olhando da pintura para mim sem parar. Eu me endireitei um pouco mais antes de perceber que<br />

era só Sam Wolff da minha aula de artes. Sam tem cabelo preto e encaracolado, e quando ele<br />

está pintando ou desenhando, ele o puxa, então geralmente quando eu o vejo seu cabelo está<br />

mais ou menos de pé. Mas eu acho que quando ele não faz isso, ele fica deitado mais<br />

planamente, o que explicaria minha falha em reconhecê-lo de primeira.<br />

―Ei,‖ ele disse, virando-se para me encarar. ―Você está na minha aula de artes.‖ Ele não sorriu.


―Ah, certo,‖ eu disse. ―Eu estava tentando descobrir de onde eu te conheço. O que você está<br />

fazendo aqui?‖ Eu me perguntei se a Sra. Daniels tinha lhe contado sobre o museu, também.<br />

Por um lado, eu gostava da idéia de que eu era a única estudante para a qual ela tinha contado<br />

sobre a exibição. Pelo outro, se ela ia me agregar com outro de seus estudantes, Sam Wolff não<br />

era exatamente uma companhia pobre artisticamente.<br />

―O que eu estou fazendo aqui?‖ perguntou Sam. Ele olhou ao redor para as pinturas e então de<br />

volta para mim. ―Estou comprando um sofá-cama.‖<br />

Eu não sabia se ele estava rindo comigo ou de mim. ―Engraçado,‖ eu disse.<br />

Quando ele não disse nada, eu provavelmente deveria ter tomado seu silêncio como um sinal<br />

sutil de que ele não estava interessado em prosseguir com a conversa, e mesmo assim eu<br />

mergulhei nela. ―Então, gostou da exibição?‖ Eu perguntei.<br />

Ele tinha voltado a olhar para a pintura. ―O quê?‖ ele perguntou distraidamente.<br />

―Você gostou da exibição?‖ Minha pergunta, que não tinha sido exatamente brilhante da<br />

primeira vez, soou completamente idiota da segunda.<br />

―Se eu gostei dela?‖ Sam repetiu minha pergunta lentamente, rolando as sílabas em sua boca ou<br />

porque não estava certo de como responder a ela ou porque ele sentia que estava<br />

experimentando um sabor novo e particularmente impressionante de idiotice.<br />

―Sim,‖ eu repeti em uma voz esnobe. ―Você gostou dela?‖ Por que eu estava sendo tão rude?<br />

Afinal de contas, ele só repetiu a minha pergunta. Muitas pessoas faziam isso e eu não<br />

estourava com elas. Mas havia algo no jeito como ele estava parado aqui, silenciosamente,<br />

como se estivesse totalmente sozinho com a pintura, como se eu nem ao menos estivesse aqui,<br />

isso estava me enlouquecendo.<br />

Mas também, era meio como eu estava parada aqui há um minuto.<br />

Sam finalmente olhou para mim. ―Sim,‖ ele disse. ―Eu gostei.‖<br />

―Ah,‖ eu disse, despreparada para tal resposta civil. ―Bem, eu gostei, também.‖<br />

Sam correu sua mão pelo seu cabelo. Com seus cachos novamente guindados para o teto, ele<br />

parecia mais com o cara na minha aula de artes do que parecera há um minuto.<br />

―Isso é... ótimo,‖ ele disse.<br />

―É,‖ eu disse. ―Ótimo.‖<br />

Ele olhou para seu relógio. ―Bem, eu tenho que ir,‖ ele disse. ―Eu vou me encontrar com<br />

alguém no centro.‖<br />

―Ah, é, é claro,‖ eu disse. Eu olhei para o meu punho sem relógio. ―Eu devia ir andando logo,<br />

também.‖<br />

―Está bem. Bem, tchau,‖ ele disse, virando-se para ir.<br />

―É, está bem. Tchau.‖ Eu o observei desaparecer na multidão.


Eu vaguei por uma salinha no espaço da exibição principal. No passado, sempre que meu pai e<br />

eu íamos a um museu, nós jogávamos esse jogo onde tínhamos que escolher qual pintura<br />

queríamos se só pudéssemos ter uma. Eu tentei jogar o jogo sozinha, andando lentamente pela<br />

sala e parando perante cada peça enquanto eu imaginava possuí-la. As coisas aqui eram<br />

completamente diferentes da pintura que eu acabara de olhar; tudo nessa sala ou era uma<br />

página de um manuscrito diminutamente iluminado ou um desenho de lápis igualmente<br />

intrincado. Eu imaginei pendurar primeiro uma peça e então outra na minha sala. Mas não era<br />

divertido sem ter alguém para quem mostrar o que eu tinha escolhido, então finalmente eu parei<br />

de tentar e me dirigi para o lobby. Eu acabei vagando pela loja de lembranças, onde meu pai e<br />

Mara estava comparando anéis de guardanapo. Eu os observei por um minuto, rindo e falando<br />

juntos, antes de eu chamar o meu pai. Ele olhou para cima, mas ele não pareceu<br />

particularmente feliz em me ver nem nada.<br />

Na corrida toda de volta no carro, eu tentei descobrir o que estava de errado comigo. Como<br />

você pode ser a Cinderela depois de ela conhecer seu príncipe e ainda se sentir incrivelmente<br />

triste?


Capítulo 9<br />

A primeira coisa que eu fiz quando o ônibus parou na Escola na segunda feira de manhã foi ver<br />

se a SUV do Connor estava no estacionamento dos sêniors. E estava. Eu vou dizer isso pelos<br />

dependentes de carro no subúrbio-é bem mais fácil achar um carro aqui do que em uma grande<br />

metrópole como São Francisco.<br />

À caminho da aula de química, minha última aula antes do intervalo, eu ainda não tinha visto<br />

Madison, Jessica, ou Connor, mas eu comecei a me sentir estranha. Todos os lugares que eu ia<br />

pequenos grupos de pessoas estavam cochichando uns com os outros. Primeiro eu me perguntei<br />

se algum escândalo tinha acontecido no fim-de-semana, como em Novembro quando dois<br />

garotos foram expulsos por vender Ecstasy. No meu caminho entre a aula de química e a<br />

cafeteria, no entando, eu comecei a perceber que a conversa estava mais localizada, uma coisa<br />

que me seguia por todo lado. Duas conversas cessaram assim que eu passei e começaram logo<br />

depois que eu estava longe o suficiente para não escutar. Eu achei que estava sendo paranóica,<br />

mas depois eu passei por um grupo de garotas sênior que eu não conhecia que estavam<br />

conversando perto de seus armários. Assim que eu me aproximei elas pararam de conversar e<br />

olharam para mim. Então, enquanto eu passava, elas disseram, "Oi," mesmo que eu nunca<br />

tivesse dito uma palavra à elas.<br />

"Oi,"eu disse de volta, pensando, O que está acontecendo?<br />

De repente eu comecei a ter uma sensação estranha no meu estômago. E se Connor tivesse dito<br />

ao Dave ou ao Matt sobre como nós demos uns amassos no carro, só que ele transformou isso<br />

numa espécie de piada. É, cara, ela estava totalmente na minha. Ela praticamente pirou<br />

quando eu a beijei. Eu lembro como eu tinha ficado tão desorientado que tinha tentado sair do<br />

carro sem tirar o cinto de segurança. Seria sobre isso que estavam todos falando? Lembrando<br />

de todos os filmes que eu tinha visto em que o cara bonito e popular chama a garota feia e<br />

impopular para sair por causa de uma aposta, eu andei rápido, sem encontrar os olhos de<br />

ninguém por quem eu passava.<br />

A cafeteria estava lotada, mas ao invés de pegar meu sanduíche e seguir para a saída em<br />

direção ao estúdio, eu me encontrei andando até a mesa em que Madison, Jessica e eu sentamos<br />

na sexta-feira. Quando eu me aproximei, eu pude ver Jessica sentada lá sozinha, mas quando eu<br />

estava para acenar, eu me parei. E se a Madison tivesse planejado toda essa coisa com o Connor<br />

para me humilhar? Por que eu tinha sido tão rápida em avaliar a Madison como estúpida<br />

demais para inventar uma piada prática e compelxa? É isso que acontece quando você<br />

subestima as pessoas-elas destroem você.<br />

Eu decidi que eu ia diminuir a velocidade enquanto me aproximava da mesa de Jessica, mas<br />

não iria parar. Dessa maneira, se ela não me pedisse para sentar com ela, eu podia fingir que eu<br />

só estava passando ao ir me juntar aos meus outros amigos. Quando eu estava a duas mesas de<br />

distância, eu cortei minha velocidade pela metade, e no momento em que eu estava a uma mesa<br />

de distância da de Jessica, um caracol paralítico poderia me ultrapassar. No momento em que<br />

eu ia começar a andar para outro lugar, Jessica olhou para cima, me viu, e falou com alegria.<br />

"Ah meu Deus," ela disse, correndo e me dando um abraço. "Eu posso só dizer," ela andou<br />

comigo de volta à mesa e me puxou para perto dela, "que vocês dois são adoráveis juntos?"<br />

"Você realmente acha?" eu senti a urgência em administrar um polígrafo* naquele instante.<br />

* detector de mentiras


"Ah meu Deus, você está brincando? Eu queria que você pudesse ver vocês dois. Foi tudo<br />

sobre o que nós falamos o fim-de-semana inteiro. A gente queria te ligar, mas nós não sabemos<br />

seu celular. Então nós ficamos pensando, 'Eles não fazem o casal mais fofo?'"<br />

Eu não sabia o que dizer. Eu nunca tinha sido parte de um casal fofo antes.<br />

"Oo-i!" chamou Madison, caminhando até nós. Ela caiu na cadeira do lado oposto à Jessica<br />

com sua enorme mochila no ombro. "Por favor digam que alguma de vocês sabe alguma coisa<br />

sobre as imagens de O Grande Gatsby?"<br />

"A gente o leu no primeiro semestre. É tudo sobre a luz verde." disse Jessica. "Só fique falando<br />

sobre a luz verde"<br />

"Por cinco páginas?" Madison balançou a cabeça e mudou de assunto. "Mas chega de falar<br />

sobre mim. Como estão vocês?"<br />

Minha porta-voz respondeu com entusiasmo. "Como você acha que ela está?" ela colocou os<br />

braços ao redor dos meus ombros e me deu um abraço. "Ela é simplesmente, tipo, a namorada<br />

do Connor Pearson."<br />

"Eu sei!" Madison praticamente gritou. Ela colocou a mochila no chão e se inclinou em minha<br />

direção. "Ele está totalmente afim de você. Ele disse ao Matt que te acha muito inteligente." Ela<br />

fez uma pausa e sorriu para mim. "E bem sexy. Ele disse que ia te convidar para ir ao jogo na<br />

sexta-feira." Ela colocou minhas mãos nas delas e então alcançou as de Jessica também. "Quão<br />

incrivelmente legal é isso?"<br />

"Certo, nos conte tudo," disse Jessica. Ela estava sorrindo e apertando minhas mãos<br />

firmemente.<br />

Quando foi a última vez que alguém me pediu para contar qualquer coisa, muito menos tudo?<br />

A curiosidade delas era como o calor do sol após um mergulho num gelado oceano.<br />

"Ele beija bem?" perguntou Madison.<br />

"É," eu adimiti. "Ele beija bem."<br />

Jessica e Madison me deram um apertão na mão.<br />

"A gente sabia!" Madison disse.<br />

"Então, espere," disse Jessica. "Quão bom?"<br />

Eu não podia deixar de sorrir ao lembrar do meu beijo com Connor.<br />

"Oooh, ela está sorrindo," disse Madison.<br />

Eu puxei minhas mãos de volta e coloquei meu rosto nelas. "Parem," eu disse através dos meus<br />

dedos. "Vocês estão me deixando envergonhada."<br />

"Certo, nós vamos parar," disse Jessica. Mas quando eu olhei para cima ela e Madison ainda<br />

estavam me encarando e sorrindo para mim.


"Você é, tipo, tão legal," Jessica anunciou, e Madison concordou com se Jessica tivesse dito<br />

uma verdade santa.<br />

Olhando para seus rostos maravilhados, eu podia literalmente ver o poder do toque de Connor.<br />

Com o beijo dele, o príncipe tinha transformado essa enteada antipática em uma garota popular.<br />

Eu não fui atrás do Connor até depois do sexto período, quando nós estávamos indo um em<br />

direção do outro dos lados opostos do corredor. Eu o vi antes que ele me visse, e observando-o<br />

de uma distância, eu lembrei de todas as vezes que eu tinha passado por ele no corredor antes<br />

de hoje, totalmente ciente de quem ele era enquanto ele nem mesmo sabia que eu existia. Então<br />

ele me avistou, e de repente ele estava com um sorriso de orelha a orelha, como se me ver fosse<br />

a melhor coisa que havia acontecido com ele no dia.<br />

Ele era realmente meu namorado agora? Isso não parecia ser possível.<br />

"Oi, Tomate*," ele me chamou, diminuindo a velocidade. Ele estava usando um suéter verde de<br />

aparência macia com a sua jaqueta do basquete por cima. O corredor estava cheio de pessoas<br />

indo para as salas, e pelo canto do olho, eu observei que algumas delas estavam reparando em<br />

nós dois.<br />

* Eu traduzi o "Red", Vermelha, que o Connor chama a Lucy para Tomate porque "Vermelha"<br />

ficaria muito estranho :)<br />

"Oi, Connor," eu disse. Uma garota que eu não conhecia passou e disse, "Oi, Connor," e ele<br />

acenou na direção dela sem olhar para cima.<br />

"Então, você vem ao jogo na sexta, certo?"<br />

"Certo," eu disse. Pensar no jogo e que depois dele eu sairia com Connor me fez sentir<br />

excitada, e eu me arrepiei um pouco.<br />

"Você está com frio?" ele perguntou.<br />

"Ah, não, eu só-"<br />

Mas ele já estava tirando a jaqueta e colocando-a sobre os meus ombros. Era pesada e cheirava<br />

a qualquer delicioso sabonete ou colônia ou xampu que Connor usasse.<br />

"Ei, você está muito bem com ela," ele disse, me admirando. "Porque você não fica com ela por<br />

um tempo?" Ele pegou a minha mão por um segundo.<br />

"Sim, claro," eu disse."Eu vou ficar com ela por um tempo". Eu senti como se fosse desmaiar.<br />

Eu sinceramente senti como se fosse desmaiar. E eu sabia que se eu desmaiasse, Connor me<br />

pegaria no colo e me carregaria até a enfermaria, e imaginar ele fazendo isso me fez sentir<br />

como se fosse desmaiar ainda mais. Felizmente, nesse instante o sinal tocou.<br />

"Tenho que ir," ele disse. "Higby fica maluco se eu me atraso." E ele se virou e foi arrastado<br />

pela multidão.<br />

Pela hora que eu cheguei à aula de Inglês, a última do dia, eu devo ter dito oi para pelo menos<br />

50 pessoas. Talvez 150. Era como se eu fosse uma celebridade ou algo assim. Enquanto eu<br />

andava pela sala de aula vazia, eu percebi que era a primeira vez que eu tinha estado sozinha


desde o almoço. Eu sentei na minha cadeira de sempre, abri meu caderno em uma página em<br />

branco e comecei a desenhar, feliz por ter a sala silenciosa só para mim.<br />

Minha solidão, entretando, tinha uma vida curta. Um minuto depois Rachel Smith entrou na<br />

sala e correu até onde eu estava sentada, puxando a cadeira da mesa próxima à minha.<br />

Quando ela se sentou, ela explodiu uma bolha em minha direção. "Eu vi você no Pizzolla's na<br />

sexta," ela disse.<br />

"Ah, é," eu disse. "Eu jantei lá." Foi isso que nós fizemos no Piazzolla's? Eu não podia na<br />

verdade me lembrar de ter comido alguma coisa.<br />

"Quer chiclete?" ela segurou o pacote na minha direção. Durante o momento eu tinha sentido o<br />

cheiro de alguma coisa de morango.<br />

"Não obrigada," eu disse.<br />

Ela guardou o chiclete em sua bolsa. "Eu acenei quando você estava saindo, mas eu acho que<br />

você não me viu."<br />

Ela tinha acenado para mim? "Eu acho que não," eu disse. "Desculpa." Nesse instante Bethany<br />

Mille entrou e fez o caminho mais curto para a mesa vazia ao meu lado.<br />

"Oi," disse Bethany. Ela estava usando uma minisaia que teria sido muito curta até para um<br />

gato. Quando ela tirou a jaqueta, os peitos dela praticamente saíram da sua blusa de corte baixo<br />

para a mesa dela. Ela me deu um enorme sorriso.<br />

"Oi," eu disse. Rachel e Bethany, que são melhores amigas, normalmente sentam uma do lado<br />

da outra para que elas possam trocar bilhetinhos do momento em que a aula começa até o<br />

segundo em que ela termina. Uma vez, em setembro, eu cometi o erro de sentar na mesa vazia<br />

ao lado da de Bethany, e ela pediu para eu mudar de lugar. Na verdade, ela não me pediu para<br />

mudar, ela me disse para mudar. O que ela disse foi, "Você está sentada no lugar da minha<br />

amiga."<br />

"Você e Connor Pearson são o casal mais fofo," Bethany gritou. "Vocês estavam tão bem na<br />

sexta." Ela apertou meu ombrou quando disse "Sexta." Então ela deixou a mão dela cair na<br />

minha mesa.<br />

"Urn, brigada."<br />

"Porque vocês dois são tipo, altos e magros e tal. Vocês parecem dois modelos."<br />

"Obrigada," eu disse novamente. Se tem uma coisa que eu sei que não pareço com, é uma<br />

modelo. Eu olhei para baixo para o meu desenho enquanto o resto da sala começava a encher.<br />

Algumas pessoas sorriram para mim ou disseram oi.<br />

"Oooh, isso é legal," Rachel disse, olhando para o meu caderno. "Realmente parece com um<br />

copo d'água."<br />

Bethany olhou para baixo para admirar meu desenho, também. "Totalmente. Você é tipo, uma<br />

artista muito boa? Porque isso é muito bom."Ela disse acenando com a cabeça<br />

entusiasmadamente, e depois repetiu. "Muito."


"Ah, eu não sou-" eu comecei a dizer, mas nesse instante a Srta. Merriam entrou na sala.<br />

"Vamos sentar, classe," ela disse.<br />

Rachel chegou perto e deu um tapinha no meu ombro. Então ela disse com a boca, "Me liga."<br />

Eu confirmei com a cabeça, muito surpresa para mencionar que eu não tinha o número dela.<br />

Eu posso ter me transformado em realeza na escola, mas meu alto status não tinha efeito algum<br />

na minha vida em casa, onde eu permanecia tão invisível quanto sempre. No jantar Mara e suas<br />

filhas falavam exclusivamente sobre as compras que elas tinham feito depois da escola (sem<br />

mim, naturalmente). Pricesa Um não podia se decidir se ela deveria ter comprado um suéter<br />

verde, como tinha feito <strong>Prince</strong>sa Dois, ou se ela estava certa em tê-lo comprado em azul, como<br />

Mara. Mara prometeu que elas poderiam voltar ao shopping na sexta feira e <strong>Prince</strong>sa Um<br />

poderia ter o suéter verde, também.<br />

Enquanto <strong>Prince</strong>sa Dois reclamava sobre o quão injusto isso era, Mara ouvia atentamente,<br />

comendo pequenas porções da sua comida seguidas por um pequeno gole de água.<br />

"Ah, garotas, eu quase esqueci," ela disse depois de assegurar à <strong>Prince</strong>sa Dois que ela também<br />

podia comprar outro suéter."O pai de vocês ligou e disse que vocês precisam levar algo<br />

arrumado para usar nesse fim-de-semana porque eles vão receber algumas pessoas para jantar<br />

no sábado a noite."<br />

"Eu odeio quando eles têm companhia," reclamou <strong>Prince</strong>sa Um, batendo o grafo no prato com<br />

impaciência.<br />

"É tão injusto," disse <strong>Prince</strong>sa Dois. "Nós temos que sentar lá sem dizer nada e todo mundo nos<br />

ignora."<br />

"Eu vou falar com Diana sobre isso," disse Mara. "Vocês duas são uma adição adorável ao<br />

jantar. Ela deveria ser mais atenciosa."<br />

As <strong>Prince</strong>sas odeiam a madrasta delas Diana com uma paixão, e eu tenho a sensação que era<br />

mútuo. Eu tinha encontrado com Diana algumas vezes quando ela e o pai das <strong>Prince</strong>sas deixava<br />

ou pegava-as, e eu sempre tentei usar telepatia para que ela soubesse que eu compartilhava os<br />

sentimentos dela e que ela tinha 100% do meu apoio.<br />

"Sinto muito, amorzinho," disse Mara. Eu juro, ela estava praticamente chorando. Era tudo que<br />

eu podia fazer para não vomitar o meu risoto.<br />

"Você não entende," disse <strong>Prince</strong>sa Dois. Então ela caiu na cadeira como se ir para a casa do<br />

pai equivalesse a ir à cadeira elétrica. "Você não sabe como é viver com a Diana."<br />

Eu queria colocar que ela na verdade também não sabe como é viver com a Diana considerando<br />

que ela "mora" com ela a cada 4 dias do mês. Depois eu queria dizer que eu sou quem vive com<br />

uma terrível madrasta 365 dias por ano, e que se eu só tivesse que fazer isso dois fins-desemana<br />

por mês, eu me consideraria sortuda.<br />

Eu terminei meu risoto e coloquei mais um pouco no meu prato. Mara observou o que eu estava<br />

fazendo com suas sobrancelhas levantadas. "Lucy, você não precisa devorar sua comida. Ela<br />

não vai a nenhum lugar."


"Desculpa."<br />

"Se você comer rápido demais, seu cérebro não consegue registrar que seu estômago está cheio.<br />

É por isso que você deve comer pequenos bocados e lavar cada um com um gole de água."<br />

No momento em que eu ia dizer à Mara o que ela podia fazer com a água dela, o telefone tocou.<br />

Eu olhei para o meu relógio. Oito horas. A única esperança que eu tinha de ter pelo menos um<br />

segundo a sós com meu pai era se eu fosse mais rápida que Mara. "Eu atendo," eu disse. Eu<br />

corri para a cozinha com meu prato e agarrei o telefone.<br />

"Oi, pai," eu disse, ainda segurando meu prato.<br />

"Oi, Goose," ele disse."Como você está?"<br />

"Bem," eu disse. Eu queria contar à ele o quão bem as coisas realmente estavam, desde que<br />

normalmente meu ok era uma mentira total, mas não houve tempo para isso. Pela porta aberta,<br />

eu vi Mara se levantar e caminhar até o telefone na sala.<br />

"Você vai assistir algum jogo dos Knicks?" ele perguntou. A outra linha tocou, e eu ouvi Mara<br />

atender. Eu esperava que fosse uma das amigas dela ligando para falar de um novo regime de<br />

decoração de interiores, alguma coisa que seguramente deixaria minha madrasta ocupada por<br />

horas.<br />

"Talvez," eu disse."Provavelmente só o 4º quarto, de todo jeito." Eu enxaguei meu prato e o<br />

coloquei na máquina de lavar louça. A coisa sobre um jogo dos Knicks é que você sabe como<br />

vai terminar-derrota. Mesmo assim, de vez em quando eles podem surpreender você.<br />

Houve um clique."Lucy?" Deus, ela não podia deixar a gente a sós por dois minutos?<br />

"Sim?"<br />

"Telefone para você."<br />

"Para mim?" eu não podia imaginar que seria. Nem Jessica nem Madison tinham dito alguma<br />

coisa sobre me ligar mais tarde.<br />

"Tchau," disse meu pai.<br />

"Tchau, Pai," eu disse. Eu ouvi ele dizer "Olá, querida," antes que eu tivesse a chance de<br />

desligar.<br />

Eu apertei o botão para a linha em espera. "Alô?"<br />

"Oi, Tomate."<br />

Meu coração começou a acelerar. Eu apertei minha mão no meu pulso e comecei a fazer<br />

pressão contra minha cabeça, esperando que a pressão pudesse de alguma forma me impedir de<br />

flutuar para o espaço.<br />

"Oi," eu disse.<br />

"Como vai?"


"Bem," eu disse."E você?"<br />

"Não tão mal," ele disse. Houve uma pausa. Isso definitivamente não era bom. Uma coisa é um<br />

longo silêncio quando você está andando perto de alguém e ele está massageando seu pescoço.<br />

Outra coisa é estar no telefone com aquele alguém e não ter o que dizer.<br />

Eu vasculhei meu cérebro procurando um tópico para começar a conversa. "Você está<br />

assistindo o jogo?" eu finalmente perguntei.<br />

"Você sabe disso. Na verdade, você pode ouvir?" eu podia ouvir algo no fundo, mas eu não<br />

podia dizer o que era. Felizmente, Connor respondeu à sua própria pergunta, "Esse é o Madison<br />

Square Garden* com som de última geração."<br />

* MSG, cobre jogos de basquete dos Knicks, etc.)<br />

"Não seja tão humilde," eu disse."Mas essa acústica não vai te deixar mais deprimido quando<br />

eles perderem?"<br />

"Caramba, mulher. Você é difícil." Eu podia dizer pela voz dele que ele estava sorrindo, e eu<br />

sorria, também. Eu deslizei pela parede até que sentei no chão.<br />

"Bem, se o sapato serve," eu disse.<br />

"Escute aqui," ele disse. "Só porque você é bonitinha não ache que você pode se safar depois de<br />

desrespeitar o time da casa."<br />

Connor Pearson tinha acabado de me dizer que eu era bonitinha.Eu estava com os dedos<br />

enroscados no fio do telefone com força para me impedir de gritar.<br />

No fundo, eu escutei o anunciante dizer alguma coisa.<br />

"Certo, eu vou assistir o jogo, Tomate. Eu ligo para você no meio-tempo*, certo?"<br />

* intervalo de 15 minutos entre o segundo e terceiro quarto no basquete<br />

"Certo," eu disse. Connor desligou, mas eu esperei um minuto antes de me levantar e colocar o<br />

telefone no gancho. Eu podia ver pela luz que Mara e meu pai ainda estavam conversando na<br />

linha um. Normalmente eu até teria ficado com raiva, mas hoje a noite eu não ligava. Deixe que<br />

eles conversem até o amanhecer se eles quiserem. Eu tinha um jogo para assistir.


Capítulo 10<br />

Eu teria dito que nada poderia me fazer não gostar da Srta. Daniels, mas depois dela ter nos dito<br />

que passaríamos os próximos dois meses trabalhando em auto-retratos, eu não tinha tanta<br />

certeza. Na minha opinião, a única razão de fazer um quadro é parar de pensar em si mesmo<br />

enquanto estiver trabalhando. Qual a diversão de passar uma aula de artes olhando no espelho?<br />

No almoço, bem quando eu estava explicando para Madison e Jessica a diferença entre<br />

natureza morta e um retrato, Kathryn Ford veio até a mesa em que estávamos sentadas. Ela<br />

estava com uma garota tão bonita que rivalizava com Kathryn. Com seu espesso e encaracolado<br />

cabelo castanho e olhos azuis enormes, ela parecia com uma modelo da Victoria‘s Secret em<br />

carne e osso. Essa era uma mulher que definitivamente não precisava de sutiã com enchimento.<br />

―Ei,‖ disse Kathryn. Ela jogou sua bolsa Prada na mesa e sentou numa cadeira.<br />

―Ei,‖ disse a outra garota, jogando a sua própria bolsa Prada e desmoronando numa cadeira<br />

próxima à Kathryn.<br />

―Ei,‖ eu disse. Madison e Jessica disseram, ―Oi.‖<br />

―Então, o que contam?‖ Kathryn perguntou, como se sentar e falar conosco fosse algo que<br />

acontecesse todo dia.<br />

―Náo muito,‖ disse Madison, jogando o mesmo jogo de fingimento. ―O que você conta?‖<br />

―Quase nada,‖ disse Kathryn. Ela olhou para mim. ―Gostei da sua camiseta,‖ ela disse.<br />

―Ah, obrigada.‖ Eu estava usando uma camiseta jurássica dos Ramones que meu pai comprou<br />

num show antes de eu nascer. Minha mãe tinha tingido com cores loucas e psicodélicas. Já está<br />

bem desbotada, mas eu ainda gosto dela.<br />

―Então, você está saindo com Connor,‖ ela disse.<br />

Ela estava me perguntando ou dizendo?<br />

―É, ela está saindo com Connor,‖ Jessica aumentou a voz. Ela falou de maneira defensiva,<br />

como se Kathryn devesse tomar cuidado.<br />

Kathryn riu. ―Relaxa,‖ ela disse para Jessica. Então se virou para mim. ―Connor é uma<br />

gracinha. Ele é praticamente meu irmão.‖ Ela riu. ―E, de qualquer jeito, eu não saio com caras<br />

do ensino médio.‖<br />

Ela riu novamente, assim como o resto de nós, como se a ideia de Kathryn Ford namorando um<br />

cara do ensino médio fosse nada menos que hilária. Quando todas paramos de rir, Kathryn<br />

bateu no ombro de sua linda amiga. ―Sem ofensa,‖ ela disse.<br />

―Não ofendeu,‖ ronronou a linda garota, e as duas começaram a rir de novo.<br />

―De qualquer maneira,‖ Kathryn continuou, ―eu só queria saber se você precisa de uma carona<br />

pro jogo na sexta.‖


―Ah, não,‖ disse Madison. ―Não precisa.‖<br />

Kathryn continuou olhando para mim, como se a Madison não tivesse falado. ―Obrigada,‖ eu<br />

disse, uniformemente. ―Estamos bem.‖<br />

―Você que sabe,‖ disse Kathryn. Ela esticou seus braços sobre sua cabeça, e sua minúscula<br />

regata subiu, revelando seu estômago perfeitamente reto. ―Acho que te vejo por aí.‖<br />

―É, claro,‖ eu disse.<br />

Assim que elas se foram, Madison se virou para mim. ―Ela é tão falsa.‖ Ela deixou sua voz alta<br />

e esganiçada. ―‗Você precisa de uma carona? Connor é praticamente meu irmão. Gostei da sua<br />

camiseta.‘ Deus.‖<br />

―Eu sei,‖ Jessica disse. ―Gracinha? Puur favorr.‖<br />

Eu não disse muito enquanto a conversa reviu todas as maneiras de como Kathryn Ford era<br />

uma hipócrita falsa de duas-caras que não era tão bonita quando pensava que era. Porque havia<br />

apenas um aspecto da hipocrisia falsa e de duas-caras que tivera um mínimo de efeito em mim.<br />

Eu não saio com caras do ensino médio.<br />

De algum jeito, eu tinha o pressentimento que se Kathryn decidisse mudar sua política, eu<br />

estaria em grandes apuros.<br />

Na tarde de sexta, algumas pessoas tinham ficado no estúdio depois da aula terminar, incluindo<br />

Sam Wolff. Exceto eu e Sam, todos estavam mais falando do que trabalhando. Sam estava se<br />

focando arduamente em sua pintura, e eu estava me focando arduamente no relógio, desejando<br />

que a hora que eu tinha jurado passar desenhando passasse mais rápido. E não era só porque eu<br />

tinha zero de idéias para o meu auto-retrato. Tudo em que eu conseguia pensar era nos meus<br />

planos para a noite. Eu iria pegar o último ônibus, que saia as cinco e me deixava em casa às<br />

cinco e meia, com muito tempo para tomar banho, me vestir, e deixar meu cabelo secar antes<br />

que Madison e Jessica me pegassem as sete. Não só hoje era um jogo crucial para chegar às<br />

estaduais, mas haveria uma enorme festa depois na casa de algum veterano. E o treinador tinha<br />

prometido aos garotos que se eles ganhassem, eles podiam ficar sem horário de recolher essa<br />

noite. Nem precisa dizer que eu não ia mencionar isso para Mara. Só de pensar em todas as<br />

horas que eu conseguiria dar uns amassos no Connor me dava arrepios. Eu queria que fossem<br />

cinco horas agora.<br />

As quatro e quarenta e cinco, eu peguei a minha mochila e a jaqueta do Connor, enfiei meu<br />

caderno de desenho na minha gaveta, e me dirigi à porta. Enquanto eu passava pelo seu<br />

cavalete, eu não pude evitar notar a pintura na qual Sam estava trabalhando.<br />

―Uau,‖ eu disse. Era uma natureza morta de uma mesa de jantar depois que uma refeição<br />

massiva fora consumida – havia pratos vazios pela metade de pasta, pratos de servir vazios,<br />

guardanapos amassados, e facas e garfos abandonados. A pintura era espetacular: uma natureza<br />

morta em pequeninos e coloridos quadrados. Eu me inclinei para ver os quadrados de perto e<br />

percebi que os desenhos nele não eram simplesmente desenhos; cada um era na verdade uma<br />

pequenina imagem. A garrafa de vinho era feita de um monte de uvas, os cubos de gelo<br />

derretidos eram na verdade uma diminuta cordilheira coberta de neve. Se afastando da seção<br />

terminada das pinturas você via o contorno de cada coisa feita pelas formas e sombras dentro<br />

dos quadrados. Só quando você estivesse bem perto da tela você conseguia ver os detalhes das


imagenzinhas.<br />

―Isso é maravilhoso.‖ Eu queria tocar a rica e espessa pintura. ―Sabe de quem isso me lembra?<br />

Chuck Close.‖ Chuck Close era um artista que eu tinha conhecido anos atrás, quando meu pai e<br />

eu fizemos uma viagem pré-Mara para Nova York e fomos ao Museu de Arte Moderna. Desde<br />

então ele tem sido um dos meus artistas favoritos. Close faz a mesma coisa que Sam fizera,<br />

quadrados de formatos e cores que criam uma imagem figurativa.<br />

Sam não disse nada. De fato, ele nem ao menos olhou pra mim.<br />

Mais uma vez eu senti aquilo que sentira no museu: o impulso de colocá-lo em seu devido<br />

lugar: ―Sabe,‖ eu disse, ―é habitual reconhecer quando alguém se dirige diretamente a você.<br />

Chama-se ser educado.‖<br />

Ele não moveu seus olhos do cavalete. ―Eu não estava exatamente pronto pra mostrar ao<br />

público.‖<br />

A verdade era que a Sra. Daniels sempre meio que levou muito a sério não olhar a arte das<br />

outras pessoas antes que elas estivessem prontas pra mostrar.<br />

―Ah,‖ eu disse. ―Bem, desculpa.‖<br />

Sam acenou e olhou de volta para a sua pintura. Que seja. Ele provavelmente nem mesmo deve<br />

ter ouvido falar em Chuck Close. E por que ele tinha que agir como se eu tivesse ido bisbilhotar<br />

sua gaveta? Teria matado-o simplesmente dizer obrigado? Quer dizer, é pedir muito?<br />

Obrigado.<br />

Eu saí da sala sem dizer tchau, entrando no último ônibus bem quando o motorista estava<br />

fechando as portas.<br />

Eu conseguia ouvir Avril Lavigne explodindo do quarto das <strong>Prince</strong>sas assim que eu abri a porta<br />

da frente. Às vezes eu acho que as minhas meias-irmãs não são realmente pessoas, e sim um<br />

epicentro de algum diagrama de Venn* cultural.<br />

* Os diagramas de Venn foram introduzidos em 1881 pelo filósofo e matemático britânico John<br />

Venn e são ilustrações similares de conjuntos, relações matemáticas ou relações lógicas.<br />

Como se respondendo ao meu pensamento sobre elas, ambas as <strong>Prince</strong>sas enfiaram suas<br />

cabeças para fora do seu quarto e, me espiando no vestíbulo da entrada, vieram correndo pelas<br />

escadas. Elas estavam usando vestidos de veludo vagamente náuticos.<br />

―Vocês vão velejar?‖ eu perguntei, pendurando a jaqueta de Connor no closet.<br />

Os vestidos delas – um azul, o outro vermelho – eram um tipo de variação horrível de um tema.<br />

O veludo apertado agarrava o corpo delas, que faltavam uma ou duas curvas cruciais. Ambas as<br />

garotas usavam uma pesada sombra azul e glitter em suas bochechas, e descendo as escadas,<br />

cada uma balançava ligeiramente em seus sapatos de plataforma. Quando elas estavam a<br />

poucos metros, eu vi que seus vestidos ainda tinham etiquetas. <strong>Prince</strong>sa Dois estava escovando<br />

o cabelo da <strong>Prince</strong>sa Um, que com cada escovada ficava com cada vez mais frizz.<br />

―Mamãe está realmente brava,‖ <strong>Prince</strong>sa Um me informou. Então ela levantou suas<br />

sobrancelhas e suspirou, cultivando um olhar de supermodelo entediada no meio da photoshoot.<br />

―Do que você está falando?‖ eu perguntei, colocando minhas mãos nos meus quadris no que


eu percebi tarde demais ser a postura que elas geralmente assumiam comigo.<br />

―Você comprou essa camiseta na Marmara?‖ perguntou <strong>Prince</strong>sa Um, distraída do prazer de<br />

levar más notícias pelo prazer de falar sobre moda.<br />

―O quê?‖ eu perguntei.<br />

Ela revirou os olhos. ―Marmara? É só, tipo, a loja mais legal na Miracle Mile.‖ A Miracle Mile<br />

é um shopping esnobe ao ar livre a alguns minutos da nossa casa. Para as <strong>Prince</strong>sas, é o terreno<br />

sagrado similar ao Templo do Monte em Jerusalém.<br />

―É,‖ disse <strong>Prince</strong>sa Dois, ―as coisas deles são tãão legais. Tem essa menina na nossa sala e–‖<br />

―AI!‖ <strong>Prince</strong>sa um afastou sua cabeça e girou para olhar para <strong>Prince</strong>sa Dois. ―Você está me<br />

machucando.‖<br />

―Bem, desculpa,‖ <strong>Prince</strong>sa Dois rosnou. ―Mas está todo embaraçado.‖<br />

<strong>Prince</strong>sa Um pegou a escova de <strong>Prince</strong>sa Dois. ―Não está embaraçado. Você é simplesmente<br />

uma desajeitada. E vai ser alisado sábado que vem, de qualquer jeito,‖ ela disse. ―Acabamos de<br />

ganhar esses,‖ ela me informou, gesticulando para seus vestidos. ―Para o bar mitzvah do Jason<br />

Goldberg.‖<br />

―Nós vamos no RMS semana que vem,‖ disse <strong>Prince</strong>sa Dois.<br />

―O RMS?‖ eu perguntei. ―Eu achei que você tivesse acabado de dizer que ia a um bar mitzvah.‖<br />

―Oi! O Rainha Mary Segunda. É, tipo, um transatlântico enorme.‖<br />

―Eu sei o que é. Mas eu achei que vocês iam–‖<br />

―Ele veleja para a Europa.‖ <strong>Prince</strong>sa Um explicou.<br />

―Vocês vão velejar para a Europa?‖<br />

―Dãh. Você não consegue velejar para a Europa e voltar em uma noite,‖ disse <strong>Prince</strong>sa Dois.<br />

Isso vindo de uma garota que, há apenas duas semanas, perdeu pontos em um teste de geografia<br />

por não saber que a Inglaterra é uma ilha.<br />

―É, dãh,‖ <strong>Prince</strong>sa Um ecoou. ―Nós só vamos entrar no barco. Para o bar mitzvah do Jason<br />

Goldberg.‖<br />

―É no RMS?‖<br />

Mas elas estavam cansadas de me impressionar com seu triunfo no círculo de bar mitzvahs.<br />

―Mamãe disse que você não limpou seu quarto e está uma área de desastre federal,‖ disse<br />

<strong>Prince</strong>sa Dois. Apesar de serem pronunciadas por sua filha, as palavras eram obviamente de<br />

Mara.<br />

―Nossa, talvez isso seja porque eu não tenho algo chamado móveis,‖ eu sugeri.


Elas deram de ombros e se viraram em uníssono, duas modelos de passarela ligeiramente<br />

instáveis. ―Que seja,‖ disse <strong>Prince</strong>sa Um.<br />

―É, que seja,‖ disse <strong>Prince</strong>sa Dois.<br />

Eu peguei um Oreo da cozinha e desci para o meu quarto. Olhando ao redor eu tive que admitir<br />

que eu não ganharia o selo de aprovação do Good Housekeeping* tão cedo. Mas o que eu<br />

deveria fazer a respeito? Eu não tinha gavetas. Eu não tinha armário. Certamente até a malvada<br />

Mara conseguiria perceber que eu estava fazendo meu melhor para manter alguma aparência de<br />

ordem no caos que era a minha vida sem móveis.<br />

* revista americana para mulheres que trata de assuntos relacionados a administração da casa e<br />

a vida familiar.<br />

Eu deitei no meu colchão de ar, me perguntando quando meu pai chegaria em casa e se a<br />

primeira coisa que eu fosse ouvir dele seria um sermão limpe-o-seu-quarto. Se eu não fosse sair<br />

para o jogo em menos de uma hora, eu poderia ter elaborado um contra-argumento, mas já que<br />

ficar de castigo colocaria uma enorme interferência nos meus planos, eu decidi que era melhor<br />

eu engolir o sermão dele e concordar em passar o próximo dia fazendo algo quanto a essa<br />

bagunça.<br />

Eu pensei na festa pós-jogo, me perguntando se Connor e eu sairíamos de carro juntos ou se ele<br />

iria depois, como ele tinha ido ao Piazzolla. Eu imaginei ele chegando após eu já estar lá, como<br />

ele me acharia na multidão, chegaria perto e colocaria seus braços ao meu redor. E aí, Tomate,<br />

ele diria. Ei, Connor, eu diria. E então enquanto todos ficariam parados lá, fingindo não<br />

observar, ele me daria um de seus beijos maravilhos e eu–<br />

Houve uma batida na minha porta. ―Lucy?‖ Era Mara.<br />

Esse foi um desenrolar inesperado. ―Sim?‖ Eu sentei rapidamente, escondendo debaixo de um<br />

travesseiro o Oreo que eu estivera mordiscando. Mara não gosta quando levamos lanchinhos<br />

para fora da cozinha.<br />

Ela abriu a porta e chamou. ―Posso falar com você por um instante?‖<br />

―Sim, com certeza. É claro.‖<br />

Um minuto depois ela apareceu ao pé da escada, totalmente glamurosa com saltos altos e um<br />

justo vestido preto com uma fenda de um lado.<br />

―Eu desci aqui hoje mais cedo, e fiquei extremamente surpresa em ver que bagunça esse quarto<br />

estava.‖ Seus lábios estavam fechados num aperto, e ela estava com suas mãos cruzadas em sua<br />

frente, como se tudo no quarto fosse tão imundo que ela tivesse medo de tocá-lo.<br />

―É, sei o que quer dizer. Eu fico pensando em como vou arrumar tudo assim que tiver, você<br />

sabe, gavetas e coisas para colocar as minhas roupas dentro.‖<br />

Ela balançava sua cabeça enquanto eu falava mas manteve suas sobrancelhas levantadas, como<br />

se comentando a insanidade do meu álibi.<br />

―Honestamente, Lucy, eu não vejo como não ter alguns móveis seja uma desculpa para a<br />

bagunça que esse quarto se tornou,‖ ela disse depois de eu ter terminado.


―Bem, eu não quis justificar isso,‖ eu disse. ―Mas seria definitivamente mais fácil guardar<br />

minhas roupas se eu tivesse algo onde guardá-las.‖ Eu deslizei minha mão de debaixo do<br />

travesseiro, deixando o Oreo para trás. Como uma ave de rapina, Mara seguiu o movimento<br />

com seus olhos.<br />

Ela sugou seu lábio inferior por um segundo antes de responder. ―Então a culpa é minha do seu<br />

quarto estar uma bagunça,‖ ela disse finalmente.<br />

―Não, não estou dizendo que é sua culpa,‖ eu disse, apesar de não ver exatamente de quem era<br />

a culpa se não dela. Quero dizer, a mulher nunca ouviu falar da Ikea*? ―Eu só estou dizendo<br />

que normalmente, sabe, quando eu tenho um armário e uma penteadeira e coisas assim, eu sou<br />

muito mais organizada que isso.‖<br />

* IKEA é uma companhia privada sueca especializada na venda de móveis domésticos de baixo<br />

custo.<br />

―Bom, o fato é que agora você não tem essas coisas, e essa é uma maneira inaceitável de<br />

manter seu quarto. Eu gostaria de saber o que você vai fazer a respeito. Ou você simplesmente<br />

estava planejando esperar até eu ter tempo na minha agenda cheia para correr por aí e comprar<br />

móveis para você?‖<br />

Eu amo a idéia de Mara ter uma agenda cheia. É como se ir aos seus compromissos semanais<br />

de manicure/pedicure e coloração de cabelo a fizessem a CEO de uma corporação<br />

multinacional.<br />

―Mas, Mara, você não queria que eu trouxesse as minhas coisas de São Francisco, e você fica<br />

dizendo que quer ser quem decora a casa, então eu não vejo como posso sair e comprar móveis<br />

para mim mesma.‖ Para não mencionar minha falta de carro e centenas de dólares de renda<br />

disponível.<br />

―Não estou certa se gosto de você usando esse tom de voz, Lucy,‖ disse Mara, dando um passo<br />

em direção a cama e apontando para mim. Não conseguindo evitar, me inclinei para longe do<br />

avanço dela.<br />

―Não estou usando um tom,‖ eu disse. ―Só estou afirmando um fato.‖<br />

―Olá?‖ Era o meu pai chamano escada acima. ―Estou em casa. Cadê todo mundo?‖<br />

―Estou aqui embaixo, Doug,‖ Mara chamou. Eu estava prestes a dizer Estou no meu quarto,<br />

pai, mas ao invés disso eu simplesmente sentei lá.<br />

Ele veio pulando escada abaixo, dando um pequeno assobio quando ele viu o vestido de Mara.<br />

―Oi, doçura,‖ ele disse. Usando calça jeans e um suéter cinza gasto, ele parecia relaxado e feliz,<br />

como se estivesse realmente feliz por estar em casa. Ele deu um beijo de chegada em Mara e<br />

então veio e me beijou.<br />

―Como foi a sua semana?‖ ele perguntou. Mara se juntando às nossas conversas no telefone<br />

tinha finalmente ficado chato demais para suportar, então de segunda eu simplesmente evitei<br />

falar com ele quando ele ligava.<br />

―Parece que temos um probleminha,‖ disse Mara, antes que eu pudesse respondê-lo.<br />

―Ah, é, o que foi?‖ ele perguntou, dançando na direção dela e deslizando seu braço ao redor da<br />

cintura dela. ―Acharam uma cura para diabetes e o evento beneficente está cancelado?‖


Desde que mudamos para Nova York, Mara esteve arrastando meu pai para todos esses eventos<br />

de arrecadação de fundos. Na teoria, ela espera curar cada calamidade que ameaça o planeta.<br />

Na verdade, ela só quer exibir seu homem novo no circuito de caridade.<br />

―Lucy parece ter a impressão de que é minha culpa seu quarto estar tão bagunçado,‖ Mara<br />

disse.<br />

―Isso não é nem um pouco verdade!‖ eu disse. ―Eu só disse que não podia guardar as minhas<br />

roupas até ter móveis nas quais guardá-las.‖<br />

―E então ela usou um tom bastante esnobe que eu não gostei,‖ Mara continuou, me ignorando.<br />

―Ai meu Deus, é como se, se eu não estou ajoelhando-me perante você a cada segundo eu estou<br />

usando um tom esnobe,‖ eu disse. Eu conseguia sentir lágrimas fermentando e eu as engoli.<br />

―Ei, ei!‖ disse meu pai, que não estava mais sorrindo. ―Eu acabei de chegar em casa. Eu não<br />

quero toda essa brigaria.‖ Ele colocou seu braço ao redor de Mara. ―Lucy, eu gostaria que você<br />

se desculpasse com a Mara, e eu quero esse quarto endireitado.‖<br />

―Eu vou indireitá-lo. Eu vou endireitá-lo amanhã.‖<br />

―Não,‖ disse meu pai, ―você vai endireitá-lo hoje à noite.‖<br />

―Pai, eu tenho que ir à um jogo de basquete.‖<br />

Tive certeza que puder ver meu pai hesitando, mas então ele disse, ―Sinto muito, mas você não<br />

vai sair hoje à noite.‖<br />

―O QUÊ?!‖ Quase não era uma palavra, só um grito estrangulado.<br />

―Nós queremos esse quarto limpo, e queremos ele limpo hoje à noite.‖ O jeito como meu pai<br />

dizia ―nós‖ enquanto ficavam um ao lado do outro, seu braço ao redor da cintura de Mara,<br />

simplesmente acentuava como os dois comprimiam um time perfeitamente coordenado. De<br />

repente eu me senti muito ciente de ser a única pessoa no meu lado do quarto.<br />

―Por que não posso simplesmente limpá-lo amanha? Se você me deixar ir ao jogo, eu prometo<br />

que levanto cedo e limpo tudo.‖ Eu estava lutando contra o pânico.<br />

Meu pai estava prestes a ceder, eu podia afirmar. Ele nunca fora um daqueles pais que ligavam<br />

para como o meu quarto estava, e eu sabia que ele não se importaria se eu o limpasse de manhã.<br />

Mas bem quando ele abriu sua boca para dizer algo, Mara falou.<br />

―Lucy, seu pai e eu dissemos hoje à noite, e isso significa hoje à noite,‖ ela disse, virando nos<br />

calcanhares e se dirigindo escada acima. Meu pai deu um passo em minha direção bem quando<br />

Mara disse, ―Doug, vamos nos atrasar.‖<br />

Ele hesitou por um segundo e então disse, ―Te vejo de manhã, Goose.‖<br />

―O quê?‖ eu disse, e eu estava chorando de verdade agora. ―Você está dizendo que essa<br />

conversa está acabada?‖


―Não há conversa,‖ ele disse. ―Nós te pedimos para fazer uma coisa e nós queremos que você a<br />

faça.‖<br />

O jeito como ele repetiu nós quase tirou o meu fôlego.<br />

―E isso é tudo o que você tem a dizer?‖ eu perguntei por fim.<br />

―Lucy, sinto muito,‖ ele disse. ―Mas você precisa fazer o que te mandam.‖ Então ele, também,<br />

se virou e se dirigiu escada acima.<br />

Tentando parar de chorar, eu peguei meu celular e disquei o número de Connor.<br />

―E aê, qualê? É o Connor. Você sabe o que fazer.‖<br />

―Hm, ei, Connor, eu–‖ um soluço quase escapou, e eu tomei um longo fôlego. ―Eu não posso ir<br />

ao jogo hoje à noite. Eu – esse negócio todo aconteceu em casa, e eu estou de castigo. Eu<br />

realmente sinto muito. Então, boa sorte e... divirta-se na festa.‖ A última parte da mensagem<br />

quase me levou ao limite. Eu apertei ENCERRAR A CHAMADA o mais rapidamente que<br />

pude. Então eu disquei o número de Jessica.<br />

―É a Jessica. Deixe uma mensagem e eu ligarei de volta.‖<br />

―Oi. Sou eu. Minha madrasta está tentando ganhar algum tipo de prêmio de vadia-do-ano, e eu<br />

estou de castigo hoje à noite. Então divirta-se por nós duas.‖<br />

Depois de desligar eu sentei encarando meu telefone por um longo minuto, me perguntando o<br />

que aconteceria se a Cinderela nunca chegasse ao baile. O Príncipe Encantado passaria a noite<br />

ansiando por ela, chorando em sua cerveja real? Ou ele simplesmente conheceria outra pessoa,<br />

alguma garota que não tem uma madrasta má castigadora de enteadas?<br />

Alguma garota que não mais não ―sai com caras do ensino médio‖?


Capítulo 11<br />

Eu me forcei a não olhar minhas mensagens antes que fosse para cama, sabendo que eu me<br />

sentiria muito mal se Connor não tivesse ligado. Mas a primeira coisa que eu fiz quando<br />

acordei em meu quarto imaculado foi checar as minhas mensagens de voz.<br />

Duas mensagens. Minhas mãos tremiam tanto que eu mal conseguia acessá-las.<br />

―Ei, Tomate,‖ Eu soltei um gritinho involuntário. ―Você quer que eu dê umas porradas em um<br />

dos seus familiares? Porque eu dou.‖ Só o som da voz dele fez a briga de ontem a noite com o<br />

meu pai parecer um sonho ruim. ―É melhor você não estar de castigo, Tomate. Eu vou te buscar<br />

as sete no sábado e vou te levar para jantar.‖<br />

Eu toquei a mensagem mais três vezes antes de salvá-la. A segunda ligação era da Jessica.<br />

―Posso só dizer que sua madrasta totalmente ganha meu voto de vadia-do-ano? Me ligue<br />

quando acordar. Vamos às compras amanhã.‖ Eu toquei essa mensagem de novo, também.<br />

Adivinhe só, Mara, nem todos ficam do seu lado, sua vaca estúpida.<br />

Eu mal tinha desligado o telefone quando ele tocou. ―Alô?‖<br />

―Nós chegaremos na sua casa em vinte minutos,‖ disse Jessica. ―Vamos ao Miracle Mile.‖<br />

―Connor vai me levar para jantar hoje a noite,‖ eu disse.<br />

Jessica gritou. ―Ai meu Deus! Ele te ama.‖<br />

Eu não conseguia pensar no que dizer sobre isso, então eu só gritei. Então eu me lembrei de<br />

algo. ―Jessica, eu não tenho nada para usar.‖<br />

―Está bem, não entre em pânico,‖ disse Jessica. ―Eles não a chamam de Miracle Mile por<br />

acaso.‖<br />

A mãe de Madison nos deixou no Bistro del Filles no almoço, onde Madison, depois de nos<br />

dizer quantos milhões de gramas de gordura tinham em cada entrada que pedimos, só pediu<br />

uma garrafa d‘água. Então ela comeu por volta de dois terços do Croque Monsieur de Jessica<br />

antes que Jessica ameaçasse apunhalá-la com um garfo se ela não pegasse seu próprio<br />

sanduíche.<br />

Às quatro horas, apesar do meu dueto de compradoras profissionais, eu ainda não tinha nada<br />

para usar no meu encontro com Connor. Madison e Jessica preteriam tudo que eu gostava como<br />

chato, enquanto tudo que elas queriam que eu experimentasse custava mil vezes mais do que eu<br />

planejava gastar. Finalmente, já que estávamos sem tempo, nós concordamos em nos dividir.<br />

Madison foi para a Chanel para conseguir um rímel, enquanto Jessica e eu nos dirigimos para a<br />

Ralph Lauren para procurar um vestido para mim.<br />

Assim que passamos pela porta, eu vi Jessica notar uma regata de linho azul e hesitar por um<br />

segundo antes que continuar pelas araras.<br />

―É bonita,‖ eu disse. ―Você devia experimentar.‖


Ela balançou sua cabeça. ―Estamos aqui para encontrar um vestido à altura de um encontro para<br />

você.‖<br />

Mas eu a cutuquei em direção à regata. ―Vá em frente,‖ eu disse.<br />

―Tem certeza de que não se importa em esperar?‖ ela perguntou. ―Eu vou ser bem rápida.‖<br />

―Tenho certeza,‖ eu disse. ―Leve o tempo que precisar.‖ Enquanto Jessica foi procurar por um<br />

provador eu vaguei ao redor procurando por algo que eu possivelmente pudesse usar no meu<br />

encontro. Mas a não ser que Connor fosse me levar num cruzeiro em seu iate, não havia nada<br />

na Ralph Lauren que serviria. Finalmente, eu desisti; em uma alcova de painel de madeira<br />

armazenada com vestidos de noite, eu achei uma cadeira vazia e desmoronei nela, atirando<br />

minha cabeça para trás, fechando meus olhos, e suspirando.<br />

―Eu não sei,‖ disse uma voz familiar, ―foi você que me disse o que black-tie significa.‖<br />

Meus olhos se abriram com tudo. Sentado há alguns metros de mim estava a última pessoa no<br />

mundo que eu esperaria achar na seção de vestidos de noite da loja da Ralph Lauren na Miracle<br />

Mile.<br />

Sam Wolff.<br />

Ele estava encurvado sob um caderno de desenho, e ele não me viu. Com seu jeans desbotado e<br />

sua camiseta rasgada da Red Groome, ele parecia um pouco deslocado sentado em uma cadeira<br />

de chita muito acolchoada. Mas ele não parecia intimidado, como a maioria dos outros caras<br />

que estavam sentado ao redor esperando suas esposas ou namoradas mostrarem um vestido que<br />

estavam considerando comprar. Ao invés disso, ele parecia totalmente alheio ao que o cercava,<br />

como se ele pudesse tão facilmente estar no Rive Gauche* ou no meio do Long Island<br />

Expressway**. Enquanto eu observava, ele puxou distraidamente um cacho similar à um sacarolhas<br />

da parte de trás da sua cabeça, então repentinamente soltou-o e desenhou uma série de<br />

linhas na página.<br />

* também conhecido como Margem Esquerda (Left Bank), é a parte sul da margem do rio<br />

Sena, na França.<br />

** uma rodovia interestadual com 114km<br />

Bem quando me virava para procurar Jessica, a porta do provador bem na frente de onde Sam<br />

estava sentado abriu com tudo para revelar a linda garota que tinha sentado na minha mesa<br />

naquele dia com Kathryn Ford. O delgado vestido coquetel preto que ela estava usando<br />

mostrava seu incrível corpo.<br />

―Certo, esse ou o verde?‖ ela perguntou. Para meu espanto, ela estava falando com Sam.<br />

Ele não olhou para cima. ―Úni, dúni, tê,‖ ele disse, ainda desenhando.<br />

―Sam,‖ ela disse, ―você está começando a me encher o saco.‖<br />

Ele suspirou e fechou seu caderno de desenho.<br />

―Está bem,‖ ele disse. ―Vire-se.‖ Ela girou em seus calcanhares. ―O verde.‖ Considerando o<br />

quanto ela parecia bonita no vestido que estava usando, eu não conseguia nem começar a<br />

compreender como era o vestido verde.


―Ah, por favor,‖ ela disse. ―Você tem um péssimo gosto.‖<br />

―E você está pedindo a minha opinião porque...‖<br />

―Esqueça, está bem?‖ Ela olhou para si mesma no espelho, franzindo a testa, apesar de eu não<br />

ter a mínima idéia do que ela tenha visto que a fez franzir a testa. ―Obviamente, se eu quiser<br />

que isso dê certo, eu terei de fazer sozinha.‖<br />

―Jane, você fica espetacular em tudo que prova, até e inclusive naquele primeiro vestido em<br />

que eu te vi há 3 horas.‖<br />

Agora eu estava começando a me sentir estranha por estar escutando conversa alheia tão<br />

atentamente. E se Sam se virasse repentinamente e me visse?<br />

―Dá pra você ficar quieto por um minuto? Eu nem consigo escutar meus pensamentos.‖ Ela se<br />

estudou no espelho. ―Odeio esse jantar de ensaio estúpido, odeio esse casamento estúpido, e<br />

odeio minha irmã estúpida.‖<br />

―Amém,‖ disse Sam, abrindo seu caderno de desenho novamente.<br />

Ela lançou-lhe um olhar. ―Vou levar ambos e decidir em casa,‖ ela disse. Então ela abriu o<br />

provador e desapareceu atrás dele bem quando Jessica apareceu segurando uma sacola de<br />

compras. ―Aí está você,‖ ela disse. ―Ah, oi, Sam.‖<br />

Sam se virou preguiçosamente. Eu congelei, certa de que ele diria, Gostando muito de ouvir a<br />

minha conversa?. Mas a única coisa que ele disse foi, ―Ei.‖ Então ele meio que levantou sua<br />

cabeça na minha direção com um movimento que estava entre um aceno e nada.<br />

Agora eu estava totalmente confusa. Como Sam não só conhecia A) a veterana mais linda, mas<br />

também B) Jessica?<br />

Jessica colocou sua mão no meu ombro. ―Então, provavelmente deveríamos encontrar a<br />

Madison,‖ ela disse.<br />

―É, vamos,‖ eu disse. Eu fiquei de pé, e a dor no meu pé que tinha desaparecido enquanto eu<br />

estava sentada voltou.<br />

―Te vejo por aí.‖ Jessica disse para Sam. Sem realmente levantar os olhos de seu caderno, ele<br />

nos saudou. Quando saímos, eu estava prestes a perguntar como ela conhecia o Sam, mas ela o<br />

fez antes.<br />

―Ele está na minha aula de artes,‖ eu disse. ―Mas sabe o que é realmente estranho? Eu acho<br />

que ele estava com aquela garota que anda com a Kathryn Ford.‖<br />

―Ah, é,‖ ela disse. ―Jane Brown. Eles namoram.‖<br />

Eu quase tropecei em uma rachadura inexistente na calçada. Sam Wolff, a pessoa mais<br />

antisocial do planeta, tinha uma namorada supermodelo?<br />

―Ela é uma mega-vaca,‖ disse Jessica. ―Mas os caras totalmente amam ela. Você consegue<br />

acreditar que de todos os caras gostosos em Glen Lake ela escolheu um artista calouro qualquer<br />

que é um esquisito total?‖


Algo no jeito como Jessica dizia artista e esquisito não me descia. Eu pensei nas lindas pinturas<br />

de Sam e parei de andar. ―O que tem de esquisito em um artista?‖<br />

Jessica mudou sua sacola para a outra mão. ―Ah, sem ofensas,‖ ela disse, colocando sua mão no<br />

meu ombro. ―Não quis dizer que ele é um esquisito porque é um artista. Eu só quero dizer<br />

que... Ele, tipo, nunca fala nem nada. Por que ela iria querer namorá-lo?‖<br />

Nós começamos a andar de novo. ―Eu não sei,‖ eu disse, lembrando da cena na loja. ―Se ela é<br />

tão vaca, talvez seja estranho ele namorar ela.‖<br />

―Ele é tipo, seu amigo?‖ perguntou Jessica. ―Porque você está sendo meio defensiva em relação<br />

a ele.‖<br />

―Não, não somos amigos.‖ De repente eu percebi que Jessica estava certa; eu estava sendo<br />

defensiva em relação ao Sam. O que era bem estranho considerando a nossa falta total de<br />

qualquer coisa semelhante a uma amizade. ―Ele, tipo, nunca fala comigo,‖ eu admiti.<br />

―Bom, não se sinta mal,‖ disse Jessica. Ela avistou Madison andando na nossa direção e<br />

acenou. ―Como eu disse, ele é um esquisito total.‖<br />

―Eu não me sinto mal,‖ eu disse. ―Eu nem ligo.‖ Era verdade. Eu não ligava. Eu estava para<br />

contar a Jessica o quão rude Sam tinha sido comigo naquele dia no museu quando ela agarrou o<br />

meu braço.<br />

Eu apontei para o meu cabelo. ―Vermelho,‖ eu disse. Então eu apontei para o vestido. ―Não,‖<br />

eu disse.<br />

―Qual é,‖ disse Jessica. ―Ruivas podem totalmente usar vermelho. Experimente.‖<br />

―Connor iria morrer se você usasse isso no jantar,‖ disse Madison.<br />

―É, assim como o meu pai,‖ eu disse. Elas estavam falando sério. O vestido era menor que o<br />

meu celular.<br />

―Só experimente,‖ disse Jessica.<br />

―É,‖ disse Madison. ―O que tem a perder?‖<br />

Eu as deixei me levar para a loja e esperei enquanto a vendedora achava o vestido no meu<br />

tamanho. Elas ficaram uma de cada lado meu falando sobre como o vestido era sexy e como eu<br />

ficaria bem nele, enquanto eu fingia considerar comprá-lo.<br />

Assim que eu coloquei o vestido, eu nem mesmo precisei de um espelho para confirmar o que<br />

eu já sabia: de jeito nenhum eu iria comprá-lo. Olhando para baixo, eu vi que o decote<br />

precipitava-se abaixo do meu sutiã, e eu conseguia sentir que a saia minúscula mal roçava as<br />

minhas coxas. Para não mencionar a cor. Eu saí do provador.<br />

Jessica e Madison arfaram. ―Ai meu Deus,‖ disse Madison, pulando para cima e para baixo.<br />

―Isso é tãããão sexy.‖<br />

Eu me afastei dela, para poder me ver no espelho de corpo inteiro. Por um segundo tive a<br />

certeza de estar olhando o reflexo de outra pessoa.


―Adorável,‖ disse a vendedora. ―Tão adulta. E está na promoção. 50% de desconto.‖<br />

―Gente,‖ eu disse, acenando com a mão na frente dos rostos delas. ―Eu não posso comprar esse<br />

vestido.‖<br />

―Você tem que tê-lo,‖ disse Jessica. ―Você fica maravilhosa nele.‖<br />

―É,‖ disse Madison. ―Se eu ficasse tão magra assim em um vestido, eu totalmente compraria.‖<br />

―É um vestido lindo,‖ disse a vendedora.<br />

Eu olhei de volta para mim mesma no espelho. Era como se eu tivesse sido transformada na<br />

minha irmã mais velha incrivelmente sexy. Ou talvez na minha irmã mais velha incrivelmente<br />

vagabunda. Eu me virei. Dava para ver as linhas da minha calcinha através do tecido apertado.<br />

―Venha aqui,‖ disse a vendedora, me chamando com seu dedo. Quando eu cheguei onde ela<br />

estava, ele me girou e em um movimento, desamarrou meu sutiã, deslizou as alças pelos meus<br />

ombros, e o retirou. ―Pronto,‖ ela disse. ―Muito melhor.‖ Então ela apontou para a minha<br />

bunda. ―E também, você vai precisar de um fio dental.‖<br />

―Um fio dental?‖<br />

―Sim,‖ ela disse. ―Um fio dental é‖<br />

―Eu sei o que é,‖ eu disse rapidamente. ―Eu só não tenho um.‖<br />

―Ah, vamos para a Lace Escapes,‖ Madison disse. Então começou a dar risada.<br />

Jessica riu, também. ―É,‖ disse, rindo mais, ―eles têm umas coisas muito boas.‖<br />

A risada delas era contagiante. ―Meninas, parem,‖ eu disse, rindo. ―Eu não sei...‖<br />

Mas eu sabia.<br />

Eu ia comprar.<br />

A mãe da Jessica estacionou seu carro bem quando nós três estávamos saindo da Lace Escapes.<br />

Ela buzinou e acenou. ―Oi, meninas,‖ ela chamou. Então ela apontou para a sacola de Jessica.<br />

―O que você comprou?‖<br />

Jessica acenou para sua mãe. ―Comprei a regata mais fofa na Ralph Lauren. Você vai amar.‖<br />

―Ah, que bom, querida. Mal posso esperar para ver,‖ disse a Sra. Johnson. Então ela sorriu para<br />

mim e eu sorri de volta. Um monte de adolescentes fica estressado ao conhecer os pais das<br />

pessoas, mas isso não me incomodava. Eu me dou muito bem com os pais – eles sempre dizem<br />

ao meu pai que garota boazinha eu sou, como eu sou tão bem educada e tudo mais. Por um<br />

segundo, contudo, enquanto a Sra. Johnson estava sorrindo na minha direção, eu senti uma<br />

palpitação nervosa. Tive medo dela perguntar o que eu tinha comprado, e eu teria que dizer,<br />

―Ah, sabe, só um vestido vermelho sexy e um fio dental com lacinhos.‖<br />

Não era bem essa a impressão de garota boazinha que eu estava ávida a fazer.


Capítulo 12<br />

Pouco antes das sete, <strong>Prince</strong>sa um soltou um berro que penetrou pelas tábuas da sala de estar –<br />

onde ela e sua irmã estavam sentadas perto da janela esperando por Connor – e reverberou pelo<br />

porão – onde eu estava parada na frente do espelho, esperando por Connor.<br />

―Ele dirige uma Lexus!‖<br />

―Isso é tão legal,‖ <strong>Prince</strong>sa Dois gritou para mim. ―Lexus é um carro muito bom.‖<br />

Eu não ligava para que carro Connor estava dirigindo; eu só estava aliviada por ele não ter me<br />

dado um bolo. Mas eu não tinha muito tempo para agradecer a minha fada madrinha nesse<br />

instante em particular, já que eu estava lidando com o que só podia ser descrito como uma<br />

situação de fio dental extremamente traiçoeira.<br />

A mulher na Lace Escapes me assegurou que o fio dental que eu tinha comprado era o mais<br />

confortável do mercado. ―Você nem vai sentir,‖ ela disse umas dez mil vezes.<br />

Mas como você não sentiria algo que fica subindo pela sua bunda? E não só fica subindo pela<br />

sua bunda, deve ficar subindo pela sua bunda.<br />

Eu trepidei, esperando que o fio dental se relocalizasse, mas não ajudou. Talvez eu<br />

simplesmente precisasse tirá-lo. Mas e se nós tivéssemos um acidente de carro e os<br />

paramédicos descobrissem que debaixo do meu minúsculo vestido vermelho eu não estava<br />

usando calcinha nenhuma? Talvez eles decidissem que qualquer garota que fosse tão vulgar<br />

não merecia viver.<br />

A campainha soou e eu escutei as <strong>Prince</strong>sas gritarem, ―Nós atendemos! Nós atendemos!‖ Eu<br />

não me movi.<br />

Quanto mais eu ficava parada ali, mas convencida eu ficava de que deveria começar do zero –<br />

simplesmente tirar o fio dental e o vestido e usar algo normal tipo...<br />

Mas é claro que esse era o problema. Normal tipo o quê? Normal tipo calça jeans e uma<br />

camiseta? Porque se o vestido fosse tirado, isso era basicamente tudo que restava para escolher.<br />

Eu fiz a minha dancinha do ―Fio Dental, Por Favor Saia da Minha Bunda‖ novamente. Algo em<br />

algum lugar deve ter se mudado porque por um segundo fui capaz de me concentrar em outra<br />

coisa que não a minha retaguarda. Infelizmente, essa outra coisa eram os meus dedos do pé,<br />

que estavam apertados juntos em um par de sapatos que eu tinha comprado para (e não tinha<br />

usado desde então) a festa de noivado do meu pai e da Mara – uma noite na qual eu estivera<br />

com tanta dor emocional que meu pé doendo mal foi registrado.<br />

Eu olhei para o meu reflexo. A garota mais velha no espelho que dava de ombros para mim não<br />

parecia nem ao menos tão desconfortável quanto eu me sentia. Na verdade, ela parecia bem<br />

descolada e sexy. Eu fiquei mais ereta. Contanto que eu não tivesse que andar mais do que 9<br />

metros, eu provavelmente ficaria bem. Eu sorri, checando para ver se havia batom nos meus<br />

dentes. Então eu me inclinei, corri minhas mãos pelo meu cabelo, e afofei as pontas como eu vi<br />

Jessica fazer. Ficou bom.<br />

Infelizmente, eu não sentia que estava bom. Inclinar tinha feito com que o fio dental movesse<br />

para o oeste novamente.


Andando pela sala de jantar, eu conseguia ouvir Connor falando, e quando eu enxerguei o<br />

vestíbulo, eu vi que as <strong>Prince</strong>sas estavam de cada lado dele, encarando silenciosamente seu<br />

lindo rosto. Eu acho que elas eram novas demais para apreciar como seu corpo ficava bem em<br />

uma calça cáqui e suéter escuro.<br />

Connor me viu e assobiu. ―Oi, maravilhosa,‖ ele disse, olhando-me de alto a baixo. ―Nossa,<br />

isso é o que eu chamo de vestido.‖<br />

As <strong>Prince</strong>sas olharam para mim, e então a <strong>Prince</strong>sa Um acenou para a <strong>Prince</strong>sa Dois.<br />

―Você está bonita, Lucy,‖ disse <strong>Prince</strong>sa Um.<br />

Eu não estava certa se elas iriam continuar o elogio com um insulto (―É, uma bonita vadia‖).<br />

Quando nenhuma das duas acrescentou coisa alguma, eu disse, ―Obrigada.‖ Elas voltaram a<br />

olhar adoravelmente para Connor.<br />

Bem então meu pai e Mara desceram as escadas. Ela estava usando um avental, como se ela<br />

estivesse se escravizando o dia todo no fogão, quando na verdade ela passara a maior parte da<br />

tarde se vestindo, antes de jogar algumas bandejas cobertas por papel-alumínio no forno.<br />

Enquanto ela vinha na nossa direção, ela removeu seu avental, expondo seu minúsculo vestido<br />

rosa de seda, que não parecia tão diferente do meu. Isso não podia ser um bom sinal, mas eu<br />

não conseguia entender qual de nós não devia estar vestida do jeito que ela estava.<br />

Meu pai olhou novamente quando viu o que eu estava usando, e por um segundo eu tive certeza<br />

de que ele ia me dizer que de modo algum eu sairia de casa desse jeito. Eu quase desejei que<br />

ele dissesse – meus dedos do pé estavam latejando. Mas então ele simplesmente esticou sua<br />

mão. ―Você deve ser o Connor,‖ ele disse. ―É um prazer conhecê-lo.‖<br />

―Prazer em conheceê-lo, senhor,‖ disse Connor, e mesmo achando que era uma coisa brega de<br />

se dizer, eu fiquei feliz por Connor ter dito. Eu queria que hoje à noite fosse perfeito, mesmo se<br />

perfeito significasse cheio de clichés, como Connor chamando meu pai de senhor.<br />

―Lucy nos contou tanto sobre você,‖ disse Mara. Essa era uma mentira total. Eu nem havia<br />

mencionado Connor para Mara, e eu mal contara algo para meu pai sobre ele, só havia dito que<br />

eu ia sair com um cara do time de basquete cujo nome era Connor. ―Quer se juntar a nós para<br />

um drinque?‖ ela perguntou. Ela enfiou a mão dele debaixo do braço dela e o guiou pelo arco<br />

que separava o vestíbulo da entrada da sala de estar.<br />

―Na verdade, nós provavelmente deveríamor ir,‖ eu disse para as costas recuantes deles.<br />

―Não se preocupe, será um drinque rápido,‖ ela disse, rindo. Ela ainda estava com sua mão na<br />

dele, praticamente grampeando o seu braço. Meu pai os seguiu, e após um segundo, eu segui,<br />

também.<br />

―O que você gostaria, querido?‖ ela perguntou, guiando Connor para o sofá. Ela estava sendo<br />

tão solícita que eu pensei que ela poderia realmente ajudá-lo a se sentar, mas no último segundo<br />

ela deixou que ele próprio cuidasse disso. ―Devo preparar um martíni?‖ Ela riu novamente,<br />

como se tivesse acabado de ouvir a piada mais engraçada do mundo.<br />

Connor disse a ela que tomaria uma Coca.


―Doug, querido, seja prestativo e pegue uma Coca pro Connor.‖ Embora Mara estivesse<br />

disposta a anotar os pedidos, com certeza ela não iria se prostituir na cozinha para executá-los.<br />

―Claro,‖disse o meu pai, sorrindo.<br />

Eu me dirigi a uma das cadeiras com braço, mas quando tentei sentar, eu percebi<br />

repentinamente que meu vestido era realmente curto. Tipo, extremamente curto. Tipo, émelhor-você-não-sentar-se-não-estiver-preparada-para-dividir-o-seu-fio-dental-com-a-sala-toda<br />

curto. Eu acabei meio que deslizando na beira da cadeira e cruzando minhas pernas<br />

apertadamente, balanceando o meu peso no meu pé esquerdo.<br />

Mara se virou na minha direção. ―Lucy, o que você gostaria?‖<br />

―Eu estou bem,‖ eu disse. Ela se sentou perto de Connor no sofá, e um segundo mais tarde<br />

ambas as <strong>Prince</strong>sas vieram e se sentaram, algo que eu nunca as vi fazer em todos os meses que<br />

morei com elas. A World Wide Web tinha quebrado, deixando-as sem acesso a<br />

mensagens instantâneas de noite?<br />

―Então, você joga basquete?‖ Mara perguntou, o que respondia minha pergunta se meu pai<br />

tinha ou não dito que Connor estava no time. ―Sabe, Lucy é uma grande fã de basquete.‖ Ela<br />

sorriu do outro lado da sala para mim. ―Não é, Lucy?‖<br />

Eu devia mesmo responder a pergunta dela? Já que ela continuava a sorrir para mim e não disse<br />

mais nada, percebi que devia. ―Claro que sou,‖ eu disse, dando a ela um sorriso curto.<br />

Ela se virou para Connor.<br />

―É estranho ver uma garota que é tão obcecada com esportes,‖ ela disse.<br />

Estranho? Obcecada? Eu senti minhas mãos se fechando em punho.<br />

―É, é bem legal,‖ disse Connor. Eu não conseguia afirmar se ele tinha mal-interpretado seu<br />

insulto deliberadamente ou se ele estava me defendendo de propósito, mas de qualquer jeito,<br />

Mara de repente decidiu tentar uma outra abordagem.<br />

―Vivendo com ela e seu pai, eu realmente estou começando a ligar para esportes,‖ ela disse.<br />

―Eu devo estar infectada com a Febre de Março*.‖<br />

* A March Madness, como é conhecida, é um torneio da Primeira Divisão Masculina do<br />

Campeonato de Basquete Masculino da NCAA. Tem duração de três semanas e conta com 65<br />

times de basquete de faculdade dos Estados Unidos.<br />

A única Febre de Março que eu vira Mara ser infectada era seu desejo insano de perder 2 quilos<br />

de sua moldura já esquelética antes da temporada de verão.<br />

―É,‖ disse <strong>Prince</strong>sa Dois, ―Lucy faz basquete parecer realmente interessante. Eu quero que ela<br />

me ensine tudo.‖ Ela realmente teve a audácia de olhar para mim enquanto dizia isso,<br />

esquecendo de mencionar que em dezembro ela sugeriu que eu deveria ser A) tão alta e B) tão<br />

interessada em basquete por causa de um desequilíbrio hormonal não-diagnosticado.<br />

―Os drinques estão servidos,‖ disse meu pai, chegando com uma bandeja. <strong>Prince</strong>sa um saltou<br />

de pé; pulando a mesinha de centro para pegar a Coca para Connor, ela meramente escapou de<br />

se impalar com uma estatueta de vidro.


―Obrigado,‖ ele disse, sorrindo para ela.<br />

―Certo,‖ ela disse, não olhando bem para ele. Então ela voltou para a bandeja, que não tinha<br />

nenhum copo agora que meu pai e Mara tinham ambos pego seus drinques.<br />

―Lucy, você não quer um drinque?‖ ela perguntou. ―Eu pego um pra você.‖<br />

Connor estava sorrindo para <strong>Prince</strong>sa um com aquele olhar que as pessoas têm quando estão<br />

simultaneamente entretidos e tocados pelas maneiras excelentes de uma criança. Eu, por outro<br />

lado, estava sorrindo para ela com aquele olhar que as pessoas têm quando tem bastante certeza<br />

de que alguém que eles conhecem bem foi replicado por alienígenas.<br />

―Estou bem,‖ eu disse, meus dentes cerrados. Então, não conseguindo me impedir, eu<br />

acrescentei, ―Obrigada.‖<br />

―De nada,‖ ela disse. ―Se mudar de idéia, me avise.‖<br />

Isso tudo estava ficando um tantinho demasiado para mim, e eu me levantei. ―Nós deveríamos<br />

ir,‖ eu disse.<br />

―Mas Connor nem teve chance de beber sua Coca,‖ disse Mara, tocando-o na manga.<br />

Minha carne se arrepiou.<br />

―Tudo bem, Sra. Norton,‖ disse Connor, tomando um grande gole e sorrindo para ela. ―Lucy<br />

está certa.‖ Ele se levantou, e as duas <strong>Prince</strong>sas pularam de pé. Após um segundo, meu pai e<br />

Mara levantaram, também.<br />

―Foi um prazer conhecê-lo,‖ Connor disse pro meu pai.<br />

―Igualmente,‖ disse meu pai. Ele olhou de mim para Mara como se desejasse que não<br />

estivéssemos vestidas tão identicamente. Então ele apertou a mão de Connor novamente.<br />

―Aproveite seu jantar,‖ ele disse para ele.<br />

―Sim,‖ disse Mara, tomando sua mão e meio segurando, meio apertando-a. ―Aproveite seu<br />

jantar.‖ Então ela olhou para mim e de volta para Connor. ―E tome conta da nossa menina.‖<br />

Agora eu fiquei feliz por não ter nada para beber; meu estômago vazio era a única coisa que me<br />

impedia de vomitar nela toda.<br />

―Eu tomarei, Sra. Norton,‖ ele disse. ―E obrigado pela Coca.‖ Ele olhou para as <strong>Prince</strong>sas. ―Foi<br />

um prazer conhecê-las, meninas.‖<br />

―Igualmente,‖ disse <strong>Prince</strong>sa um. <strong>Prince</strong>sa Dois só suspirou.<br />

Todos nos levaram até a porta e esperaram enquanto eu esticava minha mão para o closet e<br />

pegava a jaqueta de Connor. ―Bom, tchau,‖ eu disse.<br />

Mesmo com um armário antigo daqueles que a parte intermediária abre para a frente do<br />

tamanho do Titanic contra uma parede, a entrada é bem grande, mas com todos reunidos ao<br />

nosso redor eu praticamente tive que ir para fora para ter espaço o suficiente para colocar a


jaqueta.<br />

―Tchau, Lucy,‖ disseram as <strong>Prince</strong>sas.<br />

―Tchau, crianças,‖ disse o meu pai. ―Divirtam-se.‖<br />

Mara só acenou e sorriu para nós, como uma participante em um concurso de beleza.<br />

Quando entramos no carro e fechamos as portas, Connor se virou para mim antes de colocar a<br />

chave na ignição.<br />

―Uau,‖ ele disse, ―você tem uma família maravilhosa.‖<br />

Eu estava prestes a dizer para ele que minha ―família‖ é tão maravilhosa quanto os Masons,<br />

mas quando eu abri a minha boca para explicar a farsa que ele acabara de testemunhar, ele se<br />

inclinou na minha direção.<br />

―Bom te ver, Tomate,‖ ele disse.<br />

E bem então, encarando o imenso poder dos deliciosos beijos de Connor, o sermão que eu<br />

estivera para entregar sobre a dupla natureza do mal puro foi perdido para sempre.<br />

Enquanto Connor e eu dirigíamos até o restaurante, eu comecei a me sentir nervosa.<br />

Tecnicamente, esse era o nosso primeiro encontro. Tudo bem, saímos antes. Mas não<br />

estávamos sozinhos. E se não tivéssemos nada para falar durante o jantar? E se simplesmente<br />

ficássemos sentados lá, encarando um ao outro sobre a mesa em silêncio total? Mas então<br />

Connor começou a falar, explicando que ele estava dirigindo o carro de seu pai porque uma luz<br />

de alerta havia se acendido repentinamente no painel de sua SUV. Quando ele acabou a<br />

história, ele colocou um CD, girou o volume e pôs uma mão no meu joelho. Um minuto mais<br />

tarde, ele pegou minha mão e correu seu dedão pelas minhas costas.<br />

Meu terror de que passássemos a noite em um baixo silêncio, substituído pela sensação mais<br />

poderosa de descrença que eu já experimentei. Isso estava realmente acontecendo comigo? Mas<br />

do que tudo, eu desejei poder mostrar uma prévia desse momento para o meu eu desesperado e<br />

solitário do primeiro semestre.<br />

Connor achou uma vaga bem em frente ao restaurante, um local japonês chamado Osaka, e<br />

antes de sairmos do carro começamos a nos beijar. Eu teria ficado perfeitamente feliz se não<br />

tivéssemos ido jantar, mas após alguns minutos, Connor se afastou.<br />

―Estou morrendo de fome, Tomate.‖ Ele tirou as chaves da ignição e abriu sua porta. ―Vamu<br />

comê.‖<br />

Sofrendo da minha comum confusão após-beijar-Connor, eu levei um pouco mais de tempo do<br />

que ele para me destrinchar do carro. Na hora que eu desabotoei meu cinto de segurança, e me<br />

manobrei pra calçada, Connor estava esperando na porta do restaurante, segurando-a aberta<br />

para mim.<br />

Dentro do Osaka havia mesas normais e, na direção dos fundos, mesas baixas nas quais as<br />

pessoas sentavam-se em almofadas com suas pernas cruzadas no estilo indiano.<br />

―Boa noite,‖ disse a recepcionista, andando na nossa direção carregando dois menus.


―Gostariam de sentar no estilo ocidental ou no estilo japonês?‖ Quando ela disse ―estilo<br />

japonês‖ ela gesticulou na direção de uma das mesas baixas.<br />

―Ocidental,‖ eu praticamente gritei. Ele acenou, e Connor e eu a seguimos até uma mesa<br />

normal contra a parede. Eu me sentei normalmente, grata por ter uma toalha de mesa entre o<br />

mundo e o meu fio dental.<br />

―Deus, eu amo sushi,‖ eu disse. ―Não acho que comi desde que deixamos São Francisco. Meu<br />

pai e eu costumávamos comer praticamente todo dia.‖<br />

―Ah, é? Que legal, Tomate,‖ ele disse. Eu olhei pro menu. Yellowtail*. Camarão atum. Eu nem<br />

mesmo percebera o quanto eu sentia falta das minhas infusões regulares de sushi até esse<br />

minuto.<br />

* yellowtail, peixe marinho de dorsal amarela encontrado na Califórnia.<br />

―Pronto?‖ perguntou a garçonete. Ela abriu sua caderneta e segurou prontamente sua caneta.<br />

―Pede aí, Tomate,‖ disse Connor.<br />

―Hm, eu vou querer dois pedaços de yellowtail, um unagi*, um camarão, e um rolinho<br />

especial**,‖ eu disse. Ela acenou, anotando tudo. Então ela se virou para Connor.<br />

* unagi, enguia de água doce.<br />

** do original, special hand roll.<br />

―Uau, Tomate,‖ ele disse. ―Você é ousada. Eu vou querer o bife teriyaki***.‖ Ele fechou seu<br />

menu e entregou para ela.<br />

*** método japonês de cozinhar, em que o peixe ou a carne são postos a marinar em molho de<br />

soja e vinho de arroz, e depois são grelhados nas brasas.<br />

―Já experimentou sushi?‖ eu perguntei a ele assim que a garçonete se foi.<br />

―Peixe cru? De jeito nenhum,‖ ele disse. Ele fez uma cruz com seus pauzinhos como se para<br />

repelir vampiros. Eu estava prestes a perguntar por que não, quando me ocorreu o pensamento<br />

de que talvez eu devesse mudar de assunto ao invés de continuar a chamar a atenção dele para o<br />

fato de que estava prestes a comer comida que ele aparentemente achava tão revoltante quanto<br />

os mortos-vivos.<br />

―Desculpa você ter tido que passar por toda aquela cena na minha casa,‖ eu disse. Eu queria<br />

que ele soubesse como a Mara e as <strong>Prince</strong>sas realmente eram. ―Elas nunca agem desse jeito.‖<br />

Antes que eu pudesse explicar o que queria dizer, Connor deslizou seus dedos pelos meus.<br />

―Não se preocupe com isso, Tomate. Sua família é bacana. E sua mãe é tão legal. Percebo de<br />

onde puxou suas lindas pernas.‖ Ele sorriu e apertou minha mão.<br />

―Ela não é minha mãe,‖ eu praticamente gritei. A idéia de que alguém pudesse pensar que Mara<br />

era minha mãe me deixava enjoada. ―Ela é minha madrasta.‖ Mesmo a própria palavra tinha<br />

algo negro e aranhoso nela. Eu peguei a minha mão da de Connor e limpei meus dedos agora<br />

suados no meu guardanapo, que, apesar de Mara estar ausente, eu o coloquei no meu colo<br />

assim que sentamos.<br />

―Brincadeirinha,‖ disse Connor. Fiquei feliz dele não começar a fazer milhões de perguntas<br />

sobre a minha família. Quero dizer, acho que meu namorado precisa saber que sua namorada


vive com seu pai e sua madrasta má porque sua mãe está morta. Mas eu não estava exatamente<br />

ansiosa para trazer a tona um assunto que sem dúvida alguma seria uma grande depressão.<br />

Connor tomou um gole de sua água, assim como eu. Assim que eu coloquei o copo de volta na<br />

mesa, um garçom apareceu magicamente ao meu cotovelo e reencheu-o.<br />

―Obrigada,‖ eu disse. Ele acenou e deslizou para longe.<br />

―Ei, você assistiu o jogo ontem à noite?‖ Connor perguntou, mastigando gelo.<br />

―O do Knicks ou do–‖<br />

―Não, o jogo do Syracuse.‖<br />

―É,‖ eu disse. ―Eu senti que eles simplesmente cruzaram os braços no quarto tempo. Todos têm<br />

dito que eles têm essa defesa impossível de ser parada, mas eu achei eles uma podreira total.‖<br />

―Total,‖ ele concordou, tirando um pouco de gelo do seu copo com um garfo. ―Você assistiu<br />

até o fim? Viu como eles perderam o último arremesso?‖<br />

Eu concordei e fiz careta. ―Foi trágico,‖ eu concordei.<br />

E nós discutimos o jogo e quem achávamos que chegaria às finais da NCAA*, eu comecei a<br />

sentir essa estranha sensação sobre a conversa. Era como se o basquete fosse essa ilhinha de<br />

papo no qual eu e Connor estávamos, e se nós tentássemos sair dela, nos afogaríamos em um<br />

mar de silêncio. Na hora que nossa comida chegou, eu estava certa de que não poderíamos mais<br />

ter itens relacionados ao basquete para discutir, mas então Connor chegou ao assunto do time<br />

de Glen Lake, e como nesse ano eles estavam melhor do que nunca.<br />

* A National Collegiate Athletic Association (Associação Atlética Universitária Nacional) é a<br />

entidade máxima do esporte universitário dos Estados Unidos. Organiza e gerencia<br />

competições regionais e nacionais entre as universidades do país.<br />

Infelizmente, eu não consegui realmente me focar no que ele estava dizendo, só que não era<br />

porque eu não conhecia a maioria das pessoas das quais ele estava falando. Assim que eu me<br />

inclinei para dar minha primeira mordida no sushi, a alça do meu vestido deslizou do meu<br />

ombro, quase levando a parte de cima direita inteira com ela. Eu derrubei o pedaço de<br />

yellowtail que estava prestes a saborear e agarrei meu vestido, firmemente e puxando-o de<br />

volta. Então eu tomei um fôlego profundo e, me inclinando para frente o mínimo possível,<br />

peguei o yellowtail de volta com meus pauzinhos. Enquanto abaixava meu queixo para colocar<br />

o pedaço na minha boca, um aglomerado de arroz caiu dos meus pauzinhos e deslizou pela<br />

frente do meu vestido. Eu o senti se alojar entre meus seios, bem onde uma miniatura rosa<br />

decorativa poderia ter se aninhado se eu estivesse usando sutiã.<br />

Eu entrei em pânico. Deveria tentar removê-lo? Como você enfia a mão na frente do seu<br />

vestido e subitamente puxa um meteoro de arroz? Talvez a melhor coisa a se fazer era<br />

simplesmente deixar lá e esperar que fosse embora por conta própria. Mas e se ele ―fosse<br />

embora‖ pelo sul? Eu conseguia visualizar agora. Eu me levantaria, e um segundo depois uma<br />

bola de golfe de arroz cairia na minha cadeira. Eu ficaria parecendo o Peter Orelhudo, o coelho<br />

que tínhamos na turma da segunda série, que derrubava bolinhas onde quer que fosse.<br />

Essa imagem em particular ocupou uma parte não-insignificante do meu cérebro pela maior<br />

parte do jantar. Eu ficava acariciando levemente o meu peito bem acima do topo do meu<br />

vestido, esperando achar um momento oportuno para mergulhar minha mão no corpete e


emover a ofensiva bola de arroz. O problema com o plano era que os olhos de Connor estavam<br />

colados na minha mão, que eu percebi tarde demais ser um ponteiro direcionando seu olhar<br />

para o meu (basicamente inexistente) decote. Se ele não tivesse derrubado seu garfo na metade<br />

da refeição e tivesse precisado procurar ao redor por um garçom para pegar um novo para ele,<br />

eu poderia ter tido que permanecer sentada pelo resto da minha vida. Felizmente, os três<br />

segundos durante os quais ele se distraiu foram tudo o que eu precisei para me inclinar para<br />

frente o bastante para que o tecido apertado ficasse folgado, tirado o arroz do meu vestido, e<br />

colocado-o próximo à minha pilha de wasabi.<br />

―Posso pegar seus pratos?‖ perguntou nossa garçonete.<br />

―É claro,‖ disse Connor, colocando seu guardanapo na mesa e se esticando. ―Isso estava<br />

delicioso.‖<br />

Eu acenei em acordo enquanto a garçonete habilmente limpou a mesa.<br />

―Alguma sobremesa?‖<br />

Connor balançou sua cabeça para ela e então olhou do outro lado da mesa para mim,<br />

―Desculpa, Tomate. Agora que talvez cheguemos às estaduais, o Treinador está louco para que<br />

estejamos em casa às dez quando não houver jogo. Ele ligou para a casa do Matt semana<br />

passada para inspecioná-lo.‖<br />

―Não se preocupe com isso,‖ eu disse. ―Estou cheia.‖<br />

―Eu trarei a conta,‖ disse a garçonete.<br />

Enquanto ficávamos sentados lá, Connor acariciou as costas da minha mão, e eu sentir o<br />

arrepio que sempre sentia quando ele me tocava. ―Esse vestido é muito quente,‖ ele disse.<br />

Olhar dele fez com que todo o fiasco do arroz de repente tivesse valido a pena. ―Obrigada,‖ eu<br />

disse.<br />

―Opa, eu fiquei tagarelando,‖ disse connor, sorrindo para mim. ―Você é uma ótima ouvinte.‖<br />

Aquele sorriso. Me deixava tonta. ―Obrigada,‖ eu disse novamente.<br />

―Mas eu quero saber mais sobre você,‖ ele disse, virando a minha mão e pressionando sua<br />

palma na minha.<br />

―O que você quer saber?‖ eu perguntei, repentinamente ansiosa. Eu devia ter preparado<br />

algumas anedotas engraçadas sobre mim mesma. O que poderia ser mais chato do que uma<br />

pessoa iniciando sua história de vida? Bem, eu nasci em Los Angeles e depois da minha mãe ter<br />

morrido quando eu tinha três anos... Connor dormiria antes que eu atingisse a quarta série.<br />

Felizmente, bem quando eu estava considerando narrar uma infância imaginária mais<br />

fascinante publicada ao redor do globo, a garçonete trouxe a nossa conta. Connor tirou seu<br />

cartão de crédito e o entregou. Sua confiança casual enquanto lidava com a conta era sexy; o<br />

fazia parecer mais velho. Não tão velho que parecesse nojento ele sair com uma garota do<br />

ensino médio, contudo. Ele parecia simplesmente velho o bastante.


―Obrigado pelo jantar,‖ eu disse. Saiu mais formal do que eu intencionei, como se eu estivesse<br />

agradecendo ao amigo do meu pai ou algo assim.<br />

Connor não pareceu ligar, contudo. Ele levantou uma sobrancelha para mim. ―Sem problema,<br />

Tomate. Mas eu ainda te devo uma sobremesa.‖ Soava paquerador, como se estivéssemos<br />

falando sobre algo muito mais íntimo do que sorvete.<br />

―Talvez eu deva uma sobremesa a você,‖ eu disse. Eu esperava soar paqueradora também, e<br />

não como se eu estivesse calculando o que cada um de nós tinha gasto um com o outro.<br />

Connor me lançou seu sorriso matador. ―Toda a sobremesa que eu preciso é você nesse<br />

vestido,‖ ele disse. Então ele soltou um uivo como o de um lobisomem.<br />

Ambos rimos, e quando a garçonete trouxe o recibo do cartão de crédito para Connor assinar,<br />

ainda estávamos rindo. Quando finalmente paramos de rir, ele disse, ―Você é hilária, Tomate,‖<br />

mesmo tendo sido ele quem fez a piada. Isso fez eu me sentir viva e divertida.<br />

Na porta, Connor me ajudou a colocar a minha (dele) jaqueta, e do lado de fora ele me inclinou<br />

contra a porta do carro e começamos a dar amassos. Sua língua traçou uma linha da minha<br />

orelha para a minha clavícula. Eu desejei que tivéssemos simplesmente pulado o jantar e<br />

passado a noite toda no carro dele se engraçando, mas não é como se você pudesse exatamente<br />

sugerir algo assim.<br />

No caminho todo de volta para casa Connor segurou a minha mão; felizmente ele teve que<br />

consertar o equalizador no som algumas vezes, então eu fui capaz de limpar minha palma no<br />

meu vestido antes que ela ficasse suada demais. E ele não simplesmente segurou a minha mão<br />

como se fosse uma pedra que por acaso ele pegou. Ele a segurava perfeitamente, traçando meus<br />

dedos com seu polegar e então apertando minha mão fechada, ou roçando os dedos dele sobre<br />

minhas dobras. Eu não sabia quais eram os planos profissionais de Connor, mas ele<br />

definitivamente poderia ficar rico ensinando outros caras como segurar a mão de uma garota.<br />

Quando paramos na frente da minha casa, Connor me beijou levemente nos lábios.<br />

―Obrigado por entender sobre o horário de recolher, Tomate,‖ ele disse. ―Mesmo que<br />

cheguemos às estaduais, são só mais algumas semanas, e então podemos ficar fora até o<br />

amanhecer. E eu espero que você use esse vestido.‖ Ele levantou minha mão até seus lábios e<br />

beijou-a.<br />

Já que eu planejava colocar fogo no meu vestido assim que entrasse, Connor provavelmente<br />

não o veria de novo. Eu não mencionei isso, contudo, especialmente já que ficar fora até o<br />

amanhecer com Connor soava uma ótima idéia para mim. Nós ficamos sentados no carro, nos<br />

beijando, até que o relógio do painel marcasse nove e cinquenta e cinco.<br />

―Tenho que ir, Tomate,‖ ele disse suavemente.<br />

―É,‖ eu disse. Eu me lembrei de tirar meu cinto de segurança antes de abrir a porta o carro.<br />

―Te ligo amanhã,‖ ele disse. Eu fechei a porta e acenei; antes que ele fosse embora, ele imitou<br />

uivar para a lua.<br />

Quando eu deitei na cama, eu fechei meus olhos e assisti novamente os beijos de Connor na<br />

minha mente. Então eu sai da cama, peguei meu iPod, e assisti-os novamente, dessa vez com


música. Eu desliguei as luzes e me aninhei debaixo das cobertas, deixando a música ligada. Eu<br />

fechei meus olhos, sentindo as mãos de Connor no meu rosto, seus lábios gentilmente traçando<br />

a curva da minha orelha. A última música que eu escutei antes de adormecer foi ―Little Red<br />

Corvette‖. Eu tentei descobrir porque era a trilha sonora perfeita para a noite, e quando eu<br />

descobri a resposta, eu quase me matei de tanto rir.<br />

É claro que era perfeita.<br />

Era <strong>Prince</strong>*.<br />

* príncipe, em inglês.


Capítulo 13<br />

Connor me ligou durante o jogo da Carolina do Sul no domingo, e nós ―assistimos‖ a segunda<br />

metade do jogo juntos. Depois ele ligou novamente, e nós ficamos no telefone até o final do<br />

show pré-jogo, quando ele teve que sair porque ele tinha dito ao seu pai que eles assistiriam ao<br />

jogo juntos.<br />

Na segunda logo depois da primeira aula, ele chegou por trás de mim, colocou suas mãos nos<br />

meus olhos, e sussurrou no meu ouvido, "Adivinha quem é," e eu senti meu estômago cair com<br />

a animação familiar. Eu me virei para encará-lo, envolvi meus braços apertadamente ao redor<br />

da cintura do dele, e nós nos apoiamos em um armário enquanto um cara que eu não conhecia<br />

gritou, ―Arrumem um quarto.‖ Eu conseguia sentir Connor sorrir, mas ele não parou de me<br />

beijar até que o sinal de aviso tocou.<br />

―Te vejo mais tarde,‖ eu disse, me desvencilhando e levantando minha sobrancelha para ele.<br />

―Não se eu te ver primeiro,‖ ele disse.<br />

Era estranho, contudo – eu parecia estar vivendo duas vidas distintas. Na escola, eu nunca<br />

ficava sozinha. Quando eu me sentava em uma das minhas aulas, dentro de segundos, duas ou<br />

três pessoas estavam competindo por cada mesa vizinha da minha. No almoço, Madison,<br />

Jessica e eu nos sentamos juntas enquanto pessoas que me ignoraram por dois terços do ano<br />

clamavam por um lugar na nossa mesa. Às vezes quando tínhamos aulas em partes totalmente<br />

diferentes do prédio, Connor me ligava no meu celular entre aulas, então eu falava no telefone<br />

com ele e com quem quer que eu estivesse andando. Não havia horas o bastante na escola para<br />

eu ver e falar com todos que queriam me ver e falar comigo.<br />

Mas minha fada madrinha teve ter se esquecido de salpicar seu pó mágico na minha casa,<br />

porque sempre que eu estava em casa de noite, Mara e as minhas meias-irmãs estavam ou fora<br />

ou me ignoravam completamente. Não que eu ligasse. Eu só não conseguia evitar notar.<br />

Na sexta-feira depois do meu jantar de sushi com Connor, meu pai chegou em casa enquanto<br />

Mara estava levando as <strong>Prince</strong>sas para a casa do pai delas. Ele entrou pela porta bem quando eu<br />

estava tirando a jaqueta de Connor do closet do vestíbulo da entrada.<br />

―Ei, Goose,‖ ele disse, derrubando sua mala de viagem e me dando um abraço.<br />

―Ei,‖ eu disse, abraçando-o de volta. Ele me olhou de cima a baixo. Eu estava usando calça<br />

jeans e uma camiseta amarela pálida.<br />

―Agora, posso não saber muito de moda, mas tenho que dizer que realmente prefiro isso àquele<br />

vestido vermelho seu.‖<br />

Eu dei de ombros como se não conseguisse realmente perceber a diferença. Ele deslizou sua<br />

pasta de seu ombro e pegou um cabide do closet. ―Você quer assistir o jogo amanhã de tarde?‖<br />

ele perguntou, pendurando seu casaco. ―Eu podia pegar uma pizza. Ou poderíamos estourar<br />

aquela pipoca de microondas amanteigada nojenta.‖<br />

Bem então um táxi parou na frente de casa e buzinou. Eu conseguia ver Madison e Jessica<br />

sentadas no banco traseiro. ―Não posso,‖ eu disse. ―Eu vou assistir o jogo na casa do Connor.‖


Meu pai fechou a porta do closet. ―Sabe, eu me sinto um pouco estranho por não termos nem ao<br />

menos conversado sobre esse novo relacionamento,‖ ele disse.<br />

Eu cruzei meus braços ao redor do meu peito e bati meu pé. Quero dizer, ele não conseguia ver<br />

que minhas amigas estavam do lado de fora esperando por mim? ―Sobre o que você quer<br />

conversar?‖<br />

―Eu não sei,‖ ele disse. Ele coçou sua cabeça e sorriu para mim. ―Você está bem? Mara disse<br />

que praticamente não te vê durante a semana.‖<br />

Eu bufei. Essa era boa. Talvez ele devesse ter tentado perguntar a ele por que ela nunca me via<br />

durante a semana. ―Estou bem, pai,‖ eu disse.<br />

Ele colocou sua mão no meu ombro. ―Isso é ótimo,‖ ele disse, apertando-me. ―Nós<br />

simplesmente não conversamos há um tempo, é só.‖<br />

―É, claro,‖ eu disse, mas ele não soltou o meu ombro. Eu tive que escorregar de debaixo de sua<br />

mão para chegar a porta.<br />

―Bem, talvez nós assistamos juntos no domingo.‖<br />

―É, talvez,‖ eu disse, colocando a jaqueta de Connor e abrindo a porta de vidro.<br />

Mas eu sabia que não iria poder assistir ao jogo com meu pai no domingo. Eu tinha uma<br />

tonelada de trabalhos que precisavam ser feitos.<br />

Eu acenei para Madison e Jessica, e me apressei em direção ao táxi.<br />

Eu basicamente não vi meu pai antes que ele fosse embora para São Francisco domingo à noite.<br />

Eu não vi muito de Mara ou das <strong>Prince</strong>sas nos dias que se seguiram, tampouco, o que pode<br />

explicar por que ninguém me avisou sobre a cama que magicamente apareceu no meu quarto<br />

entre quando eu sai para escola na manhã de quarta e quando eu voltei para casa na quarta a<br />

tarde. Não era exatamente do meu gosto – realmente moderna com gavetas de fórmica e uma<br />

cabeceira que espaços de armazenamento estranhos e geométricos, como algo que você veria<br />

em um filme futurista de 1970 – mas não se olha os dentes de cavalo dado, e qualquer um que<br />

passou oito meses dormindo em um colchão de ar definitivamente não pode ser exigente<br />

demais. Eu subi novamente para agradecer Mara, mas ninguém estava em casa.<br />

Na noite seguinte Mara e as <strong>Prince</strong>sas e eu realmente acabamos jantando juntas. Eu não<br />

conseguia acreditar – não havia absolutamente nenhum filme que elas queriam ver? Nenhuma<br />

loja para elas esvaziarem as mercadorias? Nenhuma inauguração de restaurante na Costa Norte<br />

onde elas podiam jantar sem ter a minha presença intolerante?<br />

Mas dentro de segundos, ficou claro por que elas não se importavam de eu comer com elas –<br />

era porque elas não estavam comendo, na verdade. A Vogue de Mara tinha chegado mais cedo<br />

de dia, assim como a TeenVogue das <strong>Prince</strong>sas. Isso é algo parecido com um feriado nacional<br />

na Casa Norton, e uma vez que foi estabelecido que a minha calça jeans era ―da marca errada‖,<br />

ninguém se incomodou em falar comigo. Eu comi meu macarrão pensando em uma pintura de<br />

Picasso que a Srta. Daniels tinha me mostrado mais cedo em resposta à minha última (e podre)<br />

idéia para um auto-retrato. Chamada ―Large Nude in a Red Armchair,‖ era uma rendição<br />

bizarra de uma mulher cuja caceça e dentes a faziam parecer um cavalo nervoso. A intenção da


Sra. Daniels era de que Picasso pintava retratos que eram simultaneamente dos exteriores e dos<br />

interiores das pessoas. ―Como o interior da Lucy se parece?‖ ela ficava perguntando.<br />

Pensar sobre o seu eu interior e comer macarrão não é exatamente apetitoso; enquanto eu<br />

girava cada bocada no meu garfo, eu imaginava que os fios de espaguete eram meus intestinos.<br />

Eu estava gostando da imagem apesar da nojentisse, considerando um auto-retrato de mim<br />

mesma comendo meus próprios órgãos, que deve ter sido o porquê de eu ter perdido meu nome<br />

sendo chamado.<br />

―O-lá!‖ <strong>Prince</strong>sa Um olhou para mim com exasperação. ―Terra para Lucy, Terra para Lucy.‖<br />

Ela girou seus olhos para sua irmã.<br />

―Desculpa,‖ eu disse. ―Estava falando comigo?‖<br />

―Não, Lucy, eu estava,‖ disse Mara. Ela esticou a mão e deu um tapinha na minha, como se eu<br />

fosse um filhotinho não-treinado que ela dominava.<br />

―Desculpa,‖ eu disse novamente.<br />

―Minha amiga Gail está vindo de Nova York no sábado, e eu a convidei para ficar conosco essa<br />

semana. Eu esperava que ela pudesse ficar no seu quarto, e você pudesse ficar no escritório.‖<br />

Ela ajustou sua franja e tomou um gole do vinho.<br />

―Espere,‖ eu disse, e então porque não conseguia formular um pensamento, eu simplesmente<br />

disse, ―O quê?‖<br />

Mara me deu um sorriso de comercial de pasta de dente, como se fossemos grandes amigas que<br />

regularmente pediam pequeníssimos favorzinhos uma à outra. ―Eu disse que estava me<br />

perguntando se você estaria disposta a deixar minha amiga Gail dormir no seu quarto quando<br />

ela vier no sábado.‖<br />

―Por que Gail não pode ficar no escritório?‖ Eu perguntei. Parecia muito estranho para mim<br />

Mara não estar hospedando sua amiga no nosso escritório recentemente colorido em<br />

combinação, especialmente já que durante os meses em que ela esteve decorando-o, eu devo têla<br />

escutado usar a frase ―sofá-cama conversível‖ dez mil vezes.<br />

―O negócio é, ela tem um problema nas costas, e eu odiaria pedir para ela domir num sofácama.‖<br />

Ou num colchão de ar.<br />

De repente a aparição da minha nova cama não era exatamente tão mágica.<br />

Eu sei que eu devia me sentir mal sobre as costas da amiga dela, mas considerando que ela mal<br />

falou comigo por dias, eu não estava exatamente morrendo para fazer um favor a Mara.<br />

―Bem,‖ eu disse, ―Não tenho certeza. Posso pensar nisso?‖<br />

O sorriso de alta voltagem de Mara escureceu. ―É claro, Lucy. É o seu quarto.‖<br />

―Deus, Lucy, você não tem que ser tão egoísta,‖ disse <strong>Prince</strong>sa Um.<br />

―É,‖ disse <strong>Prince</strong>sa Dois. ―Gail teve um acidente de carro quando era criança.‖<br />

―E ainda assim eu não vejo você oferecendo a sua cama,‖ eu disparei.


―Está bem, Lucy, chega,‖ disse Mara, decidindo fazer vista grossa no fato de sua filha ter<br />

acabado de me chamar de egoísta. ―Se você não quiser ajudar, a escolha é sua.‖<br />

―Eu não disse que eu não quero ajudar,‖ eu disse. ―Eu simplesmente disse que quero pensar<br />

sobre isso.‖<br />

―O que tem para pensar?‖ perguntou <strong>Prince</strong>sa Dois. ―Ou você quer ajudar ou não quer.‖<br />

―Alguns de nós gostamos de pensar,‖ eu disse, olhando furiosamente para ela, ―Nem todos<br />

achamos que é um crime realmente usar nosso cérebros.‖<br />

Mara bateu na mesa com sua palma, fazendo seu copo de vinho pular. ―Lucy, eu não vou aturar<br />

você falando dessa maneira com a sua irmã.‖<br />

―E quanto à maneira como ela está falando comigo?!‖ A Mara era surda? Ou ela simplesmente<br />

escolhia não ouvir o que saia da boca de suas filhas?<br />

―Tudo o que eu disse é que você está sendo egoísta,‖ disse <strong>Prince</strong>sa Um. ―Não é errado dizer<br />

algo se for verdade.‖ Ela virou para sua mãe. ―Não está certo?‖<br />

―Eu não sou egoísta,‖ eu disse. ―E eu não estou exatamente te vendo voluntariar a sua cama<br />

para Gail dormir.‖<br />

―Eu totalmente voluntariaria a minha cama, mas acontece que eu tenho um problema nas<br />

costas, também,‖ disse <strong>Prince</strong>sa Um.<br />

―Ah, por favor,‖ eu disse. ―Só porque a Senhorita Coisinha gosta de dormir em sua própria<br />

cama ela de repente tem problemas de coluna?‖<br />

<strong>Prince</strong>sa Um virou-se para sua mãe. ―Mãe, Lucy está sendo má comigo.‖<br />

―Falando em ser capaz de criticar mas não aguentar...‖ eu disse. ―Não vá choramingar para sua<br />

Mamãe, sua pirralhinha.‖<br />

―Já chega, Lucy!‖ disse Mara. ―Quando eu contar isso ao seu pai–‖<br />

―Ah, claro, coloque o meu pai no meio.‖ Eu deixei minha voz aguda e chorona. ―Ah, Doug!<br />

Doug, querido. Venha rápido. Você não vai acreditar no que Lucy fez dessa vez. Deixe que eu<br />

pego o telefone para você, Mara. Deixe que eu pego o telefone para que você possa contar a ele<br />

tudo sobre sua horrível filha.‖ Isso era tão típico. Eu sabia que ela nunca contaria a ele que as<br />

<strong>Prince</strong>sas tinha me chamado de egoísta e inútil. Ela faria soar como se elas estivessem todas,<br />

Ei, Lucy, como foi o seu dia? e eu respondesse, Não é da conta de vocês, suas pirralhas<br />

egoístas.<br />

―Eu acho que o seu pai tem o direito de saber como sua filha se comporta em sua ausência,‖<br />

Mara disse. Sua voz estava ameaçadora.<br />

Falando em injustiça... Eu conseguia me sentir começar a chorar. Eu pisquei rapidamente,<br />

tentando segurar as lágrimas. ―E quanto a como elas se comportam na ausência dele?‖ Eu<br />

apontei para o outro lado da mesa.<br />

―O jeito como as meninas se comportam é entre elas e eu,‖ disse Mara. ―Eu as disciplinarei.‖


―Ah, por favor,‖ eu disse. ―Se você olhar disciplina no dicionário, não diz, ‗Levar para<br />

comprar roupas novas.‘‖<br />

Mara jogou seu guardanapo na mesa. ―Eu não vou tolerar falarem comigo desse jeito na minha<br />

casa.‖<br />

―Ah, agora a casa é sua.‖ Não havia nada que eu pudesse fazer para impedir as lágrimas de<br />

correrem pelas minhas bochechas. Eu empurrei minha cadeira para trás e fiquei de pé. ―Eu<br />

sabia que todo aquele negócio sobre ser a ‗nossa‘ casa era uma bela porcaria.‖<br />

―Como ousa!‖ sibilou Mara, ficando de pé, também. ―Vá para o seu quarto nesse minuto.‖<br />

―Você não está me mandando para o meu quarto,‖ eu disse, meio choramingando meio<br />

gritando. ―Eu estou escolhendo ir lá porque é o mais distante de você que eu consigo ir!‖<br />

Quando eu cheguei no porão, eu tentei bater a porta, mas já que abria para fora, isso não era<br />

exatamente possível. Eu tive que me contentar em puxá-la para perto de mim o mais forte que<br />

pude. Eu caminhei pelo quarto, fervendo. Eu nunca tinha odiado ninguém tanto quanto eu<br />

odiava Mara. Eu queria que eu fosse o tipo de pessoa que cometeria um assassinato e o fizesse<br />

parecer um acidente. Eu queria que eu fosse o tipo de pessoa que cometeria um assassinato e<br />

não o fizesse parecer um acidente. Eu me importava se fosse para a cadeira? A vida na prisão<br />

podia realmente ser muito pior do que a vida com a minha madrasta?<br />

Finalmente, eu tive um colapso na minha cama e tentei me acalmar deixando meus olhos se<br />

perderam nas formas e cores fluídas de Matisse. Não funcionou, contudo. Eu só fiquei deitada<br />

lá, odiando Mara e minhas meias-irmãs, até que de repente me ocorreu que eu nem mesmo<br />

sabia o nome do hotel do meu pai em São Francisco. Não havia maneira de eu ligar para ele a<br />

não ser que eu primeiro eu fosse até Mara e pegasse o número. Isso me assustou. E se eu<br />

quisesse falar com ele e ela não me deixasse? E mesmo se eu pudesse falar com ele, e se ele<br />

não me ajudasse?<br />

Eu coloquei meus fones e deixei white chocolate space egg* explodir meus pensamentos do<br />

meu cérebro. Algum tempo mais tarde, inteiramente vestida e com as luzes ainda acesas, eu<br />

devo ter adormecido.<br />

* terceiro álbum da cantora e compositora americana Liz Phair, lançado em 1998.


Capítulo 14<br />

Eu acordei antes do meu alarme soar e fiquei deitada na cama por um tempo, observando os<br />

minutos avançarem de quarenta e oito para cinquenta e cinco. Então eu subi para pegar um<br />

pouco de suco de laranja. Na mesa da cozinha havia um bilhete com a caligrafia longa e esguia<br />

de Mara.<br />

LUCY, SEU PAI E EU A ESPERAMOS EM CASA LOGO APÓS A ESCOLA.<br />

Eu fique parada lá, lendo e relendo o bilhete, como se estivesse em alguma língua estrangeira<br />

na qual eu ainda não fosse fluente.<br />

Às oito horas, o jogo que determinaria se iríamos ou não para o campeonato estadual iria<br />

começar, e aproximadamente duas horas mais tarde, Connor e todos os outros que eu conhecia<br />

em Glen Lake estariam celebrando na casa de Darren Smith. A festa de Darren seria grandiosa.<br />

Não, não grandiosa. Gigantesca. De estourar os miolos.<br />

De fazer a terra tremer.<br />

Eu já tinha perdido a segunda maior festa do ano por causa da Mara. De jeito nenhum eu<br />

perderia a maior. Quais as chances de eu voltar para casa depois da escola, ter uma conversa<br />

civilizada com meu pai e Mara sobre a briga de ontem à noite, então me deixarem ir à festa do<br />

Darren? Meu tiro de despedida de Mara flutuou perante meus olhos, como se a briga tivesse<br />

sido capturada de perto pela memória defeituosa. É O MAIS DISTANTE DE VOCÊ QUE EU<br />

CONSIGO IR!<br />

Ninguém exceto eu tinha levantado. Eu voltei a descer, tomei um banho de três minutos, me<br />

vesti, ―esqueci‖ meu celular na minha cama e joguei uma roupa de estourar os miolos digna de<br />

festa na minha mochila antes de escapar pelas portas dos fundos. Ao invés de arriscar ser<br />

encurralada pela Mercedes da Mara no ponto de ônibus, eu andei dois quilômetros e meio até<br />

Glen Lake, chegando na escola quase uma hora mais cedo.<br />

A manhã toda eu fiquei sentada nas minhas aulas me sentindo uma fugitiva.<br />

Duas vezes alguém bateu na porta da sala de aula, uma vez na de inglês e uma vez na de<br />

química, e deu um bilhete para a professora. Cada vez eu esperei que ela olhasse para cima,<br />

capturasse meu olhar, e lesse em voz alta do pedaço de papel, Lucy Norton, você está de<br />

castigo para o resto da sua vida. Pegue suas coisas; a polícia está esperando por você no<br />

escritório do diretor. Levei até o almoço para perceber o quão estúpida eu estava sendo.<br />

Ninguém viria me buscar, certamente não antes das três e meia, quando eles podiam<br />

razoavelmente começar a me esperar em casa. Uma vez que eu parei de me ver como uma<br />

presa em fuga, o dia se esticando antes do jogo de basquete às oito horas começou a parecer<br />

interminável.<br />

O que eu iria fazer entre as duas e cinqüenta, quando minha última aula acabava, e a hora do<br />

jogo?<br />

―Ei, o que você vai fazer depois da escola?‖ Eu perguntei a Madison.<br />

―Consulta médica,‖ ela disse, quebrando um pedaço de biscoito de lascas chocolate e atirandoo<br />

em sua boca.


Jessica não poderia ir ao jogo a não ser que fosse diretamente para casa depois da escola e<br />

trabalhasse em seu trabalho de história. No espaço de dez minutos, eu passei de duas opções<br />

viáveis para depois da escola para nenhuma. Apesar de talvez ficar na casa da Jessica ou da<br />

Madison não teria sido uma boa idéia de qualquer jeito; esse seria o primeiro lugar onde Mara<br />

procuraria por mim uma vez que se tornasse claro que eu havia desobedecido-a.<br />

Quando a última aula acabou, eu fiquei em meu cavalete enquanto todos os outros arrumavam<br />

suas coisas. Já que eu não tinha nenhum outro lugar para ir, eu imaginei que podia tentar usar o<br />

tempo para algo bom. A classe lentamente esvaziou, deixando-me sozinha com meus desenhos.<br />

O problema era que eu ainda não entendia realmente o que a Srta. Daniels queria de nós. Agora<br />

eu estava encarando outra folha branca de papel e mastigando minha borracha, tentando decidir<br />

se era moralmente duvidoso abrir as gavetas das outras pessoas e roubar suas idéias. Quando a<br />

porta do estúdio abriu, eu olhei para cima. Talvez fosse Connor; eu tinha ligado para seu celular<br />

de um orelhão perto do ginásio para ver se ele queria dar uma volta antes do jogo. Por ―dar uma<br />

volta,‖ eu tinha querido dizer ―dar uns amassos,‖ a única atividade no universo que<br />

possivelmente poderia tirar minha mente de minha vida caseira profundamente perturbada.<br />

Não era Connor, era Andrea, essa garota totalmente irritante que está na aula de desenho<br />

corporal da Srta. Daniels. Quando ninguém está no estúdio, ela gosta de vir aqui e falar no seu<br />

celular. Ela olhou para mim, decidiu que eu era uma ninguém, e enfiou a mão em sua bolsa.<br />

Então ela foi até o sofá, jogou-se nele, e discou um número em seu telefone. ―O-lá! Não, sou<br />

eu. . . . Ai meu Deus. . . . Sério?‖ Sua voz estridente poderia quebrar vidro. ―Eles fizeram isso? .<br />

. Mas eu contei à você. . . . Não, eu te contei isso...‖ Eu arrumei as minhas coisas o mais rápido<br />

que pude e enfiei na minha gaveta. Em um momento de perfeita simetria, bem quando a porta<br />

do estúdio fechava atrás de mim, eu ouvi Andrea dizer, ―Cai fora!‖<br />

O corredor estava deserto. Três e vinte e cinco. Quatro horas e trinta e cinco minutos até a hora<br />

do jogo. Talvez eu chamasse um táxi e fosse para a Barnes and Noble* fazer lição. Eu fui até<br />

meu armário. Será que eu deveria ir ao cinema? Mas quem vai ao cinema sozinho no meio da<br />

tarde? Eu desejei que pudesse ser simplesmente congelada criogenicamente por algumas horas<br />

e então emergir, bem descansada, ainda que um tanto gelada, na hora do começo do jogo.<br />

Havia algo no meu armário. De longe parecia com um recorte de jornal, mas quando eu cheguei<br />

mais perto eu percebi que era um cartão postal. Eu estudei a frente do cartão, que tinha a foto<br />

de uma pintura, um retrato. Então eu virei o cartão. MILTON NEWMAN: NOVOS<br />

TRABALHOS; A GALERIA MARGARET TANNER. RUA WEST FOURTEENTH 525.<br />

CIDADE DE NOVA YORK. ABERTURA DIA 31 DE MARÇO, DA CINCO ÀS SETE.<br />

* famosa rede de livrarias.<br />

31 de março – isso era hoje. Eu olhei ao redor, totalmente assustada. Isso era uma coincidência<br />

demais de grande. Quem me conhecia bem o bastante para saber que eu A) gostava de arte e B)<br />

tinha quatro horas para matar? Connor? Não, ele provavelmente não tinha nem recebido minha<br />

mensagem. Madison? Dificilmente ela era uma participante da cena de arte de Nova York.<br />

Jessica? Mesma coisa. Não. Não. Não. Alguém estava me observando? Alguém tinha me<br />

escutado perguntar à Jessica e Madison se podíamos sair depois da escola? Eu estava vivendo<br />

alguma situação de perseguição bizarra?<br />

Bem quando eu estava começando a ficar totalmente apavorada sobre estar totalmente sozinha<br />

no corredor com um perseguidor em potencial, a resposta chegou até mim. A Srta. Daniels. É<br />

claro. Ela deve ter colocado o cartão no meu armário. Todos os professores tem uma lista dos<br />

armários dos estudantes, para que se tiverem vontade eles podem fazer com que o armário de<br />

um estudantes seja vasculhado por drogas ou pornô ou recibos de cartão de crédito do<br />

termpaper.com*


* site onde alunos conseguem trabalhos de escola feitos<br />

Mas a Srta. Daniels não teria me dado esse cartão postal na aula? Ou me contado sobre a<br />

abertura como ela tinha sobre a exibição do Clemente? O negócio todo era realmente estranho.<br />

Por outro lado, meu armário ficava entre o estúdio e o estacionamento dos funcionários Talvez<br />

ela tenha querido me entregar na aula mas então esqueceu. Eu conseguia totalmente imaginar a<br />

Srta. Daniels andando pelo corredor, enfiando a mão em sua bolsa para pegar suas chaves do<br />

carro, e achando o cartão em sua bolsa. Ela provavelmente carregava os números dos armários<br />

em sua pasta com sua lista de chamada ou algo assim. Fazia total sentido.<br />

Eu nunca tinha ouvido falar em Milton Newman antes, mas o retrato era fantasticamente<br />

deslocado, quase, mas não exatamente uma foto-realística. Me lembrava um tantinho de algo<br />

que eu tinha visto antes, mas eu não conseguia me lembrar do que. Eu chequei o relógio do<br />

corredor. Três e meia. Era apenas uma corrida de táxi de cinco minutos até a estação de trem de<br />

Glen Lake. A abertura era das cinco às oito. Eu podia ir na cidade, ver as pinturas, e voltar para<br />

Long Island em tempo o bastante para o jogo.<br />

Eu tinha acabado de ser convidada para a minha primeira abertura de arte de Nova York. Pela<br />

segunda vez esse ano, a Srta. Daniels tinha me escolhido dentre o resto da classe como alguém<br />

que seria beneficiada ao ver uma exibição que ela gostara. Eu realmente iria dizer não?<br />

Felizmente a muda de roupas que eu tinha trazido para a festa podia servir como roupa para a<br />

abertura de galeria de Manhattan: botas pretas de salto grosso, calça preta de cós baixo, e uma<br />

camiseta diminuta e fina como papel da C and C que Madison tinha me dado semana passada,<br />

já que ela disse que ficava realmente bonitinha em mim e ela nunca mais a usava. Eu poderia<br />

me trocar, ir para a cidade, ver as pinturas, me misturar e me entrosar, então pular em um trem<br />

e voltar para Glen Lake em tempo o bastante antes do jogo começar.<br />

Minha tarde tinha repentinamente ido de porcaria para estupenda.<br />

Eu tinha que me lembrar de contar à Srta. Daniels que ela dava uma excelente fada madrinha.


Capítulo 15<br />

Quando meu táxi parou na frente da galeria Margaret Tanner logo após as cinco, o sol estava se<br />

pondo no rio Hudson, e todo o quarteirão explodia com luz. A galeria ficava em um campo de<br />

cascalhos brancos, ligeiramente afastado dos prédios vizinhos, e havia uma pequena piscina<br />

refletora na frente. Uma parede de pedra de acabamento precário circulava a propriedade.<br />

A frente da galeria era toda de vidro, e através dela eu conseguia ver a multidão e algumas das<br />

pinturas: retratos enormes e realísticos. Enquanto eu ficava parada no portão, olhando para o<br />

campo de cascalhos, um táxi parou e um casal emergiu, conversando em italiano. A mulher<br />

tinha cabelo curto e espetado e o homem usava minúsculos óculos geométricos. Ambos eram<br />

magros e chiques, e enquanto andavam pela piscina refletora, pareciam com algo saído de um<br />

anúncio de moda da Vogue.<br />

Claramente, era uma coisa ótima eu estar usando uma calça preta.<br />

Dentro, a multidão era igualmente fabulosa. As mulheres, mesmo as mais velhas, eram<br />

bronzeadas e tonificadas, e muitas delas estavam usando micro minissaias. Os homens vestiam<br />

ternos de linho ou combinações de camisa-e-calça de aparência cara que até mesmo alguém tão<br />

debilitada no quesito moda como as <strong>Prince</strong>sas insistiam que eu era, podia afirmar que eram<br />

extremamente modernos. A sala bem iluminada zumbia, e o ocasional disparar de um flash de<br />

câmera só aumentava a sensação de que essa era uma reunião importante de celebridades.<br />

O artista, que eu reconheci do cartão (aparentemente um auto-retrato), estava parado em um<br />

canto, cercado por um aglomerado de pessoas. Eu me dirigi para duas das pinturas que eu não<br />

tinha visto da rua. Eram paisagens enormes, tão ricas e variadas que meus olhos se sentiram<br />

sobrecarregados, e eu percebi de quem o trabalho de Newman me lembrava – Chuck Close. Eu<br />

circulei na frente de uma das pinturas lentamente, observando como os círculos e linhas<br />

pareciam mudar de cor quando eu os olhava de ângulos diferentes.<br />

Pinturas eram simplesmente tão legais. Como as pessoas sabiam como fazer isso, colocar cores<br />

e formas próximas umas das outras bem no modelo exato? Eu me perguntei se a minha mãe<br />

poderia ter explicado isso para mim, ou se era tudo intuitivo, impossível de articular.<br />

Eu recuei da pintura, procurando ao redor da sala pela Srta. Daniels. A verdade era que eu não<br />

conseguia muito bem imaginá-la nessa multidão. Talvez ela se transformasse numa mulher<br />

super-descolada do cenário de artes de Manhattan assim que saía da escola. Eu examinei de<br />

perto algumas das mulheres de micro minissaias, determinando que a única maneira da Srta.<br />

Daniels estar nessa sala comigo era se ela tivesse cortado seu comprido cabelo e o tingido de<br />

loiro platina, vermelho cereja, ou azul.<br />

Eu imaginei que a encontraria antes de ir embora; talvez ela fosse uma dessas pessoas que<br />

acreditava em chegar atrasada. Além do mais, eu estava começando a me sentir constrangida de<br />

pé no canto procurando ao redor da sala por um rosto familiar. Eu me virei para olhar uma<br />

pintura que estivera estudando, mas infelizmente bem então eu vi um rosto familiar. Só que não<br />

era o rosto familiar que eu queria ver. Era outra pessoa da minha aula que a Srta. Daniels deve<br />

ter convidado.<br />

Sam Wolff.<br />

Ugh.


Sam estava virado de lado. Ele estava usando uma jaqueta esportiva e calças de flanela carvão,<br />

e ele estava falando com o artista, que disse algo que fez Sam jogar sua cabeça para trás e rir.<br />

Eu não conseguia acreditar. Por que a minha primeira abertura em Nova York tinha que incluir<br />

Sam Wolff? E por que Sam tinha que ficar parado ali, casualmente conversando com o artista<br />

como se eles fossem melhores amigos? Eu já conseguia ver como ele agiria quando visse que<br />

eu estava na abertura também. Ele ou A) totalmente me ignoraria ou B) me procuraria para<br />

dizer algo condescendente. Deus, por que ele era tão babaca? Era o bastante para me fazer<br />

querer ir embora sem nem me incomodar de ver o resto das pinturas.<br />

Eu estava prestes a fechar o zíper da minha jaqueta e ir para fora, quando eu percebi o quanto<br />

estava sendo estúpida. Quero dizer, eu tinha tanto direito quanto ele de estar aqui. Não era<br />

como se ele fosse o dono do lugar. Quem ligava se ele estava puxando o saco do artista<br />

enquanto eu estava parada sozinha no canto? A Srta. Daniels tinha convidados nós dois. Eu<br />

olharia as pinturas, agradeceria a ela por me convidar, e iria embora. Não havia razão para que<br />

eu tivesse que ao menos dizer oi para ele.<br />

Bem quando eu estava virando as costas para onde ele estava parado, Sam olhou na minha<br />

direção. Ótimo. Eu o vi pedir licença, e ele veio na minha direção.<br />

―Então, você decidiu se aventurar nas ruas de Gotham.‖ Suas bochechas estavam coradas, e ele<br />

segurava um copo vazio pela metade de vinho em uma mão. Ele tocou a manga da minha<br />

jaqueta. ―Você, de fato, trouxe o time de futebol americano com você?‖<br />

―Basquete,‖ eu o corrigi, afastando meu braço da mão dele. ―Eu odeio futebol americano.‖<br />

―Ah, desculpa,‖ ele disse. ―Não percebi que tinha diferença.‖<br />

Isso era demais. ―Você não percebeu que tinha diferença?‖ Cruzando meus braços, eu dei uma<br />

risada sarcástica. ―Ah, por favor. Você acha que isso faz você parecer todo ‗intelectual‘ e<br />

‗artístico‘ dizer, ‗Minha nossa, há uma diferença entre futebol americano e basquete? Que<br />

curioso.‘ Mas isso não o faz soar esperto, isso te faz soar idiota. Como uma pessoa que não<br />

sabe que há uma diferença entre Picasso e Monet.‖<br />

Mesmo enquanto as palavras estavam saindo da minha boca, eu não conseguia acreditar como<br />

estava sendo antipática. Eu nunca falava desse jeito com ninguém. Nem mesmo com a minha<br />

madrasta.<br />

―Uau, que analogia impressionante,‖ ele disse. ―Futebol americano é para o basquete o que<br />

Picasso é para Monet.‖ Um garçom passou com uma bandeja de vinho, e Sam pegou um e me<br />

deu.<br />

Eu peguei, mas não agradeci ele. Só porque aconteceu da Srta. Daniels ter convidado nós dois<br />

para a mesma abertura, não queria dizer que eu tinha que ser educada com ele. Eu gostaria de<br />

poder encontrá-la, contudo. Estava ficando cada vez mais estranho ficar numa festa sem a<br />

pessoa que me convidou.<br />

Sam cutucou meu ombro com seu dedo indicador. ―Então, e daí, se eu não ligar para os<br />

magníficos pontos do basquete, você não vai falar comigo?‖<br />

Eu queria dizer a ele para não me cutucar. Eu também queria dizer a ele que eu não ia falar com<br />

ele mesmo se ele ligasse para os magníficos pontos do basquete, mas bem quando eu abri<br />

minha boca para dizer essas coisas, Sam olhou para o outro lado da sala para um homem e uma


mulher que estavam vindo em linha reta na nossa direção. ―Ah, Jesus,‖ ele murmurou. Ele<br />

tomou um gole do vinho e se centrou de pé como se preparando-se para algum tipo de ataque.<br />

Por um segundo eu pensei que vi algo em seu rosto que nunca tinha visto antes – algo um tanto<br />

triste ou talvez confuso. E então, tão rapidamente quanto apareceu, se foi.<br />

―Querido,‖ disse a mulher, lançando-se em nós. ―Eu quero que conheça Diego Martinez.<br />

Diego, esse é meu filho Sam – Ele também é um artista.‖ Ela colocou seu braço ao redor de<br />

Sam e beijou o ar ao redor da bochecha dele.<br />

A noite estava ficando cada vez mais estranha. O que a mãe de Sam estava fazendo aqui?<br />

―Prazer em conhecê-lo,‖ disse Sam, esticando sua mão para Diego apertar.<br />

Diego estava usando um terno preto perfeitamente amassado. ―Encantando,‖ ele disse. Eu não<br />

reconheci seu nome, mas o terno de Diego Martinez, junto com sua barba por fazer, o faziam<br />

ter a aparência exata que um artista deveria ter.<br />

―E essa é?‖ A mãe de Sam estava me olhando curiosamente. Ela estava com uma blusa de<br />

alcinha de seda verde clara e uma calça boca-de-sino preta de seda, e seu cabelo tingido na<br />

altura do queixo era bem mais vermelho que o meu.<br />

"Lucy Norton, Maggie Tanner," disse Sam. ―Mãe, Lucy.‖<br />

Tanner. Seu nome era bastante familiar. Onde eu o tinha escutado antes?<br />

―É claro. Lucy." Ela acenou seu braço ao redor da sala. ―Então, gostou do meu showzinho?‖ ela<br />

perguntou.<br />

Ai meu Deus. Ai meu Deus. AIMEUDEUS.<br />

De repente eu me lembrei onde eu tinha visto o nome Margaret Tanner.<br />

―Oh, ah, está ótimo,‖ eu disse. ―É realmente um show ótimo.‖<br />

Essa era a galeria dela. O que significava– ―Sim, Sam achou que você gostaria,‖ ela disse.Ela<br />

pegou Diego pelo braço. ―E só espere até ver o que esse gênio consegue fazer.‖<br />

Sam tinha me convidado? Sam?!<br />

―É claro,‖ eu disse. ―Eu, hm, estou ansiosa.‖<br />

Diego sorriu, pegou a mão da mãe de Sam, e beijou cada um de seus dedos, um por vez. O<br />

processo pareceu levar uma eternidade. ―Com Maggie do meu lado, eu sou incansável,‖ ele<br />

disse finalmente. ―Já viu uma dona de galeria mais bonita na sua vida?‖<br />

Aparentemente essa era uma pergunta retórica, porque a mãe de Sam simplesmente disse,<br />

―Querido,‖ e sorriu com alegria para nós antes de dar um pequeno aceno. ―Bem, estamos indo.<br />

Divirtam-se.‖<br />

―Obrigada,‖ eu disse. Eu observei eles darem alguns passos antes da mãe de Sam ser abraçada<br />

por um homem alto com cavanhaque. Eu ouvi ela dizer, ―Querido!‖<br />

―Sabe do que mais?‖ Sam perguntou, olhando não para mim, mas para um ponto logo acima do<br />

meu ombro.


Eu balancei minha cabeça. ―O quê?‖<br />

―Eu preciso de um pouco de ar.‖<br />

Não tinha certeza se ele queria que eu o seguisse, mas eu segui.<br />

―Obrigada por me convidar,‖ eu disse, recuando internamente pela lembrança de como eu tinha<br />

sido rude com ele mais cedo. Nós estávamos sentados do lado de fora em um banco há alguns<br />

metros da piscina refletora. Sam não tinha dito nada desde que tínhamos ido para fora, e minha<br />

frase saiu estranha e ensaiada, o que fazia sentido, já que eu tinha experimentado diversas<br />

variações na minha cabeça antes de pronunciá-la.<br />

―É, claro,‖ ele disse, mas ele soou distraído, como se não tivesse realmente escutado o que eu<br />

tinha dito.<br />

Eu imaginei que podia ao menos dizer tudo de uma só vez. ―Eu, hm, não percebi que você<br />

colocou o cartão no meu armário,‖ eu disse. ―Eu achei que a Srta. Daniels tinha me convidado.‖<br />

Sam ficou de pé e andou até a piscina refletora. ―Ah.‖ Ele disse. Ele saltou para a parede de<br />

pedra e correu ao redor da piscina e começou a andar ao lado dela. ―Decepcionada?‖<br />

―O quê?‖<br />

―Eu disse, você está decepcionada?‖<br />

Agora eu estava confusa. ―Com o quê?‖<br />

―Que fui eu que te convidei?‖<br />

―Não. Por que eu ficaria decepcionada?‖<br />

Ele estava andando totalmente natural, apesar da tampa da pedra em que ele estava equilibrado<br />

ter só alguns centímetros de largura. ―Eu não sei. Por que você suporia que a Srta. Daniels foi<br />

quem te convidou? Por que você não acharia que seria eu?‖<br />

―Ah, talvez porque toda vez que eu tento falar com você, você me olha como se desejasse que<br />

eu fosse atropelada por um carro,‖ eu respondi.<br />

―Fala sério,‖ ele disse, do outro lado da piscina.<br />

―Ou um ônibus.‖<br />

―Por favor. Eu não sou tão mal assim. É só que é... embaraçante quando alguém comenta sobre<br />

a sua pintura.‖<br />

Eu pensei em explicar sobre a diferença entre um comentário e um elogio, mas pela maneira<br />

como ele estava de repente olhando para baixo, eu podia afirmar que só falar sobre eu falar<br />

sobre o seu trabalho estava deixando-o desconfortável.<br />

―Como você sabia qual era o meu armário?‖ eu perguntei.<br />

―O seu caderno.‖


―O quê?‖<br />

―Está no seu caderno.‖<br />

―Ah,‖ Era verdade. No primeiro dia de escola eu tinha escrito meu número do armário no meu<br />

caderno para que não esquecesse.<br />

Sam tinha caminhado dois terços da piscina agora, e ele olhou para mim. Então ele pulou sem<br />

derramar uma gota do seu vinho e voltou para o banco. Ele ficou de pé na frente de onde eu<br />

estava sentava e correu sua mão pelo seu cabelo, fazendo-o ficar de pé. Então ele balançou sua<br />

cabeça como se estivesse tentando clarear algo desagradável. ―Desculpe pela minha mãe lá<br />

atrás,‖ ele disse.<br />

―Não se preocupe com isso,‖ eu disse. ―Você devia conhecer a minha madrasta.‖<br />

―É?‖ ele perguntou.<br />

―Deus, ela é dez milhões de vezes pior que a sua mãe,‖ eu pensei por um segundo. ―Tipo, ela<br />

coleciona estatuetas de vidro realmente caras,‖ eu disse.<br />

―Ta brincando!‖ Sam disse, e pela primeira vez desde que sua mãe tinha vindo até nós, ele<br />

sorriu.<br />

―Sério,‖ eu disse. ―E uma vez um dos pares dos unicórnios coordenados quebrou, e ela<br />

começou a chorar.‖ Sam ainda estava sorrindo. ―Pelo menos a sua mãe coleciona arte,‖ eu<br />

disse.<br />

―E artistas,‖ ele disse. Ele parou de sorrir e olhou de volta para a galeria. ―E quanto a sua mãe?‖<br />

ele perguntou. ―O que ela faz?‖<br />

―Na verdade, ela não faz mais nada,‖ eu disse. ―Ela está morta.‖<br />

―Ah, uau,‖ ele disse, se virando para me encarar. ―Que droga.‖<br />

―É, eu acho,‖ eu disse. Eu nunca sei como dizer às pessoas que minha mãe está morta, já que é<br />

quase uma certeza de parar até mesmo a conversa mais vivaz. Foi um alívio tão grande que o<br />

Sam não fez o franzir de Pobrezinha da Lucy que a maioria das pessoas fazia.<br />

―É por isso que você se mudou para Nova York?‖ ele perguntou. ―Ela morreu recentemente?‖<br />

―Ah, não, ela morreu faz tempo,‖ eu disse. ―Nós nos mudamos porque meu pai casou de novo,<br />

e minhas revoltantes meias-irmãs não funcionam a menos de dezesseis quilômetros da Miracle<br />

Mile.‖<br />

Sam entortou os olhos e olhou para o céu, como se estivesse tentando entender alguma coisa.<br />

―Entãããão, você tem uma madrasta má que é uma vaca e umas meias-irmãs malvadas,‖ ele<br />

disse finalmente.<br />

―Eu sei,‖ eu disse. ―É muito Irmãos Grimm.‖<br />

―Fala sério.‖


Enquanto eu olhava para Sam, que estava de pé bem na minha frente e ainda olhava para o céu,<br />

eu meio que podia ver como alguém como Jane, alguém que podia sair com qualquer cara que<br />

ela quisesse, sairia com ele. Com sua jaqueta esportiva, segurando um copo de vinho, ele era<br />

bonito. Não bonito como o Connor era. Mas daquele jeito puramente maravilhoso. Isso era<br />

diferente. Eu considerei como Sam tinha rido quando estava falando com Milton Newman.<br />

Apesar de terem pelo menos uma dúzia de adultos ao redor dele, apesar dele estar falando com<br />

um cara que era claramente um artista bem sucedido conhecido, ele parecera totalmente<br />

relaxado.<br />

Era isso – Sam era descolado.<br />

Ele sentou no banco próximo a mim. ―Então,‖ ele disse. ―Você foi arrancada de São Francisco<br />

e arrastada pelo país até Long Island. Você é do segundo ano. Você não conhece ninguém.<br />

Ainda assim, em poucos meses você consegue agarrar o capitão do time de futebol americano –<br />

desculpa, do time de basquete. Nada mal.‖<br />

Eu tomei um gole do meu vinho, então me virei para encará-lo. ―Eu realmente não acho que o<br />

cara que sai com a rainha do baile do ano passado deve ser tão condescendente, você acha?‖<br />

Sam riu. ―Touché,‖ ele disse. Após um minuto ele acrescentou, ―Ela não era realmente a rainha<br />

do baile.‖<br />

―Ainda assim,‖ eu disse, dando um tapinha levemente no joelho dele. ―Eu sinto que o ponto é<br />

justificável.‖<br />

―É,‖ ele reconheceu. ―Suponho que seja.‖ Ele esticou seus braços para cima, então deixou sua<br />

mãos caírem em sua cabeça e correu seus dedos pelo seu cabelo. ―Ei, talvez você seja a rainha<br />

do baile esse ano,‖ ele disse. Então apontou para mim. ―Sonhos se tornam realidade, certo?‖<br />

Eu abaixei meu copo no chão recoberto de pedrinhas. ―Está bem, posso só dizer que eu não<br />

gostava de você antes, e então por alguns minutos eu gostei de você, e agora eu não estou<br />

gostando novamente?‖<br />

―Desculpa,‖ ele disse. Quando eu não disse nada, ele disse novamente. ―Sério, me desculpa.‖<br />

Ele balançou sua cabeça e deu risada. ―Eu só não consigo entender como alguém que parece<br />

ligar tanto para arte quanto você gosta de basquete.‖<br />

Eu cruzei meus braços. ―Por que não? Por que você não pode aceitar que uma pessoa consiga<br />

gostar de esportes e arte?‖<br />

―Não sei.‖ Ele deu de ombros. ―Falha de imaginação, eu acho.‖<br />

―Falha de alguma coisa,‖ eu disse. ―Você devia ligar para o basquete. Você devia abrir a sua<br />

mente para a beleza do jogo.‖<br />

Sam balançou sua cabeça de um lado para o outro, sorrindo. ―Bem, talvez eu faça isso,‖ ele<br />

disse.<br />

―Falando na beleza do jogo, que horas são?‖ eu perguntei. Eu estava bem certa que estava se<br />

aproximando das sete, o que significava que eu precisava pensar em ir embora. Havia um trem<br />

as sete e vinte que eu planejava entrar, e a Estação Penn era cerca de dez minutos da galeria de<br />

táxi.


Sam esticou sua mão e preguiçosamente puxou a manga de sua jaqueta. ―São sete e dez,‖ ele<br />

disse.<br />

Eu saltei do banco, meu coração martelando. ―Ai meu Deus! Como isso é possível?‖<br />

―Bem, a mãozona está no–‖<br />

―Não, não, eu tenho que dar o fora daqui,‖ eu disse. ―Estou atrasada.‖<br />

Ele amassou seu rosto com confusão zombeteira. ―Espera, deixe-me adivinhar...‖ De repente<br />

ele balançou sua mão no ar. ―Eu sei, eu sei. Deve ser a noite do GRANDE JOGO, certo?‖<br />

Eu não consegui evitar sorrir. ―Se eu tivesse tempo, eu te socaria,‖ eu disse.<br />

―Nesse caso, é melhor eu te chamar um táxi,‖ ele disse, e ele se virou e andou na direção do<br />

portão. Eu o segui e esperei na calçada enquanto ele chamava um táxi, tentando não bater meu<br />

pé impacientemente. Felizmente um táxi parou logo; dentro de um minuto Sam estava<br />

segurando a porta aberta para mim.<br />

Enquanto eu deslizava no banco traseiro, percebi como eu estava sendo rude. ―Desculpa sai<br />

correndo assim,‖ eu disse, colocando meu cinto.<br />

―Sem problema,‖ ele disse. ―Eu não iria querer que você virasse uma abóbora perante os meus<br />

olhos.‖ E então, sorrindo, ele fechou a porta do táxi.<br />

―Para onde?‖ perguntou o motorista.<br />

―Estação Penn, por favor.‖ O táxi acelerou, e quando paramos na esquina em um sinal, eu<br />

percebi que não tinha nem ao menos realmente dito tchau. Eu virei meu pescoço para ver se<br />

Sam ainda estava de pé do lado de fora da galeria, mas ele não estava lá. Eu deslizei de volta no<br />

meu assento.<br />

―Você sabe que horas são?‖ Eu perguntei ao motorista.<br />

―São sete e quinze,‖ ele disse.<br />

Se eu perdesse o trem das sete e vinte, o próximo seria as sete e quarenta, o que significa que de<br />

jeito algum eu chegaria no jogo das oito antes das oito e meia.<br />

Era tudo culpa da Mara. Se ela não fosse uma bruxa, não teríamos brigado, e se não tivéssemos<br />

brigado, eu não teria vindo para a cidade para evitar ser castigada, e se eu não tivesse vindo<br />

para a cidade para evitar ser castigada, eu não teria ficado na galeria todo aquele tempo falando<br />

com Sam, e se eu não tivesse ficado na galeria falando com Sam, eu não teria perdido o meu<br />

trem, e se eu não tivesse perdido o meu trem, eu não chegaria atrasada ao jogo.<br />

Hoje à noite era a ilustração perfeita de por que Cinderela e seu Príncipe se casaram vinte e<br />

quatro horas depois de se conhecerem. Porque quando você vive com a sua madrasta, não há<br />

felizes para sempre.


Capítulo 16<br />

Eu esperava chegar na metade do primeiro quarto se tivesse sorte, mas quando eu abri a porta<br />

do ginásio, os time ainda estavam se aquecendo. Como isso era possível? Olhando para o<br />

relógio pouco abaixo do placar, eu vi que dizia que era oito e meia. Então eu estava atrasada.<br />

Mas o jogo também estava.<br />

Eu fiquei de pé na porta observando enquanto cada jogador dava um lance e então se fundia na<br />

contorcente fila de jogadores se formando e reformando abaixo da cesta. Fãs torciam tão<br />

selvagemente que o ginásio literalmente balançava. Música estourava dos auto-falantes, e o<br />

próprio cômodo parecia estar suando por todos os corpos comprimidos dentro. Eu senti o calor<br />

e o barulho agindo em mim como um elixir. Em menos de um minuto eu identifiquei o Connor<br />

– como mágica, no segundo em que eu o vi, ele afundou uma cesta perfeita, e a torcida, eu<br />

incluída, ficou louca.<br />

Levou uma eternidade para encontrar Madison e Jessica, e então minhas botas de salto grosso<br />

transformou a subida para onde elas estavam sentadas em uma aula de aeróbica. Na hora em<br />

que eu cheguei no espaço que elas foram capazes de guardar para mim, eu estava arfando tão<br />

arduamente quanto os caras do time. ―Desculpe o atraso,‖ eu disse depois de abraçar as duas e<br />

dizer olá. Então eu olhei para baixo para a quadra bem em tempo de nos ver perder a bola.<br />

Jessica dispensou a minha desculpa. ―Adivinha?‖ ela perguntou.<br />

South Meadow era bom. Realmente bom. Mal conseguimos pegar a bola quando eles a<br />

pegaram de volta.<br />

―Adivinha?‖ Jessica perguntou novamente.<br />

Eu apontei para o relógio. ―Por que o jogo começou tarde?‖<br />

―Eu acho que o ônibus deles quebrou ou algo assim,‖ Madison disse. Eu observei enquanto o<br />

juíz apitava a Glen Lake por viajar com a bola.<br />

―Você não vai perguntar o quê?‖ disse Jessica.<br />

―O que o quê?‖ Eu perguntei. South Meadow fez um tiro livre, e eu consegui tirar meus olhos<br />

da quadra tempo o bastante para notar que tanto Madison quanto Jessica estavam sorrindo de<br />

orelha a orelha. ―O quê?‖ Eu repeti.<br />

―O comitê do baile vai anunciar o tema do baile na segunda.‖ Seu sorriso se alargou. ―E sabe<br />

do que mais?‖<br />

―O quê?‖ O juíz soprou seu apito bem quando Jessica colocou seu braço ao redor do meu<br />

ombro e se inclinou para sussurrar no meu ouvido. Ele tinha anotado outra falta contra a Glen<br />

Lake? Eu não conseguia ver.<br />

―Quais três garotas são as únicas do primeiro ano que receberão convites?‖<br />

De repente minha mente estava muito longe do jogo. ―Não!‖ Eu disse, encarando-a.<br />

Jessica acenou. ―Sim.‖


Agora eu comecei a sorrir, também. ―Espera um segundo,‖ eu disse, repensando o que ela tinha<br />

dito. ―Você não sabe se eles vão nos convidar.‖<br />

Madison colocou seu braço ao redor do meu outro ombro e se inclinou sobre mim, nós três<br />

formando um abraço apertado. ―Não só eles vão nos convidar,‖ ela disse, ―mas eu acho que<br />

eles vão nos convidar hoje à noite.‖<br />

―Hoje à noite?‖ Eu repeti.<br />

Ela e Jessica me apertaram, como se quisessem fazer um sanduíche de Lucy. ―Hoje à noite,‖<br />

disse Jessica.<br />

Bem então Connor pegou a bola, e nós três saltamos de pé junto com o resto dos fãs do Glen<br />

Lake. Eu torci até ficar rouca enquanto Connor despejava a bola na direção da cesta, se<br />

movendo tão facilmente que ele nem precisava enganar as pessoas mandadas para marcá-lo –<br />

seu corpo fluído simplesmente oscilava para um lado, então para o outro, e de repente havia<br />

apenas espaço vazio onde ele estivera há um segundo. Observando-o afundar a bola, eu não<br />

conseguia acreditar que alguém tão confiante e talentoso tinha me escolhido para ser sua<br />

namorada.<br />

Ainda batendo palma, Jessica se inclinou sobre mim. ―Lá vai o seu par do baile,‖ ela disse.<br />

―Para,‖ eu disse, batendo nela no ombro. ―Olha o jogo.‖ Mas eu não consegui evitar rir e nem<br />

ela.<br />

Foi provavelmente a única vez que alguém do nosso lado do ginásio riu a noite toda. Pelo<br />

terceiro quarto, o jogo, o qual todos tinham previsto que seria bem apertado, estava provando<br />

ser qualquer coisa fora isso. South Meadow – um time que parecia ter a habilidade de ler as<br />

mentes uns dos outros, doze gigantes que faziam até mesmo os nossos maiores jogadores<br />

parecerem anões – era imbatível. Não, não imbatível – intocável. Enquanto eles afundavam<br />

cesta após cesta, nós mal pontuávamos, até que eventualmente estávamos atrás por quase trinta<br />

pontos. O treinador deles começou a rotacionar jogadores que provavelmente não tinham saído<br />

do banco a temporada toda, deixando o placar ficar um pouco mais apertado antes de mandar<br />

de volta um ou dois iniciantes bem descansados. Os nossos iniciantes, enquanto isso, estavam<br />

exaustos; eles estavam correndo a noite toda, mas nas poucas vezes quando foram tirados, eles<br />

não conseguiram ficar parados. Eu observei eles marcharem para frente e para trás pela quadra,<br />

bebendo água sem parar até que fossem mandados de volta. Quando o sinal final tocou e South<br />

Meadow tinha ganho por 15 pontos, a maioria dos caras do banco da Glen Lake estava<br />

segurando suas cabeças em suas mãos. Alguns realmente estavam chorando.<br />

Até Madison e Jessica ficaram desapontadas, apesar de que por uma razão totalmente diferente.<br />

―Os caras vão ficar tão irritados,‖ disse Madison.<br />

―Talvez devêssemos ir a lanchonete por um tempo,‖ sugeriu Jessica. ―Sabe, dar a eles uma<br />

oportunidade de chafurdarem um pouco?‖<br />

Nós decidimos que essa era uma boa idéia, e enquanto Madison chamava um táxi para nos<br />

levar para a Dan‘s Diner, Jessica mandava uma mensagem de texto para Dave de que nós os<br />

encontraríamos na festa. Quando eu peguei minha carteira para checar quanto dinheiro eu tinha,<br />

eu vi o canto do cartão-postal que Sam tinha posto no meu armário. Entre estar tão deprimida,<br />

era legal lembrar da parte da noite que não tinha sido um desastre completo.


Não falamos muito no Dan‘s, e ninguém pronunciou a palavra baile. Simplesmente sentamos<br />

com nossas batatas fritas e Cocas nos perguntando o quanto os garotos ficariam desapontados,<br />

até que finalmente Jessica decidiu que tínhamos esperado tempo o bastante e ela chamou um<br />

táxi para nos levar para a festa da não-vitória.<br />

Nós viramos na Avenida Cypress e começamos a andar pelo que claramente era uma<br />

vizinhança mega-rica, do tipo que você nem consegue ver as casas da estrada. Quando<br />

chegamos perto da casa do Darren, o tráfego repentinamente se tornou um problema – carros<br />

estavam estacionados dos dois lados da rua, e o nosso carro diminuiu a velocidade para um<br />

rastejo para conseguir passar entre as fileiras. Nós paramos na frente de um gigantesco portão<br />

de ferro forjado com uma águia de ferro empoleirada no topo, pagamos o motorista, e nos<br />

juntamos ao rio de pessoas se dirigindo à entrada de cascalho. Pairando em uma subida acima<br />

de nós estava na casa do Darren, a maior casa que eu já tinha visto fora de um estúdio de<br />

cinema; era como se um Chateau francês tivesse sido levantado de sua fundação, flutuando<br />

através do Oceano Atlântico, e caído, perfeitamente intacto na Costa Norte de Long Island.<br />

Do lado de dentro das massivas portas dianteiras um grupo de caras estava jogando mini<br />

basquete; a entrada era tão grande que o jogo deles nem mesmo era perturbado pela multidão<br />

de pessoas correndo de um lado para o outro. Madison, Jessica, e eu olhamos umas para as<br />

outras. A entrada se ramificava em duas direções, e Jessica esticou suas mãos como um par de<br />

balanças, ficando parada desse jeito até Madison bater em seu braço direito. Nós viramos à<br />

direita, passamos por uma larga escadaria, e nos dirigimos por um comprido corredor cheio de<br />

pessoas. Todos estavam bebendo algo – cerveja, vinho, drinques de aparência tropical com<br />

colarinho. Nós passamos por Kathryn Ford, Jane Brown, e um bando de outras veteranas<br />

bebendo champagne diretamente da garrafa. A casa fedia a álcool e maconha; meu corpo todo<br />

formigava de animação.<br />

Está bem, é verdade, tínhamos perdido o jogo. E a temporada tinha acabado. E os veteranos,<br />

alguns dos quais provavelmente nunca jogariam basquete novamente, tinham acabado de sofrer<br />

a pior derrota de suas carreiras. Mas essa era a maior festa do ano. Praticamente a escola toda<br />

está aqui. E pela primeira vez desde que tínhamos começado a namorar, Connor não tinha<br />

horário para voltar para casa. Minha cabeça girava com as possibilidades. Desobedecer o<br />

bilhete da Mara foi, sem dúvida, a coisa mais esperta que eu tinha feito na minha vida toda.<br />

Eu mal conseguia esperar para achar o Connor.<br />

Algumas pessoas pelas quais passamos disseram que tinham visto Connor, Matt e Dave pela<br />

última vez na cozinha. Nós continuamos, seguindo as instruções deles. Devia ter uns cem<br />

cômodos na casa. Talvez mil. Toda vez que achávamos que tínhamos chegado na cozinha, nos<br />

encontrávamos em outra biblioteca, sala de estar, sala de bilhar, conservatório. Eu estava<br />

começando a ter a sensação de que a cozinha era como Brigadoon* – nós podíamos procurá-la<br />

o quanto quiséssemos, mas nunca encontraríamos.<br />

* Brigadoon é um musical de Alan Jay Lerner, que conta a história de uma misteriosa vila<br />

escocesa que aparece somente um dia a cada 100 anos.<br />

A quilômetros da porta dianteira, chegamos em uma pequena alcova com nada dentro exceto<br />

uma poltrona, e iluminada na parede oposta, a minúscula pintura em óleo em uma elaborada<br />

moldura chapeada de ouro. Enquanto passávamos, eu olhei para a pintura.<br />

―Ai meu Deus,‖ eu disse.<br />

―O quê?‖ perguntou Jessica.


―Você está bem?‖ perguntou Madison.<br />

Eu apontei para uma jovem de tutu em uma barra de balé. ―É um Degas,‖ eu disse.<br />

―Um o quê?‖ perguntou Madison.<br />

―Um Degas. Ele é um impressionista francês muito famoso. Meu pai ama ele.‖ Eu balancei<br />

minha cabeça em estupefação. ―Eu não acredito que eles têm um Degas.‖<br />

Madison e Jessica se aproximaram da moldura. ―É, tipo, super caro?‖ perguntou Jessica.<br />

―Provavelmente,‖ eu disse.<br />

Jessica deu de ombros. ―Legal,‖ ela disse, se virando. ―Vamos.‖<br />

Nós sabíamos que tínhamos que estar chegando perto quando ouvimos o coro. ―Vai! Vai! Vai!<br />

Vai!‖ Seguindo o som finalmente nos levou para uma enorme e moderna cozinha, clara como<br />

uma sala de cirurgia e cheia de aparelhos de aço imaculado que refletiam a cena de volta, como<br />

espelhos numa casa de diversão.<br />

O coro vinha de um grupo de pessoas reunido ao redor de um barril no meio do cômodo.<br />

Pingando, suor ou cerveja, eu não sabia, David estava curvado para trás pela cintura, sugando<br />

de uma torneira. Seu rosto estava vermelho e as veias em seu pescoço sobressaltadas. Alguém<br />

estava gritado números, e quando essa pessoa chegou em trinta, Dave cuspiu a torneira,<br />

atingindo ele mesmo e as pessoas próximas com uma garoa de cerveja. Todos comemoraram.<br />

Eu não vi Connor em lugar algum.<br />

Dave cambaleou para longe do grupo e desmoronou numa cadeira. A pessoa que era a próxima<br />

da fila pegou a torneira. ―Vai, Brewster,‖ alguém gritou. ―Brewster, o Brewmeister*!‖ berrou<br />

outra pessoa. Eu observei Jessica, que parecia irritada, chegar até Dave.<br />

* uma piadinha aqui, fazendo um trocadilho com Brew, que significa uma bebida fermentada,<br />

cerveja. Brewmeister, então, seria o mestre da cerveja.<br />

Madison e eu trocamos olhares. Ela deu de ombros seguiu Jessica, então eu a segui;<br />

Dave tinha parado de arfar para respirar e estava rindo de, pelo que eu pude perceber, nada.<br />

Jessica, seus braços dobrados firmemente em seu peito, estava balançando sua cabeça para ele.<br />

Ele parou de rir e começou a se balançar para frente e para trás na cadeira, os olhos<br />

parcialmente fechados.<br />

―Você está bêbado, sabia disso?‖ ela perguntou, chutando-o no pé.<br />

―Eu num to bêbado,‖ ele disse indistintamente, sorrindo para ela. ―Venhaqui.‖ Ele levantou<br />

seus braços para abraçá-la e então os derrubou, como se fossem pesados demais para segurar.<br />

―Está bem, talvez eu esteja bêbado.‖<br />

―É, talvez,‖ ela disse.<br />

Como se para acenar em concordância, Dave deixou sua cabeça cair. Mas não levantou<br />

novamente. Mais uma vez, Jessica chutou-o no pé. Dessa vez tudo o que ele fez foi dar de<br />

ombros.<br />

―Onde está o Connor?‖ eu perguntei. Dave olhou para mim, sua cabeça girando. Ele disse algo


que soava com, ―Fundo.‖<br />

―Fundo?‖ eu repeti.<br />

Ele tomou um longo fôlego e encarou os meus olhos, todos os seus poderes de concentração<br />

focados nessa comunicação elusiva. ―Fundo. Da. Casa,‖ ele conseguiu dizer, articulando cada<br />

sílaba com precisão extraordinária. Então ele meio apontou, meio acenou para um corredor que<br />

se ramificava da cozinha e riu.<br />

―Onde está o Matt?‖ perguntou Madison.<br />

Dave moveu seu olhar opaco de mim para Madison, e então de volta. ―Torresmo,‖ ele disse.<br />

―O quê?‖ ela perguntou.<br />

Nós conseguíamos ver ele se esforçando para uma última tentativa. ―Mesmo,‖ ele disse<br />

finalmente.<br />

Ele olhou para mim, confuso. ‖Eu acho que ele quer dizer que estão no mesmo lugar,‖ eu<br />

traduzi.<br />

Eu fui na direção que Dave tinha indicado, com Madison logo atrás de mim. Jessica deu mais<br />

um chute no pé do Dave antes de seguir.<br />

Eu estava começando a ter o péssimo pressentimento de que a minha noite dos sonhos não<br />

estava bem como eu tinha planejado. Nós descemos o longo corredor que acabava em portas<br />

francesas, que abriam para um deque com vista panorâmica sobre a piscina coberta.<br />

No deque, desmaiado debaixo de uma grande mesa de vidro, estava Connor. Há alguns metros<br />

de distância Matt repousava.<br />

Connor deitado de barriga, com sua cabeça descansando em seu antebraço. Por um segundo eu<br />

me perguntei se ele ainda estava respirando, mas então Jessica foi até lá e chutou seu tornozelo<br />

e ele grunhiu.<br />

Eu me abaixei. ―Connor?‖ eu perguntei.<br />

―Ei, Tomate,‖ ele disse. Suas palavras estavam indistintas; eu pressenti mais do que ouvi o que<br />

ele estava falando. Então ele levantou sua cabeça. ―Beleza?‖<br />

―Você está bem, Connor?‖ eu me sentei na madeira fria e toquei seu cabelo. Próximo ao seu<br />

quadril descansava uma garrafa vazia de Wild Turkey*.<br />

* Wild Turkey é uma marca de uísque bourbon.<br />

―Nós perdemos, Tomate,‖ disse Connor.<br />

―Eu sei,‖ eu disse. ―Eu realmente sinto muito.‖<br />

―Eu acho que eu preciso dormir por um pouquinho,‖ ele disse, deixando sua cabeça cair de<br />

volta. ―Obrigado por vir aqui.‖


Capítulo 17<br />

Você sabe o que o Príncipe Encantado não deveria fazer? Ele não deveria vomitar tudo na bota<br />

da Cinderela . Eu limpei o vomito de Connor do couro , ajudei-o a entrar no carro de Kathryn<br />

Ford, e sentei atrás dele enquanto ele dormia, roncando pesadamente, mas eu não estava<br />

achando ele charmoso como eu sempre achava. De fato, eu não estava achando ele charmoso<br />

de modo algum.<br />

Meu pai ia me matar. E pelo que? Na hora que Kathryn virou no meu quarteirão, eu estava em<br />

pânico. As palmas das minhas mãos estavam tão suadas que eu podia sentir o cheiro delas. Pela<br />

primeira vez desde que eu tinha decidido fazer aquilo, ignorar a nota de Mara estava<br />

começando a parecer uma péssima, péssima idéia.<br />

Bem quando Kathryn parou o carro em frente a minha casa, eu tive um choque momentâneo-<br />

parecia como se as únicas luzes acessas lá dentro fossem as que Mara e meu pai deixaram<br />

acessas quando eles saíram naquela noite. Mas então eu vi que uma lâmpada estava acesa no<br />

estúdio do meu pai, e eu sabia que onde quer que todos estivessem, ele estava em casa.<br />

E estava esperando por mim.<br />

Eu respirei fundo. ―Bem, obrigada de novo,‖ eu disse para Kathryn. ―Desculpe se isso arruinou<br />

a sua noite.‖<br />

―Não se preocupe. Eu falei para o Mark que encontraria com ele na cidade.‖ O tom de Kathryn<br />

deixava claro que ela não gastava suas noites de sexta-feira em festas com a galera abaixo dos<br />

21.<br />

―Oh, certo,‖ eu disse. ―Você tinha mencionado isso.‖<br />

Ela apontou para Connor, adormecido no banco do passageiro. ―Nosso garoto está bem<br />

destruído, não é?‖<br />

Alguma coisa no jeito que ela falou nosso garoto meio que me soou estranho, mas não era<br />

como se eu estivesse prestes a corrigí-la. Um, na verdade, Kathryn, ele é meu garoto.<br />

―Sim,‖ eu disse.<br />

Ela olhou para ele durante um longo minuto. ―Ele é uma gracinha,‖ ela disse.<br />

Agora oficialmente eu estava aborrecida . Não chame meu namorado de gracinha. O ódio que<br />

eu tinha reservado para Mara declinou um pouco perante meu ódio inesperadamente poderoso<br />

por Kathryn Ford.<br />

Ela estalou a língua no céu da boca. ―Pena que ele é muito novo para mim,‖ disse. Ela virou as<br />

costas para onde eu estava sentada, passando pelos acentos da frente e deu um tapinha nos<br />

meus joelhos. ―Ele é todo seu.‖<br />

―Oh. Ah, obrigada,‖ eu disse. Então me senti como uma total idiota por dizer aquilo, já que eu<br />

tinha acabado de agradecer a ela por me insultar. ―Bem, boa noite,‖ eu disse. ―Se divirta na<br />

cidade.‖<br />

―Eu vou,‖ ela disse.


Eu caminhei até a frente tão devagar quanto se estivesse calçando sapatos de chumbo<br />

literalmente arrastando meus saltos. Em frente à entrada, eu gastei vários minutos tirando a<br />

jaqueta de Connor e pendurando-a. Logo que fechei a porta de armário, eu me senti insegura,<br />

como se a jaqueta fosse um paletó de armadura que sem ele eu estaria totalmente exposta. Por<br />

um rápido segundo eu considerei em apenas ir para o andar de baixo e cair na cama, fingindo<br />

que não tinha visto as luzes do meu pai. Mas então pensei como seria me defender dele de<br />

manhã, na frente de Mara e das <strong>Prince</strong>sas. Tão ruim quanto essa noite ia ser, amanhã podia<br />

apenas ser pior.<br />

Eu caminhei pela sala de estar sombria e desci os dois degraus do estúdio dele, onde uma<br />

pequena fresta de luz brilhava embaixo da porta fechada. Eu parei ali, respirando<br />

profundamente, e então bati.<br />

―Entre,‖ meu pai disse. Eu empurrei a porta. Ele estava sentado em sua escrivaninha, digitando<br />

no laptop.<br />

―Ei,‖ eu disse.<br />

―Ei,‖ ele disse.<br />

―Quando você chegou em casa?‖ eu perguntei. Eu estava surpresa, era capaz de manter minha<br />

voz normal quando tudo o mais em mim estava tremendo o bastante para eu sentir isso.<br />

―Algumas horas atrás,‖ ele disse. Ele recostou-se em sua cadeira e colocou seu pés em cima da<br />

mesa, fazendo gestos para que eu me sentasse na cadeira em frente a ele. ―Ouvi que você teve<br />

uma semana e tanto.‖<br />

Eu encolhi e tomei assento, sentindo como se estivesse em uma posição de testemunha. ―Acho<br />

que se pode dizer isso.‖<br />

―Quer me dizer o que aconteceu?‖ ele perguntou, passando a mão pelo cabelo.<br />

Meu pai não é apenas um advogado, ele é um advogado que é obcecado pela ―beleza inerente‖<br />

do Sistema Legal Americano. Imagine isso, Lucy, um país onde o acusado é inocente até que se<br />

prove culpa. Usualmente quando ele começa a falar sobre a Conta de Direitos, eu apenas reviro<br />

os olhos ou pondero que não há nada especialmente bonito em ajudar corporações<br />

multinacionais que processam umas as outras, que é o tipo de Direito que meu pai pratica; mas<br />

hoje à noite eu estava feliz que ele estava tão impetuosamente cometido com os direitos do<br />

acusado. Afinal, até mesmo se Long Island parecesse como se estivesse em um universo<br />

diferente de São Francisco, oficialmente ainda estávamos nos Estados Unidos.<br />

Sentei de frente com minhas mãos nos joelhos. ―Ok, o negócio é que eu não fiz nada, e de<br />

repente Mara e todo mundo estava dizendo como tenho sido egoísta.‖<br />

―E por que você acha que diriam uma coisa dessas?‖ ele perguntou, batendo a ponta dos dedos<br />

juntos.<br />

Eu estava aliviada. Tinha pensado que ele automaticamente iria tomar partido de Mara, mas<br />

agora podia ver que ele ia ouvir minha versão da história. ―Eu não sei,‖ disse. ―Mara me pediu<br />

para deixar sua amiga dormir no meu quarto, e eu perguntei se podia pensar a respeito, e de<br />

repente todo mundo estava agindo como se eu tivesse dito não, quando eu não disse.‖


―Então você sentiu como se fosse atacada por razão nenhuma?‖ Era minha imaginação ou o<br />

tom dele tinha mudado? Antes meu pai tinha soado genuinamente curioso; agora ele soava<br />

excessivamente curioso, como se ele realmente não estivesse curioso.<br />

Me recusei em acreditar que a pergunta do meu pai era retórica. Era realmente impossível para<br />

ele imaginar que sua preciosa esposa e enteada com sua filha inocente. ―Como uma questão de<br />

fato, eu acho mesmo isso.‖<br />

―Bem, eu não estava lá, Lucy, então não posso dizer ao certo o que aconteceu, mas Mara fez<br />

isso soar como se você tivesse sido extremamente rude com ela sem razão alguma.‖<br />

―Bem, já ocorreu a você que só porque Mara fez soar como se fosse assim não quer dizer que<br />

tenha acontecido assim?‖<br />

―Lucy, eu não entendo o que está acontecendo aqui.‖ Ele colocou os pés no chão e arrumou-se<br />

na cadeira. ―Mara disse que pediu a você para fazer um favor a sua amiga Gail, e você disse<br />

não, e então começou a gritar com ela e com as garotas.‖ Ele não estava gritando, mas eu diria<br />

que ele estava ficando frustrado.<br />

―Não posso acreditar que você está tomando partido dela,‖ eu disse. ― Você não está nem ao<br />

menos me ouvindo.‖<br />

―Lucy, não estou tomando partidos. Estou apenas te dizendo o que ouvi.‖<br />

Mas quando ele colocou as mãos abertas na borda verde da escrivaninha, sua aliança de<br />

casamento brilhou.<br />

Eu segurei os braços da minha cadeira, fortemente. ―Bem, você ouviu errado.‖<br />

―Então o que aconteceu?‖<br />

Ele tinha totalmente perdido minha descrição anterior?<br />

Mesmo que eu nunca tenha sido muito de chorar, por um segundo de tempo em muitos dias, eu<br />

senti meu queixo tremer e meus olhos se encherem de lágrimas. ―Você não entende o que é<br />

para mim viver aqui. Você está fora em São Francisco enquanto estou amarrada com a<br />

Feiticeira má do Leste e sua ova de peixe do mal".<br />

Assim que as palavras saíram da minha boca, eu me arrependi delas. Algumas coisas não<br />

devem ser ditas em voz alta.<br />

Meu pai colocou as mãos no rosto e esfregou os olhos. Então olhou para mim. ―Lucy, quando<br />

você diz coisas como essa, fica mesmo muito difícil de acreditar que Mara esteja inventando<br />

histórias sobre você insultar a ela e as meninas.‖<br />

Eu rosnei. ―Oh, sim, como se você acreditasse em mim se não dissesse coisas como essa.‖<br />

―Por que você age como se todo mundo estivesse te atacando? Todo mundo está lutando para<br />

fazer essa família dar certo. Todo mundo.‖<br />

Eu não podia acreditar nisso. Lutando? Lutando! ―Você quer dizer fazendo compras, Pai? Você


quer dizer que estão todos fazendo compras para essa família dar certo? Porque eu não vejo luta<br />

nenhuma acontecendo por aqui."<br />

"E essa é exatamente o tipo de resposta pretensiosa que eu estou cansado," disse meu pai.<br />

"Como esse tipo de coisa é útil de se dizer"?<br />

"Bem, talvez eu não quero ser útil," disse, levantando-me. "Talvez eu esteja cansada de ser<br />

útil".<br />

Meu pai levantou-se, também. "Cansou de ser útil? Lucy, estar cansada de algo que você tem<br />

que fazer temporariamente".<br />

"Você sabe que elas totalmente me ignoram quando você não está aqui, pai. Tudo o que elas<br />

fazem é fazer compras e vão a cinemas e vão jantar sem mim".<br />

"Lucy, justo no último final de semana Mara chamou você para ir a cidade conosco, e você<br />

disse não"<br />

"Papai, você está cego? Ela só pediu que eu fosse porque você estava sentado bem aí. Ela quer<br />

que pense que ela preocupa-se comigo, mas realmente, ela me odeia".<br />

"Te odeia? Essa é a razão pela qual ela estava tão chateada que você tenha gritado com ela<br />

ontem à noite, porque ela te odeia? Se odiasse, ela se importaria? Ela se importaria que você<br />

não venha para casa quando ela fala para vir? Ela não estaria apenas feliz de não te ver se ela<br />

odiasse"?<br />

"Não," disse, choramingando. "Ela não só me odeia. Ela me odeia e quer arruinar minha vida".<br />

"Lucy, eu realmente não sei como você espera que eu responda a esse tipo de paranóia".<br />

Ele não disse nada depois disso, e eu também não. Soube que era inútil tentar me defender<br />

mais.<br />

Agora caminhávamos para a fase da sentença do julgamento.<br />

"Quero que se desculpe com Mara pelo que aconteceu," disse. Tirou alguns lenços da caixa na<br />

sua escrivaninha e os passou a mim. "Sei que isso significaria muito para ela depois do que<br />

você disse. E até que vejamos uma mudança real em seu comportamento, você não vai sair com<br />

seus amigos.‖<br />

Estava com meu nariz enterrado num lenço, mas quando ele disse a última parte, a minha<br />

cabeça arrebatou.<br />

"Castigo? Você está me colocando de castigo? Por quanto tempo"? Até onde eu podia contar,<br />

ele me castigaria indefinidamente.<br />

"Até que nós vemos uma mudança em sua atitude". Esperou um segundo, mas eu estava<br />

perplexa demais com o meu castigo para responder.<br />

Finalmente ele continuou. "Olha, eu sei que você está triste, Lucy, e eu sinto muito. Mas acho<br />

que se pensar sobre isso, verá que você mesma está trazendo isso para si".


O cômodo estava num silêncio mortal. Quando tornou-se claro que eu ainda não ia dizer nada,<br />

meu pai sentou-se. Permaneci de pé e ele olhou para mim.<br />

"Por que você não vai dormir, Goose. Se quiser, podemos conversar sobre isto de manhã. Boa<br />

noite".<br />

Ele sequer esperou eu sair do cômodo antes de voltar a seu computador. Eu tinha sido<br />

dispensada. Cheguei à porta, ele estava ocupado datilografando.<br />

Nada.<br />

Isso é o que acontece com a madrasta da Cinderela.<br />

Nada.<br />

Eu só pensei na história porque me lembrei de como na Bela Adormecida, a fada que causou<br />

todos os problemas se transforma em um dragão e o Príncipe Encantado a apunhala, e ela<br />

morre aquela morte realmente horrível. Mas não há nada desse tipo na Cinderela. Aliás, você<br />

nunca descobre o que acontece com a madrasta da Cinderela nem suas meias-irmãs. Até onde<br />

posso contar as três somente passam o tempo saindo por aí, provavelmente arrumando uma<br />

garota nova para trazer o café da manhã na cama e lavar as roupas à mão.<br />

Adivinho que você deve pensar que é castigo suficiente que elas tenham que viver o resto de<br />

suas vidas sabendo que Cinderela ficou com um marido realmente gostoso vivendo a vida<br />

perfeita, enquanto aquelas 3 feiosas, senhoras mesquinhas vão envelhecer e morrer sem jamais<br />

receber uma foto do Palácio.<br />

Mas e se a vida da Cinderela não for tão perfeita? Tipo, e se o Príncipe Encantando vomitar nas<br />

botas da Cinderela depois que seu time perder o grande jogo? E se a menina mais popular da<br />

escola implica pela única razão da Cinderela ter ficado com Príncipe em primeiro lugar é<br />

porque ela não estava interessada nele? E se a Cinderela ficar de castigo durante um período<br />

inespecífico de tempo? E se for assim que a história termina? E se esse é o feliz para sempre?<br />

Bem, se você quer minha opinião, isso é um saco.


Capítulo 18<br />

Mara estava sentada na cozinha da mesa quando acordei na manhã seguinte. Ela estava de<br />

costas para mim, e andando em volta da mesa, vi que ela escrevia uma nota de agradecimento.<br />

Essa é basicamente sua atividade favorita, escrever essas notas realmente falsas a seus amigos e<br />

conhecidos. Minha querida Laura, como eu posso agradecer a você pelo adorável tempo que<br />

tivemos ontem a noite? Você é uma anfitriã tão generosa e encantadora.<br />

"Oi," eu disse, tentando não soar tão derrotada como me sentia. Ela usava um terninho pêssego<br />

coordenado, e seu cabelo e maquiagem eram perfeitos. Era como se ela tivesse planejado passar<br />

o dia correndo em um escritório.<br />

"Olá, Lucy," ela disse, olhando para mim.<br />

"Um, escuta," eu disse. Eu estava com minhas mãos nas costas da cadeira do lado oposto ao<br />

dela, um pé descansando na outra, como uma garotinha.<br />

"Sim?" ela disse. Ela manteve a caneta em posição de escrever, deixando claro que era melhor<br />

eu ser rápida.<br />

"Eu só queria, você sabe, me desculpar pelo que eu disse na outra noite."<br />

Ela umedeceu seus lábios. "Para ser franca, Lucy, eu estava chocada. Ninguém nunca tinha<br />

falado comigo daquele jeito antes."<br />

Eu não sabia se ela esperava por outro pedido de desculpas, mas se esperava, ela não estava<br />

conseguindo. Eu talvez não quisesse ser castigada pelo resto da vida, mas até pela liberdade<br />

tem limite para se puxar saco.<br />

Continuei com o discurso que tinha planejado enquanto escovava os dentes. "E sobre sua amiga<br />

ficar no meu quarto- quero dizer, tudo bem. Eu- tudo bem para mim dormir no esconderijo<br />

enquanto ela estiver aqui. Vou limpar meus bagulhos- quero dizer, fazer uma limpeza- vou<br />

limpar meu quarto para ela." Minha entrega tinha sido muita mais polida quando eu falei com<br />

meu reflexo no espelho do que estava sendo agora.<br />

"Bem," ela disse, "Estou certamente feliz de ver essa mudança em sua atitude." Ela assentiu<br />

para mim. "Suas desculpas estão aceitas."<br />

Eu deveria agradecer a ela? Não falei nada.<br />

"Agora," ela continuou, "já que você não vai sair com seus amigos essa noite"- amei como ela<br />

expressou isso como se a escolha tivesse sido minha- "seu pai gostaria que se juntasse a nós<br />

para o jantar."<br />

Não soou como se o "convite" tivesse sido exatamente opcional, mas eu pretendia considerar<br />

sua oferta por um segundo antes de dizer. "Sim, claro."<br />

"Ótimo. Então nos veremos mais tarde," ela disse. Me virei para sair. "Sem jeans, hoje a noite,<br />

por favor," ela disse atrás de mim.


Cinco minutos mais tarde eu estava de volta na cama, onde eu instantaneamente adormeci. A<br />

próxima coisa de que soube, foi uma pancada na minha porta.<br />

"Que é?" gritei. Tive aquela confusão, o sentimento estúpido que você sente quando dorme<br />

muito tempo.<br />

De alguma forma as <strong>Prince</strong>sas ouviram o "que é" como "Entre!" e elas se uniram nos degraus.<br />

"Você estava dormindo?" disse <strong>Prince</strong>sa Um.<br />

"Não," eu disse. "As vezes eu meio que deito no escuro por horas com meus olhos fechados."<br />

As duas olharam para mim por um minuto. "Você está brincando?" <strong>Prince</strong>sa Dois perguntou<br />

finalmente.<br />

"Sim, estou brincando." Eu disse, bocejando. "Agora, o que vocês querem?"<br />

"Connor ligou," disse <strong>Prince</strong>sa Dois. "Está na secretária eletrônica." Ela colocou as mãos nos<br />

lábios. "Ele é, tipo, seu namorado?"<br />

"Sim, " eu disse. Me senti um pouco assustada depois de dizer isso, como se tivesse azarando a<br />

mim mesma.<br />

"Julie Wexler disse pra gente que a irmã dela disse pra ela que Connor é o garoto mais popular<br />

da escola," <strong>Prince</strong>sa Um disse. Mesmo na pálida luz que vinha da cozinha, eu podia ver a<br />

admiração nos olhos dela. Julie Wexler tinha recentemente substituído Jannifer Johnson na lista<br />

rotativa de melhores amigas das <strong>Prince</strong>sas; os pronunciamentos dela eram repetidos como se<br />

ela, como uma profeta do Velho Testamento, passasse todo seu tempo se comunicando<br />

diretamente com Deus.<br />

"Acho que ele é popular," eu disse, arqueando as costas e bocejando.<br />

<strong>Prince</strong>sa Dois me olhou rápido antes de virar para a escada. "Vamos!" ela chamou a irmã,<br />

"Temos que nos vestir."<br />

"Ei," disse quando ouviu minha voz. "Acho que fiquei um pouco bêbado ontem à noite".<br />

"Só um pouco," eu disse.<br />

Música pulsou no fundo, e Connor fez umas batidas junto com ela por um segundo antes de<br />

dizer, "Tenho que te compensar, Tomate. Como posso te compensar"?<br />

Venha até minha casa e crave uma estaca no coração da minha madrasta. "Eu não sei," disse.<br />

"Aposto que isso vai me custar". De alguma forma ele conseguiu fazer com que as palavras<br />

soassem um pouquinho como se fosse uma ameaça, um pouquinho como um desafio; de<br />

qualquer forma, era bem sexy.<br />

"Aposto que vai," eu disse. Connor gostava de mim o bastante para gastar o resto da sua vida<br />

numa cadeia por matar minha madrasta? Talvez se eu pedisse enquanto usava aquele vestido<br />

vermelho...


Ele abaixou a voz. "Posso pedir uma coisa, ou você está com muita raiva"?<br />

Tremi. Parecia como se ele cochichasse na minha orelha. "Eu não sei," disse, cochichando,<br />

também. "Depende do que é".<br />

"Bem, tente se esforçar". Ele pausou. "Acha que você talvez esteja disposta a ir ao baile<br />

comigo"?<br />

Aaaaahhhhh!<br />

Ele me pediu. Ele realmente tinha me pedido. Dei um salto, milagrosamente conseguindo<br />

engolir um grito. Então consegui sentar na borda da cama, cruzar minhas pernas nos tornozelos,<br />

e falar tranqüilamente no telefone. "Acho que devo considerar isso," disse. Mas era impossível<br />

permanecer sentada, e saltei, pulando de um pé para o outro.<br />

"Você me mata, Tomate," disse. "Não há ninguém mais legal que você".<br />

Era uma coisa boa que Connor não pudesse me ver, já que eu não estava segura de parecer<br />

legal saltando em volta numa camiseta gigante e um par de meias grossas alaranjadas com<br />

buracos nos calcanhares, minha mão pressionando meus lábios então nenhum grito escaparia.<br />

Ouvi o estalo de alguém pegando a extensão. "Oi? "Era Mara.<br />

Oh meu Deus, agora ela escutava minhas ligações com meu pai e meu namorado.<br />

"Sim, olá, Mara. Eu estou no telefone."<br />

"Lucy, você está acordada. Por que você não vem aqui no andar de cima para dizer oi"?<br />

"Eu–"<br />

"Agora," ela disse, e desligou.<br />

"Tenho que ir, Connor," eu disse.<br />

"Me liga mais tarde," ele disse. "Par do Baile."<br />

Desliguei o telefone comum e agarrei meu celular antes que Mara viesse confiscá-lo.<br />

Jessica atendeu no primeiro toque. Ela sequer disse oi.<br />

"Connor te chamou?"<br />

"Bem agora".<br />

"Oh meu Deus!" ela gritou. "Dave me pediu, tipo, cinco minutos atrás, e Madison está no<br />

telefone com Matt agora mesmo."<br />

"Vamos ao baile!" Quis gritar dos telhados, mas controlei minha voz. A última coisa que eu<br />

necessitava era que minha madrasta soubesse que havia algo em minha vida que eu realmente<br />

anciava. Isso só acabaria por fazer ela ficar mais ávida de tirar isso de mim.<br />

Houve uma pancada na minha porta.


"Lucy, Mamãe diz que você tem que vir no andar de cima agora.‖<br />

Abaixei minha voz a um cochicho. "Tenho de ir.‖<br />

"Vamos ao baile," Jessica cochichou.<br />

"Por que você está cochichando?" Perguntei, começando a dar uma risadinha.<br />

"Por que você está cochichando?" ela perguntou, dando risadinha, também.<br />

"Eu não sei," eu disse.<br />

"Eu também não," ela disse. Então começou rir pra valer e eu também. "Te ligarei mais tarde,"<br />

ela disse.<br />

Eu estava rindo demais para dizer algo mais, então apenas desliguei o telefone.<br />

A mesa da sala de jantar elaboradamente foi posta para doze, e música clássica macia tocava na<br />

sala de estar, onde Mara, meu pai, e uma mulher que não reconheci sentavam tomando bebidas.<br />

"Ei, querida," disse meu pai, notando-me. "Está certa de que dormiu o suficiente?" Sabia que<br />

ele estava brincando, e me forçei a sorrir.<br />

"Acho que sim," disse. Então andei até à mulher desconhecida e estendi minha mão. "Sou<br />

Lucy," eu disse.<br />

"Sou Gail," ela disse. Com exceção de seu cabelo loiro tingido, ela podia ter sido o clone de<br />

Mara. Estavam ambas com saias sedosas escuras e empalidecidos suéteres felpudos, e cada<br />

uma segurava um copo de vinho branco na mão.<br />

Perguntei-me se Gail sabia que ia dormir no meu quarto, mas pareceu descortês perguntar.<br />

Com o convite de Connor ainda tocando na minha orelha, eu sabia que a última coisa que eu<br />

podia admitir era meu pai pensar que eu estava sendo rude a amiga de Mara. Desculpa, Connor,<br />

eu sei que eu disse que podia ir ao baile com você, mas estou de castigo. Eternamente. Sorri<br />

amplamente e virei para Mara.<br />

"Tem alguma coisa em que eu possa ajudar?" Tinha vestido um vestido de seda azul que eu não<br />

usava desde que tinha aproximadamente doze anos. Era feio como o pecado, mas não era jeans.<br />

"Tudo que precisava ser feito já está feito por agora," disse Mara, "mas acho que seria<br />

realmente amável se você e as meninas ajudassem a servir bebidas e o jantar quando os<br />

convidados chegarem."<br />

Ajudar a servir bebidas e o jantar? O que eu era, a nova empregada? Mantive um sorriso<br />

rebocado no rosto. Baile. Baile. Baile. Você vai ao baile. "Claro," disse. "Feliz em ajudar.‖<br />

Comecei a me sentir ridícula por estar parada no meio da sala, então me desculpei. "Acho que<br />

deixarei isso no esconderijo," eu disse, pegando a mala que tinha empacotado para minha tarefa<br />

como uma convidada de verdade em minha própria casa.<br />

"Lucy, eu estava contando para as meninas como eu acho que você ficaria encantadora de preto


e branco hoje a noite," Mara disse atrás de mim. Me virei. "Você não acha que isso pareceria<br />

amável?"<br />

"Oh, sim," disse. "Acho que isso seria legal".<br />

Mara sorriu para mim como se eu fizesse todos os seus sonhos se realizarem. Sorri de volta da<br />

mesma maneira. Realmente, Mara somente tinha feito um de meus sonhos realizar-se. Ia ver as<br />

<strong>Prince</strong>sas forçadas a mecherem seus traseiros de princesinhas e ajudar a servir a refeição.<br />

Durante dois minutos de entradas pela porta, os Martins, os Aliens e o Clurmans claramente<br />

tinham recebido a idéia de que eu era uma empregada ao contrário da filha de seu anfitrião, sem<br />

dúvida em parte porque A) estava vestida como uma garçonete numa entrada sem graça. e B)<br />

Mara, ao invés de me apresentar, dizia somente, "Lucy, por favor pegue o casaco de todo<br />

mundo e coloque na minha cama". Apesar de Mara ter dito que eu e as <strong>Prince</strong>sas estaríamos<br />

servindo juntas, eu era a única vestida como se estivesse coletando um contracheque no fim da<br />

noite. Minhas meias-irmãs vestiam novas camisas pretas e brancas da moda esportiva de Petit<br />

Bateau* (<strong>Prince</strong>sa Um tinha um padrão branco no preto, enquanto <strong>Prince</strong>sa Dois ia de preto no<br />

branco) e minissaias pretas minúsculas, conjuntos sem dúvida comprados para esta ocasião. Até<br />

onde eu podia contar, elas não faziam muito além de "ajudar" no bartend** do meu pai, uma<br />

tarefa que envolvia pouco mais do que jogar a rodela ocasional de limão ou o swizzle stick***<br />

no copo ocasional. Eu, entretanto, gastei a primeira parte da noite correndo de um lado a outro<br />

para a cozinha com pratos de aperitivos quentes que Mara tinha mandado de seu provedor<br />

favorito. As travessas eram pesadas, a cozinha estava quente, e rapidamente eu tinha<br />

desenvolvido uma dor de cabeça claramente repulsiva. Mara, sorrindo e conversando com seus<br />

convidados, mal me reconheceu enquando eu andava ao redor da sala oferecendo sopros de<br />

queijo.<br />

*Petit Bateau é uma das marcas prediletas das parisienses<br />

** Aqueles bares que tem dentro de casa.<br />

*** Aquele pauzinho que se coloca dentro das bebidas<br />

"Você está fazendo um grande trabalho," disse meu pai quando veio na cozinha pegar mais<br />

gelo.<br />

Eu estava apoiava no fogão observando para me assegurar de que o espinafre em massa folhada<br />

não tinha queimado.<br />

"Isso é o que eu gosto de ver". Ele veio e me deu um aperto no ombro. "Essa é a menina que eu<br />

sempre soube que você podia ser".<br />

Ele sempre soube que eu podia ser uma empregada? Eu abri minha boca para dizer a ele o que<br />

eu sempre soube que ele ia ser, mas então tive uma foto de mim jazendo inclinada em minha<br />

cama, esculpindo linhas em minha cabeceira de formica para marcar os meses de meu<br />

encarceramento enquanto Connor escorregava um buquê no pulso de sua nova namorada e a<br />

escoltava na limosine que esperava.<br />

"Estou alegre, pai," disse, sorrindo fracamente. "Estou realmente alegre". Observei-o deixar a<br />

cozinha e voltei ao forno.<br />

Eu nunca saberei se o Martins, os Aliens, nem o Clurmans sequer compreenderam quem eu era,<br />

ou se apenas decidiram que meu pai e Mara eram empregadores incrivelmente esclarecidos que<br />

permitiram que a ajudante se sentasse e comesse com eles e seus convidados sempre que ela<br />

não servia um novo prato. Já que cada travessa que tinha que ser carregada da cozinha era<br />

muito pesada para as <strong>Prince</strong>sas carregarem, o trabalho era meu. Não foi até sobremesa, quando


elas se mostraram tanto ao circular com um prato minúsculo de quadrados de petits, em que<br />

ambas serviram a todos; enquanto elas andavam ao redor da mesa, os convidados faziam oohs e<br />

aahs sobre quão prestativas e graciosas elas eram. Fiquei observando elas ajudarem-se tanto<br />

quanto "serviam" pastéis, escovando meu agora-emaranhado cabelo para fora dos meus olhos e<br />

fervendo de raiva. Aquela hora eu carregava os casacos para baixo, para a sala de meu pai e de<br />

Mara e os distribuía entre os convidados, eu sequer fiquei surpresa pelo Sr. Martin me elogiar<br />

por fazer um trabalho tão grande e perguntar se estava disponível para ajudar a ele e sua esposa<br />

em uma festa que eles teriam no próximo fim de semana. Não pude dizer se brincava ou não,<br />

então só respondi que estava de castigo e lhe entreguei o casaco.<br />

"Lucy, você fez um belo trabalho esta noite," disse meu pai. Ele fechou a porta no último dos<br />

convidados e colocou o seu braço ao redor de Mara. "Você e as meninas, eu devo dizer".<br />

"Sim, obrigada, Lucy," disse Mara. "Boa noite".<br />

"Boa noite," eu disse.<br />

Enquanto Mara subia a escada, meu pai bocejou. "Acho que vou subir também," ele disse. "E<br />

você deve estar exausta".<br />

Eu não precisava de um espelho para saber que meu cabelo estava grudado na minha testa e<br />

minha camisa branca estava ensopada de suor. Os meus pés doíam. Olhei para cima e vi a saia<br />

de Mara magicamente sem nenhum amassado, seu cabelo brilhando na luz.<br />

"Sim," eu disse, perguntando-me onde minha fada-madrinha tinha passado a noite. "Estou um<br />

pouco cansada".<br />

"Bem, boa noite, querida".<br />

"Boa noite, pai," eu disse. Ele virou para subir a escada, então voltou outra vez. "Esta noite<br />

realmente parecia como se fossemos uma família," disse, sorrindo para mim. Isso queria dizer<br />

que eu não estava mais de castigo?<br />

"Uhm, pai"?<br />

"Sim, Goose"?<br />

Talvez essa não fosse a melhor hora para perguntar. "Te vejo de manhã"<br />

Ela passou por mim e me deu um tapinha na cabeça antes de virar e seguir Mara escada acima.<br />

Tirei meu avental e estava prestes a abrir a porta do porão quando me lembrei que ia dormir no<br />

cômodo de convidados durante a semana.<br />

Meu pai pensou seriamente que essa noite nós fomos uma família?<br />

Se for assim, me coloque em um orfanato.


Capítulo 19<br />

Segunda-feira no almoço, Jessica e Madison queriam que eu as encontra-se no refeitório para<br />

nós podermos discutir o tema do baile (Agora e Para sempre) que tinha sido acabado de ser<br />

anunciado, mas eu recusei. Se eu não começasse a fazer meu auto-retrato, eu iria ser reprovada<br />

na única matéria que eu não odeio. Quando eu fui ao estúdio, a Sra. Daniels estava sentada na<br />

mesa dela lendo Art Through the Ages, de Gardner, com um pilha de post-its. Ela me deu um<br />

pequeno aceno.<br />

"Se sentindo artística?" ela perguntou.<br />

"Apavorada" eu a corrigi, indo até a mesa dela. "Isso nunca aconteceu comigo antes. Eu<br />

simplesmente não consigo entender como começar."<br />

"Bem, e se você começar pensando numa pintura que signifique muito pra você?"<br />

"Você quer dizer, pegar de algum lugar?" Sra. Daniels riu.<br />

"Eu quero dizer para você considerar usar isso como uma base de quem você é" Ela pegou o<br />

pesado livro nas duas mãos e passou através da mesa para mim, grunhindo com o esforço.<br />

"Aqui. Eu tenho que ir a uma reunião. Porque você não dá uma olhada?"<br />

Dois terços do livro tinham passado, e eu ainda não conseguia enxergar qual era o objetivo do<br />

exercício da Sra. Daniels.<br />

Ela tinha realmente esperado que dez milhões de fotografias de Igrejas renascentistas fossem<br />

me inspirar num retrato do século XXI?<br />

"Ei."<br />

Eu olhei pra cima para ver Sam descansando no final do sofá. Eu não tinha nem ouvido ele<br />

entrar.<br />

"Ei, você", eu disse.<br />

"Obrigado de novo por vir sexta a noite" Ele tirou seus óculos e esfregou uma das lentes na<br />

barra de sua camiseta. "Foi ótimo ter você lá." Ele recolocou seus óculos de novo e me deu um<br />

sorriso realmente legal.<br />

"Foi ótimo estar lá," eu disse. "Obrigada por me convidar." Com tudo o que tinha acontecido<br />

desde que eu deixei Sam na cidade, eu tinha quase me esquecido como tinha sido legal estar na<br />

galeria. Eu estava, na verdade, realmente feliz por ver ele.<br />

"Você conseguiu chegar a tempo do 'grande jogo'?" ele perguntou, colocando aspas nas últimas<br />

duas palavras.<br />

"Ha, ha. Para falar a verdade, eu consegui."<br />

"Que mulher renascentista você é," ele disse. "Arte. Esportes." Ele olhou para o livro no meu<br />

colo. "E você está até olhando para pinturas da Renascença." ele balançou sua cabeça numa<br />

zombaria pasma. "Incrível."


"Você é hilário"<br />

"É um talento." Ele olhou em volta da sala. "Você viu a Sra. Daniels?"<br />

"Ela foi a uma reunião"<br />

Ele assobiou baixinho para ele mesmo. "Sem problema," ele disse, atirando sua mochila sobre o<br />

ombro. "Te encontro depois."<br />

"Até depois," eu disse.<br />

A interrupção do Sam pareceu uma desculpa boa quanto qualquer outra para desistir do meu<br />

exílio auto-imposto e ir achar Jessica e Madison na lanchonete. Mas daí eu pulei para o final do<br />

livro, e de repente eu estava encarando uma reprodução de The Dancers. Foi um pouco<br />

estranho eu me sentir possessiva por ver uma pintura em Art Through the Ages onde todo<br />

mundo podia vê-la. Eu olhei para as estranhas, fluídas imagens de Matisse e toquei a página<br />

brilhante com meu dedo. Talvez eu possa-<br />

"O-lá!"<br />

"Ok, nós não conseguíamos viver sem você." Eram Madison e Jessica.<br />

"Ei, dá uma olhada nisso." Eu virei o livro para elas.<br />

"Legal," disse Madison, mas ela nem tinha realmente olhado a pintura.<br />

"Nós temos a maior fofoca para você," disse Jessica.<br />

"Kathryn e o namorado dela terminaram," disse Madison.<br />

"Sem chance," eu disse.<br />

"Verdade!" disse Madison. "Ela queria ir ao baile com ele e ele disse que não queria ir a uma<br />

festa com um bando de crianças do ensino-médio. Ele tem tipo 30 anos ou qualquer coisa<br />

assim."<br />

"Ele tem 20," Jessica a corrigiu.<br />

"Tanto faz," disse Madison. "Isso não é loucura?"<br />

"Totalmente," eu disse, fechando o livro. Eu iria lidar com meu auto-retrato mais tarde. Eu me<br />

levantei e agarrei a jaqueta do Connor, deixando o Art through the Ages na mesa da Sra Daniels<br />

assim que passei.<br />

"Eu me pergunto se ela vai chamar um calouro, como a Jane Brown fez," disse Jessica,<br />

segurando a porta para mim.<br />

Sam aceitando um convite para ir ao baile pareceu tão extremo para ele. Eu imagino que ele<br />

deve realmente gostar da Jane.


"Desde que ela não chame alguém do segundo," disse Madison. "Nós três somos as únicas do<br />

segundo ano a ir."<br />

"Falando nisso," disse Jessica, "você quer ir olhar vestidos depois da escola?"<br />

Eu balancei minha cabeça. "Não posso," eu disse. "tenho um encontro com o Connor."<br />

As três e dez, quando eu fui para a saída do estacionamento dos veteranos, Connor já estava lá.<br />

E ele estava falando com Kathryn Ford.<br />

Os ombros perfeitos e minúsculos de Kathryn estavam encostados contra um armário, enquanto<br />

o resto do seu corpo formava um triângulo com a parede e o chão. Connor encontrava-se acima<br />

dela, olhando para aqueles olhos azuis de barbie e acenando a cabeça enfaticamente. Ela o<br />

alcançou e escovou algo para fora da cabeça dele.<br />

"Ei, Lucy!" De algum modo sentindo minha presença, Kathryn girou sua cabeça em minha<br />

direção mas deixou o resto do seu corpo virado de frente para Connor, como um louva-deus.<br />

Ou uma cobra.<br />

Eu andei até onde eles estavam parados.<br />

"Como você está, Tomate?"<br />

"Hum, ok." de pé tão perto de Kathryn, eu de repente me senti enorme, como um daqueles<br />

gigantes que entra em cidades muito unidas e é derrotado. "Obrigada de novo pela carona<br />

sexta-feira," eu disse para ela.<br />

"Oh, claro," ela disse. "Hoje a noite, entretanto, vou ser eu desmaiada no banco do passageiro."<br />

Ela conferiu Connor. "Você está dirigindo, certo?"<br />

"Sem chance, Jose," ele disse. "A noite dos veteranos na cidade? Eu estou rastejando."<br />

"Bom, eu tenho uma viagem," ela disse. "Vejo vocês crianças mais tarde." Ela se desencostou<br />

da parede e penteou o seu cabelo para frente, acima do seu ombro direito. Ele certamente era<br />

brilhante. Brilhante. Como se ela tivesse pisado fora de um anúncio de Pantene*. "Tchau,<br />

irmão." Kathryn ficou de pé nas pontas dos pés e envolveu não só os braços dela, mas o corpo<br />

todo em volta de Connor. Enquanto eles ainda estavam se abraçando, ela se virou para mim.<br />

*Pantene é uma marca de shampoo.<br />

"Ele não dá simplesmente os melhores abraços?"<br />

Kathryn, talvez você queira pegar um pedaço dessa brilhante maçã vermelha que eu tenho na<br />

minha mão. Eu fiz ela especialmente para você.<br />

"Oh, sim," eu disse, acordando do meu devaneio. "Totalmente."<br />

Finalmente eles se soltaram um do outro, e Kathryn começou a descer o corredor.<br />

"Venha," Connor disse para mim, segurando a porta aberta. "Vamos pegar alguma coisa para<br />

comer." Enquanto a gente atravessava o estacionamento dos veteranos, foi difícil apagar da


minha mente a memória da Kathryn pressionando seu corpo contra Connor. E se hoje a noite na<br />

cidade ele de repente percebe-se que ele estava cansado de mim, que eu não era divertida o<br />

bastante ou legal o bastante ou... Kathryn o bastante? Mas justamente quando eu estava<br />

imaginando os dois dirigindo em direção ao pôr-do-sol juntos, o SUV gigante do Connor<br />

protegendo o mini da Kathryn, Connor me levantou e me jogou em cima do seu ombro.<br />

"Quem é a minha garota?" ele perguntou.<br />

"Connor, me põe no chão!" eu gritei.<br />

"Fale," ele disse. "Quem é a minha garota?" ele me deu uma palmada de brincadeira na bunda.<br />

"Connor," eu repeti, rindo, "me coloca no chão."<br />

"Não até você dizer."<br />

"Eu sou!" eu gritei. "Eu sou. Agora me coloca no chão."<br />

"É assim que eu gosto," ele disse, e quando ele me colocou no chão e envolveu seus braços ao<br />

meu redor, o beijo perfeito que ele plantou com seus lábios perfeitos deletou com perfeição a<br />

imagem que eu tinha formado do meu perfeito futuro não-princesa.<br />

No jantar, minha madrasta não só se direcionou a mim, como, na verdade, fez meu dia.<br />

"Lucy, seu pai e eu conversamos, e nós queremos agradecer você por ter sido uma grande ajuda<br />

no sábado a noite nós apreciamos isso de verdade. Você pode se sentir livre para fazer qualquer<br />

plano que você queira na sexta a noite."<br />

Eu nem esperei meu pai telefonar, simplesmente desci as escadas correndo assim que o jantar<br />

acabou e digitei o número do celular de Connor.<br />

"Ei, e aí? É o Connor. Você sabe o que fazer agora."<br />

"Ei, sou eu," eu disse. "Eu tenho boas notícias. Me liga mais tarde." Depois que eu deixei<br />

minha mensagem, eu percebi que o Connor não sabia que eu estava de castigo - eu falei para<br />

ele que eu precisava estar em casa logo após nossa tarde juntos, mas eu não contei a ele o<br />

porque. Então talvez eu não estar mais de castigo não se qualificasse como boas notícias para<br />

ele.<br />

Mesmo assim, eram boas notícias para mim.<br />

O dia seguinte a Noite dos Veteranos na Cidade era o Dia curto dos Veteranos. Eu não sei se<br />

foi Connor estar ausente, mas tudo parecia um pouco irreal, como se eu estivesse andando em<br />

uma aquarela em vez de um mundo tridimensional. Eu não conseguia me focar em nada. Em<br />

matemática, Jessica tirou vantagem do Sr. Palmer dar bronca em John Marcus por atender seu<br />

celular durante a aula para me perguntar se Connor tinha me dito os detalhes de como ontem a<br />

noite ele, Matt, e Dave vomitaram na rua fora de algum clube. Eu balancei minha cabeça.<br />

"As vezes esses garotos me tiram totalmente do sério," ela sussurrou. "Matt contou para a<br />

Madison que eles tomaram shots* de tequila a noite toda." Ela fez uma careta. "Tanto faz. Ei,<br />

você quer ir ver vestidos para o baile depois da escola?"


*Shot é tipo uma dose de tequila, vários shots quer dizer que eles tomaram várias doses de<br />

tequila por assim dizer, eu não traduzi porque muita gente aqui no Brasil fala shot em vez de<br />

dose.<br />

"Senhorita Johnson, senhorita Norton, vocês estão bem preparadas para o quiz de amanhã?" o<br />

Sr Palmer olhava fixamente para Jessica na frente da sala.<br />

"Desculpa, Sr Palmer," disse Jessica.<br />

"É, desculpe," eu disse. Quando ele se virou e continuou escrevendo na lousa, Jessica rolou<br />

seus olhos para mim. Eu acenei, mas eu não conseguia me livrar da sensação de ansiedade na<br />

boca do meu estômago. Dave tinha ligado para Jessica. Matt tinha ligado para Madison.<br />

Porque o Connor não tinha ligado para mim?<br />

Depois da aula, Madison se encontrou comigo e Jessica no corredor.<br />

"Ok, nós vamos comprar nossos vestidos no shopping depois?" Jessica perguntou quando nós<br />

caminhamos para o refeitório.<br />

"Vamos esperar até as férias de primavera,' disse Madison. "Minha mãe está totalmente em<br />

cima de mim por causa desse aviso de advertência que eu peguei em matemática." Ela tomou<br />

um gole de água e empurrou a porta da lanchonete com seu quadril. "Matt disse que ele<br />

vomitou seis vezes até agora," ela disse. "O quão totalmente nojento é isso?"<br />

"Totalmente," Jessica concordou. "Dave disse que ele esteve vomitando a manhã toda."<br />

Eu não disse nada, bastante auto-consciente sobre o fato de que eu não tinha a mínima idéia de<br />

quantas vezes Connor tinha vomitado nas últimas 24 horas. Era o que elas queriam ouvir,<br />

certo? Bom, Matt pode ter vomitado até seis vezes e Dave pode ter vomitado durante toda a<br />

manhã, mas já que ele é o garoto mais popular da escola, Connor, naturalmente, vomitou até<br />

mais do que os dois juntos. Eu sei porque eu sou a namorada dele e, como tal, sou responsável<br />

pela difusão de informações sobre as funções gastrointestinais de Sua Majestade.<br />

Elas sentaram numa mesa vazia. "Eu só preciso pegar um sanduíche," eu disse, não me<br />

sentando.<br />

Madison e Jessica me deram uma olhada. "O que?" eu perguntei.<br />

"Você está bem?" perguntou Madison.<br />

Eu dei de ombros. "Sim, claro."<br />

Jessica pegou a minha mão. "Luuuucy," ela disse, soando exatamente como Ricky Ricardo*.<br />

"Você tem algumas explicações para dar."<br />

*Ricky Ricardo era um personagem de uma série de TV chamada I Love Lucy (Eu amo a<br />

Lucy)<br />

Eu arrastei uma cadeira, me sentei, e fechei meus olhos, muito envergonhada pelo que eu ia<br />

dizer para olhar para elas. "Connor não me ligou o dia todo."<br />

Jessica começou a rir, e Madison também. Mas quando eu não me juntei a elas, elas pararam.<br />

Eu abri meus olhos. "Você não está preocupada de verdade por causa disso está?" perguntou<br />

Jessica.


"Isso foi a, tipo, 24 horas," eu disse.<br />

Jessica colocou seu braço ao me redor. "Querida, ele está tão na sua."<br />

"Você acha?" eu perguntei, já me sentindo melhor.<br />

"Totalmente," disse Madison. "Ele está, provavelmente, muito ocupado rezando para o Deus da<br />

privada para se lembrar de ligar."<br />

"Talvez você esteja certa," eu disse.<br />

"Talvez não, eu estou," ela disse.<br />

Quando eu cruzei a lanchonete para comprar meu sanduíche, eu me senti um milhão de vezes<br />

mais feliz do que eu estava cinco minutos atrás, embora eu tenho que admitir que meu bomhumor<br />

não tinha exatamente nascido de altruísmo. Quero dizer, Jessica tinha acabado de me<br />

convencer que meu namorado estava fisicamente incapaz de levantar um telefone. Eu não<br />

deveria ter sido sobrecarregada de simpatia e preocupação?<br />

Mas em vez de estar triste por ele, eu me sentia feliz por mim. Porque todo mundo sabe que é<br />

melhor ter um namorado que se sente doente demais para ligar do que ter um que não liga<br />

nunca.


Capítulo 20<br />

Depois da escola eu fui ao estúdio. A idéia que tive olhando o The Dancers ontem ficou<br />

comigo, e quanto mais eu trabalhasse no meu esboço, mais forte meu sentimento cresceria de<br />

que essa idéia poderia ir longe. Eu mal tirei meus olhos da página a tarde toda, e o único tempo<br />

que tive, eu fiz contato visual com a Senhorita Daniels, que olhou para mim um exato segundo.<br />

"Você parece ter uma boa intenção aí," ela disse, gesticulando para minha prancheta de esboço.<br />

"Estou tomando isso como um bom sinal".<br />

"Há esperança," eu disse.<br />

"Quer me mostrar o que você conseguiu?"<br />

Olhei para o que tinha estado desenhando. "Sim, claro," eu disse, não me sentindo muito<br />

segura. Descruzei minhas pernas e fui até a mesa dela, onde ela me olhava expectativamente.<br />

Pressionei meu caderno contra o peito."Tenho receio de que você odeie isso," eu disse.<br />

"Você odeia isso?" ela perguntou.<br />

"Não."<br />

"Você gosta disso?"<br />

Eu assenti.<br />

"Bem, por que eu odiaria se você gosta?"<br />

"Porque você odiou todos os outros."<br />

Ela sorriu. "Primeiro de tudo, eu não os odiei. Eu disse que não achava que eles dariam um<br />

auto-retrato muito interessante. E segundo, se você os defendesse cada um deles por um<br />

segundo sequer, eu teria deixado que me convencesse."<br />

Eu não podia acreditar no que ela estava me dizendo."Sério?"<br />

"Sério. Você apenas nunca pareceu particularmente animada com nenhum dos desenhos que<br />

me mostrou."<br />

"Suponho que sim," eu disse, e mesmo assim soei hesitante, eu sabia que o que ela dizia era<br />

verdade. Todas as outras idéias que eu tinha considerado nasceram do desespero, não da<br />

inspiração.<br />

"Agora," ela disse, levantando a mão. "Me deixe ver o que você tem para mim."<br />

Silenciosamente, eu passei para ela meu esboço. Senhorita Daniels olhou-o de cima a baixo.<br />

Então ela pegou a meu lápis.<br />

Uh-Oh, lá vem.


"Vê como tem 3 figuras aqui e nenhuma aqui? Você poderia mover essa daqui só um<br />

pouquinho, e vai ficar mais balanceado. Então você terá menos espaços vazios," ela apontou<br />

para o lado esquerdo da página, que estava quase toda em branco, " e mais aqui."<br />

Isso significa...<br />

"Espera, você está dizendo que eu posso... que está, sabe, ok?<br />

Ela olhou para mim. "Você acha que está ok?"<br />

Olhei para as figuras que desenhei, uma linha de Lucys de mãos dadas, cada uma um<br />

pouquinho diferente da outra e olhando levemente para uma direção diferente. O jeito que elas<br />

estavam simultaneamente conectadas e ainda isoladas, cada uma olhando para algo diferente,<br />

mas olhando do mesmo jeito, expressando algo sobre quem eu sou que eu não achava ser capaz<br />

de colocar em palavras. Esperava que a senhorita Daniels não me pedisse para explicar.<br />

"Eu gostei mesmo," ela disse. "E eu acho que é digno de você. Então por que você não começa<br />

a pintar amanhã?"<br />

"Sério?"<br />

A senhorita Daniels sorriu."Sério."<br />

Bem na hora Sam entrou e ficou do outro lado da mesa.<br />

"Desculpe, estou interrompendo algo?" ele perguntou.<br />

"Já acabamos," eu disse, sacudindo o caderno fechado. Mesmo que eu dissesse as palavras, eu<br />

não acreditava nelas.<br />

"Bem então, se está bem para você," ele disse para senhorita Daniels, "vou levar aquela pintura<br />

para casa agora."<br />

Senhorita Daniels fez uma cara triste. "Acho que não posso mantê-la aqui para sempre." Ela<br />

olhou para a parede, e percebi que eles estavam falando da pintura da árvore que eu gostava<br />

tanto. "Mas- e não estou só dizendo isso para segurá-la aqui por mais um dia- não acho que<br />

você possa carregar sozinho, e eu tenho um compromisso em..." Ela olhou para o relógio. "...3<br />

minutos. Então se você quiser esperar até as cinco e meia eu posso fazer isso. Ou podemos<br />

esperar até amanhã."<br />

"Posso ajudar?"<br />

Os dois olharam para mim.<br />

"Tem certeza de que não se importa?" perguntou Senhorita Daniels. "Não é pesado, só é<br />

grande."<br />

"De verdade, você não tem que," disse Sam. "Posso levar para casa uma outra hora."<br />

"Não," eu disse. "Eu gostaria de ajudar." Era o mínimo que eu podia fazer considerando como<br />

ele tinha me convidado para minha primeira e única visita a Galeria de Nova York. "Só me diz<br />

o que fazer."<br />

Eu não podia ver como a pintura enorme que carregávamos tinha uma chance de uma bola de


neve no inferno de caber dentro do porta-mala do carro do Sam- um lindo, amarelo fusca que<br />

era da época de Jimi Hendrix e Janis Joplin- sem ser completamente destruído. Ainda bem que<br />

eu não falei das minhas dúvidas, já que com alguns puxas e empurras, a lona deslizou<br />

facilmente no espaço minúsculo; havia ainda lugar para nós sentarmos na frente com nossos<br />

assentos mais ou menos ereto.<br />

"Essa foi incrível," eu disse, balançando a cabeça com admiração enquanto nós saíamos do<br />

estacionamento. "Não vou mentir- quando vi as proporções dos objetos em questão, tive<br />

algumas preocupações."<br />

"Oh, somente um pouco de fé," disse Sam. Ele parou e carro e se virou para mim. "Espera.<br />

Onde estou levando você?"<br />

"Casa, eu acho." Dei a ele meu endereço.<br />

"Tenho certeza que serei capaz de reconhecer o lugar," ele disse, dirigindo. "É a única com uma<br />

torre acessível por uma janela, certo?"<br />

"Bem, sim e não. Tem um túnel secreto que corre embaixo do fosso do porão onde eu passo a<br />

noite, mas é guardado por um mágico e agressivo dragão."<br />

"Claro," disse Sam. "Eu ficaria desapontando com menos que isso." Sem tirar os olhos da<br />

estrada, Sam pescou ao redor do bolso da porta do carro por um CD, achou e colocou para<br />

tocar. Um nostálgico subterrâneo Blues encheu o carro quando Sam alcançou através de mim e<br />

abriu o porta-luvas. Pensei que ele procurava por um CD diferente, mas tirou uma caixa de<br />

Raisinets. "Chocolate"? perguntou, segurando a caixa entre os joelhos enquando abria com uma<br />

única mão.<br />

"Claro," eu disse, e ele sacudiu alguns na minha mão.<br />

"Então, como vai? Vejo que sua madrasta ainda tem que contratar um lenhador para levar você<br />

até uma floresta e mata-la".<br />

"Bem, ela tentou," eu disse, jogando alguns Raisinets na minha boca. "Mas é realmente difícil<br />

receber uma ajuda boa hoje em dia. Você se surpreenderia com quanto problema que ela está<br />

tendo só para achar um lenhador local".<br />

"Estas coisas levam tempo," reconheceu Sam. Guiamos juntos em silêncio até que finalmente<br />

eu não podia ficar calada sobre o que estava em minha mente por mais um segundo.<br />

"Adivinha o que," eu disse, quando paramos em um sinal vermelho. Eu quase dava risadinha<br />

com animação.<br />

"O que"? perguntou Sam. Ele olhou para mim expectativamente.<br />

O olhar de Sam me fez sentir um pouco boba. Quero dizer, não era como se minha notícia era<br />

tão emocionante. Mesmo assim, ainda me fazia emocionar. "Eu finalmente tive uma idéia para<br />

meu auto-retrato.‖<br />

"Ei, isso é grande," disse Sam, sorrindo. Um carro atrás de nós buzinou, e Sam colocou o carro<br />

em engrenagem. "Posso perguntar o que é, ou você não está pronta para dizer ainda"?<br />

Franzi o rosto e sacudiu a cabeça. "Não quero ser rude, mas. ..‖


"Espera, você está preocupada com que eu julgue sua etiqueta pobre"? Sam perguntou, rindo.<br />

"Você uma vez não me nominou como a mais Rude-Pessoa-Prêmio Vivo"?<br />

Virei em direção a ele. "Oh, sim, o que aconteceu com isso"? Perguntei.<br />

Ele virou a esquerda na minha quadra. "Deram para algum rapaz em Manhattan que corta suas<br />

unhas no metrô."<br />

"Uma pena," eu disse. "Você está chateado?"<br />

Sam encolheu. "Ganha-se aqui, perde-se ali". Apontei minha casa, e Sam estacionou na frente e<br />

desligou o motor. "Se importa se eu perguntar qual foi a sua inspiração?"<br />

"A Arte do Gardner Pelas Idades. Sou uma ladra desavergonhada," admiti.<br />

"Bem, como Picasso disse, bons artistas emprestam. Grandes artistas roubam'. E como sabe, eu<br />

mesmo roubei minha parte de idéias. O que não quer dizer que eu seja um grande artista,"<br />

adicionou rapidamente.<br />

"Eu não sei," eu disse. "Você é muito bom". Observei um rubor aproximar-se as suas<br />

bochechas enquanto ele deva uma batida no volante numa tentativa de ignorar o que tinha<br />

acabado de dizer. "Deus, você é tão fácil de embaraçar," eu disse. "Olhe para você, ficando<br />

todo vermelho".<br />

"Vamos" ele disse. Observei ele lutar contra um sorriso importunando o canto da sua boca.<br />

"Isto é tão divertido," eu disse. "Isso podia ser um novo jogo. Faça Sam enrubecer".<br />

"Ha Ha," ele disse.<br />

"Que artista brilhante você é, Sam," eu disse altamente. "Que talento natural. Que técnica".<br />

Sam sorria, mas também estava todo vermelho. "Você vai parar?"<br />

"E sua pincelada". Beijei as pontas dos meus dedos. "É nada menos do que um gênio".<br />

Ele ligou o motor. "Bem, tchau, Lucy. Agradeço por toda sua ajuda".<br />

"Sem mencionar seu uso extraordinário de cor".<br />

"De verdade, obrigada por tudo". Ele aumentou o volume no pronto do Dylan.<br />

"Sério, Sam, você devia se alugar para festas. Você é mais valioso do que o Old Faithful*".<br />

*Old Faithful é um géiser localizado no Parque Nacional de Yellowstone, em Wyoming, nos<br />

Estados Unidos. No Brasil é chamado de Velho Fiel.<br />

Sam colocou as mão em forma de concha ao redor da orelha. "O que é que Lucy"? ele gritou.<br />

"Você disse que tem que ir"?<br />

"De verdade, eu tenho que ir," gritei de volta. Provocar Sam era muito legal, mas tinha dito a<br />

Madison que eu investigaria um vestido que ela tinha enviado por e-mail. Era mais tarde do que<br />

tinha esperado chegar em casa. "Agradeço pela carona," eu disse, enquanto abria a porta.


Sam estendeu as mãos e então apontou para o rádio e para sua orelha, sacudindo a sua cabeça.<br />

"Lamento, Lucy, não posso ouvir uma palavra que você diz," gritou. "Obrigada de novo".<br />

Rindo, eu bati a porta e observei Sam do meio-fio quando meu telefone celular tocou. Peguei<br />

ele. "Estou entrando em casa enquanto falamos," eu disse. "Vou olhar e te ligo de volta".<br />

"Cinco minutos," ela disse.<br />

"Cinco minutos," prometi. Tinha planejado agarrar um lanche, mas agora percebi que era<br />

melhor checar a internet primeiro. Quando você diz que ligará para alguém em cinco minutos,<br />

você não pode ligar em vinte.<br />

Ser da realeza não é nenhuma desculpa para ser rude.


Capítulo 21<br />

Quando Connor finalmente resolveu ligar, era fácil dizer que minhas fantasias paranóicas dele<br />

andando por aí ao acaso com Kathryn Ford era um pouco extraviado.<br />

"Oi Tomate," ele disse. Ele soava realmente mau. "Desculpe por não ter ligado. Estou meio que<br />

doente."<br />

"Sim, você não soa legal."<br />

"Não me sinto bem. Eu e Matt e Dave começamos a tomar doses de tequila." Teve uma pausa,<br />

e ouvi Connor engolir saliva. "Não posso nem mesmo falar sobre isso." A voz dele estava fraca,<br />

como se tivesse que fazer esforço para falar.<br />

Me sinto terrível por ele "Você está ok?" Eu nunca fiquei de ressaca, mas uma vez eu passei 24<br />

horas vomitando por causa de um molusco.<br />

"Eu viverei. Mas qual é a sua boa notícia?"<br />

Por um segundo eu não pude lembrar, então me veio a memória. "Oh, eu estava potencialmente<br />

de castigo para sempre, mas não estou agora."<br />

"Isso é demais, Tomate."<br />

Houve uma batida na minha porta. "Lucy," chamou <strong>Prince</strong>sa Dois, "jantar."<br />

"Connor, posso te ligar de volta? Minha madastra fica louca se eu não estiver lá em cima para o<br />

jantar às 7 em ponto."<br />

Connor gemeu. "Não fale em jantar, por favor."<br />

Como a pintura de uma obra prima, a procura pelo perfeito vestido de baile não é uma questão<br />

para ser empreendida ligeiramente. Deve-se ter o único propósito do negócio, a coragem, a<br />

devoção cega à tarefa à mão de um crente verdadeiro. Deve-se ter força. Deve-se ter visão.<br />

Deve-se ter um cartão de crédito do pai.<br />

Para se obter o chamado cartão de crédito do pai, eu gastei o primeiro sábado da pausa da<br />

primavera sendo mandada por Mara. que queria ver como a sala de estar pareceria se o sofá<br />

estivesse onde o love seat* estava e o love seat estava no esconderijo. Enquanto eu mudava<br />

estatuetas de vidro, mesas, e um relógio hediondo de avô** pela casa, eu sabia que Jessica e<br />

Madisson estavam na Miracle Mile, embrulhadas em seda e cetim, sendo medidas dos pés a<br />

cabeça por vendedoras obsequiosas a cada capricho delas. Mas uma menina tem de fazer o que<br />

uma menina tem de fazer, e segunda-feira, quando entrei no Roses Are Red com o Visa do meu<br />

pai no bolso traseiro do jeans, eu sabia que sangue, suor, e lágrimas tinham valido a pena.<br />

* Sofas como esse<br />

http://www.thefurniture.com/store/images/AE/livingroom/passion/7580red_love.jpg<br />

** Desse tipo aqui<br />

http://www.antiquereproductions.org.uk/ebay/ar/grandfather_clock_mg9814/grandfather_clock


_mg9814_full_size.JPG<br />

"Esse aqui é legal," disse Madison, tirando um vestido pink pálido de onde estava pendurado<br />

entre dois outros pinks. Estavamos esperando pela vendedora voltar com o vestido que<br />

Madison tinha reservado no sábado. "Eu experimentei esse mas me fez parecer muito lavada "<br />

Olhei para o vestido. "Não sei, Madison," eu disse. "Pink?"<br />

Ela colocou o vestido de volta e veio até mim. "Você sabe o que tem que fazer?" Ela me<br />

encarou intensivamente nos olhos. "Você tem que se imaginar na noite do baile, ok?"<br />

Do outro lado da loja, Jessica virou os olhos para mim e girou os dedos próximos à têmpora.<br />

"Você está brincando?" perguntou Madison, se virando para a mulher. "Eu estive aqui no<br />

sábado."<br />

A vendedora sorriu vagamente. "Tem certeza de que você está na loja certa? Porque tem<br />

tantas..."<br />

"Oh, meu Deus," disse Madison, "posso pelo menos entrar lá olhar?" Antes que a mulher<br />

tivesse a chance de responder, Madison passou por ela, pelas cortinas e entrou nas<br />

dependências da loja. Eu dei para a vendedora uma pequena encolhida, e ela sorriu para mim,<br />

agitando suas mãos no ar nervosamente.<br />

"Está bem aqui," disse Madison, emergindo de volta com uma sacola de peça de roupa. "Está<br />

aqui."<br />

"Oh, sim!" disse a vendedora. Ela bateu palmas. "Agora eu me lembro. Você vai levar esse."<br />

"Ela está decidindo se compra esse," corrigiu Jessica.<br />

"Claro," disse a mulher, se movendo até Madison e pegando o vestido dela. "Apenas me siga."<br />

Ela desapereceu atrás das cortinas.<br />

Madison voltou de onde eu estava parada. "Pense no que eu te disse. Você tem que imaginar."<br />

"Ok," eu disse. "Eu vou."<br />

Ela deu um pequeno pulo de animação. "Espere até você ver meu vestido!" ela guinchou, se<br />

virando para a os provadores. "É ma-ravilhoso." No metade do caminho, ela parou e se virou<br />

para nós. " Mas você tem que jurar que dirá se odiou ou não, ok? Seja brutalmente honesta."<br />

Eu coloquei minha mão sobre o coração. "Honra de escoteira," eu disse.<br />

Enquanto Madison estava lá atrás, Jessica e eu nos mergulhamos nas prateleiras dos vestidos. A<br />

maioria era realmente pegajosa—tulle, lantejoulas, tulle e lantejoulas, mais tulle. A seleção de<br />

lojas e a reverência de Madison por pink estava começando a dar um pouco nos nervos sobre o<br />

vestido que ela tinha escolhido. E se ela emergisse do provador parecendo uma anfitriã? Bem<br />

quando eu estava prestes a perguntar a Jessica o que Madison definia como "brutalmente<br />

honesta", Madison saiu de dentre as cortinas.<br />

Ela parecia uma estrela de cinema.


"Oh, meu Deus, Madison! Está... você está...wow." O vestido era seda de clarete, sem alças,<br />

com um adorável top e um corpete apertado que acabavam numa saia longa. Não havia tanto<br />

como uma manchinha de tulle. A vendedora se apressou e peritamente prendeu cabelo de<br />

Madison.<br />

"Madison, você está incrível," disse Jessica. "É definitivamente o meu favorito".<br />

Madison girou em volta "Não pareço magra?"<br />

"Magérrima," eu disse.<br />

"Basicamente, é como a pessoa mais magra do planeta," adicionou Jessica.<br />

"Então devo comprá-lo"? ela perguntou.<br />

"Está brincando?" eu disse. "Compre ele imediatamente".<br />

Ela fez um chiado pequeno de animação. "Tá bom, vou comprá-lo," ela disse, se olhando de<br />

novo no espelho e sorrindo com o que via. Então ela virou e me encarou. "Jessica tem dois<br />

vestidos reservados na Kewpid," ela disse. "Então você é a próxima".<br />

Madison me fez sentar num assento minúsculo love seat na área dos provadores, fechar meus<br />

olhos, e imaginar o baile. Ela me fez caminhar por toda a noite, começando com coquetéis em<br />

sua casa, acabando com minha dança lenta romântica com Connor quando éramos coroados rei<br />

e rainha do baile.<br />

"Agora," ela disse finalmente, "rápido: o que você está vestindo?"<br />

Abri meus olhos e olhei para ela. "Sinto muito, Madison," eu disse.<br />

"Nada?" Eu podia dizer que ela realmente estava decepcionada, então fechei os olhos durante<br />

outro minuto. Então os abri outra vez e sacudi a cabeça.<br />

"Sinto muito."<br />

Ela sentou-se ao meu lado, soltando um suspiro. "Wow eu realmente pensei que isso<br />

funcionaria."<br />

Dei um tapinha no seu joelho. "Não é sua culpa. Eu só não sou uma pessoa muito espiritual."<br />

Quis soar tranqüilizadora, mas repentinamente estava lutando contra o pânico. E se minha<br />

incapacidade de imaginar uma noite de baile fosse um sinal? E se eu gastasse cada minuto livre<br />

entre agora e o baile procurando um vestido, mas nunca achar o correto? Como você pode ser a<br />

rainha do baile de jeans e camiseta?<br />

Somente então, Jessica colocou sua cabeça pelas cortinas. "Você garotas ainda não estão<br />

tentando essa droga de visualização estão?"<br />

"Não é droga," disse Madison. "O Dalai Lama diz—"<br />

"Quando Sua Santidade conseguir uma coluna na Vogue, Lucy tomará seu conselho de moda,"<br />

disse Jessica, pisando pelas cortinas. Nos seus braços estava um longo, vestido azul escuro.


"Até lá ela precisa de auxílio mundial." Parada em frente a mim, ela arremessou a parte inferior<br />

do vestido sobre meu colo, dando um passo para trás a coisa toda ficou entre nós.<br />

"Eu não sei, Jessica," eu disse. A seleção de Jessica não estava aliviando muito meu sentimento<br />

crescente de pânico. Mesmo porque eu sei que um vestido parece diferente numa pessoa do que<br />

num cabide, eu estava bem certa de que eu não precisava ver este vestido em particular em<br />

minha pessoa em particular para saber que não era o vestido para mim. O espartilho, que<br />

parecia ter sido feito de uma seda pesada, estava provavelmente ok, mas a saia parecia que<br />

tinha o potencial de estar extremamente pegajoso. "Chiffon?"<br />

"É o novo veludo," disse Jessica. "Confie em mim".<br />

Eu não queria ser rude, mas chiffon me lembra um lote inteiro de tulle. Havia lantejoulas nele?<br />

Tomei o cabide de Jessica enquanto trabalhava no fraseado de uma recusa gentil. Lembrando<br />

de como impetuosamente Jessica e Madison tinham lutado para eu comprar o vestido vermelho,<br />

compreendi que eu teria que ter mais em meu arsenal do que, não é bem meu estilo. Que tal,<br />

odeio esse porque me pareço uma prostituta pegajosa?<br />

Mas quando coloquei o vestido sobre a minha cabeça e senti o declive rico de tecido lisamente<br />

abaixo do meu corpo, eu me perguntei quão pegajoso um vestido de um sentimento tão<br />

delicioso podia ser. E quando me olhei no espelho, eu não precisei me perguntar. A resposta<br />

estava clara—não tão pegajoso.<br />

O espartilho era de seda apertada, apertado na frente, decotado nas costas, e sem alças como o<br />

de Madison. Tinha esperado que a saia fosse poufy, perfeito para um extra em "E o vento<br />

levou", mas ele caía quase diretamente no meio do meu calcanhar. Não era transparente, mas<br />

você podia ver a forma das minhas pernas pelo tecido delicado embaçado. A minha pele<br />

parecia brilhar contra a seda azul escura. Eu não podia acreditar. Eu parecia ... bonita.<br />

Quando eu pisei para fora do provador e vi a expressão de Jessica e Madison, eu soube que<br />

estava certa sobre como eu parecia. Rodopiei, bem como Madison fez.<br />

"Lucy, você parece surpreendente," disse Madison. "Eu não posso acreditar que você achou o<br />

vestido perfeito na primeira tentativa"!<br />

"Que achou o vestido perfeito"? corrigiu Jessica.<br />

"Senhoras, eu vou ao baile," eu disse.<br />

Comecei a rir, e também Jessica e Madison. "Você quer dizer à formatura," disse Madison com<br />

sua gargalhada.<br />

Sacudi a cabeça, ainda rindo, e não me importei de corrigi-la.


Capítulo 22<br />

Não foi até o fim da semana que Jessica encontrou o vestido que queria, então nós passamos<br />

cada segundo dos intervalos da primavera fazendo compras. Eu meio que planejei usar as férias<br />

para fazer alguns esboços para a paisagem que eu supostamente estava pronta para começar<br />

(agora que as aulas, com a única exceção de mim, tinham terminado os auto-retratos, nós<br />

passamos para paisagens). Mas como você pode dizer a sua amiga que ela estava por conta<br />

própria depois dela ter te ajudado a encontrar o vestido mais perfeito do mundo para o baile?<br />

Você não pode.<br />

E é por isso que, assim que voltássemos para a escola, eu não apenas gastaria cada um dos<br />

meus períodos livres no estúdio freneticamente esboçando minha paisagem e trabalhando no<br />

meu auto-retrato.<br />

"Feito," eu disse.<br />

Sam, a única pessoa na sala, estava esboçando no sofá.<br />

"Você disse algo?" ele perguntou.<br />

Eu não me virei, tão maravilhada pelo que tinha acabado de acontecer para me mexer. "Eu<br />

terminei," repeti, minha voz falhou. Pelos 2 últimos meses, tinha sonhado com esse momento,<br />

fantasiando como seria colocar todo o horrível, impossível e frustrante projeto a minha frente.<br />

Pensei que assim que terminasse a pincelada final eu dançaria pelos corredores do Glen Lake,<br />

virando meu chapéu para os que estivessem passando. Terminei! Terminei! Mas agora que<br />

tinha mesmo terminado, não me sentia celebrando nem um pouco. Apenas sentia... nada.<br />

Pude ouvir Sam aplaudindo. "Posso ver?"<br />

"Um... sim, claro." A ironia dele perguntando se poderia ver era a mesma que eu ficava menos<br />

que um pé longe de meu cavalete, eu não poderia ver o que pintei. Formas e cores rodavam na<br />

lona a minha frente, se recusando a formar uma imagem coerente. Isso era meu auto-retrato,<br />

essa série de borrões sem sentido?<br />

Sam veio para o meu lado e estudou a pintura. Ele olhou para ela por um longo tempo, sem<br />

dizer nada, e me perguntei que mentiras ele usaria para me assegurar que minha bagunça<br />

abstrata não era uma bagunça abstrata. "Lucy," ele finalmente disse, "está incrível."<br />

Eu quis perguntar o que ele queria dizer, como ele poderia dizer aquilo, o que ele pensava que<br />

estava olhando, mas tive medo dele pensar que eu estava pescando elogios. O que você quer<br />

dizer, o que eu quero dizer? Eu apenas disse que está incrível. E então, como se ele pudesse ler<br />

minha mente, Sam começou a falar. "É demais como todas as figuras de Lucy estão de mãos<br />

dadas mesmo que estejam olhando em direções diferentes." Olhei de uma Lucy para a outra<br />

enquanto ele falava, seguindo sua voz, assistindo seu dedo voar pela tela.<br />

"E aquela ali"- ele apontou para a menor de todas- "o jeito que ela mal dá as mãos para a<br />

próxima." Ele assentiu. "Você pode senti-la tentando escapar. É brilhante."<br />

"Na verdade, aquela ali foi um erro." Eu tentei rir. "Vê, eu começei no lugar errado, então não<br />

pude atar a mão direito."


Sem tirar os olhos da tela, Sam encolheu. "Então?" Ele bateu o ombro no meu. "Isso faz a<br />

pintura, Lucy. Acredite."<br />

Ele ficou lá, inclinado contra mim um outro minuto antes de voltar para o sofá. Mesmo depois<br />

dele ter caminhado de volta me deixado com minha tela, eu ainda podia sentir o cotton macio<br />

da sua camiseta contra minha pele descoberta.<br />

E então, tudo de uma vez, como se Sam não tivesse falando em palavras mas em pinceladas, eu<br />

vi minha pintura, a vi do mesmo jeito que ele tinha visto. E com a mudança de labirinto de<br />

formas e cores se solidificaram em formas, eu percebi que a última Lucy não parecia como se<br />

fosse um erro. Ela deixava a pintura melhor. Por causa dela, por parecer como se estivesse<br />

correndo para escapar, a inteira linha de Lucys pareciam estar se movendo. Sam estava certo.<br />

Era realmente um erro brilhante.<br />

Eu estava tão focada na pintura que quase me esqueci que Sam ainda estava na sala comigo,<br />

quando de repente ele disse, "Sabe, tenho pensado em-'<br />

Então a porta se abriu. Era Madison e Jessica, e quando elas me viram, bateram as palmas das<br />

mãos.<br />

"Te disse que ela estaria aqui," disse Jessica.<br />

"Ei, pessoal," eu disse. Estava contente que elas tenham aparecido. Graças a Sam, eu não<br />

poderia esperar para mostrar minha pintura. Era exatamente como eu pensei que eu me sentiria<br />

quando terminasse.<br />

"Ei, Sam," disse Jessica.<br />

"Ei, Jessica," disse Sam. Ele e Madison assentiram um ao outro.<br />

"Ok," Madison disse para mim da entrada. "você pode faltar matemática, mas não pode perder<br />

o almoço."<br />

"Sim," disse Jessica, quando seu telefone começou a tocar, "não é permitido artistas famintos<br />

no baile." Ela procurou o celular dentro da bolsa.<br />

"Alo? Espere." Ela se virou para Madison. "Minha mãe quer saber se sua mãe quer que ela faça<br />

alguma coisa para o coquetel na sua casa. Ela deveria ligar para sua mãe?"<br />

"Pensei que elas já tivessem se falado," disse Madison.<br />

Me virei para Sam no sofá. "O que você ia dizer?"<br />

"Eu queria dizer que..." ele parou e mexeu a cabeça. "Quis dizer que deveria ter ido há meia<br />

hora." Ele levantou-se. "Mas eu realmente gosto do seu auto retrato." Agarrou sua mala que<br />

estava no chão.<br />

"Não, Mãe. eu falei 50," disse Jessica. "Não quinze."<br />

"Obrigada," eu disse às costas de Sam. "Sua crítica quase fez eu me sentir uma artista."


Enquanto abria a porta do estúdio, Sam se virou. "Você é uma artista," ele disse. Então<br />

desapareceu no corredor.<br />

Jessica desligou o telefone. "Ok, minha mãe é oficialmente retardada." Ela se virou para<br />

Madison. "Espero que sua mãe esteja preparada para aprontar esse coquetel com uma pessoa<br />

retardada."<br />

"Por favor," disse Madison, "minha mãe é tão retardada que faz a sua mãe parecer como<br />

Einstein."<br />

Jessica foi até onde a minha bolsa e a jaqueta de Connor estavam no chão e pegou-as. "Almoço,<br />

madame?"<br />

"Claro," eu disse, relutantemente me afastando da pintura. "Eu poderia comer."<br />

"Bom," disse Jessica. "Porque nós temos uma atualização oficial do baile para você."<br />

"O que?"<br />

"Que rainha que voltou ao lar se reuniu com seu namorado de milhão anos de idade e portanto<br />

ensaca o baile de Glen Lake?" ( Não consegui traduzir essa parte direito)<br />

"Não brinca!" eu disse.<br />

Madison assentiu. "Totalmente," ela disse.<br />

Enquanto Jessica veio até onde eu estava parada ela olhou para meu cavalete. "Wow, gosto da<br />

sua pintura." Ela apontou para a maior de todas Lucys. "É você?" Quando eu assenti, ela sorriu.<br />

"Ela totalmente parece com você."<br />

Madison veio para ver o que olhávamos. "OhmeuDeus! Você pintou isso?" perguntou Madison,<br />

olhando de mim para a pintura. "É incrível."<br />

"Sim," eu disse. "É o auto retrato que eu falei para vocês,"<br />

"Oh!" Madison exclamou. "É você!" ela apontou para uma das mais sorridentes Lucys.<br />

"Espera," disse Jessica. "Eu pensei que essa era você."<br />

Madison olhou para onde Jessica Apontou. "Ei," ela disse. " Essa é você."<br />

Jessica se virou para mim. "Como tem tantas de você?"<br />

"É meio que-"<br />

"São como clones?" perguntou Madison.<br />

"Bem, não exatamente. É mais-" Por que tinha parecido tão mais fácil quando eu estava falando<br />

com Sam?<br />

"É realmente legal," disse Jessica. "Você é um talento mondo. Agora-" Ela me pegou pelo


aço e me tirou de perto do cavalete. "Nós devemos discutir sobre o namorado de Kathryn e as<br />

opções de roupas do pós baile nos Hamptons."<br />

"E o que nós precisamos comprar," Madison explicou, nos seguindo.<br />

"Então, vamos nessa, Rainha do Baile," disse Jessica, enquanto ela abria a porta do estúdio.<br />

"Sua corte real espera por você."<br />

Enquanto caminhávamos pelo corredor, eu cruzei meus braços com os delas. Talvez Jessica e<br />

Madison não pegaram todas as nuances da minha pintura como Sam. Mas eu ainda estava<br />

satisfeita de que elas fossem minhas amigas.


Capítulo 23<br />

Algumas horas depois, enquanto eu estava na frente do congelador aberto questionando os<br />

benefícios nutricionais dos Nuggets de frango versus um sorvete para comer depois do lanche<br />

da escola, meu celular tocou. Era meu pai.<br />

―Ei,‖ Eu disse olhando para o relógio na parede. ―É sexta-feira. Você já não deveria estar em<br />

um avião?‖<br />

―Oi, Goose. Eu ainda estou em São Franciso.‖ Ele disse. ―Não podemos sair com essa neblina.‖<br />

―Grande surpresa,‖ eu disse, abrindo o sorvete. Havia quase meia colherada no pote. Eu o<br />

coloquei de volta.<br />

―Mara está aí?‖ Ele perguntou.<br />

―Não.‖ Eu peguei os Nuggets de frango do congelador.<br />

―Bem, estou com problemas, não consigo ligar pra ela. Você pode avisá-la que eu estou parado<br />

aqui e que espero pegar um vôo pelo menos pra perto de Chicago essa noite?‖<br />

Eu despejei uns Nuggets no prato e os coloquei no microondas. ―Certo, chefe.‖<br />

―E sobre você Goose, grandes planos com o seu grande homem?‖<br />

―Grandes planos, grande homem,‖ eu disse. Na verdade, nós só iríamos a pizzaria e ao cinema.<br />

Mas era o suficiente.<br />

―Parece divertido,‖ disse meu pai. ―Ei, você pode pegar meu e-mail sobre o Andy<br />

Goldsworthy?‖ Andy Goldsworthy era uma artista que eu e meu pai adorávamos e que faria<br />

uma estréia pra apresentar suas esculturas no telhado do Metropolitan essa semana.<br />

―Hum...‖ Eu estava quase dizendo Pai e Mara ignoram Lucy no museu? Felizmente o telefone<br />

da cozinha começou a tocar antes que eu pudesse respondê-lo. Eu olhei pra ver quem estava<br />

ligando.<br />

―É a Mara,‖ eu disse.<br />

―Ótimo,‖ ele disse. ―Diga a ela meu plano, está bem? E que eu estou tentando ligar no celular<br />

dela.‖<br />

―Eu digo.‖ Eu disse.‖Te amo.‖<br />

―Também te amo querida. E diga a Mara que eu a amo.‖<br />

Essa parte da mensagem eu não entregaria. Eu coloquei a caixa com o resto dos Nuggets de<br />

volta no congelador e atendi o telefone.<br />

―Oi Lucy, aqui é a Mara. Seu pai já está em casa?‖ Eu percebi que ela estava ligando do seu<br />

carro. ―A bateria do meu celular acabou. Eu acho que ele está tentando falar comigo.‖


O microondas apitou. ―Ele está na Califórnia.‖<br />

―O que?‖ Ela soltou um gemido estridente, você pensaria que eu apenas diria, ele está com o<br />

advogado do divórcio.<br />

―Ele ainda está na Califórnia.‖ Eu peguei o prato com os Nuggets. ―A neblina está muito densa.<br />

Ele disse que tentou te ligar.‖<br />

―Oh, Jesus. Nós iríamos mostrar a cidade pra algumas pessoas essa noite. Eu já estou em<br />

Manhattan.<br />

Eu não estava exatamente certa de que Mara esperasse que eu fizesse algo. Talvez ela pensou<br />

que eu, como o Super Homem, pudesse parar o mundo de girar e voltasse o tempo, fazendo<br />

com que meu pai pegasse um avião pra fora de São Francisco. Infelizmente, os poderes de<br />

Cinderela são limitados em servir refeições e domar príncipes.<br />

Através do telefone, eu ouvi uma buzina. ―Okay, Okay,‖ ela murmurou. Eu ouvi mais buzinas.<br />

Mesmo quando não estava distraída e falando no celular, Mara não era exatamente a motorista<br />

mais atenta.<br />

―Escute,‖ ela disse. ―Vou tentar falar com as meninas. Se você ver elas, você vai deixá-las a par<br />

da situação? Lhes diga que seu pai não pode levá-las pra casa e que elas podem pegar um táxi<br />

ou ligar para o pai irem buscá-las?‖ Ela continuou a pensar em voz alta por alguns minutos,<br />

passando pelas lógicas em sua mente. Eu só sentei e fiquei ali comendo meus Nuggets, sem<br />

dizer nada, como se ela fosse um personagem em um programa de Tv mostrando como eu era<br />

preguiçosa pra me levantar e desligar.<br />

―Bom, então está certo, se divirta hoje a noite.‖ Disse ela, finalmente se lembrando de que<br />

falava com alguém no telefone.<br />

―Obrigada.‖ Eu disse.<br />

―O que foi isso?‖ Ela gritou de repente, imóvel. ―Estou perdendo você, Lucy.‖<br />

―Eu disse obrigada,‖ eu repeti, mais alto dessa vez.<br />

―Eu não consigo te ouvir,‖ disse ela. ―Lucy? Lucy?‖ Então o silencio.<br />

Assim que eu desliguei o telefone a porta abriu e fechou. Eu ouvi um telefone tocar, mas não<br />

foi o meu. Eu voltei a comer meus Nuggets.<br />

―Alo? Alo?‖ A <strong>Prince</strong>sa número um apareceu na porta da cozinha. O celular pressionado contra<br />

a orelha. Ela jogou a mochila em direção a cadeira. ―Mãe, é você?‖ Ela escutou por um<br />

segundo antes de balançar a cabeça e desligar.<br />

―Eu acho que era mamãe,‖ disse ela por cima do ombro. ― Mas não tenho idéia do que ela<br />

disse.‖ A <strong>Prince</strong>sa número dois se materializou ao lado de sua irmã.<br />

―Eu acho que ela estava te dizendo que meu pai está preso em São Francisco, ela está na cidade<br />

e saiu pra jantar, você pode chamar um táxi ou perguntar para o seu pai se ele pode vir te<br />

buscar. ―


―O QUE?‖ Gritou a <strong>Prince</strong>sa número um. Ela me encarou de boca aberta, então agarrou sua<br />

irmã pelo braço.<br />

―O que?‖ Eu repeti. Ela estava tão apavorada por causa da mudança de planos?<br />

―O que?‖ Perguntou a <strong>Prince</strong>sa número dois.<br />

A <strong>Prince</strong>sa número um ainda estava agarrando sua irmã. ―Você ouviu aquilo?‖<br />

―Ouvi o que?‖<br />

A <strong>Prince</strong>sa número um virou para sua irmã e falou bem devagar. ―Mamãe disse que Doug não<br />

pode nos levar até papai e que temos que pegar um táxi.‖<br />

―Então?‖ Perguntou a <strong>Prince</strong>sa número dois.<br />

―Então nós temos que ir para o ...‖ A <strong>Prince</strong>sa número um deixou sua irmã ansiosa e então<br />

continuou olhando pra ela sem expressão. Então ela se inclinou e cochichou no ouvido de sua<br />

irmã.<br />

―AI MEU DEUS!‖ Disse a <strong>Prince</strong>sa número dois, exatamente enquanto seu celular tocava. Ela<br />

o levou até o ouvido. ―Alo?...Ah, Oi, Mãe... Sim, nós recebemos a sua mensagem... Claro, nós<br />

vamos chamar um taxi.‖ Ela pulou, gritando silenciosamente. ―Não, você não tem que ligar pra<br />

ele. Sério, mãe, não se preocupe com isso.‖ Ela estava tentando não rir de alguma coisa que sua<br />

mãe tinha dito. ―Tá... Tá... Também te amo mãe.‖ Ela desligou e olhou pra sua irmã. ―Ai. Meu.<br />

Deus. Vamos.‖<br />

Mesmo com a inocência de uma criança, você poderia dizer que as <strong>Prince</strong>sas não eram boas. Eu<br />

não estava certa do que deveria fazer. Eu não queria parecer autoritária. Contudo, se elas<br />

fizessem alguma coisa realmente estúpida, talvez eu usaria pouco de intervenção adulta. Ou no<br />

mínimo um pouco de intervenção pré-adulta.<br />

―Qual é?‖ Eu perguntei,tentando manter minha voz alegre, como seu eu só quisesse conversar.<br />

―Grande encontro hoje a noite?‖<br />

―O que você quer saber, Lucy?‖ Perguntou a <strong>Prince</strong>sa número um, virando-se e saindo<br />

bruscamente da cozinha. Sua irmã a seguiu indignada,com uma aspereza equivalente. ―Tenha<br />

uma vida, Lucy,‖ disse a <strong>Prince</strong>sa número um por cima de seu ombro.<br />

Desde que eu resolvi atender a segunda extravagância do QM Jason Goldberg, as princesas<br />

ficam reclamando que não sobraram temas bons para a festa de Bar-Mitzvah, mas suas<br />

tentativas de separação me deram uma idéia.<br />

Algo ruim vem por aí...<br />

Eu tinha que me lembrar de sugerir isso.<br />

Quando o Connor me buscou para irmos a pizzaria, ele estava realmente de mau humor.<br />

Aparentemente, seu carro estava na loja novamente e seus pais o responsabilizou por não ter<br />

tido mais cuidado com ele.


―Como se eu quisesse dirigir este pedaço de lixo.‖ Disse ele, batendo no painel do Lexus.<br />

No caminho até a pizzaria eu não falei nada além de ―Huumm‖, ―Sim‖ e ―Sério?‖. Quando nós<br />

paramos no estacionamento em frente a pizzaria, Connor finalmente disse, ―Mas chega de falar<br />

dos meus problemas. Como você está, Red?<br />

Eu só abri minha boca pra dizer alguma coisa e ele deu um grito. ―Ah sim, um ponto!‖ E um<br />

segundo depois, ele estava explicando porque o Lexus era mais fácil de estacionar do que SUV.<br />

Até a hora em que nós saímos do carro e atravessamos a rua, ele tinha voltado a falar dos pais.<br />

―Ai meu Deus,‖ disse Madison, acenando da mesa onde ela, Matt, Jéssica e Dave já estavam<br />

sentados. ―Você tem que ouvir sobre as bolsas que a minha mãe viu na SoHo. Elas são muito<br />

fofas e acho que podemos comprar para o baile da escola.‖<br />

―Ótimo,‖ eu disse. De repente eu tive uma ideia. ―Espera, sabe o que devemos fazer?‖<br />

―O que?‖ Perguntou a Madison, inclinando-se para mim.<br />

Connor, Matt e Dave estavam totalmente absortos em sua conversa, mas puxei o ombro do<br />

Connor pra chamar sua atenção. ―Todos nós podemos ir no centro da cidade amanhã? Nós<br />

podemos comprar as bolsas e então ir na estréia do Andy Goldsworthy no Metropolitan. Vai ser<br />

no telhado.‖ Eu não podia acreditar o quão brilhante minha idéia era. Quão perfeito poderia ser<br />

ver a exibição do Andy Goldsworthy com que não gastariam tempo me ignorando?<br />

Um silêncio pairou na mesa. Durante um minuto completo, ninguém falou uma palavra.<br />

―Museus não combinam muito comigo, Red.‖ Disse o Connor finalmente, ―Mas eu aposto que<br />

você pode responder essa. Dave disse que James LeBron jogava em uma escola em Cleveland.<br />

Certo ou errado?<br />

Estava presente a maneira não sutil do Connor de me dizer pra descartar o assunto do Museu.<br />

―Akron,‖ eu disse. ―Os Cavaliers encontraram ele no Akron.‖<br />

―Exatamente!‖ Disse o Matt. Ele se virou e apontou para Dave. ―Que é um perdedor!‖<br />

Connor riu. ―Verdade.‖ Ele disse, descansando seu braço nos meus ombros. ―Minha garota é<br />

demais, ou é demais minha garota?‖ Ele se inclinou e me beijou. Todos estavam olhando, então<br />

eu correspondi o beijo, mas alguma coisa estava definitivamente errada.<br />

Instantaneamente eu me senti como se eu fosse a garota mais sortuda do mundo, como se eu<br />

fosse um cão treinado ganhando o primeiro lugar em uma competição.


Capítulo 24<br />

Quando eu andei do carro do Connor até a porta da frente de casa, estava feliz por dizer que<br />

achava que estava ficando doente, então ele não me deu um beijo de boa noite. E se o seu beijo<br />

de boa noite me fizesse sentir do mesmo jeito do beijo de mais cedo, só que dessa vez<br />

estávamos sozinhos e eu não podia repreendê-lo por termos uma platéia? Meu estomago doía e<br />

tudo o que eu queria era deitar na minha cama e ficar nela. Talvez eu estivesse mesmo ficando<br />

doente. Eu coloquei minha mão na testa. Eu parecia estar quente? Provavelmente tudo que eu<br />

precisava era de uma xícara de chá quente e fui até a cozinha fazer um pouco. A luz da<br />

secretária eletrônica piscava avisando que tinha recado.<br />

―Oi pessoal.‖ Era o meu pai. ―A boa notícia é que eu estou prestes a pegar um vôo pra Chicago.<br />

A má notícia é que talvez eu tenha que passar a noite aqui. Estarei em casa amanhã entre o fim<br />

da manhã e o começo da tarde.‖ A segunda mensagem era do pai das <strong>Prince</strong>sas. ―Oi meninas, é<br />

o papai. Eu recebi sua mensagem. Eu não sei por que não consigo ligar para os seus celulares.<br />

De qualquer jeito, amanhã está ótimo. Mas a mãe de vocês terá que trazê-las porque eu tenho<br />

um jogo de Squash. Certo, durmam bem.‖<br />

Bem, bem, bem. Então as princesinhas não eram boas. Eu peguei um pouco de hortelã do<br />

armário, perguntando-me onde elas teriam ido. Talvez um encontro? Talvez uma festa pra um<br />

menino ou menina? Eu tentei imaginar um monte de alunos do sétimo ano no cinema ou<br />

jogando gire a garrafa. Isso era um pouco perspicaz, na verdade.<br />

Meu celular começou a tocar e o procurei dentro da minha bolsa. Mas não estava lá. Fiquei<br />

frenética. Onde estava meu celular? O toque parou. Eu procurei dentro dos bolsos da jaqueta do<br />

Connor. Eu não o tinha pegado quando saí de casa?<br />

Somente quando eu ia ligar pra ele, começou a tocar de novo. Eu escutei por um segundo e abri<br />

o congelador. Ali, próximo dos nuggets, estava meu celular. Eu o peguei, notando que<br />

deveriam adicionar um picolé aos celulares, eu tinha quatro chamadas perdidas.<br />

―Alo?‖<br />

―Lucy?‖ Parecia que mais de uma pessoa estava falando meu nome.<br />

―Quem é?‖ Eu perguntei.<br />

―Lucy? É você?‖ Havia duas vozes diferentes, ambas sussurrando.<br />

―É a Lucy.‖ Eu disse. Eu falei muito alto e claro, como se eu precisasse compensar os<br />

sussurros. ―Quem...‖<br />

―Lucy, você tem que vir nos buscar!‖ Disse uma das vozes. E agora ela estava falando sozinha,<br />

eu sabia quem era.<br />

―Emma?‖ Eu perguntei.<br />

―Lucy, venha nos buscar, por favor,‖ ela disse. ―Por favor, Lucy, você vem nos buscar?‖ Ecoou<br />

Amy.


―Onde vocês estão?‖ Eu coloquei o dedo na minha orelha vazia, como se o problema de não<br />

conseguir ouvir as <strong>Prince</strong>sas era o silêncio em que a casa estava.<br />

―Nós estamos na...‖ Houve uma conversação abafada entre elas e então parou.<br />

―Onde vocês estão?‖ Eu repeti.<br />

―Nós estamos na casa do Bobby,‖ disse Amy.<br />

―Mill Road, número dezoito.‖ Disse Emma.<br />

―Mas o que vocês estão fazendo aí?‖ Eu exigi. ―Vocês deveriam estar com seu pai.‖<br />

―Nós viemos pra... pra...‖ Amy começou a chorar e eu ouvi Emma dizendo, ―Me dê o telefone.‖<br />

Então houve outra pausa e finalmente Emma estava com o telefone.<br />

―Nós estávamos na festa,‖ ela disse e sua voz também começou a vacilar. ―Nós estamos com<br />

medo, Lucy,‖ disse Emma. Agora ela também estava chorando. Mesmo que eu não gostasse<br />

das minhas irmãs postiças, era horrível as ouvir elas chorando daquele jeito.<br />

―Olhem, liguem pro seu pai e peça pra ele ir buscá-las. Ele provavelmente estará aí em cinco<br />

minutos.‖<br />

―Nós... Nós... Não podemos.‖ Emma começou a chorar mais forte. Amy pegou o telefone de<br />

volta.<br />

―Se nós ligarmos pro papai, estaremos com problemas. Nós deveríamos estar aí.‖<br />

―Por que vocês não chamam um táxi e vem pra casa? Então?‖ Eu sugeri.<br />

Ao invés de confortá-las, minha sugestão fazia ambas terem um acesso de soluços. Agora tudo<br />

o que elas conseguiram falar foi ―Nós não podemos,‖, ―Estamos com medo,‖ e ―Lucy, por<br />

favor, venha nos buscar.‖ Elas soavam tão lamentáveis que eu esqueci como elas eram<br />

normalmente. Pela terceira vez Emma disse, ―Estamos com medo, Lucy‖ Eu comecei a me<br />

preocupar que talvez elas realmente tivessem feito algo pra ficar com medo.<br />

―Está bem,‖ finalmente eu disse. ―Olha, eu vou buscá-las.‖<br />

O que eu disse apenas as fez chorar mais, embora entre soluços ou algo como isso, elas<br />

disseram depois de um tempo, ―Obrigada, Lucy.‖<br />

―Olha, só fiquem aí,‖ eu disse. ―Estarei aí o mais rápido que eu puder.‖<br />

Eu desliguei e disquei pra companhia de táxi Glen Lake.<br />

O número dezoito da Mill Road era uma mansão no estilo Tudor virada pra estrada.<br />

Umas árvores de praia com galhos retorcidos se destacavam no jardim da frente, eu senti uma<br />

cintilação de ansiedade quando o táxi entrou na entrada da garagem circular e parou na<br />

escuridão, a cara era arrepiante. E se as garotas estivessem com problemas que eu não pudesse<br />

controlar? Eu disse pro motorista estacionar na direita e pedi pra ele esperar.


Eu tentei vê-las através das pequenas janelas da porta da frente, mas além de ser cerca de sete<br />

metros do chão, o vidro era embaçado. Eu toquei a campainha. Ninguém respondeu. E de novo.<br />

Só depois de mais três vezes uma voz finalmente perguntou, ―Quem é?‖<br />

Eu apertei minhas mãos em punhos. A voz era masculina. ―Abra a porta,‖ Eu disse firmemente.<br />

Nada aconteceu por alguns segundos e então a porta balançou e abriu.<br />

Parado na minha frente estava um garoto magro usando um jeans folgado e não devia ter mais<br />

que treze anos. Olhando ele, me senti ridícula por ter ficado com medo do que encontraria na<br />

casa, mas me vendo, obviamente não tinha o mesmo efeito pra ele. Sua face ficou<br />

instantaneamente pálida. Ele segurou a porta, brincando nervosamente com a fechadura.<br />

―Eu vim buscar a Emma e a Amy,‖ Eu disse. Minha voz soava paterna pra mim e o garoto<br />

recuou para que eu pudesse passar.<br />

―Eu acho que elas estão nos fundos,‖ disse ele.<br />

―Tá bom.‖ Eu comecei a andar passando por ele autoritariamente antes de me lembrar que eu<br />

não sabia como chegar ―aos fundos‖. Um corredor ramificava-se para a esquerda e eu segui o<br />

som do rap pulsando e cheguei em uma sala mal iluminada.<br />

O ar estava denso por causa da fumaça. Garrafas vazias e cacos de vidro estavam espalhados<br />

pelo chão. No sofá uma garota estava sentada no colo de um menino, beijando-o. No canto, três<br />

garotos e uma garota estavam sentados ao redor de uma mesa com tampo de vidro com uma<br />

bola de papel alumínio e do lado uma lâmina de barbear.<br />

A cena foi tão assustadora que eu me sentia doente. Isso era o que os alunos da sétima série<br />

faziam pra se divertir hoje em dia? O que havia de errado em um simples Gire a Garrafa?<br />

Calças largas veio atrás de mim.<br />

―Nós só estávamos...‖ ele começou a dizer.<br />

Eu levantei minha mão para o parar. ―Esquece,‖ eu disse. ―Não quero saber.‖ Ele balançou<br />

nervosamente alguns trocados no bolso. ―Só quero achar minhas irmãs e dize-las pra me<br />

apresentar pra porta da frente.‖<br />

Quando Emma e Amy me viram no corredor da entrada, não me olharam nos olhos. ―Vejo você<br />

depois, Bobby,‖ elas disseram quando nós paramos do lado de fora.<br />

―Sim, vejo vocês,‖ ele disse, fechando e trancando a porta.<br />

―Oi,‖ eu disse logo que ficamos sozinhas. Elas não disseram nada, apenas examinaram o<br />

cascalho na frente de seus pés. ―Vocês estão bem?‖ Perguntei finalmente.<br />

Elas assentiram, ainda sem olhar pra cima.<br />

Finalmente Emma falou. ―Não era pra ter sido assim,‖ disse ela. ―Não era para os garotos da<br />

oitava série terem vindo.‖ Instantaneamente olhando pra mim e depois para o táxi.<br />

―Aqueles eram alunos da oitava série?‖


Amy estremeceu, não compreendendo o meu tom. ―Você está brava com a gente?‖. Ela<br />

perguntou.<br />

Eu disse. ―Estou brava com eles.‖ Eu me virei de volta pra casa. ―Eles todos são uns...‖<br />

Mas relembrando o quanto Amy e Emma choraram no telefone mais cedo, me deixou em<br />

dúvida. Elas precisavam era de uma palestra anti-drogas. Talvez esse era um dos momentos<br />

para serem deixadas sozinhas. ―Não estou brava com vocês.‖ Eu disse firmemente. ―E estou<br />

feliz que tenham me ligado.‖<br />

―Obrigada, Lucy.‖ Disse a Amy. De repente ela deu um passo na minha direção e passou seus<br />

braços pela minha cintura. Um segundo depois, Emma fez o mesmo.<br />

―Nós pensamos que você ficaria realmente brava,‖ explicou Emma.<br />

―Mas nós não sabíamos o que fazer,‖ adicionou Amy. ―Não sabíamos pra quem ligar.‖<br />

―Então nós pensamos em você,‖ disse Emma. ―Nós te deixamos um milhão de mensagens.‖<br />

―E então você respondeu.‖ Elas ainda estavam com os braços ao meu redor. Quando eu tentei<br />

andar, senti como se eu estivesse em uma corrida de três patas.


Capítulo 25<br />

Passou muito tempo desde que eu gostei de acordar na manhã de sábado sem um dos beijos<br />

perfeitos do Connor da noite anterior passando pela minha mente. Mas em vez de pensar em<br />

seus beijos imperfeitos, me peguei pensando na Emma e na Amy. Eu estava em choque- elas<br />

tinham sido tão... legais. Antes delas subirem as escadas pra dormir, cada uma me deu um<br />

abraço apertado e a Emma disse, ―Você é a melhor, Lucy.‖ Então a Amy disse, ―É, Lucy. Nós<br />

temos sorte de você ser nossa irmã mais velha.‖<br />

Eu saí da cama, escovei meus dentes, vesti um jeans e uma camiseta e desci pra cozinha,<br />

realmente ansiosa pra tomar café-da-manhã com a minha família.<br />

A primeira coisa que eu ouvi quando empurrei a porta do porão foi o pai da Emma e da Amy.<br />

―A única lição que vocês vão aprender disso é que não podem sair por aí fazendo o que<br />

querem.‖<br />

Eu parei na cozinha. Mara estava em pé, inclinada sobre a pia. Emma, Amy e o pai estavam<br />

sentados na mesa da cozinha. Emma e Amy de um lado e ele do outro. O senhor Gilman estava<br />

vestindo um short e uma camisa de colarinho brancos e enquanto estava sentado, batia a<br />

raquete contra seu joelho.<br />

O rosto de Emma estava molhado de lágrimas. ―Não, papai, isso não é verdade.‖ Ela disse.<br />

Você não precisa ser psíquico para colocar dois e dois juntos. Eu precisava ajudar, mas me<br />

ocorreu que talvez, a história que elas contaram pra seus pais era diferente da verdade. A última<br />

coisa de que elas precisavam era de uma ―defensora‖ que deixasse escapar detalhes que elas<br />

tinham preferido omitir. Eu cumprimentei o Senhor Gilman, fui até a geladeira e peguei o suco<br />

de laranja.<br />

―Lucy, eu queria falar com você sobre isso,‖ disse Mara. ―A coisa toda me deixou muito<br />

preocupada.‖<br />

Eu olhei em direção às minhas irmãs postiças, mas seus olhos estavam abaixados. Eu me senti<br />

realmente mal por elas. ―Bem, eu sei que nada disso é da minha conta, mas eu acho que vocês<br />

devem pegar leve com elas.‖ Eu andei de volta até o armário e peguei um copo. ―Elas tiveram<br />

uma noite difícil.‖<br />

―Isso é muito generoso de sua parte,‖ disse Mara. ―Mas eu acho que Amy e Emma devem<br />

pagar pelo que elas fizeram. E eu gostaria de saber mais sobre o seu papel nessa pequena...<br />

aventura.‖<br />

Eu coloquei o copo e deixei o suco cair, totalmente confusa. Por que de repente eu me sentia<br />

como uma suspeita do CSI: Long Island?<br />

―Eu não as segui o suficiente, Mara,‖ eu disse. ―As garotas me disseram que você sabia que<br />

elas estavam na festa.‖ Disse Mara.<br />

Eu estava certa de que não tinha a escutado. ―Como?‖<br />

Ela repetiu, sílaba por sílaba. ―Elas disseram que você sabia que elas estavam na festa.<br />

Aparentemente você foi buscá-las de táxi quando terminou.‖


Eu olhei para as minhas irmãs postiças. Claramente, elas decidiram que o problema era igual a<br />

uma torta- o maior pedaço era meu. O menor, delas.<br />

―Você está me dizendo que não foi isso o que aconteceu?‖ Perguntou Mara. Ela tentou fazer<br />

soar como se agora ela se importasse com a minha resposta, o que era uma piada completa. De<br />

forma alguma ela aceitaria a possibilidade de que suas preciosas anjinhas estavam mentindo<br />

através dos próprios dentes.<br />

Era uma boa idéia eu colocar o copo na mesa porque se não, possivelmente eu o atiraria nela.<br />

Apenas alguns minutos atrás eu tinha ficado feliz com a idéia de comer junto com a minha<br />

família? Agora eu tinha vontade de pular pela cozinha e estrangular todas elas- Mara, Emma e<br />

Amy. Não, espera. Talvez o que eu deveria fazer era estrangular minhas irmãs postiças, então<br />

rasgar a bota caríssima de couro italiano da Mara e cravar os saltos como se fossem pregos,<br />

direto no coração dela.<br />

A geladeira estalou no silêncio, como se o mecanismo zumbisse. Eu peguei o copo, coloquei de<br />

volta no armário, caminhei de volta pra geladeira e guardei o suco. O tempo todo, ninguém<br />

disse uma palavra.<br />

Quando eu cheguei à porta do porão, me virei pra minha mãe postiça e a encarei. ―Quer saber<br />

do que mais, Mara? Eu não disse nada.‖<br />

Eu abri a porta pro meu calabouço e puxei-a deixando que batesse atrás de mim.<br />

Era quase meio dia quando o táxi estacionou e eu ouvi meu pai andando dentro da casa.<br />

―Olá?‖ Chamou ele. ―Olá, alguém em casa?‖ Mara o respondeu, mas eu não. Eu só estava<br />

deitada na minha cama, escutando um pouco de música divertida do meu iPod e pensando o<br />

quanto eu estava brava. O quanto eu estava brava com ele.<br />

Não passou muito tempo pra que ele batesse na minha porta.<br />

―Lucy?‖<br />

―Sim?‖<br />

―Lucy, eu preciso falar com você,‖ disse ele, seu pé acertando o degrau. Sua voz parecia<br />

cansada e eu me lembrei que ele tinha passado a maior parte da noite no aeroporto.<br />

―Eu não me sinto bem pra conversar, pai,‖ eu disse. Eu não me sentei e não tirei os fones. Por<br />

um segundo eu me deixei levar pela insana fantasia de que meu pai não tinha vindo conversar<br />

comigo sobre o que tinha acontecido com a Emma e a Amy, ele tinha vindo falar comigo uma<br />

coisa totalmente diferente. Lucy, ontem a noite no O’Hare(aeroporto), eu tive uma epifania.<br />

Que pesadelo você tem vivido. Eu estou incrivelmente arrependido de tudo que eu fiz você<br />

passar e espero que você possa me perdoar. Mara e eu vamos nos divorciar. Você e eu vamos<br />

voltar pra São Francisco. Por favor, pegue suas coisas e fique pronta para sairmos pro<br />

aeroporto em uma hora.<br />

―Lucy, isso tudo é muito perturbador pra mim. O que exatamente aconteceu na noite passada?‖<br />

Eu me sentei. ―O que você gostaria de saber, exatamente?‖


Ele pareceu surpreso com a minha resposta, ou talvez fosse só o meu tom. De qualquer forma,<br />

ele hesitou por um segundo antes de falar, ―Bem... eu acho que gostaria de saber o que está<br />

acontecendo.‖<br />

Eu tirei meus fones. ―Sério, pai? Você realmente gostaria de saber o que está acontecendo?‖<br />

Ele balançou sua cabeça de um lado para o outro, já irritado. ―Lucy, você...‖<br />

―Certo, pai, por que eu não te digo o que está acontecendo? Aqui está o que tem acontecido.<br />

Você se casou. Você me trouxe aqui, me deixou com essas pessoas que eu mal conheço, você<br />

agiu como se magicamente formaríamos uma família e então você correu de volta pra São<br />

Francisco para que pudesse começar a trabalhar no seu ―grande caso‖. Então você pode ser<br />

feliz, o recém casado que não pode desistir do maior, melhor, mais importante, mais fabuloso,<br />

mais incrível, mais importante, mais incompreensível caso do universo. Você só me despejou<br />

aqui e...‖<br />

―Lucy, eu não te despejei aqui. Você vive aqui. Essa é a sua...‖<br />

―Oh, calma, calma, calma!‖ Eu disse, balançando meus braços. ―Deixe-me adivinhar. Hum...‖<br />

Eu coloquei minha mão na testa e fechei os olhos, como num programa de televisão, pensando<br />

se precisava de mais alguns segundos pra pensar na resposta certa. ―Essa é a minha... casa.<br />

Certo? Estou certa, pai?‖ Eu assenti com um falso entusiasmo.<br />

Ele cruzou os braços e encostou-se ao corrimão. ―Lucy, eu pensei que já tínhamos conversando<br />

que sarcasmo realmente não é útil.‖<br />

―Oh, sério pai? Então me diga. O que é útil? O que é útil, pai? Porque deixe eu lhe dizer uma<br />

coisa. Essa não é a minha casa.‖ Eu apontei pra ele. ―Você é a minha casa. Você, pai. Não é a<br />

Mara, nem a Emma e muito menos a Amy. Você. Ou foi você. Mas eu acho que não tenho mais<br />

uma casa agora, tenho? E acho que isso não é tudo o que importa pra você, é? Isso não é um<br />

grande negocio como o seu grande caso.‖ Ele ficou me olhando por um longo minuto e então<br />

eu senti a cama e os fones ao meu redor.<br />

Por um longo compasso, meu pai ficou quieto e então ele disse, ―Lucy, isso é...‖<br />

―Você quer saber, pai, eu realmente não me sinto bem pra falar com você nunca mais. Então se<br />

você não se importa, pode me deixar sozinha?‖ Eu coloquei meus fones de volta e aumentei o<br />

máximo que podia.<br />

Meu pai não se moveu e eu fechei meus olhos. Quando os abri, ele tinha ido.


Capítulo 26<br />

Passei quase o final de semana inteiro isolada, dormindo ou tentando dormir, sem me preocupar<br />

em pegar meu celular quando ele tocou ou checar a caixa de mensagens. A última coisa com<br />

que eu poderia lidar era contar pro Connor, pra Jéssica e pra Medison que eu tinha escolhido a<br />

semana antes do baile pra brigar com o meu pai de um jeito que me garantisse uma vida<br />

subterrânea. Quando eu ouvi meu pai e Mara saírem pra jantar no sábado à noite, subi as<br />

escadas e fiz um sanduíche de amendoim com manteiga, então agarrei duas sacolas de mini<br />

cenouras e uma caixa de cereal. Domingo à tarde, o pai de Emma e Amy as deixou lá. Depois<br />

uma ou ambas bateram na minha porta, mas eu não respondi.<br />

Eu acordei cedo na segunda, a casa estava silenciosa e a maleta do meu pai ainda estava no<br />

corredor, o que era incomum, mas já havia acontecido. De vez em quando ele voava pra<br />

Califórnia na segunda de manhã ao invés de domingo à noite. Que irônico... A primeira vez em<br />

meses que ele ficou uma noite extra e nós não estávamos conversando.<br />

No almoço, à caminho do meu estúdio, eu corri para o Connor.<br />

―Oi, Red,‖ ele disse. ―Por que você não retornou minha ligação?‖ Ele passou o braço pelo meu<br />

ombro e começamos a andar na mesma direção pra ele estava se dirigindo.<br />

―Ai, Deus,‖ eu disse. ―Eu tive o pior fim de semana.‖ Eu me sentia muito bem em ter o braço<br />

do Connor ao meu redor enquanto andávamos juntos.<br />

―Isso é ruim, Red,‖ disse ele. ―Você quer ir ao ginásio comigo?‖ Ele fingiu levantar pesos.<br />

―Você sabe... apoio pro time da casa.‖ Ele adotou a postura de um fisiculturista posando para os<br />

seus admiradores. ―Eu, Matt e Dave vamos levantar um pouco de peso. Seria muito melhor se<br />

você estivesse lá.‖<br />

Connor deu a volta em mim, driblando em um imaginário jogo de basket. ―E ele corre pela<br />

quadra, visualiza a cesta e marca!‖ Connor jogou suas mãos atrás da cabeça, vitorioso e fez o<br />

som da multidão descontrolada.<br />

―Bela apresentação,‖ eu disse.<br />

―Obrigado, Red,‖ disse ele, vindo até mim e passando seus braços ao redor da minha cintura.<br />

Eu me senti tão bem parada ali com o Connor me abraçando. Era como se toda a horrível briga<br />

com a minha família tivesse acabado. Fazendo um laço atrás do meu pescoço.<br />

―Senti sua falta, Red.‖ Disse ele.<br />

E naquela hora e ali, eu tomei uma decisão. Mesmo se meu pai me deixasse pra baixo, eu iria<br />

ao baile. Se eu tivesse que fugir e morar na rua o resto dos meus dias, faria isso. Connor só<br />

arrumaria outra garota por cima do meu cadáver.<br />

Eu me virei e nos beijamos. ―Eu também.‖ Eu disse, quando nós finalmente paramos pra<br />

respirar. Eu realmente tinha fugido desse beijo na sexta à noite? Claramente, meu cérebro tinha<br />

sido exposto a alguma substância tóxica ou algo do tipo.<br />

Eu o beijei novamente.


―Hummm, bom,‖ disse ele, se afastando. ―Então, você virá ao ginásio?‖<br />

Assistir Connor, Matt e Dave levantando pesos não parecia o jeito mais emocionante de passar<br />

um período, mas o Connor era o único brilho na minha vida triste. Se ele queria que eu fosse<br />

assisti-lo trabalhando, eu iria.<br />

―Só me deixe terminar uma coisa,‖ eu disse. Minha paisagem estava indo um milhão de vezes<br />

mais rápido do que o meu auto-retrato, mas eu ainda estava pra trás desde que tinha começado<br />

tão tarde. Eu tinha jurado pro Sr. Daniels que eu terminaria no final da semana e a seção estava<br />

provando quase impossível obter direito. ―Me de vinte minutos.‖<br />

―Você que sabe,‖ disse ele, recuando. Deus, ela era bonito. Eu ainda podia sentir seus lábios<br />

nos meus. ―Esteja lá ou será uma idiota.‖ (a fala dele é uma expressão, “Be there or be<br />

square.” Eu pesquisei na internet e square quer dizer uma pessoa ordinária, achei melhor<br />

colocar idiota.)<br />

Sam estava deixando o estúdio quando eu cheguei e desde que eu estava na minha freqüente<br />

névoa pós beijo do Connor, que eu esbarrei nele.<br />

―Você sabe, normalmente, arte não é um esporte de contato,‖ disse ele.<br />

―Me desculpa,‖ eu disse. Claramente, o Connor precisava de seu próprio cartão de aviso:<br />

espere cinco minutos após beijar esta pessoa, antes de voltar às suas atividades normais.<br />

―Não, foi culpa minha,‖ disse Sam. ―Estou atrasado.‖<br />

Eu me abaixei e peguei a caneta que ele deixou cair quando nós colidimos. ―Pra um encontro<br />

muito importante?‖<br />

―Obrigado,‖ ele disse, pegando a caneta e a colocando de volta no bolso. ―Por um encontro<br />

muito desagradável, na verdade. Eu tenho que ir pegar minha gravata.‖<br />

Eu lembrei o quanto eu me diverti com a Medison e a Jessica no shopping quando fomos<br />

comprar nossos vestidos. ―Isso vai ser ótimo,‖ eu disse, todas sorrimos das nossas lembranças e<br />

da minha recente decisão de ir sem me importar com as consequências. ―Você provavelmente<br />

vai gostar disso.‖<br />

―Na verdade, eu provavelmente não quero,‖ disse ele. Então ele riu, mas parecia forçado.<br />

―Desculpe, não me deixe chover em seu desfile de finalistas do baile.‖ Ele afagou meu ombro e<br />

começou a descer o corredor. ―Até mais.‖<br />

―Até mais,‖ disse eu depois dele.<br />

O estúdio estava completamente vazio. Eu arrumei meu cavalete e comecei a trabalhar, me<br />

concentrando no canto da tela que estava me dando problema. O verde que eu misturei parecia<br />

bom e eu manchei um pouco com a esponja. Então eu mergulhei meu pincel em um pouco de<br />

azul e fiz uma pequena linha no verde.<br />

Agora sim. Eu borrei o canto até o azul dando o efeito de uma sombra ondulada na grama.<br />

Curvar, fazer a volta, borrar. Curvar, fazer a volta, borrar.


Quando eu olhei pro relógio, meia hora já havia passado. Maldição. Eu realmente não pretendia<br />

deixar o Connor esperando. Eu coloquei minha pintura pra longe e empurrei o cavalete contra a<br />

parede o mais rápido que pude, então levei meu pincel até a pia para o lavar. Claro que a tinta<br />

demorou pra sair, não importava o quão forte eu limpasse as cerdas, a água se recusava a ficar<br />

clara. Só quando eu comecei a ficar realmente estressada com tempo que estava demorando, eu<br />

reparei que o rico azul que corria era exatamente da cor do meu vestido pro baile. Como<br />

Connor me lembrou que eu estava dez minutos atrasada para encontrá-lo no ginásio quando me<br />

viu com aquele vestido. O vestido. Eu visualizei meu vestido, me visualizei o vestindo, como<br />

eu flutuei através da pista de dança em direção ao Connor vestido de smoking. Quão incrível<br />

foi sentir seus braços ao meu redor enquanto nós dançávamos noite a fora? Connor e Lucy no<br />

baile. Eu fechei meus olhos para ver a cena melhor.<br />

Um segundo depois meus olhos se abriram. Meu coração estava batendo descompassado e eu<br />

não conseguia recuperar o fôlego. Eu só fiz o que Madison me disse para fazer em Rosas são<br />

vermelhas – me visualizei no baile, tendo o mais romântico momento da minha vida, dançando<br />

lentamente com o meu príncipe perfeito.<br />

O problema era que na minha imaginação, eu não estava dançando com o Connor.<br />

Eu estava dançando com o Sam.


Capitulo 27<br />

O CD que Jessica gravou para mim estava tendo sucesso em abafar os sons do jantar que estava<br />

sendo servido, mas isto não poderia ajudar em nada sobre o delicioso cheiro que estava vindo.<br />

Comida chinesa para viajem.<br />

Eu não podia acreditar nisto. Nos nunca comemos comida chinesa. Mencione comida chinesa<br />

na frente da minha madrasta e ela vai falar durante horas sobre o teor de sódio, óleos graxos,<br />

MSG. Quando meu pai e eu vivíamos em San Francisco, nos provavelmente comíamos comida<br />

chinesa duas vezes por semana. Desde que mudamos para New York a dez meses, nos devemos<br />

ter comido somente três vezes. E todas às vezes, Mara estava fora por algum motivo.<br />

Eu sinto como se estivesse em um esconderijo de guerra na floresta. Eles poderiam fazer o que<br />

eles quisessem, mas sem chances deles me fazerem sair do quarto. As mini cenouras que eu<br />

levei para o quarto para passar o fim de semana sozinha no meu quarto se acabaram. Eu<br />

aumentei o volume do meu Ipod. Quem precisa de comida quando você tem Janis Joplin? Eu<br />

cantei algumas linhas em voz alta. "Summertime, and the living is easy. Fish are jumping, and<br />

the cotton is high."<br />

Eu definitivamente senti o cheiro de frango com laranja, meu prato favorito. Em San Francisco,<br />

existia um lugar que fazia um perfeito – por fora a pele crocante, por dentro um frango macio,<br />

com muita casca de laranja caramelizada . Dois em três restaurantes que nos fomos em Long<br />

Island fazia um tipo de borracha pegajosa, mas o terceiro realmente sabia o que estava fazendo.<br />

Minha boca se encheu de saliva, e eu engoli. A musica acabou, e a musica de formatura*<br />

começou.<br />

{NA: No ingles Prom significa formatura, mas Prom Music é uma musica q só toca na<br />

instrumental, aqui ela faz um trocadilho com as palavras, mas para não confundir, coloquei<br />

como musica de formatura}<br />

Formatura. Connor. Sam. Eu bati na tecla para desligar a música, enterrando meu rosto em meu<br />

travesseiro.<br />

Por que não há um botão para desligar o cérebro?<br />

Senti-me tonta, de fome ou pelos meus pensamentos, eu não tinha certeza. De qualquer jeito,<br />

Eu não podia apenas permanecer aonde estava. Eu decidi que Mara, Emma, e Amy foram<br />

definitivamente comer na sala de jantar, então eu iria lá em cima, pegar um pouco de comida,<br />

comer sozinha na cozinha, e depois ver o jogo de basquete na tv. A única coisa pior que comer<br />

e assistir o jogo sozinha era passar fome e não assistir o jogo sozinha. Eu me levantei.<br />

Quando eu empurrei a porta para abrir, fui apresentada a visão mais chocante de toda a minha<br />

vida. Não estavam apenas Emma, Amy, e Mara comendo em volta da mesa da sala (uma coisa<br />

que Mara diz que apenas servos deveriam fazer), mas meu pai estava sentado com elas.<br />

"Eu pensei que nos conseguiríamos te convencer a subir alguma hora." Ele disse, se<br />

debruçando na mesa para pegar uma das caixinhas.<br />

Eu olhei de um para outra na mesa seguidamente, tentando entendeu o que, exatamente, estava<br />

acontecendo. Emma e Amy estava sentadas para frente do meu pai e da minha madrasta, de<br />

costas para mim.


Isto não era parte do plano. Uma coisa era roubar um pouco de comida da caixa chinesa<br />

enquanto minha madrasta malvada e suas filhas do mal comparavam suas compras na Lucky na<br />

sala de jantar. Outra bem diferente era pegar meu prato e sentar no balcão sozinha enquanto<br />

todo mundo ali estava me olhando. Minha mão ainda estava na maçaneta. Será que era tarde<br />

demais para me virar e voltar a me esconder no esconderijo? Eu me lembrei de uma reportagem<br />

que havia lido no jornal uma vez que dizia que é importante ter suprimentos de comida e água<br />

para três dias por perto sempre. Porque eu não levei isto a serio?<br />

Meu pai apontou para uma caixinha com os pauzinhos. "Frango com laranja" ele disse.<br />

Okay, isto era totalmente injusto. Quero disser, eu estava com fome.<br />

"Porque você não se senta conosco?" perguntou meu pai. Ele empurrou a cadeira ao lado dele e<br />

acenou para que eu sentasse.<br />

Sem tirar minha mão da maçaneta, considerei minhas opções. A) Me virar, voltar para meu<br />

esconderijo, E provavelmente morrer de fome ou B) sentar, comer, assistir ao jogo.<br />

Mas se eu sentar e comer com eles, eu seria obrigada a conversar com eles? Eu olhei para as<br />

costas de Emma e Amy, lembrando da fantástica ligação, a desculpa. obrigado, Lucy. nos te<br />

amamos, Lucy. Lucy, você é a melhor.<br />

Traidoras.<br />

Eu decidi que poderia sentar e comer sem falar. Andei até a cadeira que meu pai havia indicado<br />

e me sentei. Mara passou para mim a caixa de frango com laranja. Eu peguei os pauzinhos e<br />

tirei o plastico de isolamento. Todo mundo estava olhando para mim como se eu fosse um<br />

microorganismo de uma doença mortífera. Eu me servi um pouco de frango e comi um pedaço.<br />

Foi um pouco difícil engolir com quatro pares de olhos olhando cada movimento que eu fazia.<br />

Quando eu coloquei meus pauzinhos na mesa, Emma pegou uma caixinha do outro lado da<br />

mesa e perguntou.<br />

"Arroz?"<br />

Eu acenei. Um aceno não é igual a uma palavra falada. Eu coloquei um pouco de arroz no meu<br />

prato enquanto todo mundo na mesa permanecia em silencio. Comi outro pedaço.<br />

"Emma e Amy tem algo que querem disser para você." Meu pai disse.<br />

Olhei para o outro lado da mesa em direção a elas,minha boca cheia de frango e laranja. As<br />

mãos delas estavam juntas.<br />

"Garotas." Disse meu pai.<br />

Emma olhou para mim. Depois de um segundo, Amy olhou, também. "Nos desculpe, Lucy."<br />

elas disseram juntas.<br />

Eu engoli, mas não disse nada. Estava tudo quieto, e então meu pai continuou pressionando.<br />

"Desculpa pelo o que?"<br />

"Nos sentimos muito por ter colocado você em problemas" Disse Emma, olhando para suas<br />

mãos.


"E sentimos muito por fazermos parecer que você sabia aonde estávamos o tempo todo" Disse<br />

Amy, Abaixando a cabeça.<br />

De repente Emma olhou-me nos olhos. "Serio, Nos desculpe." ela disse. "Você foi tão legal,<br />

Lucy."<br />

"Não nos odeie, Lucy." Disse Amy.<br />

Eu não sabia o que disser. Quero disser, eu não odiava elas exatamente. Mas não amava elas,<br />

também. Olhei em volta da mesa. Meu pai comeu um pedaço do seu moo-shu, e eu pensei<br />

―peguei o olhar entre ele e Mara.‖<br />

"Lucy, agora é minha vez de me desculpar." Disse Mara. "Eu deveria ter acreditado que você<br />

jamais faria algo para prejudicar Emma e Amy."<br />

Nós estávamos em algum mundo paralelo? Eu acenei para ela. Ela pegou um guardanapo na<br />

pilha ao seu lado e entregou para mim. "Aqui" Disse. "Para o seu colo."<br />

Então nos estávamos no mundo real. "Obrigado" disse, pegando-o.<br />

Um aceno diz muito sobre o resto da conversa. Quando terminamos de comer, meu pai trouxe a<br />

sacola de lixo da cozinha e nos colocamos todos os guardanapos e caixinhas de comida que<br />

conseguimos lá.<br />

Eu tinha absoluta certeza que esta era a primeira vez em San Francisco que eu não tive a<br />

obrigação de limpar a mesa.<br />

Mais tarde, meu pai desceu exatamente quando eu estava arrumando meu alarme.<br />

"Hey!" Ele disse.<br />

"Hey." Disse. Eu chequei o volume e arrumei o horário para A.m., não P.m.<br />

"Então, eu vou trabalhar fora de New York por um escritório pelas próximas semanas.‖ Disse<br />

enclinado no corrimão. "Como fiz hoje."<br />

Coloquei o relógio no chão perto da minha cama. "Legal." Disse.<br />

"Este é o melhor que posso fazer por agora."<br />

"Okay,‖ Disse.<br />

Ele esperou, como se quisesse disser mais alguma coisa. Ou esperava que eu dissesse mais<br />

alguma coisa, não tenho certeza. Mas o que mais eu poderia falar? Eu acho que tudo esta<br />

melhor agora. Emma e Amy pediram desculpa, você esta temporariamente em New York, e<br />

Mara deixou nos comer comida chinesa e comer galinha! Bibbitybobhityboo!-- nos somos uma<br />

grande família feliz.<br />

Contudo, meu pai e eu apenas ficamos olhando-nos por um momento de silêncio.<br />

"Então a gente se vê amanha‖ ele disse, por fim.


"Yeah." falei.<br />

"Bem," Ele falou. "Boa-noite."<br />

"Boa-noite."<br />

Então me deixou dormir.<br />

O que meu pai disse fez com que fosse impossível não pensar em como a minha vida poderia<br />

mudar se ele realmente trabalhasse na sua firma em New York ao invés de voar para a costa<br />

oeste todo sábado. A idéia dele abrindo a porta da frente todas as noites quanto ele chegar do<br />

dia de trabalho me fez tão feliz que eu quase comecei a chorar. Como seria fácil sentar para<br />

jantar com minha madrasta e suas filhas se meu pai estivesse lá também; se e depois disto eu e<br />

ele assistirmos ao jogo juntos ou comprar sorvetes como costumávamos fazer? Se ele estivesse<br />

por perto, não seria possível minha vida em casa se tornar... Aceitável?<br />

Finalmente eu consegui me mexer e dormir. Por que enquanto minha fantasia era certamente<br />

linda, não era realmente tão real. ―Duas semanas.‖ Eu disse para o meu travesseiro ―Duas<br />

semanas ele disse.‖<br />

Este é o problemas com contos de fadas. Tudo acontece por um tempo limitado


Capítulo 28<br />

Toda a fofoca da semana do baile voou rápido e furiosamente. Em matemática, enquanto o Sr.<br />

Palmer tagarelava sobre gráficos parábolas, Jessica me ensinou o que era um ponto de<br />

disseminação, utilizando os mais recentes rumores sobre os casais que o fariam na noite de<br />

sábado e os que não fariam. Mesmo que eu o estivesse fazendo enquanto ele estava falando de<br />

outra coisa, eu pensei que o Sr. Palmer teria ficado orgulhoso de me ouvir explicar, quando<br />

chegamos a Jane e Sam, que você não pode resolver uma equação, se você não sabe se alguma<br />

coisa (isto é, a vadia da Jane) é uma variável ou uma constante. Eu percebi que apesar do meu<br />

professor de matemática ser clinicamente insano, eu realmente tinha aprendido alguma coisa<br />

em sua aula.<br />

Tendo acabado de falar sobre ele em matemática, fiquei surpresa quando Sam não apareceu na<br />

aula de arte, e fiquei ainda mais surpresa quando ele também não estava lá no dia seguinte. Não<br />

foi até o final da semana que perguntei ao Sra. Daniels onde ele estava, e enquanto ela estava<br />

me contando tudo sobre as faculdades que ele estava visitando e como ela esperava que ele<br />

considerasse seriamente RISD, de repente me lembrei do sonho que eu tive sobre nós dançando<br />

lentamente no baile. Isso me fez sentir muito auto-consciente. Primeiro eu tenho uma visão<br />

estranha de nós dançando juntos e, em seguida, eu estou preocupada do por que ele não está na<br />

escola? Assim quando eu estava começando seriamente a lamentar ter me incomodado a<br />

perguntar a Sra. Daniels sobre o paradeiro de Sam, eu vi Jessica e Madison de pé na porta do<br />

estúdio. Jessica apontou para seu relógio e eu cortei a Sra. Daniels, explicando que eu tinha que<br />

correr.<br />

Minha preocupação sobre por que eu estava me preocupando sobre por que Sam estava ausente<br />

não durou muito tempo. No momento em que estávamos no meio do corredor e eu tinha ouvido<br />

os novos e aprimorados dados eleitorais oficiais de Jessica indicando que Connor e eu<br />

estávamos indo definitivamente ser rei e rainha do baile, eu mal me lembrava que tinha falado<br />

com a Sra. Daniels , muito menos sobre o que nós tínhamos estado falando.<br />

Entretanto, com meu pai em casa era quase uma fantasia revestida de açúcar que eu tinha<br />

criado em minha imaginação. Quase.<br />

Como eu esperava, vimos um jogo juntos e buscamos sorvete. E não foi Mara interrompendo o<br />

jogo para que meu pai pudesse olhar para as amostras de tecido para a cadeira em seu quarto ou<br />

Emma e Amy vindo conosco na nossa corrida a sobremesa que fez sua estada em casa menos<br />

do que perfeita. Era o grande X vermelho que eu fiquei desenhando no meu calendário mental.<br />

Treze. Onze. Dez.<br />

Porque mesmo quando eu queria comemorar o fato de que eu tinha conseguido meu pai de<br />

volta, eu não pude deixar de medir o quão feliz eu estava agora contra o quão ruim eu iria me<br />

sentir quando ele partisse para San Francisco.<br />

Na manhã do baile eu acordei com meu celular tocando. Eu pude dizer pela luz lutando para<br />

dirigir seu caminho através das minúsculas janelas do porão que ia ser um dia lindo de sol.<br />

"Estamos nos reunindo na Madison as quatro, certo?" Era Jessica.<br />

"Yeah, certo," eu disse, bocejando. "Quatro horas.‖<br />

"Eu disse a Kathryn que ela deveria vir também," disse Jessica. "Para se preparar e tudo mais."


Apenas metade acordada, eu me perguntei se eu tinha ouvido Jessica certo. "Kathryn? Eu<br />

pensei que ela não estava vindo."<br />

"Oh, yeah, bem, ela e seu namorado tiveram essa briga mundial na noite passada. Ela estava<br />

vindo de stag". Jessica riu. "Eu disse que ela poderia vir na nossa limusine. Não é legal?"<br />

"Ah, sim, é muito legal."<br />

Ainda é chamado ir de stag se seu plano é chegar sozinha mas sair com alguém?<br />

"Então você estará lá às quatro, certo?" Jessica perguntou.<br />

"Certo," eu disse. "Eu vou estar lá às quatro.‖<br />

Meu pai e Mara tinham saído quando eu cheguei lá em cima.<br />

Havia um bilhete, como antigamente. Claro. Claro. Eu já sabia que era apenas uma questão de<br />

tempo antes que nós voltássemos ao negócios como usual? Provavelmente eles tinham<br />

esquecido o baile, também, esquecendo que precisava estar em Madison às quatro. Boa coisa<br />

que eu tinha a companhia de táxi Glen Lake na discagem rápida.<br />

Às três horas, quando eu estava saindo do banho, eu ouvi o carro do meu pai entrar na garagem.<br />

Poucos minutos depois houve uma batida na minha porta.<br />

"Sim?" Eu tinha uma bolsa aberta na minha cama cheia de coisas para o baile e os Hamptons.<br />

"Lucy? Podemos descer?"<br />

"Tudo bem."<br />

A porta se abriu e meu pai e Mara desceram. Ou começaram a descer. Pareceu levar uma<br />

eternidade. Olhei para as escadas e vi que eles estavam cada um carregando um pacote pesado<br />

embrulhado em papel pardo. Eles devem ter estado indo para a área de armazenamento do<br />

porão para repudiar quaisquer preciosos tesouros que eles tinham descoberto ao longo do Rio<br />

Hudson.<br />

"Hey", disse meu pai quando ele chegou ao degrau final. Ele estava arfando ligeiramente. Mara<br />

estava de pé atrás dele, mas graças a suas sessões diárias de ginástica, ela não estava sem<br />

fôlego.<br />

"Hey, eu disse.<br />

Ficamos ali por mais um minuto. "Nós estávamos em Lomax hoje", disse meu pai.<br />

"Oh". De quantas estantes uma família precisa?<br />

Meu pai estava sorrindo para mim. "Eu me lembrei de que você admirava isso, então nós<br />

queríamos pegar por você."<br />

Eu não tinha certeza do que ele estava falando. "Isto?" Eu perguntei<br />

Ele apontou para o pacote que Mara segurava equilibrado contra seu quadril. "Abra."


Fui então para Mara e peguei o pacote dela. Ajoelhando na frente dele, eu puxei o papel<br />

marrom, arrancando uma camada após a outra. Eu me perguntei se isso era uma daquelas<br />

pequenas caixas que ficam dentro de uma dúzia de recipientes maiores. Deus, ela<br />

provavelmente tinha me conseguido algum terrível pedaço de jóia para usar no baile. Lucy, a<br />

má notícia é que eu não consegui mobiliar seu quarto. A boa notícia é que eu consegui<br />

mobiliar você! Com este lindo pingente de strass destacando um instrutor de Pilates e sua<br />

aluna.<br />

Finalmente eu bati em alguma coisa que não era papel pardo, e de repente eu sabia o que estava<br />

debaixo do embrulho com qual eu estava lutando.<br />

"Oh meu Deus,‖ eu disse. Eu arranquei uma seção de papel para revelar uma perna do cavalete<br />

de madeira que eu tinha visto há muito tempo. "Wow". Estudei os pés-da-garra e tracei minha<br />

mão ao longo da madeira intricada. Era ainda mais bonito do que eu lembrava, ou talvez ele<br />

tivesse acabado de ser polido. Mesmo na penumbra, a madeira brilhava. "Obrigado", eu disse,<br />

levantando.<br />

"Nós pensamos que ... bem, eu pensei." Meu pai limpou a garganta, ainda lutando para<br />

encontrar o pronome certo. "Parecia possível que você gostaria de colocar isso nisso." Ele<br />

caminhou na minha direção, balançando desajeitadamente o grande, quadrado pacote que ele<br />

estava segurando. "Era para eu guardá-lo para o seu aniversário de dezoito anos", disse ele,<br />

"mas eu achei que você poderia usá-lo agora." Ele deitou o pacote aos meus pés e deu um passo<br />

para trás.<br />

"Oh," eu disse. "O que é isso?"<br />

Meu pai parou e engoliu. "É uma pintura que sua mãe fez. Ela queria que você a tivesse."<br />

Os três de nós estavam lá, sem se mover ou dizer qualquer coisa, como se o retângulo marrom<br />

aos meus pés estivesse tiquetaqueando. Depois de um minuto meu pai pôs sua mão no ombro<br />

de Mara. "Desculpe-me um segundo," disse ela. Então ela se virou e subiu as escadas.<br />

Meu pai deu um pequeno tossido. "Você se importa se eu ficar enquanto você o abre?"<br />

Minha garganta estava apertada, e eu apenas balancei a cabeça para indicar que eu não me<br />

importava. Então eu desatei a corda e descasquei a embalagem.<br />

Eu não tinha visto um dos quadros da minha mãe a um longo tempo - desde que nós tínhamos<br />

os embalado e os colocado no depósito quando nos mudamos - e eu nunca tinha visto esse<br />

antes. O quadro era de um muro de cidade coberto com pichações e cartazes, alguns dos quais<br />

estavam descascando, alguns dos quais estavam parcialmente cobertos por outros cartazes.<br />

Cada um dos cartazes era um auto-retrato da minha mãe, o mesmo repetidas várias vezes em<br />

ligeiras cores diferentes - verdes e azuis, castanhos e amarelos, e aqui e ali o roxo da sombra<br />

tênue. Seus olhos estavam arregalados, seus cabelos encaracolados e selvagens em torno de seu<br />

rosto pequeno, seu sorriso misterioso como o da Mona Lisa. Quando meus olhos estudaram os<br />

cartazes, eu percebi que eles estavam agrupados para formar uma imagem composta. Uma vez<br />

que eu percebi isso, só levei um minuto para ver que era a de uma mulher segurando um bebê<br />

em seus braços.<br />

"Ela começou isso quando ela ficou doente", disse meu pai, sua voz grossa. "Ela fez isso por<br />

você." Ele ergueu a mão para seu rosto, e eu percebi que ele estava chorando. "Ela teria estado<br />

tão feliz em saber que você está se tornando um artista."


Eu nunca tinha visto meu pai chorar antes, e isso me fez começar a chorar também.<br />

"Eu queria ter conhecido ela," eu disse. "Eu queria que ela tivesse me conhecido." E então<br />

acrescentei: "Eu queria que pudéssemos ter sido uma família."<br />

Meu pai colocou seu braço ao meu redor e apertou meus ombros. "Eu também queria isso,"<br />

disse ele, tomando uma respiração profunda e enxugando os olhos com as costas da mão.<br />

"Você sabe, Goose Lucy, eu não posso fazer tudo perfeito. Eu queria poder, mas eu só posso<br />

fazer o melhor que posso. E eu -" Ele tomou uma respiração profunda, estremecendo. "Eu<br />

sempre serei sua casa. E você sempre será a minha. E eu espero que um dia isso se sinta como<br />

sua casa, também."<br />

Eu sabia que se eu tentasse dizer alguma coisa, eu ia começar a berrar.<br />

"Então aqui está o negócio, criança." Ele cavou um lenço do bolso e assoou o nariz. "Eu vou<br />

estar em casa por mais uma semana. Então eu vou voltar para San Francisco por mais duas<br />

semanas. E depois disso, se eu não puder trabalhar nas coisas do escritório de Nova York, eu<br />

disse a eles que eles terão que terminar sem mim. " Ele apertou meus ombros. "O que você diz<br />

para isso?"<br />

Eu abri minha boca para lhe responder, e um muito alto soluço saiu. Eu coloquei minha mão<br />

sobre minha boca e balancei a cabeça.<br />

"Esse é um ‗Não‖ agito de cabeça ou um ‗ok‘ agito de cabeça‖ Eu balancei a cabeça<br />

novamente. "Não?" disse meu pai. Eu balancei minha cabeça novamente.<br />

"Ok," ele disse. Eu pude dizer pela sua voz que ele estava sorrindo.<br />

Concordei, e ele me entregou o lenço. "É um bocado pior que estranho," ele disse.<br />

Eu assoei o nariz, alto, e respirei fundo. Então nos sentamos lá, sem dizer nada, apenas olhando<br />

juntos para a pintura.<br />

Finalmente eu limpei meus olhos na minha manga. "Eu acho que eu deveria ir," eu disse.<br />

"Eu acho que sim", disse ele.<br />

Assim que me levantei, houve uma batida acima de nossas cabeças. Segundos depois, Emma e<br />

Amy vieram abaixo as escadas. "Queremos ver Lucy em seu vestido. Queremos ver Lucy em<br />

seu vestido!"<br />

Elas pararam quando me viram. "O que você está vestindo?" elas exigiram. "Onde está o seu<br />

vestido?"<br />

Apontei para a sacola. "Está ali. Vou me vestir na Madison."<br />

"O quê?" Elas me olharam como se eu tivesse acabado de anunciar minha intenção de comer<br />

uma delas para o jantar. "Mas você não pode! Você tem que se vestir aqui!"<br />

"Lucy, você tem que nos deixar te ajudar."<br />

"Eu realmente não preciso de ajuda para me vestir."


Emma circulou ao redor da cama. "Você sabe o que queremos dizer."<br />

"Eu adoraria vê-la no vestido", disse meu pai. "A menos que isso arruinasse seus planos."<br />

"Sim, Lucy", disse Emma. "Coloque-o agora."<br />

"Sim", repetiu Amy. "Coloque-o."<br />

Emma, sentindo que minha resolução estava enfraquecendo, aproveitou sua oportunidade. "Ok,<br />

vamos lá para cima, e depois nós voltaremos em cinco minutos, e você estará com o vestido<br />

posto." Ela começou a agrupar todo mundo na frente dela. "Vamos", ela disse que quando meu<br />

pai hesitou. "Se mova". Depois que ela tinha colocado todos na escada, Emma se virou para<br />

mim. "Cinco minutos", ela disse.<br />

Eu escutei a porta se fechar atrás dos três, e então eu caminhei até o vestido. Eu levei um longo<br />

tempo tirando meu jeans e minha camiseta, dobrando-os perfeitamente e colocando-os "longe"<br />

em suas respectivas pilhas no chão. Então eu sai do meu sutiã e tirei o saco de roupa fora do<br />

gancho, retirando os pinos que, uma vez que não havia tiras, estavam segurando o vestido no<br />

lugar. Eu mal tive tempo para entrar nele e chegar próxima de fechar a metade inferior do zíper<br />

antes da porta do porão se abrir.<br />

"Nós estamos descendo, Lucy", Amy gritou.<br />

"Sim, pronta ou não, aqui vamos nós", gritou Emma. E em um segundo, eles estavam de pé ao<br />

meu lado. Meu pai e Mara seguiram mais devagar, Mara vindo todo o caminho para o porão,<br />

meu pai sentado no degrau.<br />

"Ooooh", disse Emma.<br />

"Mmmmm", disse Amy.<br />

"É tãããão bonito", disse Emma.<br />

"Eu amei", disse Amy.<br />

Elas circularam ao meu redor, avaliando o vestido de diferentes ângulos.<br />

"É realmente lindo, Lucy", disse meu pai.<br />

Mara se aproximou de mim e colocou a mão nas minhas costas. "Posso?"<br />

"Claro", eu disse, soltando a tela para que ela pudesse fechar o zíper. Por um instante parecia<br />

que ia ser muito apertado, mas ela persuadiu-o até ficar todo fechado.<br />

―É lindo", disse ela, dando um passo para trás e me examinando.<br />

"Que sapatos você está vestindo?" perguntou Emma.<br />

"Yeah, que sapatos?" Amy perguntou.<br />

"Aqueles". Apontei para a minha mala. O dedão de uma dos meus pumps pretos ficando para<br />

fora.


"O quê?" Amy gritou.<br />

"Você está louca?" Isto veio de Emma.<br />

"Meninas!" disse meu pai rapidamente.<br />

"Desculpe", disse Emma.<br />

"Sim, desculpe", disse Amy.<br />

"Eu não tenho mais nada", expliquei. "Desculpe"<br />

.<br />

Emma começou a saltar para cima e para baixo, quase explodindo de frustração. "Você tem que<br />

usar sapatos de tiras", disse ela.<br />

"Você tem que usar sapatos de tiras dourados", disse Amy, pulando para cima e para baixo<br />

com ela.<br />

Emma parou de saltar e fez uma cara de nojo para Amy. "Ela não vai usar sapatos dourados",<br />

disse ela. "Você vive em um trailer ou algo assim? Prata. Ela tem de usar sandálias prateadas".<br />

Antes que Amy pudesse responder, eu pisei dentro "Bem, adivinhe, senhoras, eu odeio quebrar<br />

vocês, mas ela não está vestido dourado ou prateado. São pumps pretos ou os pés descalços."<br />

Eu encontrei-me olhando para meu pai para a confirmação da minha decisão.<br />

Ele deu de ombros. "Aqueles sapatos parecem bonitos para mim." Se meu pai não tivesse uma<br />

vez emparelhado um paletó esporte xadrez com calças listradas, sua avaliação do meu calçado<br />

teria sido muito mais reconfortante.<br />

E, de repente, do nada, quando eu estava me perguntando se talvez ir descalça não era a solução<br />

para todos os meus problemas, Mara disse: "Você gostaria de usar sapatos prateados?‖<br />

"Sim!" Emma e Amy gritaram.<br />

Dei de ombros. "Por que, você tem uma varinha mágica?"<br />

"Não exatamente", disse ela. "Mas eu tenho um par de sapatos prateados no meu armário."<br />

No momento em que chegamos em Madison, sua garagem estava cheia de carros, e estes<br />

alinhavam a rua em frente à casa. Eu tentei apenas dizer adeus ao meu pai, Mara, Emma, e<br />

Amy, mas uma vez que Emma e Amy descobriram que as famílias de outras pessoas estavam<br />

ficando para coquetéis, elas se recusaram a partir.<br />

A festa estava sendo realizada no quintal. Eu vi Connor do outro lado do gramado com Matt e<br />

Dave. Ele estava realmente bonito em seu smoking, tanto que eu não podia acreditar que minha<br />

imagem mental do baile havia produzido Sam em vez dele. Quando ele me viu, ele fez um<br />

gesto para eu ficar onde estava e em seguida entrou na casa. Um minuto depois ele veio até<br />

onde eu estava.<br />

"Ei, querida!" disse ele, pegando em meu vestido e cabelo. "Você está bem poderosa".Ele<br />

deslizou um corpete de gardênias brancas no meu pulso. "Aqui vai você, Red", disse ele.


As flores cheiravam rica e espessamente, e eu as coloquei próximas ao meu nariz e inalei<br />

profundamente.<br />

"Obrigado," eu disse.<br />

Eu tinha planejado usar um colar de pérolas de minha mãe, mas Emma e Amy tinham me<br />

convencido que era muito Cidade e Campo, assim que eu estava com um longo colar de pérolas<br />

de cristal que enrolava em volta do meu pescoço como uma gargantilha, em seguida caia no<br />

meio das minhas costas.<br />

"Olhe", Amy disse quando eu estava finalmente equipada para sua satisfação, "algo velho, algo<br />

novo, algo emprestado, algo azul".<br />

"É um casamento, sua louca", disse Emma. "Não um baile".<br />

Amy deu de ombros. "Tanto faz".<br />

Emma e Amy tinham trabalhado em meu cabelo, me ajudando a colocá-lo em um coque, de<br />

alta dificuldade. Elas queriam que parecesse como uma foto que elas tinham visto na<br />

TeenVogue da <strong>Prince</strong>sa de Liechtenstein (embora pudesse ter sido Roménia - elas eram vagas<br />

sobre os detalhes geográficos). Lembrando ou não a realeza européia, eu devo ter olhado muito<br />

bem porque Connor se manteve piscando para mim e sorrindo. Ele estava piscando e sorrindo<br />

para Madison e Jessica, também, dizendo-lhes o quão quente elas estavam e quão sortudos Matt<br />

e Dave eram.<br />

"Olá, crianças!" Kathryn gritou, acenando para todos no gramado da plataforma. Eu não sei se<br />

ela tinha estado bebendo acima das escalas de Jessica, mas ela estava mais do que um pouco<br />

insegura sobre seus saltos extremamente altos. E enquanto o resto de nós estava usando<br />

vestidos longos, o vestido de Kathryn ("vestido") era curto. Muito curto. Era tão curto que,<br />

quando ela parou de acenar e começou a rir, meu primeiro pensamento foi que ela estava<br />

envergonhada porque ela tinha descido sem sua saia.<br />

Connor não pareceu se importar, no entanto. Quando Kathryn atravessou o gramado para dar<br />

um oi para nós, Connor deu-lhe o mesmo sorriso que ele tinha dado a mim, Jessica, e Madison.<br />

Quando ele disse a ela o quão quente ela estava, Kathryn riu.<br />

"Pare", disse ela. "Estou envergonhada." Então ela lhe deu um abraço nada amigável, e eu me<br />

perguntei se o cumprimento de Connor tinha incentivado em Kathryn a idéia de que eu estava<br />

indo de stag e ela estava com um acompanhante.<br />

As limusines começaram a chegar às sete.<br />

"Vamos, rapazes, gritou Jessica. "Vamos lá".<br />

Madison começou a manobrar Matt para a frente. Eu caminhei até onde meu pai e Mara<br />

estavam conversando com os pais de Connor.<br />

Sra. Pearson estendeu a mão. "Olá, Lucy", disse ela. "É muito bom finalmente conhecer você."<br />

"É bom finalmente conhecê-la também", eu disse. Diziam que ninguém conhecia um cara como<br />

sua mãe, então eu fiquei tentada a perguntar a Sra. Pearson se ela achava que era um pouco<br />

estranho que Connor passasse a maior parte do coquetel tentando colocar Kathryn em uma cela.


Mas antes que eu pudesse fazer a pergunta a ela, Jessica veio até mim. "Está na hora", disse ela.<br />

"Oh, certo,‖ eu disse. Virei-me para o meu pai e Mara. "Bem, eu acho que eu deveria ir."<br />

Meu pai me deu um abraço. "Você está linda."<br />

"Obrigado", disse. "E obrigado de novo pela pintura." Olhei por cima do ombro para Mara. "E<br />

obrigado pela armação ", eu disse a ela." É realmente linda."<br />

"Estou feliz que você gosta", disse ela.<br />

"Aqui, deixe-me tirar uma foto", disse Sr. Pearson. Ele se aproximou de mim e do meu pai e<br />

nos colocou um ao lado do outro, colocando a mão do meu pai no meu ombro e envolvendo o<br />

meu braço em torno da cintura do meu pai. Mara estava a poucos metros de distância, e eu<br />

poderia dizer pela forma como ela estava nos observando que ela realmente queria estar na<br />

foto. Fiquei esperando o meu pai chamá-la, mas ele não chamou, ele simplesmente deixou o Sr.<br />

Pearson nos posicionar.<br />

Era tão tentador deixá-la ficar lá.<br />

"Tudo bem", disse Sr. Pearson. Ele deu alguns passos e se virou, posicionando sua câmera de<br />

nós. "Um, dois -"<br />

"Espere!" Eu gritei.<br />

Sr. Pearson moveu a câmera longe do rosto. "Qual é o problema?" ele perguntou.<br />

"Eu só preciso ... espere um segundo." Entrei debaixo do braço do meu pai e fui até<br />

Mara."Venha estar na foto", eu disse.<br />

"Está tudo bem, Lucy", disse ela. "Por que você só não tira uma foto sua e de seu pai. Eu<br />

realmente não me importo."<br />

Ela está dizendo que está tudo bem. Apenas tire a foto sem ela.<br />

Eu balancei minha cabeça. "Não, sério," eu disse. "Eu gostaria de uma de todos nós." E assim<br />

quando eu disse isso, eu percebi que nem sequer era uma mentira total.<br />

Ela e eu nos olhamos por um minuto, e então ela sorriu para mim. Eu sorri de volta."Ok,<br />

então", disse ela.<br />

Ela me seguiu até onde meu pai estava à espera, e nós deixamos o Sr. Pearson nos organizar<br />

para que meu pai estivesse em um lado de mim e Mara estivesse no outro. Assim quando Sr.<br />

Pearson estava prestes a tirar a foto, houve um grito. Olhei na direção que veio para ver Amy e<br />

Emma correndo pelo gramado para onde estávamos. "Espere!" Emma gritou.<br />

"Queremos estar na foto", Amy disse. Elas deslizaram em cada lado de mim e colocaram seus<br />

braços em volta da minha cintura.<br />

"Nós fizemos o cabelo dela", disse Emma para a Sra. Pearson, que estava de pé ao lado de seu<br />

marido.<br />

"Bem, está adorável", disse ela distraidamente.


"Eu fiz o cabelo dela", Amy disse. "Você fez a maquiagem."<br />

"Isso é uma mentira", disse Emma. "Eu totalmente fiz o cabelo dela!"<br />

"Oh meu deus, o que você está falando?" Amy bateu o pé. "Você nem sequer tocou o cabelo<br />

dela."<br />

"Meninas, meninas," disse meu pai. Ele colocou uma mão em cada um dos seus ombros e<br />

empurrou-as para encarar o Sr. Pearson.<br />

"Fiz sim", murmurou Emma.<br />

"Não fez não", respondeu Amy.<br />

"Vamos concentrar aqui", disse meu pai, e eu senti os braços de Emma e Amy se apertarem ao<br />

redor da minha cintura quando eu sorri e Mara disse, "Queijo(Cheese, é a mesma coisa quando<br />

dizemos X aqui."<br />

"Um, dois, três", disse Sr. Pearson. E por um segundo após o disparo clicar todos nós ficamos<br />

exatamente onde estávamos. Uma família.


Capítulo 29<br />

"Ei, cara", disse Connor, quando entramos no saguão do Plaza. Ele sombreou os olhos com a<br />

mão. "Isso é brilhante."<br />

Enquanto nós todos bebiamos polidamente em nossas taças durante o brinde com champanhe<br />

na Madison, como o consumo de álcool não era grande coisa, logo que chegamos na limusine<br />

todos começaram a dar goladas dos frascos que Connor, Dave, e Matt tinham trazido.<br />

Infelizmente um gole do que qualquer que seja que eles estavam bebendo era tudo que eu<br />

poderia segurar. Queimou a minha garganta e eu ofeguei.<br />

"O que é isso?" Eu perguntei<br />

.<br />

"JD, baby", disse ele, batendo o frasco contra o peito e arrotando. "Seu bom e velho amigo Jack<br />

Daniel's."<br />

Nós tínhamos sido avisados de que uma vez que chegássemos ao baile, não poderíamos partir,<br />

então todos queriam beber tanto quanto possível na viagem de trinta minutos para Manhattan.<br />

Kathryn, que aparentemente era uma boa amiga de Jack Daniel's, sentou-se à esquerda de<br />

Connor, enquanto eu me sentei espremida entre ele e a porta da limusine. Quanto mais perto<br />

chegávamos de Manhattan, o vestido de Kathryn subia ainda mais em sua perna e menos<br />

consciente da minha presença Connor pareceu estar.<br />

Eu não sei o que eu tinha esperado, mas baile não estava exatamente indo se transformar na<br />

noite mais mágica da minha vida. Se qualquer coisa, parecia ser como um monte de outras<br />

noites. Logo que chegamos ao hotel, todas as meninas entraram no banheiro e todos os rapazes<br />

entraram no Palm Room. Era quase como se tivéssemos chegado juntos e eles e tivessem vindo<br />

juntos. Estando no banheiro com Madison e Jessica, eu tive a estranha sensação de que nem<br />

mesmo estávamos no baile; estávamos apenas no banheiro do Piazzolla. Quando saíssemos,<br />

estáriamos no familiar linóleo e sala de jantar de madeira, e lá estariam Dave, Connor e Matt<br />

sentados em uma mesa cheia de massa de pizza e guardanapos de papel amassado.<br />

A mesa não tinha qualquer massa de pizza sobre ela, mas quando chegamos lá, os caras tinham<br />

atirado seus guardanapos uns nos outros. Madison estava balístico, e Matt parecia encabulado.<br />

Sentamo-nos, e sem pensar, peguei meu guardanapo do meu prato e o coloquei no meu colo.<br />

Jessica bateu no ombro de Dave e apontou para ele colocar o guardanapo no colo. Então todos<br />

nós ficamos sentados ali, sem dizer nada.<br />

Do outro lado da sala, vi Jane chegar através do portal. Seu vestido era amarelo brilhante, longo<br />

e apertado, com um profundo decote, e ela estava linda. Ela fez uma pausa para examinar o seu<br />

domínio quando Sam caminhou detrás dela. Mesmo ele estando iluminado pela luz do corredor,<br />

eu sabia que era ele porque seu cabelo estava em pé quase em linha reta para cima, como se ele<br />

tivesse puxado-o sem parar durante horas. Quando a porta se fechou atrás dele, vi que ele<br />

estava vestindo vermelhos tênis Converse com seu smoking, e eu não pude deixar de rir de<br />

mim mesma, como se Sam tivesse apenas me contado uma grande piada. Comecei a ficar de<br />

pé, planejamento andar e dizer a ele que eu achava que o tênis era uma boa chamada, mas<br />

quando eu levantei, ele colocou a mão sobre a pequena costa de Jane para levá-la à sua mesa.<br />

E de repente, eu tenho uma sensação ruim no estômago. Por causa da vista de Sam guiando<br />

Jane para o outro lado da sala, eu sabia. Eu sabia. Eu sabia por que, naquele dia no estúdio, ele


foi a pessoa com quem eu tinha imaginado dançar lentamente. Eu sabia porque eu tinha sentido<br />

falta dele quando ele não estava na sala de aula esta semana.<br />

Acima de tudo, eu sabia por que essa noite se sentia nem de longe como a noite mágica da<br />

minha vida.<br />

Eu fiquei onde estava, meio em pé, meio sentada, congelada pelos longos minutos que levaram<br />

Sam e Jane para encontrar a sua mesa. Então eu me forcei a parar de observá-los, cair no meu<br />

lugar, e respirar fundo, incapaz de sair de debaixo da onda quente de tristeza que tinha passado<br />

sobre mim.<br />

"Eles realmente estão ótimos juntos, não é mesmo?"<br />

"Eu sei. Eu amo o vestido dela."<br />

"É tãããão sexy."<br />

Como todo mundo, eu tinha os meus olhos na pista de dança, onde o rei e rainha do baile<br />

estavam dançando. Suas coroas capturaram os raios refletidos do disco de discoteca e enviaram<br />

diamantes de luz ao redor da sala. Seus braços estavam entrelaçados, e eu estava tentando<br />

pensar se eu já tinha ouvido falar de uma cultura onde os irmãos e irmãs dançavam tão perto<br />

quanto Kathryn e Connor estavam dançando. A cada poucos segundos alguém assobiava ou<br />

gritava, "Vá em frente!" ou simplesmente começavam a bater palmas. Kathryn estava<br />

claramente saboreando a atenção. Ela continuou sorrindo e acenando, e quando sua coroa quase<br />

escorregou, ela a pegou e a derrubou novamente em sua cabeça em um gesto gracioso, sem<br />

perder um passo.<br />

Eu podia sentir os olhares de Madison e Jessica mesmo sem olhar para elas. A partir do<br />

segundo que a comissão do baile tinha anunciado os nomes do rei e rainha do baile, elas não<br />

tinham deixado meu lado, me dizendo quão louca a comissão era, como eles só queriam que os<br />

seniores ganhassem, como Connor estava totalmente apaixonado por mim.<br />

"Connor nem mesmo está tendo um bom tempo", disse Jessica. Ela tinha seu braço ao meu<br />

redor, e ela apertou meu ombro.<br />

"Eu acho que eles parecem realmente desajeitados juntos", disse Madison. "Ela é muito baixa<br />

para ele."<br />

"Me desculpe", eu disse. "Eu estou indo para o banheiro."<br />

"Você nos quer junto?" perguntou Jessica.<br />

Eu balancei minha cabeça. "Eu já volto."<br />

O corredor estava silencioso e vazio. Eu passei minha mão ao longo do trilho de cadeiras<br />

elaboradas, apreciando como os meus saltos afundavam no tapete macio.<br />

Era a primeira coisa que eu tinha apreciado toda a noite.<br />

Jessica e Madison não poderiam ter estado mais erradas: Kathryn e Connor pareciam ótimos em<br />

conjunto.Ela tinha nascido para ser rainha do baile. E ele tinha nascido para ser rei do baile.<br />

Que eles estavam cumprindo o seus destinos era inegável.


Igualmente inegável era o quão pouco de ciúme eu sentia.<br />

A única coisa que eu senti era alívio. Total e completo alivio. Eu não queria ir para os<br />

Hamptons e assistir Connor, Dave e Matt ficarem bêbados. Eu não queria mais me preocupar se<br />

eu gostava ou não de beijar Connor.<br />

E acima de tudo, eu não queria falar sobre basquete. Agora não. E não por um longo, longo<br />

tempo.<br />

A temporada acabou. Era hora de começar uma vida real.<br />

Quando me aproximei da esquina, ouvi uma voz de menina. Ela não estava gritando,<br />

exatamente, mas ela estava definitivamente chateada.<br />

"... acredito quando você disse aquilo."<br />

Eu virei a esquina. Sam e Jane estavam no corredor, a meio caminho entre mim e o banheiro.<br />

Ele estava encostado na parede, braços cruzados, e ela estava sentada em um sofá baixo na<br />

frente dele.<br />

"Jane", disse ele, "você não está me escutando."<br />

Eu parei no meu caminho. Mesmo que a minha invasão da conversa deles tenha sido um<br />

acidente total, eu me senti sorrateira, como se eu tivesse espiando. Tão rápida e silenciosamente<br />

como possível, eu escorreguei na esquina e caminhei na direção de onde eu tinha vindo.<br />

Kathryn e Connor estavam cercados por outros casais que se aglomeraram na pista de dança,<br />

mas por causa de suas coroas ainda era fácil identificá-los. Os braços dela estavam ao redor dos<br />

ombros deles, e ela tinha os dedos de uma mão enterrados nos cabelos dele. Fui até eles e o<br />

toquei no ombro.<br />

"Ei, Red", disse ele. "Como está?"<br />

"Eu acho que eu estou indo, Connor", eu disse.<br />

Connor olhou para mim, os olhos avermelhados. "Você está partindo, Red?‖<br />

"Sim, eu só não acho que consigo ir nos Hamptons". Kathryn não se incomodou em esconder o<br />

fato de que ela estava ouvindo, nem que ela tentou esconder o sorriso de gato Cheshire(O<br />

sorriso do gato de Alice no país das maravilhas), que o meu anúncio suscitou.<br />

"Claro, Red," ele disse enquanto balançava para frente e para trás com a música. "Não se<br />

preocupe."<br />

Eu fiquei na ponta dos pés e o beijei levemente no rosto, me perguntando se ele tinha notado<br />

que alguém mais estaria dizendo eu sou quando ele perguntasse, Quem é a minha garota?<br />

"A gente se vê, Connor," eu disse.<br />

"Sim", disse ele, ainda dançando com Kathryn. "A gente se vê"<br />

Atravessando o salão do Hotel Plaza, eu percebi que na escola na segunda-feira tudo seria da<br />

forma que tinha sido antes de Connor reparar em mim. Eu já podia ver Jessica e Madison


correndo para encontrar Kathryn, muito ocupadas fazendo amizade com a nova namorada de<br />

Connor para se preocuparem com a antiga. Por um segundo eu me senti triste, pensando sobre o<br />

quão solitário o almoço ia ser. Mas depois me lembrei - jantar. Meu pai estaria em casa para o<br />

jantar. E na hora do almoço eu não tinha que me sentar sozinha no refeitório se eu não quisesse,<br />

eu poderia simplesmente ir para o estúdio e trabalhar na minha paisagem. Então, talvez tudo<br />

ficasse bem. Talvez no fim, era melhor ter uma madrasta chata e nenhum príncipe do que uma<br />

madrasta malvada e um príncipe chato.<br />

Pouco antes de eu puxar a porta aberta, senti uma mão nas minhas costas. Eu me virei com o<br />

nome de Connor já nos meus lábios.<br />

"Connor, eu não -" Mas não era Connor. Era Sam.<br />

"Hey," ele disse, um pouco ofegante.<br />

"Ei,‖ eu disse.<br />

"Eu só ..." Ele limpou a garganta e respirou fundo. "Eu só tenho que ..." Ele me olhou, olhou<br />

para longe, olhou de volta para mim. "Eu ..." Ele riu. "Eu não posso acreditar que eu estou<br />

fazendo isso." Ele colocou a mão nos seus óculos e os tirou. "Isso vai ser mais fácil se você<br />

estiver embaçada." Eu tive um segundo para perceber como seus olhos eram escuros, antes de<br />

ele desviar o olhar novamente. "Olha, eu sei que isso vai parecer loucura, mas a coisa é, eu<br />

gosto você ". Ele riu com o que ele tinha acabado de dizer. "Eu sei que é uma forma<br />

incrivelmente sétima série de colocar isso, e eu sei que você tem um namorado, e eu tinha uma<br />

namorada até a poucos minutos. E eu sei que esse é totalmente o momento errado para tudo o<br />

que eu estou dizendo, mas isso tem estado na minha mente por semanas, e agora estou prestes a<br />

partir, e se eu não disser isso hoje a noite, eu nunca vou levantar a coragem de dizer<br />

novamente. Então. Eu gosto de você. E se algum dia você quiser dar o fora no seu atual<br />

Príncipe Encantado, eu espero que você pense em me deixar fazer uma entrevista para a<br />

posição.‖<br />

O QUÊ? ―Sam, eu - "<br />

Ele colocou os óculos de volta no rosto e deu um passo em direção à porta. "Tudo bem", disse<br />

ele. "Agora que eu estou completamente envergonhado de mim mesmo, eu vou deixar você<br />

voltar para a sua vida de conto de fadas". Ele fez um elaborado arco e se virou para ir embora.<br />

―Sam, espere!" Eu praticamente tive que correr para alcançá-lo. O salto do meu sapato ficou<br />

preso no tapete, e eu teria caído se ele não tivesse me agarrado.<br />

"Whoa", disse ele, segurando-me pelo cotovelo. "Cuidado".<br />

"Sam?" Eu disse, olhando em seus olhos.<br />

"Lucy?‖ ele disse, olhando diretamente de volta para mim.<br />

Eu tomei uma respiração profunda. "Sam, vamos explodir este conto de fadas."<br />

Ele riu incerto, depois parou quando viu a expressão no meu rosto. "Sério?" ele perguntou.<br />

"Sério,‖ eu disse.<br />

Mas quando nos viramos para ir embora, eu percebi que havia mais uma coisa que eu precisava


fazer. Só porque eu tinha certeza que elas iam começar a me ignorar na segunda-feira não<br />

significa que estava bem sair sem dizer adeus.<br />

"Você poderia me dar um segundo?"<br />

"Claro", disse Sam. "Te encontro perto da porta."<br />

Olhei em volta, finalmente localizando-as na pista de dança. Logo que me viu, Madison<br />

agarrou meu braço. "Hey," ela disse, "Onde você estava? Você não estava no banheiro."<br />

"Você está bem?" perguntou Jessica. "Connor está sendo um burro total". Olhei por trás dela<br />

para onde Kathryn e Connor não estavam dançando tanto quanto eles estavam em um lugar,<br />

abraçados.<br />

"Não, ele não está", eu disse. "Eu acho que ele realmente gosta dela."<br />

"Você está louca?" Jessica pegou minhas duas mãos nas delas. "Ele gosta de você."<br />

"A coisa é, Jessica, ele nem mesmo me conhece." Eu soltei as mãos dela desde que eu sabia a<br />

próxima frase da minha boca provavelmente faria com que ela quisesse soltar a minha. "E de<br />

qualquer maneira, não importa, porque eu realmente não gosto dele."<br />

Os olhos de Jessica ficaram enormes, e Madison apertou suas mãos contra o peito. "Você não<br />

gosta?" Elas perguntaram em uníssono.<br />

"Então, de quem você gosta?" perguntou Jessica.<br />

"Eu gosto ..." Sem o meu consentimento, meus olhos encontraram Sam de pé perto da porta.<br />

Ele acenou para mim.<br />

Jessica viu. "Você gosta de Sam Wolff? De jeito nenhum.''<br />

Eu dei-lhe um sorriso minúsculo. "Gosto", eu disse.<br />

Jessica considerou o que eu disse. "Mas ele não apenas olha para você e não diz nada? Como<br />

você pode saber que gosta dele?"<br />

Eu ri. "Ele não diz nada."<br />

E então, como um personagem de uma história em quadrinhos que de repente recebe uma<br />

lâmpada acesa sobre a cabeça, Jessica gritou: "Oh, eu sei! É porque você dois estão em arte e<br />

coisas." Ela assentiu com a cabeça para enfatizar a exatidão de seu discernimento.<br />

"Totalmente", disse Madison, acenando também. Ela olhou para Sam e estreitou os olhos.<br />

Então ela olhou para mim. "Na verdade, ele é bonitinho", disse ela.<br />

"Obrigado", eu disse. Eu deixei meus olhos descansar em Sam por um segundo antes de voltar<br />

para Madison e Jessica. "Bem, se divirtam nos Hamptons.‖<br />

"Eu queria que você fosse", disse Madison. "Você tem que nos ligar enquanto estivermos lá."<br />

"E você vai vir no domingo à noite", disse Jessica. "Assim, podemos interrogar".


"Sério?" Eu disse, surpresa.<br />

"O que você quer dizer, 'sério'?" Madison parecia confusa.<br />

"Sim", disse Jessica. "Quero dizer, nós não vamos vê-la por todo o fim de semana." Ela e<br />

Madison me abraçaram. Antes de me deixar ir, Jessica me deu um último conselho.<br />

"Se a sua madrasta disser que você não pode vir domingo, apenas amarre-a e tranque-a no<br />

armário."<br />

"Eu não acho que vou chegar a esse ponto", disse. "Vejo vocês no domingo."<br />

E quando eu cruzei o salão, eu senti um tremendo impulso de alegria. Quem iria saber que você<br />

pode dar o fora no seu príncipe e ainda manter sua fiel corte?<br />

Lá fora o vento estava chicoteando poucas pálidas nuvens no céu, que estava brilhante com a<br />

lua quase cheia. Uma fila de carruagens puxadas por cavalos estava alinhada do outro lado da<br />

rua, esperando para levar as pessoas em passeios pelo Central Park.<br />

"Eu não posso acreditar que isso está acontecendo", disse Sam. Ele pegou minha mão e fez um<br />

gesto com ela para os cavalos. "Então, o que você acha? Quer andar no por do sol em um lindo<br />

cavalo ligeiramente anêmico?‖<br />

Peguei a outra mão dele na minha e o virei para me encarar. "Olha, você deveria saber.<br />

Acontece que eu realmente não tenho uma madrasta malvada", eu disse. "Então eu não acredito<br />

mais em contos de fadas."<br />

"Sério?" Ele franziu a testa. "Sem feitiços mágicos?" Eu balancei minha cabeça. "Sem fadas<br />

madrinhas?" Sacudi novamente. "O que aconteceu? Ding-dong a bruxa está morta."<br />

Eu ri. "Ela não está morta." Olhei para a rua, como se a resposta à pergunta de Sam estivesse<br />

escondida em algum lugar no parque. Quando ela não surgiu, eu só encolhi os ombros. "Eu não<br />

sei", eu disse. "É como se tudo tivesse mudado, mas nada mudou, você sabe o que quero<br />

dizer?"<br />

Sam balançou a cabeça. "Sim, eu sei exatamente."<br />

Sam colocou as mãos em ambos os lados do meu rosto. "Bem, de qualquer maneira, estou<br />

feliz", disse ele. "Deve ser realmente chato ter uma madrasta malvada". Ele me beijou<br />

levemente nos lábios. "Mais uma vez, eu não teria me importado em ser seu Príncipe<br />

Encantado."<br />

Passei meus braços sobre os ombros dele e toquei seu cabelo macio e encaracolado. "Oh, sim,<br />

você teria," eu disse.<br />

Sam passou seus braços em volta da minha cintura e encostou sua testa contra a minha. "Bem,<br />

se você ainda quer ser uma princesa, tudo bem por mim."<br />

Eu considerei isso por um segundo. "Você sabe, eu acho que vou passar", eu disse.<br />

"Doce você", disse Sam. E então, quando estávamos a ponto de nos beijar, ele congelou.<br />

"Espere, nós ainda conseguiremos ter o final feliz, certo?"


"Oh, definitivamente", disse eu, inclinando meu rosto até o dele. "Nós definitivamente<br />

conseguiremos ter o final feliz."<br />

FIM!!!!<br />

Créditos<br />

Comunidade Traduções de Livros<br />

[http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=25399156]<br />

Tradutor:Letícia<br />

[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=3049810646327686758]<br />

Tradutor:Juliana<br />

[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=2713339427589710285]<br />

Tradutor:Carol<br />

[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=8767032667957141107]<br />

Tradutor:Marina<br />

[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=5864430758438116047]<br />

Tradutor:Julya<br />

[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=16776834213471241757]<br />

Tradutor:Bela<br />

[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=2589355548699632123]<br />

Tradutor:Rafa<br />

[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=2821954478852063405]<br />

Revisora: Si Costa<br />

[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=16940845770447372255]

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!