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simone luiz gomes benito maresca: formação e trajetória ... - Unicid

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SIMONE LUIZ GOMES<br />

BENITO MARESCA: FORMAÇÃO E TRAJETÓRIA<br />

PROFISSIONAL<br />

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO<br />

UNICID<br />

SÃO PAULO<br />

2008<br />

30


SIMONE LUIZ GOMES<br />

BENITO MARESCA: FORMAÇÃO E TRAJETÓRIA<br />

PROFISSIONAL<br />

Dissertação apresentada como<br />

exigência parcial para a obtenção<br />

do título de Mestre em Educação,<br />

junto à Universidade Cidade de<br />

São Paulo – UNICID - sob<br />

orientação do Profº. Dr. Potiguara<br />

Acácio Pereira.<br />

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO<br />

UNICID<br />

SÃO PAULO<br />

2008<br />

31


SUMÁRIO<br />

INTRODUÇÃO .....................................................................................<br />

Capítulo I<br />

Períodos e Estilos Musicais .................................................................<br />

Capítulo II<br />

Lucia de Lammermoor .........................................................................<br />

Capítulo III<br />

O Guarani .............................................................................................<br />

Capítulo IV<br />

La Bohème ...........................................................................................<br />

CONCLUSÃO ......................................................................................<br />

REFERÊNCIAS ....................................................................................<br />

04<br />

11<br />

30<br />

62<br />

88<br />

105<br />

109<br />

32


INTRODUÇÃO<br />

O corpo humano é o instrumento de que dispomos para emitir sons e<br />

nos comunicar. Somos capazes de produzir sons, cantar e exteriorizar nossos<br />

sentimentos utilizando o aparelho vocal. O canto é uma das formas mais<br />

antigas de expressão humana.<br />

Todos os fatores fisiológicos e psicológicos, que envolvem o sujeito,<br />

concorrem para a definição das características particulares da voz do cantor.<br />

A qualidade das propriedades da voz humana, como timbre, extensão e<br />

intensidade, dependem de técnica e musicalidade.<br />

Quanto à extensão, a voz pode ser classificada em feminina e<br />

masculina. Por sua vez, as vozes femininas e masculinas se subdividem em<br />

três tipos básicos, de acordo com certas diferenças de timbre e tessitura: as<br />

femininas (da mais aguda para a mais grave), soprano, meio-soprano, ou<br />

mezzo soprano, e contralto. As masculinas (da mais aguda para a mais grave),<br />

em tenor, barítono e baixo.<br />

O domínio da voz cantada depende de técnica vocal bem orientada,<br />

fundamentada em respiração, emissão, apoio, ressonância e articulação.<br />

Cada sujeito possui seu aparelho vocal, que lhe é próprio. Por isso, pode<br />

adotar tipos diferentes de condutas fonatórias.<br />

Não é por outro motivo, pois, que a técnica e os procedimentos que um<br />

professor de canto adota com seus alunos, revelam uma “metodologia” de<br />

ensino.<br />

Constantemente, comentários são ouvidos sobre as diferentes técnicas<br />

utilizadas por professores de canto lírico e a não adaptação aos procedimentos<br />

33


adotados por parte dos alunos.<br />

Mesmo na fase de <strong>formação</strong> acadêmica, alguns alunos procuram outros<br />

professores, que não pertencem à instituição, na qual se matriculam, o que<br />

mostra uma insatisfação com o procedimento de ensino utilizado, durante as<br />

aulas, por determinado professor.<br />

A questão da competência de um professor é muito complexa, já que um<br />

mesmo profissional pode ser considerado ótimo por uns e ruim por outros. A<br />

eficiência da técnica depende também de cada professor.<br />

Investir numa relação mais humana entre professor e aluno é preciso,<br />

bem como é preciso certa preocupação com relação à compreensão das<br />

sensações vocais, das imagens mentais no canto e com a fisiologia da voz.<br />

Ao emitir um som, o cantor é invadido por sensações internas sutis,<br />

impossíveis de serem observados por quem o assiste. A técnica vocal é então<br />

assimilada por meio da apreensão destas sensações e dos movimentos<br />

fisiológicos do corpo.<br />

É preciso definir uma melhor forma de comunicação no canto, isto é,<br />

uma imagem, que possa ser considerada satisfatória. Mas, não se pode<br />

esquecer que a compreensão dessa comunicação pode divergir de um para<br />

outro.<br />

Uma metáfora, utilizada pelo professor, ao tentar fazer com que um<br />

aluno entenda a sensação de um comportamento vocal, por meio de imagens,<br />

pode ou não ser apreendida e assimilada por seus diferentes alunos, uma vez<br />

que o processo é mesmo individual. A mesma linguagem pode ter significados<br />

diferentes para cada um.<br />

Nas aulas de canto, quando um professor quer que o aluno perceba um<br />

agudo, por exemplo, ele diz para esse aluno imaginar que o som vai para cima,<br />

34


enquanto que outro pode se referir ao mesmo agudo, quando diz que o som vai<br />

para frente.<br />

Nem sempre professores, que ministram aulas de canto lírico, nas<br />

Universidades, satisfazem as necessidades particulares dos alunos. Por isto, a<br />

própria instituição permite ao aluno fazer aulas práticas de canto com professor<br />

de sua escolha, desde que este aluno, contudo, se submeta à banca<br />

examinadora formada pelos professores da instituição, ao final dos semestres<br />

letivos.<br />

O problema de adaptação entre alunos e professores de canto pode ser<br />

de ordem pessoal ou por inadequação dos procedimentos de aplicação das<br />

técnicas.<br />

Os professores brasileiros de canto adaptaram seus procedimentos aos<br />

princípios pedagógicos das escolas de canto européias, que estruturaram suas<br />

técnicas em teorias muito bem elaboradas, de acordo com as características de<br />

seu povo e de alguns fatores, como estrutura corpórea e fonética do idioma.<br />

A voz é um instrumento de trabalho corporal e musical, baseado no<br />

treino e controle da musculatura do trato vocal. O domínio do canto depende da<br />

compreensão das funções dos órgãos produtores da voz e da respiração,<br />

assim como das funções dos músculos do abdome e do diafragma.<br />

Cada sujeito possui diferentes características no aparelho fonador.<br />

Assim, cada cantor é dotado de determinados traços e aspectos próprios, isto<br />

é, toda voz tem seu timbre, sua cor, que as fazem diferentes de outras vozes.<br />

O interesse pela pesquisa sobre o canto lírico, de suas dificuldades e<br />

prazeres, veio justamente da minha própria vivência como aluna e profissional<br />

da área. Como eu, há um número significativo de alunos, que se deparou com<br />

diversos problemas, até chegar a uma condição satisfatória com relação a seus<br />

orientadores vocais.<br />

35


Comecei a refletir sobre o ensino e aprendizagem do canto lírico a partir<br />

das inúmeras dificuldades que enfrentei ao ingressar no Curso de Canto Lírico<br />

de uma disputada escola de música da cidade de São Paulo.<br />

Permaneci por quatro semestres no referido curso. Após diversas<br />

tentativas frustradas de entendimento com o professor de canto lírico da<br />

instituição, que me proibia de fazer qualquer tipo de repertório e insistia na<br />

idéia de eu era uma mezzo soprano, decidi por abandonar a escola e passei,<br />

seguindo orientações de amigos cantores, a fazer aulas particulares com<br />

Professor Benito Maresca.<br />

Até então, o nome Benito Maresca, significava um mito, um ídolo, o<br />

tenor brasileiro que fez carreira internacional e foi reconhecido pelos<br />

profissionais mais respeitados no cenário lírico e que se hoje é considerado um<br />

dos brasileiros que mais se destacou no Brasil e no mundo.<br />

Após três anos de aulas e convivência, nos tornamos amigos e durante<br />

esse tempo, passei a conhecer e admirar mais a cada dia, a luta de uma<br />

pessoa que perseguiu seu sonho sem ter certeza alguma acerca de sua própria<br />

voz. Benito foi orientado de maneira errada por diversos professores e inclusive<br />

foi classificado como barítono.<br />

Minha curiosidade só aumentava e Benito a alimentava.<br />

Incessantemente eu formulava perguntas a ele e remexia seus armários<br />

revendo fotos e lendo as reportagens dos jornais que tratavam de sua carreira.<br />

Assim, percebi ter em mãos um material de pesquisa maravilhoso.<br />

A partir daí, conversei muito com Benito. Conversas longas, marcadas<br />

muitas vezes de emoção, sinceras e inesquecíveis.<br />

Passei a gravar nossas conversas, que serão transcritas aqui em ordem<br />

36


cronológica, na íntegra. Alguns dos recortes de jornais apresentados a mim<br />

pelo Benito e que foram anexados ao texto, não possuem referências<br />

adequadas.<br />

A pesquisa investiga, pois, mais de quarenta anos de vida, <strong>trajetória</strong>,<br />

<strong>formação</strong> musical e ensinamentos do cantor lírico Benito Maresca, somado ao<br />

fato de que Maresca é um profissional do canto que não possui <strong>formação</strong> e<br />

ainda assim, fez brilhante carreira como cantor e posteriormente tornou-se<br />

professor da Universidade de São Paulo.<br />

Evidentemente, uma experiência tão particular não representa uma<br />

verdade no cenário lírico brasileiro. Ao meu ver, a relevância está no fato de<br />

que um vendedor tornou-se, através de suas experiências profissionais, um<br />

nome influente e importante na Ópera de diversos países.<br />

Para tanto, o procedimento metodológico adotado foi o da análise<br />

documental. Foram resgatados revistas e jornais italianos, alemães,<br />

americanos e nacionais, que criticaram suas atuações, nos palcos dos teatros<br />

de ópera, compreendidas entre os anos de 1958 e 2004.<br />

Como objetivo primeiro, o trabalho busca determinar as dificuldades<br />

encontradas, pelo cantor lírico no que se refere à sua <strong>formação</strong> musical, sem<br />

poder contar na época com um curso superior de canto. Num segundo objetivo,<br />

o trabalho procura determinar de que maneira o cantor lírico trilhou seu<br />

caminho na direção do êxito profissional, estudando diversos estilos e<br />

compositores quando da execução das mais de 64 óperas, oratórios e missas,<br />

até se tornar o maior nome da lírica nacional.<br />

Hoje, já existem cursos de bacharelado em canto erudito onde após<br />

uma etapa chamada de processo seletivo, que tem como pré-requisito o<br />

diploma de Ensino Médio, se aprovado, o aluno estará apto a ingressar no<br />

Curso de Canto, Bacharelado Erudito de determinada Instituição Superior da<br />

Cidade de São Paulo.<br />

37


Num período regular de quatro semestres, o referido curso pode<br />

oferecer, por exemplo, disciplinas como:<br />

-Análise Musical<br />

-Atividades Programadas<br />

-Canto<br />

-Contraponto<br />

-Estágio Supervisionado (ópera)<br />

-Estética e História da Arte<br />

-Folclore e Cultura Brasileira<br />

-Formação Musical Básica<br />

-Fundamentos da Acústica<br />

-Harmonia<br />

-História da Música<br />

-História da Música no Brasil<br />

-Língua Portuguesa<br />

-Metodologia de Pesquisa Científica<br />

-Música de Câmara<br />

-Orientação à Pesquisa<br />

-Piano Complementar<br />

-Prática Coral<br />

-Prosódia Musical<br />

-Recital de Conclusão de Curso<br />

-Teoria e Percepção Musical<br />

O aluno que cumpriu toda a carga-horária, atingiu a média de notas<br />

exigidas pela instituição superior e colou grau, está formado no Curso de Canto<br />

Erudito. Considerando que o canto não é uma profissão regulamenta,<br />

independe de diploma ou título para ser praticada.<br />

Nesta pesquisa, desejo buscar, através da vivência e experiência<br />

profissional do tenor Benito Maresca, qual o tipo de <strong>formação</strong> obtida por ele e<br />

como se deu sua <strong>trajetória</strong> profissional, as óperas estudadas e a qual a<br />

contribuição social que sua carreira e empenho promoveram.<br />

38


Períodos e Estilos Musicais<br />

A música pode ser divida em período, lugar ou compositor. Pretende-se<br />

com isso, caracterizar estilos cronologicamente, o que justifica a continuidade<br />

e a mudança servindo como ponto de referência na abordagem da música<br />

composta.<br />

A escola italiana de canto por exemplo, sofreu alterações consideráveis<br />

entre os séculos XVII e XIX, principalmente no que se refere à interpretação<br />

musical. A impossibilidade de um contato pessoal com compositores ou<br />

intérpretes da época, assim como a falta de registros fonográficos, torna a<br />

prática muitas vezes desregrada. Além disso, a partitura não oferece ao<br />

intérprete as informações necessárias para que a execução da música seja<br />

historicamente autêntica, isso porque a linha de canto de uma ária do período<br />

barroco, por exemplo, é apenas um esboço daquilo que o compositor gostaria<br />

que fosse cantado. O compositor daquela época contava com o conhecimento<br />

artístico-musical do cantor, assim, deixava por conta dele o embelezamento<br />

entre ornamentos e improvisos formados pelo senso comum estético, ou<br />

seja, o “estilo” da época era o que normalizava a música.<br />

Neste sentido, o intérprete moderno enfrenta diversos desafios. Na<br />

busca pela autenticidade musical, o cantor precisa analisar documentos da<br />

época referentes à execução do repertório em questão não sendo permitida a<br />

adaptação da partitura pelas particularidades de cada cantor. Deste modo, se<br />

faz necessário um processo de tradução da pesquisa histórica para chegar o<br />

mais próximo possível da verdadeira idéia do texto original.<br />

“...em particular nos séculos XVIII e XIX, os próprios compositores, a o escreverem<br />

as músicas para seus solistas específicos, tentavam ressaltar as qualidades<br />

vocais deles, e minimizar seus defeitos. Se algum desses cantores era substituído,<br />

o compositor “adaptava” a música, para que a escrita continuasse servindo às<br />

qualidades do novo cantor.” (PACHECO, 17, 2006)<br />

39


Para a música, o Período do Renascimento (do primeiro quarto do<br />

século XV ao final do XVI), se destaca por um estilo polifônico baseado na<br />

imitação, como em Lassus e Palestrina. A polifonia é uma música que conta<br />

apenas com variação de vozes combinadas a trechos instrumentais, diferente<br />

da homofonia, onde só ouvimos um único som ou melodia. Os gêneros mais<br />

comuns eram a cantata, a missa e o madrigal, na maioria das vezes<br />

acompanhas por um instrumento chamado alaúde. Os compositores mais<br />

importantes foram Dufay, Josquin dês Près, William Byrd, Giovanni Gabrielli,<br />

Palestrina e Orlando Lassus.<br />

Os estilos de épocas como barroco, romântico ou clássico determina a<br />

maneira particular de se compor, tocar ou cantar, associada a um compositor,<br />

intérprete ou lugar, por exemplo: estilo alemão, estilo napolitano, estilo<br />

mozartiano ou estilo rococó.<br />

As mudanças ocorridas ao longo dos séculos na música e na sua<br />

interpretação, estão diretamente relacionadas aos fatos históricos e sociais<br />

sofridos pela evolução. Desde o século XVII a música foi criada e executada<br />

sob forte influência da Igreja. O período em que Bach (1685-1750) e Haendel<br />

(1685-1759) escreviam, foi marcado por muitos contrastes entre melodias<br />

fluentes, sentimentais, vocais, de fraseado claro e de acompanhamento<br />

simples de Pergolesi (1710-1736) ou o virtuosismo complicado de Vivaldi<br />

(1678-1741), Rameau (1683-1764) com sua música repleta de dissonâncias<br />

inesperada, ricas harmonias e ritmos complexos para a época. Por fim, o<br />

estilo clássico vem substituir o barroco, a música simples e melodiosa, se<br />

torna mais solene e variada.<br />

Compositores e cantores participavam paralelamente da criação da<br />

música até as primeiras décadas do século XIX. Os compositores escreviam<br />

uma linha musical básica do canto, enquanto que os cantores intuitivamente a<br />

ornamentavam. Consta que mais tarde alguns cantores, abusando desta<br />

autonomia, acabaram por descaracterizar a música original. Os abusos na<br />

ornamentação exibiam as habilidades de cada um prejudicando a música e<br />

40


tornando a ópera mais que um concerto com figurino. Apesar disso, com a<br />

chegada da ópera buffa italiana (cômica), a Europa se sentiu atraída pelos<br />

novos valores que poderiam enriquecer os palcos líricos, como a Singspiel,<br />

Operá Comique e a Zarzuela, recheadas de naturalismo, diálogo falado e o<br />

imediatismo da performance na linguagem.<br />

Os novos gêneros de música, foram surgindo a partir dos antigos. A<br />

nova ópera italiana do século XVIII, que mais tarde dominaria os palcos da<br />

Europa era clara, racional e de simples entendimento para agradar a platéia.<br />

A ópera séria italiana abordava sempre conflitos de paixão<br />

humana com enredo baseado em relatos de autores da antiguidade grega ou<br />

latina, suas personagens faziam invariavelmente dois pares de namorados e<br />

várias figuras secundárias com atos de heroísmo e cenas variadas divididas<br />

em três atos alternados por recitativos e árias. Os coros e duetos ainda eram<br />

raros.<br />

A tradicional escola italiana tem na sua origem os princípios e preceitos<br />

pedagógicos e de reflexão, com o objetivo de buscar a perfeição vocal. Iniciou<br />

como um grupo de cinco escolas em diferentes cidades Italianas - Nápoles,<br />

Roma, Bolonha, Florença e Veneza.<br />

O crescente interesse pela voz solista, aconteceu justamente em função<br />

do surgimento da ópera, trazendo assim, importantes tratados de canto que<br />

discorriam sobre a estética do bel canto como: Opinione de´ cantori antichi e<br />

moderni, o sieno osservazione sopra eu canto figurato, de Píer Tosi, escrito em<br />

1723; Pensieri e riflessioni pratiche sopra il canto figurato, escrito em 1774 por<br />

de Giambattista Mancini e Traité complet sur l´art. du chant, escrito em 1847<br />

por Manuel P. R. Garcia. O bel canto foi um estilo que preconizou o uso dos<br />

vocalizes, a colocação da voz na "máscara", variedade de timbres, dicção<br />

expressiva e maleável, valorização das inflexões e sólido trabalho respiratório.<br />

Bel Canto (belo canto) termo que se acredita ter sido criado por Giulio Cassini em<br />

41


1610, refere-se a um estilo de canto de floreado e fraseado elegantes. Sobrepondo-se à<br />

dramaticidade, esteve em voga na Itália dos séculos XVII a XIX. Alguns dos grandes<br />

compositores que adotaram o gênero foram Puccini e Alessandro Scarlatti, além do mais<br />

recente Bellini. Conquistou instrumentistas como Chopin, pois segundo Mário de Andrade,<br />

serão os instrumentos que, grandemente influenciados pelo bel canto, cairão no exaspero<br />

da virtuosidade, em referência explícita ao compositor polonês, Paganini e Liszt.<br />

(DOURADO, 2004, p. 48)<br />

O virtuosismo do Bel Canto obrigou os cantores a se adaptarem a uma<br />

forma diversa de respiração, de dicção e do uso da voz para a interpretação<br />

dramática.<br />

Bel Canto denomina toda uma tradição vocal, técnica e interpretativa da<br />

Ópera italiana. Gioacchino Rossini, Gaetano Donizetti e Vicenzo Bellini,<br />

Giuseppe Verdi, Gaetano Spontini, Giacomo Meyerbeer, representaram o bel<br />

canto em suas obras.<br />

Por muito tempo acreditava-se que o Bel Canto era uma escola que<br />

enfatizava, principalmente, o virtuosismo vocal, em detrimento do drama e do<br />

canto expressivo. Centenas de óperas foram escritas nessa tradição para<br />

verdadeiras lendas do canto lírico como Giuditta Pasta, Maria Malibran e Giulia<br />

Grisi.<br />

Em seu tratado de canto, Píer Tosti afirma que os antigos cantavam<br />

árias em três estilos diferentes: para se cantar no teatro, vívido e variado; para<br />

música de câmara, delicado e fino e para cantar na igreja, afetuoso e grave. No<br />

decorrer do sáculo XVIII este tipo de diferenciação foi caindo em desuso. Já no<br />

tratado de canto de Garcia, é possível confirmar esta tendência, além disso, ele<br />

descreve que é a natureza da composição que deve determinar a escolha de<br />

um dos estilos denominados por Garci da seguinte maneira:<br />

-Estilo spianato (canto simples ou canto amplo) - lento e simples, não<br />

permite aspiração entre as notas ou muito floreios de agilidade para manter um<br />

som sustentado e ligado. Estilo característico das músicas de Bellini e Rossini;<br />

42


Canto florido - abundante em ornamentos e cores, permite ao cantor<br />

mostrar a fertilidade de sua imaginação a agilidade vocal;<br />

Canto de agilidade - movimento rápido de notas em escalas, arpejos e<br />

trilos com execução eleve e voz medida;<br />

Canto di maniera e canto di porta mento - estilo elegante a delicado sem<br />

muita potência ou brio;<br />

Canto di bravura - é o canto de agilidade adicionando poder e paixão;<br />

Canto declamatório - estilo dramático e quase silábico.<br />

Estilo falado - monossilábico, requer que as palavras sigam uma a outra<br />

muito rapidamente e com perfeita calreza;<br />

Recitativo - dividido em três tipos:<br />

De igreja ou sacro - deve-se cantar adequadamente à santidade do local, com<br />

seriedade, messa de você, apojaturas e nobreza;<br />

Te atral - acompanhado pela ação do cantor, com bela representação;<br />

De câmara - expressões apaixonadas e com trilos;<br />

Recitativo falado - usado na ópera cômica, é silábico, mas alguns<br />

cantores conseguem introduzir uma certa variedade na forma e no movimento<br />

das sentinelas dos recitativos, presentes em músicas de Mozart.<br />

Recitativos Instrumentado - pode ser livre ou mensurado, expressa<br />

sentimentos nobre ou patético e deve ser cantado num estilo amplo e<br />

sustentado.<br />

Assim como os estilos de cantos variam de acordo com sua época ou<br />

compositor, é assim também com relação a pronúncia, o fraseado e a<br />

expressão textual.<br />

A técnica vocal e os estilos interpretativos se ajustaram às mudanças<br />

estilísticas de suas respectivas épocas, assim como às mudanças de valores.<br />

Em determinados períodos da história da evolução musical a busca pela<br />

improvisação era maior do que a busca pela técnica vocal, em outros tempos,<br />

buscava-se com mais vigor a expressão ou a virtuosidade do cantor.<br />

Ao cantor moderno, cabe identificar estes valores e estas mudanças<br />

43


traduzindo textos e estilos de escrita que por vezes é estilizada e poética e<br />

outras vezes tem objetivo claro e direto. Isto acontece porque já que os fatores<br />

sociais refletem diretamente na composição, no movimento iluminista, por<br />

exemplo, que primava por uma música mais natural e realista, fez com que a<br />

música do começo do século XVIII fosse mais estilizada do que a música do<br />

começo do século XIX. A interrelação entre história, texto, música, técnica<br />

vocal, a arte do canto e a literatura admitem mudanças diretas nas óperas, nos<br />

libretos e nos estilos.<br />

Muitas mudanças nos ideais estéticos da sonoridade vocal foram<br />

observadas ao comparar os tratados de Tosi, Mancini e Garcia. Tosi, dá mais<br />

importância ao conhecimento musical, que permite ao cantor improvisar e<br />

embelezar as músicas do que propriamente à beleza da voz. Mancini, acredita<br />

que estas qualidades devem ser equilibradas, mas os dois concordam que<br />

flexibilidade, suavidade, redondeza, igualdade e claridade vocais, entoação e<br />

ornamentação perfeitas, precisão métrica, bom gosto, expressão e criatividade,<br />

são os pontos cruciais da arte do canto.<br />

Preocupado com o tamanho e a natureza das salas de concerto, Manoel<br />

Garcia acredita que o artista deve mudar a maneira habitual de cantar, já que<br />

desde o final do século XVIII, as salas e as orquestras aumentaram, exigindo<br />

do cantor maior projeção vocal.<br />

Para Garcia, os primeiros compositores românticos de ópera<br />

consideravam os antigos intensificadores musicais (movimento rítmico e<br />

floreado) limitados demais, e assim passaram a enfatizar mais um recurso que<br />

quase não foi explorado anteriormente, a intensidade sonora. Ao mesmo<br />

tempo, os compositores expandiram o vocabulário expressivo incluindo<br />

agilidades ou amplitudes. Dificilmente se encontra as duas qualidades no<br />

mesmo cantor: amplitude e flexibilidade. À partir daí, os cantores ficaram<br />

obrigados a se especializarem e se prepararem como tipos líricos ou<br />

dramáticos.<br />

44


Para Pacheco, não podemos entender com isso que a música anterior ao<br />

romantismo não se servisse da dinâmica como recurso expressivo. Certamente se<br />

servia, mas nunca na mesma escala da música romântica. Pela primeira vez,<br />

alguns cantores, que acabaram sendo conhecidos como dramáticos,<br />

abandonaram a agilidade e a suavidade da voz cultivadas no Bel Canto em troca<br />

de um som mais pesado, vigoroso e escuro, que melhor satisfizesse as<br />

necessidades do repertório dramático do século XIX. (PACHECO, 2006, 147)<br />

Desde os teóricos medievais, até os de hoje, muito se discute acerca<br />

dos registros vocais, mas este assunto ainda está longe de um consenso entre<br />

os profissionais de canto.<br />

Nos anos 50, Maria Callas, a maior diva de todos os tempos, resgatou<br />

óperas há muito não representadas, como Anna Bolena, de Gaetano Donizetti,<br />

e Armida, de Gioacchino Rossini. Assim, Callas redescobriu o real valor<br />

dramático do Bel Canto, cuja base está no uso expressivo das cores vocais, do<br />

legato e da coloratura.<br />

O trabalho de redescoberta do Bel Canto nos anos 60 ficou por conta<br />

especialmente, de Joan Sutherland, Montserrat Caballé, Leyla Gencer, Beverly<br />

Sills, Renata Scotto. Desde então, as óperas do Bel Canto foram voltando ao<br />

repertório, e hoje este é um dos estilos operísticos mais aclamados nas<br />

grandes casas de Ópera.<br />

Maria Callas descobriu desde os 13 anos os segredos do Bel Canto com<br />

Elvira de Hidalgo, sua professora, que também foi uma cantora brilhante,<br />

destacando-se por sua voz e técnica perfeita. Atuou do começo do século até o<br />

final de 1920. Cantou em no Covent Garden, na Ópera Metropolitan de Nova<br />

York, em Atenas e na Turquia.<br />

No Bel Canto é preciso manter a voz flexível e leve, estudar de maneira<br />

incessante as escalas, os trinos e os adornos.<br />

45


Callas compara o trabalho de um cantor belcantísta ao estudo de piano,<br />

onde num primeiro momento toca-se as escalas lentamente, aumentando aos<br />

poucos a velocidade, incluindo escalas ascendentes e descendentes, tons,<br />

semitons e arpejos. O cantor deve vocalizar as escalas diariamente, como um<br />

atleta, que desenvolve sua musculatura gradualmente.<br />

Além disso, Callas acreditava que para se obter a perfeição de uma<br />

ópera, seria necessário que se exercitasse a dicção dos recitativos, que<br />

geralmente introduzem as árias, "antigamente o público saía no meio da ópera,<br />

comiam, bebiam, riam do lado de fora e só voltavam à sala para as grandes<br />

árias". Hoje isso não acontece, os recitativos são muito bonitos e de difícil<br />

execução.<br />

A típica voz italiana tem por característica ser projetada e extrovertida, a<br />

direção não chega a ser vertical e nem horizontal, tende-se a impressão de<br />

uma direção oblíqua, Apresenta todo o espectro de harmônicos, do grave ao<br />

agudo com timbre claro. As bases do canto italiano são o apoio que se situa<br />

na região do diafragma e a respiração.<br />

As grandes frases musicais, inicialmente eram sustentadas pelo apoio<br />

respiratório, tanto para as declamações, como para o virtuosismo vocal,<br />

presentes nas óperas dos séculos XVII e XVIII. Mas este estilo floreado foi<br />

substituído pelo canto ligado e projetado em intensidade entre os séculos XIX e<br />

XX. Isto ocorreu por dar-se prioridade ao fluxo de ar respiratório e não à<br />

agilidade glótica.<br />

No fim do século XVIII e início do XIX, foi divulgado o mecanismo de<br />

cobertura da voz, que consiste na expansão da parede faríngea pelo<br />

abaixamento da laringe, arqueamento do véu palatino e abaixamento do dorso<br />

da língua, o que resulta num escurecimento vocal, ou seja, o espaço da<br />

ressonância acústica aumenta e os sons produzidos tornam-se mais<br />

harmônicos, cheios e pesados. Assim, o cantor pode expandir o registro sem<br />

alteração do timbre vocal, o que anteriormente era feito através de falsete.<br />

46


Segundo (DOURADO, 2004, p. 128), "falsete é uma técnica também conhecida omo voz<br />

de cabeça, consiste no emprego de um modo de vibração reduzido das cordas vocais e simula,<br />

principalmente no canto adulto masculino, vozes tipicamente femininas. O falsete já era comum<br />

na Itália da Idade Média, período em que os homens substituíam com essa técnica o contralto, voz<br />

feminina mais grave e rara. Recurso bastante usado por contratenores, ainda nos dias de hoje o<br />

falsete tem sido empregado com frequência também na música popular (Beatles, Milton<br />

Nascimento, Earth, Wind and Fire, Edson Cordeiro, Mutantes, Bobby Mc Ferrin, Bee Gees)".<br />

Na escola italiana é preconizada a modificação gradual das vogais,<br />

dependendo da região em que se canta. O ajuste flexível do trato vocal deve<br />

ser permitido de forma a definir todas as vogais, em qualquer nível de pitch,<br />

que é a sensação auditiva que possuímos sobre a altura da voz, que pode ser<br />

classificado em grave, médio ou agudo.<br />

O compositor e regente italiano Florentino Giovanni Lulli (1632-1687), foi<br />

o primeiro orientador dos cantores líricos da França, no século XVII. Lulli se<br />

utilizava do Méthode du Conservatoire de Paris, que foi em grande parte,<br />

redigido por outro italiano, Bernardo Mengozzi (1758-1800), este método<br />

consistia em solfejos, ou seja, entoar as notas musicais nas alturas e tempos<br />

corretos, cantados da tradição belcantista.<br />

Manuel Garcia Júnior (1805-1906), autor do célebre Traité complet de<br />

l'art du chant (1840), foi o maior responsável pela influência do bel canto sobre<br />

os franceses, o que não impediu que os mestres e cantores franceses<br />

buscassem uma forma de cantar mais apropriada à fonética da língua francesa<br />

que é eminentemente nasal. Os franceses demonstravam grande preocupação<br />

com a interpretação do texto cantado, com dicção clara e precisa, além do<br />

interesse por estudos e discussões científicas sobre a fisiologia do aparelho<br />

fonador, o que resultou em vasta literatura acerca da respiração e fonética, em<br />

geral.<br />

Direção horizontal (boca e lábios), por ser um idioma nasal e sobretudo<br />

dicção bem cuidada, são as características da escola francesa, que valoriza<br />

47


muito a compreensão do texto cantado, sacrificando a qualidade na emissào de<br />

voz por falta de sustentação e falta de apoio.<br />

A bela expressão do canto francês, fica por conta do idioma que é rico<br />

em vogais. A dificuldade, contudo, está na emissão das consoantes nasais que<br />

não beneficiam o timbre e o alcance vocal.<br />

Na primeira metade do século XVII, os alemães importaram a ópera<br />

italiana. Aos poucos excelentes métodos de canto foram desenvolvidos pela<br />

escola alemã, adequados ao seu vasto repertório. O desenvolvimento da<br />

escola vocal alemã progrediu de acordo com as características do idioma<br />

gutural e carregado de consoantes, o que resulta numa sonoridade escura de<br />

ressonância posteriorizada e voz fortemente encoberta.<br />

Na segunda metade do século XIX novos ideais estéticos começaram a<br />

florescer. Assim, nasceram outras formas de performance vocal como o Lied<br />

Alemão, por exemplo, que é a música de câmara romântica.<br />

A voz alemã tem direção vertical, ressonância faríngea, algumas vezes<br />

velada. Tem-se a sensação auditiva de entubamento sonoro, ou seja, voz na<br />

região posterior da boca, palato arqueado e laringe baixa. A dicção da língua<br />

alemã pode ter projeção vocal posteriorizada pela grande quantidade de<br />

consoantes posteriores. A respiração é abdominal e inferior, sendo que o ar<br />

está apoiado verticalmente sobre os músculos abdominais e a laringe mantêmse<br />

baixa com aumento de pavilhão faríngeo e elevação do véu palatino. Assim,<br />

a voz soa vertical, redonda e quase sem vibrato.<br />

DOURADO ( 2004, p. 353) refere-se ao vibrato, da seguinte maneira:<br />

"Vibrato - técnica e efeito ornamental que consiste na alteração da frequência de<br />

uma nota, baixando a afinação e retorando rapidamente à altura anterior. Empregado<br />

como elemento expressivo, é de grande valor para o interprete, surge quase naturalmente<br />

entre cantores e, geralmente, por estudo técnico entre os instrumentistas de cordas e<br />

sopros..."<br />

48


As dificuldades da língua alemã, em razão das inflexões consonantais<br />

que alteram a vocal, fazem com que os sons produzidos se tornem redondos e<br />

com pouco brilho, além de sacrificar o timbre em relação aos harmônicos<br />

agudos.<br />

Richard Wagner, por exemplo, caracteriza-se por ser um compositor de<br />

formas difíceis, pesadas e de difícil compreensão, assim, as óperas de Wagner<br />

na Itália, em geral eram montadas no idioma italiano. Contudo, Maria Callas<br />

dizia que bem cantada, uma ópera de Wagner, nunca prejudicaria nenhuma<br />

voz, desde que se cante com leveza (in<strong>formação</strong> verbal).<br />

No Romantismo, período da história da música convencionado do final<br />

do século XVIII até a primeira década do século XX. Na Alemanha, teve a<br />

influência do Fausto, de Goethe, sobre compositores como Beethoven,<br />

Schubert e Schumann, misturando idéias fantasiosas, sensuais e misteriosas.<br />

Também se renderam ao Romantismo compositores como Mendelsohn,<br />

Brahms, Weber e Wagner.<br />

Desde a Antiguidade a música sempre esteve intimamente ligada ao<br />

homem, seja nas funções auxiliares do trabalho, nos cultos religiosos, nas artes<br />

ou na dança. A historia da musica religiosa na Idade Média quase se confunde<br />

com a historia do canto. Na liturgia deste período o canto assumiu um papel<br />

muito importante, prova disso é o fato de que as composições dos textos<br />

cantados eram moduladas especificamente para a fácil memorização e<br />

viabilidade vocal por parte dos fiéis.<br />

O crescente desenvolvimento da música instrumental, não fez com que<br />

o a voz perdesse importância no cenário musical, pelo contrário, colaborou<br />

para que o canto ganhasse novas formas de expressão, tanto na música sacra<br />

como na música profana, e assim, paralelamente ganhou novas possibilidades<br />

técnicas. O desafio no campo da voz humana sempre gerou em torno de<br />

dominar o desenvolvimento técnico.<br />

49


No final do Renascimento, o desenvolvimento da arte de construção de<br />

instrumentos foi muito grande em diversas corte da Europa. Em Ferrara, a<br />

Casa D’Este mantinha um grande numero de Luthiers com a incumbência<br />

explicita de construir os instrumentos que lhe fossem pedidos pelos<br />

compositores. Assim, surgiram instrumentos extremamente curiosos, ágeis e<br />

conjuntos instrumentais mais homogêneos. Aliada a uma outra tendência da<br />

época, de procurar uma expressão mais solística do texto a ser cantado,<br />

surgiram ali os celebres CONCERTI DI DONNE, nos quais havia a tendência<br />

de desenvolver uma técnica de canto mais ágil, capaz de aproximar a voz da<br />

performance instrumental. Em toda a evolução posterior do canto, esta<br />

tendência se manteve, seja nos processos de ornamentação dos períodos<br />

barroco e clássico, seja nas performances improvisadas das cadencias na<br />

Ópera ou mesmo no século XX, onde as tortuosas curvas melódicas do<br />

atonalismo exigem do cantor extrema agilidade.<br />

O desenvolvimento instrumental sempre esteve ligado às mudanças<br />

vocais. Desde o final da Idade Média os conjuntos instrumentais começaram a<br />

se tornar mais numerosos, até chegar as grandes orquestras Wagnerianas.<br />

Deste modo, se fez necessária uma adaptação dos cantores no sentido de<br />

conseguir volume para se equiparar ou se sobressair a esta enorme orquestra.<br />

O profissional do canto desde a Idade Média até o século passado era<br />

obrigado a aprender a arte dos mestres unicamente pela imitação, prática esta<br />

que se reflete ainda nos dias de hoje. É muito comum no campo da educação<br />

musical, encontrarmos professores que lançam mão da ciência, estudando e<br />

procurando aplicar o conhecimento fisiológico na sua própria pessoa, para<br />

depois repassar aos seus alunos, encurtando deste modo o tempo de estudo e<br />

tornando o estudo do canto mais intuitivo. Ainda hoje, alunos de canto que já<br />

percorreram diversas experiências com diferentes professores, ainda não<br />

adquiriram uma verdadeira noção do mecanismo do canto.<br />

Na antiga Grécia, muitos deuses eram venerados, entre eles, Dionísio,<br />

aquele que além de favorecer a fertilidade, ensinou os homens a cultivar a<br />

50


videira e a fabricar o vinho. Assim, por volta do século VII a.C. , quando<br />

diversas homenagens eram feitas ao Deus Dionísio, sempre com muita dança,<br />

cortejos, cantoria, sacrifícios de animais e bebidas, surgiu um hino chamado<br />

ditirambo.<br />

O ditirambo, segundo FEIST (2005,5), é um hino cujo texto era<br />

improvisado pelos próprios devotos de Dionísio. O texto falava sobre a história<br />

de Dionísio, que os devotos conheciam muito bem. No início, o ditirambo era<br />

entoado por um coro, formado por coreutas. Com o passar do tempo, o coro se<br />

dividiu em dois, que dialogavam entre si através de perguntas e respostas<br />

acerca do deus do vinho. O corifeu era um personagem que se destacava por<br />

assumir o comando do diálogo.<br />

Téspis foi um corifeu, que no século VI a.C. durante uma celebração, se<br />

arriscou a interrompê-la gritando: “Eu sou o Dionísio!”. E como se fosse mesmo<br />

o Deus Dionísio, Téspis passou a representá-lo com interpretações dramáticas,<br />

alegres e tristes. Com isso, de acordo com FEIST (2005,6), inventou o teatro e<br />

passou a viajar pela Grécia numa carroça cheia de máscaras, perucas, trajes e<br />

tudo de que precisava para interpretar, sozinho, as personagens das peças que<br />

escrevia sobre Dionísio.<br />

Mais tarde, outros tragediógrafos foram surgindo contado histórias<br />

vividas por heróis e heroínas humanos ou mitológicos. Ésquilo (c.525-456a.C.),<br />

por exemplo, foi considerado o “pai da tragédia”, já que além do texto, Ésquilo,<br />

introduziu no espetáculo máscaras de tecido, cortiço ou madeira, com<br />

expressões de alegria, tristeza, raiva, espanto, etc. Os coreutas trocavam as<br />

máscaras na frente do público, durante o espetáculo para demonstrar sua<br />

expressão.<br />

Os romanos admiravam demais as manifestações artísticas gregas,<br />

assim, quando o Império Romano conquistou a Grécia, no ano 146 antes de<br />

Cristo, procurou manter e imitar tudo o que era feito pelos autores gregos. No<br />

século V da Era Cristã, o teatro quase que desapareceu da Europa com a<br />

51


queda do Império Romano. Mas logo foi ressurgiu no continente europeu com a<br />

Igreja Católica, peças baseadas na Bíblia, escritas em latim pelos padres e<br />

encenadas por eles mesmos no interior da igreja, com o objetivo de instruir e<br />

fortalecer a fé dos católicos. No século XII, as peças já eram escritas na língua<br />

falada pela população da época, o vernáculo. Aos poucos os temas<br />

começaram a citar elementos profanos, sendo então, representados não mais<br />

nas igrejas, e sim nas praças públicas.<br />

Willliam Shakespeare (1564 – 1616), considerado um dos maiores<br />

dramaturgos da história, surgiu durante o governo de Elizabeth I (1533 – 1603),<br />

na fase em que a Inglaterra se firmava uma umas grandes potências mundiais.<br />

Shakespeare além de escritor que buscava inspiração nas crônicas<br />

históricas e nas obras de outros autores, foi um ator muito ovacionado e<br />

acionista de uma grande companhia teatral. Procurava agradar o público<br />

seguindo as tendências do momento, misturava sempre elementos cômicos e<br />

trágicos, punia os malvados e assim, ganhou prestígio e popularidade, além de<br />

muito dinheiro.<br />

Muitas das peças de Shakespeare estrearam no Globe Theatre, um<br />

edifício de madeira em formato octogonal, construído de acordo com o modelo<br />

vigente na época elizabetana, em 1599.<br />

As inglesas da época elizabetana, assim como as gregas antigas, só<br />

tinham acesso ao teatro como espectadoras, assim, todos os papéis, inclusive<br />

os femininos, eram interpretados por homens. Na platéia, havia lugares para o<br />

público menos favorecido, que assistiam ao espetáculo de pé, e as cadeiras<br />

eram reservadas ao público de maior poder aquisitivos.<br />

Em 1613, o Globe Theatre sofreu um incêndio, no ano seguinte foi<br />

reconstituído, mas acabou sendo demolido em 1644. Existe hoje, uma réplica<br />

desse teatro, feita pelos ingleses em 1990, está localizada perto do local onde<br />

se situava originalmente, à margem do Rio Tamisa.<br />

52


Durante muitos anos os tragediógrafos franceses do século XVII<br />

buscavam imitar os textos das manifestações artísticas da Grécia antiga.<br />

Acontece que algumas décadas antes, em Florença, na Itália, um grupo de<br />

escritores, músicos e intelectuais tentavam reconstituir a tragédia grega em<br />

forma de espetáculo.<br />

O que se sabia na época, através de livros, é que os espetáculos gregos<br />

eram feitos com muita música instrumental e vocal (solos e coros).<br />

Infelizmente, não havia a menor idéia de como tudo isso acontecia na prática,<br />

dois mil anos antes. Assim este grupo de Florença acabou inventando,<br />

segundo FEIST (2005, 41), um gênero teatral inteiramente novo e<br />

absolutamente genial: a ópera.<br />

A ópera, de acordo com DOURADO (2004, 233), “é uma obra que combina<br />

musica, teatro, poesia, e artes visuais e que se originou provavelmente no<br />

intermède (surgido no Renascimento, o termo chegou ao período Barroco com<br />

referência à música que não é necessariamente relacionada com o tema da obra<br />

principal e costuma ser dançada entre as partes maiores de um espetáculo<br />

completo) e no balé dos anos 1500. Orfeu (1607), de Monteverdi, foi<br />

provavelmente o marco inicial, e a partir dele quase todos os grandes<br />

compositores da história criaram óperas: De Handel a Beethoven, Lully a Phillip<br />

Glass, de Gluck a Prokofiev, e Puccini a Stravinsky".<br />

A ópera é então, uma peça cantada com acompanhamento de<br />

orquestra. Em determinados momentos, as vozes abrem espaço para que a<br />

orquestra de mostre exclusiva.<br />

Os nobres encomendavam óperas para comemorar vitórias, coroações,<br />

festejar boda, nascimento ou por simples distração. Os compositores eram<br />

pagos por isso, e assim que recebiam a encomenda, começa a pesquisa em<br />

busca de temas adequados à ocasião. Estes temas, em geral, vinham<br />

inspirados da mitologia grega ou romana, da história antiga ou da Bíblia.<br />

Ao compositor era permitido utilizar um texto, que chamamos de libreto,<br />

53


que havia sido explorado antes, contratar um dramaturgo, ou escrever de<br />

próprio punho. Com a evolução, os compositores dispunham de libretistas, que<br />

eram os especialistas em escrever textos para as óperas e assim, se<br />

dedicavam apenas à parte musical.<br />

Na época em que a ópera era um entretenimento tão popular e<br />

corriqueiro, quanto o cinema é hoje, a platéia tinha o hábito de manter em<br />

mãos o libreto da ópera impresso, para que pudessem acompanhar a história.<br />

Na atualidade, todos os teatros exibem legendas durante o espetáculo.<br />

Com o movimento conhecido como Romantismo do século XIX, os<br />

libretos giravam em torno das idéias de igualdade, liberdade, patriotismo,<br />

nacionalismo e predomínio dos sentimentos sobre a razão. A Idade Média<br />

também foi fonte de inspiração de muitas óperas, já que foi no período<br />

medieval que grande parte dos países europeus se consolidou como nações<br />

independentes. Os amores impossíveis, regados a muita tragédia e sangue são<br />

alvos certos de qualquer período histórico.<br />

As óperas, em geral, contam com um número grande de cantores, sendo<br />

os solistas personagens principais e o coro representando cortesãos, soldados,<br />

camponeses, habitantes locais entre outros. O papel interpretado pelo cantor,<br />

depende de sua classificação vocal. Por exemplo, a soprano, que tem a voz<br />

mais aguda, costuma ser a mocinha; a mezzo-soprano, com sua voz mais<br />

grave, é a inimiga ou mãe da mocinha, ou ainda a rainha, a mulher fatal e<br />

algumas vezes um adolescente; o tenor, que é uma voz masculina e aguda,<br />

geralmente é o mocinho; o barítono, voz grave, interpreta o pai, o vilão ou o<br />

rival e o baixo, que é a mais grave das vozes, é o rei, o profeta, etc.<br />

Em meados do século XVII, com a evolução da ópera, foi acrescentada<br />

a abertura orquestral. Nesta mesma época, os italianos inventaram um edifício<br />

teatral próprio para as montagens das óperas. O palco fica num plano elevado<br />

em relação aos espectadores e os músicos da orquestra, se posicionam no<br />

poço. O poço é um espaço inferior ao nível do palco e separado do público por<br />

54


um anteparo. No centro do anteparo, fica o estrado ou o pódio, lugar de onde o<br />

maestro rege a orquestra e os cantores.<br />

No início do século XVIII, as árias, que são parte da obra escritas para<br />

os cantores solistas, foram crescendo, assim como a complexidade de enredos<br />

e cenas. Segundo DOURADO (2004,233), compositores como Scarlatti,<br />

consolidaram a forma da ópera italiana: a abertura, três atos e coro final com o<br />

elenco completo.<br />

Na ópera Alemã, encontramos reverências à ópera italiana em suas<br />

cortes, mas também havia uma imposição da introdução da língua germânica<br />

nos textos, assim, caiu no gosto popular e rompeu a hegemonia italiana.<br />

Surgiram então, em contraposição à chamada ópera séria, a ópera buffa, como<br />

o Barbeiro de Sevilla, de Rossini; a ópera cômica, como Carmen, de Bizet; e o<br />

singspel alemão, como por exemplo, O Rapto do Serralho e A Flauta Mágica,<br />

de Mozart.<br />

Um grande marco da ópera alemã foi a obra Tristão e Isolda, de Richard<br />

Wagner. Esta ópera rompeu a linha evolutiva da ópera romântica alemã.<br />

Richard Wagner escrevia dramas monumentais que faziam interagir diversas<br />

formas de arte, como acontece em O Anel do Nibelungo. Rompeu não só com<br />

a tradicional ópera italiana, mas também com toda a linha filosófica e estética<br />

da música ocidental do século XIX.<br />

No Brasil, graças à prosperidade do ciclo da borracha, foi construído em<br />

Manaus o luxuoso Teatro Amazonas e em seguida, o Teatro Municipal do Rio<br />

de Janeiro na virada do século como escala natural no trajeto das companhias<br />

européias que se dirigiam ao Cólon portenho. Em 1911, com o emprenho dos<br />

barões de café paulistano que pressionavam a municipalidade, foi inaugurado o<br />

Teatro Municipal de São Paulo. Obra de Ramos de Azevedo e Domiciano<br />

Rossi.<br />

Carlos Gomes, nascido em Campinas, foi o maior compositor brasileiro<br />

55


de óperas. Alcançou notoriedade na Europa com obras como Il Guarany<br />

(1870), Fosca (1873) e Lo Schiavo (1889). Camargo Guarnieri, paulista da<br />

Tietê interiorana, compôs Pedro Malazarte (1932) e Eleazar de Carvalho<br />

escreveu uma precoce A descoberta do Brasil (1938), e Tiradentes (1940).<br />

Villa-Lobos escreveu Yerma (1958) e Jorge Antunes compôs Olga (entre 1987<br />

e 1997).<br />

Alguns exemplos de estilos, compositores e cantores:<br />

Barroco<br />

Compositores - Claudio Montoverdi (1567-1643), Henry Purcel (1659-95) e<br />

George Frideric Handel (1685-1759),<br />

Cantores - Francesca Caccini, Francesco Rasi, Anna Renzi, Marthe Le Rochos,<br />

Giovanni Siface (castrado), Barbara Strozzi, Faustina Bordoni, Giovanni<br />

Carestini, Farncesca Cuzzoni, Farinelli (castrado) e Anna Maria Strada Del Pó.<br />

Clássico<br />

Compositores - Wolfgang Amadeus Mozart (1756-91), Joseph Haydin (1732-<br />

1809) e Antonio Salieri (1750-1825).<br />

Romântico<br />

Compositores - Ludwig van Beethoven (1770-1827), Carl Maria Von Weber<br />

(1786-1826), Gioachino Rossini (1792-1868), Vincenzo Bellini (1801-35),<br />

Gaetano Donizete (1797-1848).<br />

Alto Romantismo<br />

Compositores - Giuseppe Verdi (1813-1901), Richard Wagner (1813-1883),<br />

Georges Bizet (1838-75), Pyor Ilyich Tchaikovsky (1840-93), Jacques<br />

Offenbach (1819-80), Giacomo Puccini (1858-1924), Richard Strauss (1813-<br />

83), Jules Massenet (1842-1912), Claude Debussy (1862-1918), Pietro<br />

Mascagni (1863-1945), Alban Berg (1885-1935), Benjamim Briten (1913-76),<br />

Leos Janácek (1854-1928), Igor Stravinsky (1882-1971), Béla Bartók (1881-<br />

1945), Paul Hindemith (1895-1963), Gian Carlo Menotti (B.1911), Maurice<br />

Ravel (1875-1937).<br />

56


LUCIA DE LAMMERMOOR<br />

Benito Maresca, aos seis anos de idade, já cantava a ária La donna è<br />

móbile, da Ópera Rigoletto, de Giuseppe Verdi.<br />

Seu pai o ensinou a cantá-la, com palavras pornográficas, e quando os<br />

amigos o visitavam, na Rua Xavier de Almeida, no Bairro do Ipiranga, para<br />

jogar pôquer nos finais de semana, Benito ficava embaixo da mesa e cantava<br />

como o pai o havia ensinado.<br />

Benito sempre se interessou por música. Por isso, um vizinho, que<br />

construía instrumentos musicais, como cavaquinho, bandolim, violão, permitiu<br />

que Benito o auxiliasse no lixar dos instrumentos.<br />

Certo dia, o vizinho se mudou. Mas, deixou um bandolim de presente<br />

para Benito e ensinou as posições dos acordes no instrumento, para que<br />

Benito aprendesse a tocar sozinho. E eu aprendi. Só que minha mãe me<br />

quebrou o instrumento na cabeça, de tanto que eu tocava o dia todo estudando<br />

(depoimento pessoal).<br />

Por volta dos 12 ou 13 anos, começou a dar sinais a seu pai de que<br />

queria estudar música. Primeiro, se interessou pelo piano; depois, pelo violino.<br />

Mas, quando falava com seu pai a respeito, a única resposta que recebia era:<br />

Isso é coisa de vagabundo! Música é coisa de vagabundo! Vá estudar<br />

engenharia! (depoimento pessoal)<br />

Sonhava seu pai com um engenheiro mecânico. Eu consertava tudo<br />

dentro de casa, inclusive nas casas dos vizinhos, mas claro, sem cobrar nada,<br />

como agradecimento eles me enchiam de doces e todos os tipos de bolinhos<br />

(depoimento pessoal).<br />

Mas, a música, realmente, o atraía.<br />

57


Um dia meus pais foram assistir a um filme chamado La estrada del<br />

bosco, A estrada do bosque. Participava do filme um barítono, muito<br />

bom, chamado Gino Bechi. Ele cantava canções e trechos de<br />

óperas. Interessei-me pelos trechos de ópera, além do das canções.<br />

Então, fui sozinho assistir esse filme. Aos seis anos, eu já ia à<br />

cidade sozinho e, com 12 anos, eu já trabalhava como office boy<br />

(depoimento pessoal)<br />

Depois de ter visto ao filme “La estrada del bosco”, Benito passou a<br />

imitar Gino Bechi. Sua voz também procurava ser a de um barítono. Aliás,<br />

naquela época, queria muito ser barítono, mas ainda não tinha idade suficiente<br />

para iniciar seus estudos de canto.<br />

Somente aos 16 anos, Benito conheceu o tio de um amigo, um cantor<br />

que fazia na época pequenos papéis no Teatro Municipal de São Paulo.<br />

Chamava-se Alfredo Viola e tinha o apelido de Tidoca.<br />

Pedi para o Tidoca dar aulas pra mim e para um amigo, que era dois<br />

anos mais velhos do que eu. O Tidoca disse que nos daria aulas,<br />

mas que utilizaria o piano da casa da noiva. Ele deu umas três ou<br />

quatro aulas; brigou com a noiva e não pôde mais usar o piano.<br />

Então, sugeriu que eu procurasse Emilia Vitale que, segundo ele,<br />

era uma grande cantora e professora (depoimento pessoal).<br />

No ano de 1949, começou a trabalhar como office boy, na General<br />

Motors.<br />

E quando completou um mês de aulas com a professora Emilia Vitale,<br />

levou seu pai para assistir a uma delas.<br />

Meu pai com muita má vontade foi comigo e a mulher dizia que eu<br />

tinha voz de barítono, me elogiou, elogiou (...) eu não engoli a pílula<br />

e, quando eu saí, meu pai disse: “ma tu sei um cretino!”. Eu<br />

respondi: você tem razão papà, ela não é uma grande professora e<br />

não entendeu nada da minha voz e nem vai me ensinar a cantar, eu<br />

vou sair daqui (depoimento pessoal).<br />

Maresca desistiu de comparecer às aulas da professora Emilia. Um<br />

amigo, que também trabalhava na General Motors, o levou à casa de uma<br />

58


professora chamada Elena Fantini Bruno. Para Benito, um nome pomposo<br />

(depoimento pessoal).<br />

Eu fui e perguntei se ela poderia me ouvir, para dizer se eu tinha<br />

condições de estudar ou não. Ela disse está bem; aí eu cantei meio<br />

trecho de tenor, porque eu não alcançava os agudos de jeito<br />

nenhum. Quando eu terminei de cantar e perguntei o que ela<br />

achava, ela desanimada disse: “sabe, você tem voz de padre”. Eu<br />

perguntei como padre? Ela respondeu que eu só poderia cantar<br />

papéis muito pequenos e que eu nunca poderia fazer carreira de<br />

cantor. Respondi, mas a senhora me aceita como aluno? E ela<br />

aceitou (depoimento pessoal).<br />

Certo dia, num almoço na casa de sua madrinha, que morava com uma<br />

senhora amiga, foi questionado por esta senhora sobre a professora de canto.<br />

A amiga de sua madrinha queria saber quem era a professora.<br />

Benito respondeu que era uma grande cantora, chamada Elena Fantini<br />

Bruno. A senhora se surpreendeu e pediu para que ele repetisse o nome da<br />

grande cantora e justificou indignada que Elena Fantini Bruno não foi uma<br />

cantora erudita, mas sim uma bailarina-corista da terceira fila do teatro de<br />

revista. Cantava e dançava lá atrás, na terceira fileira. O marido dela, sim, teve<br />

uma boa voz de barítono e chegou a fazer pequenos papéis no Teatro<br />

Municipal de São Paulo e cantou muito em casamentos.<br />

Provavelmente, isto tenha afetado Maresca.<br />

A professora Elena me disse que quem tinha mesmo de cantar era<br />

aquele meu amigo que foi comigo, dois anos mais velho que eu, ela<br />

disse que ele sim faria uma grande carreira já que tinha todos os<br />

agudos. Eu respondi, mas tem uma coisa que a senhora não<br />

percebeu, ele tem mesmo os agudos, mas ele desafina e se a<br />

senhora não percebeu é sinal de que a senhora também é<br />

desafinada. Ela respondeu, apenas: Ponha-se daqui pra fora e<br />

expulsou-me de lá (depoimento pessoal).<br />

Depois dessa experiência com a professora Elena, Benito começou a<br />

“via crucis”. Eu fui a cada charlatão, um pior que o outro (depoimento pessoal).<br />

59


No momento de nossa conversa, ao se referir a essa situação, Benito<br />

pára, pensa e, com muita sinceridade e preocupação, se manifesta:<br />

Tem muita gente curiosa dando aula, tem gente que fez<br />

alguns cursos pelo Brasil, põem no currículo, e as pessoas<br />

acreditam que sejam bons professores. Eu cobro pouco, sempre<br />

cobrei pouco, não quero ficar rico dando aulas, quero a satisfação de<br />

ver meus alunos cantando (...) e com isso vou vivendo, não quero<br />

ficar rico, rico eu já fui, gastei tudo, paciência (depoimento pessoal).<br />

E a busca por um professor continuou.<br />

Eu comecei a procurar mais professores e já não era mais office<br />

boy, era vendedor; larguei a escola na segunda série ginasial. Mas<br />

eu falo seis línguas: inglês, francês, alemão, italiano, espanhol e<br />

português. Eu falo seis línguas e me divirto em seis línguas; o que<br />

eu tenho de conhecimento é por leitura e em todos os países e<br />

cidades que cantei eu pesquisei a cultura de cada lugar (...) sou um<br />

felizardo! (depoimento pessoal)<br />

Nessa busca, Benito acabou por conhecer o Maestro Marcel Klass.<br />

A base do canto quem meu deu foi o maestro Marcel Klass. Isso eu<br />

preciso dizer sempre; ele foi o primeiro quem falou coisa com coisa<br />

pra mim (....) os outros chutavam (...) houve gente que falou todo o<br />

tipo de coisa pra mim. Diziam: põe a boca torta para um lado para<br />

dar os agudos... e o agudo não saia (depoimento pessoal).<br />

Marcel Klass, para ele, era russo, pianista, cantor de câmara, na<br />

Alemanha, e estudou com um grande tenor italiano do passado, Alessandro<br />

Bonci.<br />

Ele me deu a base do canto, da respiração e do apoio (...) Depois<br />

que o Marcelo Klass me explicou direitinho sobre a respiração e o<br />

apoio corretos, em uma semana eu pequei o Dó. E eu não chegava<br />

nem mesmo no Fá. Ele mandava que eu apoiasse e assim eu<br />

conseguiria. E em uma semana de estudo eu cheguei no Dó. Aí<br />

ninguém mais me segurou (...) eu falei: vou encher o saco do mundo<br />

com esse Dó! Vou mostrar para todo mundo! (depoimento pessoal).<br />

Nessa época, apesar do sonho de ser um barítono, Benito Maresca já se<br />

considerava tenor: de tanto que falavam que eu era tenor! E o Marcel Klass me<br />

ajudou com os agudos, desenvolvi os agudos graças a ele (depoimento<br />

pessoal).<br />

60


No que se refere ao<br />

conhecimento musical teórico,<br />

Benito dominava a leitura de<br />

partituras e tinha ótima percepção<br />

musical, já que se formou no<br />

Conservatório Musical Santana,<br />

situado à Rua Voluntários da Pátria.<br />

Segundo ele, o Conservatório<br />

Musical Santana o aceitou como<br />

aluno do curso de canto erudito,<br />

mas anteriormente vários outros<br />

conservatórios o dispensaram, com<br />

a alegação de que o aluno não tinha<br />

voz para ser cantor.<br />

Finalmente, sua primeira apresentação em público, em 1955, na Festa<br />

do Conservatório Musical de Santana.<br />

61


Em 1956, Benito participou como “comparsa” ou “claque” nas óperas do<br />

Teatro Municipal de São Paulo.<br />

Benito passou a participar de pequenos concertos em igrejas e escolas.<br />

No dia 07 de abril de 1958, cantou Voce e Notte, de Curtis, no recital dos<br />

alunos do Curso de Aperfeiçoamento Vocal, do Prof. Francesco B. Ferry, no<br />

Auditório da Escola “Júlio de Mesquita”.<br />

Em 25 de março de 1959, executou, como solista, trechos do Réquiem<br />

de Giuseppe Verdi, na Igreja do Imaculado Coração de Maria, sob direção<br />

artística do maestro Francesco B. Ferry.<br />

Em 25 de abril, do mesmo ano, participou do Concerto do Coral Labor,<br />

da Associação dos Funcionários da Laborterápica Bristol S.A., no Teatro Paulo<br />

Eiró, em Santo Amaro, sob regência do maestro Mário Rinaldi.<br />

A Congregação Mariana de Senhoras do Colégio São Luís, promoveu<br />

em 23 de maio de 1959, a Noite de Artes, com participação de Benito Maresca<br />

e regência do maestro Mário Rinaldi.<br />

62


Com árias da Ópera Fedora, de Giordano, Benito inaugurou, em<br />

conjunto com os demais cantores, uma série das atividades artísticas,<br />

promovida pela Sociedade Italiana de Beneficência, sob direção artística do<br />

maestro Francesco B. Ferry.<br />

Em 30 de abril de 1960, cantou em homenagem aos sócios honorários<br />

da Sociedade Italiana de Beneficência, em Santos, sob direção artística do<br />

maestro Francesco B. Ferry.<br />

No dia 27 de novembro de 1961, cantou ao lado do barítono Walter<br />

Bergamini, no Colégio Arquidiocesano de São Paulo.<br />

Em 1962, cantou no Cine Ita, de Atibaia, em Celebração do Dia das<br />

Mães, na Semana Champagnat, do Colégio Arquidiocesano, na Audição de<br />

Encerramento do 1º Semestre do Colégio Arquidiocesano na Associação<br />

Desportiva Salete e Conservatório Musical Jardim São Paulo, sob regência do<br />

Irmão Atiço Rubini e Gino Galluzzi.<br />

Ainda em 1962, no Teatro Nossa Senhora do Bom Conselho, Benito<br />

integrou o Espetáculo Lírico Teatral, com direção musical dos maestros<br />

Raphael Casalanguida, Bruno Roccella e Herminia Russo. Cantou também no<br />

Sarau patrocinado pelo Moóca Atlético Clube, no Teatro Arthur Azevedo, e no<br />

Festival Artístico, em benefício das Obras Assistenciais da Associação<br />

Beneficente “Grupo da Caridade”, no Clube Alepo.<br />

O Teatro Lírico de Equipe, sob organização geral e direção artística de<br />

Emmerson Eckamann, apresentou montagem da Ópera Madame Butterfly, de<br />

Giácomo Puccini, em 27 de outubro de 1962. Benito Maresca interpretou um<br />

tenente da Marinha Americana, B. F. Pinkerton.<br />

63


A Sociedade Amigos da Música de Santo André, no dia 28 de dezembro<br />

de 1962, no Salão do Sindicato dos Metalúrgicos, em Santo André, ofereceu<br />

concerto lírico, com participação do maestro Raphael Casalanguida, do tenor<br />

Benito Maresca, dentre outros solistas.<br />

Opereta apresentada no programa “Rivo Show” na TV Tupy, em 1962.<br />

Em 1963, cantou no Club Transatlântico e no Concerto Vocal do Teatro<br />

Sagrada Família, sob organização geral e direção artística de Emmerson<br />

Eckmann e colaboração de Rodolfo Casagrande. Executou as canções<br />

Tristezza, de P. Tosti; El trust de los tenorios, de J. Serrano, e a ária L´anima<br />

64


ho stanca, da Ópera Adriana Lecouveur, de F. Ciléa, e o dueto Invano Alvaro,<br />

da Ópera La Forza Del Destino, de G. Verdi.<br />

Aos 29 anos de idade, em 1963, Benito soube que haveria uma<br />

montagem da Ópera Lucia Di Lammermoor, de Gaetano Donizetti, no Teatro<br />

Municipal de São Paulo, e que ainda não estava definido quem seria o<br />

personagem Lord Arturo, sposino, da Lucia.<br />

Na verdade, eu pedi a audição para o maestro Belardi e ele falou<br />

que não tinha tempo para me ouvir. Então, eu telefonei para a filha<br />

do Prestes Maia, o prefeito de São Paulo, que era minha namorada,<br />

a Geny. Prestes Maia não queria nada com ópera; ele queria demolir<br />

o Teatro, para fazer estacionamento, mas a esposa dele era<br />

portuguesa, e comunista, mas gostava muito de ópera. Eu liguei<br />

para a Adriana, a filha mais velha, e que era também minha amiga, e<br />

disse para ela que eu nunca pedi nada para ninguém, mas que<br />

estava obrigado a pedir, porque o pai dela era o prefeito e a mãe<br />

tinha mais força no teatro do que o próprio pai. Contei a ela que pedi<br />

uma audição para o maestro Belardi e ele disse que não tinha<br />

tempo; eu não pedi nenhum favor para ele, eu pedi uma audição. Ela<br />

disse que me ligaria em cinco minutos. Após cinco minutos, ela<br />

retornou dizendo: “amanhã o maestro Belardi vai lhe ouvir”<br />

(depoimento pessoal).<br />

Maresca compareceu, no dia seguinte, ao Theatro Municipal de São<br />

Paulo, conforme havia combinado com a filha do Prefeito da Cidade de São<br />

Paulo. Perguntou ao maestro o que ele gostaria de ouvir. Belardi apenas<br />

perguntou quantos meses o candidato necessitava para preparar uma ária do<br />

sposino. Maresca respondeu que poderia voltar no dia seguinte, já que<br />

conhecia a ópera. Mas, ficou acertado que a audição seria em uma semana.<br />

No dia combinado, Benito compareceu à audição e cantou o concertato<br />

do sposino. Belardi ficou de um lado a outro do teatro e, por fim, reclamou de<br />

sua voz – seria muito grande para cantar as árias do sposino da Lucia, e que<br />

não poderia selecioná-lo, mas gostaria de ouvi-lo cantando as árias do tenor da<br />

Ópera Butterfly, de Giacomo Puccini (1858-1924).<br />

O maestro me perguntou se eu conhecia a Butterfly. Respondi que<br />

conhecia todinha. Então ele disse que queria me ouvir na sala.<br />

Cantei todinha a Butterfly, de cabo a rabo, toda a parte do tenor,<br />

65


sem errar nada. Belardi disse que queria me ouvir no teatro. Eu<br />

disse que tudo bem... (depoimento pessoal).<br />

Ao ouvir Benito Maresca, no Teatro, com o intuito de saber se sua voz<br />

ressoava bem, Belardi finalizou a experiência convencido de que sua voz era<br />

mesmo muito grande. E alegou que a temporada já estava fechada e que,<br />

como diretor artístico, estava decidido a não aceitá-lo para o elenco.<br />

No mesmo dia, estava também, no teatro, o empresário da ópera.<br />

Era, também, temente a Dona Maria, esposa do Prefeito Prestes<br />

Maia. Eu então interpelei o empresário que me preveniu de que<br />

falaria com Dona Maria. O empresário pediu, então, que eu me<br />

calasse, porque ele mesmo diria ao maestro que eu faria o papel de<br />

“sposino”.<br />

Eu conheci a Dona Maria e suas filhas na festa de um amigo meu, o<br />

qual mais tarde se tornou o rei da soja. Nesta festa ele começou a<br />

contar para todo mundo que eu cantava, e as pessoas ficavam<br />

pedindo para que cantasse. Assim, eu cantei, elas adoram e nos<br />

tornamos amigos. Nunca deixei de agradecer à Dona Maria<br />

(depoimento pessoal).<br />

Maresca seria, então, o sposino Lord Arturo daquela temporada de Lucia<br />

de Lammermoor, mas era preciso que Benito pedisse licença a seu mestre, o<br />

maestro Klass, para aceitar o papel. O maestro Marcel Klass, nessa época,<br />

estava regendo o espetáculo My Fair Lady, de Alan Jay Lerner, em Porto<br />

Alegre, no Rio Grande do Sul. A esposa do maestro fazia parte do coro e os<br />

protagonistas do musical eram Bibi Ferreira, Paulo Autran e Jaime Costa,<br />

dentre outros.<br />

Benito foi até a capital do Rio Grande do Sul consultar seu maestro<br />

sobre o papel de sposino e por ter sido obrigado a repassar as árias e os<br />

recitativos com Hermínia Russo, repassadora, em exercício, do Teatro<br />

Municipal de São Paulo. Marcel Klass concordou prontamente.<br />

Em 1964, Maresca estreou no Teatro Municipal de São Paulo, na Ópera<br />

Lucia de Lammermoor, quando interpretou o sposino Lord Arturo. Sua estréia<br />

provocou comentários positivos por parte da crítica e do público.<br />

66


(Lord Arturo da Ópera Lucia de Lammermoor, 1964)<br />

Constitui grata surpresa a estréia do tenor Benito Maresca no<br />

ingratíssimo papel de Lord Arturo: voz suficientemente volumosa, bem<br />

conduzida, ao que aliou boa presença e desembaraço cênico. (Jornal O<br />

ESTADO DE SÃO PAULO de 23 de agosto de 1964)<br />

Benito Maresca com voz de bom timbre e arte representativa indicada<br />

deu valorização a Lord Artur, papel geralmente sacrificado. (Jornal FOLHA DE<br />

SÃO PAULO de 25 de agosto de 1964 p.4, 2º caderno)<br />

A estréia foi marcada pela Ópera Andréa Chenier e contou com a<br />

participação dos interpretes Sergio Albertini, Lucia Quinto Morsello, Costanzo<br />

Mascitti, Odette Violani, Felipe Carone, José Perrotta, Mariângela Réa e outros.<br />

Contou com a Orquestra Sinfônica Municipal, Coral Lírico e Corpo de Baile da<br />

Escola Municipal de Bailado. Em seguida, foi apresentada a ópera Lucia de<br />

Lammermoor, com Niza de Castro Tank, Bruno Lazzarini, Costanzo Mascitti,<br />

Benito Maresca, José Perrotta e regência de Armando Belardi. (BELARDI,<br />

Vocação e Arte: memórias de uma vida para a música, p. 136, 1986.<br />

68


Com a Ópera Lucia de Lammermoor, Benito Maresca dá início à história<br />

de sua carreira profissional. À partir de sua estréia, no dia 30 de agosto de<br />

1964, seu nome, sua carreira e suas performances estariam estampadas nas<br />

páginas de jornais e revistas dos mais diversos países, como será relatado à<br />

seguir.<br />

Benito Maresca atuou em diferentes óperas durante os seus mais de 40<br />

anos de carreira. No que se refere às obras de Gaetano Donizetti podemos<br />

destacar Lucia de Lammermoor e Elisir d‘ Amore.<br />

A Ópera Lucia di Lammermoor é uma obra do compositor<br />

Gaetano Donizetti, nascido em Bérgamo, Itália, em 29 de novembro de 1797.<br />

Foi produzida pela primeira vez em Nápoles, no Teatro San Carlo, no dia 26 de<br />

setembro de 1835, tem idioma original em italiano. O libreto, de Salvatore<br />

Cammarano, é baseado no livro de Sir Walter Scott "The Bride of<br />

Lammermoor" (A noiva de Lammermoor), de Walter Scott.<br />

Domenico Gaetano Maria Donizetti morreu aos 8 de Abril de 1848, foi<br />

um compositor do Romantismo. Suas primeiras peças compõe apenas<br />

composições religiosas num estilo restrito, em 1814 se torna responsável pela<br />

música na Igreja de Santa Maria Maggiore, em Bergamo. Famoso por suas<br />

óperas, Donizetti também compôs outros tipos de música, como quartetos de<br />

cordas e obras orquestrais.<br />

Em 13 de julho de 1965, o Jornal A NAÇÃO (Jornal A NAÇÃO de 13 de<br />

julho de 1965) de Blumenau, deu ênfase à Estréia da Opereta, em três atos,<br />

Viva o Ministro, de Henz Geyer e Franz Runze. A matéria se referia à obra e ao<br />

tenor Benito Maresca, que contracenou, na estréia, com Rita Schwabe. O<br />

artista veio acompanhado de sua gentil esposa e foi recepcionado no aeroporto<br />

de Itajaí por vários dos membros da Diretoria do Teatro Carlos Gomes.<br />

O tenor fez seu debut na Ópera Cavalleria Rusticana, em outubro de<br />

1965. Esta Ópera de Pietro Mascagni (1863-1945) com Libreto de G. Menasci<br />

69


e G. Targioni-Tozzetti baseado num texto do escritor italiano Giovanni Verga,<br />

foi estreada aos 17 de maio de 1890 no Teatro Constanzi em Roma. divida em<br />

duas partes separadas por um intermezzo em cenas contínuas, tem um enredo<br />

dramático e idioma original italiano.<br />

Pietro Mascagni, compositor italiano percursor de Ruggero Leoncavallo,<br />

foi um expoente do verismo, por ser declaradamente um fascista, foi o músico<br />

oficial do Partido Fascista.<br />

Em matéria do Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, o jornalista João<br />

Cancio Povoa (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO de 24 de outubro de 1965,<br />

70


p. 17, 1º caderno), teceu duras críticas a alguns interpretes da temporada lírica.<br />

No que se refere a Maresca Povoa disse:<br />

Ao jovem Benito Maresca foram dirigidos os entusiasticos aplausos<br />

da noite. A mais lisongeira expectativa não poderia garantir que o<br />

elegante Lord Arturo de 1964, mediante completo avatar, se<br />

transformasse no camponio Turiddu, com a voz do tipo “demicaractère”<br />

tão condizente ao personagem, embora ainda novato, não<br />

conseguia frasear, ´nuançar` com a necessária expressão. O sue<br />

grande momento foi o “Addio”, ruidosamente ovacionado, e que o<br />

cantor teve o bom senso d repetir. Representando esteve discreto,<br />

um tanto frio, o que será fácil corrigir com o tempo. Vitoriosa e<br />

auspiciosa, pois, a participação de Benito Maresca.<br />

No Jornal A GAZETA, (A GAZETA de 26 de outubro de 1965), Oliveira<br />

Ribeiro Neto comenta que como Turiddu, o tenor Benito Maresca agradou em<br />

cheio, dono de bela voz, talvez um pouco dependente da orquestra, mas capaz<br />

de tons altos e afinadíssimos, como na romanza Addio alla Madr”, tirou todo o<br />

rendimento do seu registro vocal e do seu papel e representou com muita vida<br />

e naturalidade. Oliveira acredita que Benito Maresca se sobressaiu nessa<br />

ópera como um dos melhores elementos de toda a temporada.<br />

Alberto Ricardi (Jornal A FOLHA DE SÃO PAULO de 27 de outubro de<br />

1965, p. 4, 2º Caderno), é da opinião de que como conjunto, a encenação da<br />

Cavalleria representou o melhor espetáculo da temporada. Em sua estréia<br />

como Turiddu, o tenor Benito Maresca apresentou ótima voz, colorida e capaz<br />

de variada inflexão. Os acentos passionais saíram-lhe eficazes, tanto no dueto<br />

com Santuzza como no “Addio” final de comoção sincera. Por ser um iniciante<br />

na cena lírica, é compreensível sua atitude estática e inibida.<br />

Queremos destacar a atuação do tenor Benito Maresca, um dos novos<br />

valores do nosso teatro lírico, que teve destaque nos papéis de Turiddu e<br />

Rodolfo (Luís Ellmerich, DIÁRIO DE SÃO PAULO de 29 de outubro de 1965, p.<br />

7, 2º Caderno).<br />

Ainda em 1965, Benito interpretou o personagem Rodolfo, de La<br />

Bohème, Ópera em quatro atos de Giacomo Puccini (1858-1924), com Libreto<br />

de Luigi Llica e Giuseppe Giacosa, na Temporada Lírica do Prefeitura do<br />

71


Município de São Paulo, com colaboração de Emílio Billoro, no Theatro<br />

Municipal de São Paulo.<br />

A GAZETA ESPORTIVA, de 29 de outubro de 1965, destacou Benito,<br />

como a grande atração da tempora:<br />

Na inauguração do Teatro da Nações, na Avenida São João, em junho<br />

de 1966, a estréia foi marcada pela apresentação da obra A Casta Suzana, de<br />

Jean Gilbert, e texto de Georg Okonkowski e Alfredo Shonfeld, dirigido por<br />

72


Helio Quaresma. Benito Maresca atuou no papel de Renato Boislurete, ao lado<br />

de Jayme Costa, que interpretou o Barão Des Aubrais .<br />

O Jornal A GAZETA, traz comentários de Yara Ferraz (Jornal A<br />

GAZETA, de 15 de junho de1966, p.18) sobre a estréia e o desempenho de<br />

Maresca: Benito Maresca, que já fez importantes papéis em óperas no<br />

Municipal, uma das nossas vozes mais bonitas, fez o Renato, com muita<br />

naturalidade, cena fácil e principalmente sobressaindo-se, como era previsível,<br />

na parte musical, na qual mostrou suas qualidades vocais e sua boa escola de<br />

canto.<br />

Aldo Di Léo (JORNAL DA TARDE,1966, p. 11), relatou que o espetáculo<br />

de estréia do Teatro das Nações não chegou a ser nem mesmo aceitável. Falta<br />

aos interpretes o espírito do gênero (...) perderam-se dentro do espetáculo<br />

Tania Amaral e Benito Maresca que, vocalmente, justificaram suas presenças<br />

em cena. O excelente Teatro das Nações, não foi feliz em sua estréia.<br />

Oliveira Ribeiro Neto (A GAZETA, 17 de junho de 1966, p. 18), sobre a<br />

atuação de Benito em A Casta Suzana, na inauguração do Teatro das Nações:<br />

Maresca com a sua bela voz operística, para dar ao espetáculo a vida que a<br />

73


graça do seu enredo, de comédia boulevardiana de absurdo, teria normalmente<br />

se fosse apresentado com mais leveza e estilização.<br />

No dia 14 de setembro, teve início a Temporada Lírica Oficial de 1966,<br />

sob direção artística de Armando Belardi, com a promoção da Prefeitura<br />

Municipal de São Paulo, em colaboração com a empresa Alfredo Gagliotti.<br />

Benito Maresca foi protagonista das Óperas Madama Butterfly e Lucia de<br />

Lammermoor. A temporada terminou, em 26 de outubro, com bastante<br />

sucesso. (BELARDI, 1986, p. 141)<br />

O JORNAL DA TARDE (JORNAL DA TARDE, 05 de outubro de 1966, p.<br />

10) divulgou a montagem da Ópera Madama Butterfly: Para fazer o tenente<br />

americano o empresário contratou o tenor Benito Maresca, que tem voz muito<br />

bonita e que quer ir para a Itália porque no Brasil tem de ser também vendedor<br />

de metal duro; aqui só tem dois meses de temporada por ano.<br />

Para o papel de protagonista em Madama Butterfly, foi contratada, na<br />

Itália, o soprano Atzuko Azuma. O comentário de Luis Ellmerich (DIÁRIO DE<br />

SÃO PAULO, de 07 de outubro de 1966) sobre Benito foi o seguinte:<br />

Benito Maresca apresentou-se como elegante oficial da marinha<br />

“yankee”. Não muito seguro no 1ºato, melhorou vocalmente e no<br />

jogo cenico no decorrer do espetáculo demosntrando que, com sua<br />

voz e mais experiência no palco – o que infelizmente falta à maioria<br />

dos nossos bons cantores – poderá chegar a ser um dos melhores<br />

tenores nacionais.<br />

No mesmo dia, publicou, o jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, (João<br />

Câncio Pôvoa, Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO de 07 de outubro de 1966,<br />

p. 8):<br />

Num personagem que se coaduna muito bem com o seu físico<br />

e registro vocal, o tenor Benito Maresca foi alvo, também, de<br />

entusiatsicos aplausos. O seu canto, todavia, ressentiu-se um pouco<br />

da fadiga decorrente dos inúmeros ensaios, sendo certo que nas<br />

récitas subsequentes poderá produzir tanto quanto no ensaio geral.<br />

74


Alberto Ricardi (Jornal A FOLHA DE SÃO PAULO de 07 de outubro de<br />

1966, p. 5, 2º Caderno), declarou que Benito Maresca, no papel de Pinkerton,<br />

demonstrou boa voz e condições naturais de vencer, entretanto, o<br />

inaproveitamento constante dos seus bons predicativos, desnudou a sua pouca<br />

freqüência da cena. Esclareceu que isso ficou evidente nos seus momentos<br />

capitais, nos duetos do 1º ato e na famosa ária Addio fiorito asil.<br />

Aldo Di Léo (JORNAL DA TARDE de 06 de outubro de 1966, p. 9)<br />

enalteceu Maresca: Estreando no papel do tenente Pinketon, o tenor Benito<br />

Maresca também esteve muito bem, demonstrando que pode fazer brilhante<br />

carreira. Tem boa figura, voz bonita e bastante temperamento para o gênero<br />

lírico.<br />

Ainda na Temporada Lírica Oficial de 1966, Benito volta a atuar em<br />

Lucia de Lammermoor, mas desta vez interpretando o protagonista Edgardo di<br />

Ravenswood, na Temporada Lírica Oficial de 1966.<br />

75


Aldo Di Léo (JORNAL DA TARDE de 15 de outubro de 1966, p. 2), do<br />

JORNAL DA TARDE, entendeu que Benito Maresca não estaria talhado para o<br />

papel. Apesar da voz bonita e temperamento adequado, ainda faltava malícia e<br />

experiência para que Benito pudesse fazer um Edgardo satisfatório.<br />

Para Orlando Nasi (Jornal A GAZETA de 17 de outubro de 1966, p. 16),<br />

do Jornal A GAZETA:<br />

Ravenswod, ou o tenor Benito Maresca pareceu justificar a sua<br />

agitação menos pelo seu fato dramático no romance do que por um<br />

aborrecimento na maquiagem, talvez o bigode, no transcorrer inteiro<br />

da sua parte, o que é dizer que foi muito longe numa preocupação<br />

fácil de sanar. Mas isso é apenas um detalhe. A sua voz brilhante,<br />

como já havimos conhecido em Pinkerton, venceu sem problemas<br />

as exigências da parte.<br />

Pôvoa (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, de 18 de outubro de 1966),<br />

registrou a estréia de Benito:<br />

Sem se alcançarem as alturas de Tank-Rinaudo, quer por incipiente<br />

tirocinio de palco, quer por recursos de voz ainda não totalmente<br />

desenvolvidos, mas num nível digno, que não comprometeu o<br />

76


conjunto, estiveram os jovens Benito Maresca (Edgardo) e André<br />

Ramus (Ashton). Menos feliz no 1º ato – onde cometeram a<br />

imprudência de sobrreecarregar um novato na cena írica com<br />

bigodes, cavanhaque e outras tantas complicações dispensáveis –<br />

Maresca fez-se aplaudir nas duas árias finais.<br />

A Temporada Lírica Oficial de 1966 previa, ainda, a montagem da Ópera<br />

La Traviata, de Giuseppe Verdi, no dia 21 de outubro, com Bruno Lazzarini na<br />

interpretação de Alfredo Germont, o amante de Violeta, a protagonista. Mas,<br />

Lazzarini adoeceu, repentinamente, e Maresca o substituiu. Assim, Benito<br />

executaria três óperas diferentes em uma única temporada de apenas um mês<br />

de duração.<br />

Aldo Di Léo (JORNAL DA TARDE de 22 de outubro de 1966, p. 2)<br />

declara que: Benito Maresca que a última hora substitui Bruno Lazzarini,<br />

impedido de representar por motivo de saúde, merece o aplauso da crítica,<br />

pois, com apenas um ensaio, desincumbui-se do difícil papel de Alfredo.<br />

Alberto Ricardi (FOLHA DE SÃO PAULO, de 25 de outubro de 1966),<br />

descreveu Maresca como um herói por ter, em poucas horas, preparado-se<br />

para substituir o tenor Lazzarini, acometido de gripe.<br />

Em reportagem sobre o fim da Temporada Lírica de 1966, João Cândido<br />

Pôvoa (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, de 23 de outubro de 1966, p. 20)<br />

elogiou a luxuosa montagem de La Traviata, o talento do jovem maestro Diogo<br />

Pacheco e a desenvoltura de Benito, quando aceitou o ingrato encargo de<br />

substituir o colega Lazzarini, quase sem tempo para ensaios. No mesmo texto,<br />

o autor ressalta que Maresca é um cantor que, se perseverar no estudo,<br />

atingirá posição de destaque na cena lírica internacional.<br />

77


Verdi produziu suas vinte e seis obras entre 1839 e 1893 e possuía a<br />

convicção de que cada nação devia cultivar o tipo de música que lhe era<br />

próprio e como italiano, possuía uma longa e ininterrupta tradição lírica.<br />

Manteve, no seu estilo musical a mais absoluta independência e deplorou<br />

sobre a influência das idéias estrangeiras, principalmente alemãs, sobre as<br />

obras dos compatriotas mais jovens. Era adepto da adesão incondicional ao<br />

ideal da ópera como drama humano que devia ter profunda expressividade<br />

através de uma melodia vocal solística, simples e direta. As obras de Verdi<br />

eram influenciadas por Beethoven ( a quem venerava), uniste, Bellini e<br />

Rossini, contudo, aprendeu muito com a harmonia e orquestração de<br />

Meyerbeer.<br />

Três fazes dividem as obras de Verdi: Il trovatore e La traviata (1853);<br />

Aida (1871) e Otelo (1887) ; e Falstaff (1893). Com exceção de Falstaff, todas<br />

as óperas de Verdi são sérias e os temas foram adaptados pelos libretistas à<br />

partir de textos de vários autores românticos. Verdi exigia que seus libretistas<br />

enchessem as tramas de fortes emoções, contrastes acentuados e ações<br />

bem dinâmicas, consequentemente, a maior parte de suas obras possuem<br />

enredos melodramáticos tempestuosos e sangrentos, embora hajam melodias<br />

animadas ou até mesmo sangrentas.<br />

Em suas primeiras obras, Verdi tem uma excelente escrita para os<br />

78


coros, mas anuncia uma mudança de estilo dando ares de finura psicológica<br />

aos protagonistas e as expressões musicais e emoções vão gradativamente<br />

se tornando menos cruas. Em sua obra-prima Rigoletto, fica clara a sutil<br />

caracterização , a unidade dramática e a invenção melódica, diferente de La<br />

traviata quem possui um clima mais intimista além de trazer um novo tipo de<br />

melodia, um a rioso flexível, expressivo semideclamatáorio amadurecido em<br />

Otelo.<br />

Na segunda fase, os solos os conjuntos e os coros se combinam com<br />

mais liberdade na estrutura dramática, contido as harmonias se tornam mais<br />

audaciosas dando a orquestra mais originalidade. Verdi recorreu, nesta fase,<br />

a um recurso já bastante utilizado no século XIX, que foi a introdução de<br />

ocorrências de alguns temas ou motivos de fácil identificação, capazes de<br />

criar uma unidade de tempo dramática e crucial. Este desenvolvimento de<br />

suas obras se solidificou em Aida (1871), onde a solidez da estrutura<br />

dramática, ligada ao tom heróico desta grande ópera se conjuga com a<br />

solidez da estrutura dramática, a vivacidade da caracterização e a riqueza do<br />

colorido melódico, harmônico e orquestral.<br />

Seguindo a tendência das novas correntes, em sua terceira fase Verdi<br />

abusa das continuidades cada vez maiores e perfeitas da música dentro de<br />

cada ato, tradicionalmente mantendo a estrutura de solos, duetos, conjuntos e<br />

coros, além de grande fluxo melódico e pode de ligação da orquestra. Além<br />

de ser um compositor do período do romantismo, é também considerado o<br />

maior compositor nacionalista da Itália.<br />

LA TRAVIATA é uma Ópera em três atos de Verdi, com Libreto de<br />

Francesco Maria Piave, baseado na peça La dame aux camélias (1852), de<br />

Alexendre Dumas Filho. Primeira apresentação em Veneza no dia 6 de março<br />

de 1853.<br />

79


Benito Maresca com a Orquestra do Estado de São Paulo, regido pelo seu<br />

fundador Bruno Roccella<br />

Matéria do JORNAL DA TARDE de São Paulo, trouxe, como tema, a<br />

montagem do espetáculo organizado pelo maestro Diogo Pacheco, no<br />

Auditório Itália. Tratou-se de um recital, onde Stella Maris e Benito Maresca<br />

cantaram árias de óperas de Thomas, Catalani, Bizet, Puccini, Giordano e<br />

Saint-Saens. Na matéria, assinada por Aldo Di Léo (JORNAL DA TARDE, de<br />

São Paulo, em 06 de junho de 1967), atenção especial foi dada para uma certa<br />

polêmica causada por conta de uma marca do cantor Benito Maresca, quando<br />

o diretor cênico Luís Sérgio Person determinou que Maresca deveria cantar<br />

sentado na escada que dava acesso ao palco. O público estranhou e começou<br />

a gritat: Senta! Levanta! O cantor permaneceu sentado na escada, como fora<br />

orientado pela direção. Além disso, deu-se amplo destaque à mini-saia usada<br />

por Stella durante a récita.<br />

A mini-saia usada por Stella Maris, considerada arrojada pela crítica,<br />

também foi matéria do jornal DIÁRIO DA NOITE (Diário da Noite, 06 de junho<br />

de 1967), de São Paulo. O furor foi causado por conta do novo estilo de cantar<br />

ópera, que estava sendo apresentado naquela noite. O público se dividiu nos<br />

manifestos contra ou favor à inovação dos elementos que foram organizados<br />

pelo movimento pró-ópera.<br />

80


A mesma matéria (Diário da Noite, 06 de junho de 1967), dava conta de<br />

que Maresca trajava uma calça de veludo bordeaux e uma camisa branca,<br />

estilo usado pelos cantores do ‘iê,iê, iê”. As manisfestações do público<br />

chegaram a ponto de prejudicar o espetáculo.<br />

No ano de 1967, Benito Maresca teve sua estréia, no Rio de Janeiro, com<br />

Madama Butterfly, de Giacomo Puccini. A imprensa carioca noticiou sua<br />

aparição no campo erudito do Rio de Janeiro, (D’Or, Jornal DIÁRIO DE<br />

NOTÍCIAS, 01 de outubro de 1967):<br />

O tenor Benito Maresca, de São Paulo, pela primeira vez, se<br />

apresenta ao público carioca. Um tanto atado como ator, frio mesmo,<br />

não se destacou por uma realização vocal isenta de criticas. A voz é<br />

um pouco maleável e conduzida sem maiores recursos expressivos.<br />

Nos registros grave e médio, saiu-se a contento, o agudo, porém, é<br />

deficiente. A cor vocal perde a impostação, pela emissão forçada<br />

das notas emitidas. Ademais, as vezes apressava as entradas<br />

(terceito do último ato) quase prejudicando o conjunto.<br />

No século XIX a ópera italiana descendia de uma tradição sólida, deste<br />

modo, a Itália foi menos sensível do que os países do Norte ás seduções do<br />

movimento romântico lançando mão das experiências novas propostas pelo<br />

romantismo, que foi lentamente entrando na Itália, mas nunca se comparou à<br />

Alemanha ou á França, isto porque a ópera foi a única manifestação musical<br />

de real importância nesta época.<br />

A ópera séria e a ópera buffa, ainda se mantinham seus estilos muito<br />

claramente diferenciados, sendo que a ópera séria foi a primeira a demonstrar<br />

algumas alterações.<br />

No final do século XIX, o movimento do verismo tomou conta do<br />

cenário operístico. O realismo, ou naturalismo, trouxeram em seus libretos<br />

personagens comuns em situações rotineiras, deixando um pouco de lado as<br />

histórias fantasiosas e cheias de magias. A longo prazo, o estilo musical se<br />

adequou aos libretos trazendo dissonância e grandes proporções de<br />

processos musicais que despertavam a incivilidade do público.<br />

81


Alguns exemplos de óperas veristas são: Cavalleria Rusticana, de<br />

Mascagni e Il Pagliacci, de Leoncavallo. O vedismo teve uma existência curta,<br />

embora tenha tido repercussão na França e na Alemanha.<br />

Giacomo Puccini (1858 - 1924), certamente participou deste movimento<br />

quando da composição de obras como Tosca (1900) ou Il Tabarro (1918),<br />

mas a maioria de suas óperas são mais difíceis de classificar, já que Puccini<br />

foi muito eclético em suas composições. Em obras como Manon Lescaut<br />

reconhecemos o sentimentalismo do romantismo tardio, em La Bohème o<br />

realismo do vedismo, Madame Butterfly e Turandot são obras<br />

caracteristicamente exóticas, com grande intensidade lírica, discretos toques<br />

de harmonia moderna e magníficos efeitos teatrais.<br />

82


MADAME BUTTERFLY - Ópera em dois atos de Puccini com Libreto de<br />

Giuseppe Giacosa e Luigi Illica, baseado em madame Butterfly (1900),<br />

dramatização de Davis Belasco de uma história de mesmo título (1898) de<br />

John Luther Long. A primeira apresentação foi Milão no dia 17 de fevereiro de<br />

1904 e a primeira apresentação da versão revista foi em Brescia, 28 de maio<br />

de 1904.<br />

Eurico Nogueira França (Jornal CORREIO DA MANHÃ, 01 de outubro<br />

de 1967, p. 10 1º Caderno), sobre a estréia de Benito no Teatro Municipal do<br />

Rio de Janeiro publicou:<br />

O tenor Benito Maresca, vindo de São Paulo, estreante no<br />

Rio, tem invulgar material de voz e fugiu a apropriada ao Pinkerton,<br />

que faz com adequada displicência – mas não na parte vocal, que<br />

trata de valorizar, logo que se encontra com o barítono, no primeiro<br />

ato, em “Amore o grillo”. É visível desde o início, a preocupação do<br />

tenor de mostrar a voz, que a possui bonita, e só precisa ser mais<br />

técnica e musicalmente lapidada.<br />

A Prefeitura do Município de São Paulo e a Secretaria de Educação e<br />

Cultura, em colaboração com a Pró Ópera, apresentou La Bohème, de Puccini,<br />

em 25 de novembro de 1967. Benito interpretou Rodolfo.<br />

83


Luis Ellmerich (Jornal O<br />

DIÁRIO DE SÃO PAULO, 1967, p.2,<br />

2º Caderno), sobre a récita de La<br />

Bohème: Benito Maresca, novato<br />

nesta ópera, apresentou-se menos<br />

firme, causando algumas<br />

precipitações e desencontros com a<br />

orquestra. Vocalmente e fisicamente<br />

possiu tudo para tornar-se um bom<br />

tenor lírico, devendo ainda<br />

aperfeiçoar sua técnica para<br />

melhorar<br />

graves.<br />

a emissão dos sons<br />

Os jornais de Araraquara (O IMPARCIAL DE ARARAQUARA de 1 de<br />

dezembro de 1967), publicaram matéria sobre Benito Maresca, após récita de<br />

Cavelleria Rusticana:<br />

84


Em seguida, a Prefeitura Municipal de São Paulo, em colaboração com<br />

a Empresa Alfredo Gagliotti, deu início à Temporada Lírica Oficial de 1968, sob<br />

direção artística de Armando Belardi e atuação do tenor Benito Maresca.<br />

Em meio a toda esta saga de temporadas líricas, onde foi observado que<br />

Benito Maresca cantava diversas óperas de diferentes compositores, o tenor<br />

ainda trabalhava como vendedor de fogões.<br />

Nesta fase, ele já acumulava alguns anos se revesando entre as vendas<br />

de fogões para garantir o sustento da família e o estudo das óperas por ele<br />

executadas em várias cidades do Brasil. Finalmente, decidiu abandonar a<br />

carreira de vendedor e embarcar para a Itália afim de estudar e tentar sucesso<br />

por lá.<br />

85


A FOLHA DE SÃO PAULO<br />

(Folha de São Paulo, de 04 de maio<br />

de 1969), trouxe notícia de que,<br />

Benito Maresca, acompanhado de<br />

sua esposa, a pianista Isabel<br />

Maresca, viajaria no fim do mês de<br />

maio, para a Itália, a fim de<br />

aperfeiçoar seus estudos. A<br />

reportagem noticiou, ainda, que o<br />

tenor paulista estreou, em 1964, no<br />

Teatro Municipal de São Paulo, no<br />

papel de Lorde Arthur, na ópera<br />

Lucia de Lammermoor e se<br />

apresentou, também, em teatros do<br />

Rio de Janeiro, Blumenau, em<br />

Santa Catarina, Curitiba e Porto<br />

Alegre.<br />

86


Em 1969, cantores líricos encaminharam documento ao prefeito Faria<br />

Lima, quando expuseram suas dificuldades,, referentes à falta de campo de<br />

trabalho e de oportunidade para os cantores líricos nacionais:<br />

62


Em resposta ao movimento liderado por Benito Maresca, a Prefeitura<br />

previa mudanças no campo lírico, conforme publicou o Jornal o Estado de São<br />

Paulo, (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO de 30 de agosto de 1969):<br />

Através do Departamento Municipal de Cultura, a Secretaria de<br />

Educação realizará a temporada visando a criação futura do Teatro<br />

de Ópera Permanente. Um plano já aprovado pelo Prefeito da<br />

Capital, justifica a iniciativa baseando-se no fato de que os<br />

excelentes artistas líricos que há no Brasil trabalham em outras<br />

profissões, pois não há no País, condições para viverem de sua arte.<br />

(...) O plano, aprovado pelo prefeito Paulo Salim Maluf sugere o<br />

aproveitamento de todos os melhores cantores brasileiros, incluindo<br />

nomes de artistas do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais, do Rio de<br />

Janeiro de São Paulo. Em todos os elencos das óperas haverá<br />

substitutos, a fim de dar oportunidade a jovens talentos que<br />

substituirão artistas mais experimentados nas repetições dos<br />

espetáculos. Isto facilitará também as substituições em caso de<br />

indisposição ou doença de algum artista, não sendo necessário o<br />

cancelamento da récita.<br />

Outras modificações foram previstas, para a temporada do ano seguinte,<br />

como por exemplo, a idéia de que as óperas seriam escolhidas conforme o<br />

elenco disponível no país. O texto (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO de 30<br />

de agosto de 1969), esclarece que, antigamente, os empresários escolhiam,<br />

primeiro, as óperas e, depois, os cantores:<br />

Eles não podiam, com as óperas e depois os cantores. Eles não<br />

podiam com as subvenções que recebiam do poder público, arriscar<br />

a bilheteria com óperas muito conhecidas e, muitas vezes,<br />

sacrificavam os cantores, nem sempre talhados para os papéis que<br />

deveriam cantar (...) O plano aprovado pelo Prefeito Paulo Salim<br />

Maluf prevê a inclusão do maior número possível de artistas<br />

nacionais na segunda temporada.<br />

Jornal do Estado de São Paulo (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, de<br />

22 de agosto de 1969), divulgou as alterações sofridas pelos Teatros Líricos da<br />

cidade:<br />

63


Em função das alterações citadas, a Secretaria de Educação, por meio<br />

do Departamento Municipal de Cultura, prometeu realizar A Temporada Lírica<br />

de 1970 promovida, apenas, pela Prefeitura da Capital, sem interferência de<br />

empresários.<br />

Matéria divulgada no Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO (O ESTADO<br />

DE SÃO PAULO, em 30 de agosto de 1969), dava conta de que o Prefeito da<br />

Cidade de São Paulo teria aprovado tal iniciativa, por confiar nos excelentes<br />

artistas líricos existentes no Brasil, uma vez que trabalhavam em outras<br />

profissões, já que não havia, no País, condições para viverem de sua arte.<br />

A mesma matéria ressaltou, ainda, que um tenor como Benito Maresca,<br />

que alcançou grande êxito na Temporada Lírica do ano passado, ao cantar a<br />

Cavalleria Rusticana, de Macagni, estava com idéia de ir definitivamente para a<br />

Itália, já que os maestros italianos e os cantores estrangeiros que o ouviram no<br />

ano passado, garantiram que o tenor teria oportunidade de fazer grande<br />

carreira se fosse para a Itália, onde, segundo a matéria, havia na época,<br />

grande crise de boas vozes.<br />

65


1970<br />

O Guarani<br />

Il Guarany, no Teatro Arthur Azevedo<br />

O Teatro Lírico de Equipe, com a colaboração da Prefeitura do Município<br />

de São Paulo, da Secretaria de Educação e Cultura e do Departamento de<br />

Cultura, apresentou 12 cenas líricas da Ópera Il Guarany, de Carlos Gomes,<br />

em comemoração ao centenário da estréia mundial no Teatro Scala de Milão.<br />

Benito Maresca cantou, na oportunidade, as árias do chefe da tribo dos<br />

Guaranis, Pery, em 11 de julho de 1970.<br />

Em 29 de agosto de 1970, Benito interpretou árias do personagem<br />

Marico da Ópera Il Trovatore, de Giuseppe Verdi, no programa Cenas Líricas<br />

do Teatro Lírico de Equipe.<br />

Na Temporada Lírica Oficial de 1970, Maresca atuou como Don Álvaro<br />

na Ópera Il Guarany, de Carlos Gomes, sob regência do maestro Armando<br />

Belardi.<br />

66


A Temporada Lírica, de 1970, foi inaugurada no dia 9 de setembro.<br />

Promovida pela Prefeitura do Município de São Paulo, contou com a<br />

colaboração da empresa Alfredo Gagliotti.<br />

Sob regência de Armando Belardi, a Iª. Récita de Gala foi com a Ópera Il<br />

Guarany, de Carlos Gomes, e teve Benito Maresca dentre os principais<br />

interpretes. (BELARDI, 1986, p. 147).<br />

Cabe ressaltar que, raríssimas vezes, um cantor interpretou papéis<br />

diferentes na mesma ópera. No entanto, a voz de Maresca possui tamanha<br />

flexibilidade na extensão e no timbre, que o permite atuar em diversos papéis.<br />

Na Temporada Lírica Oficial de 1970, o Governo do Estado da<br />

Guanabara e a Secretaria de Educação e Cultura iniciaram sua Temporada<br />

Lírica, nos dias 9 e 11 de outubro de 1970, no Teatro Municipal do Rio de<br />

Janeiro, com a Ópera Otello, de Giuseppe Verdi.<br />

Os jornais americanos publicaram matéria sobre a atuação de Maresca.<br />

(Jornal Times of Brazil, de 18 de outubro de 1970).<br />

67


Os jornais de Sorocaba,<br />

interior de São Paulo, dentre eles o<br />

Cruzeiro do Sul, Folha de Sorocaba,<br />

Diário de Sorocaba, Diário Popular<br />

e Folha de Sorocaba, anunciaram a<br />

chegada do “Maior Tenor do Brasil<br />

Benito Maresca” à cidade. Maresca<br />

cantou no evento chamado “A noite<br />

de Arte Lírico-Popular” de<br />

Sorocaba, em setembro de 1970.<br />

68


Maria Teresa Del Moro (Jornal A NOTÍCIA, do Rio de Janeiro, de 13 de<br />

outubro de 1970), descreveu a presença de Benito Maresca nas récitas de<br />

Otello de Verdi como mais uma prova de que São Paulo e Rio de Janeiro<br />

precisariam unir-se, para “salvar” a ópera no Brasil. Um intercâmbio com os<br />

valores artísticos de cada Estado equilibraria artisticamente os espetáculos. Na<br />

mesma reportagem, a articulista citou o nome de outros renomados cantores<br />

paulistas, como Sérgio Albertini, Niza de Castro Tank, Benedito da Silva,<br />

Wilson Carrara e Constanzo Masciti, belas vozes que o Rio, até aquele<br />

momento desconhecia. Afirmou ainda acreditar num certo ressentimento, que<br />

segundo ela, era absurdo e antiprofissional e que somente o Teatro Municipal<br />

do Rio poderia “quebrar esse gelo”.<br />

“Benito Maresca, no pequeno papel de Cássio, tornou mais<br />

evidente essa necessidade de intercâmbio. Além da voz belíssima timbre<br />

cristalino e senhoril, excelente escola de canto, emissão fluente e qualidades<br />

operísticas indiscutíveis, possui ainda um físico de galã cinematográfico. Por<br />

que não o convidar para papéis mais importantes, se o Rio não possui um só<br />

tenor lírico de sua categoria?”<br />

A Itália também decidiu por comemorar o centenário da primeira<br />

apresentação da Ópera Il Guarany, de Carlos Gomes. No alla Scala de Milão,<br />

Itália, um conjunto lírico sul-americano, pela primeira vez, se fez ouvir, no dia 2<br />

de abril de 1971 e por iniciativa do empresário Alfredo Gagliotti, artistas líricos<br />

do Rio de Janeiro e de São Paulo, sob a regência do maestro Armando Belardi,<br />

apresentaram a ópera no Teatro Di San Carlo, de Nápoles.<br />

“Também o segundo tenor, Cesare Antonio D´Ottaviano, não era ontem<br />

à noite o mesmo da pré-estréia. Benito Maresca que se mostrou o melhor da<br />

companhia”. (Roma anno 110, num 91, 3 de abril de 1971, Gli Spettacoli, por<br />

Francesco Canessa)<br />

“Anche il secondo tenore, Cesare Antonio D´Ottaviano, non era ieri será<br />

lo stesso della anteprima. Benito Maresca , che pure ci era parso il migliore<br />

69


della compagnia”. (Roma anno 110, número 91, 3 de abril de 1971, Gli<br />

Spettacoli, por Francesco Canessa)<br />

Matéria publicada no jornal O ESTADO DE SÃO PAULO (João Cancio<br />

Povoa, Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, 18 de abril de 1971) dá conta de<br />

que o público napolitano demonstrou grande interesse e entusiasmo pelos<br />

espetáculos brasileiros e lotaram, literalmente, o famoso teatro, inclusive com<br />

solicitações de récitas extraordinárias:<br />

“O espetáculo foi apreciado e aplaudido pelo público e<br />

elogiado pela crítica no seu conjunto homogêneo, seriedade da<br />

montagem, cenários indumentária novos e adequados, além de um<br />

grupo selecionado de cantores. (...) Surgiram algumas dificuldades<br />

que foram vencidas e não conseguiram empanar o brilho da estréia:<br />

a doença à última hora do barítono Costanzo Mascitti, que foi<br />

substituído por Andréa Ramus, sendo a parte deste (de baixo!)<br />

cantada pelo tenor Benito Maresca”.<br />

Os Jornais da Itália trouxeram em destaque a montagem da Ópera Il<br />

Guarany, de Carlos Gomes.<br />

Nos meses de agosto, setembro e outubro de 1971, Benito Maresca<br />

ainda participou das montagens de La Boheme e Cavalleria Rusticana, no<br />

Teatro Eliseo, em Roma.<br />

Em 26 de fevereiro de 1972, executou trechos do Stabat Mater, de<br />

Rossini, Vaghissima speranza, de Donaudy e Ingemisco, de Verdi, nos<br />

programas dos Concertos Comemorativos “Mário Dedini”.<br />

Em 23 de abril do mesmo ano, cantou no 7º. Concerto Matinal Cortina<br />

Lírica, a Ópera Tosca, de Puccini.<br />

Oliveira (Jornal O DIÁRIO DE SÃO PAULO, 25 de abril de 1972) fez<br />

menção, em texto publicado no Diário de São Paulo, ao 7º. Concerto Matinal<br />

Domingueiro do Departamento Municipal de Cultura que, inovou o gênero ao<br />

apresentar a denominada “Cortina Lírica” – título tomado por empréstimo da<br />

Rádio Gazeta, em seu famoso programa dos domingos à noite. A Ópera Tosca,<br />

70


de Puccini, lotou o Teatro Municipal de São Paulo, quando da apresentação<br />

dos principais trechos da ópera, em forma de concerto. Para o jornalista, no<br />

papel de Mário Cavaradossi, Benito Maresca teve por si um momento muito<br />

esperado. A ária “É lucevan le stelle” valorizou uma voz ótima, idiomática,<br />

inclusive no que se refere à interpretação.<br />

Em outubro de 1972, Benito Maresca, sob comando do maestro Mário<br />

Comamdulli, fez o personagem Alfredo, da Ópera La Traviatta, de Giuseppe<br />

Verdi, em Jundiaí. O texto (JORNAL DA CIDADE, Jundiaí, 13 de outubro de<br />

1972) descreveu Benito como um grande tenor, que já esteve na Itália, França<br />

e por todo o Brasil. E que possui repertório de 23 óperas ensaiadas e sete já<br />

encenadas.<br />

Ellmerich (Jornal FOLHA DA TARDE, 30 de outubro de 1972, p. 40)<br />

publicou matéria em que discorreu sobre a apresentação de Maresca, no<br />

Auditório Itália. A Comissão Estadual de Música, do Conselho de Cultura,<br />

organizou a récita do tenor paulistano, que foi acompanhado pela pianista<br />

Isabel Maresca. Para o jornalista, “a despeito das qualidades vocais de<br />

Maresca já nos referimos mais de uma vez nesta coluna, visto que, desde<br />

1964, é um dos nossos melhores elementos o gênero lírico, com atuações não<br />

apenas no Brasil, mas também com sucesso na Itália.”<br />

O GLOBO (Jornal O GLOBO de 15 de julho de 1973, p.20, 2º clichê)<br />

noticiou a centésima representação de Madama Butterfly, de Puccini, no Teatro<br />

Municipal. Comentava sobre a decepção que a récita causou. O público<br />

esperava ver o acúmulo de experiências, mas ao contrário disso, o número de<br />

repetições da ópera de Puccini só fez envenenar o espetáculo com os tóxicos<br />

da rotina. Em relação à Maresca, a crítica acreditava que apesar da voz<br />

encorpada, grande e de belo timbre, o tenor pareceu sempre nervoso, como<br />

nunca poderia ser o canalha responsável pela infelicidade da japonesinha, que<br />

ele representava.<br />

A coluna de Horta (JORNAL DO BRASIL, 17 de julho de 1973) sobre a<br />

apresentação de Butterfly, comentou que foi um bom espetáculo graças,<br />

71


sobretudo, aos papéis secundários de Benito Maresca, Nelson Portela e<br />

Carmen Pimentel, que estavam excelentes, como Pinkerton, Scharpless e<br />

Suzuki; a cena em que cantam juntos, no 2º ato, foi realmente um ponto alto.<br />

Y Juca Pirama, Ópera de Spartaco Rossi sobre os versos de Gonçalves Dias<br />

(1973)<br />

Nos meses de agosto e setembro, de 1973, Benito interpretou, mais uma<br />

vez, Rodolfo, da Ópera La Bohéme, de Puccini, no Teatro Municipal do Rio de<br />

Janeiro, ao lado de Diva Pieranti, como Mimi, Paulo Fortes, como Marcello,<br />

Ruth Staerke, como Musetta, Fernando Teixeira, como Schaunard, dentre<br />

outros. França (Jornal, ÚLTIMA HORA, Rio de Janeiro, 01 de setembro de<br />

1973) considerou a récita como um dos melhores quadros já encenados. Os<br />

intérpretes se demonstraram muito bem entrosados e o público ouviu<br />

comovidamente a primeira ária, cantada pelo Maresca, que, pela beleza do<br />

timbre e efusão romântica, foi um dos aspectos mais louváveis da récita.<br />

Por outro lado, Miranda (JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 03 de<br />

setembro de 1973) trouxe comentários não tão positivos. Acreditava que o que<br />

se viu não foi bom nem ruim. Os melhores momentos ficaram por conta dos<br />

cantores, já que a soprano Diva Pieranti e Benito Maresca foram corretos em<br />

seus desempenhos, cantando com boa técnica e evidenciando os belos<br />

timbres de suas vozes. Os piores momentos ficaram por conta do coro, por<br />

seus desencontros com a orquestra.<br />

72


No Ginásio de Esportes do Clube Araraquarense, em 18 de dezembro<br />

de 1973, o Governo do Estado de São Paulo, a Secretaria de Cultura, Esportes<br />

e Turismo, com a colaboração da Prefeitura Municipal de Araraquara,<br />

Departamento de Educação e Cultura e Comissão de Artes e Cultura de<br />

Araraquara apresentaram a Trilogia Sacra em três atos e sete quadros de A<br />

Infância de Cristo, de Hector Berlioz, sob a regência de Tullio Colacioppo e<br />

participação do Coral Paulistano.<br />

A mesma montagem foi reapresentada, em 20 de dezembro de 1973, no<br />

Nosso Clube de Limeira, com colaboração da Prefeitura Municipal de Limeira e<br />

Coordenadoria de Esporte e Turismo.<br />

(A Infância de Cristo, de Hector Berlioz)<br />

A Ópera O Guarani, foi apresentada por brasileiros em Palermo no ano<br />

de 1974, graças a um Convênio de Intercâmbio Cultural firmado entre as<br />

prefeituras de Palermo e São Paulo, que previa também uma temporada em<br />

São Paulo, no mês de setembro, do Teatro Massimo de Palermo.<br />

A imprensa divulgou com grande destaque, em 24 de março de 1974, o<br />

embarque de cantores e bailarinos do Teatro Municipal, para Roma. As<br />

sopranos Niza de Castro Tank e Diva Pieranti, os tenores Benito Maresca,<br />

Zacarias Marques e Assadur Kiultizian, os barítonos Constanzo Mascitti,<br />

Andréa Ramus e Paulo Fortes e os baixos Wilson Carrara e Benedicto Silva,<br />

73


cumpririam temporada em Palermo, com a representação de sete récitas da<br />

ópera Il Guarany, de Carlos Gomes.<br />

Em 29 de março de 1974, O ESTADO DE SÃO PAULO (O ESTADO DE<br />

SÃO PAULO, 29 de março de 1974) destacou: A crítica italiana elogia ´O<br />

Guarani´. O texto do jornalista, um enviado especial e da Agência AP, discorreu<br />

sobre a récita encenada no teatro Politeama Garibaldi, diante de dois mil<br />

espectadores:<br />

“O espetáculo foi, formalmente, o mesmo a que Palermo assistiu em<br />

1872, seis anos depois da estréia da ópera no Scala de Milão. Tudo<br />

foi feito segundo os princípios estéticos da época, sem qualquer<br />

tentativa de modernização. Provavelmente, foi a autenticidade da<br />

representação umas das razões do êxito alcançado, flagrante na<br />

maneira calorosa com que o público aplaudiu. (...)Renato Chiesta<br />

impressionou-se (...) Sobre Maresca, disse ser um elemento válido<br />

e de grande relevo.”<br />

Após as apresentações de Il Guarany, a imprensa divulgou o destaque<br />

de Maresca entre os demais cantores.<br />

74


Giuseppe Gebbia (Coluna La Lírica, 20 de giugno de 1974) destaca o<br />

nome de Maresca:<br />

“Em 1974 o tenor que faria o papel de Peri, Sérgio Albertini,<br />

adoeceu. Me chamaram para participar dos ensaios da temporada<br />

do Guarani e eu aceitei, sem receber nada. Fui ensaiar e todo dia<br />

punha mais voz, nem sei se onde saia tanta voz. Me alimentava<br />

direito, fazia ginástica e mandava tudo nos ensaios. No final o tenor<br />

Sergio Albertini disse que não tinha condições de cantar. O maestro<br />

decidiu que eu iria substitui o Albertini, já que eu havia ensaiado o<br />

tempo todo. O maestro Belardi sempre criticou que eu não poderia<br />

cantar O Guarani, alegando que eu não tinha voz para cantar Carlos<br />

Gomes.”<br />

Benito relatou que a primeira récita da Ópera Il Guarany, de Carlos<br />

Gomes, foi impressionante e que o público o carregou teatro afora nas costas.<br />

Minha mulher corria atrás gritando: ele tem que cantar amanhã! (depoimento<br />

pessoal).<br />

Como de costume, os integrantes do elenco da ópera jantaram juntos.<br />

Também o maestro Belardi. Contou Benito, sobre sua surpresa, quando o<br />

maestro virou-se para ele e disse: Benito, Carlos Gomes escreveu esta ópera<br />

pra você!<br />

Antonio Carlos Gomes (1836-1896), o compositor da Ópera O Guarani,<br />

nasceu em Campinas e iniciou seus estudos musicais com seu pai, Manuel<br />

José, diretor da banda da cidade.<br />

Ao transferir-se para o Rio de Janeiro, Carlos Gomes passou a estudar<br />

música no Conservatório, como aluno de Joaquim Gianini. Em 1860, fundou a<br />

Ópera Nacional, dirigiu orquestras e representou suas primeiras óperas A Noite<br />

do Castelo (1861) e Joana de Flandres (1863). Com o sucesso, Carlos Gomes<br />

conseguiu uma bolsa de estudos em Milão, na Itália.<br />

Em 1870, estreou Il Guarany, no Teatro alla Scala de Milão. Foi<br />

considerado o nome de maior expressão da história do teatro musical<br />

75


asileiro. Foi o primeiro compositor brasileiro a ter suas obras apresentadas<br />

no alla Scala de Milão.<br />

Il Guarany (O Guarani) , de Antônio Carlos Gomes, é uma Ópera em<br />

quatro atos, em italiano. Com Libreto de Antônio Scalvini, estreou no Teatro<br />

Scala de Milão, na Itália, em 19 de março de 1870 e fez grande sucesso. A<br />

ópera Il Guarany tem como maior destaque a sua abertura é até hoje muito<br />

interpretada, e muito conhecida por ser o tema do programa a Voz do Brasil.<br />

Jornais italianos noticiaram, em primeira página, a atuação dos<br />

brasileiros.<br />

A FOLHA DE SÃO PAULO (Jornal A FOLHA DE SÃO PAULO de 21 de<br />

maio de 1974) registrou as sete récitas de O Guarani apresentadas pelo<br />

conjunto de artistas líricos brasileiros, juntamente com o corpo de baile do<br />

76


Teatro Municipal de São Paulo, no Teatro Massimo de Palermo, na Sicília.<br />

Informou também que o tenor Benito Maresca foi contratado para cantar, no<br />

mesmo mês, quatro récitas da Ópera La Forza del Destino, de Giuseppe Verdi.<br />

LA FORZA DEL DESTINO é uma Ópera em quatro atos de Verdi.<br />

Libreto de Francesco Maria Piave, teve sua primeira apresentação em São<br />

Petsburgo, 10 de novembro de 1862.<br />

Em julho de 1974, Benito voltava ao Brasil e se apresentou no Teatro<br />

João Caetano, ao lado da soprano Renata Lucci. Regidos pelo maestro Diogo<br />

Pacheco, executaram árias e duetos de Óperas de Giuseppe Verdi.<br />

A coluna MUSIK IN MÜNCHEN (Walberg, München, por K.R. Danler em<br />

29 de outubro de 1974) trouxe a notícia da repentina doença de Gianfranco<br />

Cecchele, que possibilitou o debut do jovem tenor brasileiro Benito Maresca,<br />

perante o público de München, no Concerto do Deutches Museum. No artigo a<br />

afirmação de que substituir Cecchele foi, de certa maneira, uma grande<br />

responsabilidade, mesmo que o tenor tivesse demonstrado certo nervosismo e<br />

deslocamento ante a primadonna Seta del Grande, ao cantar a ária “Nessum<br />

Dorma”, de Turandot. Assim mesmo, conseguiu mostrar que já era de categoria<br />

internacional.<br />

TURANDOT, de Puccini, é uma Ópera em três atos com Libreto de<br />

Giuseppe Adami e Renato Simone, baseado na peça Turandot (1762), de<br />

Carlos Gozzi. Deixada incompleta por Puccini, o último ato foi completado por<br />

Franco Alfano, estreou em Milão no dia 25 de abril de 1926.<br />

Em sua coluna, Ellmerich destacou o desempenho do tenor brasileiro na<br />

Europa. Para o articulista, um dos melhores tenores da nova geração brasileira,<br />

que atuava, com grande sucesso, na Europa. Divulga apresentações cidades<br />

da Alemanha, nos papéis principais de La Bohème, Tosca, Mme. Butterfly e<br />

Forza del Destino. E mais: para 1975, assinou contratos para participar das<br />

temporadas líricas em Viena e Zurique. E que, em dezembro de 1974, estaria<br />

77


de volta à cidade de São Paulo, para cantar na Ópera Lo Schiavo, de Carlos<br />

Gomes, numa programação da Prefeitura Municipal de São Paulo.<br />

Em 5 de dezembro de 1974,<br />

Benito Maresca interpretou Rodolfo da<br />

ópera La Bohème, de Puccini, ao lado<br />

de José Van Dam na Ópera de Berlin,<br />

Alemanha.<br />

78


Nos dias 15 e 16 de dezembro, do mesmo ano, Benito cantou, no Teatro<br />

Municipal de São Paulo, a Ópera Lo Schiavo, de Carlos Gomes, sob regência<br />

do maestro Armando Belardi. Já no ano seguinte, em 15 de janeiro, o diretor<br />

artístico da Frankfurt Opera, Christoph von Dohnanyi, decidiu celebrar o<br />

aniversário de Puccini, com a montagem da Ópera Tosca.<br />

LO SCHIAVO (O ESCRAVO), Ópera em quatro atos de Carlos Gomes<br />

(1836-1896), com libreto de Rodolfo Paravicini, inpirado em concepção e<br />

esboços de Alfredo d’Escragnolle Taunay, o visconde de Taunay, sendo que o<br />

“Hino da Liberdade”, o 2º ato, tem Libreto de Francisco Giganti. Estreou no<br />

Teatro D. Pedro II, depois Teatro Lírico, no Rio de Janeiro, em 27 de<br />

setembro de 1889.<br />

TOSCA é uma Ópera de Puccini em três atos, com Libreto de<br />

Giuseppe Giacosa e Luigi Illica, baseado na peça La Tosca (1887), de<br />

Victorien Sardou. Prmeira apresentação: Roma, 14 de janeiro de 1900 em<br />

italiano. Benito viveu o personagem Mário Cavaradossi, pintor e amante de<br />

79


Floria Tosca.<br />

Em 15 de janeiro de 1975, Maresca cantou pela primeira vez com uma<br />

estreante na Ópera Tosca – Eva Marton, que mais tarde seria uma grande<br />

estrela no gênero.<br />

A Revista OPERA NEWS deu destaque ao evento e o colunista Carl H.<br />

Hiller (Revista OPERA NEWS, 1975) comentou que a protagonista Eva Marton<br />

é muito forte tanto como cantora quanto como atriz. E que a revelação foi<br />

Benito Maresca, no papel de Cavaradossi. Tenor dramático, poderoso, que<br />

demonstrou muito conforto nos altos registros.<br />

Württembergische Staatstheater Stuttgart apresentou a Ópera Tosca, de<br />

Puccini. Mario Cavaradossi foi interpretado pelo tenor Benito Maresca, em 24<br />

de fevereiro de 1975.<br />

Representou Linkerton, da Ópera Madame Butterfly, de Puccini, em 3 e<br />

12 de fevereiro de 1975, em Staatsoper, Munique, sob direção de cenas de<br />

Giancarlo Del Mornaco.<br />

Em abril de 1975, Maresca atuou na Ópera Áttila, de Verdi, na Stagione<br />

Lírica do Teatro Massimo. Sobre sua atuação, o jornal L’ora publicou:<br />

“De bom nível o ensaio de Benito Maresca-Foresto mesmo com<br />

pequenos sinais de voz não puríssima, mas mais aceitável que a dos outros”.<br />

(L´ora de 30 de abril de 1975, por Giovanni Di Stefano)<br />

“Di buon livello la prova di Benito Maresca Foresto anche se com uma<br />

resa di você non purissima, più che accettabili gli altri.” (L´ora de 30 de abril de<br />

1975, por Giovanni Di Stefano)<br />

Em 31 de maio de 1975, voltou a cantar ao lado de Eva Marton, na<br />

Ópera Tosca, de Puccini, na Frankfurter Oper. E em junho, fez Cavalleria<br />

Rusticana, de Mascagni, no papel de Turiddu, em Staatsoper.<br />

80


O Jornal CORREIO DO POVO (Correio do Povo, 23 de julho de 1975)<br />

discorreu sobre a carreira de Benito. Referiu-se a um imenso sucesso, não só<br />

de crítica, como de público conquistado, em Palermo, com Il Guarany. Tal<br />

sucesso valeu-lhe um convite da direção do Teatro Massimo, para interpretar o<br />

papel de D. Álvaro, em La Forza del Destino, sob a regência da maestra,<br />

preparadora e grande cantora Gina Cigna. Com repetidos sucessos, afirma o<br />

jornal, vem, desde então, se apresentando nos principais centros de ópera<br />

como Staatsopes, de Viena, München, Berlin, Sttutgart, Frankfurt e outros. O<br />

jornal fez, ainda, uma síntese das principais críticas sobre Maresca:<br />

81


A partir daí, as óperas começaram a se repetir, Benito retornou a cidade<br />

de São Paulo e cantou, como solista, no Concerto Coral Sinfônico, em 31 de<br />

agosto de 1975, sob regência de Eleazar de Carvalho.<br />

No dia 3 de outubro de 1975, atuou em Madame Butterfly, de Puccini,<br />

como o tenente Pinkerton, na ópera de Munique, Alemanha. Em outubro do<br />

mesmo ano, foi Turiddu, da Ópera Cavalleria Rusticana, de Mascagni. Três<br />

dias depois, interpretou Rodolfo, da ópera de Puccini, La Bohème, no Deutsche<br />

Oper Berlin.<br />

Ainda no Deutsche Oper Berlin, cantou em Cavalleria Rusticana, no dia<br />

16 de outubro, La Traviata no dia 18 de outubro, na ópera de Munique e,<br />

novamente, em Cavalleria Rusticana, no dia 22 de outubro de 1975, no<br />

Deutsche Oper Berlin.<br />

No mês de novembro de 1975, apresentou La Bohème, nos dias 04, 07<br />

e 13, na ópera de Munique.<br />

Em entrevista à Revista ZH, Maresca (REVISTA ZH, de 10 de agosto de<br />

agosto de 1975, p.7, Porto Alegre) explicou que, mesmo depois de ter se<br />

tornado um nome obrigatório nas temporadas líricas de São Paulo e do Rio de<br />

Janeiro, não conseguia sobreviver de seu trabalho como cantor. Por isso, a<br />

decisão de se radicar na Alemanha, por pelo menos dois anos: “No Brasil, não<br />

dá para sobreviver sem outra atividade paralela ao canto. Durante muito tempo<br />

trabalhei também como vendedor, mas agora vou aproveitar o convite que me<br />

foi feito pelo teatro de Munique para atuar em 20 récitas e sigo para a Europa.”<br />

A Revista (REVISTA ZH, de 10 de agosto de agosto de 1975, p.7, Porto<br />

Alegre) divulgou ainda que Maresca foi sido contratado para fazer 25 récitas,<br />

em Viena, no mês de setembro. E que o tenor já tinha outras experiências na<br />

Áustria, França e em várias cidades da Alemanha. Afirmou, também a Revista<br />

que Carlos Gomes era muito mais conhecido na Itália do que no Brasil e que<br />

82


Maresca pretendia, com sua ida à Europa, fazer um trabalho de divulgação<br />

deste compositor brasileiro, na Alemanha:<br />

“Apesar da origem italiana (pai e mãe nascidos na Itália), sou<br />

brasileiríssimo e lamento muito a falta de incentivo do governo para<br />

as promoções culturais. O brasileiro não tem tradição de música<br />

erudita nem de ópera e para que isto acontecesse era preciso que<br />

houvesse promoções neste sentido e que a cultura fosse levada ao<br />

público através de espetáculos e dos meios de comunicação.<br />

Benito disse na entrevista (REVISTA ZH, de 10 de agosto de agosto de<br />

1975, p.7, Porto Alegre) que no mês de julho, a classe erudita tinha se reunido<br />

com a Ordem dos Músicos de São Paulo, para algumas decisões importantes:<br />

No Brasil é muito comum os contratos serem feitos de boca e depois<br />

o artista não recebe. Mas agora fixamos uma tabela de preços para<br />

os cantores de ópera. Ficou decidido que todos os contratos devem<br />

passar pela Ordem dos Músicos que estabelecerá multas para quem<br />

o mesmo para o artista que aceitar o contrato por um preço. (...) O<br />

Centro Cultural já está sendo construído na cidade universitária.<br />

Dentro do planejamento, haverá um teatro italiano, outro de prosa e<br />

um sinfônico. Assim teremos óperas diariamente. Nós tivemos um<br />

prefeito de São Paulo que quis demolir o Teatro Municipal para<br />

construir um estacionamento. Dentro desta mentalidade o que se<br />

pode esperar?<br />

A carreira de Benito Maresca não foi marcada apenas por sua atuação<br />

nos palcos. Sempre engajado em questões sociais, preocupado com a<br />

condição do musico brasileiro e com a educação e a cultura dos jovens<br />

estudantes, deste país, valeu-se dos meios de que dispunha para chamar a<br />

atenção dos governantes.<br />

Susana Sondermann (Jornal Correio do Povo, de 10de agosto de 1975,<br />

Porto Alegre) destacou em entrevista com o cantor que “Maresca considera<br />

educação como base para divulgação da ópera.” Na mesma entrevista, Benito<br />

opinou sobre a aceitação da ópera no mundo, naquele momento histórico, e<br />

explicou que:<br />

83


“somente no Brasil e na Itália a ópera não está sendo divulgada<br />

como deveria. Na África do Sul existe um movimento operístico<br />

bastante intenso, e que na Alemanha fazem-se óperas diferentes<br />

diariamente. Uma das medidas ele sugere para que haja uma maior<br />

aceitação do gênero em nosso país seria uma educação mais<br />

voltada para o tema. Estimular o público jovem a comparecer à<br />

ópera, no seu entender, exige um trabalho de divulgação junto a<br />

escolas ginasiais, superiores e universidades. É preciso dar cultura<br />

ao estudante, explicar antes de cada espetáculo o que eles verão,<br />

qual o significado do todo, estimulando-os sempre. Hoje em dia não<br />

se pode mais pensar em ópera como um fato realista, mas como um<br />

espetáculo, que conseqüentemente deve aceito como espetáculo.”<br />

Em seu empenho pela divulgação da ópera, Maresca sugeriu ainda na<br />

entrevista ao jornal (Jornal CORREIO DO POVO, 10 de agosto de 1975), que<br />

se voltasse a fazer o que já acontecera tempos atrás na televisão brasileira:<br />

transmitir óperas, sob forma de capítulos. E chegou a afirmar que a maioria das<br />

pessoas daquela época nem sabiam o que era uma ópera. Nesse sentido, a<br />

televisão poderia significar um poderoso veículo a serviço da cultura. Outra<br />

maneira seria, segundo Benito, auxiliar o público na compreensão e aceitação<br />

da ópera, por meio da entrega ao público, juntamente com o programa, de um<br />

libreto com a tradução da obra cantada, ao invés de um simples resumo. Com<br />

isso, acreditava que o jovem brasileiro, sem uma tradição musical mais intensa,<br />

se sentiria mais atraído a acompanhar o espetáculo.<br />

Em 17 de janeiro de 1976, Benito Maresca debutou como Foresto na<br />

montagem da Ópera “Attila”, de Verdi, juntamente com José Van Dam, no<br />

papel de Attila. No dia 19 de janeiro, cantou em “Madame Butterfly”, de Puccini,<br />

no Deutsche Oper Berlin.<br />

ÁTTILA é uma Ópera formada por um prólogo e três atos. Libreto de<br />

Temistoce Solera, baseado na peça Áttila, König der Hunnen, de Zacharias<br />

Werner (1808), teve sua estréia em Veneza no dia 17 de março de 1846,<br />

período romântico.<br />

No dia 21 de janeiro, viveu Alfredo, da Ópera La Traviata, de Verdi, na<br />

ópera de Munique e no, dia 22, fez Madame Butterfly, no Deutsche Oper Berlin.<br />

84


Dividiu o palco com Brigitte Fassbaender, em 1 de fevereiro, na ópera de<br />

Munique, sob a direção musical de Carlos Kleiber, na Ópera O Cavalheiro da<br />

Rosa, de Richard Strauss, no papel do tenor italiano. No dia 9, foi Alfredo,<br />

amante de Violeta, vivida por Ileana Cotrubas, na Ópera La Traviata, de Verdi.<br />

No dia seguinte, era Rodolfo, em La Bohème, de Puccini, onde contracenava<br />

com Érika Köth, considerada o rouxinol alemão, no papel de Mimi.<br />

Der Rosenkavalier (O Cavaleiro da Rosa), ópera em três atos de<br />

Richard Strauss, com libreto de Hugo von Hofmannsthal. Estreou no Hofoper<br />

de Dresden, a 26 de janeiro de 1911.<br />

Benito repetiu seis vezes as apresentações da Ópera Tosca, de Puccini,<br />

na Alemanha, durante os meses de abril a novembro de 1976. Além disso,<br />

esteve presente nas montagens de Cavalleria Rusticana, Madame Butterfly,<br />

Attila e Rigoletto, no mesmo ano.<br />

RIGOLETTO é uma Ópera de Verdi em três atos. Libreto de Francesco<br />

Maria Piave, baseado na peça Le roi s´amuse (1832), de Victor Hugo, teve<br />

sua primeira apresentação em Veneza no dia 11 de março de 1851.<br />

Nos meses de janeiro e fevereiro de 1977, apresentou Cavalleria<br />

Rusticana, no Frankfurter Oper.<br />

O ESTADO DE SÃO PAULO (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, de 08<br />

de janeiro de 1977) divulgou matéria com destaque para “O Exterior Aplaude<br />

Brasileiro Benito”. Contava a história de um paulistano de 38 anos, casado com<br />

a pianista Isabel Ventura, com quem teve um filho, à época com dez anos, o<br />

Enrico. Em 1966 fiz a temporada no Municipal e só aí descobri que não sabia<br />

cantar, dizia Benito. Considerava que a carreira começou mesmo em 1967,<br />

desde quando começou a ter aulas com o maestro Marcel Klass, a quem<br />

creditou muito do êxito obtido no exterior. A mesma matéria dá conta de que<br />

Benito tinha sido fabricante de massa para macarrão, vendedor de confecções<br />

femininas, de peças para automóveis e produtos farmacêuticos e que, há<br />

alguns anos, vinha se apresentando nos palcos da Deutsch Oper, de Berlim, do<br />

85


Staatsoper, de Viena, do Frankfurter Oper, de Frankfurt e do National Theater,<br />

de Munique. E previa, ainda, o retorno de Maresca à cidade de São Paulo para<br />

o mês de agosto de 1977, para participar da Temporada Lírica Oficial, por 12<br />

mil dólares – era o cachê das grandes “estrelas”. O sonho do tenor seria o de<br />

poder realizar apresentações anuais no Brasil: Por maior que seja o meu êxito<br />

lá fora, sempre me ressinto de não poder cantar em minha própria terra.<br />

Minha mulher e meu filho, só iam me ver nas férias escolares.<br />

Aluguei uma casa de três andares para morar com minha família lá.<br />

Arrumei escola pra o meu filho. E minha sogra disse que meu filho<br />

não queria morar na Alemanha. Minha esposa foi nessa idéia e eles<br />

nem foram para lá, então eu voltei pro hotel (depoimento pessoal).<br />

Benito disse ao jornal O Estado de São Paulo . (A. O. Jornal O ESTADO<br />

DE SÃO PAULO, 8 de janeiro de 1977) saber que jamais alcançaria a perfeição<br />

como cantor e que só a prática e o trabalho persistentes desenvolveriam a<br />

técnica, o que tornava a voz mais doce, mais forte, mais aceitável. Diariamente<br />

praticava vocalizes, com exercícios que já sabia de cor, preparados pelo<br />

professor Marcel Klass. Com a diferença, porém, de que não se dispunha mais<br />

a desistir da carreira, como no tempo em que vivia no Brasil, quando entre um<br />

Rigoletto e uma Madame Butterfly exercitava os músculos do braço ao preparar<br />

massa para poder cantar.<br />

De acordo com o Dicionário de termos e expressões da música,<br />

(Dourado, p. 384, 2004):<br />

“Vocalise, 1. Genericamente, musica vocal desprovida de<br />

texto e cantada, como sugere o termo sobre vogais. Compositores<br />

como Rachmaninoff e Ravel escreveram obras no espírito do<br />

vocalise. 2. A partir o Classicismo e principalmente nos dias de hoje,<br />

exercícios diários ou preparatórios realizados por cantores que<br />

consistem em pequenas seqüências de intervalos ou arpejos, ora<br />

empregando apenas vogais, ora articulando repetidamente alguma<br />

consoante (formando sílabas como mo ou ri, por exemplo) antes de<br />

cada grupo de notas, e mudando de tonalidade em geral cromática e<br />

constantemente.”<br />

86


No dia 12 de junho de 1977, mais uma vez, contracenou com a soprano<br />

Érika Köth, como Mimi, em La Bohème, e com Adriana Maliponte, em 14 e 16<br />

de junho de 1977, em La Traviata, na Ópera de Munique.<br />

Em julho e agosto de 1977, viveu Turiddu e Canio, respectivamente nas<br />

Óperas Cavalleria Rusticana, de Masgacni, e Il Pagliacci, de Leoncavallo, ao<br />

lado de Wilma Vernocchi e David Ohanesian, em Budapeste, Hungria.<br />

A Ópera Pagliacci de Rugero Leoncavallo, tem apenas dois atos e<br />

Libreto do próprio compositor. Fez sua primeira apresentação em Milão no dia<br />

21 de maio de 1892 com idioma em italiano. Canio, papel interpretado por<br />

Benito, é um irritadiço líder de meia idade dos atores. Na peça da trupe ele faz<br />

o papel de Pagliaccio, o palhaço e marido traído.<br />

Benito Maresca, volta a atuar nos palcos da cidade de São Paulo.<br />

Segundo ao Jornal de São Paulo, ( Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, agosto<br />

de 1977) a Temporada Lírica Oficial do Teatro Municipal de São Paulo, em<br />

1977, foi aberta com Tosca, de Puccini. Benito Maresca está de volta a São<br />

Paulo, “onde cantou pela última vez em 1968. Na Alemanha desde 1974, é<br />

considerado hoje uma estrela da ópera e, além de contratado em Munique,<br />

apresenta-se com regularidade nos outros grandes teatros líricos europeu.”<br />

O crítico Sérgio de Vasconcellos Correa (Jornal A FOLHA DE SÃO<br />

PAULO, 19 de setembro de 1977) comentou, sobre a atuação de Benito como<br />

Cavaradossi, na Ópera Tosca, de Puccini, que o tenor pressagiava no início<br />

uma atuação discreta, mas foi aos poucos se firmando e chegou a se constituir<br />

num dos pontos de destaque do espetáculo.<br />

A Temporada Lírica de 1977 contou, ainda, com a apresentação de<br />

Salvator Rosa, de Carlos Gomes. A crítica do jornal (Jornal O ESTADO DE<br />

SÃO PAULO, 9 de setembro de 1977) dizia: “O papel título é de Benito<br />

Maresca, um brasileiro jovem e sorridente, que agora está em Munique, com<br />

uma agenda internacional bem definida e que veio rapidamente ao Brasil, entre<br />

as suas temporadas na Alemanha e na Áustria.”<br />

87


Para Sérgio Viotti (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, 14 de setembro<br />

de 1977): “Salvator Rosa, artista-revolucionário, revela-se um papel exigente<br />

no qual Benito Maresca se sentia cada vez mais à vontade (sem grandes<br />

apoios da orquestra), atingindo momentos da melhor qualidade em seus duetos<br />

com Nina Carini (...).”<br />

A Ópera Salvator Rosa, de Carlos Gomes foi composta em 1874. Drama<br />

lírico em quatro atos, estreou em 21 de março do mesmo ano no Teatro Carlo<br />

Felice de Gênova. O libreto de Antonio Ghislanzoni foi extraído do romance<br />

“Masaniello” de Mirecourt.<br />

Em 31 de outubro de 1977, representou Cássio, junto com Carlo<br />

Cossutta, como Otello, e Piero Cappuccilli no papel de Jago, da Ópera Otello,<br />

de Verdi, em Munique. Em novembro do mesmo ano apresentou “Tosca”, de<br />

Puccini, no National Theater. E em dezembro, com Eva Marton, protagonizou<br />

novamente Tosca.<br />

Benito iniciou o ano de 1978 protagonizando na Ópera Wether, de Jules<br />

Massenet, em Staatsoper.<br />

Jules Émile Frédéric Massenet (1842 -1912) foi um compositor francês<br />

clássico do Romantismo, foi conhecido especialmente por suas óperas, muito<br />

populares no final do século XIX e início do século XX.<br />

Werther é uma Ópera em quatro atos de Massenet. Libreto de Édouard<br />

Balu, Paul Milliet e Georges Hartmann, baseado no romance Die Leiden dês<br />

jungen Webers (1774), de Goethe. Primeira apresentação em francês:<br />

Genebra , 27 de dezembro de 1892.<br />

O THE SUNDAY TIMES OF MALTA, de 7 de maio de 1978, sobre o<br />

programa onde Benito cantou La Traviatta, “The Aurora Opera House, Victoria<br />

– Gozo” ressaltou que La Traviata tem cor, alegria e, claro, um ininterrupto<br />

fluxo de melodia. O jornal cometou que os cantores italianos – em particular<br />

88


Milena dal Piva, Benito Maresca e Enzo Sordello superaram-se a si mesmos.<br />

Tiveram boa avaliação; Tabili e Maresca atraíram merecidos aplausos pelo<br />

dueto do 3º Ato, um dos maiores momentos líricos da ópera.<br />

Com Plácido Domingo e Piero Capuccilli, Maresca fez Otello, de Verdi,<br />

em 9 de fevereiro de 1978.<br />

No programa da ópera em<br />

que contracenaram juntos, Plácido<br />

Domingo deixou um recado à Benito<br />

com os dizeres: “com toda a minha<br />

admiração e amizade espero que<br />

cantemos muito juntos (mas não<br />

Otello), você como tenor e eu como<br />

maestro.”<br />

Otello é a penúltima Ópera de Verdi. Com quatro atos e Libreto de<br />

Arrigo Boiti, foi baseado no famoso drama de Shakespeare (1604-5). Primeira<br />

apresentação: Milão, 5 de fevereiro de 1887, em italiano. O personagem<br />

Otello, vivido por Maresca é o governador mouro de Chipre e general do<br />

exército veneziano.<br />

No ano de 1978, Benito representou várias vezes, na Europa, as Óperas<br />

Tosca, La Traviata, Werther, La Bohème, Cavalleria Rusticana, Madame<br />

Butterfly, L´Elisir D’ Amore e Otello.<br />

89


O mesmo feito se repetiu, em 1979, com as Óperas La Bohème, Otello,<br />

Tosca, La Traviatta e Madame Butterfly.<br />

L'Elisir d'Amore é uma Ópera em dois atos de Gaetano Donizetti com<br />

libreto de Felice Romani. Estreou no Teatro della Canobbiana de Milão em<br />

maio de 1832, cantada em italiano, o papel do tenor é o personagem<br />

Nemorino.<br />

Ao caro Benito, recordando a nossa<br />

bela Boheme em Munique com<br />

muito afeto e até breve, Ciao,<br />

Adriana Maliponte<br />

Em setembro, Benito Maresca participou da Temporada Lírica Oficial, no<br />

Teatro Municipal de São Paulo, quando interpretou Werther, da ópera de Jules<br />

Massenet. José Veiga Filho, divulgou matéria no Jornal Diário Popular (José da<br />

Veiga Oliveira, Jornal DIÁRIO POPULAR, 30 de setembro de 1979, p. 31) com os<br />

seguintes dizeres:<br />

90


O tenor Benito Maresca encarnou de modo convincente o<br />

agônico, sofredor, atormentado Werther, presa dum amor<br />

impossível e dilacerante. Sua emissão nos agudos é firme,<br />

consistente. Revelou-se também um ator de apreciável presença,<br />

em que lhe pese um francês manipulando sob vogais mui abertas,<br />

ditongos “e“ mudos nem sempre idiomáticos. “Je meurs” como<br />

“mers”, no sentido de “Estou morrendo”! Aliás, é o defeito<br />

encontradiço em quase todos os cantores italianos quando<br />

avançam na dificílima, rebarbativa área lírica da ópera ou da<br />

melodia francesa. A língua francesa é quase sempre fechada e<br />

nasal, enquanto a italiana se abre sem rebuços. Também o físico<br />

de Maresca não ajuda, Werther, no romance de Goethe, é um<br />

personagem típico da era romântica: alto esguio, presa das<br />

angústias duma paixão devoradora, fatal, sem remédio. Não<br />

obstante, Maresca tem a seu favor a voz, duma esplêndida pasta,<br />

que lhe valeu soberbamente nas árias (...)”.<br />

Em entrevista à FOLHA DA TARDE, (Jornal A FOLHA DA TARDE, 8<br />

de setembro de 1979) no artigo que deu destaque para “Maresca: o Triunfo<br />

Brasileiro na Ópera”, Benito disse estar muito satisfeito em participar da<br />

Temporada Lírica de São Paulo, já que, apesar das regalias e de toda infraestrutura<br />

no desenvolvimento de sua carreira na Europa, o ideal para ele,<br />

como brasileiro, seria poder exercer sua profissão em seu próprio país. A<br />

matéria dava conta de que Maresca tinha tipo físico jovem e atlético, além de<br />

ser informal e extrovertido. Não se parecia com os tradicionais cantores de<br />

ópera, caracterizados principalmente pelo peso. Benito explicava então a<br />

ópera era um espetáculo teatral completo e, como tal, muito dinâmico. A<br />

presença cênica e a interpretação, somadas aos recursos vocais, faziam o<br />

espetáculo. Por isso, essas figuras tenderiam a desaparecer. Esclarecia,<br />

ainda o texto, que devido à falta de continuidade de espetáculos existentes<br />

em nosso país, limitado em termos operísticos, o tenor teve que trabalhar<br />

como vendedor de uma firma de aços e como representante de laboratório<br />

para poder se sustentar entre as apresentações e só não desistiu da carreira<br />

por ter casado com a pianista Isabel Dias, que suportou as dificuldades<br />

financeiras e também o incentivou, ao auxiliá-lo musicalmente.<br />

Benito Maresca se apresentou pela Europa com cantores respeitados,<br />

como os barítonos Capuccilli e Bruson, os baixos Ruggero Raimondi e José<br />

88


Van Dan, as sopranos Kátia Ricciarelli, Adriana Maliponte , Ileana Cotrubas e<br />

Mirella Freni, sob regência de maestros como Carlos Kleiber, Jesus Lopes<br />

Cobos e Gomes Martinez.<br />

Sobre a ópera no Brasil, o cantor declarou ao jornal (Jornal A FOLHA<br />

DA TARDE, 8 de setembro de 1979):<br />

“no pouco tempo em que aqui estou, pude notar um<br />

ressurgimento da ópera em nosso país, principalmente no Rio de<br />

Janeiro, quer pela execução de autores estrangeiros, mas<br />

fundamentalmente, pela valorização dos autores nacionais, aos<br />

quais deveria ser dada maior divulgação aqui e lá fora. Tenho<br />

tentado isso por diversas vezes com dificuldades pela falta de<br />

material.”<br />

Ressaltou na entrevista o interesse demonstrado em vários lugares da<br />

Alemanha pelas obras de Carlos Gomes e frisou o ocorrido no bicentenário<br />

do Scala de Milão, onde havia uma sala especial para homenagear o músico<br />

brasileiro, apontando-o como um dos iniciadores do movimento<br />

“Scapigliatura” – movimento revolucionário da música lírica, acontecido na<br />

Itália, no século XIX. Benito declarou, ainda, que era da opinião de que<br />

deveriam fazer festivais de autores nacionais, como Carlos Gomes, Spartaco<br />

Rossi, Francisco Mignone e outros, tal como se faz em Bayreuth, na<br />

Alemanha, com Richard Wagner. Completou que a ópera no Brasil poderia se<br />

desenvolver com o apoio do governo, mantendo os teatros e os corpos<br />

estáveis, e da iniciativa privada, como nos Estados Unidos. Além disso,<br />

propunha um incentivo à difusão da música, em geral, que renderia frutos no<br />

futuro, tudo para uma popularização da ópera, que existia na maior parte do<br />

mundo e que existia aqui desde a década de 50:<br />

“A arte lírica é popular, ao contrário do que muitos pensam<br />

aqui. Ela somente é elitista quando não existe continuidade dos<br />

espetáculos, que os tornam acontecimentos sociais. Mas, mesmo<br />

sem divulgação, as récitas desta Temporada Lírica estão quase<br />

esgotadas e se você fizer uma pesquisa verá que pelo menos 70%<br />

da população nem sabe quando ela irá acontecer.”<br />

89


La Bohème<br />

Em 1980, Benito Maresca cantou a Ópera Werther no Canadian Opera<br />

Company, em Stuttgart.<br />

“Benito Maresca o tenor nascido no<br />

Brasil, novo na América do Norte, foi<br />

convidado para o papel título. se ele não<br />

tivesse sido solicitado a lidar com música<br />

dramática e caracterização ele teria sido<br />

excelente. Sua voz tem suavidade lírica nas<br />

passagens mais leves - como no dueto do<br />

primeiro ato com Charlotte e na lenta cena<br />

da morte. Infelizmente, a maior parte de sua<br />

emoção vem dos agudos de sua voz, que<br />

alguma vezes foi brilhante, mas só<br />

casualmente sob firme controle”<br />

90


Em julho do mesmo ano, fez O Guarani, de Carlos Gomes, no Teatro<br />

Municipal do Rio de Janeiro, representando o índio Peri.<br />

Maria Tereza dal Moro (Jornal O DIA, Rio de Janeiro, 13 de julho de 1980)<br />

classificou a apresentação de O Guarani, com elenco de solistas inteiramente<br />

brasileiros, como um espetáculo, visto nos últimos anos, perfeito musicalmente:<br />

“Maresca é um dos raros tenores de voz varonil, e agora mais encorpada, caiu<br />

como uma luva na partitura (...) em ‘Vanto io pur’, a grande ária que poucos<br />

tenores ousam cantar pelas dificuldades técnicas, mostrou toda beleza do seu<br />

timbre, doce e aveludado, a flexibilidade do seu registro, o vigor de suas notas<br />

agudas.”<br />

Sobre a montagem de Tosca, apresentada no Opera Trust, em outubro de<br />

1980 e atuada por Maresca, o FINANCIAL TIMES (Elizabeth Forbes, Financial<br />

Times, 21 de outubro de 1980) publicou que “Benito Maresca, no papel de<br />

Cavaradossi apresenta uma voz bem colocada com livre emissão de notas agudas<br />

e com convincente habilidade em demonstrar seus sentimentos à Tosca.”<br />

Já o SUNDAY NEWS (Charles Fitzgerald 19 de outubro de de 1980)<br />

afirmava que “Cavaradossi revelou um tenor muito atrativo, cuja atuação se<br />

melhorada e com mais vivacidade poderá levá-lo ao topo da lista futuramente.”<br />

Em julho de 1981, Maresca cantou a Ópera Nabucco, de Verdi, quando<br />

interpretou Ismaele, no Teatro Municipal Santiago de Chile. Fez algumas<br />

apresentações de Tosca, pela Compagnia D’ Opera Italiana aus Mailand, e La<br />

Fanciulla Del West, Ópera de Puccini, no papel de Dick Johson, durante os meses<br />

de outubro e novembro de 1981. Nas cidades de Amsterdã e Scheveningen, na<br />

Holanda, terminou o ano com Madame Butterfly, no Teatro Auditorium Di Cagliari.<br />

Sobre a atuação de Benito em Madame Butterfly, o colunista Nino Fara,<br />

(Jornal GLI SPETTACOLI, de 19 de dezembro de 1981) escreveu que Benito


Maresca, como Pinkerton, se mostrou lucidamente vigoroso e cortante na<br />

explosão do registro agudo.<br />

Santo Muscas publicou: (LA NUOVA DOMENICA, de 20 de dezembro de<br />

1981) “o tenor Benito Maresca era ótimo, pois delineou um Pinkerton com<br />

credibilidade e riqueza estilista verdadeiramente admirável.”<br />

Nabuco, Ópera em quatro atos de Verdi. Libreto de Temistlcle Solera,<br />

baseado na peça Nabucodonosor (1836), de Auguste Anicet-Bourgeois e Francis<br />

Cornu, a primeira apresentação foi em Milão, 9 de março de 1842. Foi escrita<br />

durante a época da ocupação austríaca no norte da Itália e, por meio da várias<br />

analogias, suscitou o sentimento nacionalista italiano. O Coro dos Escravos<br />

Hebreus, no terceiro ato da ópera (Va, pensiero, sull'ali dorate, "Vai, pensamento,<br />

sobre asas douradas") tornou-se uma música-símbolo do nacionalismo italiano<br />

da época.<br />

No ano de 1982, no Theatre Royal Nottingham, Benito Maresca atuou na<br />

Ópera Manon Lescaut, Ópera em quatro atos de Giacomo Puccini, com Libreto<br />

baseado na novela do Abade Prévost, L'Histoire du Chevalier des Grieux et de<br />

Manon Lescaut. Estreou a 1 de fevereiro de 1893 no Teatro Regio de Turim.<br />

A coluna de Robert Cockroft, (O YORKSHINE EVENING POST, de 12 de<br />

março de 1982) criticou: a posição destes foi de vontade para chegar a este ponto<br />

de tensão, onde foram ambas reconhecidas pela força e brilhantismo no<br />

casamento das vozes de Saunders e Maresca.<br />

No mês de maio, Benito retornou ao Brasil, para a Temporada Lírica Oficial,<br />

no Rio de Janeiro, e cantou as Óperas La Bohème, de Puccini, e A Viúva Alegre,<br />

de Franz Lehár.<br />

Franz Lehár (1870-1948) foi um compositor austríaco de ascendência<br />

húngara, conhecido principalmente por suas operetas. Ele foi um dos maiores<br />

92


compositores da Áustria. O seu maior sucesso foi Die lustige witwe (A viúva<br />

alegre), colocada em cena pela primeira vez no Theater an der Wien (Viena) em<br />

30 de dezembro de 1905.<br />

Para Maria Teresa Dal Moro (4 ÚLTIMA HORA, Rio de Janeiro, 2 de junho<br />

de 1982), sobre Benito Maresca, no papel de Rodolfo, em La Bohème publicou:<br />

“com a voz encorpada pelos papéis dramáticos que vem interpretando<br />

ultimamente na Europa, na noite da estréia (28 de maio) não conseguiu<br />

no primeiro ato recolocá-la no repertório lírico. Só a partir do terceiro foi<br />

conduzido seu canto com menos ímpeto e mais ternura para finalizar o<br />

quatro com forte emoção e dentro de uma linha genuinamente<br />

romântica. Sem intuição da dinâmica teatral, Maresca é muito propenso<br />

à cena estática, que compromete sua ação no palco. (...) Aliado à bela<br />

voz o físico cinematográfico e o domínio de palco dificilmente alguém<br />

poderia lhe tirar o lugar de maior tenor brasileiro da atualidade.”<br />

Sobre a montagem da opereta A Viúva Alegre, de Franz Lehár, a Revista<br />

ISTOÉ publicou que a orquestra, sob regência de David Machado, pareceu, ás<br />

vezes, mais pesada do que deveria, e que o maior erro cometido foi o volume<br />

emitido. Vivian Wyler (Revista ISTOÉ, de 8 de dezembro de 1982), acreditava que<br />

numa opereta, em que existem papéis, como o de Rosillon, interpretado pelo tenor<br />

Benito Maresca, onde é explorada a região aguda da voz o tempo todo e que um<br />

ator como Felipe Carone faz um papel cantado, não se justifica a orquestra tocar<br />

tão alto. Finalizou dizendo que nem todo mundo é Caruso.<br />

Maria Teresa Dal Moro (Jornal ÚLTIMA HORA, de 2 de dezembro de 1982),<br />

sobre a atuação de Benito, em A Viúva Alegre, comentou: O belo Benito Maresca,<br />

Camilo, muito bem vocalmente; como a maioria dos atores não conseguiu projetar<br />

a voz falada, falha imperdoável num cantor que pode usar a impostação.<br />

Palhano Júnior (ESTADO DE MINAS, de 7 de dezembro de 1982),<br />

escreveu que Maresca cantou dentro de sua tessitura normal, demonstrou técnica,<br />

limpeza vocal e agudos claros.<br />

93


A Fundação Clóvis Salgado de Minas Gerais apresentou em Curitiba, no<br />

Teatro Guaíra, uma montagem da Ópera Madame Butterfly, de Puccini. Fernando<br />

Simas Filho (Jornal GAZETA DO POVO, de 25 de julho de 1982), em sua coluna,<br />

noticiou que o destaque da estréia deve ser dado ao tenor Benito Maresca, que<br />

desempenhou muito bem o papel de Pinkerton.<br />

Em janeiro de 1983, Maresca participou da Temporada Lírica de Parma,<br />

nos Teatros Reggio e Municipal “R. Valli”, com a Ópera Otello, de Verdi. Mais<br />

tarde, participaria da Temporada Lírica Municipal do Rio de Janeiro de 1983.<br />

Marcello Conati (CARLINO REGGIO, de 9 de fevereiro de 1983) comentou<br />

sobre Otello: voz muito apreciável o Cássio de Benito Maresca bem como muito<br />

longe, por causa de uma direção de cena ineficiente para uma ação cênica de<br />

credibilidade.<br />

Em julho de 1983, o Governo do Estado do Rio de Janeiro patrocinou, no<br />

Teatro Municipal, a Ópera Madame Butterfly, de Puccini.<br />

Em sua coluna sobre críticas musicais do Jornal O GLOBO de Juiz de Fora,<br />

Antonio Hernandez (O GLOBO, 26 de julho de 1983), comentou que a estréia de<br />

Madame Butterfly, musicalmente, foi o máximo que se poderia sonhar, nas<br />

condições atuais, e que Maresca possui saúde vocal invejável.<br />

Para a colunista Dal Moro (Rio de Janeiro, 29 de julho de 1983) além da<br />

voz de Benito Maresca, que permanece bela e maleável, fisicamente, não temos<br />

outro Pinkerton mais fiel à personagem que é um belo sedutor de olhos azuis.<br />

Luiz Paulo Horta (JORNAL DO BRASIL, de 26 de julho de 1983): O tenor<br />

Benito Maresca fez um Pinkerton perfeito em afinação, musicalidade e beleza de<br />

timbre.<br />

94


O jornal (Correio Braziliense, de 27 de setembro de 1983) do Distrito<br />

Federal, noticiou a participação de Benito Maresca, na ópera de Puccini, La<br />

Bohème, que seria apresentada pela primeira vez em Brasília.<br />

A FOLHA DA TARDE DE PORTO ALEGRE (Jornal A FOLHA DA TARDE<br />

de Porto Alegre de 17 de outubro de 1983) comentou o sucesso da montagem da<br />

Ópera La Gioconda, de Ponchielli. Benito integrou o elenco. ’La Giocanda’ trouxe<br />

a ópera de volta ao público local, que há mais de dois anos não via montagens do<br />

gênero.<br />

Wilson Simão (Jornal O ESTADO DE MINAS GERAIS de 24 de novembro<br />

de 1983), concluiu:<br />

“Benito Maresca, este grande tenor da cena lírica mundial, no papel de<br />

Camilo de Rossilon, vive momentos de rara felicidade. Esbanja talento<br />

e técnica quando canta. Voz robusta, de timbre raro, admirável linha de<br />

canto, Benito e impõe como um de nossos melhores tenores. Dá-se ao<br />

luxo de emitir com perfeição o famoso “dó de peito”, marca registrada<br />

dos maiores tenores do mundo (...).”<br />

Amilcare Ponchielli (1834-1886) foi um compositor italiano, basicamente de<br />

óperas. La Gioconda, baseado em Angelo, tyran de Padoue de Victor Hugo, é<br />

uma ópera de Amilcare Ponchielli em italiano e libreto de Arrigo Boïto. Foi um<br />

grande sucesso, especialmente em sua terceira e última versão (Teatro alla Scala,<br />

Milão, 28 de Março, 1880), assim como o maior sucesso na história da ópera<br />

italiana entre a Aida (1871) e Otello (1887) de Verdi. É também o exemplo mais<br />

famoso do gênero italiano de Grande opera, o equivalente do francês Grand-<br />

Ópera.<br />

O ano de 1984 começou com a Temporada Lírica do Teatro-Monumento<br />

D’Annuzio, com Tosca, e Madame Butterfly e, novamente, Tosca, em Bagnara<br />

Calabra, no Teatro All’ Aperto, e outras cidades, como Taurinova, Avellino e<br />

Canosa Di Puglia, além das apresentações de 3 récitas de O Guarani, no Teatro<br />

Nacional de Brasília.<br />

95


Em abril de 1985, Benito fez a abertura e cantou algumas árias de Verdi, no<br />

“Verdi-Gala”, na cidade de Neunkirchen, Alemanha. Protagonizou “Tosca”, no<br />

Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em agosto, e La Traviata, em Roma, no<br />

Teatro Orione em setembro.<br />

Na abertura oficial das comemorações dos 150 anos de Carlos Gomes, em<br />

fevereiro de 1986, Benito protagonizou o índio Peri, de O Guarani, no Teatro<br />

Municipal do Rio de Janeiro.<br />

Em entrevista ao JORNAL DO COMÉRCIO do Rio de Janeiro, Benito<br />

Maresca contou ao jornalista Marcus Góes (Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 3<br />

de março de 1986) que adorava cantar as obras de Carlos Gomes, como Lo<br />

Schiavo, Salvator Rosa, Fosca e Colombo e que sonhava com o dia em que o<br />

Brasil consagraria um teatro a Carlos Gomes, onde só se representariam suas<br />

obras. Ao ser interpelado sobre suas últimas atividades, Benito disse que, só em<br />

1985, cantou Macbeth e Manon Lescaut, em Tenerife, Don Carlo, em Bari, e<br />

Tosca, no Rio de Janeiro, e que, em 1986, cantaria Tosca, em Caracas, Força do<br />

Destino, em Dijon, e Ernani, em Tenerife.<br />

A Ópera Fosca é do compositor brasileiro Antônio Carlos Gomes, em quatro<br />

atos e com Libreto do italiano Antonio Ghislanzoni, com primeira apresentação no<br />

Teatro Alla Scalla de Milão em 16 de fevereiro de 1873, a segunda ópera de<br />

Carlos Gomes apresentada na Itália. É considerada como a melhor obra do<br />

compositor, a qual o próprio tinha grande apreço. Foi apresentada no Scalla por<br />

quinze vezes consecutivas. Drama cantado em italino, o personagem do tenor<br />

chama-se Paolo.<br />

Ópera em quatro atos do compositor italiano Giuseppe Verdi, com libreto de<br />

Francesco Maria Piave, Macbeth estreou em Florença em março de 1847.<br />

Baseada na peça homônima de Willam Shakespeare.<br />

96


Em seguida, Benito Maresca participou da Temporada Lírica de 1986, no<br />

Teatro Orione, em Roma. Cantou O Guarani e Manon Lescaut, na Sala Cidade de<br />

São Paulo. Foi solista no Festival de Campos do Jordão, com diversas árias. Fez<br />

ainda Tosca e Lucia de Lammermoor, no Teatro Teresa Carreño, em Caracas, na<br />

Venezuela, além de dividir o palco do Auditório Itália com Stella Maris, com árias<br />

de óperas, sob a direção de Diogo Pacheco.<br />

Recebeu destaque no Jornal O ESTADO DE MINAS (O ESTADO DE<br />

MINAS GERAIS, 12 de julho de 1986) a apresentação da Ópera Lo Schiavo, de<br />

Carlos Gomes, no Grande Teatro do Palácio das Artes de Belo Horizonte, em<br />

julho de 1986, quando Maresca interpretou “Américo”.<br />

Em abril de 1987, Benito protagonizou a Ópera Andréa Chénier, de<br />

Umberto Giordano, na Sala Cidade de São Paulo, sob regência do maestro Tullio<br />

Colacioppo e o pianista Gustavo Petri. Participaram do elenco o barítono Andréa<br />

Ramus, as mezzo-sopranos Vânia Soares e Eloísa Baldin, a soprano Celine<br />

Imbert e o baixo Carlos Augusto Vial, entre outros. E na Biblioteca Pública “Mário<br />

de Andrade”, em São Paulo, cantou trechos da Ópera Tosca, em junho de 1987.<br />

Em março de 1988, com o término das obras de restauração do Teatro<br />

Municipal de São Paulo, Benito cantou no Concerto Inaugural do Teatro e no<br />

Recital de Canto Lírico do Círculo Militar de São Paulo.<br />

Na Temporada Lírica de 1988, Maresca foi o protagonista de Madame<br />

Butterfly, no Palácio das Artes de Belo Horizonte e no Teatro Nacional de Brasília,<br />

bem como fez apresentações sobre de vários trechos de óperas pelo Estado de<br />

São Paulo.<br />

A montagem da Ópera Madame Butterfly, apresentada no Palácio das Artes<br />

de Belo Horizonte, teve direção assinada pela cineasta Tizuka Yamazaki. Foi sua<br />

primeira experiência na direção de obras deste gênero. O meu trabalho é transferir<br />

97


para o audio-visual, qualquer que seja, palco, tela, vídeo, uma emoção que está<br />

escrita no papel, afirma Tizuka (Márcio Lima, Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO,<br />

28 de junho de 1988).<br />

De acordo com a matéria de Márcio Lima (Jornal O ESTADO DE SÃO<br />

PAULO, 28 de junho de 1988), Tizuka reconheceu que o cantor lírico nem sempre<br />

é um ator, o que torna a encenação de uma ópera mais difícil do ponto de vista da<br />

interpretação.<br />

A iniciativa da Fundação Clóvis Salgado de reunir, em Minas Gerias, grande<br />

elenco de cantores líricos, sob a direção da cineasta Tizuka Yamazaki, na<br />

montagem da Ópera Madame Butterfly, com ingressos mais baratos, para<br />

caravanas, e hospedagem com desconto, para públicos de cidades mais<br />

distantes, foi matéria da grande maioria dos jornais nacionais e, para o colunista<br />

Nicolau Neto (Jornal ESTADO DE MINAS, 1 de julho de 1988) a empreitada<br />

alcançou êxito com presença confirmada de várias cidades.<br />

Em 1989, além de Encontros Musicais patrocinados pela Prefeitura<br />

Municipal de Campinas e do Concerto Lírico, no Auditório do Circulo Italiano,<br />

Benito Maresca cantou no Palácio das Artes de Minas Gerais, nas Vesperais<br />

Líricas do Teatro Municipal de São Paulo e no 3º Encontro Sinfônico de Inverno,<br />

que contou com a participação do diretor artístico e regente Eleazar de Carvalho.<br />

Em setembro de 1989, Benito Maresca viveu o papel de Carlo VII, Rei da<br />

França, na Ópera Giovanna d’Arco, de Giuseppe Verdi, no Herberger Theater<br />

Center, em Phoenix, Arizona. Esta Ópera de Verdi teve sua estréia no ano de<br />

1845 em Milão. No mês de outubro, Benito cantou na montagem de Tosca, com<br />

Déborah de Oliveira e Carmo Barbosa, no Teatro Guaíra, em Curitiba.<br />

A imprensa de Minas Gerais (Jornal ESTADO DE MINAS, 22 de novembro<br />

de 1989) deu conta de que o Palácio das Artes de Minas Gerais apresentou as<br />

98


montagens das Óperas Cavalleria Rusticana e Pagliacci. A repórter Clara Arreguy<br />

afirmou que Benito Maresca foi o mais aplaudido da noite. Foi aplaudido em cena<br />

aberta na ária Ride Pagliacci.<br />

A crítica de ópera Maria Teresa Dal Moro, em sua coluna intitulada de “A<br />

estrela dos tenores” publicou (Uh Revista, 1 de dezembro de 1989):<br />

“Os tenores Benito Maresca e Amauri René acabaram sendo as<br />

figuras estelares de Pagliacci”, em revezamento. (...) Benito Maresca, o<br />

Belo, cantado como a técnica que deve manter sempre, interpretou<br />

empolgante Cânio, confirmando sua liderança entre os grandes tenores<br />

do Brasil. A voz, como luminosidade de meio-dia, reverberou na récita<br />

final.”<br />

Em 1990, Benito Maresca participou do 5º Concerto Lírico, na Igreja<br />

Sagrada Família, de São Caetano do Sul, com árias de Leoncavallo, Denza,<br />

Puccini e Verdi. Na Temporada Lírica de Minas Gerias integrou o elenco da Ópera<br />

Il Pagliacci, como Canio, e cantou, no Concerto Lírico de Gala e na Cortina Lírica,<br />

árias de Aida, no Teatro Rui Barbosa, em São Paulo.<br />

Aida, Ópera de Verdi em quatro atos com Libreto Antonio Ghislanzoni,<br />

escrito à partir de um texto francês de Camille du Locle, que por sua vez se<br />

baseava em uma sinopse de Auguste Mariette. com estréia mundial na Casa da<br />

Ópera, Cairo, aos 24 Dezembro de 1871. Esta obra foi composta por encomenda<br />

do governo egípcio em comemoração à abertura do canal de Suez.<br />

99


No Teatro Municipal de São Paulo executou trechos da Ópera Tosca, em 3<br />

de setembro de 1990, e, em 6 de novembro, atuou em La Traviata, pela ABAL –<br />

Associação Brasileira de Artistas Líricos no Centro de Convivência Cultural.<br />

Em novembro, participou da montagem da opereta em 3 atos O Morcego,<br />

de Johann Strauss, no Teatro Municipal de São Paulo.<br />

Giron (Jornal A FOLHA DE SÃO PAULO, 15 de novembro de 1990) fez<br />

duras críticas à direção de Iacov Hillel, quando da montagem da opereta O<br />

Morcego. Comparou a obra de Strauss a uma “polquinha” e revelou que todo o<br />

elenco, em determinado momento, virava-se de costas para o público e rebolava<br />

ao estilo Gugu. No que se refere ao tenor Benito Maresca, seu único comentário<br />

foi o de que o tenor fez rir, porque assumiu ser um canastrão.<br />

Die Fledermaus (O Morcego) é uma opereta cômica em três atos do<br />

compositor alemão Johann Strauss Jr. Ela estreiou em 5 de abril de 1874 no<br />

Theater an der Wien em Viena, Áustria, seu idioma original é o alemão. Benito<br />

atuou no papel do tenor Gabriel von Eisenstein, marido de Rosalinde, a<br />

protagonista, é um galanteador romântico que adora pregar peças. No início da<br />

ópera ele é sentenciado a oito dias na prisão por desacato civil.<br />

Já, Chuck Woodward (Revista ISTOÉ, 21 de novembro de 1990) fez crítica<br />

positiva, pelos méritos artísticos e pela relevância cultural e que a presença<br />

experiente de Benito Maresca foi mais do que oportuna.<br />

Maresca cantou árias de Pietri e Carlos Gomes, em Concerto Lírico, no<br />

Teatro Rui Barbosa, em São Paulo e participou da Temporada de Concertos, em<br />

1991, pela Pró-Música de Florianópolis, com árias de diferentes compositores. Em<br />

outubro apresentou-se no Shopping Iguatemi, com a Ópera Tosca, sob direção e<br />

regência de Tullio Colacioppo e apresentação e narração de Raul Cortez.<br />

100


O ano de 1992 foi marcado por sua participação na montagem da Ópera<br />

Don Giovanni, de Mozart, dirigida por Bia Lessa, em Fortaleza. O projeto foi<br />

solicitação de Violeta Arraes, ex-secretária da Cultura do Governo do Ceará, que<br />

investiu US$ 150mil para a montagem, com apoio de empresas da região.<br />

Reportagem da Revista Visão (Revista VISÃO, 29 de janeiro de 1992), esclareceu<br />

que maioria dos profissionais era do Ceará e se sobressaíram nos papéis centrais,<br />

brasileiros conhecidos internacionalmente, como o tenor Benito Maresca,<br />

intérprete de Don Ottávio, o baixo Sérgio Righini e as sopranos Mônica Martins e<br />

Denise Tavares. O maestro regente foi o italiano Alessandro Sangiorgi.<br />

A Ópera Don Giovanni, tem dois atos e é da autoria de Wolfgang Amadeus<br />

Mozart, com libreto de Lorenzo da Ponte. Estreou em Praga, a 29 de outubro de<br />

1787. Nesta Ópera em italiano, o protagonista é um barítono, assim Maresca fez<br />

um papel secundário, o do tenor Don Ottavio.<br />

Com Neyde Thomas, Rio Novello, Pepes do Vale e grande elenco, Benito<br />

fez o Rei, na Ópera Colombo, de Carlos Gomes, em 1992, no Teatro Guairá,<br />

Paraná. Lá ainda, no mesmo ano, fez Don José da Ópera Carmen, de Bizet.<br />

Carmen, Ópera em quatro atos de Bizet, tem Libreto de Meilhac e Halévy,<br />

a partir do romance de Prosper Mérimée (1845). Primeira apresentação em<br />

Paris, 3 de março de 1875. Alguns meses depois da apresentação em Viena, o<br />

diálogo falado foi substituído por recitativos compostos por Ernest Guiraud.<br />

Recentemente a versão original começou a expulsar Guiraud de cena.<br />

O papel interpretado por Benito foi o do tenor lírico Don José, um cabo do<br />

exército muito honesto e descente, mas que ao se envolver com Carmen, vira um<br />

fora-da-lei.<br />

Nesta época, Benito decidiu dedicar-se à área acadêmica e pleiteou vaga<br />

de professor na Universidade de São Paulo. Enviou programas de sua extensa<br />

carreira à Comissão Julgadora da Universidade que, prontamente, ofereceu a ele<br />

101


o título de doutor por notório saber. Desde então, passou a integrar o corpo<br />

docente como professor de canto erudito.<br />

Mas Benito não abandonou os palcos, assim quando a Associação<br />

“Lucchesi Nel Mondo”, Circolo Toscano e o Círculo Militar de São Paulo,<br />

apresentaram, em junho de 1992, a V “Notte Della Musica”, Benito executou solos<br />

e duetos dos mais variados compositores. No mesmo ano, fez parte do Programa<br />

da Festividade de Inauguração da Nova Sede do Teatro Lírico de Equipe e, no<br />

Rotary Club de São Paulo, cantou na “III Noite Lírica”.<br />

Em novembro de 1992, Benito participou do “XIV Encontro Sinfônico de<br />

Primavera”, acompanhado pela Orquestra Sinfônica de São Paulo, sob regência<br />

de Eleazar de Carvalho.<br />

No mesmo mês, interpretou Luigi, na Ópera Il Tabarro, sob Direção Musical<br />

e Regência de Alessandro Sangiorgi e Direção Cênica de Jorge Takla e ainda<br />

cantou árias de óperas no Teatro do Sesi, em São Paulo.<br />

Il Tabarro, Ópera em um ato de Puccini. Libreto de Giuseppe Adami,<br />

baseado na peça La houppelande (1910), de Didier Gold. Primeira apresentação<br />

em Nova York, 14 de dezembro de 1918, com Suor Angélica e Gianni Schicchi,<br />

como parte de Il trítio.<br />

Em dezembro, cantou com Berenice Pace, João Di Brazzi e José Dainese,<br />

acompanhados ao piano por Isabel Maresca, sua esposa, “Canções Eternas e<br />

Trechos Famosos de Óperas” no Clube de Campo do Castelo me São Paulo.<br />

Em 3 de outubro de 1993, estreou a Ópera O Chapéu de Palha de<br />

Florença, escrita por Nino Rota, em 1946. A estréia marcou também a<br />

inauguração de um teatro de ópera de câmara, em São Paulo, o Paulo Eiró.<br />

Segundo a imprensa de São Paulo (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, 2 de<br />

102


outubro de 1993), a Orquestra Experimental de Repertório, regida por Jamil Maluf,<br />

a ópera contou com Luiza Moura, Benito Maresca, Regina Elena Mesquita, Kátia<br />

Guedes, Sandro Christopher e Jeller Felipe, no elenco de cantores. A ópera foi<br />

financiada pela Secretaria Municipal de Cultura, que investiu US$92 mil na<br />

montagem.<br />

Nino Rota (1911-1979) foi um compositor italiano, famoso por suas<br />

composições executadas no cimnema. escolheu a peça de Labiche, para basear o<br />

libreto de sua ópera "O Chapéu de Palha de Florença.<br />

No ano de 1995, Benito cantou na Ópera Tosca, no Teatro Municipal “Elza<br />

Munerato”, em Jaú, São Paulo. Em setembro de 1966, o Palácio das Artes de<br />

Minas Gerais apresentou montagem de uma Ópera genuinamente brasileira:<br />

Pedro Malazarte. O texto foi de Mário de Andrade e a parceria musical do libreto<br />

coube ao maestro Camargo Guarnieri, importante compositor brasileiro, morto em<br />

1993. A obra foi escrita em 1928, com sua concepção musical concluída por<br />

Guarnieri, em 1932, Pedro Malazarte estreou, em 27 de maio de 1952, no Teatro<br />

Musical do Rio de Janeiro.<br />

103


Pedro Malazarte é uma ópera cômica brasileira de Camargo Guarnieri com<br />

libreto de Mário de Andrade, cantada em português com um ato. Estreou no<br />

Theatro Municipal do Rio de Janeiro em maio de 1952.<br />

Benito Maresca foi o intérprete do personagem “Alemão”. Fizeram, ainda,<br />

parte do elenco da peça o maestro Achille Picchi, o barítono Caeté, Sebastião<br />

Teixeira, no papel de Malazarte, Edinéia de Oliveira, que fez a baiana, e ator<br />

Márcio Branco, com o papel do gato.<br />

De acordo com o Jornal de Belo Horizonte (Jornal HOJE EM DIA, Belo<br />

Horizonte, 28 de setembro de 1996), para o superintendente dos Corpos Estáveis<br />

da Fundação Clóvis Salgado, o custo final de Pedro Malazarte ficou em torno de<br />

R$ 60 mil, com o patrocínio da Varig e do Hotel Real Palace.<br />

Em 1997, Benito cantou Madame Butterfly, em Salvador, e, depois de duas<br />

récitas, foi substituído, acometido de pneumonia, pelo tenor Eduardo Álvares.<br />

Benito Maresca, finalmente acreditava ter encerrado sua carreira como<br />

cantor lírico, no palco do Teatro São Pedro, na cidade São Paulo. Em 27 de abril<br />

de 2000, interpretou o personagem “Alemão”, da Ópera Pedro Malazarte, sob<br />

direção de Walter Neiva.<br />

O jornalista Lauro Machado Coelho (Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO,<br />

29 de abril de 2000) comentou:<br />

(...) Benito Maresca, um dos nomes mais respeitáveis do canto<br />

paulista. O papel é pequeno, escrito numa tessitura que não favorece<br />

as áreas mais brilhantes do registro, mas é um prazer ver a segurança<br />

com que esse veterano domina o palco, com a mesma classe dos<br />

velhos tempos.<br />

104


No Teatro São Pedro, alunos e cantores, convidados especialmente,<br />

homenagearam o Mestre, no seu aniversário de 70 anos.<br />

105


No ano de 2004, após satisfatória recuperação, devido a um transplante<br />

renal, Benito decidiu por desligar-se da Universidade de São Paulo, depois de<br />

lecionar por 12 anos. Passou a ministrar aulas particulares em seu estúdio no<br />

Bairro do Cambuci.<br />

Os amantes da música erudita foram acometidos de uma surpresa<br />

maravilhosa no ano de 2008. A convite do Diretor Musical Mauro Wrona e do<br />

Diretor Geral Iacov Hillel, Benito Maresca volta aos palcos. Desta vez na pele de<br />

um barítono, o personagem Benoit, da Ópera La Bohème, de Puccini. Foram três<br />

récitas apresentadas no Centro de Cultura Judaica no mês de março, com grande<br />

sucesso de público.<br />

106


O professor Benito Maresca, atualmente, ministra quase dez horas por dia<br />

de aulas de canto e ainda assim, não consegue atender a todos os que desejam<br />

seguir seus ensinamentos. Muitos aspirantes a cantores, ou até mesmo cantores<br />

profissionais com carreira solidificada aguardam um horário vago na agenda de<br />

Maresca. Vários de seus alunos se destacam no cenário lírico nacional e<br />

internacional.<br />

107


108


CONCLUSÃO<br />

Esta pesquisa teve como principal objetivo investigar a <strong>formação</strong> musical e<br />

o desenvolvimento da carreira do cantor lírico Benito Maresca. Por meio de seus<br />

relatos, acompanhei um pouco da busca por um professor de canto lírico numa<br />

época histórica em que não era possível contar, no Brasil, com cursos superiores<br />

na área. Assim, a única maneira encontrada pelo tenor, foi a de seguir indicações<br />

de amigos.<br />

Percebi que Benito Maresca na fase adolescente e sem o apoio de seus<br />

pais, teve muita dificuldade em encontrar um orientador vocal, inclusive sendo<br />

diversas vezes dispensado por professores o consideravam incapaz de cantar<br />

alegando que Benito “não tinha voz”. Além disso, foram cometidos vários enganos<br />

por parte de diferentes professores que chegaram a dizer que Benito teria uma<br />

voz de barítono. Alguns anos se passaram até que ele finalmente tivesse<br />

conhecido Marcel Klass, que para Benito, é o verdadeiro responsável pelos seus<br />

agudos.<br />

No que se refere à <strong>formação</strong>, verifiquei que Maresca concluiu seus estudos<br />

de música no Conservatório Musical de Santana. Cabe dizer aqui que a carreira<br />

de cantor lírico, por não ser regulamentada, não exige do profissional, títulos ou<br />

<strong>formação</strong> acadêmica. Apesar disso, na prática, é primordial o conhecimento de<br />

teoria musical, assim, o interesse de um cantor lírico pelo estudo da teoria<br />

musical, leitura de partituras e aprimoramento da percepção musical, justifica-se<br />

porque, na prática, este conhecimento teórico facilita a execução da música<br />

correta das músicas.<br />

Sua primeira aparição em público, foi no ano de 1955 na Festa do<br />

Conservatório Musical de Santana. Certo do que almejava para a sua vida, o<br />

tenor, apesar de manter seu emprego como ofice boy e mais tarde como<br />

109


vendedor, não queria perder o contato com a música e com o teatro, deste modo,<br />

assistia todas as óperas do Teatro Municipal de São Paulo sentando na platéia,<br />

fazendo “claque”. Naquela época, eram contratadas pessoas, chamadas de<br />

“claque”, para bater palmas nos momentos específicos dos concertos.<br />

Paralelamente, fazia pequenos concertos nas escolas e igrejas da cidade de São<br />

Paulo.<br />

Benito Maresca é o exemplo de alguém que por amor a arte do canto e da<br />

música perseguiu seu ideal, fez escolhas, abdicou da convivência familiar, venceu<br />

e se tornou um homem respeitado e querido por todos os que admiram seu<br />

trabalho e colhem seus frutos.<br />

A carreira de Benito Maresca foi promissora. Constatei, durante a pesquisa,<br />

sua passagem por diversos países nos mais renomados teatros de ópera da<br />

Europa, assim como os registros dos mais variados críticos da área nos jornais<br />

nacionais e internacionais por quatro décadas. Esta investigação foi muito<br />

detalhada, foram resgatados além dos recortes de jornais, inúmeros programas de<br />

ópera as quais Benito protagonizou pelo mundo. Seguramente foram relatadas<br />

praticamente todas as aparições de Benito ao longo dos anos.<br />

Um brasileiro, que pensava ser barítono, mas que se destacou como o<br />

maior tenor da sua geração e que desde sua estréia no Teatro Municipal de São<br />

Paulo, se tornou nome obrigatório nas temporadas líricas do Rio de Janeiro e São<br />

Paulo.<br />

Nesta pesquisa, tive a oportunidade gravar durante mais de um ano, longas<br />

horas de conversa com Benito, onde ele contou detalhadamente as várias<br />

passagens de sua vida, deste modo, percebi os obstáculos encontrados até que<br />

ele conseguisse sua primeira audição e também o quanto foi rápido seu<br />

reconhecimento a partir da atuação como sposino na Ópera Lucia de<br />

110


Lammermoor em 1964. Foi possível confirmar este fato na fala dos críticos das<br />

colunas dos jornais anexados.<br />

Logo, com renome internacional, na Europa teve o grande momento de sua<br />

carreira no Teatro Massimo de Palermo, como Peri, personagem da Ópera O<br />

Guarani do também brasileiro, Carlos Gomes.<br />

Benito Maresca se apresentou em todas as grandes casas de Ópera da<br />

Europa num total de 26 países. Além disso, seu repertório soma 64 obras, entre<br />

óperas, oratórios e missas. É o maior nome da lírica nacional da atualidade.<br />

Cabe ressaltar que a voz de Benito Maresca era tão surpreendente que deu<br />

a ele a oportunidade de atuar em dois papéis diferentes numa mesma ópera, por<br />

vezes inclusive, na mesma temporada.<br />

Foi infinitamente crescente o número de papéis, personagens e<br />

compositores diferentes incluídos por Benito em seu repertório, no decorrer de sua<br />

carreira. Gradativamente ele inseriu em seu repertório, as obras que mais se<br />

adequavam ao seu tipo vocal. Com exceção das Óperas Werther e Elisir d’amore,<br />

já que estas exigem timbres de tenores que não condizem com o timbre de<br />

Maresca.<br />

Esta investigação descreveu que ao longo de sua carreira, Benito executou<br />

obras dos mais diversos compositores: Gaetano Donizetti, Pietro Mascagni,<br />

Giuseppe Verdi, Giacomo Puccini, Carlos Gomes, Ruggero Leoncavallo, Johann<br />

Strauss, Wolfgang Amadeus Mozart, Georges Bizet, Camargo Guarnieri, Umberto<br />

Giordano, Nino Rota, Franz Lehár e Amilcare Ponchielli.<br />

Maresca desenvolveu sua carreira conforme a voz foi amadurecendo e<br />

incorporou papéis que se adaptavam melhor a cada momento vocal, sempre<br />

houve por parte dele a preocupação em estar confortável dentro do repertório ou<br />

111


com o personagem. Para executar bem uma obra, é necessário compreender a<br />

trama, interpretar o compositor e procurar reproduzir o mais fielmente possível. Foi<br />

constatado que Benito Maresca se identificou com as características de um tenor<br />

lírico e lírico spinto. Sua voz se adequava cada vez melhor ao repertório<br />

Pucciniano e Verdiano e ainda, às operas de Carlos Gomes, compositor<br />

considerado como o verdadeiro elo entre o Romantismo e o Verismo.<br />

Constatei, analisando as obras executadas por Benito, que apesar de ter<br />

sua estréia com um personagem secundário de uma Ópera de Donizetti e<br />

debutado como protagonista na Ópera de Mascagni, está muito claro que a<br />

grande maioria de seus trabalhos girou em torno das Óperas de Verdi e<br />

principalmente de Puccini. Foram incontáveis aparições como Cavaradossi,<br />

personagem da Ópera Tosca.<br />

É importante destacar o fato de que toda esta <strong>trajetória</strong>, o estudo do canto,<br />

sua dedicação à determinados compositores, a escolha de repertório, todo o<br />

conhecimento que fez de Benito um cantor de renome e posteriormente um<br />

professor conceituado no meio, foi adquirido por meios próprios, na sua vivência,<br />

na sua vasta experiência, nos palcos, entre um trabalho e outro, fez a leitura de<br />

diversas obras e se especializou em determinados compositores, como já foi dito,<br />

tomou conhecimento de mais de 64 obras quase que intuitivamente, já que não<br />

podia contar com um curso superior na área do canto.<br />

Os jornais pesquisados mostram, claramente, a preocupação do tenor com<br />

o espaço cultural brasileiro e com a profissão de cantor lírico no país. Não foram<br />

poucas suas ações na tentativa de chamar a atenção das autoridades para o<br />

problema do não reconhecimento do profissional do canto lírico e para a inclusão<br />

da música na educação.<br />

Durante a pesquisa, convivi e acompanhei bem mais de perto, a evolução<br />

dos demais alunos do Benito. Sua dedicação ao ensino do canto lírico, ultrapassa<br />

a técnica. Benito é um orientador que incentiva, mostra os caminhos, indica, leva<br />

112


os alunos mais preparados para audições com diretores e produtores de óperas,<br />

acompanha e usa seu nome a favor de seus seguidores. Vários de seus alunos se<br />

destacam no cenário lírico nacional e internacional.<br />

Por fim, confirmei o mais importante: a técnica de canto lírico tão sólida e<br />

tão adequada e compreendida por Maresca, fez dele um cantor que além de<br />

atravessar quatro décadas de ininterruptas apresentações, permite que ele até<br />

hoje, nos brinde com sua voz impecável nas aulas e nos palcos sem apresentar<br />

absolutamente nenhum problema vocal.<br />

113


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Wilson Simão, Jornal O ESTADO DE MINAS GERAIS, 24 de novembro de 1983.<br />

Yara Ferraz, Jornal A GAZETA, de 15 de junho de1966, p.18.<br />

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