19.04.2013 Views

Márcio Vianna - Mônica Prinzac

Márcio Vianna - Mônica Prinzac

Márcio Vianna - Mônica Prinzac

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O presente dura pouco tempo<br />

A cenografia pretendia pensar o espaço cênico em três dimensões estruturando o<br />

espaço dividido com planos e volumes, mantendo com a realidade uma relação alusiva a<br />

serviço dos atores.<br />

Appia dava o nome de espaços rítmicos para as suas arquiteturas abstratas.<br />

“Uma das intuições mais fecundas de Appia consistiu em constatar que a cenografia<br />

deve ser um sistema de formas e de volumes reais, que imponha incessantemente ao<br />

corpo do ator a necessidade de achar soluções plásticas expressivas. Ele deve manter,<br />

portanto, uma relação complexa com o seu meio ambiente. A adequação psicológica se<br />

combina ali com uma tensão física instaurada por um sistema de planos inclinados, de<br />

escadas e de todos os elementos arquitetônicos suscetíveis de obrigar o corpo a dominar<br />

as dificuldades deles resultantes, e de transformarem essas dificuldades em trampolins<br />

para a expressividade.” 29<br />

Em 1999 apenas um fragmento de texto era dito durante todo o espetáculo. Os<br />

atores alternavam perguntas para o público - “O que você gostaria de estar fazendo no<br />

dia 31 de dezembro de 1999?” - com fragmentos de cenas. Em geral exaltando muita<br />

violência, as cenas eram apresentados aleatoriamente pelo espaço, onde atores e<br />

espectadores se chocavam em correrias. Cenas de prisões, perseguições, medo, fugas e<br />

salvações com momentos de encontro entre supostos sobreviventes a violência<br />

instalada. Uma cena (ensaiada antes do acontecimento) transformou-se em uma<br />

referência a chacina de Vigário Geral onde os atores nus deitavam em uma fileira<br />

estendida de caixões.<br />

“Contidas nas palavras `Teatro da crueldade´ se encontram toda uma<br />

desesperada busca por um teatro mais violento, menos racional, mais extremista, menos<br />

verbal, mais perigoso. Há um jubilo nos choques violentos: o único problema com<br />

choques violentos é que eles se desgastam. O que se segue a um choque? Aqui está a<br />

dificuldade. Disparo uma pistola contra o espectador – foi o que fiz uma vez – e por um<br />

segundo tenho a possibilidade de atingi-lo de uma maneira diferente. Preciso relacionar<br />

essa possibilidade a um propósito, senão um minuto depois o espectador voltará a seu<br />

estado anterior: inércia é a maior força que conhecemos. Quando uma impressão<br />

diferente é formada, a não ser que alguém agarre este momento sabendo como e porque,<br />

e para que fim, este também começará a minguar.” 30<br />

29 ROUBINE, Jean-Jacques: A Linguagem da encenação teatral, (trad. e apres. Yan Michalski),<br />

30 BROOK, Peter: O Ponto de Mudança, (trad. Antônio Mercado e Elena Gaidano), Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1994.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!