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REINAÇÕES DE NARIZINHO - Catraca Livre

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A abelha continuou:<br />

— Pensa que a nossa rainha é alguma dama emproada como as rainhas dos<br />

homens? Nada disso. Nem rainha é! Os homens é que lhe chamam assim. Para nós<br />

não passa de mãe. Todas somos filhinhas dela — todas, todas! E rodeamo-la de<br />

comodidades e carinhos, sem nunca lhe darmos o menor desgosto. Olhe, menina, lá<br />

no reino dos homens costumam falar muito em felicidade, mas fique certa de que<br />

felicidade só aqui. Cada uma de nós é feliz porque todas somos felizes. Lá não sei<br />

como pode alguém ser feliz sabendo que há tantos infelizes em redor de si!<br />

Narizinho e Emília ficaram tristes. Que pena serem gente e não poderem<br />

transformar-se em abelhas para morar numa colméia daquelas, toda a vida ocupadas<br />

num trabalhão tão lindo como esse de recolher o mel e o pólen das flores...<br />

— Mas a rainha, a rainha! — insistiu a menina. — Quero ser apresentada à<br />

rainha!<br />

— Pois vamos lá — respondeu a abelha. — Sigam-me.<br />

Foram. Depois de atravessarem vários compartimentos, chegaram aos<br />

cômodos reais. Lá estava Sua Majestade num trono de cera, conversando com vários<br />

zangões emproados e orgulhosos (pelo menos assim pareceu à menina).<br />

— Bem-vinda seja! — saudou a rainha numa doce voz maternal. — Tem<br />

gostado da nossa colméia?<br />

— Muito, Majestade! É o reino mais bem arrumadinho de quantos vi até<br />

agora. Estou positivamente encantada!<br />

— O meu reino é assim — explicou a rainha — porque não é reino nenhum,<br />

mas uma grande família onde a boa mãe geral vive rodeada de todos os seus filhos.<br />

Já percorreu a colméia inteira?<br />

— Já vi parte e tenho gostado de tudo, menos da cara desses senhores<br />

zangões, que me parecem emproados e orgulhosos...<br />

— É que estão a me fazer a corte. Todos os anos escolho um dentre eles para<br />

marido, e os outros...<br />

— Já sei! Os outros casam-se com as outras abelhas. A rainha sorriu.<br />

— Não, menina! Os outros são condenados à morte e executados...<br />

— Quê? — exclamou Narizinho horrorizada. — Acho que isso constitui uma<br />

crueldade, verdadeira mancha negra na organização das abelhas.<br />

— Parece, menina. Mas é o jeito. Como não sabem trabalhar e a natureza os<br />

fez unicamente para serem esposos da rainha, as abelhas não têm a menor<br />

consideração com eles depois que a rainha elege um para esposo. Trucidam-nos e<br />

lançam os cadáveres para fora da colméia. Estas minhas filhas acham que o<br />

sentimentalismo não dá bom resultado em matéria de organização social.<br />

Narizinho, cada vez mais admirada da inteligência da rainha, murmurou ao<br />

ouvido da boneca: “Vê, Emília? Isto é que é falar bem! Até parece aquele filósofo<br />

que vovó às vezes lê, o tal Rou... Rousseau, creio.”<br />

Nisto um trrriin, trrriin, de esporas ressoou perto. Voltaram-se todos. Era<br />

Tom Mix que entrava. O cowboy correu os olhos pela sala. Logo que deu com a<br />

menina, dirigiu-se para ela.<br />

— Recebi o recado, princesa, e aqui estou às vossas ordens!

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